Meu nome é Luiz Fernando Moreira, eu nasci em Taubaté, em 13 de janeiro de 1949, portanto tenho 54 anos. Meus pais: Felício José Moreira, já falecido, e Georgina Mazela Moreira, ambos de Taubaté, nascidos em Taubaté. Meus avós: Felipe José Moreira, Cândida Toledo Moreira, do lado de meu pai; do lado da minha mãe, Antônio Mazela e Beatriz Gomes Mazela, todos de Taubaté. Um avô meu... Sempre meus avós foram ligados ao comércio. Meu avô paterno, nos idos de 1930, tinha uma banca lotérica, que hoje nada mais nada menos é jogo do bicho, mas naquele tempo era legalizado. E meu avô começou a vida sendo padeiro. Ele era imigrante italiano e começou a vida como padeiro. Adquiriu uma padaria, na rua Quatro de Março, que até hoje existe. Meu avô materno era italiano de nascimento e veio pro Brasil com dois, três anos de idade, e toda vida morou em Taubaté, até falecer.
Naquela época a Itália sofria um problema de integração, a unidade italiana... No final dos anos de 1890, a Itália estava, vamos dizer, em guerra, e houve uma proposta muito grande de alguns... Cônsul brasileiro que originou toda essa leva de italianos aqui pro Brasil. Eles brigavam, não tinham condição nem de sobrevivência lá, então foram convidados e ofereceram uma terra maravilhosa para os italianos. Então meu avô, ou bisavô, eles tinham uma cultura de plantação de óleo de girassol nas montanhas italianas em Benevento, que eles chamam província Basala, no sul da Itália, perto de Nápoli. Era um frio danado, era muito complicada a maneira de vida lá, aí souberam dessa oferta, de um país novo como Brasil, e vieram, como a maior parte dos italianos, no final do século XIX. Meu bisavô veio nessa leva e trouxe alguns filhos pequenos, entre eles meu avô, Antônio Mazela, e os outros. Praticamente a maior parte dos Mazelas nasceram aqui no Brasil. Vieram direto para Taubaté. Chegaram no porto de Santos e foram distribuídos pela lavoura, pelas cidades naquela...
Continuar leituraMeu nome é Luiz Fernando Moreira, eu nasci em Taubaté, em 13 de janeiro de 1949, portanto tenho 54 anos. Meus pais: Felício José Moreira, já falecido, e Georgina Mazela Moreira, ambos de Taubaté, nascidos em Taubaté. Meus avós: Felipe José Moreira, Cândida Toledo Moreira, do lado de meu pai; do lado da minha mãe, Antônio Mazela e Beatriz Gomes Mazela, todos de Taubaté. Um avô meu... Sempre meus avós foram ligados ao comércio. Meu avô paterno, nos idos de 1930, tinha uma banca lotérica, que hoje nada mais nada menos é jogo do bicho, mas naquele tempo era legalizado. E meu avô começou a vida sendo padeiro. Ele era imigrante italiano e começou a vida como padeiro. Adquiriu uma padaria, na rua Quatro de Março, que até hoje existe. Meu avô materno era italiano de nascimento e veio pro Brasil com dois, três anos de idade, e toda vida morou em Taubaté, até falecer.
Naquela época a Itália sofria um problema de integração, a unidade italiana... No final dos anos de 1890, a Itália estava, vamos dizer, em guerra, e houve uma proposta muito grande de alguns... Cônsul brasileiro que originou toda essa leva de italianos aqui pro Brasil. Eles brigavam, não tinham condição nem de sobrevivência lá, então foram convidados e ofereceram uma terra maravilhosa para os italianos. Então meu avô, ou bisavô, eles tinham uma cultura de plantação de óleo de girassol nas montanhas italianas em Benevento, que eles chamam província Basala, no sul da Itália, perto de Nápoli. Era um frio danado, era muito complicada a maneira de vida lá, aí souberam dessa oferta, de um país novo como Brasil, e vieram, como a maior parte dos italianos, no final do século XIX. Meu bisavô veio nessa leva e trouxe alguns filhos pequenos, entre eles meu avô, Antônio Mazela, e os outros. Praticamente a maior parte dos Mazelas nasceram aqui no Brasil. Vieram direto para Taubaté. Chegaram no porto de Santos e foram distribuídos pela lavoura, pelas cidades naquela época do café, na época áurea do café, o Vale o Paraíba. O Vale teve o privilégio de receber toda essa mão-de-obra do exterior e criaram-se grandes colônias, como a colônia do Quiririm, hoje em Taubaté, colônia do Quiririm. Os Sávios, os Gadiolis são originários dessa época... Os Mazelas, são originários dessa época. A história que meu avô me contava quando eu era criança - além de tentar me ensinar o italiano, eles contavam histórias - é que no começo foi bom, foi muito produtivo, no início do século, mas depois, com a Primeira Guerra Mundial teve algum reflexo aqui no país, e a Itália se envolveu em briga também. Aí teve uma queda muito grande, durante a Primeira Guerra Mundial, a queda dos negócios do café, quando não estava sendo mais exportado, então teve uma queda na arrecadação. Taubaté teve um grande boom, graças a Félix Guisard, nos proporcionou o início da industrialização de Taubaté, com a CTI [Companhia Taubaté Industrial]. A CTI que trouxe um boom enorme, e meu avó montou a padaria, porque naquela época... A maior parte dos clientes dele eram os operários da CTI, idos de 1925,1926, então a padaria dele era perto da fábrica, da saída da fábrica, da rua que ligava - a rua Quatro de Março - a rua que ligava a CTI ao centro da cidade, aos bairros populosos da cidade. E meu avô, 80 a 90% dos clientes, segundo ele, eram operários da CTI, operários que preenchiam cadernetas. Naquele tempo ele pôde sobreviver e passar essa fase difícil graças ao pioneirismo de Félix Guisard, da CTI.
Meu avô queria plantar trigo e plantação de trigo no país era proibida, na época, porque é um país tropical, só se aceitava culturas tropicais como o café, e ele insistia no trigo. Então como ele tinha essa vocação - os antepassados dele tinham padaria também na Itália - ele teve essa vocação de ir para o comércio e escolher em comum acordo com o doutor Félix Guisard uma padaria que ficasse no caminho da CTI pra cidade de Taubaté, pro centro da cidade. E ele queria, ele queria de qualquer jeito me ensinar o italiano, a gente acaba assimilando e aprendendo alguma coisa, principalmente os gestos, não na palavra, mas nas mãos. A gente teve pouco tempo de convivência, pouco tempo. Ele faleceu eu tinha doze, treze anos assim, então não teve oportunidade de aprender mais o italiano, mas deu pra assimilar alguma coisa. Meus avós paternos... Meu avô era um imigrante também, imigrante libanês, e chegou no país na mesma época, casou-se com uma pessoa de uma tradicional família de Taubaté: eram donos das fazendas do Baracéia, aqui perto de Taubaté, no caminho pra Ubatuba, família de minha avó. Como todo bom imigrante libanês, foi pro comércio, montou uma banca lotérica, montou uma casa de tecidos - que vendia os tecidos fabricados pela CTI de Taubaté, Companhia Taubaté Industrial. E ele fez essa banca lotérica. Naquela época era legal, era um jogo do bicho legalizado. Depois ele, como todo bom libanês, foi vender os linhos da Companhia Taubaté Industrial em outras paradas. Ele ia fazer vendas em Piracicaba, na região de Piracicaba, sempre como vendedor. Tinha loja aqui, que meus tios tomavam conta e ele saía pra fazer essa venda externa, em outras áreas, outras capitais. Naquela época, todo mundo chamava... Piracicaba, por exemplo, era uma capital; e também outros lugares. Ele ficava durante um tempo em Tietê, voltava e ia percorrendo as cidades históricas, talvez Itu, Tietê, toda aquela região vendendo o linho daqui, da Companhia Taubaté Industrial, além dos importados. Na época, tinha muito linho importado também. Sempre foi vendedor.
