P/1 – Bom, Daniella, eu queria começar agradecendo a sua presença aqui no Museu e que você dissesse para gente o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Daniella Avanzi Leonardi, eu nasci em São Paulo no dia 16 de maio de 1970.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – Osmar Avanzi e Marisa Carmem Pelegrino Avanzi.
P/1 – E qual a atividade deles?
R – Meu pai é médico ortopedista e minha mãe é formada em Advocacia, é advogada, mas acabou fazendo Psicologia depois e ficou psicóloga.
P/1 – Você sabe como eles se conheceram?
R – É interessante. A minha mãe fazia um curso na Faculdade de Medicina da Santa Casa e teve um dia que ela esqueceu, ela foi fazer o curso e, voltando para casa com a minha tia, ela esqueceu um papel no hospital, e ela falou: "Ah, eu preciso pegar esse papel hoje". A minha tia falava: "Não, não precisa pegar hoje, você pega outro dia". E ela falou: "Não, eu preciso pegar esse papel hoje, senão eu vou esquecer". Bom, enfim, ela voltou e, quando ela voltou para lá, já não tinha mais ninguém do curso dela e ela foi para uma seção ao lado, que era seção da Ortopedia e o meu pai estava lá. Ela falou: "Olha, eu perdi um papel aqui, você pode verificar pra mim? Porque não tem mais ninguém na minha sala". E aí, foi meio amor à primeira vista, eles se conheceram e já pegaram telefone, aquela coisa toda, mas foi uma coincidência, um esquecimento dela que acabou fazendo ela conhecer o meu pai.
P/1 – Olha que legal!
R – É, foi bem legal!
P/1 – E você sabe o nome dos seus avôs, a origem deles?
R – Sim, meus avós são italianos por parte de mãe e por parte de pai. Por parte de mãe, meus avós são Dante e Maria, os dois já falecidos. Meu avô nasceu em uma cidadezinha chamada Maddaloni, perto da cidade de Nápoles, e ele veio para o Brasil na adolescência dele. E, por parte de pai, os meus...
Continuar leituraP/1 – Bom, Daniella, eu queria começar agradecendo a sua presença aqui no Museu e que você dissesse para gente o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Meu nome é Daniella Avanzi Leonardi, eu nasci em São Paulo no dia 16 de maio de 1970.
P/1 – E qual o nome dos seus pais?
R – Osmar Avanzi e Marisa Carmem Pelegrino Avanzi.
P/1 – E qual a atividade deles?
R – Meu pai é médico ortopedista e minha mãe é formada em Advocacia, é advogada, mas acabou fazendo Psicologia depois e ficou psicóloga.
P/1 – Você sabe como eles se conheceram?
R – É interessante. A minha mãe fazia um curso na Faculdade de Medicina da Santa Casa e teve um dia que ela esqueceu, ela foi fazer o curso e, voltando para casa com a minha tia, ela esqueceu um papel no hospital, e ela falou: "Ah, eu preciso pegar esse papel hoje". A minha tia falava: "Não, não precisa pegar hoje, você pega outro dia". E ela falou: "Não, eu preciso pegar esse papel hoje, senão eu vou esquecer". Bom, enfim, ela voltou e, quando ela voltou para lá, já não tinha mais ninguém do curso dela e ela foi para uma seção ao lado, que era seção da Ortopedia e o meu pai estava lá. Ela falou: "Olha, eu perdi um papel aqui, você pode verificar pra mim? Porque não tem mais ninguém na minha sala". E aí, foi meio amor à primeira vista, eles se conheceram e já pegaram telefone, aquela coisa toda, mas foi uma coincidência, um esquecimento dela que acabou fazendo ela conhecer o meu pai.
P/1 – Olha que legal!
R – É, foi bem legal!
P/1 – E você sabe o nome dos seus avôs, a origem deles?
R – Sim, meus avós são italianos por parte de mãe e por parte de pai. Por parte de mãe, meus avós são Dante e Maria, os dois já falecidos. Meu avô nasceu em uma cidadezinha chamada Maddaloni, perto da cidade de Nápoles, e ele veio para o Brasil na adolescência dele. E, por parte de pai, os meus avós Iris e Renato também com origem italiana, minha avó veio para cá muito cedo e meu avô tinha os parentes italianos, mas era brasileiro.
P/1 – E eles vieram para São Paulo mesmo?
R – Todos vieram para São Paulo. Quando eles vieram, a família deles também acabou se centralizando na cidade de São Paulo, das duas famílias.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Vários (risos), tenho muitos irmãos. Nós somos em cinco irmãos lá em casa. Eu sou a mais velha, tenho uma irmã três anos mais nova que eu, nasceu no mesmo dia que eu, no mesmo mês, 16 de maio. Não porque minha mãe queria, porque ela não queria na época, quarenta anos atrás era só parto normal, não tinha cesárea, então, as duas nasceram no mesmo dia. Essa minha segunda irmã mora nos Estados Unidos há doze anos, é casada, tem os filhos lá e mora lá. Meu terceiro irmão mora aqui no Brasil com a gente, mora ainda com meus pais, ele é diretor de uma multinacional. O meu quarto irmão é médico e mora em Nova Iorque também, acabou ficando lá, e a minha quinta irmã é a raspinha de tacho, quando eu tinha quinze anos a minha irmã nasceu. Então, eu fiquei meio mãe e irmã ao mesmo tempo, era muito interessante. A gente passeava, ficavam olhando para mim para ver se eu era mãe ou irmã, aquelas coisas. Ela trabalha numa outra empresa multinacional aqui, e se formou em Psicologia. É uma família bem unida, por mais que a gente tenha espaços diferentes, a família é bem unida.
P/1 – Conta um pouquinho como é que foi a infância na sua casa, onde vocês moravam, em que bairro. Era aqui em São Paulo?
R – Nós morávamos no Jardim Europa. Por um tempo, eu morei com meus pais na casa dos meus avôs, era só a minha mãe e a minha tia, minha tia foi morar no apartamento dela e a minha mãe queria ficar perto, a casa era muito grande, “vamos ficar aqui”. E eu passei vários anos da minha infância, até os sete, oito anos, eu morei com meus avôs nessa casa. E aí, os irmãos foram chegando, a gente foi ficando lá até o terceiro filho. Depois do terceiro filho, a gente decidiu mudar para um apartamento. Nós fomos para o apartamento no Morumbi e o meu avô, o pai da minha mãe, deu esse apartamento para minha mãe e deu um apartamento no andar debaixo para minha tia. Então, era muito gostoso, porque na época já éramos em quatro irmãos, mais os nossos três primos. Nós estudávamos na mesma escola, então, nós íamos para escola que parecia uma creche, aquelas peruas, eu lembro que era uma Belina mil novecentos e não sei quanto, e era todo mundo, um no colo do outro, os quatro mais os três primos, mais o filhinho da moça que trabalhava com a minha tia também iam na mesma escola. Então, ficava meio que uma perua escolar nossa que ia até a escola. E foi uma infância que eu tive uma convivência muito grande com meus primos. A gente sempre viajava, ou ia para fazenda do meu avô nas férias, a gente passava as férias todas lá, ou a gente ia para praia, os primos sempre estavam juntos. Tanto primos para o lado materno quanto para o lado paterno, sempre tinha uma divisão, mas sempre os primos e os irmãos juntos.
P/1 – Conta um pouquinho da casa dos seus avós, como é que foi a sua primeira infância lá, como era a casa?
R – Era muuuito gostoso. No meu primeiro ano, eu fiquei numa casa que era bemmm antiga, era na Rua Holanda, número 14. Era uma casa de esquina com tijolinhos aparentes, enorme, tinha chalezinho, piscina, quadra de tênis, tinha tudo. Aquilo para mim era meu mundo, eu vivia lá, ainda era muito rodeada por adultos no primeiro ano, porque eu era a primeira neta, primeira filha, então, existência grande disso. E depois que meus irmãos nasceram a gente foi para uma casa ao lado, que era na Rua Holanda, número 64. Era um pedaço que o meu avô cortou para ficar com um pedaço da casa, com a piscina que era da outra casa. Então, eles fizeram lá uma mudança e ficou essa casa para gente. E era muito gostoso porque os meus avôs eram superdivertidos, minha avó Linda como a gente chamava, o nome dela era Maria, mas, quando eu nasci, ela falou: "Ah, eu preciso ver um apelido que minha neta vai me dar, então, eu vou falar que eu sou a vó Linda". E aí, ficou, vó Linda e o meu vô, por consequência, ficou vô Lindo. E a minha vó era muito divertida, ela adorava música, então, ela tinha um salão de música no meio da sala, tinha uma sala, no centro da sala, onde tinham vários instrumentos. Ela adorava tocar cavaquinho, violão, tocava órgão superbem, então, a gente vivia assim nessa convivência com a música e com ela. Era muito divertido, e ao mesmo tempo a gente tinha uma superprivacidade, não é que eles eram invasivos, ficavam se metendo na nossa vida. Se ficaram, eu nunca percebi, porque era muito gostosa a convivência que a gente tinha lá. Na época, eu já nadava, então era bom porque eu estava perto do clube também e viabilizava, o estudo e a natação que eu fazia. Mas era uma convivência muito gostosa, a gente tinha os nossos quartos, os meus pais tinham o quarto deles, e para nós não tinha sensação de que era a casa da minha vó, era minha casa, era como se fosse a minha casa mesmo.
