Diário de Silvia Favero Ribeiro. São Paulo, 13 de maio de 2020. Estou em casa desde o dia 16 de março de 2020 pois fiquei muito gripada e, apesar de não saber que tipo de gripe era, a médica de plantão resolveu me afastar da escola. Na semana seguinte, 23 de março, a quarentena começou oficialmente. Já escrevi em outros momentos durante esse período tão difícil e diferente, então consigo perceber como minha percepção sobre tudo isso foi se modificando ao longo dos dias. Já tive raiva, melancolia; já percebi o passar das horas por meio do meu humor; já tive raiva outra vez; já chorei; já rezei muito; já assisti a lives; já fiz chamada de vídeo com as amigas e a família; já pensei em ir embora desse país - nações cujos líderes têm bom senso me chamam a atenção, sabia? - já me botei metas; já comecei dietas; mas agora, hoje, só sinto gratidão. Apesar de tudo o que não é possível fazer - sobretudo as impossibilidades de estar e abraçar quem a gente ama - tenho casa, emprego, saúde e companhia para esses tempos de solidão. Sei que o mundo além da minha janela está desMOROnando, que a desigualdade social está escancaradamente mais desigual, mas dentro de mim não posso negar para mim mesma a descoberta de ser grata por absolutamente tudo. Enfim, amanhã a raiva, a melancolia voltam, mas até lá vou ser grata e rezar para que saiamos dessa melhor do que entramos.