Depoimento de Mira Felmanas
Entrevistada por Cláudia Leonor e Ana Paula Soares
Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 07 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Bom, eu queria que a senhora falasse o nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Bom, meu nome é Mira Fridberg Felmanas, data de nascimento 9 de julho.
P - E aonde a senhora nasceu?
R - Eu nasci em Budapeste, na Hungria.
P - Certo, e o nome dos pais da senhora?
R - Meu pai era Marcos Fridberg e minha mãe Dora Fridberg.
P - Certo, e eles nasceram aonde?
R - Nasceram na Polônia.
P - Dona Mira, eu queria que a senhora falasse um pouco assim da infância na Hungria.
R - Bom, eu não me lembro porque meus pais estavam fugindo da guerra e tinha acabado a guerra e ficamos só três meses, depois eles foram morar no Uruguai.
P - Certo.
R - Meu pai tinha um irmão que morava lá e foi morar lá.
P - Certo.
R - Passei minha infância no Uruguai.
P - Que é que a senhora lembra então do Uruguai? Como é que era o dia-a-dia da senhora lá?
R - É uma cidade mais tranqüila, Montevidéu é uma cidade calma, né, pequena, uma infância normal, sem atropelos, estudando, ajudei a cuidar do meu irmão. Tenho um irmão, só um irmão. Nada de especial.
P - E como que era a escola lá no Uruguai?
R - Era, acho que é um pouco mais rigorosa do que aqui, né, no Brasil. E talvez o estudo é mais, o governo é que paga os estudos e o estudo e obrigatório. É obrigado até o oitavo grau a pessoa fazer o curso, né. Então não tem quase analfabeto. E o menor índice de analfabetismo do Brasil... (risos)
P - Da América?
R - É, da América!
P - Certo, e como era a casa da senhora assim, cultivava alguns hábitos europeus? Como é que era isso?
R - É, família de imigrantes; né? Então, aquele, aquela família mais unida, né, como a gente quer transmitir hoje em dia nos filhos da gente.
P - E até quando a senhora morou em Montevidéu?
R - Eu cheguei...
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Entrevistada por Cláudia Leonor e Ana Paula Soares
Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 07 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Bom, eu queria que a senhora falasse o nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Bom, meu nome é Mira Fridberg Felmanas, data de nascimento 9 de julho.
P - E aonde a senhora nasceu?
R - Eu nasci em Budapeste, na Hungria.
P - Certo, e o nome dos pais da senhora?
R - Meu pai era Marcos Fridberg e minha mãe Dora Fridberg.
P - Certo, e eles nasceram aonde?
R - Nasceram na Polônia.
P - Dona Mira, eu queria que a senhora falasse um pouco assim da infância na Hungria.
R - Bom, eu não me lembro porque meus pais estavam fugindo da guerra e tinha acabado a guerra e ficamos só três meses, depois eles foram morar no Uruguai.
P - Certo.
R - Meu pai tinha um irmão que morava lá e foi morar lá.
P - Certo.
R - Passei minha infância no Uruguai.
P - Que é que a senhora lembra então do Uruguai? Como é que era o dia-a-dia da senhora lá?
R - É uma cidade mais tranqüila, Montevidéu é uma cidade calma, né, pequena, uma infância normal, sem atropelos, estudando, ajudei a cuidar do meu irmão. Tenho um irmão, só um irmão. Nada de especial.
P - E como que era a escola lá no Uruguai?
R - Era, acho que é um pouco mais rigorosa do que aqui, né, no Brasil. E talvez o estudo é mais, o governo é que paga os estudos e o estudo e obrigatório. É obrigado até o oitavo grau a pessoa fazer o curso, né. Então não tem quase analfabeto. E o menor índice de analfabetismo do Brasil... (risos)
P - Da América?
R - É, da América!
P - Certo, e como era a casa da senhora assim, cultivava alguns hábitos europeus? Como é que era isso?
R - É, família de imigrantes; né? Então, aquele, aquela família mais unida, né, como a gente quer transmitir hoje em dia nos filhos da gente.
P - E até quando a senhora morou em Montevidéu?
R - Eu cheguei aqui eu tinha dez anos.
P - E qual foi a impressão da senhora quando a senhora chegou no Brasil?