P/1 – E qual brincadeira você gostava mais?
R – Olha, essa rua era uma rua muito tranquila, a gente andava muito de bicicleta ao redor do bairro. O Jardim Europa é tranquilo, mas naquela época era mais ainda. A gente andava muito de bicicleta, a gente adorava ficar brincando de fazer show, fazia ensaio, show, ensaiava música, brincava de teatrinho, como era muito irmão, muito primo, tinha um volume muito grande de crianças para participarem. A gente adorava inventar personagem, inventar peça e fazer as peças, geralmente em eventos grandes, tipo, a gente ensaiava a peça para fazer na apresentação no Natal, ou ia ter almoço do Dia das Mães e a gente fazia alguma apresentação. E a gente fazia a parte de fantasia, fazíamos com papel crepom, usava muito papel crepom, eu lembro na época, fazia desde o chapéu, vestido, calça, a gente ficava inventando um monte de coisa. Mas tinha muito essa coisa da peça, me vem forte.
P/1 – E como eram as festividades com toda essa criançada? Como eram os seus aniversários junto com o aniversário da sua irmã?
R – Ahhhhhhh, era muito legal. Eu ia trazer umas fotos, mas esqueci. Na infância a gente sempre teve as festas juntas, a gente sempre comemorava juntas, a minha mãe colocava aqueles vestidinhos longos assim, iguais, com coque na cabeça. Aí, tinha todos os amiguinhos, amiguinhos de escola, família era grande, vinham os amiguinhos da família e também vinham os filhos de amigos dos meus pais. Eram festas grandes, na casa da minha avó de novo, e as festas eram muito legais. Eu lembro que minha mãe contratava aquele "Torresmo e Pururuca", eram dois palhaços, e eram pai e filho que faziam, mas na época eles eram muuito divertidos, e eles iam todo ano para festinha de aniversário. E minha mãe falava: "Dani, vamos fazer outra coisa". "Não, mãe, eu quero Torresmo e Pururuca." E lá iam eles para fazer a apresentação na festinha. Era muito divertido e sempre na casa da minha vó. A casa da minha vó era referência para gente fazer festas, para as reuniões de família. Então, para Natal, para final de ano, a gente comemorava lá também, para algum outro tipo de aniversário a gente também usava a casa da minha vó, era uma referência, acho que até uma referência para os outros familiares, a casa dos meus avôs. Eles adoravam receber gente, ter a família perto, e a gente entrou nisso também.
P/1 – E com toda essa turma e brincadeiras na casa da sua vó, tem algum momento marcante que você traz da infância...
R – Você diz o quê, de comemoração?
P/1 – É, ou de brincadeiras, alguma coisa que ficou marcada na infância.
R – Olha, na casa da minha vó tinha uma casinha de boneca, e essa casinha para gente era tudo, a gente brincava demais nessa casinha. Essa casinha era a nossa referência, ou para gente se esconder quando a mãe estava procurando, ou para gente, às vezes até ter discussão na casinha, de quem ficava em tal lugar, quem ficava em tal quarto, e para brincar. A casinha para gente foi muito forte, uma referência grande que eu tenho. E quando eu me lembro da casa da minha vó, eu também me lembro muito de uma amiga minha que era da escola, na época do jardim de infância que eu estudava, que era Marina Penteado. A Marina Penteado estava sempre na minha casa. A gente com sete anos, seis anos, eu lembro até hoje que ela ia na minha casa depois da escola, a gente brincava. Nos meus aniversários ela estava sempre grudada em mim, então, quando eu penso na minha vó e penso em amigo, me vem a Marina Penteado junto porque ela foi a minha superamiga na época, e as mães também, acho que se deram bem, então acabaram levando bastante ela para lá. Foi uma época bem gostosa. E nessa época eu lembro muito da fazenda também porque foi uma época que a gente era muito solto na fazenda, a gente passava as férias assim, ordenhando vaca, andando a cavalo, brincando muito lá na fazenda, isso também me faz lembrar bastante.
P/1 – Onde que fica essa fazenda?
R – Fica em Pirassununga, chamava Santa Rita.
P/2 – Dani, vocês brincavam só dentro de casa ou brincavam um pouquinho na rua?
R – A gente brincava ou na casa ou fora para andar de bicicleta, andar, mas a gente não brincava na rua. Na rua mesmo, a gente não saía para brincar. Clube a gente ia bastante para brincar também, barquinho, ia para nadar, fazer alguma coisa, ou casa. A gente ia para casa dos outros. Para brincar na rua mesmo, a gente só brincava quando a gente ia para fazenda, que aí ficava solto, completamente solto. Brincadeira de rua não tinha muita.
P/1 – E indo agora mais para o lado da escola, quais são suas primeiras lembranças quando você pensa na escola, o que você lembra?
R – Ah, são muito boas. Eu trabalhava em uma escola de Inglês, quando eu comecei a falar "Quero trabalhar em uma escola, é isso que eu quero". E como eu morava no Morumbi e a PlayPen era o caminho para mim, eu sempre passava pela escola. Um dia eu falei: "Quer saber, eu vou mandar o meu currículo". Mandei meu currículo, um dia cheguei em casa e minha mãe falou: "Dani, ligou uma moça chamada Guida, ela falou que queria falar com você, ela é da escola PlayPen". Eu falei: "Nossa, o que será?". E marquei essa reunião com a Guida e fui conhecê-la. E foi muito engraçado porque, quando eu entrei na escola, eu falei: "Nossa, adoraria trabalhar aqui". Eu me identifiquei muito com a escola no início. Aí, tive a entrevista com a Guida, ela perguntou várias coisas sobre o meu trabalho, sobre a minha experiência e eu falei muito assim, que eu tinha um contato muito grande com línguas porque na minha trajetória toda meu pai sempre deu um investimento muito grande nas línguas, ele achava que a gente tinha que aprender línguas, e eu tinha facilidade, então, quando eu era pequenininha a gente morou nos Estados Unidos, quando eu tinha quatro anos de idade. Eu morei lá por um tempo porque meu pai ia trabalhar lá. Depois eu voltei, na época de faculdade também. Fiz intercâmbio na adolescência e na faculdade eu falei: "Não, quero fazer línguas". E acabei pegando Italiano pela família que eu já tinha, acabei aprimorando na faculdade, e o Alemão também peguei na faculdade, que eu acabei conseguindo uma bolsa na faculdade para morar na Alemanha. Eu fui morar na Alemanha durante a faculdade e depois voltei. E eu lembro até hoje, até hoje eu brinco com a Guida, porque quando ela falou: "Ah, você fala outras línguas, né?", "Não, falo Inglês muito bem, falo Italiano e falo Alemão". Ela falou: "Quem sabe um dia você não pode dar um curso aqui de Italiano". "Pode ser, Italiano ou Alemão." Ela falou: "Não, Alemão não, Alemão não, só o Italiano" (risos). E hoje eu brinco com ela, porque ela foi arrumar o São Bento dela na Alemanha, né (risos), e está aprendendo Alemão. Às vezes, ela fala: "Dani, vamos tentar falar Alemão". A gente troca umas ideias em Alemão e eu digo: "Olha, se vissem você há catorze anos falando ‘Alemão, pelo amor de Deus', ninguém diria, né?".
P/1 – Mas vamos voltar para recuperar, porque a gente deu um superpulo.
P/2 – Tem os Estados Unidos...
P/1 – Sim, quais são as primeiras lembranças da sua escola, de quando você começou a ir na escola.
R – Nos Estados Unidos eu fiquei superpouco, eu fui com quatro anos, eu fiz kindergarten.
P/2 – Mas você estudava aqui?
R – Eu fazia uma escola que se chamava Serelepe, é uma escola nos Jardins.
P/2 – Então, você não era pequenininha quando você foi, eu entendi errado.