Não houve nenhuma restrição quanto ao casamento dos meus avós paternos. A família de minha avó era de fazendeiros tradicionais de Taubaté e meu avô era - eu não o conheci, ele morreu um pouquinho antes de eu nascer - mas meu pai dizia que meu avô tinha assim uma cultura muito boa. O libanês, alguns libaneses cristãos que vieram nesta mesma época da imigração, no início do século, eles eram letrados, porque o Líbano tinha a colonização francesa, então, no Oriente, [o país] mais adiantado era o Líbano. Pena que teve uma guerra civil que quase acabou com o Líbano há uns vinte anos atrás... Mas era um brinco, Beirute era um brinco, uma cidade européia, tradicionalmente. E esses imigrantes, uma parte dos imigrantes, os cristãos, tinham uma cultura muito forte por causa da colonização francesa. Meu pai dizia que meu avô era bastante culto, uma pessoa de bom tratamento, e como todo libanês um bom comerciante, um bom vendedor, e talvez ele tenha se vendido pro sogro dele. Essa mistura de raças é também, com certeza, uma coisa do Vale, de Taubaté. Tem em outras regiões. A gente teve a oportunidade de ver em Caxias do Sul, onde tem uma imigração de italianos muito forte, esse tipo de mistura. Lá, ao invés do árabes, dos libaneses, são os alemães, os alemães que imigraram pra lá junto com os italianos, formaram essa cultura, essa multi-cultura de raças. E lá, os alemães com os italianos... Tem, por exemplo, Hans Tadilole, Hans não sei o que lá. Sabe, é muita coisa misturada, essa cultura. Os imigrantes, naquela época, não foram pra Minas, Minas era muito distante, muito longe, tinham que atravessar a serra da Mantiqueira. Com ele foi a mesma coisa: chegou em Santos e veio pro Vale do Paraíba, pra Taubaté, foi designado. Naquela época eles eram - vamos assim, dizer entre aspas - confinados. Tinham um destino, eram monitorados porque queriam aproveitar a carência de algum tipo de mão-de-obra especializada aqui no Vale do Paraíba - o Vale do Paraíba foi uma espécie de eldorado - pra completar a fraca cultura - era uma cultura muito primitiva aqui, do café - então trouxeram os estrangeiros. Com essa mistura de cultura, começou-se a ter uma terra mais desenvolvida. O Vale, nos idos de 1920, 1930, era muito rico. Com o café, era uma das regiões mais ricas aqui de São Paulo, talvez até do país. Meu pai foi comerciante a vida inteira. Desde 1935. Ele tinha quinze anos e já tomava conta dessa banca lotérica do meu avô. Depois ele começou a trabalhar numa companhia de cigarros chamada Lopes Sá Cigarros, como vendedor. Depois, ele migrou pra Cerealista Taubaté, pra Casa Taubaté, e depois ele criou um negócio próprio, em 1950 - onde ele ficou até falecer, em 1994 - : a Cerealista Moreira, que ele fundou junto com os irmãos em 1950, quando eu tinha um ano de idade. Minha mãe era uma educadora emérita, foi professora a vida inteira, supervisora de ensino. Meu pai era descendente de libanês e minha mãe de italianos, então se deu, mais uma vez, essa mistura de culturas, de raças. O comércio está no meu sangue. Tenho um irmão só. Mais novo, um pouco mais novo, três anos mais novo que eu. Trabalha como perito judicial e nunca se dedicou ao comércio, o Paulo Roberto Moreira. O comércio ficou... O dom ficou realmente pra mim. Nem meus primos. Porque todos os meus quatro tios, os irmãos do meu pai, os quatros tinham comércio, os quatro eram comerciantes: o mais velho era dono de uma famosa Drogaria Central; o outro, da Leiteria Cristal, os dois na praça Dom Epaminondas; os outros dois, meu pai e meu tio, eram proprietários da Cerealista Moreira. Todos dedicados ao comércio aqui. Tem vários filhos, e de todos os filhos o único que se dedicou ao comércio fui eu. O único que seguiu com o dom, de todos da família, de todos os ramos da família, fui eu. Eu passei toda minha infância em Taubaté, só saí pra estudar com dezoito anos, estudar fora, e logo voltei. Quando tive a primeira oportunidade de voltar pro Vale do Paraíba, eu vim pra uma filial de uma empresa multinacional, onde eu trabalhei durante trinta anos, e me aposentei nela, vim trabalhar em São José dos Campos cuidando sempre do Vale do Paraíba. Nunca quis me afastar do Vale, embora tivesse N oportunidades de ir pra outros lugares no país e até no exterior, mas não quis. Estava muito arraigado aqui, porque toda a vida, embora trabalhasse em uma empresa multinacional, eu tive um comércio em paralelo. Em toda a minha existência, eu tive sempre um comércio em paralelo aqui em Taubaté, depois em São José dos Campos, em Pindamonhangaba, onde há a família da minha mulher. É nato, toda vida eu tive um comércio em paralelo, e por esse paralelo que eu nunca quis sair daqui, nunca quis alçar outros vôos pra fora, pro exterior. Não me faltaram convites até eu me aposentar, há alguns anos atrás, numa empresa multinacional. A gente morava no centro da cidade, na rua Emílio Winter, no centro. Meus primos moravam na rua Visconde do Rio Branco, outros moravam no largo de Santana, que é ali no Mercado, e todos moravam... Outros moravam na rua Pedro Costa. Naquela época era costume morar no centro da cidade, depois vai migrando - a maior parte dos meus primos está fora, hoje. Aqui em Taubaté, eu acho que eu só tenho um primo, o resto foi tudo embora: um pra São Paulo, uma mora em Ubatuba, outra em Brasília, então migraram, outros casaram, então foram para outros lugares assim. Em Taubaté, moramos meu irmão, eu e mais um primo. Só. Estudei em colégio do estado Instituto de Educação Monteiro Lobato. Eu não tinha muita vocação pra ficar o dia inteiro no colégio, então acabei estudando em um ensino público, desde o início. Fiz o Grupo Escolar Dom Pereira de Barros, também o ensino público, onde é a Secretaria da Educação hoje, aqui; e também fiz o Monteiro Lobato. Saí daqui com dezessete anos, pra São Paulo, pra fazer faculdade. Minha casa na infância era uma casa boa, no centro da cidade, muito gostosa, perto de tudo, você ia a pé pra cidade. Ficava no começo da rua Emílio Winter, e assim no fundo do palácio do Bispo, aqui em Taubaté. Bem central, e eu a vida inteira tive muita facilidade de ir pro centro da cidade, andava a pé ali e os amigos eram sempre ali de perto. Hoje, o centro de Taubaté foi dominado pelo comércio, mas naquela época a gente sempre teve essa facilidade. Brincava na rua... Em 1950, meu pai e um tio montaram a Cerealista Moreira. Eles eram funcionários da Cerealista Taubaté, da Casa Taubaté, e a Cerealista Taubaté decidiu encerrar as atividades porque a vocação dos donos eram fábricas - eram proprietários da CTI. Então eles voltaram para as origens da fábrica, onde era a vocação deles, e o comércio talvez nunca tenha sido a vocação