R - Ah! Me apaixonei; né? Logo gostei, né. Tanto é que hoje não troco nada, né, por nenhum lugar do mundo, né. Adoro São Paulo, adoro o Brasil.
P - Por que é que a senhora se apaixonou pelo Brasil?
R - Ah, eu acho que o povo, apesar de tudo, é muito carinhoso, muito receptivo, né. E tem chance. O Brasil é um país que dá chance pra todo mundo, né. É só a pessoa ter um pouco de boa vontade, querer trabalhar, tem chance pra todo mundo, né. Vencer na vida e trabalhar.
P - Certo. E a senhora chegou, a senhora veio morar aonde?
R - Eu fui morar, eu fui morar na Vila Mariana, mas meus pais foram trabalhar aqui no Bom Retiro mesmo.
P - Que é que eles faziam aqui no Bom Retiro?
R - Eles tinham loja de confecção.
P - Como que chamava?
R - Ah! Não lembro.
P - A senhora não lembra? E, mas do que é que era a confecção?
R - Era de roupas femininas, né.
P - E a senhora ajudava, alguma coisa?
R - Um pouco, na época eu estudava, né. Fazia um curso de contabilidade, depois eu fiz faculdade de Direito. Ai nesse meio tempo namorei e casei. Parei a faculdade, comecei a ser mãe de família, dona de casa.
P - Certo, mas me fala uma coisa. E nessa loja dos seus pais aqui no Bom Retiro, como é que era a loja em si, tinha balcão? Como é que era o visual da loja?
R - Tinha. E, aquelas lojas, sei lá, de 30 anos atrás, né, a pessoa tratava diretamente com o cliente, né, o dono da loja. Apesar que tinha funcionários, mas era sempre um tratamento mais direto digamos, né. Então que era assim, mais informal digamos.
P - E como é que era a clientela da loja?
R - É pessoal mais simples talvez, pessoal do Bom Retiro, que sempre foi assim, um comércio digamos mais, não barato, qual seria a palavra, mais popular. E mais voltado pro varejo, né.
P - Certo, e sempre teve essa loja ou eles mudaram a loja?
R - Não, sempre teve a mesma loja.
P - Certo. E a senhora falou que depois a senhora casou, como foi que a senhora conheceu o marido da senhora?
R - Eu conheci ele no clube, né, na Hebraica, né. Depois a gente começou a namorar, casamos, viemos morar aqui no Bom Retiro. Aí o meu marido montou uma confecção também e ficamos, né. Eu ajudava ele um pouco, logo teve as crianças.
P - Do que é que era a confecção?
R - Era uma malharia.
P - Era uma malharia? E vendia pra quem, assim quem era a clientela?
R - Aí na época, já vendia pros magazines, né, pras grandes lojas de São Paulo, Lojas Marisa, Casas Pernambucanas, era já voltada pro atacado, né.
P - Certo. E vocês continuaram com essa loja, como que chamava a loja?
R - Mundosport.
P - E vocês continuaram essa loja quanto tempo?
R - Ah! Ficamos no ramo de confecções acho que uns 15, 20 anos.
P - Certo, e aí que é que aconteceu?
R - Aí meu marido resolveu dar uma parada, estava um pouco enjoado, ficou doente, a gente foi viajar. E eu tenho uma casa em Campos do Jordão e nós fomos passar umas férias, fomos assistir alguns leilões com as crianças, pra distrair, e ele gostou do ramo. Achou interessante, meus filhos gostaram e a gente montou uma casa de leilões.
P - Certo, mas vocês, antes de montar uma casa de leilões, vocês tinham uma coleção de peças, como é que é isso?
R - É, a gente sempre gostou de colecionar, de comprar, ia nos antiquários, né. E aí gostou, as crianças adoraram, nós achamos que era um futuro, né, encaminhar eles dessa forma e aí uma brincadeira talvez, virou um grande negócio, né.
P - Certo, e como é que foi o primeiro leilão que vocês organizaram?
