Memória Lello 70 Anos
Entrevista de Roseli Hernandes
Entrevistada por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 18 de agosto de 2023
Entrevista nº LELLO_HV003
Realização: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:20) P/1 - Bom dia, Roseli, tudo bom?
R - Bom dia, tudo bom e você?
(00:24) P/1 - Tudo ótimo. Então, a gente vai começar com as informações mais básicas: qual o seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade em que você nasceu.
R - Meu nome é Roseli Gouveia Lopes Hernandes, minha data de nascimento é dia um de janeiro de 1962 e eu nasci em São Paulo.
(00:44) P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Manoel João Lopes e a minha mãe, Maria Augusta Gouveia Lopes.
(00:54) P/1 - E o que os seus pais faziam?
R - A minha mãe e meu pai são imigrantes. Meu pai era marinheiro, lá em Portugal. Eles são portugueses, os dois, provenientes da Ilha da Madeira. Minha mãe se apaixonou pelo marinheiro e acabou namorando por correspondência, porque o meu pai veio para o Brasil e se casaram por correspondência - por procuração, que se chamava naquela época.
A minha mãe encontrou o meu pai alguns meses depois do casamento, aqui no Brasil. É uma história tão engraçada, porque chegando aqui meu pai já estava careca e a minha mãe nem conhecia o meu pai, porque ele já estava muito diferente, mas eles se encontraram e começaram uma vida muito difícil, então a gente foi morar no Canindé.
Eu nasci um ano e meio, dois anos depois, na Rua da Coroa. Meu pai veio para cá e era comerciante, trabalhava em bar, teve o próprio bar. Minha mãe era dona de casa.
(02:12) P/1 – Certo. E você tem irmãos?
R - Tenho, nós somos em quatro. Eu sou a mais velha, tem uma outra irmã com dois anos de diferença de mim, um irmão que tem quatro anos de diferença e uma outra irmã que são exatamente dez anos de diferença mais nova que eu, então são quatro: três meninas e um menino.
(02:38)...
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Entrevista de Roseli Hernandes
Entrevistada por Genivaldo Cavalcanti Filho
São Paulo, 18 de agosto de 2023
Entrevista nº LELLO_HV003
Realização: Museu da Pessoa
Transcrita por Selma Paiva
Revisada por Genivaldo Cavalcanti Filho
(00:20) P/1 - Bom dia, Roseli, tudo bom?
R - Bom dia, tudo bom e você?
(00:24) P/1 - Tudo ótimo. Então, a gente vai começar com as informações mais básicas: qual o seu nome completo, a sua data de nascimento e a cidade em que você nasceu.
R - Meu nome é Roseli Gouveia Lopes Hernandes, minha data de nascimento é dia um de janeiro de 1962 e eu nasci em São Paulo.
(00:44) P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Manoel João Lopes e a minha mãe, Maria Augusta Gouveia Lopes.
(00:54) P/1 - E o que os seus pais faziam?
R - A minha mãe e meu pai são imigrantes. Meu pai era marinheiro, lá em Portugal. Eles são portugueses, os dois, provenientes da Ilha da Madeira. Minha mãe se apaixonou pelo marinheiro e acabou namorando por correspondência, porque o meu pai veio para o Brasil e se casaram por correspondência - por procuração, que se chamava naquela época.
A minha mãe encontrou o meu pai alguns meses depois do casamento, aqui no Brasil. É uma história tão engraçada, porque chegando aqui meu pai já estava careca e a minha mãe nem conhecia o meu pai, porque ele já estava muito diferente, mas eles se encontraram e começaram uma vida muito difícil, então a gente foi morar no Canindé.
Eu nasci um ano e meio, dois anos depois, na Rua da Coroa. Meu pai veio para cá e era comerciante, trabalhava em bar, teve o próprio bar. Minha mãe era dona de casa.
(02:12) P/1 – Certo. E você tem irmãos?
R - Tenho, nós somos em quatro. Eu sou a mais velha, tem uma outra irmã com dois anos de diferença de mim, um irmão que tem quatro anos de diferença e uma outra irmã que são exatamente dez anos de diferença mais nova que eu, então são quatro: três meninas e um menino.
(02:38) P/1 - E quais eram os principais costumes da sua família? Algo que marca para você a convivência de vocês?
R - Por ser uma família imigrante de portugueses, o meu pai… Ele é órfão de pai e mãe, tinha uma vida muito difícil, então eles não tinham nada.
[Quando] chegaram aqui a gente foi morar em um quartinho, minha mãe conta e eu me lembro; eu era tão pequena e eu me lembro desse quartinho. O que separava a cozinha da cama era uma cortina e eu lembro do esforço da minha família, o que marca muito a minha vida é o esforço da minha família, do meu pai e da minha mãe, para conquistar alguma coisa, para poder criar todos nós.
(03:35) P/1 – Tem algum cheiro, alguma coisa que até hoje te lembra da sua infância? Pode ser uma comida.
R - Tem uma coisa que me alegra bastante: é o cheiro de fazer pão, eu gosto muito. Minha mãe, por ser descendente de portugueses, ela faz pão em casa, então até quando eu passo num local, uma padaria que está fazendo pão e aquele cheiro sobe, assim, daquele pão caseiro, eu acho uma delícia.
Eu faço também. Quando eu faço pão em casa parece que a casa fica toda animada, alegre, eu gosto disso.
(04:15) P/1 - Você disse que você morou essa primeira infância no Canindé. Você se lembra de como era a rua?
R- Lembro. Eu era muito criança, devia ter três, quatro anos e lembro da rua muito estreita. Lembro que tinha vários quartos - eram quartos, a gente morava em quartos - e que era um banheiro para todas as famílias desses quartos, mas o quarto já saía em um quintal, em uma rua bem estreitinha. Eu me lembro de estar ali, me lembro dos meus irmãos ali, lembro de alguns vizinhos, lembro da minha mãe cuidando da gente. Lembro de algumas coisas assim, poucas, porque eu era muito criança.
(05:02) P/1 - E depois vocês se mudaram de lá?
R – Depois nós mudamos de lá, a gente foi morar em uma outra casa também muito simples. Eu lembro que era uma rua que tinha um córrego na frente e meu irmão, inclusive, um dia saiu de casa à noite, sozinho; minha mãe estava dormindo. Ele saiu com quatro, cinco anos e a vizinha viu, encontrou o menino indo em direção ao córrego e trouxe o meu irmão, pequenininho. Achou que a minha mãe tinha saído para a ‘balada’, alguma coisa. Não tinha ‘balada’, mas [achou que ela tinha] saído e largado as crianças, mas minha mãe estava dormindo. A vizinha pegou a criança, colocou no berço e foi embora.
Minha mãe falou que ficou sabendo no outro dia. Podia ter perdido essa criança, acredita?
(06:07) P/1 - Nossa!
R – É.
(06:10) P/1 - Do que você gostava de brincar, quando você era criança?
R - Eu brincava de tudo: de boneca, de bola, de carrinho. A gente não tinha condição de ter piscina; me lembro que eu só consegui ir na praia com dez, onze anos, então eu molhava o quintal e aquilo para mim era uma piscina. Eu adorava. Quando chovia adorava isso, gostava de brincar na chuva, gostava de colocar bacia de água e mergulhar ali. Piscina a gente também não tinha acesso, então era uma vida muito difícil.
Meu pai trabalhava muito, minha mãe bordava, era bordadeira e só trabalhava para poder juntar dinheiro, para poder comprar a nossa casa. E aos oito anos, talvez, a gente teve... Oito não, quando eu entrei no primário a minha mãe já tinha uma casa. Era uma casa em uma viela, muito simples, mas já era própria.