deles. Eles montaram, onde hoje é a delegacia da Receita Estadual, o famoso Tesourinho, a Casa Taubaté, um prédio de cinco andares no centro da cidade. Era o maior centro comercial do Vale do Paraíba. Vendiam tudo. Cinco andares... Naquela época, cinco andares... Pra você ter idéia, eles chamavam “uma versão do Mappin no Vale do Paraíba”, o “Mappin de Taubaté”, naquela época, em 1950. Porque era uma casa que tinha cinco andares, vendiam de tudo, principalmente coisas importadas. Minha mãe fala maravilhas da Casa Taubaté: que vendiam importados, vendiam toda a parte de tecidos, tanto da CTI como de outros lugares, linho francês, e não sei o que lá americano, inglês, porcelanas inglesas. Era uma maravilha, a Casa Taubaté, mas os donos... Quando o negócio começou a ficar muito grande, começou a dar muito trabalho, eles perderam o foco em relação à indústria, então acabaram voltando pra indústria e decidiram fechar a Casa Taubaté, o que gerou desemprego, uma crise muito grande. E cada um foi pro seu canto: uns montaram um comércio local... Naquela época, uma Cerealista era um grande centro distribuidor, era um atacadista mesmo, fazia um papel, hoje, que é dos supermercados. Os grandes atacadistas chamavam-se cerealistas. E meu pai, meu tio, tinham clientes desde Barra Mansa, Resende, até Jacareí, até São Paulo. Eles tinham uma gama de clientes muito grande, faziam papel de um atacadista, e eles montaram por necessidade, porque perderam o emprego na Casa Taubaté, na Cerealista Taubaté. Meu pai era vendedor de balcão da Casa Taubaté, e vendedor, também, da Cerealista Taubaté, que tinha a função de atacadista. Então pegaram os clientes que eram da Cerealista Taubaté, que tinha fechado, e criaram a Cerealista Moreira para atender os mesmos clientes. Durante a minha infância, eu lembro, meu pai cansou de trabalhar com produtos importados: óleo, azeite, azeitona... Vinha azeitona da Grécia; óleo, azeite, da Espanha; vinha de tudo quanto era lugar. A Casa Taubaté fechou em 1950. Ela começou, acho, que em 1930. Vinte anos, pra ser mais exato: acho que era 1928, porque tem no prédio onde é o Tesourinho uma placa lá da inauguração da Casa de Taubaté. Uma vez, eu passei lá e tinha uma placa assim, comemoração do governo da província de São Paulo que veio inaugurar a Casa Taubaté. E tinha essa ramificação da Cerealista Taubaté. O Vale inteiro comprava na Casa Taubaté, era uma das mais famosas que tinha, e a Cerealista Taubaté era o atacado. Tem a Casa Taubaté e a Cerealista Taubaté. A Cerealista Taubaté era o atacadista, vendiam por atacado. Naquela época, tinham muitos corporativos, por exemplo, os clientes do meu pai eram Escola Militar de Agulhas Negras, eram grandes clientes; a fábrica de aço em Volta Redonda era um grande cliente do meu pai; a Escola Especialista Aeronáutica, em Guará; tinha o CTA [Centro de Técnico Aeroespacial], em São José dos Campos, eram grandes clientes. Então, o atacadista vendia pra este tipo de negócio, grandes centros de consumo, tipo esse de São José dos Campos, o CTA. Os produtos vinham sempre de caminhão, já vinham de caminhão. Vinham pela Dutra. A Dutra foi inaugurada em 1949, me parece, no ano em que eu nasci. Já vinham pela Dutra, já tinham essa facilidade. Eu creio que não vinham de trem, não. Trem nunca foi um grande meio de entregas aqui no país, sempre tiveram grande dificuldade na antiga Central do Brasil, de vir assim... Eu me lembro, uma vez, que veio alguma coisa importada do porto de Santos, via trem, tipo bacalhau: chegou aqui um mês depois, todo deteriorado, perdeu-se tudo. E naquela época perdiam mesmo, porque acho que as companhias não tinham... E meu pai experimentou vir de tem e se deu mal: quando ele implantou uma partida - acredito que seja bacalhau mesmo, sim - deu problema, roubaram o bacalhau no meio do caminho. Eu sei que perdeu tudo. Cheguei a trabalhar com meu pai na Cerealista Moreira. Eu tinha quinze anos, catorze anos, treze anos, já me dedicava ao comércio. Nos dias mais pesados, assim - sábado principalmente, em dezembro - a gente ficava... Tinha o atacado e tinha o varejo ali na própria Cerealista, e a gente vendia... Eu já participava da venda desde treze, catorze anos. Eu e meus primos, na época, também. A Cerealista era do meu pai e de mais um tio. Eu e meus primos trabalhávamos, revezávamos, no balcão. Meu irmão e eu, e mais dois primos A Cerealista Moreira era na rua... Começou em 1950, era na rua Doutor Winter, do lado do mercado, subindo, onde hoje é a Papelaria Tambi. Tinha duas frentes: era pro lado de Santana e pra rua Doutor Winter. Depois eles compraram um prédio na rua Silva Barros, bem pra baixo do mercado. O mercado era o ponto central. A partir do mercado é que todo o comércio de cereais, gêneros alimentícios era... Tudo por volta. Ficava porta a porta, no início, com a Casa Philadelpho, exatamente. A Casa Philadelpho, o dono, era um grande amigo do meu pai. Era no largo Santana, ali, onde eu nasci, no largo Santana, onde eu morei toda a minha infância, até quando eu fui morar com oito anos nessa casa, da rua Emílio Winter. Mas a Casa Philadelpho, eu me lembro, pequenininho eu brincava na Casa Philadelpho sim, era tradicionalíssima. Também e era um grande fornecedor de gêneros alimentícios da região. E a Cerealista Moreira migrou pro outro lado, também em frente a uma casa tradicional, a Casa de Móveis Santo Antônio que, me parece, até hoje existe. Na época, em 1960, acho, migrou pra rua Silva Barros e ficou quase vinte anos, 25 anos na rua Silva Barros. Era tudo perto do mercado, tudo pertinho do mercado. Entrava, tinha um balcão e depois tinha assim, atrás do balcão, tudo aquilo armazenado - hoje as gôndolas - tinha o mesmo esquema de supermercado, tudo armazenado. Armazenavam por gêneros de limpeza, tipo: detergente, sabão; e depois gêneros alimentícios, tipo lataria; e depois tinha uns cestos grandes interessantes onde tinha a granel: arroz, feijão, milho - vendia-se muito milho pra criação de galinhas. No mercado, o pessoal vendia galinhas e ia comprar o milho nas cerealistas; ia até de burro. Compravam, vinham de burro, às vezes de carroças, estacionavam ali e enchiam a carroça de milho e vendiam. Vinham com todas aquelas gaiolas de frango, galinha viva, porco - traziam porco vivo - , vendiam tudo no mercado, pros açougues, abatedores, na época, e depois iam pra Cerealista e enchiam de ração de milho, fubá, e levavam alguma coisa também pra comer. Iam embora de carroça. Normalmente, aos sábados é que se fazia isso, então sábado a Cerealista funcionava até quatro horas da tarde, até um pouco mais tarde e esperava o pessoal de carroças - que faziam filas de carroças em frente à Cerealista.