R - Olha, o primeiro leilão foi até interessante, por que nós montamos ele até na minha casa, com a ajuda de alguns amigos, e, que nem eu te falei, uma coisa que ia ser um hobby, digamos, teve um fundo empresarial porque depois todo mundo adorou por causa da recepção que a gente faz pras pessoas, nós somos muito festeiros, então a gente gosta de fazer muito evento, de juntar as pessoas, então fica uma coisa muito agradável, né. Fica uma série de ... Como vou falar? Um evento social, um ponto de encontro, uma coisa cultural, né. Vai juntando tudo e sai uma coisa gostosa.
P - Certo, aí depois desse primeiro leilão na casa da senhora, vocês montaram uma, um espaço?
R - É, um espaço.
P - E aonde que era?
R - No começo foi na Avenida São Gabriel. É, era uma loja, né. Nós montamos uma casa de leilões e cada vez ia ficando menor, que a clientela cada vez vai aumentando, né. Então, depois que nós tivemos oportunidade e a gente mudou para a Gabriel Monteiro da Silva.
P - Certo, agora me fala um pouco. Por que vocês escolheram então a Gabriel Monteiro da Silva?
R - Porque, meus filhos, que trabalham com a gente, né, meu filho sempre falava que lá era, ia ser a rua voltada para esse tipo de comércio, que é o de antigüidades e decorações. E ele falou essa vai ser a rua que, e realmente, depois que nós fomos pra lá, muita gente se mudou pra lá. E tá virando um ponto exclusivo de decoração, de antigüidades. Tanto que o pessoal que vem de fora de São Paulo, de outras cidades, de outros estados, eles já vão direcionados na Gabriel.
P - E quando a senhora se mudou pra Gabriel, a rua não tinha muito comércio de decoração?
R - Não, já estava começando mas não estava tão espalhado como hoje, né, que praticamente que tem não... quase nenhuma casa hoje em dia, que tem muitos pontos.
P - Que é que tinha antes?
R - O único ponto de referência que tinha na Gabriel Monteiro era a Brunela, que é uma sorveteria famosa e tal. E talvez umas quatro, cinco lojas. Hoje em dia já tem muitas, desde tecido até luminárias, até móveis de jardim. Então, tudo que uma pessoa precisaria pra uma decoração de uma casa você encontra na Gabriel Monteiro.
P - E, em geral, como é que é a clientela que freqüenta a Gabriel? Que tipo de clientela é?
R - Ah! É um pessoal muito selecionado, um pessoal muito educado. Seria assim, digamos, a nata da sociedade, né. Mas apesar de não só pelo poder aquisitivo não, é pela beleza das pessoas, é pessoal mais, não refinado, educado mesmo, né.
P - Dona Mira, fala pra gente, como que é assim a dinâmica de um leilão, como é que funciona assim desde ... Qual é o primeiro passo para fazer um leilão?
R - Bom, um leilão parece muito fácil pra fazer mas não é, pelo contrário, é muito complicado. Então é um trabalho constante, né, e tem que fazer a parte de arrecadação das peças, que praticamente todo dia tem gente pra trazer uma peça, pra avaliar, pra vender pra cá, pra ver se a procedência é boa. E depois que a gente consegue uma boa arrecadação de peças a gente começa a parte da catalogação pro leilão, propriamente dita, né. Em São Paulo a gente faz um leilão a cada 40 dias mais ou menos. Depois dessa catalogação vem, nós fazemos as fotos para os catálogos, expedição da mala direta, os convites, né. E logo já vem a montagem da loja. Nós temos uma decoradora, ela vem, monta, meus filhos ajudam, né. Meus três filhos estão na galeria, eles que são braço direito, braço esquerdo, eles que fazem tudo, né? (risos)
P - E deixa eu perguntar uma coisa pra senhora. A senhora falou que tem um coisa de ver a autenticidade da peça? Quem é que vê isso?
R - Justamente, nós temos um avaliador e qualquer dúvida existente eles procuram um perito, um conhecedor específico ou daquele quadro, ou daquela peça, ou daquele móvel, ou daquela peça, o que for.
P - Tem algum tipo de período ou de suporte, se é tela, porcelana, que vocês trabalham mais?
R - Não, no geral, às vezes, por exemplo, tem leilão que tem mais prata de lei, às vezes um leilão que tem mais pinturas, mas no geral é bem variado, bem sortido.