Eu me lembro disso, minha mãe bordava demais.
Na primeira vez que eu fui para a escola, todas as mães levavam as crianças para a escola e a minha mãe não podia me levar, porque ela tinha mais três filhos pequenos e ela tinha que bordar, então eu me lembro que ela me pegou pela mão e falou assim: “Olha, eu vou te ensinar o caminho da escola hoje” - no primeiro dia, eu tinha seis pra sete anos e era longe - “E você vai sozinha, depois”. E ela fez isso. Um dia ela levou e era uns três, quatro quilômetros de distância. Nos outros dias eu ia sozinha, sabe? Criança.
Hoje isso não existe, de você ir sozinha para uma escola. E eu me lembro que as mães iam buscar as crianças e traziam as crianças. Na mesma viela que eu morava tinha mães que levavam.
Lembro uma vez que eu, voltando da escola, [estava] sempre com atenção no caminho, de atravessar uma rua e tudo mais. A mãe da minha colega, que se chamava Sônia, vinha de mão dada com ela. Como a mãe estava de mão dada, a Sônia não olhava pro caminho e a mãe levava a menina ali… Pois a menina, de mão dada com a mãe, não tacou a cara no poste? Arrebentou, (risos) cortou até o rosto. E eu nunca cortei o rosto, eu sempre tinha atenção, porque eu tinha que me cuidar.
Desde criança eu fui muito independente pra fazer as coisas. Minha mãe tinha que dar essa liberdade, porque ela não tinha essa condição de fazer, de buscar, de trazer, de fazer isso e aquilo. Então, era independência total.
(09:25) P/1 - E falando de escola, quais as primeiras lembranças que você tem, dos seus estudos?
R - Eu me lembro antes de iniciar o primeiro ano, de um parquinho que eu fiquei. Naquela época era parquinho, não era a pré-escola; era um parquinho que minha mãe me levava. Acho que eu fiquei um ano lá.
Eu me lembro que a gente não tinha, eu não tinha brinquedos sofisticados e eu me lembro de muitos brinquedos que tinha lá. Todo dia tinha massinha, muito lápis de cor para desenhar e isso eu gostava muito.
Esse parquinho tinha uma sala que tinha montada uma cozinha de criança, sabe? Aquilo era muito legal para mim, eu gostava demais.
Eu me lembro disso, dessa parte e que eu gostava de mexer com artes. Gostava de desenhar, de brincar, com massinha, parquinho, eu adorava essas coisas.
(10:43) P/1 - E avançando um pouquinho já nos seus estudos, tinha alguma matéria, um professor que você gostava mais, ou que te marcou por algum motivo?
R – Hum-hum. É interessante que, quando eu entrei no primeiro ano, eu fazia as minhas atividades, mas eu não entendia muito bem que tinha avaliação e eu só me lembro que no primeiro ano eu ganhei medalha. Naquela época tinha medalha de primeiro lugar da sala e eu chegava em casa com a medalha de primeiro lugar da sala no primeiro ano, no segundo ano… No terceiro ano eu recebi de segundo lugar, mas eu não entendia muito bem o que era aquilo. Eu levava lá: “Mãe, está aqui, ganhei”.
Isso me marcou um pouco depois, quando eu compreendi que eu era destaque sem estudar… Na minha visão, sem fazer por merecer, mas eu tinha aquilo, eu recebia aquilo.
Depois, quando foi na quinta série, teve uma professora que eu achei muito bacana. Ela dava aula de Biologia, alguma coisa assim. Eu gostava bastante dela. Ela teve nenê e nós fomos na casa dela e isso me marcou, essa professora que a gente foi até lá e a gente convivia. Mas foram tantos professores, todos tiveram uma importância muito grande na minha vida; alguns a gente até conviveu um pouco mais, até na faculdade, mas foram muitos.
(12:34) P/1 - Certo. E quando você passou para o ensino médio, para o segundo grau, você mudou de escola?
R - Mudei de escola. Eu estava... Não, desculpa. No primeiro ano eu estava em uma escola, no segundo ano eu mudei de escola e aí o meu pai comprou uma outra casa e a escola ficava em frente à casa. Eu lembro que a minha mãe me dava o lanche pela fresta dos muros, porque era em frente. Então, na hora do intervalo eu dava a volta, a minha mãe dava, eu chamava: “Mãe!” e ela me dava o lanchinho ali, sabe?
Fiquei nessa escola durante oito anos. Naquela época, era o primário e o ginásio e eu fiquei [nela]. No colegial é que eu fui para uma outra escola, aí eu fui para um colégio em Santana, porque eu morava na Zona Norte. Nós fomos para Santana e fui fazer Patologia Clínica.
Meu sonho era fazer Medicina, mas meus pais não tinham condição de bancar isso e aí eu comecei… Falei: “Vou fazer Patologia Clínica. Quem sabe de alguma forma eu consiga achar um caminho para poder fazer Medicina”.
Eu fiz esse curso, mas já tinha que trabalhar para pagar o curso, então eu trabalhava durante o dia e saía de casa seis e meia, sete horas e chegava meia-noite em casa, minha vida era muito corrida. Foi assim até terminar o colegial e aí na faculdade a mesma coisa, eu fui praticamente direto para a faculdade e nessa vida: saía seis e meia, sete horas da manhã e voltava depois da faculdade, à noite, onze horas, onze e meia; meia-noite era a hora que eu ia dormir, mas foi muito... exigiu muito de mim, foi um aprendizado e tanto e eu fiz tudo junto, porque quando…
Eu não sei se eu já vou entrar… (risos). Eu vou seguir as suas perguntas, vou esperar você. (risos)
(15:03) P/1 - Tudo bem. Eu queria que você contasse um pouco mais sobre esse período, que você fez um curso de Patologia Clínica e depois você foi para a faculdade. A faculdade foi Psicologia, nesse primeiro momento?
R – Foi. Terminei o curso de Patologia Clínica e aí eu tinha que ir para a faculdade. Como que eu ia para Medicina? Até testei a Fuvest, para ver se eu conseguia passar, mas não dava, muita gente tentando Medicina e eu não consegui. Eu tinha feito [vestibular em] mais três, quatro faculdades pagas, passei em três e escolhi Psicologia. Eu falei: “Acho que fazendo Psicologia é uma área que vai ter alguma coisa falando sobre medicina, falando sobre a mente, sobre cérebro. Quem sabe lá na frente eu vou para Medicina?”
Comecei a fazer Psicologia, fiz o primeiro ano e achei muito legal, porque quem faz Psicologia tem que ir para o laboratório de anatomia. No laboratório de anatomia você mexe em cadáver, você tem que estudar todo o corpo humano, o cérebro, tudo que compõe o corpo da pessoa, os músculos, então aquilo me realizava.
Eu tinha medo, mas eu lembro de uma ocasião… Eu tenho uma amiga, uma amiga minha até hoje e ela também entrou em Psicologia. Ela tinha entrado para outra matéria e ela conseguiu transferir para Psicologia, aí a gente foi para uma aula. [Foi] a primeira vez que eu entrei em um laboratório de anatomia, mas eu não sabia que era o laboratório de anatomia. Eu entrei e eles falaram: “Não, você não pode entrar, você não tem avental. Precisa de avental branco para entrar”. Eu falei: “Meu Deus, como eu vou fazer?” Aí eu pedi para uma pessoa que estava passando, falei: “Você pode me emprestar o avental, daqui a pouco, depois eu devolvo?” A pessoa me emprestou, daí eu entrei, mas apavorada, porque eu estava superatrasada.