Esse pessoal trazia uma lista. Às vezes pagavam um pouco e deixavam um pouco pra semana seguinte, mas era uma coisa de extrema confiança, vinham mesmo pagar na semana seguinte. Traziam a lista de compras, geralmente material de higiene, limpeza, ração... Vendiam aqueles famosos frangos caipiras, tinha porco - tudo criado no fundo do quintal. Tinham uma pureza, não tinha nada de componente químico, algum componente estranho, e o interessante é que as verduras e os legumes, tipo tomate, alface, não tinham nada de química: era uma coisa pura mesmo. Toda vez que meu pai perguntava: “O que você produz?”, “Ah, eu produzo frango, galinha, lingüiça...”, “Então você me traz lingüiça, me traz ovo...”. A mercadoria era de barganha, ele reservava, trazia ovo; e com o ovo, a lingüiça, se pagava muito da ração que ele levava, do produto que ele consumia. Tinha muita gente que fazia isso aqui, e era tradicional. As fazendas, ao longo do caminho, tinha várias estradas aqui em Ubatuba, pra serra, em direção a Pindamonhangaba, eram várias fazendas só de produção, vamos assim dizer, caseiras. Produção que, infelizmente, ao longo do tempo foi desaparecendo com a criação das indústrias. Ou desapareceram ou foram se afastando mais. Hoje em dia, eu vejo muito quando eu vou a São Luís do Paraitinga, hoje São Luís faz o papel que Taubaté fazia antigamente: quando você vai num dia comum em São Luís do Paraitinga você vê muitas carroças na cidade se abastecendo, fazendo exatamente o que era feito por Taubaté a trinta, quarenta anos atrás. O papel hoje é feito por São Luís de Paraitinga. E quando você vai a Ubatuba você vê nas estradas algumas carroças cheias de mantimentos, mercadoria, indo no centro comercial que é São Luís do Paraitinga. Mesmo papel. Na Cerealista tinha vários funcionários, tinha caminhões - porque era atacadista - tinha dois ou três caminhões, motorista de caminhões, ajudantes de motoristas e dois ajudantes que iam... Saía um pra Volta Redonda, outro pra Guaratinguetá e outro pra região aqui de São José, Jacareí e Caçapava. Saíam dois ou três dias por semana e ficavam fazendo... Então, só de funcionários de caminhão, tinha oito, nove, dez funcionários que saíam externamente. Tinha escritório - naquela época você usava escritório pra fazer toda a escrita interna, pessoal administrativo - e tinha gente que trabalhava ali como vendedor, vendedores externos, porque meu pai e meu tio não davam conta de vender externamente, eles só atendiam os grandes clientes, e fazer tomar conta da empresa e além de tudo sair pra vender... Meu pai, acho, uma ou duas vezes por semana ele ia vender nos clientes tradicionais dele, e meu tio Antônio também. Eles iam só vender nos grandes clientes, nos tradicionais, o resto era feito por vendedores. Acho que chegaram a ter 25 a trinta funcionários, porque na época era muito grande.
A Cerealista abriu em 1950 e foi até um pouquinho antes [de] 90. Meu pai faleceu em 94, foi até 1990, em torno disso. Durou, mais ou menos, quarenta anos? Tem gente que a gente encontra hoje que trabalhou praticamente a vida inteira lá com meu pai, meu tio. A vida inteira na Cerealista, aliás vieram junto com eles da Cerealista Taubaté e continuaram lá, e alguns até estão vivos ainda hoje. A vida inteira trabalharam juntos lá. O comércio tem um pouco essa característica: o funcionário acompanha o patrão em toda a trajetória. E isso é uma relação muito familiar, a gente tem a relação de amizade. Eu sou o padrinho... Tem de alguns filhos de funcionários... Padrinhos de casamento de alguns outros, e tem um relacionamento familiar muito grande com as pessoas, elas se apegam. Hoje em dia você não vê nenhum apego no comércio, hoje é muito grau de profissionalismo, e naquela época não: era um apego, assim... Jamais meu pai imaginava mandar embora um funcionário, mesmo que ele não tivesse um bom desempenho. Era uma relação de muito mais [que] de um empregado e um patrão, uma pessoa da família. Aquilo para o meu pai, meu tio, eu tenho certeza era uma extensão de um ambiente familiar, eles tratavam aquilo como uma família, confiavam em todo mundo, mas eram pessoas assim, extremamente comprometidas com o negócio. Eles tinham o mesmo nível de compromisso, recebiam gratificações em final de ano, de parte do lucro, mas então eles eram comprometidos no negócio. Hoje não vejo muito esse comprometimento. Era como aquela cultura japonesa, como: “Aquele negócio é o meu negócio, eu vou trabalhar nesse meu negócio a vida inteira porque é o meu negócio”, embora não tivesse nada, não fosse dono. Eles encaravam aquilo como se fosse deles próprios. Isso era muito importante para o sucesso do negócio. Minha mãe, por exemplo, comprava tudo em Taubaté. Se achava de tudo. Era muito pouco... Não se pensava nem em São José dos Campos. São José começou o comércio praticamente quando eu fui morar lá, em 74, 75 quando começou o boom do comércio em São José. Mas na minha infância, na minha juventude, o comércio era local. Sempre, sempre foi local. Era muito bom. Taubaté, depois, perdeu muito, e agora deu uma retomada. Há um tempo atrás o comércio voltou a ter uma característica regional. Porque São José cresceu muito rapidamente, principalmente, por causa da indústria aeronáutica, e assimilou essa... Como se fosse a capital do Vale do Paraíba, do qual é a maior cidade, realmente. Durante as décadas de 60, 70, São José explodiu, não vou dizer que teve uma expansão grande, explodiu. E Taubaté continuou com um ritmo de crescimento.
O comércio de São José, agora, deu uma caída grande. Eu também tenho uma loja em São José dos Campos. Eu também tenho um negócio em São José, e deu uma caída. Mas nos idos de 1980, São José, o comércio era excepcional, excepcional, muito melhor que Taubaté, muito. Era um comércio regional mesmo, em meados de 80 até 90. Em 95 o comércio de São José caiu muito com a crise na Embraer, crise da Aeronáutica, da Avibrás, da Engesa. Era muito dependente desse tipo de empresa. A Embraer empregava 12, 13 mil funcionários, chegou a 4 mil em 1992, 93. Imagine 8 mil funcionários a menos? E de grande qualificação. Não só... Taubaté, Jacareí, São José: todos sofreram com a queda da Embraer, da Avibrás e da Engesa. Então teve muito reflexo no comércio, principalmente em São José dos Campos. Eu estou presente [em] São José desde o início do Center Vale, em 1987. A gente tem uma loja lá desde o primeiro dia do Center Vale Shopping, e cresceu muito até 91, 92. Era fantástica, a loja. Em 89 inauguramos uma outra loja aqui no Taubaté Shopping, que sempre vendeu muito menos do que a nossa loja em São José dos Campos. Depois, em meados de 90, 95 quando veio a crise de São José, aqui empatou, e hoje a loja de Taubaté vende muito mais do que a de São José dos Campos. Hoje perdeu fôlego e São José cresceu mais do que o comércio lá, se espalhou, cresceu, formaram-se outros grandes centros comerciais, se espalhou muito. Tem o Taubaté Shopping agora, tem um shopping novo em Jacareí, muito bonito também... Então o comércio de São José se espalhou. São José, hoje, tem quatro grandes centros comerciais, grandes shoppings, e acaba perdendo um pouco o fôlego. Eu não sei se fizeram pesquisas, eu não sei se os shoppings em São José estão sofrendo alguma crise lá, eu não sei se teriam algum número suficiente pra ter tantos grandes empreendimentos do jeito que tem em São José dos Campos.