P - E tem alguma coisa que as pessoas procuram mais?
R - Não. Todo mundo gosta muito dos tapetes orientais, acho que é o que tem mais procura, e as pinturas, quadros, telas em si. Eu acho que os homens são mais voltados pra pintura, né, os homens adoram ter um quadro, mas sempre quem dá a última palavra é a mulher, naturalmente. (risos) Se a mulher falar: "Ah, não gostei daquela tela", não adianta que o marido não vai comprar. (risos)
P - E tem assim, de algum arquiteto estar acompanhando alguma cliente, algum decorador que sugere, como é que é isso?
R - Tem, tem muito, geralmente as pessoas estão se mudando, decorando, passam, já conhecem a galeria e vão lá. Às vezes vão até sem a decoradora, depois a decoradora vai lá e aprova ou não aprova. E, às vezes é o contrário, o inverso, vai a decoradora, que está procurando uma peça específica para um cliente, gosta e marca já com o cliente ir lá na galeria e de comum acordo eles compram, né, ou separam a peça pra passar no leilão.
P - Certo, então basicamente funciona como uma loja?
R - É, mas nossa loja não está voltada pra venda, pro público, nós estamos voltados pro leilão. Então a gente procura atender, logicamente se você vai lá, é, você compra uma peça no leilão, você quer fazer uma avaliação, você quer fazer uma troca, ou uma compra e você mora fora de São Paulo, a gente tenta atender e fazer o possível, pra pessoa depois voltar pro leilão.
P - Certo, agora a senhora faz o leilão a cada 40 dias aqui em São Paulo. E fora de São Paulo, o que é que acontece?
R - Bom, fora de São Paulo, nós temos uma casa de leilões no Guarujá, que fazemos leilão todo sábado, semanalmente, né. E nós também fazemos leilões em hotéis, no Casa Grande Hotel e num hotel em Campos do Jordão, cinco estrelas, muito bonito que chama Mont Blanc. E fazemos esporadicamente leilões no interior, as pessoas chamam, às vezes, pra fazer um leilão beneficente, nós já fizemos praticamente todo São Paulo e, as vezes até fora de São Paulo.
P - Que é que difere assim a clientela que está em São Paulo, que vem à Gabriel Monteiro da Silva, e a que está em Campos do Jordão, no Guarujá?
R - Ah. O pessoal, quando, por exemplo, está em Campos do Jordão é um pessoal que está de férias, passando temporada, né, não é um grande conhecedor de obras de arte ou um colecionador talvez. Então eles vão mais assistir um leilão como uma forma de lazer, leilão um tanto mais descontraído, né. Agora, já em São Paulo não. Em São Paulo o pessoal quando vai ao leilão é porque, apesar de querer se divertir, quer comprar uma peça um pouco melhor talvez, ou um grande colecionador, ou um, ou talvez mesmo pra decoração, mas talvez uma peça de mais porte, digamos.
P - Eu queria que a senhora falasse um pouco de como é feita a avaliação das peças.
R - É, a pessoa, quando está disposta a vender, procura a galeria e nós temos um perito, né, um avaliador, que ele dá o preço do mercado, digamos. O preço dessa peça é avaliado no mercado. E as obras de arte em geral são um preço internacional. Tem uma cotação internacional. Tanto faz aqui em São Paulo ou na Europa, ou nos Estados Unidos é o mesmo preço, digamos. Oscila pouca coisa.
P - É, existe algum tipo de mercado internacional?
R - Existe, tem muito também um mercado, digamos, regional de pintores que são mais valorizados em São Paulo e menos no Rio, digamos, ou Norte, Nordeste, pintores nordestinos que em São Paulo o preço não atinge o mesmo preço que lá.
P- Vêm peças do exterior?
R - Vem, muitas coisas são peças do exterior.
P - Como que vocês contactam?
R - São pessoas que moram, estrangeiros, né, que às vezes tem de deixar o país, estão só de passagem, né, e não podem voltar carregando tudo, então eles querem se desfazer. Muitas casas, e proprietários de casas grandes que hoje em dia os filhos já casaram, querem morar num apartamento menor. Então esse tipo de coisa acontece freqüentemente.