R – Com quatro anos eu fui para os Estados Unidos, só que antes eu ia num maternalzinho e, quando a gente ia se mudar para lá, a minha mãe me colocou em um curso de Inglês chamado Red Balloon, porque ela achou que eu tinha que aprender um pouquinho de Inglês para ir para lá. Então, eu fazia o Serelepe e o Red Balloon. Eu fui para os Estados Unidos, fiquei um tempo no kindergarten, peguei o Inglês super-rápido e era muito engraçado lá. Os meus avós iam para lá visitar a gente, tudo, e eles não falavam nada, e eu, aquele toquinho que ficava... Minha vó falava: "Filha, pergunta onde é o banheiro", eu ia lá e pedia. A gente estava numa sorveteria, hoje eu conto para as minhas filhas e elas morrem de rir. A minha irmã era pequenininha, tinha um ano, ela tava tomando sorvete e sujando tudo, a minha vó falava: "Ai meu Deus, eu preciso pedir uma colher e não sei como é que fala colher". Ela ia lá e falava: "Please, one... ", fazia o gesto e o moço não entendia nada. Ela falou: "Dani, vai lá filha, pede para vovó". E eu: "Please, one spoon", e ele, "Yes, yes". Ele me deu a colher e ela: "Ai que vergonha, eu não sei falar em Inglês e você pequenininha sabe". Eu comecei a aprimorar um pouquinho mais o Inglês quando eu voltei, fiz Cultura Inglesa, e quando eu voltei fui para um colégio católico chamado Santa Maria. Fiquei lá a maior parte do tempo meu de estudo, minha mãe gostava muito. Era um colégio de freiras, mas freiras americanas e elas tinham... não era aquela percepção de "colégio de freiras é superdeterminado, superfechado". Não, elas eram freiras bem moderninhas para época. Foi superlegal, passei a maior parte da minha infância lá. Teve um episódio que eu fiquei superfamosa na escola porque fui atropelada lá na escola. A gente ia almoçar no outro prédio e para atravessar a rua, em um dos dias uma Brasília vermelha, eu lembro até hoje, bateu em mim, e depois desse dia eles colocaram farol. Não tinha farol de pedestre, colocaram um monte de coisa, então, ficou a famosa da escola que tinha sido atropelada. Mas eu fiquei lá até o Ensino Fundamental Dois, até do sexto para o sétimo ano. Aí, minha mãe começou a conhecer um pouco mais a filosofia Waldorf, da Antroposofia do Steiner, começou a se aprofundar um pouquinho mais, gostou muito. Na época ainda era um tabu muito grande, "Puxa, vai para uma escola Waldorf, uma escola 'fraca'". Mas ela falou: "Eu quero ir, eu gosto dessa proposta". Eu fui a primeira a mudar, meus irmãos continuaram lá. E começou uma nova etapa porque eu finalizei o Fundamental Dois e fiz o Ensino Médio lá, eu me formei pela Waldorf. E foi muito interessante porque a sua perspectiva de mundo muda muito.
P/1 – E além do atropelamento da Brasília, que lembranças você tem do Colégio Santa Maria?
R – Muita coisa. Muita amizade, era na época da moda dos patins, então a gente podia andar de patins, era um tal de levar patins daqui, de lá, eles davam essa liberdade. Eu me lembro de um morro que eles tinham, que era como se fosse um ponto de encontro, uma colina como eles chamavam. Então, os plays, nos momentos do recreio, a gente ia brincar lá. Quando tinha algum tipo de encontro que a gente tinha que fazer, nós nos encontrávamos lá. A colina era um referencial legal. Eu me lembro das quejadas. As quejadas eram eventos, como se fossem festa junina, mas era um evento beneficente com várias barraquinhas e várias brincadeiras, você podia fazer. Era um evento que os pais organizavam junto com a comissão da escola para arrecadar fundos. Mas a Quejada era superforte, um evento muito significativo na escola, eu adorava. Sábado de Quejada para mim era um superprograma, eu gostava bastante. Superamigas que até hoje são minhas amigas, a Maria Raquel que foi uma grande amiga minha do Santa Maria hoje é minha amiga, a gente ainda se encontra, os filhos se encontram e é supergostoso. Tenho algumas amigas que ainda tenho contato que são da época do Santa Maria.
P/1 – Tinha uniforme?
R – Tinha, tinha uniforme. Eram uns vestidinhos coloridos, quando não era Educação Física. Quando era Educação Física era um outro uniforme lá que a gente não gostava muito, mas os vestidinhos eram um charme, é legal ter vestidinhos de cor diferente, vestidinho com bolso. Eu adorava o avental de artes que era um aventalzinho todo cheio de florzinhas, eu achava o máximo. Você punha em cima do vestido. Meia comprida e sapato boneca, esse era o uniforme da escola.
P/1 – Como vocês iam para escola nessa época?
R – Minha mãe nos levava. Na época algumas primas eram pequenas e não estavam na escola ainda, então, começou aos poucos. Aquele esquema da perua, que era uma perua escolar (risos), foi mais para frente. Porque aí os primos e irmãos foram entrando na escola e todos iam. Mas nessa época, um estava no jardim da infância, o outro estava no Santa Maria, estava mais diluído. Mas é uma lembrança boa que eu tenho. E coincidentemente, quando eu me mudei para Waldorf, algumas pessoas que eu conheci na Waldorf também tinham ligação com meus amigos do Santa Maria, então, foi legal porque não ficou uma coisa completamente quebrada. Porque eu senti muito quando eu fui para lá, era bem aquele auge de adolescência, eu supervinculada com meus amigos, foi um processo mais doído para mim, principalmente no primeiro semestre, eu diria, primeiro ano foi mais difícil. Eu fui vista na escola como a diferente, a que está chegando agora. Esses amigos que estavam lá já estavam há mais tempo, então, foi uma transição. No começo eu não gostei, mas depois você vai criando uma identidade, vai conhecendo, fazendo amizades, e isso vai se formando. Mas era uma proposta completamente diferente, da que eu via lá. Quando você chega lá e fala: "Olha, você faz um desenho, mas você não coloca os olhos, o nariz, não faz nada". Eu vinha de uma escola com uma percepção muito mais tradicional com relação à Educação, a gente vai aprendendo. E hoje eu vejo nos meus cinco, seis anos de Waldorf, o que me acrescentou nesse lado, que às vezes você não tem em uma proposta bem tradicional de educação. Você foge um pouco dos padrões, não que vá te deixar com déficit de aprendizagem porque meus irmãos se formaram lá, eu me formei lá e ninguém ficou fora do mercado por causa disso. Mas é uma outra percepção, o seu imaginário vai mais longe, o seu olhar às vezes vai de uma outra forma, não um olhar que todo mundo espera, então, foi bem interessante.
P/1 – E como é que foi essa mudança para você? Porque foi uma escolha dos seus pais.
R – Foi uma escolha da minha mãe.
P/1 – Depois você contou das amizades e tal. Mas e em relação à parte pedagógica, à estrutura das aulas, você sentiu muita diferença?
R – Eu senti, na verdade... Eu não vou dizer que eu sabia mais que eles, eu sabia de um jeito diferente do deles, principalmente esse lado das artes. No nível que eu entrei, é um nível que você academiza um pouco mais, tem mais estrutura de aula, tinha lá professora. Tinha uma professora de sala que acompanhava as crianças, na época era Ginásio, mas acompanhava as crianças no Ginásio inteiro. Eu falava: "Nossa, como é que essa pessoa consegue ficar quatro, cinco anos com o mesmo grupo?”. Porque na Waldorf eles acompanham até finalizar o Ensino Médio. E eu lembro que ela foi uma mãe para mim, dona Ana Maria, lá a gente chamava de “dona”. A dona Ana Maria foi uma mãe, ela conseguiu me acolher, ver o que eu estava precisando, me sentir como parte do grupo, ajudando a me inserir nesse grupo, e me acolhendo, e foi muito forte. Ela era uma mãezona mesmo. E eu lembro que, às vezes, ela ficava olhando cada detalhe nosso, como a gente estava, como não estava. E, quando tinha algum problema, ela chegava na sala e acendia uma vela. Quando a gente via aquela vela na sala a gente sabia que alguma coisa tinha acontecido (risos) para gente discutir e tal. E às vezes essa vela acendia por minha causa, porque alguém estava fazendo alguma coisa comigo, os meninos estavam mexendo comigo. Então, às vezes a vela acendia e eu era meio o assunto da vela. Isso foi no começo, depois eu me sentindo segura com a professora, fazendo as amizades, e os meus pais fortalecendo: "Dani, você vai ver, vai dar supercerto". Porque no começo eu falava: "Mãe, eu quero voltar para o Santa Maria! Não quero ficar aqui". E eu era a única da minha família que tinha entrado lá, os outros não tinham entrado ainda, então, fui meio a cobaia, “vai”, acredito, “mas não sei como vai ser”. E no fundo eu só tive ganhos, foi muito legal, as minhas experiências, as minhas amizades também, eu tenho amizades até hoje com amigas minhas e filhos juntos, viajando juntas, foi muito legal. E deu uma outra percepção, isso eu vejo que me enriqueceu no outro olhar, que talvez uma outra escola eu não teria, mas foi um aprendizado muito grande.
P/1 – E como era a estrutura de aulas lá?