Fui para o Center Vale logo na inauguração. Nós já tínhamos uma loja de roupas em Pindamonhangaba, em Taubaté, no centro de Taubaté. Em 1980, inauguramos uma em Pinda e, em 85, em Taubaté. Em 87 foi a do Center Vale Shopping. Em 89, aqui o Taubaté Shopping. E a gente foi pra São José desde o primeiro dia. E como eu morava em São José, eu tinha negócio em São José, eu era diretor da Associação Comercial em São José, eu fui convidado pra ser o primeiro presidente da Associação dos Lojistas do Center Vale Shopping. Fiquei quatro anos lá, enquanto meu fôlego dava pra isso, porque era uma atividade que tinha muito problema, principalmente no início, até o shopping se consolidar. No primeiro, segundo ano de atividade, você tem muito problema. As dificuldades são as seguintes: os shoppings, quando ele quer vender de qualquer forma, as lojas... Em São José, muitas pessoas despreparadas para o comércio foram para o Center Vale Shopping, aquelas, vamos dizer, aquelas madames que fizeram com que o marido botasse dinheiro... Elas não tinham nada a ver com o comércio, e criou-se uma enorme dificuldade, porque elas achavam que iam ganhar rios de dinheiro logo no primeiro dia de abertura. E o shopping, o comércio, não é assim, nunca foi assim e nunca vai ser, então elas tinham uma grande frustração e criavam problemas pra gente. Eram pessoas influentes na cidade de São José, e criavam-se muitos problemas. Até consolidar o primeiro, segundo ano do Center Vale Shopping, foi terrível, porque era o primeiro e grande empreendimento na região, e me dava..., me tomava muita mão-de-obra. Não era um cargo remunerado, só trazia dor de cabeça pra mim. Eu tinha uma série de outras atividades, então foi problemático. A rotatividade foi muito grande, muito forte no Center Vale Shopping, no começo, por causa do despreparo de algumas pessoas que foram lá. A gente sabia, tinha muita consciência disso - que não ia ficar rico de um dia pra outro - e hoje em dia, aqueles que foram conscientes na época, aqueles que eram, sei lá, os verdadeiros comerciantes, ainda estão lá, eles estão no Center Vale Shopping, estão no Taubaté Shopping, com todas as crises que vieram ao longo dessa época, dos anos 90 ao início do ano 2000. O comércio agora tende a dar uma retomada de crescimento. A gente já sentiu alguma coisa de retomada, de crescimento, agora nesses últimos meses. Em 2000, 2001, 2002 e até meados de 2003, foi muito ruim pro comércio. Eu estou falando do meu comércio, não o comércio de telefonia, por exemplo, mas do comércio que a gente trabalha, com moda jovem. O Center Vale era um empreendimento de fora, que foi adquirido. Era um braço comercial da Rede Globo que adquiriu a antiga fábrica da Ericsson em São José e fez uma belíssima adaptação lá. Era uma fábrica da Ericsson, desde 1950. A fábrica da Ericsson migrou aqui pra Regente de Melo, entre Caçapava e São José dos Campos, e botaram à venda lá o imóvel, e o Center Vale foi adaptado a esse imóvel. Era um prédio comercial, da mesma forma que o shopping de Jacareí, agora, era uma fábrica também. E foi adaptado o shopping dentro da antiga instalação da fábrica. Muitos dos shoppings de São Paulo também foram adaptados de fábricas que foram desativadas, e hoje viraram centros comerciais. O Center Vale foi dessa forma. Não era porque estava em frente à Dutra não, mas foi muito feliz. Isso facilita, claro, sem dúvida. Um grande erro do Taubaté Shopping é não ser na beira da Dutra. A gente sempre brigou, tentou-se outra opção de um segundo shopping em Taubaté, aqui na beira da Dutra, e eu acredito que talvez não foi pra frente, talvez as pessoas não eram tão comprometidas com o comércio. Mas tinha tudo pra ter sucesso, porque estava na beira da Rio - São Paulo, em São José. Nossa percepção é que de 20 a 30% dos clientes são clientes de ocasião, cliente que não foi programado, cliente que vai lá, está passando, entra, come em algum lugar, vai passear, vai no cinema e acaba comprando. E aqui, no Taubaté Shopping não tem esse tipo de gente que passa.
O Vale sempre foi uma coisa intermediária entre o Rio e São Paulo, as duas maiores capitais do país, e isso daí sempre caracterizou o Vale como alguma coisa de passagem. E você tem que aproveitar esta passagem. Você vê os empreendimentos ao longo da Dutra, que tiveram grandes sucessos por causa de pessoas que sempre passaram vindo de São Paulo ao Rio, vice-versa, ou indo pra outros lugares. Hoje eu diria que qualquer empreendimento feito aqui tem que pensar que 30 a 40% do movimento é feito por gente que passa. Veja o comércio, como migra gente aqui. Aparecida é um pólo muito grande de atração de pessoas. Se você fizesse alguma coisa voltada pra Aparecida, você teria um enorme sucesso. Gera um fluxo de gente muito grande aqui. Logo no começo, o Center Vale ocupou 100%. Eu creio que hoje umas duzentas lojas, 220... Já tinham 220 lojas, depois caíram muito, em meados de 90, 95 tinham umas trinta, quarenta lojas desocupadas. Tinha uma crise muito grande com o fechamento do Mappin, da Mesbla, que eram âncoras lá no Center Vale Shopping. A Mesbla fechou e gerou um vazio muito grande, tanto a Mesbla como o Mappin, em São José dos Campos. Isso enfraquece o shopping, as lojas menores não agüentam, começam a perder fôlego, começam... Em 95, eu creio, tinham em torno de quarenta, cinqüenta lojas fechadas lá, durante o período áureo da crise, de uma das crises, tinham mais ou menos umas cinqüenta, quarenta, cinqüenta lojas. O Taubaté Shopping sofreu da mesma forma: ele tinha as Lojas Americanas de um lado... As Casas Pernambucanas que teve um problema estrutural, problema interno, de sociedade, muito grande e enfraqueceu muito. Agora que retomou, agora que deu uma retomada grande, mas o próprio Taubaté Shopping, que é um empreendimento muito menor - eu creio que tenha 110, 120 lojas - também tinha vinte ou trinta lojas fechadas há algum tempo atrás. Mas o Center Vale começou a todo vapor. Das duzentas lojas iniciais, eu acredito que deva ter, no máximo, oito a dez da época que a gente começou. Porque foi uma rotatividade muito grande lá. Não tem, realmente não tem dez lojas lá, assim como o Taubaté Shopping, como é mais tradicional, acho que das 110 deve ter umas quinze, no máximo, que estão lá desde o início, como nós. Isso é porque tem os despreparados do comércio e a crise local de São José, a crise de Taubaté, a crise do comércio de uma maneira geral. Quem não tem muita estrutura, acaba não agüentando; e tem outro problema: os empreendedores. Eles têm algumas metas que querem crescer sempre, e nem sempre isso é possível, eles são grandes parceiros quando todo mundo cresce, mas são péssimos parceiros porque eles querem ganhar sempre, e às vezes não dá para ganhar sempre. A gente sabe que o comércio não é assim. Tem épocas boas - e eles foram muito bons parceiros nas épocas boas, mas muito maus parceiros nas épocas ruins, eles não entenderam que é assim o comércio. Você vê: crise tem uma queda de rendimento, uma queda de renda, uma queda de rentabilidade muito grande, eles não querem saber. Então isso gera uma crise, e a pessoa acaba não participando, muitos foram à justiça pra tentar... A justiça permite isso, a ação revisional, ações revisionais de aluguel. O aluguel, com a inflação que estava... Você pode imaginar um aluguel atrelado ao IGPM [Índice Geral de Preços do Mercado]? Ele sobe uns 30, 40% ao ano. Então o comércio aumentou 3 ou 4%, nem isso, às vezes até um crescimento negativo. Quando eu falo 3 ou 4% para o comércio, é bom. Tipo telefonia celular, que está na moda hoje, mas você imagina você suportar um aluguel de 30, 40% a mais... Não suporta.