Quando eu cheguei, peguei o meu caderno, coloquei em cima da bancada e comecei a escrever, porque estava cheio de coisas na lousa, aí a minha amiga falou assim: “Você viu o que está na sua frente?” Eu falei: “Vi, tronco de árvore”. Aí ela falou: “Olha direito”. Eu olhei, parecia tronco de árvore. Quando eu olhei no final, era uma perna e tinha os dedos do pé assim. (risos) Ela falou assim: “Meu Deus, como você não viu? Você está aí de frente dos corpos”. Porque tinha a bancada com pernas, com braços, com músculos peitorais, mas como eles descascaram o corpo, só tinha a parte muscular e realmente, quando você vê a parte do músculo você vê que parece tronco de árvore quando está já mais envelhecido. Fica meio marrom, sabe?
Olha, é uma cena! Ela dá risada até hoje, muito.
(18:33) P/1 - Falando ainda sobre essa sua experiência da faculdade de Psicologia, teve algum momento, além desse, marcante pra você?
R – Ah, muitos, porque na faculdade de Psicologia você estuda o comportamento humano e estudando o comportamento humano o professor fazia assim: “Olha, vocês param no intervalo e vão fazer uma análise do comportamento das pessoas que estão lá no intervalo: o que eles estão fazendo, o que vocês acham que eles estão pensando”. (risos)
É uma experiência engraçada, porque você tem que parar e observar as pessoas e em geral você não para muito. Hoje eu sei, hoje eu paro e vejo as pessoas, eu consigo ver as pessoas por dentro, então eu reconheço e isso é incrível.
Muitas experiências que eu tive na faculdade, de fazer estágios em empresas, em escolas, em hospitais psiquiátricos, me marcaram demais. [Fui] em hospital de deficiências e essas coisas assim, e já descobri o que eu não posso fazer.
Por exemplo: uma coisa que mexe muito comigo é trabalhar com deficiente, criança deficiente. É outro planejamento. Quando você trabalha com criança deficiente que tem, por exemplo, problemas cerebrais, comprometimentos físicos totais, às vezes o teu objetivo é fazer a criança se arrastar no chão, então é muito dolorido pra mim ver isso, eu ter que pegar uma criança que é muito difícil ter uma evolução e a cada mínima evolução você tem que comemorar. É um aprendizado, mas para mim foi muito sofrido enxergar isso, sabe, essas diferenças.
Outra coisa que me marcou demais foi que eu fiz estágio em hospital psiquiátrico. Fazendo faculdade, quando eu estava no terceiro ano eu me casei, porque eu namorava desde os quinze anos com o meu marido. Estou até hoje casada, olha só, até hoje estou casada (risos) com a mesma pessoa!
Quando eu estava no terceiro ano eu me casei. Um ano e um pouco depois eu engravidei, então eu estava fazendo um estágio no hospital psiquiátrico grávida. Quando fui fazer esse estágio era em um hospital de mulheres, o Pinel de Pirituba, não sei se você já ouviu falar - hoje em dia não existem mais hospitais psiquiátricos assim. A minha barriga incomodava algumas mulheres que estavam nesse hospital psiquiátrico, as pacientes; eu me lembro que algumas corriam atrás de mim e eu me lembro também que me chocava muito as coisas que elas diziam, porque a gente, quando você tem o acesso à loucura, à esquizofrenia, à psicose, à neurose, são coisas às vezes muito pesadas, muito fortes, que você não tem justificativa, sai do coerente. Isso mexe muito comigo também, então eu descobri que eu não conseguiria trabalhar em hospital psiquiátrico. Essas pessoas às vezes [são] agressivas, isso me incomoda um pouco, não gosto muito de lidar. Sei lidar, você não pode contrariar muito, ‘louco’ você não contraria… Não falo ‘louco’, mas a doença mental não pode contrariar muito. Você tem que tratar, usar medicamento, tem que ouvir mais do que criticar, mas para mim, até porque eu estava grávida, aquilo me marcou demais, foi muito pesado.
(23:12) P/1 - Você tinha falado que você se casou nesse período e que você já namorava desde os quinze anos. Vocês se conheceram na escola, ou algo assim?
R – Não. Meu marido - olha só que loucura! - dirigia, ele tinha um caminhão que carregava areia, essas coisas. Ele era muito bonito, era um homem que chamava a atenção. Ele passava em frente à minha casa, porque o trabalho dele era bem na esquina.
Um motorista de caminhão… Eu falei: “Jamais vou namorar com um motorista de caminhão, eu estou estudando”. Pois esse moço passava para lá e para cá e começou a me olhar.
Eu lembro que um dia, na quermesse da igreja… Eu trabalhava na quermesse da igreja e fui cuidar da barraca de pipoca. Ele foi lá e falou: “Eu quero falar com você”. Eu falei: “Eu vou falar com esse moço”, mas ele era muito bonito. Eu estava pegando uma foto dele ontem, falei: “Nossa, eu não me conformo como você era bonito!” Nos dias de hoje ele pareceria um artista americano.
Ele falou: “Eu quero falar com você, quero falar com você”. Eu falei: “Eu não, você não deve nem saber escrever”. Olha só como é que são as coisas! Aí ele falou: “Não tem problema, você vai falar comigo”. Aí ele veio, falou comigo: “Eu quero namorar você”. Eu falei: “Não quero, não quero saber. Eu não quero, não quero!” (risos). Mas esse homem ficou tanto no meu pé, mas tanto, que eu comecei a namorar com ele.
Ele era muito difícil, é difícil até hoje. Eu falo para ele que ele não cresceu, ele é uma criança, mas eu achei até que… Eu não mudei meu RG, porque eu sabia que eu ia me separar dele, você acredita? Eu sabia que eu ia me casar para separar e eu falava para ele: “A gente briga todo dia, não tem condição de viver”, mas ele falou assim: “Você não vai se separar jamais”. E não é que no entanto eu tive duas filhas?
Nosso casamento foi, foi brigando, naquela correria, eu cobrando demais… A gente está até hoje juntos, construímos uma família. Estamos muito bem mesmo.
Ele trabalhava nessa questão do caminhão, o caminhão vivia quebrando, era só despesa, não trazia dinheiro pra dentro de casa. Falei: “Eu vou mandar esse homem embora, não é possível”. (risos) E eu [estava] em uma vida difícil, meu dinheiro dava mal para pagar a escola, faculdade, ainda tinha filho. Olha, eu me lembro da minha mãe trazendo uma sacola de feira para mim, porque eu não tinha condição.
Meu marido pegou, por causa de dirigir caminhão, um problema de coluna muito sério e ele não podia trabalhar. Fez uma cirurgia de hérnia de disco e ficou anos deitado na cama, sem poder trabalhar. E a gente ali, minha mãe cuidando dele, cuidando da minha filha e eu trabalhando fora. Eu falava: “Mãe, eu vou desistir, porque eu tenho um monte de paciente para cuidar, a faculdade. Eu tenho que fazer faculdade, estou trabalhando na empresa, tenho que cuidar da minha filha, meu marido está doente. Como é que eu dou conta de tudo isso?” Ela falou assim... Minha mãe é muito forte, é uma mulher muito sábia: “Você não vai desistir nunca. Eu vou te ajudar e você não vai desistir. Você tem condição, você pode, você é inteligente.” Minha mãe me enchia a bola, então vamos, vamos.
Eu lembro da minha sogra me criticando, falando assim: “Ao invés dela cuidar do paciente dela aqui, que é o marido dela, ela vai cuidar dos outros pacientes”. Então, [era] assim: crítica de todos os lados, muito apoio da minha família, da minha mãe, do meu pai, dos meus irmãos. Meu marido não falava nada, porque estava numa condição... Mas ele começou a trabalhar em uma outra empresa, também não deu certo; começou a fazer um outro ramo de atividade, aí começou a melhorar, mas onde ele se encontrou mesmo profissionalmente [foi] na construção civil.