R – Era bem diferente. Porque lá você ficava mais tempo na escola. Eu ficava só meio período no Santa Maria e umas duas vezes por semana eu ficava até mais tarde. Lá não, você ficava todos os dias até às três horas, como você tem o Inglês, entrava lá o Alemão acho que três vezes por semana, e eu tinha que almoçar na escola todos os dias, o que também era uma coisa diferente para mim. Eu me lembro da minha mãe levando minha marmitinha, para marmita chegar quentinha ela não mandava de manhã, mandava na hora do almoço, eu pegava a marmita, almoçava. Aí, ela ia me buscar às três horas. A gente tinha muita aula de Artes. A gente tinha com uns professores superantigos, que sabiam tudo da parte de Ourivesaria, a gente tinha aulas de Ourivesaria superlegais, Mineralogia, a gente trabalhava com pedras, lapidação de pedras também. Marcenaria, a gente fazia trabalhos superlegais de Marcenaria. E a parte de Artes era normal, mexia com argila, fazia esculturas e tudo o mais. Mas geralmente, à tarde, a gente tinha as aulas de Artes diferentes. Depois, mais para frente, no Ensino Médio tinha aula mesmo, Matemática, Português e tal. Mas tinha uma incidência maior nesse trabalho artístico, bem forte.
P/1 – E tinha alguma matéria que você gostava mais?
R – Olha, eu sempre gostei da área de Humanas, adorava a professora de História, a Iderli, até hoje para mim é um referencial. Ela colocava a gente dentro da história, você se transportava para aquele momento da história, o jeito que ela contava, os detalhes que ela trazia com relação àquela matéria que ela tinha que dar, nossa, você se transportava para Roma, para onde ela quisesse. Ela foi uma referência grande. Língua Portuguesa, Geografia, eu gostava bastante também. Língua Portuguesa tinha o professor Inaldo, a gente adorava. Mas sempre vinculada a essa área de Humanas. Matemática, Exatas eu ia, mas não era a minha preferência.
P/1 – E como eram os recreios, o horário de almoço?
R – Nos recreios a gente chamava de “pausa”, então, tinha pausa de manhã, uma pausa grande de mais ou menos quarenta minutos, e eu lembro que a gente ficava em um prédio da escola que tinha uma escadaria enorme, a escadaria era o ponto de encontro. Então, a gente estava em aula diferente, ou dividia os grupos: "Ah, a gente se encontra na escadaria". Todo mundo ia lá, às vezes a gente sentava para tomar sol, sentava para conversar. Tinha um outro espaço na hora da pausa que era muito gostoso, a gente chamava de “caramanchão”, era como se fosse um quiosque enorme, comprido, com os bancos de madeira e umas mesas, e lá a gente almoçava, ou a gente ia na cantina comprar alguma coisa e comia lá, ou a gente ia só para conversar, ou jogava alguma coisa. Mas o caramanchão era bem gostoso. Na hora do almoço a gente tinha mais uma pausa que a gente almoçava e aí a gente brincava, tinha alguns jogos de quadra, a gente adorava jogar baseball. Porque lá não jogam futebol, eles não estimulam o jogo do futebol, então, tinha baseball, tinha handball, a gente fazia os nossos jogos de esportes nessas horas e à tarde a gente saía. Tinham duas pausas por dia, mais ou menos. De eventos, era uma escola que tinha muitos eventos, eventos culturais, literários, então, tinham essas peças de teatro que a gente fazia. Minha primeira peça foi na oitava série, um ano depois que eu entrei, eu até trouxe umas fotos. Mas eram peças que a gente ensaiava o ano inteeeiiirooo, eram peças superdensas com mil partes para você decorar, com vestimenta, um cenário, era um palco mesmo. A apresentação no final de semana, sexta, sábado e domingo para os pais e quem quisesse, era um evento muito grande, no nono ano. E depois, no décimo primeiro ano, que seria o segundo colegial, e também era supergrande, era uma outra peça, uma peça mais avançada, mas também supergrande. Tinham as peças de teatro, os bazares que eles faziam todo final de ano que eram superlegais, os bazares natalinos, seguindo bem uma linha antroposófica, o que vendia, o que se usava era bem característico. Tinha uns lápis que a gente usava nessa época do bazar que eram os lápis caran d'ache, que na época era o máximo esse lápis de cor. Lápis que hoje é lápis aquarelável, mas na época caran d'ache tinha umas cores diferentes, prateado, dourado, a gente adorava. Nesses dias, os bazares tinham lápis caran d'ache, que a gente comprava, ou que a gente podia usar para fazer algum tipo de oficina, alguma brincadeira lá. A gente poder usar esses lápis era o máximo. E eventos, festa junina eles tinham bastante, alguns eventos de classe que eles convidavam os pais para participarem também, mas era uma escola que tinha muito esse vínculo entre a escola e os pais.
P/1 – Você falou que fez intercâmbio. Como é que foi a decisão de fazer intercâmbio no colegial?
R – Como eu te falei, o meu pai sempre nos incentivou muito, ele falava: "Gente, viagem e línguas é um investimento que vocês nunca vão esquecer". Ele sempre colocou isso como prioridade e sempre passou isso para gente. E eu, como primogênita, fui desbravando os horizontes, a primeira a fazer isso. Primeiro eu fui para Inglaterra, eu tinha quinze para dezesseis anos, fui com uma amiga minha, que era uma amiga minha da Waldorf também, que eu tinha acabado de entrar, e uma prima. Fomos nós três passar dois meses na Inglaterra, um frio danado, mas foi superlegal. A gente falava Inglês, ficava em casa de família, aquela primeira experiência. Depois eu fui fazer uns cursos nos Estados Unidos, já próximo de me formar, eu já sabia mais o que eu queria, sabia que queria seguir mais essa área de Educação e Línguas, e depois eu fui para Alemanha ganhando essa bolsa pela faculdade. E eu fiquei até mais tempo que o previsto, eu fui para ficar dois meses e acabei ficando seis meses. Tranquei a faculdade aqui por um semestre e fiquei lá morando em Munique com uma moça que ajudava a fazer esse intercâmbio. E foi uma experiência maravilhosa, morar em Munique, fazer um curso de Alemão, depois eu acabei aprimorando e fazendo alguns cursos na faculdade de Educação, que tinha em Munique e viajando. Porque Alemanha você pega um trem, anda uma horinha e está em uma cidade gostosa, você anda mais um pouco e está em um outro país. Então, isso também foi uma experiência. E eu sempre tinha isso: "O que eu vou fazer esse final de semana, para onde eu vou?". Às vezes ia sozinha, às vezes ia com amigo, mas sempre desbravando, conhecendo mais a Europa, que eu queria muito. E quando eu voltei, eu acabei a faculdade e já comecei a trabalhar. Eu trabalhava antes em uma escolinha de Inglês quando eu comecei a faculdade, com dezessete para dezoito anos, eu parei por causa da viagem e retomei. E quando eu voltei, eu voltei como coordenadora dessas filiais da escolinha de Inglês. Eu peguei uma filial chamava Pink and Blue, depois ampliei para uma outra filial, e depois para uma outra, então, eram três filiais que eu coordenava, dava uma assessoria, organizava os professores e tal. E depois de alguns anos, aí sim, foi quando eu fui procurar a PlayPen.
P/1 – Vamos voltar de novo um pouquinho para parte da juventude. Você contou do seu colegial na Escola Waldorf. Que outras atividades você fazia fora, como era o seu grupo de amigos, dava para conciliar a escola com a natação?
R – Na época em que eu entrei na Waldorf, eu estava nadando ainda, eu nadei até os doze para os treze anos. Mas eu já estava diminuindo a minha carga horária, porque antes, em época de campeonato, eu tinha que nadar às cinco da manhã, antes e depois da escola, tinham dois treinos por dia. No Santa Maria, dava para conciliar, na Waldorf não deu, e aí, eu lembro que minha mãe foi falar com o técnico: "Olha, ela mudou de escola, vai ter que mudar alguma coisa aí". Eu já estava começando a ficar cansada, já não queria mais treinar tanto, participar tanto de campeonato. E os meus pais começaram a perceber, graças a Deus, um pouco isso. Porque tinha uma cobrança muito forte: "A Dani tem que nadar, tem que participar de campeonato". Então, na época em que eu entrei na Waldorf, acabou ajudando um pouquinho porque foi desacelerando um pouco esse meu processo, eu nadava, competia, mas em uma escala menor. Agora, depois que eu parei de nadar e continuei na Waldorf, eu fazia muitas coisas sim, com amigos meus, às vezes eu ficava para fazer um treino porque eu adorava jogar handball, a gente ficava até às cinco horas da tarde para jogar. Ou a gente ia para o clube, ou a gente ia fazer trabalho na casa de amiga, ou combina de uma ir na casa da outra, alguma coisa, também fazia. Eu não via que isso interferia na minha demanda fora da escola, eu achava que dava para conciliar bem. Naquela época, estava tudo integrado com a escola, era amigo relacionado à escola, era atividade que eu podia fazer na escola, ou podia fazer fora com os amigos que eu tinha lá. Então, não sentia que mudou. Era gostoso, era puxado, lógico, é diferente. Eu lembro no Ensino Médio a gente já começa a fazer cursinho, eu fazia cursinho à noite, saía da escola e ia à noite para o cursinho, ia para casa comer alguma coisa e ia, então, dava para conciliar.