Eu fui fazer faculdade de engenharia em São Paulo. E eu continuei... Naquela época, eu tinha uma namorada em Taubaté, e eu continuei com o pé em Taubaté, porque montou uma floricultura. Ela ficava em Taubaté e tomava conta da floricultura em que a gente era sócio. Tinha dezessete anos e tinha uma floricultura. Era o dom do comércio. E ela ficou em Taubaté, com a floricultura. Eu estudava em São Paulo e às sextas-feiras eu ia ao Ceasa, comprava todas as flores, enchia o carro de flores e trazia pra vender aqui durante a semana. O Ceasa sempre foi um pólo de atração, principalmente de flores e frutos, e eu ia ao Ceasa e trazia aqui. Durante um bom tempo eu trabalhei com floricultura aqui. Eu estudei na Faculdade de Engenharia da Universidade Católica de São Paulo. Já saí empregado numa multinacional, e na primeira oportunidade eu vim embora pra trabalhar na Embraer, em São José dos Campos. Eu vim pra São José, e é onde começou a minha vida, recomeçou a minha vida como comerciante. Nesse tempo já não tinha mais a floricultura e a namorada tinha acabado há um pouco tempo atrás. A namorada quis alçar outros vôos, foi morar na França, quis estudar na França, e a gente teve que acabar, encerrar a floricultura, que estava muito bem também, não tinha problema nenhum. E quando eu vim pra São José dos Campos, logo, logo a minha empresa queria que eu participasse das atividades da cidade. Em primeiro lugar, fui bater na porta da Associação Industrial de São José dos Campos, depois eu me tornei diretor lá, em 1974, fiquei até 82 como diretor lá da Associação Industrial Comercial. O prédio foi comprado durante a gestão que a gente participava lá. Tinha um presidente, um cara muito ativo, o Tofi Simão, em São José dos Campos. Uma pessoa boníssima a quem o comércio de São José deve muito. A Associação Comercial Industrial adquiriu um prédio ali na Antônio Sais, logo do lado da Nelson D’Ávila, um prédio próprio, um enorme prédio. Foi construído durante a nossa gestão lá. E foi quando houve o boom de São José, quando São José se tornou um comércio regional, em 82, continuamos em São José. A gente tinha montado uma loja em Pindamonhangaba, uma outra em Taubaté, e eu fui convidado pra participar aqui do conselho, da Associação Comercial Industrial de Taubaté, a ACIT, em Taubaté. E eu participo, tenho grandes amigos lá. Não participo diretamente porque minha atividade é assim muito pesada, estou em vários setores, mas eu ainda participo lá em Taubaté, na ACIT, participo em São José. Às vezes eu dou uns palpites lá na Associação Comercial. Tenho grandes amigos lá, isso é o mais importante. A família da minha mulher é de Pindamonhangaba, e eu tinha um concunhado, e eles eram amigos de infância de um pessoal da Company, do Rio de Janeiro, que era uma grande etiqueta, uma grife do Rio de Janeiro. Eles eram amigos de infância dos donos da Company e um dos donos da Company, nos idos de 1980, sugeriu que meu concunhado abrisse uma loja em Pindamonhangaba, Taubaté, no Vale. Porque o Vale, naquela época... O Rio era muito forte, a moda jovem do Rio. E a gente montou uma loja com a característica. Até hoje a nossa loja tem a identidade da Company do Rio de Janeiro.
Eu conheci minha esposa em Ubatuba. Eu estava sem namorada e ela também estava sem namorado. Numas férias, em Ubatuba. Dizem que amor de praia não sobe serra, mas o nosso subiu. Eu a conheci em Ubatuba, ela estudava em Taubaté, e eu estudava... Na época fazia o último ano de escola em São Paulo. Ela fazia a universidade UNITAU, aqui, e eu estudava em São Paulo. A gente teve até um pouco de dificuldade de relacionamento porque ela era de Pinda, estudava em Taubaté; eu era de Taubaté, estudava em São Paulo; e fomos nos conhecer em Ubatuba. Então aí é complicado. Nós acabamos, dois anos depois, casando, e estamos casados até hoje. São 32 anos. Nos casamos em Pindamonhangaba. A família dela era assim... Eles tinham uma fazenda no bairro do Ribeirão Grande, tradicional lá em Pindamonhangaba, onde foi criado, inclusive, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ele foi criado no mesmo bairro deles. E ela era de uma família tradicional de Pindamonhangaba. Ficamos dois anos namorando e casamos. Um de Taubaté, um de Pinda, casamos e fomos morar em São José dos Campos. Então é uma mistura. Depois de dois anos de casados... Ela trabalhou com radioterapia a vida inteira, com oncologia, e depois formada no hospital aqui de Taubaté. E tinha minhas cunhadas, que uma delas a gente entrou em sociedade e montou... Aí volta o comércio de novo: montou essa loja de moda jovem chamada Portal 27 no início em 1980, em Pindamonhangaba, e foi expandindo: Pinda, Taubaté e São José dos Campos. O comércio de Pinda foi bom de início, mas depois, com o grande pólo de Taubaté retomando o crescimento - deu uma retomada grande no crescimento. pinda, hoje, em matéria comercial, na minha visão, é muito dependente de Taubaté, muitos clientes nossos de Pindamonhangaba vinham aqui comprar no Taubaté Shopping. O Taubaté Shopping virou um pólo regional. Sentimos sim, alguma resistência dos comerciantes de Pinda. A gente não tinha nenhuma tradição de comércio, porque meu sogro era fazendeiro, trabalhou e trabalha ainda, meus cunhados trabalham com fazenda até hoje, e havia uma certa resistência, só não foi muito maior pra mim porque muitos dos clientes de Pinda eram clientes do meu pai, da Cerealista Moreira. Meu pai conhecia todo mundo ali. A gente montou uma loja chamada Portal 27, perto do Mercado em Pindamonhangaba, moda jovem, mas perto do Mercado. E a maior parte dos clientes do Mercado eram clientes há muito tempo do meu pai, da Cerealista Moreira, conheciam o meu pai. Tinha uma grande empresa de beneficiamento de arroz em Pindamonhangaba, de um grande amigo do meu pai, e meu pai era cliente dele. Eles também tinham um comércio perto da gente lá em Pindamonhangaba, então houve menor resistência, pelo fato de a minha mulher ser de Pinda e por eu ser conhecido lá, por causa do nome do meu pai. Mas existe resistência sim, Pindamonhangaba é uma cidade muito fechada, a própria Associação Comercial de Pindamonhangaba, a CIP, que chamam, é até hoje dirigida somente por gente de Pindamonhangaba. Eu nunca consegui nem um contato lá, várias vezes procurei... “Olha, faço parte da Associação de Taubaté, São José dos Campos, precisar de alguma coisa estamos a ordem, não sei o quê”, nunca se interessaram, pelo fato de eu ser estrangeiro, por eu ser de fora de Pindamonhangaba. Realmente, tem pouco. Das cidades do Vale, talvez Pinda e Guará tenham essas características. Guará também são muito resistentes. Taubaté se abriu muito por causa dos tradicionais... Shopping, por exemplo: traz uma gama de cultura muito variada de fora, principalmente em São José dos Campos, muito mais em São José dos Campos - a cultura local inexiste, é uma cultura que é formada lá por gente de fora, que veio morar lá por causa do CTA, da Embraer, da GM [General Motors] e outras indústrias... Johnson, Kodak, e vieram a São José dos Campos, montaram a cultura local. Então é muito mais aberto, muito mais viável pra quem, assim como eu, que fui morar em São José dos Campos.