P - Certo, e como é que é, assim, o leilão em si? As pessoas chegam lá e a senhora falou que tem um lado cultural, tem um lado festa e tem um lado de negócios...
R - É.
P - Fala desses três lados pra gente.
R - Bom. O leilão é uma coisa assim muito agradável, muita gente que nunca freqüentou, depois que vai uma vez, adora e fica até cliente, fica amigo, então muita gente acaba se conhecendo, se encontrando no leilão e não precisa ser um grande conhecedor, por que, como tem peças caras, de porte grande, mas ao mesmo tempo tem muita coisa assim que a gente põe sem valor mínimo no leilão, nem nada, só pra pessoa poder adquirir e falar: "Não, comprei tal peça no leilão."
P - E esse lado mais festa assim...
R - É porque, como eu te falei, vai virando um evento social, todo mundo acaba se conhecendo, então muita gente fala assim: "Bom, sabe que é que nos vamos fazer? Ah, vamos no leilão, depois vamos numa boate, numa discoteca, ou um jantar fora." Então é uma forma até de você marcar um encontro lá, muita gente acaba se conhecendo e virando amigo. Então é uma coisa muito agradável. Tanto é que, depois, por exemplo, nós temos clientes que depois convidam, nós já fomos convidados pra fazer leilão em Fortaleza, em Campinas, em outras cidades, através dos clientes que freqüentaram nossos leilões.
P - Me conta como é que foi esse leilão a bordo de um navio que vocês fizeram?
R - Ah! Foi um evento muito agradável, nós fizemos, não uma sociedade, juntamos forças eu, meu irmão, que faz leilões de cavalos, e o Reinaldo, que é o proprietário do "Amor aos Pedaços", e como tínhamos que vender praticamente a lotação do navio, cada um cuidou de uma parte e fizemos essa viagem para Buenos Aires, né. E foi superagradável, o pessoal adorou, tanto é que queriam fazer uma nova viagem, esse ano não deu e foi supergostoso, todo mundo acabou brincando, por que tinha todas as brincadeiras a bordo, o passeio a Buenos Aires em si e nós aproveitamos logicamente e fizemos o leilão a bordo também, foi muito agradável.
P - Vocês levaram as peças?
R - Levamos. Levamos a maioria das peças, a totalidade das peças, e fizemos quase todas as noites o leilão e teve desfile de miss, teve várias atividades, foi muito agradável, baile de carnaval, foi bem agradável.
P - Deixa eu, foram leiloados cavalos também?
R - Fizeram um leilão de coberturas, de coberturas de cavalos, e foi também muito interessante.
P - Deixa eu perguntar uma coisa pra senhora, como é que começou essa coisa de, da família toda estar junta, dos filhos da senhora estarem trabalhando, como é que começou o envolvimento deles?
R - Então, todos os meus filhos estavam fazendo faculdade, ou tentando entrar na faculdade, e tiveram de dar uma mão praticamente e no fim eles que gostaram e foram ficando e, no fim, eles que gostaram mais, a gente foi aumentando, fazendo mais leilão, cada um cuida de uma parte, e no fim eles se envolveram de tal forma que não conseguem mais se separar e a gente já viaja voltado para a galeria, vai visitar museus, vai visitar leilões fora, já voltados todos praticamente pro trabalho em si da galeria, né.
P - E quem é o responsável por que dentro da Pró-Arte? O que o Marcelo faz? O que a Mônica faz?
R - Bom, a Mônica se formou em relações públicas mas ela não, toda essa parte assim de anúncios, de jornal, que ela tem que passar é feita com ela, né, os, como é que chama?, as malas direta, toda essa parte de propaganda ela que elabora, às vezes uma matéria pra alguma revista, uma coisa assim. E ela que cuida também da parte, não comercial, ela vai, faz as escolhas das mercadorias, ela tem muito bom gosto, né, então sempre ela que vai escolher, nas lojas onde a gente compra, às vezes, ou mesmo nos particulares, ela que é a compradora, digamos. O Marcelo já cuida mais da parte burocrática, né, da parte do escritório, ele se formou em administração de empresas, tanto ele que cuida do catálogo, ele é muito detalhista também, não pode ter um errinho, nada. E a Márcia também agora está superenvolvida, né, ela vai se formar esse ano, ela cuida também da avaliação, atende o público. Bom, enfim eles fazem tudo, sem eles não teria o leilão, né! (risos)
P - A senhora nos falou que a senhora também é a relações públicas?