P/2 – Dani, nesse período, teve algum professor que te marcou? Que você lembra bem.
R – É engraçado, por mais que eu odiasse Matemática, que eu sempre ia na média, o Vanderlei, que era o professor de Matemática era uma super-referência para mim. Era muito legal porque ele era um cara que por mais que tivesse aquela percepção de Matemática, de Exatas, ele se vinculou muito à nossa sala no Ensino Médio, ele se vinculou muito ao nosso grupo, era o 11A, a gente era o 11A ou 12A, e ele se vinculou demais ao nosso grupo. No Ensino Médio ele vem muito forte como referência para mim. De professor do Ensino Médio esse, na época que eu entrei, a dona Ana Maria que foi uma mãezona para mim, e depois que eu estava adaptada, estava bem, estava feliz, aí, esses professores especialistas... O Inaldo que eu falei, e a Iderli também, que eram professores que foram bem marcantes na minha vida. Depois eu fui para faculdade, fui fazer Letras na USP. Não vou dizer para vocês que foi com relação a vínculo, à amizade, não foi a fase e o local onde eu mais me identifiquei. A USP acaba quebrando muito, essa coisa de crédito, eu fazia algumas matérias na Faculdade de Educação, eu não tinha um círculo de amizades que eu pudesse me vincular e falar: "Ai, esse é o meu grupo". A gente tinha, às vezes, aulas em espaços separados, você podia fazer a sua programação. Eu tinha uma amiga japonesa que eu adorava, a Miki, e a Miki era uma referência superlegal para mim na faculdade. Mas não foram anos da minha vida que eu falo: "Puxa, lá eu fortaleci meus vínculos de amizade, ou conheci mais gente". Isso eu não vi muito, não. Eu vi muito essa reciclagem de informação, de estar buscando coisas novas, estava muito certo o que eu queria, eu queria trabalhar com Educação, com Línguas, então, eu ia muito atrás nesses quatro anos da faculdade. Então, fazia curso, participava de congresso, ficava muito entre a Faculdade de Educação e a Faculdade de Letras na USP. Isso para mim era um grande objetivo e eu segui o máximo que eu podia. Estudava de manhã, às vezes ficava à tarde lá, ou ficava de manhã e voltava à noite para fazer algumas matérias. Nesses quatro anos da minha vida, eu coloquei como objetivo algumas questões de me desenvolver, crescer mais, e deixei esse lado da amizade de fora. Minhas amizades continuaram da Waldorf, do Santa Maria, mas na faculdade eu não tive essa ampliação de amizade tão forte. Bom, depois eu me formei, fiz uma especialização em seguida, estava trabalhando já nessas escolas dando assessoria na coordenação, e já buscando essa, “quero alguma coisa a mais”, “quero trabalhar em escola”, uma escola regular, e foi aí que eu entrei em contato com a Guida.
P/1 – Um pouquinho antes da gente falar da escola, como é que foi a sua primeira aula nesse grupinho de Inglês? Porque você falou que começou dando aula.
R – Ahhh, foi muito engraçado. Eu tinha dezessete anos, estava ainda na escola, mandei meu currículo para essa escolinha pequena, Pink and Blue. Como eu tinha um Inglês muito bom, as coordenadoras me colocaram em um grupo em que os alunos eram mais velhos do que eu (risos). E eu já tinha cara meio de criança. Eu lembro que a coordenadora falava: "Dani, você não fala que você tem dezessete anos, hein, fala que você já está formada, já está mais velha". Falei, "Tá bom, tá bom", e comecei. E criei um vínculo superlegal com eles, me identifiquei, mas eu saía da escola às três da tarde, pegava um ônibus e ia para o Brooklin para dar aula. Depois elas foram gostando do meu trabalho e eu fui entrando na área de coordenação, nessa mesma escola. Mas era muito engraçado, sempre falavam que achavam que eu tinha menos idade do que eu aparentava, isso também às vezes, para adulto que eu às vezes dei aula em empresa, ou para pai de aluno que a gente também dava aula lá, o pessoal sempre olhava: "Hum, mas será que ela sabe mesmo? Será que ela é boa mesmo como professora?". É engraçado isso.
P/1 – E como é que você encarava isso?
R – Ah, supertranquilo. Eu estava segura, estava tranquila, se eu tinha alguma dúvida, eu perguntava para coordenadora. Mas era um ambiente muito familiar lá também, todo mundo se conhecia, eram poucas professoras, então dava para gente se relacionar bem lá. Mas com relação a isso era muito tranquilo. A coordenadora falava para mim: "Dani, você nasceu para dar aula porque você nunca deu aula na sua vida, você já vai lá, dá um jeito, você cria uma atividade". Então, me sentia segura, né, de ter um feedback dela, que já tinha experiência e tudo, eu me sentia segura. Mas sempre buscando aprimorar, sempre buscando mais e conhecer, e fazer curso, porque isso para mim era um plus. Aí, onde a gente estava?
P/1 – Aí foi para Alemanha...
R – Aí, fui para Alemanha durante a faculdade, no terceiro ano de faculdade. E também foi assim, eu falei: "Pai, eu vou para Alemanha, quero fazer esse curso, ganhei a bolsa". Ele falou: "Vai embora, vamos ver o que você precisa ou não precisa". E ele me deu a maior força. Fiquei lá esse tempo, depois voltei, me formei na faculdade, fiz especialização. Nessa época eu ainda não estava com meu marido, foi depois que eu me formei que eu conheci ele. Eu continuei trabalhando nessas escolas e eu fui procurar esse outro emprego com a Guida. Foi 1900 e... eu já estava casada quando eu oficializei... Foi 1989, é isso? Não, 1989 eu tinha dezenove anos, faz treze anos, foi em 1997, de 1996 para 1997 que eu entrei lá.
P/1 – E como é que é? Você já tinha ouvido falar da PlayPen?
R – Olha, eu já tinha ouvido falar, mas não tinha muita informação sobre a escola. Eu sabia que era uma escola que trabalhava com educação bilíngue e isso me interessava bastante, porque na minha formação de faculdade eu tinha tanto Português como o Inglês, sabia que era uma coisa que eu queria aprender mais e ficar nesse meio, e não querer escola internacional. Eu tinha trabalhado um tempo em escola internacional mas não tinha me identificado, achei que uma proposta brasileira fosse adequar mais ao que eu esperava. Então, eu fui já sabendo que era uma escolha interessante para mim. Quando eu entrei na escola foi uma sensação muito gostosa, é uma escola que, desde que abriu o portão, a escola já me acolheu, foi uma sensação muito estranha. Mesmo antes de ter falado com a Guida, o espaço físico, a casinha que tinha, as crianças brincando, tudo me acolheu. E depois com a Guida, lógico, daí você conversa, vai se identificando. Na época em que eu entrei e estava tendo uma transição com relação a algumas coordenadoras e professoras, tinha uma equipe meio que entrando, que era a equipe do Português e tinha uma equipe de Inglês que estava saindo. Na época, eles não tinham coordenadora de Inglês. A Guida falou para mim: "Vai acontecer isso no ano que vem, essas pessoas estão saindo. Você não quer ficar com uma sala de aula e também ajudar na coordenação do Inglês?". Eu falei: "Ah, tudo bem, posso ver". Mas para mim era muito desconhecido, não sabia o que era. Aí, comecei a trabalhar nessas duas coisas, ficava algumas horas na coordenação e ficava dando aula à tarde. Eu só trabalhava lá à tarde, de manhã eu ainda ia para Pink and Blue que eu dava as assessorias, e à tarde eu ficava na PlayPen dando aula numa sala de quarto ano de Inglês e ajudava em algumas coisas em organizar a coordenação, mas ainda era muito inicial. E isso me incomodou um pouco no começo porque eu não conseguia fazer meu trabalho direito, o que eu esperava para fazer às vezes não dava certo, estava começando, muita coisa que eu não conhecia. Quem sabia e conhecia o que tinha lá já tinha ido embora, estava indo embora, então nem estava muito com a cabeça na PlayPen, e isso eu fiquei nesse primeiro ano, nessas duas coisas, dava aula superbem, adorava os alunos, adorava minha parceira do Português, e ficava com a coordenação, mas mesmo assim a coordenação não estava... Eu falava: "Gente, não é isso, não está dando certo". Começou a me deixar chateada, me irritou, eu não sei se vou ficar aqui. Eu vou falar que vou embora e não vou mais ficar. Eu falei com a Guida: "Ai Guida, eu estou tão incomodada, mas não sei se eu quero ficar nisso". "Mas Dani, então, fica só dando aula". Eu falei: "Tá bom, eu vou ficar dando aula porque não quero ir embora de jeito nenhum, então perfeito". Eu fiquei dando aula no Ensino Fundamental por alguns anos, me realizei, acho que cresci muito nessa percepção de ser uma professora bilíngue, trabalhei com várias séries diferentes, sempre para Ensino Fundamental Um, quarta série, terceira série, primeira... E fui crescendo e aprendendo cada vez mais a ser uma educadora, uma educadora bilíngue, isso também foi acrescentando ao longo dos anos. Depois de alguns anos, depois de seis ou sete anos no Ensino Fundamental, eu comecei a ter um maior interesse na Educação Infantil. Falei com a coordenadora da Educação Infantil que eu teria muito interesse de ficar de manhã na Educação Infantil e à tarde no Ensino Fundamental. Ela falou: "Lógico". Era superdifícil para conseguir uma posição de professora direto na Educação Infantil, primeiro você tinha que ficar como assistente, ficava um tempo de experiência e depois assumia como professora de sala. Mas, coincidência ou não, no ano que eu pedi, várias professoras saíram da escola e eu acabei entrando como professora titular do ensino infantil também. E eu fiquei mais tempo na escola, saí de onde eu estava, na Pink and Blue, abri mãos das assessorias, vi que era um espaço legal que eu queria conhecer, e fiquei de manhã no infantil e à tarde eu dava aula para os mais velhos. Depois de alguns anos eu tive alguns problemas familiares com a família do meu marido e eu precisava assumir mais coisas como nora que dentro da minha grade não estava dando. Eu conversei com a Guida que eu teria que abrir mão do Ensino Fundamental para tentar trabalhar só de manhã porque aí eu tinha esse tempo à tarde para conseguir conciliar minha vidinha fora, e eu fiquei só de manhã no infantil. Depois de dois anos elas me convidaram para ajudar na coordenação do infantil, aí, eu comecei a ampliar um pouquinho mais minha carga horária de novo, comecei a ficar mais à tarde de novo. Depois a coordenação do infantil saiu e eu assumi o dia todo a Educação Infantil da escola.