Hoje a gente tem uma empresa que a gente constrói imóveis, casas, sobrados. A gente vende, aluga; construiu galpões, a gente aluga, então eu tenho vários imóveis alugados, eu tenho galpões alugados. Isso é muito do trabalho do meu marido, de fazer essa parte de construção e eu na Lello, trabalhando agora - estou há vinte e cinco anos na Lello.
(28:46) P/1 – Nossa! É isso que eu ia te perguntar: você começou na Lello nesse período em que você ainda estava na faculdade, ou foi um pouco depois?
R - Foi depois. Eu iniciei em uma empresa chamada Indiana. Tive poucos empregos na vida; eu estou no terceiro, esse é o meu terceiro trabalho.
Eu comecei em uma empresa chamada Indiana, que é do Guilherme Afif, era do Guilherme Afif Domingos. Eu trabalhava com o Luciano Afif Domingos, o pai dele. Foi o meu primeiro emprego, aos quinze anos, quando eu comecei a namorar com o meu marido; trabalhei lá até os dezoito anos - não, desculpa, eu trabalhei um pouco mais, até eu estar no segundo ano de Direito, então até os dezenove, vinte anos.
Saindo de lá, entrei em uma empresa e essa empresa estava precisando de alguém para trabalhar na seleção. Eu tinha acabado de entrar, fazia um ano que eu estava na faculdade de Psicologia e o pessoal queria alguém experiente para seleção.
Eu não sabia nada de seleção, eu peguei uns livros de seleção e recrutamento, li… [Quando] cheguei lá [me perguntaram]: “A vaga é pra seleção, qual é a sua experiência?” Eu dei um show, contei tudo. Parecia que eu trabalhava com seleção há uns cinquenta anos, sabe? (risos) Pois eu fui aprovada na hora nessa empresa e comecei a cuidar da seleção.
Imagina eu no primeiro dia selecionando as pessoas! (risos) Foi muito legal.
Desenvolvi ficha de seleção, desenvolvi um processo para seleção, trouxe testes psicológicos - lá não existia isso. Eu fui aprimorando.
O gerente da área de Recursos Humanos virou meu amigo. Ele teve um problema, teve que sair e me indicou para ser a gerente dos Recursos Humanos. Eu, na sequência, fui gerente de Recursos Humanos, acredita? Foi incrível. Como gerente de Recursos Humanos passei muitos anos ali, uns sete anos.
Teve uma oportunidade em uma área financeira, eles precisavam de alguém de confiança e me chamaram para ser gerente financeira. Fui gerente financeira. (risos) Fiquei alguns anos, um ou dois anos ali.
Saindo de lá, me chamaram para uma área de serviços. Fui gerente de serviços da empresa, cuidava de toda a parte de qualidade, de atendimento, da parte de atendimento ao cliente, cuidava de toda parte de processos, de treinamento. Eu já conhecia muito, porque em Recursos Humanos eu cuidava de treinamento, benefícios, salário, folha de pagamento, toda a parte social, comunicação, tudo que você possa imaginar dentro dos Recursos Humanos eu fazia. Fui para a área financeira e cuidava de todos os controles de pagamento, recebimento, de toda a parte financeira. Depois eu fui para a área de serviços, atendimento, qualidade, problemas que a gente tinha no atendimento ao cliente, meta e uma série de outras coisas…
Aí eu falei: “Meu Deus, eu estou nessa empresa” - ela chamava Cenap e tinha em torno de quinhentos, seiscentos funcionários – “eu vou passar minha vida aqui?” Então eu cheguei no meu diretor, que é meu amigo - todos os diretores das empresas que eu trabalhei viraram meus amigos - e falei: “Eu preciso sair para uma outra oportunidade”. Ele falou: “Você não vai sair, você está indo muito bem”. Eu falei: “Mas eu já passei em tudo aqui, eu preciso progredir”. Eu tinha terminado a faculdade de Psicologia, aí ele falou assim… Eu falei: “Me demite!” Porque eu queria receber, para poder buscar uma outra oportunidade. Ele falou: “Eu vou te demitir, mas em um mês você vai voltar aqui e vai falar comigo”. Eu falei: “Tá bom”.
Ele me demitiu, me deu os direitos, me pagou. Quando eu estava me preparando para sair eu coloquei o meu currículo no mercado. Naquela época, você mandava currículo de papel em correio e eu sei que eu mandei muitos currículos, uma coisa de trezentos, quatrocentos currículos. Eu, em um mês, fiz umas 35 entrevistas. Eu nunca vi. Tinha dia que eu fazia de manhã, de tarde e à noite. Assim, uma coisa de louco. Entre essas entrevistas eu fiz quatro para Lello; na quinta a Lello me aprovou, é incrível.
Nessas entrevistas foi assim: eu mandei o meu currículo e o Couto encontrou o meu currículo, que é um dos diretores que vão vir aqui. Ele estava precisando de alguém como gerente de Recursos Humanos, viu o meu currículo como Recursos Humanos, especializada. Ele me chama e fui fazer entrevista com ele.
O Couto viu o meu currículo, conversou comigo, aí ele falou assim: “Eu tenho uma vaga pra você, mas que não é para Recursos Humanos. É para você fazer tudo que você conhece, é uma vaga na área de locação, é para você dirigir a área de locação. Então, você vai ter que cuidar de Recursos Humanos, de serviços, do atendimento, de Jurídico, de cobrança, vai cuidar de tudo, tudo que você conhece”, porque eu também, na área financeira, trabalhava com cobrança, contas a pagar, essas coisas, Aí ele falou: “Você topa?” Eu falei: “Nossa, era tudo que eu queria. Eu gosto de aprender novas coisas, gosto de inovação. Adorei, eu quero”. Ele falou: “Então você vai fazer uma entrevista com o diretor da área”.
Fui fazer uma entrevista com o José Roberto. Marcamos, fui lá, fiz a entrevista, aí o José Roberto falou: “Qualquer coisa eu te chamo”. Marcou mais uma entrevista, para conversar de novo; conversei, a terceira. Aí me ligaram e falaram para fazer uma entrevista com o Almeida.
Almeida era um diretor que marcou muito a Lello, porque ele era um consultor, um profissional de muita confiança, veio do mercado como diretor de grandes incorporações, então o Couto e o José Roberto confiavam muito na opinião dele. O Almeida conversou comigo, fez perguntas muito interessantes.
Eu lembro de uma das perguntas, ele falou assim: “Se um dia o diretor da empresa que você estiver pedir para você fazer alguma coisa não correta, alguma coisa que não seja legal, qual o seu comportamento? O que você faria?” Eu falei: “Muito simples: eu comentaria com ele que aquilo não é viável, que aquilo não é legal e que não é possível ser feito.” “E se ele insistisse que você tem que fazer tal coisa errada?” Eu falei: “Eu não ficaria. Se não fosse dentro dos meus princípios, eu não teria por que continuar ali”. Essa pergunta me marcou, mas ele fez muitas outras perguntas bem inteligentes.
Fui embora e aí veio a aprovação, marcaram mais uma reunião, a quinta.
Em 35, quarenta dias, mais ou menos, fiz 35 entrevistas, mais as cinco entrevistas da Lello. Eu estava em processo, com outras empresas me aprovando, mas a Lello me chamou a atenção, em função de ter a experiência de cuidar de uma área inteira e aquilo me motivava demais. Fui pra Lello.