A primeira loja foi em 80, em Pindamonhangaba. A segunda foi em Taubaté, em 1985. A de Taubaté veio em conseqüência da de Pindamonhangaba, que tinha tido um sucesso muito grande. A Company mandava nesse segmento, na época, e a gente começou com uma identidade. Tinha clientes que vinham de Taubaté pra comprar roupa da Company. Em Taubaté não tinha ninguém que vendia produto Company, em Pinda tinha: éramos nós, e viemos só... Foi a primeira aqui de São Paulo, porque meu concunhado era amigo de infância do dono, dos proprietários da Company, então um deles, já até falecido... E meu cunhado ganhou essa concessão. Vendiam multi-marcas, uma espécie de franquia, a identidade era atrelada à Company - até hoje o nosso símbolo é um símbolo da própria Company. Um símbolo... O logo da loja Portal 27 é atrelado à Company, ainda. É Portal 27 porque portal grande, onde a gente inaugurou. Era rua João Romero, 27, então tinha o portal e o número em cima: 27, então todo mundo: “Portal 27, Portal 27” e acabou ficando Portal 27. Não conseguimos tirar essa identidade. Identidade é uma coisa assim: mesmo que você mude hoje, a turma ainda se liga. Hoje, a gente tem os clientes que são os filhos dos clientes antigos, daquela geração. Os pais já não são mais clientes, mas a gente já pulou de geração, praticamente, de 80 pra hoje. Na época, o pessoal tinha vinte anos, hoje são pais, têm quarenta, 42 anos, e os filhos têm vinte, dezenove, dezesseis anos e são os nossos clientes. Os pais indicam a Portal 27: “Olha, filho, eu comparava muito na Portal”. A gente vê muito isso. Esperamos que a terceira geração, eu esteja vivo e presente pra suportar a terceira geração. Sempre teve essa característica de público jovem, moda jovem, por causa da Company. A Company era uma empresa que só fazia moda jovem, moda surfwear. Eu falo moda jovem, mas é surfwear. Surfwear era Company e sempre Company. Em São Paulo tinhas outras, no Rio... O mercado Vale do Paraíba, em matéria de moda, sempre esteve muito mais atrelado ao Rio de Janeiro do que a São Paulo. Uma loja de São Paulo, Fórum, acho que tem menos chance de vingar aqui do que uma empresa do Rio de Janeiro. Hoje tem a Redles, do Rio, a Cantan, do Rio, a Company - que a gente representa - , estas outras empresas que têm um enorme sucesso...: HD, Rip Curl. Todas as empresas do Rio têm muito sucesso com esse tipo de roupa, esse tipo de moda, assim.
O Vale do Paraíba, principalmente São José dos Campos, tem muito carioca que veio pro CTA, pro ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], pro INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], Embraer. Tem muitos que trouxeram essa moda do Rio pra cá, pro Vale do Paraíba, e a gente aproveitou muito bem desse tipo de público. Desde o primeiro dia, foi em 9 de novembro de 89, que iniciou o Taubaté Shopping, nós estamos lá. Desde o início. A gente acreditava nesse tipo de empreendimento. O shopping foi muito bom, foi ótimo porque já se tinha assim uma idéia... Porque Taubaté foi um shopping menor, então muitos dos comerciantes, como não era um shopping regional, tipo Center Vale, tipo Dutra - na margem da Dutra - , ele foi preenchido pela maioria de pessoas daqui de Taubaté. Então o comércio local foi prestigiado. Hoje você tem, por exemplo, a maior parte do comércio de Taubaté, do centro da cidade, presente, está no shopping também. Então não tinha assim, tinham muitos comerciantes que foram mais felizes na escolha das pessoas, em um shopping menor você pode escolher melhor, foram muito felizes, que tinha menos gente descomprometida, menos gente despreparada do que no Center Vale Shopping. O empreendedor do Shopping Taubaté era de fora de Taubaté, mas aí ele escolheu, no início, algumas pessoas de Taubaté pra administrar, não trouxe tanta gente de fora como no Center Vale Shopping. Então isso deu um gancho comercial, preencheu-se todas as lojas com gente bastante comprometida com o comércio, que ainda estão lá e que não teve tanta rotatividade do jeito que foi em São José dos Campos. Eu acho que só tem um caso de uma pessoa tradicionalíssima, Marília Moraes, aqui de Taubaté, que trabalha com roupa feminina. Ela percebeu que o cliente dela foi pro shopping, e ela tinha uma loja no centro. Foi o único caso de comerciante que migrou do centro para o Shopping Taubaté. Era nossa vizinha no centro da cidade. Acho que foi a única que migrou pra lá e acabou fechando no centro, porque os demais continuam no centro e no shopping também. São públicos diferentes. Por incrível que pareça são públicos diferentes. O público da nossa loja do centro são aquelas pessoas que trabalham no centro. O centro funciona de segunda à sexta, o movimento no sábado no centro na nossa loja em Taubaté é muito pequeno. Então são pessoas que estão empregadas em bancos, em escritórios, em repartição pública, na prefeitura, universitários, UNITAU. Este é o público do centro, é o público que compra no centro da cidade. No shopping o público é composto pelos filhos, ou pessoas que trabalham nas indústrias, gente de Pindamonhangaba, de Caçapava, daqui, de Ubatuba, de São Luís, de Campos do Jordão - eu tenho muitos clientes de Campos do Jordão. Então, normalmente é público ou de fora ou mais atrelado à indústria, de uma maneira geral: a Ford, a Volks... A Volks, talvez 20% das vendas do shopping sejam de gente ligada à Volkswagen. É público de fora do Taubaté Shopping, completamente diferente. Quem está no shopping, dificilmente compra no centro, e quem está no centro dificilmente compra no shopping. Por isso a gente mantém a loja no centro. Não faria sentido, se o público fosse o mesmo, manter um negócio, assim, pagando duas despesas, dois funcionários, dois contadores, duas empresas abertas - o que hoje em dia gera muito custo - , manter pra atender o mesmo público. Não, são públicos realmente diferentes, isso na minha percepção, lá no nosso segmento. Cada uma das minhas lojas atende a um público bastante diferente: Pindamonhangaba é Pindamonhangaba; Taubaté é o centro de Taubaté; Center Shopping é essa região; e São José é o pólo de Jacareí, de Caçapava, tem muito cliente de Caraguatatuba, de São Sebastião, de Ilhabela. O pólo é São José dos Campos, são públicos diferentes, não compensa ter dois negócios pra atender o mesmo tipo de público. A loja de Pinda ainda existe, que é a pioneira nossa lá, mas Pinda caiu muito o comércio. A gente se questiona, que ela não tem mais nenhuma rentabilidade pra gente, mais pelo pioneirismo mesmo, porque em termos de negócio, o pessoal de Pinda realmente vai comprar no shopping agora. Muita gente está migrando pro shopping. Estamos pensando seriamente em migrar o pessoal e trazer aqui pro Shopping Taubaté. O preparo dos vendedores melhorou muito nos últimos anos. É o benefício que o shopping traz. O shopping, esse patrocínio, o treinamento, o tipo de treinamento, principalmente, dos vendedores, de como atender um cliente, de vitrines, melhoria de estabelecimento, melhoria