P/1 – E vamos falar dos seus primeiros momentos enquanto professora numa escola bilíngue de Inglês para uma turminha de quarta série. Como é que foi encarar essa turma, quais eram os desafios, como é que você preparava as suas aulas?
R – Com relação à preparação de aulas era muito similar ao que eu já fazia. Na época ainda eram livrinhos de Inglês, então, a gente preparava as aulinhas, eu tinha um planejamento e tal. O que eu acho que foi mais difícil, e acho que para um educador bilíngue ainda é o mais difícil é como você educa essa criança. Não é uma criança que está lá para aprender só Inglês, que vai para você só duas vezes por semana na escola, aprende o que tem que aprender e vai embora. É uma criança que está lá todos os dias, que você convive, que você tem que fazer parte das mediações dos problemas, que você tem que ouvir o choro, as alegrias, as conquistas dessa criança. Isso para mim foi o mais difícil porque os alunos bons, alunos, tranquilos, tudo bem. O problema são os alunos que dão problema, e aí, você tem que ver como você media isso. Então, nesse processo de formação do educador, eu acho que eu tive grandes questões, eu tinha alguns alunos bem complicados que eu falava: "Meu Deus do céu, o que vai acontecer agora, como é que eu tenho que fazer e agir?". Aí, a coordenação foi dando toda essa ajuda. Na época que eu entrei tinha uma psicóloga na escola também que ajudava a Guida. Essa psicóloga também dava muita formação de professores e esse encaminhamento de como a gente tem que ajudar na mediação com as crianças, como fazer uma intervenção importante quando se tem algum problema, como conduzir uma roda de conversa, que é onde você vai apurar um pouquinho mais o que está acontecendo. Ela também acabou ajudando a gente nesse processo, a coordenação foi essencial. E quebra completamente esses paradigmas, que você fala: "Ah, puxa, vou dar aula de Inglês". Você não vai dar aula de Inglês, você está lá para educar o aluno, tanto quanto a professora do Português. Isso acho que foi um grande diferencial. E a gente se sentia bem amparada com essa ajuda que a gente tinha, mas uma coisa diferente, que para mim chamou bastante a atenção quando eu entrei é que tudo o que se falava, se discutia com as crianças tinha roda, era a roda da conversa. Então, era a roda, tinha um momento que a gente sentava, que nem tinha a vela para mim quando a dona Ana Maria chegava lá e acendia a vela, nesse processo da construção do conhecimento tinha a roda, tudo o que a gente ia discutir sentava na roda, no chão, a gente abrir o espaço para conversa, para troca, para escutar o outro, para falar dos problemas. E para mim era difícil você fazer essa roda em Inglês, porque a gente fazia, a roda é legal, mas como é que a gente vai conduzir isso em Inglês? Então, também foi sendo uma coisa que eu fui aprendendo, mas foi um marco para mim essa questão do educar. Foi um marco.
P/1 – E como era a relação com a professora de Português?
R – Na parceria? Muito boa, sempre. Eu não tenho uma parceira minha de Português que não tenha sido. Não que fosse sempre assim, às vezes tem umas que você tem que ficar mais, outras menos, mas sempre foi muito boa, sempre numa sintonia de companheirismo, de trocar informação, de tentar chegar combinado sobre aquela mesma criança para gente trabalhar de manhã e à tarde da mesma forma. Lógico que à tarde, às vezes, as crianças estavam mais cansadas, à tarde é quando a gente mais tinha questões de comportamento, eles estavam mais irrequietos. Eram grandes parcerias. E também, mais uma vez, a formação de professores ajudou, porque a gente fazia reuniões de formação continuada para fortalecer essa parceria, para trabalhar a comunidade maior, mas foram ganhos que a gente foi tendo. Às vezes, tinha classes mais complicadas para gente conseguir lidar, que a gente tinha que se encontrar mais com a professora do outro segmento para gente conseguir ver como conciliar isso, mas no geral elas eram muito positivas. E isso foi um outro diferencial da PlayPen, que eu vi assim. Eu tive experiência com escola, como professora, eu tive nessa outra escola internacional que eu falei, e eu senti muito forte essa parceria na PlayPen. Essa cumplicidade que a PlayPen trazia, todos muito amigos, muito abertos para tentar ajudar, se criavam amizades lá que a gente vê até hoje, quem está lá mais antigo, tem esse vínculo forte de amizade, isso também me chamava muito a atenção. “Nossa, como eles se ajudam, como é legal, como é legal estar aqui”. Isso também me acolhia muito, me deixava bem segura, bem tranquila.
P/1 – E nesse primeiro momento, como é que era conciliar essa turma, todos esses desafios de quarta série, tal, com a parte da coordenação que ainda estava incipiente, meio trocando?
R – Eu tentava separar bem, a hora que eu estava com a quarta série, era quarta série só. Aí, acabava a aula, três e meia e eu entrava um pouco na sala da coordenação, mas eu não tinha o tempo suficiente que eu achava que deveria ter, também não tinha mais tempo porque estava de manhã em um outro trabalho. Isso começou a me incomodar, foi um ano muito difícil por isso, eu não estava achando uma saída para tentar amenizar um pouco essa minha aflição, então, eu ia trabalhar no final de semana, até não sei que horas à noite. Esse ciclo se renovando de professores, que foi um ano de transição do Inglês, era gente que entrava, que saía, não tinha um grupo já fechava, esse grupo conhece, esse grupo sabe. Gente nova começando, assim como eu estava começando também. Por isso acho que no final eu falei: "Gente, não dá. Ou eu faço direito, ou eu não faço". E na hora que eu falei “eu não faço”, eu falei: "Eu não faço, mas também não quero ir embora". Essa opção de eu ter ficado só para dar aula foi muito nessa linha, “eu quero me preparar mais, quero conhecer mais a escola, quero estar forte e quando eu voltar, eu volto fortalecida”. E quando eu voltei para coordenação, eu voltei para coordenação infantil. Foi muito tranquilo para mim essa transição, completamente diferente da percepção que eu tive de coordenação quando eu entrei na escola há treze anos atrás.
P/1 – Sobre a Educação Infantil, como é que foi começar a trabalhar com a Educação Infantil, com um método diferente, com outros tipos de parceria?