Quando eu cheguei lá eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, porque eu encontrei um diretor trabalhando lá e o Zé Roberto falou assim: “Você vai cuidar de tudo, você vai ser a gerente geral da locação”, mas o diretor estava do lado e o Zé Roberto. Eu falei: “Mas tem um diretor, como nós vamos trabalhar em conjunto?”
O Zé Roberto acho que já tinha meio que se preparado para que o diretor saísse e eu ficasse no lugar, então eu fui, nos primeiros dias, entendendo o que era a empresa, o negócio, mas eu já… Os meus pais tinham locação de imóveis, então eu sabia o que era locação de imóveis, porque o meu pai melhorou de vida e tinha umas duas casinhas alugadas. Eu acompanhava isso, sabia o que era ser proprietário, sabia o que era ser inquilino.
No período que eu estava na Cenap, eu abri um consultório de psicologia em que eu trabalhava à noite, eu atendia clinicamente. Quando entrei na Lello eu ainda trabalhava à noite, nesse consultório que eu tinha, junto com duas sócias, mas quando vi o tamanho do desafio, deixei o consultório e me dediquei bastante à Lello.
Quando eu cheguei na Lello eu vi que o Zé Roberto deu carta branca, o que é bacana. É muito bom quando você chega numa empresa e, apesar de você não ter trabalhado naquele ramo, o diretor confiar no teu trabalho, então eu me sentia muito à vontade de fazer o meu trabalho, de dar o meu melhor. Não tinha horário, não tinha ‘tempo ruim’. Era ‘mão na massa’. Eu treinava o time, mudava, ele falava assim: “Você pode trocar as pessoas, faça o que for necessário para que a empresa possa crescer”.
Chegando lá, a empresa estava em um momento complexo, de muito prejuízo. A empresa tinha uma carteira pequena de negócios de locação, estava bastante desorganizada, então eu entrei com toda aquela vontade, conhecendo as pessoas. Fui mudando processos, trocando as pessoas que estavam inadequadas em cada área, até porque eu tenho muito experiência com perfil de pessoas, com treinamento, treinando.
Eu lembro que não queria dar gastos para a empresa, porque a empresa tinha uma situação delicada naquela época, então eu pegava a minha televisão em casa, pegava o meu videocassete e trazia em um carro, carregava. Tinha duas ou três filiais… Tinha quatro filiais naquela época. Levava na filial, colocava no carro, trazia, ia pra lá, pra cá. Eu lembro de uma vez, aí é engraçado, porque o meu marido tinha umas fitas e tinha uma fita lá de pornografia, aí eu peguei o vídeo e a TV e levei para dar o treinamento. (risos) Quando eu abri o negócio, um monte de gemidos lá! Gente, quase morri do coração! Ele tinha deixado a fita lá, com o negócio passando!
Eu já passei por cada uma, carregando TV, subindo escada, dando risada, mas tudo valeu a pena e o pessoal da empresa foi aderindo, foi melhorando, foi dando o melhor. Eu me dediquei muito na parte comercial, porque o comercial de uma empresa é muito importante. Todas as áreas são importantes, mas o comercial faz a empresa crescer e eu tenho o comercial ‘na veia’, eu sou uma pessoa que vê as oportunidades e eu ia para cima das oportunidades, então a área comercial começou a crescer, crescer.
A gente começou a comprar negócios, comprar carteiras. A coisa foi evoluindo e o time, se engajando. Eu dava muito evento, estabeleci metas para todo mundo, todas as áreas tinham metas e se desse a meta do mês, do trimestre, do ano, todo mundo tinha prêmio. Eu fazia evento todo mês, fechando o mês, dizendo: “Quem foi bem está aqui, bate palma para todo mundo, todo mundo vai bater palma para quem foi bem. Quem não foi tão bem vai lutar para o mês que vem dar um bom resultado”. Então, todo mundo tinha aquela mobilização.
Durante muitos anos, quando as coisas começaram a melhorar, eu fazia os fechamentos de trimestre uma festa mesmo, levava para salão de festa. Em cada trimestre eu colocava um tema diferente junto com o [departamento de] Marketing, trabalhava em conjunto com o Marketing, então eu tenho até alguns materiais assim, que a gente dava um nome; todo o trimestre a gente dava um nome para a campanha de comercial, administrativa, todo mundo entrava. Se era época de Copa era a Copa da Locação; se era [época de] Olimpíadas, eram Olimpíadas da Locação. Se não tivesse nada, a gente fazia o Desafio dos Samurais e a gente ia para um restaurante japonês fazer o fechamento lá. Mostrava como que foi cada uma das filiais, quem tirou primeiro, segundo e terceiro lugar, dava prêmios em dinheiro, de viagem; todo mundo lutava para ser o melhor, conquistava aquilo da melhor forma possível.
Foi uma época muito boa, a gente cresceu muito, a gente saiu... Quando eu entrei eu tinha oitocentos imóveis em administração, antes da pandemia a gente chegou a dez mil e quatrocentos imóveis em administração. A gente se tornou referência nacional, eu fui conhecida no Brasil inteiro, pelo trabalho, mas quando eu entrei na empresa eu trabalhava só com locação.
Ao longo do tempo as coisas foram melhorando e o Zé Roberto me trouxe a área de vendas para organizar, aí eu organizei a área de vendas também, coloquei gerente, abri filiais, coloquei corretores, estabeleci metas para todo mundo, treinei. Só que chegou um momento em que a empresa cresceu muito, chegou a onze unidades, só que eu tinha onze unidades de vendas e onze unidades de locação. Eu tinha todos os gerentes financeiros, gerente de marketing, gerente de tecnologia junto comigo. Os gerentes de venda eram onze, os gerentes de locação eram onze e aí uma consultoria chegou e falou: “Não, isso aqui não pode. Ela não pode cuidar de tudo isso”. Foi uma loucura, mas a gente cresceu exponencialmente, lucratividade, tudo estava crescendo e aí acharam que eu devia ficar só com a área de locação, de vendas tinha que sair, porque eles falaram que o ideal era cada gestor, cada diretor - eu como diretora, já era diretora da empresa… Eles dizem que no máximo pode ter subordinados seis gerentes, eu estava com uns vinte e quatro, então tivemos que fazer essa mudança.
Além de fazer tudo isso, me destaquei muito no Secovi [Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais]. Eu era diretora lá no Secovi, da área de locação e da área de vendas. Eu representava o Brasil, o mercado imobiliário brasileiro internacionalmente. Eu ia para a NAR [National Association of Realtors]. Tem um congresso internacional que se chama NAR, dos Estados Unidos, que acontece uma vez por ano, no mês de novembro e vão pessoas do mundo inteiro para o NAR, nos Estados Unidos. Todo ano é em um estado americano e o Secovi pagava tudo para que eu fosse lá. Durante sete anos eu fui representando o Brasil, então eu viajei muito, eu fui para Orlando, Miami, cada ano era em um lugar. Miami todo ano tinha que ir, Miami e um estado americano, porque tinha uma reunião pequena que era de Miami, que é o MAR, tinha o NAR e o MAR todo ano e eu fazia essas duas convenções.
Fui para New Orleans, para San Diego, para San Francisco, para Miami, para Orlando. Fui para vários lugares americanos com a equipe do Secovi e aí eu conheci muita gente internacionalmente, nacionalmente. Empresários do Brasil inteiro, quando falam da Lello, falam: “A Roseli”.
Em uma dessas viagens que eu fiz, o Zé Roberto me ligou, eu me lembro até hoje. Falou assim: “Olha, quando você chegar eu vou estar viajando, você treina uma outra pessoa”, que era para ficar na área de vendas. Foi o momento que separou da minha gestão, vendas e locação. Fiquei somente com locação. Com tudo isso, continuando trabalhando.