das lojas, acabam trazendo gente muito gabaritada pra dar palestras internas. Tanto no Taubaté Shopping como em São José. São palestras excelentes, de alto nível. Isso vai trazendo uma cultura, vai criando uma gama de atendimento bom no comércio. Antigamente, não. A gente sofreu muito, sofreu muito com rotatividade, mas agora melhorou muito o atendimento. Como consumidor, você indo em qualquer tipo de estabelecimento, você vai ver que hoje o tratamento é muito melhor. Eu fui numa loja de frios e fui atendido por uma moça que - eu sei - trabalhava no Taubaté Shopping. O atendimento dela foi excepcional, uma educação... Trabalhando numa loja de frios aqui no centro de Taubaté, na própria avenida Independência. Era uma funcionaria do shopping e foi treinada lá, recebeu todo tipo de treinamento. Nisso, o shopping tem uma grande contribuição. E a ACIT hoje em Taubaté, que é muito bem dirigida... Eu sou suspeito pra falar disso porque o André é muito meu amigo, de escola, nós estudamos juntos, então ele deu um dinamismo muito grande, porque essas Associações Comerciais eram dirigidas por dinossauros, pessoas completamente antiquadas... Depois teve uma remodelação, tanto em São José como em Taubaté, e o André deu um dinamismo muito forte pra ACIT, em termos de treinamento. Ele faz um curso aqui de altíssimo nível. No ano passado, tive a oportunidade de ver o Arnaldo Jabor, Paulo Henrique Amorim - nesse nível - , curso de gestão empresarial pro Vale inteiro aqui, e um curso de altíssimo nível, e isso dá... As pessoas se sentem obrigadas a motivar, a treinar e a melhorar. A ACIT de Taubaté mantém treinamento pra todo o tipo: gerente de vendas, vendedores... Estou falando do meu caso, no meu ramo. A gente aproveita muito esse treinamento, faz muito curso lá, parte financeira. A ACIT, tudo ela patrocina, então estas lojas, essas entidades clássicas em São José - estou falando de São José, mas Taubaté é a mesma coisa; em São José tem um sindicato muito forte, muito atuante, muito bom - então, essas entidades aliadas à própria prefeitura, têm um dinamismo bom. Hoje em dia você tem facilidade de encontrar gente boa no comércio, gente que trabalhe bem no comércio, um bom atendente, uma pessoa boa, e isso pro comércio é bom. Você evita querer comprar fora do Vale do Paraíba, por exemplo.
Tenho três filhos, duas meninas e um menino. Uma das minhas filhas fez um trabalho de graduação... Ela se formou em marketing. Hoje ela é gerente de marketing da Ambev e trabalha em São Paulo. Viviane trabalha em São Paulo, trabalha no Vale do Paraíba e também está ligada ao marketing. Ela é a pessoa que vai me suceder, porque os outros dois, uma é advogada em São Paulo e o outro está se formando em arquitetura. Denise e o Victor, que está se formando em arquitetura agora. Os três moram em São Paulo, trabalham em São Paulo, e a Viviane é a única que puxou um pouco do dom. Se tiver alguém que vai me suceder, vai ser a Viviane, que tem vocação pro comércio. Minha mulher, Isabel, se aposentou na parte de oncologia e também atua no comércio junto com minhas cunhadas. A gente tem uma estrutura familiar de suporte, porque ninguém consegue administrar as lojas sozinho tendo outro tipo de atividade.
SESC, Senac e outras atividades, que também dão um auxílio muito grande na área comercial. Eu, por exemplo, sou sócio do SESC, a gente participa, principalmente da vida cultural. Tem grandes projetos culturais aqui em Taubaté. Teve um show excelente há umas duas semanas atrás, do MPB 4 - eu fui assistir. Tem o tem Alceu Valença, agora no final de semana. O SESC tem uma vida muito ativa. Eu acho muito importante esse tipo de órgão. Meus funcionários, eu faço questão: todos são associados do SESC, sem exceção, porque é um negócio muito importante pra eles. Até alguns têm uma freqüência muito boa lá, tanto aqui como em São José dos Campos. Tem um outro órgão que é importante pro comércio: o Sebrae, que dá uma orientação. O Sebrae também patrocina cursos, atua na geração de empregos. O Sebrae é um outro órgão muito atuante pra nós. Tudo isso ajuda o comércio a progredir, e você vê, apesar de todas as crises, o comércio sobrevivendo e procurando sobreviver e ganhar fôlego. Basta que dê um crescimento na economia que o comércio decola de novo, sem dúvida nenhuma. O maior gerador de emprego é o comércio, sem dúvida nenhuma. A indústria está muito automatizada. Eu trabalhei em indústria a vida inteira, o grau de automação da indústria hoje é fantástico. Antigamente, você pintava um carro, botava dois, três, quatro, cinco funcionários pra operar. Hoje um robô faz este serviço brilhantemente. Eu estou falando de uma atividade muito ruim pro homem, por causa de aspiração de produtos químicos. A robotização da indústria foi muito grande, a indústria se ultramotivou pra ser competitiva: em nome da competitividade ela teve que se automatizar. Tanto que você vê excedentes na Volkswagen, hoje, de 4, 5 mil funcionários em São Bernardo, em Taubaté, e no comércio você não vê.
O comércio é extremamente difícil. Pra você ter um sucesso muito grande, ao longo de décadas, pra você se perenizar no comércio, você tem que se dedicar muito. Você tem que se atualizar, você não pode parar. Comércio é assim, que nem eu falo: é uma bicicleta, ele tem que rodar, pedalar sempre, parou de pedalar você cai. Então, o comércio você tem que se atualizar sempre, Cláudia, você tem que se atualizar sempre, se você parar de se atualizar você fica pra trás, sem dúvida nenhuma, você tem que modernizar suas coisas, sempre reservar uma parte do seu dinheiro. Eu tinha assim uma certa facilidade, tinha outras atividades, mas a gente sempre pegou uma parte em dinheiro e atualizamos as lojas, assim. A próxima a ser atualizada é a loja de Taubaté Shopping, o ano que vem nós vamos atualizar, modelar, porque ela não pode parar mais que cinco, seis anos no mesmo jeito, da mesma forma, assim, tem que sempre estar se renovando, mantendo uma identidade, mantendo aquela identidade inicial, aquela característica inicial, aquele produto inicial. Mas mantendo assim, sempre se renovando. Aí nós temos assim uma enorme facilidade de alguns funcionários nossos de Taubaté, no Center e em São José, estão conosco desde o início, então isso dá uma certa confiança, uma certa tranqüilidade pra quem dirige, porque são pessoas extremamente comprometidas com o negócio. É aqueles que falo sempre: são negócios como se fossem deles também, tá, isso é muito importante.
Acho fundamental um projeto como esse. Eu sou muito chegado a este tipo de história, acho que essa memória é uma memória viva, tanto faz pro comércio, pra indústria também. Não sou um historiador, mas sou muito chegado a história, e acho muito importante, porque você vai buscar as raízes, você vai ver os problemas lá. Se você pegar algum problema lá e ver a solução, você tem os mesmos problemas hoje, e talvez consiga a mesma solução.
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