R - Não, eu brinco, né. (risos)
P - É, eu digo relações públicas da galeria, né. Fala como é o cotidiano da senhora assim como relações públicas na parte social?
R - É que nem...
P - Oi?
R - Quando a Márcia foi lá me procurar, ela foi para marcar uma entrevista com o Miguel, e ele estava superocupado e tal e ela ficou lá esperando, no fim, eu fui lá: "Você não quer tomar um café?" Fui lá conversar com ela. Comecei a puxar um assunto, ficamos batendo papo. Então, digamos, o meu serviço é esse, né, eu que faço o contato, fico batendo papo, às vezes apresento uma pessoa, então e a parte mais leve. (risos)
P - Deixa eu perguntar uma coisa pra senhora. Quais os cuidados com a peça antiga, com o transporte, quais são os cuidados, como são embalados, como elas são entregues ao cliente?
R - Bom, a gente procura tomar o maior cuidado realmente, né, e quando a pessoa mora, digamos, fora de São Paulo, tem que despachar, a gente liga pra uma transportadora ou ela que indica. E durante o leilão, se a pessoa, se for uma peça grande e a pessoa não puder retirar, a gente manda entregar após o leilão, e se for uma coisa pequena, o próprio funcionário já coloca no carro, né, pra pessoa, e já entrega ou às vezes nós vamos até a casa da pessoa pra ver se fica bem a peça em tal lugar ou não.
P - Acontece da senhora escolher onde que se põe a peça na casa?
R - Não, essa parte eu não faço. Justamente por isso que a gente contratou agora uma decoradora, agora, atualmente, nós temos uma pessoa que pode até fazer esse tipo de serviço.
P - E como é que as pessoas costumam pagar isso, ou a peça que elas adquirem...
R - No final.
P - Com cartão, cheque?
R - Olha, realmente, eu gostaria até de poder fazer financiado, mas é que infelizmente pra nós não tem a mínima chance. Eles pagam após o leilão com dinheiro ou com cheque. Como as peças, a maioria não são nossas, né, são consignadas, então após o leilão a pessoa que deixou a peça quer receber, naturalmente. Então seria uma troca: a galeria cobra uma comissão sobre o preço e funciona basicamente assim.
P - Dona Mira, quando eu estive lá, a senhora falou alguma coisa assim de, que existe uma preocupação de vocês de criar um hábito, uma cultura, que vocês ajudam, auxiliam. Como é que é isso?
R - Realmente; porque, tanto é que nós já temos praticamente 15 mil clientes cadastrados e essa é uma das partes mais importantes que eu acho, porque não adianta você ir num lugar e comprar uma coisa e, por mais que saia satisfeito, não volte mais. Não, nosso interesse é completamente outro, a gente quer que você, mesmo que você não compre, por mais que você freqüente o leilão, que você seja o habituê da casa e cada vez... E a partir desse método que a gente tá conseguindo aumentar a clientela. Tanto é que nós fomos semana passada pra Araçatuba e lá está começando a ter bastante leilão, já teve dois ou três, mas a sociedade lá falaram que gostaram tanto do nosso modo de atender, do nosso modo de fazer leilão, que eles falaram que é uma diferença muito grande. Porque não é só você chegar e fazer o leilão e pronto, não, tem que dar uma assessoria antes e depois, né, e eles adoraram. (fim da fita 044/01-A) E eles adoraram realmente o modo de conduzir o leilão, o modo de dar uma assessoria pra pessoa que está comprando. Então eu acho essa parte muito importante.
P - E como é que vocês contactam o leiloeiro, né? Essa figura fundamental também no dia do leilão?
R - É. Bom, nós temos uma equipe de três ou quatro leiloeiros que a gente vai, conforme, um não pode porque tem um problema familiar ou porque está viajando, tem outro compromisso então, mas geralmente são três, quatro leiloeiros que trabalham com a Pró-Arte.
P - São pessoas fixas?
R - É, praticamente fixas.