De um ano para cá ele pediu… Como eu tenho esse relacionamento muito grande com o mercado, com muitos empresários, ele me convidou para trabalhar nessa área de relacionamento com o mercado, que cuida de parcerias, que cuida de compra de negócios.
(49:21) P/1 – Você imaginou, durante esse seu trajeto, esse período, que a Lello cresceria tanto?
R – Sim. Na minha visão, ela poderia crescer mais ainda. Eu sempre tenho… Eu trabalho para que as coisas sejam muito grandes, eu não trabalho para que as coisas sejam pequenas. Onde eu coloco a mão eu quero que cresça muito.
Eu não contei uma coisa para você, sabia? Quando eu entrei na Lello existia uma trava muita grande nos negócios, que é a parte legal, jurídica. Então tudo: “Vamos mudar tal coisa?” “Não pode, porque legalmente não pode”. Aquilo mexeu demais comigo, aí eu falei assim: “Ah, é? Eu vou entender por que não pode”. Fui fazer Direito.
Eu estava na Lello e o motivo de eu ter ido fazer Direito é por quê? Porque eu queria fazer as coisas, eu queria fazer mudanças, eu queria implantar novidade, eu queria ousar e eu não conseguia, porque a legislação não deixava, porque o sindicato não deixava, o Creci [Conselho Regional de fiscalização do profissional Corretor de Imóveis] não deixava. “Não, vou fazer Direito, o que é isso? Aí eu vou poder”.
Fui fazer Direito, fiz cinco anos de Direito, me formei, aí entendi melhor o que acontecia. Existe muita trava, a legislação trava, mas as pessoas também travam. (risos) Aí a gente entende um pouco mais.
Eu gosto muito de inovação. Hoje o que eu mais estudo é inovação, marketing digital e a parte de tecnologia. São áreas que eu estou estudando nesse momento.
Você fala: “A Lello cresceu muito”. Eu imaginava, sim, a Lello muito grande. O potencial que eu enxergo de Lello é ainda maior do que a gente está. A Lello já é grande, é uma referência, mas ela tem potencial ainda para mais. Pode um negócio desse? Isso é muito bom, né? A Lello é uma empresa maravilhosa, então eu falo: “É uma paixão, eu tenho uma paixão pela empresa, pelo trabalho”. Os diretores da empresa são pessoas muito fantásticas, incríveis, me deram oportunidade e dão oportunidades para muitas pessoas, então é uma empresa de muito potencial.
(52:10) P/1 - Uma coisa que a gente vê em comum, a gente nota em comum em todos vocês que a gente tem entrevistado é que vocês sempre falam muito sobre a Lello como inovação, como empresa que se antecipa a mudanças de mercado, a inovações. Como é que é, para você, trabalhar em uma empresa que está sempre procurando estar à frente?
R – É muito bom você estar em uma empresa que tem esse olhar no futuro, olhar na inovação. É muito bom, eu gosto muito disso, é um aprendizado o tempo todo. Isso te faz, te cobra, te desenvolve, isso é muito bom e a Lello tem isso, trouxe a área do Lellolab, que é um laboratório da vida em comum. Não tem imobiliária que faça isso, a Lello é uma empresa diferenciada e todas as vivências, todos esses testes que são feitos ali trazem muitas informações, muitos dados, muitas experiências. Hoje é muito investimento, mas com certeza a gente vai colher muito de todas essas inovações, de todas essas experiências, de todos esses investimentos. É uma empresa que sempre está voltada a pensar em qualidade, em serviços, em sustentabilidade, cuidando do futuro das pessoas, do futuro do conviver. O viver une, então a empresa está muito voltada a isso, é muito bacana.
(54:04) P/1 - Conte um pouco mais sobre o seu trabalho atual.
R - Meu trabalho atual é assim: uma área nova na empresa, eu comecei a formar essa área, então tive que elaborar um procedimento, um processo de trabalho, para que eu possa atingir os objetivos da empresa. Tenho metas e meu trabalho é me relacionar realmente com as empresas, com o mercado, com inovação.
Hoje eu converso com muitos empresários. Eu gosto de trabalhar com entrevista, porque eu estou em busca de oportunidade de negócio, mas eu não posso chegar no empresário e falar assim: “Vou comprar a tua empresa”. Até porque eu preciso conhecer a empresa também. Então, eu criei uma metodologia de trabalho, para poder conhecer a empresa e para poder atingir o objetivo de saber se existe match para poder comprar aquela empresa, para comprar aquela carteira, aquele negócio. Desenvolvi uma metodologia, então eu faço entrevistas com empresários. Muitos eu conheço, muitos eu não conheço e eu abro um relacionamento. Faço conexões dessas pessoas com outras empresas, com outros negócios, com parceiros, com startups. Conheço muitas startups, as startups me procuram demais também, porque sabem que eu conheço o mercado inteiro.
Eu sou uma pessoa de conexões hoje, então faço as entrevistas e detecto as empresas que têm a possibilidade, a viabilidade de negócios. Começo um processo de negociação e compro o negócio ou trago parcerias, trago oportunidades. Já comprei algumas empresas e estou com duas ou três, com alguns negócios de propostas ‘rolando’. São negócios grandes, negócios interessantes. Não são coisas rápidas, porque você imagina: às vezes a empresa tem… Eu comprei uma empresa que tinha sessenta, 65 anos, também, de mercado, então imagina um diretor se desligar de tudo aquilo pra poder passar a sua carteira de negócios para a gente. É um processo.
Como eu conheço de ponta a ponta o negócio, a área de venda, de locação, atendimento, financeiro, Recursos Humanos, a parte de pessoas, a conversa é muito tranquila, o diretor da empresa se sente muito confortável de tratar comigo e aí sou convidada o tempo todo para trabalhar com essas empresas, porque eles falam assim: “Nossa, se você vier trabalhar comigo eu não preciso fazer esse negócio”. (risos) Chega um momento que, ao invés de eu conseguir trazer o negócio, eles estão me convidando para trabalhar lá, sabe? (risos) É engraçado. Eu recebo muitas propostas de trabalho nesse meu relacionamento, então é incrível, muito legal.
Eu também continuo como diretora do Secovi em São Paulo. Estou fazendo um grande trabalho de eventos, estou montando um Rede Show, que é um evento que vai ter uma arena de inovação com startups e eu que vou coordenar todo esse trabalho. Estou direto com a área de inovação, eu indico muito as startups pra poder se inscrever no programa de aceleração da Lello.
Eu trago negócios, o pessoal traz oportunidade de venda de negócios grandes e eu trago para a Lello essa oportunidade. Tem muitas empresas que querem fazer parceria de venda de imóveis, conectar as nossas carteiras, então é muito trabalho voltado a negócios, à visibilidade da nossa empresa.
Acabo levando o nome da Lello em todos os lugares que eu vou, até nas minhas férias. Eu acabei de voltar de férias, fui para os Estados Unidos. É a 17ª vez que eu fui para os Estados Unidos. Fui para Miami, Orlando, e em Orlando fui conhecer negócios... De férias e fui conhecer um projeto da Loft, que é uma empresa aqui em São Paulo que está fazendo um projeto internacional de construção. Fui conhecer o projeto deles em uma imobiliária que é do Ricardo Molina, que faz parceria com várias imobiliárias nacionais no Brasil, então eu fui conhecer também, tudo para fomentar negócios, para pensar ‘fora da caixinha’.
Eu acho que a gente tem que pensar ‘fora da caixa’, não dá para… Se você pensa em fazer as mesmas coisas você não vai melhorar os seus resultados. Você tem que buscar novas oportunidades, tem que conhecer novas formas de fazer as coisas, você tem que se relacionar com novas pessoas pra progredir. Só assim você muda, só assim você inova.