R – Via que na Educação Infantil era muito mais intenso, muito mais do que no Fundamental. Porque no Fundamental eu ficava só um tempo, era só o período da tarde que eu ficava com aquelas crianças, aquelas professoras. Na Educação Infantil eu via assim, é uma parceria muito maior com as professoras porque você tem assistente junto com você. Eu brinco dizendo que parceira de Educação Infantil é como casamento, porque você fica metade do seu dia pelo menos com uma pessoa na classe com você o tempo inteiro. Então, você tem que compartilhar coisas que você gosta, que você não gosta, o dia que você está ou não de mau humor, dia que ela não está bem, coisas que vocês discordam ou momentos supergostosos. E as crianças lá, as vinte e cinco lá olhando para você, "O que a gente vai fazer hoje?". A concepção da escola eu já conhecia como espectadora, não conhecia como participante. Então, eu também tive, quando eu soube que eu ia assumir um grupo no ano anterior, eu comecei a ter mais reuniões com a coordenação, comecei a ler mais, a pegar todos os projetos, comecei a me inteirar um pouquinho mais do que era aquela educação infantil para PlayPen. Então, quando eu entrei na aula eu já estava mais segura, eram catorze crianças no primeiro grupinho que eu tinha. Na época que eu assumi esse grupo, foi na época da casa provisória, então eram poucas crianças perto do que a gente tem hoje, que é uma média de vinte e cinco, que para minha sorte acabou dando certo, eram menos crianças, com assistente bem experiente e que pôde ir me colocando. Mas, muita coisa no começo, a gente falava: "Puxa, tudo bem aqui na teoria, mas na prática". Eu saía acabada, exausta, tinha dias que eu falava: "Meu Deus do céu, parece que passou um caminhão em cima de mim". Fora que você fica mais doente também, os primeiros seis meses você fica com todas as doenças, bactérias que você pode imaginar (risos) porque você entra em contato com os pequenininhos o tempo inteiro e não percebe, depois você fica mais imune. Mas eu via uma percepção desse olhar da criança e desse envolvimento que a criança tem com você e com a escola. Então, não só aquela coisa, “ah, a professora manda, faz um desenhinho aí que a gente vê”. Não. Faz um brainstorm junto com a criança, amplia esse projeto, esse imaginário da criança. E aí eu gostei, porque eu usava um lado imaginário meu que eu adoro usar, eu adoro brincar com a imaginação, acho que é superimportante para criança, então, aí eu usufruía disso, eu dava corda para eles. Então, a gente trabalhava com projetos e dentro dos projetos a gente ia brincando. E o Inglês fazendo parte desse processo, entrando com a imersão junto. Mas foi muito gostoso, era muito prazeroso, e aqueles seis primeiros meses que é o período mais inseguro você volta no segundo semestre mais fortalecida, com mais ideia, porque você vê qualquer coisinha e pensa em uma ideia, você pensa em uma coisa legal que você pode fazer na sua sala. E foi isso que eu fui desenvolvendo e crescendo também. No ano seguinte, quando a gente mudou para casa nova, foi um ano mais difícil para mim como professora porque eu engravidei, eu estava grávida e dando aula também, então, na realidade ficou aquela coisa de "puxa, vou ter neném agora", então, eu fiquei os seis meses como professora, depois saí para voltar de licença. Mas no meu processo de Educação Infantil como professora, meu maior desafio foi quando eu fui professora da minha filha por seis meses, esses foram seis meses bem doídos porque eu estava grávida da segunda filha e era professora da minha de quatro anos. Eu trabalhava com um grupinho de quatro anos, e no começo era muito engraçado. Porque às vezes ela me chamava de mãe, "Mamãe, vem ver o desenho". As crianças falavam assim: "Ela não é a sua mãe!". Ela falava: "Mãe, eles estão falando que eu estou mentindo, que você não é minha mãe" (risos). E ficava um dilema, quer dizer, em que momentos eu tenho que ser mãe na sala, em que momentos que não. E eu fiz os contatos com a minha assistente e falei: "Você vai assumir minha filha por alguns momentos, porque vai ter horas que o ser mãe não vai dar para interferir". E era uma superparceira também, uma ótima amiga, que é amiga minha até hoje, mas ela acabou assumindo a minha filha em alguns momentos para eu deixar de ser só a mãe e ser professora. Mas foram seis meses, não digo seis, quatro, porque foi o primeiro semestre, mas foram quatro meses bem intensos, né? Nesse ser mãe e ser professora no mesmo espaço físico, foi bem legal.
P/1 – Como é que fazia com uma criança que tinha dificuldades com Inglês?
R – Na Educação Infantil?
P/1 – É.
R – Olha, eu lembro, num desses grupinhos de Pre school four, eu lembro que nós tivemos uma criança que veio do Peru, acho que foi Peru. Ela chegou e não falava nem Português, nem Inglês. Ela me chamava de maestra. Na época a gente chamava de teacher, então, era teacher Dani, ela falava "maestra Dani", era tudo maestra, maestra e não entendia nada. Nesse processo, nessa faixa etária com a carga horária que a gente dá de Inglês eles assimilam rapidinho. Depois de seis meses a Keisy estava falando, entendendo e conseguindo falar em Inglês supertranquilo. Mas, nesse momento de início, eu usava muitos gestos com ela, que a gente fala. Então, "Would you like water or juice?", mostrava. E ela conseguia entender. Porque eu também não falo nada de Espanhol, ela não falava nenhuma das duas línguas. Mas já tivemos outros casos, de coreano. Coreano é pior ainda porque é uma língua que não tem nenhuma similaridade. Então, a gente tem que usar muito desse de visuals para gente conseguir se fazer entender. Mas a percepção deles é muito rápida, é muito rápida. Eles já começam a pegar. E às vezes eles não pegam o Inglês, eles começam a pegar o Português com os amigos, eles estão brincando: "É meu!", "Não, é dele!", "Ele bateu!". Algumas coisas eles sabem falar para se defender, eles aprendem rapidinho.
P/1 – E você contou um pouquinho que você assumiu a sua primeira turma de Infantil na casa provisória. Como é que foi esse processo de mudança, do seu ponto de vista? Como que você sentiu a reforma, esse período. Porque você entrou e ainda estava na casa...
R – Era a casa antiga, isso. Aí, acompanhei todo o processo, tinha compra de uma outra casa que era o espaço de uma sala de balé, foi aquela superconquista: "Comprou a casa de balé, a casa de balé vai ser tornar uma sala de aula". Depois: “Puxa, a Guida está pensando em construir um prédio novo”, “Ai que legal”, tal. Daí, “Guida está com projeto pronto, mas tem que saber para onde a gente vai”. “Ah, que legal.” E a gente: "Guida arrumou um espaço. Vamos para o outro espaço fazer mudança para casa ser reconstruída". E aí, não foi tão legal, né? (risos). Foi um ano e meio, dois, de muita união. Grupo, todos os segmentos, eu vi muito forte. Todos muito unidos, muito solidários. Desde o momento de mudança que a gente tinha: "Pega o caixote, leva para lá, vê o que vai, o que não vai". Era uma casa que não era uma escola, era uma casa. Como que a gente vai fazer dessa casa uma escola? Ideias que surgiam, uma ajudando a outra com ideias de sala de aula. "Não, põe a estante aqui, põe a estante lá." Uma ajudando a outra, muito parceiras. E aquela alegria: "Puxa, a gente vai ficar aqui, mas está construindo o prédio. Olha que legal! Tá subindo isso, tá no bate-estaca". De repente veio aquele balde de água gelada de: "Aí, a obra foi embargada". Foi uma sensação muito estranha, gente. Eu lembro que eu ia para o trabalho todo dia e eu falava: "Meu Deus do céu, será que isso vai continuar? Precisa continuar, a escola vai dar certo, ela precisa dar certo. Esse prédio tem que sair". Todo dia a gente ia com essa sensação, mas ao mesmo tempo, muita força. Era uma sensação de segurança, mas muita força dentro da gente. O que a gente vai fazer para conseguir. Então, entrava as reuniões pedagógicas, a gente não fazia nem reunião pedagógica, a gente usava esse espaço para tentar ver o que a gente conseguiria fazer para viabilizar outras, o que a gente precisava fazer para ajudar. E aí, houve um momento que a gente tinha que pegar as assinaturas, um dos advogados falou que a gente precisava de um certo número de assinaturas da vizinhança para conseguir entrar novamente com esse pedido de desembargo. E aí, nós entramos com força total, era era toda essa subdivisão, a gente abria mapa na sala dos professores, o mapa do bairro, e aí, a gente começava a fazer tabelas de escalonamento. A gente saía de sala, porque a gente tinha que sair no horário de aula para conseguir fazer, e alguém cobria a gente. Tinha lá o escalonamento: “Então, das dez ao meio dia, vai a Dani e mais três, vão pegar essa rua, essa rua e essa rua”. Lá ia a gente com a prancheta, explicava, batia de porta em porta. A gente explicava o caso, na sua maioria, muitos vizinhos: "Ah tá, eu sei que tá acontecendo isso", outros não. Outros não atendiam e outros falavam: "Não aceito, não quero". Mas na sua maioria eles aceitavam. E a gente fazia esse revezamento, um grupo sai, o outro fica cobrindo, a gente voltava, ia um outro grupo. E quando a gente soube que as assinaturas acabaram sendo superpositivas, para essa decisão, foi muita alegria, muita satisfação. O momento mais forte, que a gente pode dizer, da escola nesse momento de transição foi esse porque era decisivo, ou a escola era construída e se erguia e se fortalecia, ou acabava a PlayPen, não tinha opção nessa época. Então, nessa época eu sentia que o grupo inteiro, era o segmento do Infantil, do Fundamental junto, todo mundo numa mesma sintonia. Foi muito legal. Principalmente porque depois deu certo, né? (risos). Não seria se não tivesse. Deu tudo supercerto, a gente ficou supercontente. Foi isso, mas era uma casa superadaptada, tinha piscina no meio. A piscina era no meio do pátio, as crianças pequenininhas de dois anos brincando, na piscina com a lona lá. Até contei o caso da minha filha que foi afundando na lona, até escrevi lá no papel (risos). Porque um dia a lona foi e ela foi afundando assim, achando o máximo que ela foi afundando. Tudo certo, foi só risada. Mas era uma casa que não tinha uma área aberta, era toda ela fechada, coberta e tinha a sala de aula. As crianças não viam a luz do sol. Agora, tudo era por essa causa, para gente melhorar, crescer, para gente ter o prédio novo. Tanto que os pais que ficaram lá tinham a mesma postura. “A gente acredita na escola, a gente sabe que ela vai crescer, vai se retomar e é isso que a gente vai seguir.” Então, foi isso, foi muito legal.