P - A pessoa tem que ter algum tipo de formação para ser leiloeiro?
R - Pra ser leiloeiro é superimportante, porque tem que ser, ter um montão de requisitos que a junta comercial exige, e eu falo que é mais difícil ser leiloeiro talvez do que presidente ou deputado.
P - É? E quais são esses requisitos que eles exigem?
R - Bom, você tem que ter uma formação universitária completa, ser maior de idade, ter mais de 25 anos e não poder ter nenhum problema de, digamos, na junta comercial. Por exemplo, se você tiver um cheque, qualquer problema assim, não pode, não seria, adequado pra ser leiloeiro.
P - E a personalidade do leiloeiro, ele tem que ter alguma personalidade, algum perfil?
R - Ele tem que ser uma pessoa bem falante, simpático, né, pra poder conquistar o público, né, cativar o público.
P - E que é que a senhora viu que mudou a clientela de quando começou a Pró-Arte pra hoje? Tem alguma coisa que a senhora...
R - Não, por exemplo, os clientes cativos, digamos, começaram também a comprar uma peça mais barato, de menos importância, e agora, cada... eles estão tentando se aprimorar, começando talvez coleções, tem gente que gosta de colecionar marfim, tem outros que gostam de colecionar algum tipo de pintor, né, cada pessoa tem um gosto diferente.
P - Existe moda dentro dos objetos de arte? Assim alguma época em que algum tipo de objeto, ou pintor ou material, esteja em alta?
R - Ah, sempre tem; né, vai mudando. Hoje em dia eles estão dando muito valor pro mobiliário, né, acho que uma época atrás não tanto talvez, a parte mobiliária eu tô sentindo que está tendo mais aceitação hoje em dia. As pessoas buscando peças mais adequadas, móveis de estilo.
P - Tem algum estilo que é mais procurado?
R - Eu não sei, acho que cada um, isso é muito uma questão de gosto, né, mas os móveis europeus são muito procurados.
P - E o gosto pessoal da senhora, que é que a senhora gosta mais dentro de peças antigas, tem algum estilo?
R - Ah, eu gosto mais de tudo, né, eu gosto um pouquinho de tudo.
P - E como é que é a casa da senhora? Tem peças antigas, como é que é?
R - Não, por enquanto eu estou começando, então eu tenho, vamos dizer, o que eu já tinha. a gente está muito voltado pro lado da galeria mesmo, então daqui pra frente, daqui talvez a um, dois anos, é que eu vou procurar reformar talvez a decoração, por enquanto ainda não deu.
P - E qual o tipo de publicidade que a Pró-Arte costuma fazer, além da mala direta, tem algum...
R - No jornal, às vezes na televisão. Tem muitos canais, assim, de televisão que eles mesmo nos procuram para fazer uma chamada, uma reportagem, por que a galeria está sempre muito bonita, né, e é um chamariz, e para eles também. Então, quando falta uma matéria, eles mesmo nos procuram pra inserir nalgum texto em alguma coisa.
P - Esses leilões que a senhora tem feito assim no interior, como que eles são contactados, as pessoas do interior que chegam?
R - É, as pessoas procuram, nos procuram e quando tem possibilidade a gente procura fazer.
P - E esses leilões beneficentes que a senhora faz também, como é que...
R - Também é só ter uma disponibilidade de data que a gente faz o leilão, é um lado muito satisfatório para a gente e não... e porque não é só pela parte monetária, comercial, é uma satisfação que você tem, você acaba ganhando novos amigos, novos clientes, então é muito importante.
P - Tem algum tipo de associação que a senhora ajuda sempre?
R - Nos já fizemos leilões para a Abem, pra ASA, pro Castelinho, que é uma creche grande com mais de 800 crianças, e todos eles foram supersatisfatórios, pros dois lados.
P - Quer fazer alguma pergunta? (risos)
P - Por enquanto não.
P - Dona Mira, e como é que é assim, a relação da senhora com os seus filhos dentro da Pró-Arte?