(01:00:08) P/1 - E de que forma você entende que a Lello escuta às demandas da sociedade, devido a essas transformações que têm acontecido no mercado?
R – Bom, a Lello tem várias formas de entender o que está acontecendo no mercado. Primeiro com o comportamento dos clientes: a gente tem clientes tanto na área de condomínio [quanto] na área de locação e na área de vendas. Segundo: através dos seus profissionais. Cada profissional convive com os clientes, com o mercado, também traz informações.
Também com a área de dados. Na empresa que tem uma área de dados, que faz análise de dados, você tem que ter essa cultura data driven para fazer a leitura desses dados, mas também através de novas experiências e relacionamentos, através do Lellolab, que está fazendo experiências inovadoras em alguns condomínios, alguns serviços e também indo para eventos. Por exemplo: eu cheguei de férias anteontem e ontem o Secovi São Paulo me deu um convite para participar da Convenção Secovi, que vai ser segunda-feira e terça-feira. Tinha hoje também uma visita técnica, mas eu não vou, porque eu tinha marcado aqui, mas eu vou ficar segunda-feira e terça-feira na Convenção Secovi, me relacionando no mercado, vendo as melhores práticas, falando com empresários, empresas inovadoras, ouvindo palestras, participando de workshops, participando de almoços, de mentorias, uma série de coisas. Nesse aqui eu vou entrar como participante, mas agora eu estou preparando para outubro o Rede Show, que eu que estou montando, trazendo um monte de palestrantes, então eu estou em contato, falando com palestrantes do Brasil inteiro, que vão promover workshops. Eu vou fazer um almoço com mentores de coaching, com presidentes da associação, do Secovi, do sindicato. Então, é muito relacionamento.
A Lello, conforme ela vai se relacionando, porque a gente tem essa liberdade, a gente também traz muito insumo, muita informação e a gente lida com parceiros muito especiais, que mudam a rota do caminho. De repente tem uma filial, de repente já virou franquia, de repente mudou o sistema para uma forma completamente diferente, mudou a forma de atender o cliente, saiu do analógico para um atendimento mais virtual, as mudanças estão acontecendo muito rápido e a gente tem que acompanhar. A Lello tem que acompanhar através dos seus profissionais, esses profissionais têm que trazer essas inovações, colocar na mesa, discutir e implementar aquilo que é ‘vivível’, possível, que atenda melhor o seu cliente, que faça a empresa crescer e evoluir.
(01:03:44) P/1 - Você falou que você começou a trabalhar com essa diretoria de relacionamento pouco antes da pandemia.
R - Foi depois.
(01:03:55) P/1 - Foi depois?
R - Foi assim: na verdade foi 2020... 2021.
(01:04:06) P/1 – Ah, sim, então foi antes.
R - Foi ano passado, faz um ano.
(01:04:10) P/1 - E falando sobre a pandemia, como foi para você pessoalmente e também na Lello, essa adaptação à pandemia, de 2020 para frente?
R - Eu sou uma pessoa de muito fácil adaptação pras coisas. Eu não sofro muito, não. Você me fala: “Vai ter que trabalhar aqui dentro”, eu vou trabalhar aqui. “Vai ter que trabalhar lá fora”, eu vou trabalhar lá fora. (risos) “Vai ter que fazer tudo diferente”, vamos fazer. Eu não tenho muito isso.
O que eu senti… A Lello foi uma empresa muito consciente, que cuidou muito dos clientes e dos funcionários. Eu, diretora da empresa, percebi que a Lello protegeu muito, então nós tivemos quase dois anos de home office. Todo mundo, não foi só… Mil funcionários de home office. A Lello não demitiu ninguém e colocou todo mundo em casa.
Você imagina a gente com 25 lojas, todas fechadas, sem ninguém lá, custo galopante. O que eu senti é que a Lello foi muito protetora, então parabéns à Lello, mas eu acho que a empresa sentiu, sofreu, porque os negócios estavam acontecendo. Acho que 99,9% das imobiliárias ficaram uns quinze dias em casa e depois começaram a trabalhar internamente, já abriram as portas e se resolveram, então o impacto para essas empresas não foi muito grande. Para a gente, que estava em um ritmo em que a gente alugava muito imóvel, a gente fechou as portas e o atendimento era só on-line, [tinha] muita dificuldade de mostrar imóvel, muita gente com dificuldade de pagar aluguel, a área de locação sentiu um pouco essa situação. Mas eu [fiquei] assim: é para ficar, trabalhar em casa? Eu trabalho normalmente, mas eu fiquei muito preocupada com os negócios e com a empresa.
Eu estou em um momento da minha vida que eu não estou preocupada comigo, eu estou muito bem. Eu estou preocupada com as pessoas, estou preocupada com a empresa, estou preocupada fora, porque graças a Deus eu estou bem abastecida. Eu não falo isso para me colocar de uma forma superior, nada disso, muito pelo contrário. Eu nasci para servir, sabe, acho que é meu dom e eu senti que, com esse período que a gente ficou em casa, a Lello sentiu os resultados, sentiu um pouco. É diferente e agora está retomando, porque quando a gente voltou teve que colocar em um ritmo e tem que superar, não é colocar no ritmo que era. Tem que superar muito o ritmo que era, então a gente está nesse processo de aceleração agora.
(01:07:57) P/1 – E como você vê o futuro da Lello?
R - O futuro da Lello? Bom, o futuro da Lello eu vejo que está na mão dos donos da Lello, porque é uma empresa que, para onde ela quiser seguir, ela vai seguir. Se ela quiser... Vamos supor que faça um projeto de expansão nacional, a Lello vai ser muito bem-sucedida. Nesse meu trabalho de relacionamento eles falam: “As imobiliárias estão vivendo um período complexo. O que eu enxergo é que as imobiliárias pequenas e médias vão ter que se associar a grandes redes”. A Lello pode ser uma grande rede, então a Lello tem ‘N’ oportunidades e opções, todas estão na mão dela. Por quê? Porque ela é uma empresa que passa segurança, tem seriedade, é uma empresa reconhecida nacionalmente e internacionalmente. É uma empresa modelo, que tem inovação, que tem processos, pessoas, sistemas, então ela tem tudo para escolher o caminho que ela quiser e progredir. Mas está nas mãos dos donos e eu não sei, para mim ainda não está claro se eles vão querer ‘abraçar’ esse mundo de oportunidades, ou se vão ficar contidos, mais em São Paulo. É uma empresa que pode fazer o que ela quiser, está em uma posição muito privilegiada.
(01:09:55) P/1 - Então a gente vai para um bloco final de perguntas, essas são um pouco mais pessoais, tá bom? Você tinha falado sobre filhos. Como foi para você ser mãe?
R - Uma experiência incrível, eu fui abençoada. Eu falo, o meu marido me deu muito trabalho, mas Deus me deu duas filhas que não me dão trabalho, elas cuidam do meu marido comigo. (risos)
Eu tenho duas dentistas, elas são formadas em Odontologia e casaram com dois dentistas. Eu já tenho dois netos, então tenho um netinho de três anos e uma que vai fazer quinze essa semana que vem.
Minhas filhas estão muito bem também, graças a Deus, elas têm… Essa minha filha, a mais velha, tem o consultório dela, tem o consultório do marido, tem os dois filhos e está construindo a casa dos sonhos dela, então ela está muito feliz. Vai ficar pronta agora, no final do ano. Ela está superbem, com dois consultórios, trabalha para caramba também, seguiu o ritmo da mãe.
A outra minha filha, mais nova, também é professora de faculdade, universidade, mas ela construiu um instituto de odontologia, onde ela tem umas oito cadeiras de dentista, porque ela dá aula de pós-graduação, então tem cursos, vários cursos de pós-graduação lá. Ela está muito bem, está nas redes sociais; ela e o marido são Instagram, estão ali fazendo um trabalho e são super-reconhecidos. Ela fez mestrado, fez doutorado, está fazendo pós-doc.
Todos eles estão estudando, minhas duas filhas estudam, os dois genros estão fazendo pós. Estão super bem encaminhados, graças a Deus! Todo mundo já tem casa própria, no instituto o prédio é dela, então eles estão superbem.
Eu não ficaria feliz na minha vida se eu não visse as pessoas que estão do meu lado bem, então eu olho para elas e fico feliz. Acho que a minha missão foi bem cumprida ali, mas eu continuo ‘de olho’, ali e ajudando e apoiando minhas filhas. Não só as minhas filhas, a minha família e quem estiver ao meu lado.
(01:12:49) P/1 - Qual o nome delas?
R – Amanda. Quer o nome completo?
(01:12:53) P/1 - Não.
R - Amanda e Daiana.
(01:12:58) P/1 - Amanda é a mais velha?
R - Amanda é a mais velha, isso.
(01:13:01) P/1 - E quais são as coisas mais importantes para você, hoje em dia?
R - Hoje em dia o que eu busco é assim: todo o ser humano tem que crescer e se desenvolver o tempo todo e eu estou em uma fase que eu estou... Como que eu posso… Desapegando de um monte de coisas. Por quê? Até daquilo que você... Dos aprendizados do passado. Você tem que aprender novas coisas. Eu falo que aquilo que você fazia, a forma que você fazia não te garante mais sucesso nenhum. Você tem que reaprender, você tem que refazer as coisas.
Eu tenho muita vontade de trabalhar muito com inovação, então eu fico estudando, buscando; eu viajo para ver inovação na construção. Acabei de construir a minha casa e tudo que você possa imaginar de sustentabilidade eu coloquei na minha casa, então a gente construiu a casa com placa solar - eu quase não pago luz hoje - a minha casa parece uma usina de energia, poço artesiano, o piso do quintal é ecológico, ele drena a água; tem piscina, aquecedor de piscina. Tudo que eu podia trazer de inovação… As venezianas são elétricas, posso colocar automação agora, o próximo passo é automatizar toda a casa.
Eu quero inovação, eu gosto disso. Adoro ir para os Estados Unidos, porque eu vejo muita coisa de inovação, muita coisa.
O meu caminho vai ser dentro da inovação, eu sei disso. Eu gosto muito de tecnologia e a comunicação marketing digital é o caminho, as empresas vão ter que entrar nesse mundo. Rede social, eu acho que vai ser o caminho também, então [quero] usar todo o meu conhecimento nesse sentido. Conectar pessoas, negócios, inovação, esse é o meu caminho.
(01:15:34) P/1 - E quais são os seus sonhos para o futuro, Roseli?
R - Meu sonho é ver todo mundo que está à minha volta e o mundo inteiro em uma situação boa. Eu não admito, eu vejo e não admito ver alguém passando necessidade, não gosto. Nossa, esse assunto da Cracolândia mexe demais comigo. Às vezes eu fico pensando: “Será que para poder ajudar você tem que entrar na política?” A política está muito complexa, muito vergonhosa, mas eu quero fazer alguma coisa pela humanidade, entendeu? Eu sei que eu sou tão sozinha, pequenininha, mas eu começo à minha volta, ajudando à minha volta, então a empresa que eu estou, as pessoas que estão à minha volta, os amigos, os negócios… Eu sou da política do ganha-ganha, todo mundo tem que ganhar, então se eu for fazer um negócio com você, eu só vou fazer se o negócio for bom para você também. Quero que você ganhe e eu ganhe, quero que você esteja feliz, você entendeu? Por isso que às vezes o pessoal fala assim: “Nossa, mas você consegue ter tantas oportunidades nas suas mãos”... As pessoas sentem isso. Se você ‘passar a perna’ em alguém uma vez vai ser só uma vez, você acabou a sua carreira. Vendedor, para mim, que pensa “vou tirar vantagem”, para mim não é vendedor.
As coisas, as oportunidades ‘caem no meu colo’ sempre, é impressionante. Eu tenho uma energia muito positiva.
(01:17:35) P/1 - Tem alguma coisa que você gostaria de falar sobre a Lello que eu não abordei aqui, que a gente não chegou a conversar?
R - A sua entrevista foi bastante profunda, muito interessante. Falei muita coisa da Lello.
Deixa eu ver o que eu posso dizer da Lello... Eu tenho uma grande gratidão pela empresa, uma gratidão mesmo. Você sabe que eu estava... Esse final de semana eu falei para a minha mãe: “Mãe, eu vou…”... Não foi nesse final de semana, desculpa, eu acabei de chegar de viagem. Minha mãe, no dia que eu cheguei de viagem, quis ir para a minha casa para estar com a gente, foi na terça-feira. Eu falei: “Mãe, eu vou ter uma entrevista no Museu da Pessoa, para falar sobre mim e sobre a Lello”, aí ela falou: “Ah, é, você vai falar sobre a Lello?” Eu falei: “Vou. O que a senhora acha que eu deveria falar da Lello?” Aí ela falou assim para mim: “A Lello foi tudo para você”. (risos) Aí eu falei: “Verdade, mãe, a Lello foi tudo para mim”. Por quê? Porque se eu tenho essa força, se eu tenho esse relacionamento, se eu tenho esse conhecimento, se eu fui buscar estudar, se eu fui buscar me desenvolver, se eu progredi, eu devo muito à Lello, eu devo quase tudo à Lello. Tem um pouco do meu esforço, mas a Lello me deu a oportunidade, então eu tenho muita gratidão, gratidão por tudo que a Lello me proporcionou, pela oportunidade de trabalhar, de conhecerem o meu potencial, de poder me dedicar, de poder ter tantos relacionamentos incríveis na própria empresa, com os profissionais, funcionários que trabalharam comigo, tantas pessoas ajudando, porque a gente fez um time muito bom.
É uma empresa que eu confio, que marcou o mercado e vai continuar marcando. Uma empresa responsável, séria, que sempre honrou com tudo aquilo que prometeu.
Eu só tenho coisas boas para falar sobre a empresa e em especial sobre o José Roberto, que é o meu chefe, é o dono da empresa, o líder e sempre foi um exemplo de pessoa, de caráter e que me ajudou demais, então eu só tenho que agradecer.
(01:20:21) P/1 - Bom, então vamos para a última pergunta: o que você achou de contar um pouco da sua história e também a sua história da Lello hoje, para a gente?
R - Eu achei incrível. Eu acho que não tem um trabalho como esse no mercado. Acho que vocês, de uma maneira tranquila... Aliás, parabéns pela forma que você entrevista.
(01:20:53) P/1 - Obrigado!
R - E você deixa a gente muito à vontade, para poder pensar em voz alta. É gostoso quando você pode pensar em voz alta, sem bloqueios e você deu essa oportunidade de passar por momentos da nossa vida, alguns difíceis, mas outros maravilhosos, que nos trouxeram até aqui. Foi uma experiência inédita para mim, porque em geral as pessoas não têm tempo de te ouvir nesse sentido, de fazer uma análise dessa jornada de vida e você parou um pouco e resgatou tudo isso, então você está de parabéns. Achei fenomenal, incrível.
(01:21:45) P/1 - Então, em nome do Museu da Pessoa, a gente agradece muito a nossa conversa de hoje.
R - Muito obrigada, parabéns e eu fico muito honrada de ter tido essa oportunidade. Obrigada mesmo, à vocês e à Lello.
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