R - É uma relação ótima, às vezes tem umas brigas, e muito normal, um tem uma opinião, outro tem outra, mas é muito gratificante, é uma forma de ter contato diário, né, e muito gratificante. É uma relação muito gostosa porque todo mundo se encontra, almoça junto, janta junto e praticamente passamos o dia todo em conjunto. (risos)
P - E falando assim, mais da senhora, hoje em dia, vamos dizer, o que é que a senhora mais gosta de comprar no geral?
R - Bom, eu sou meia consumista, se deixar eu compro tudo, (risos) às vezes precisa dar uma brecada, né. Eu quando viajo gosto de trazer uma peça diferente, quando possível, e eu gosto muito de comprar, né, toda mulher gosta, né? (risos)
P - Tem alguma rua que a senhora gosta de freqüentar mais, ou algum shopping, algum tipo de lugar que a senhora gosta mais de ir pra comprar?
R - Não, no geral não, qualquer lugar dependendo, por exemplo, se eu estou, aonde eu estiver, eu gosto de ver, sempre é um comércio diferente, né. Agora nós vamos pra Fortaleza e eu falei: "Eu vou comprar umas toalhas bordadas lá que eu sei que são bonitas, né." Então a gente dá sempre um jeitinho de comprar uma coisa diferente. (risos)
P - E tem alguma coisa que a senhora detesta comprar e tem que comprar?
R - A parte de supermercados não é o meu forte, não é, eu vou meia que forçada, mas também não deixa de ser agradável.
P - Bom, a gente tá ______________________________ . Bom, pra gente ir terminando. Dona Mira, a senhora mudaria alguma coisa na trajetória de vida?
R - Não, acho que não. Foi assim, pedrinha sobre pedrinha, né, foi tudo com muito esforço, mas eu tô muito contente muito assim retribuída, paga, né, pelo que eu fiz, que eu acho certo, que é educar meus filhos, né, dei pra eles um trabalho, e agora eles vão continuar, né, é uma semente que a gente plantou, eles que continuem, né?
P - E no comércio, se a senhora pudesse mudar alguma coisa que é que a senhora mudaria no comércio em si?
R - No comércio, talvez a relação entre os comerciantes e os clientes, né, que às vezes é uma relação muito fria, talvez muito comercial. Eu acho que não pode ser só essa parte do dinheiro, do lucro, tem que ser uma coisa mais emocional.
P - Agora eu lembrei de uma pergunta pra fazer pra senhora. A senhora estava nos contando duma viagem que a senhora fez. Eu gostaria de saber se nas viagens, quando a senhora vai pro exterior, a senhora também trabalha nas viagens assim, reconhecendo algum tipo de mercado, ampliando algum tipo de conhecimento?
R - Sempre a gente está voltado pro lado das peças de arte, pro lado da nossa galeria, então nós procuramos agora freqüentar leilões internacionais, procuramos ver coleções, museus, tudo isso é importante.
P - E a senhora sente que esse mercado é um mercado restrito?
R - É restrito, mas é que nem eu te falei, cada vez nós estamos, pelo menos do nosso lado, nós estamos querendo aumentar, então a gente, mesmo um casalzinho que está casando, que está morando num apartamentinho pequeno, eles têm que ter o hábito de ir no leilão, pro dia de amanhã, quando eles tiverem condições de se mudar, ou comprar uma peça melhor, já estarem acostumados com esse tipo de arte.
P - E o que a senhora gostaria de realizar ainda, qual é o sonho da senhora?
R - Ah! Não sei, não pensei ainda nisso. Eu, o meu grande sonho é comprar um, ter a minha própria galeria, né, comprar uma casa de leilões na Gabriel mesmo, uma propriedade pra poder deixar pros meus filhos, né, eu acho que esse é o sonho, ainda vamos ver. (risos)
P - Dona Mira, e pra terminar, a última pergunta: O que a senhora achou da gente ter conversado esse tempo aqui e ter deixado registrado sua experiência de vida, sua história e a experiência da loja, da Pró-Arte?
R - Bom, eu só tenho a agradecer a vocês, né, por ter me escolhido, eu adorei, achei que foi... é um trabalho muito interessante de vocês e espero que vocês continuem também fazendo isso, é importante. Todo trabalho feito com gosto é muito importante. Acho que eu quero agradecer.
P - Tá o.k. A gente é que agradece a ajuda da senhora e a atenção.
R - Obrigada.
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