P/1 – E depois, como foi para ocupar o prédio novo, todo pronto?
R – Foi legal também, mas, ao mesmo tempo eu ficava: "Foi legal, mas não temos alunos". Porque tinha o prédio lindo e maravilhoso, mas a gente tinha muito pouco aluno no começo, por essa perda toda que deu. Eu voltei com um grupo pequeno de alunos, tinha acho que dezesseis alunos no primeiro grupinho quando a gente começou na escola nova. Mas tinham grupos que estavam juntos, o de dois junto com o de três anos. Os da tarde juntavam dois, três grupos para ficarem todos juntos porque não tinha aluno suficiente, era muito naquela busca, "Meu Deus, agora temos o prédio, está tudo certo, mas precisamos ter aluno". Era muito essa busca de aluno, de tentar não perder aluno, “Vamos fazer de tudo para que esse aluno se sinta acolhido, as famílias se sintam bem”. E aí foi progredindo, foi dando certo.
P/1 – E você sabe de alguma estratégia que a escola tomou para ir progredir nesse número de alunos, para fortalecer depois que ela mudou para o prédio novo?
R – De estratégia sim, a Guida sempre passou muita confiança e credibilidade aos profissionais que trabalham com ela. Acho que isso não era nem falar na infraestrutura. Lógico, a infraestrutura sempre acolhe, mas eu sempre via ela depositando muita confiança e essa segurança que o profissional vai fazer uma aula diferente, vai fazer o aluno ter um outro olhar, se sentir querido na escola. Então, os profissionais que ela escolhia, ela escolhia a dedo. "Ah, esse aqui vai dar certo". A Guida tem um olhar assim, ela consegue sacar quem é o perfil de profissional que vai ser parceiro e vai suprir as expectativas que ela tem. A gente tinha uma equipe muito boa de professores, eu acho também que teve uma retomada com a entrada dos diretores novos, que também era uma entrada "Puxa, a gente precisa mostrar que a escola está fortalecida", quando a Célia e o Lyle também entraram nessa fase de uma capacitação maior de alunos. E logo em seguida eu assumi a coordenação.
P/1 – E como é que foi a sua promoção à coordenação?
R – Olha, foi muito gratificante, mas assim, existem algumas sementinhas que me falavam, me plantavam. “Dani, a gente gostaria muito que isso acontecesse”. Eu sabia que eu estava traçando o meu caminho na PlayPen, e eu sabia que era lá que eu queria ficar. Então, lógico que estava fazendo de tudo para que isso acontecesse. E a coordenadora que estava lá, ela já trabalhava há dezesseis anos lá, não como coordenadora, ela trabalhava na escola e já estava na coordenação um bom tempo, desde quando eu entrei na escola, ela já era coordenadora do infantil. E comecei a perceber isso, ela foi fazer mestrado, então, ela saía alguns dias da escola. Começou-se a perceber a necessidade de alguém que ficasse mais tempo. E aí, a Guida me convidou para começar a ficar com ela, então eu ficava em sala de aula de manhã, na Educação Infantil e à tarde eu ficava com ela, como assistente, junto com a coordenação. E no final do ano a Guida fez essa proposta de eu assumir, a Silmara, a outra coordenadora, ia traçar novos rumos. Era uma pessoa com que eu tinha um vínculo superbom, nós nos dávamos superbem, aprendi muito com ela. E estava me sentindo segura para assumir aquilo novo. Foi bom porque ainda não tinha um número de alunos tão grande como tem agora, a gente tinha acho que por volta, na época do infantil eram cem alunos, mais ou menos, hoje a gente está com duzentos e trinta, duzentos e quarenta. Então foi bom porque foi me fazendo conhecer um pouquinho mais e crescendo aos poucos. Tanto o lado dos professores como o lado dos alunos também, que aumentou. Foi sutil, mas eu tinha essa percepção, "Eu acho que eu vou ficar aqui, eu quero ficar aqui", e eles reconhecem o meu trabalho. Eu sempre gostei de vestir a camisa da PlayPen, de participar de tudo, sempre gostei de pensar em coisas que a gente poderia fazer para melhorar. Acho que é uma coisa que vai além da Daniella funcionária, eu gosto demais de lá, me identifico muito.
P/1 – E quais eram as suas atividades, como foi deixar a sala de aula?
R – A sala de aula foi tranquilo porque era final de ano, lógico que às vezes tem as mães do ano interior que acham que vão pegar você: "Ai Dani, mas você não vai ficar?", mas faz parte. Aí, vem que você vai para um outro posto, e dão essa razão e te incentivam para isso. Mas a minha saída da sala de aula foi muito boa, muito tranquila. Por outro lado, eu via muito assim: "Poxa, agora eu não vou tomar conta só de uma sala de aula, eu vou tomar conta de um segmento inteiro, como isso vai ser para mim? Como eu vou conseguir lidar com isso, problemas ou questões que vão aparecer e vão estar fora do meu alcance de resolução, de conseguir resolver algum assunto porque depende de um, de outro". Eu comecei a fazer uma supervisão de ensino, então, eu tinha uma supervisora fora da escola, onde eu ia e levava questões que eu tinha, dúvidas que eu tinha, problemas que aconteciam, enriquecer um pouco mais esse meu repertório teórico, então, gostava muito de ler psicologia infantil, acabei aprimorando também porque eu tentava buscar um pouco fora também coisas que podiam me nutrir, me acrescentar dentro da escola. E a supervisão foi muito legal porque eu fazia geralmente uma vez por semana, fora do horário, saía, era pertinho da escola, eu ia, levava as questões e trazia de volta. Isso foi me fortalecendo bastante. Perante à equipe eu também acho que foi muito positivo, ainda era uma equipe um pouco mais enxuta mas era uma equipe que já me conhecia há bastante tempo. A maioria das professoras que ficaram comigo já me conheciam e sabiam desse processo, já sabiam que eu estava na coordenação, enfim, foi uma transição muito bem-vinda. Eu senti que elas também se sentiram bem acolhidas e queridas, enfim, eu acho que foi bem tranquilo, não senti nada negativo nesse processo.
P/1 – Em relação à parte metodológica e pedagógica, você manteve a mesma linha, fez algumas alterações?
R – A essência da Educação Infantil nós mantivemos, sempre. Acho que é uma coisa que vai além do que eu acho, ou o que uma outra coordenadora acha, é o projeto da escola, é a essência que a escola acha importante a Educação Infantil ter. O que eu acho que nós fomos mudando e aprimorando um pouquinho mais foi esse foco da visão da imersão de Inglês na escola. Então, esse processo do crescimento da imersão do Inglês. A gente começou a aprimorar um pouquinho mais, as expectativas de linguagem de cada faixa etária, as técnicas e estratégias que a gente precisa ter em sala. Eu comecei a entrar com verificações, eu pessoalmente fazer verificações de sala mais frequentes, interferir mais nesse processo da aquisição da segunda língua na Educação Infantil. Eu acho que isso houve um salto sim, a gente entrou com mais técnicas e formatos e estratégias para potencializar isso. Eu acho que isso cresceu bastante.
P/1 – Você falou da essência da Educação Infantil da PlayPen. Qual é essa essência?
R – Olha, eu acho que inicialmente é uma essência que faz a criança se sentir parte desse grupo social, e crescer junto com esse grupo. Não é uma Educação Infantil em que se é imposto no sentido de "essas são as regras e assim que vai seguir". As regras existem, só que a criança constrói a regra junto com o grupo. Ela se sente parte desse processo de crescimento, e é muito baseada nessa linha socioconstrutivista que vem muito de encontro e que a gente estuda muito. Quer dizer, o que Vigotski via e valorizava com relação a essa interação social. Como eu vou conduzir a mediação de um problema dentro de uma concepção socioconstrutivista. Em que momentos a gente vai trabalhar com moralidade infantil, como a gente vai ampliar esses valores morais e éticos. Tudo isso são coisas que são muito mais difíceis numa concepção socioconstrutivista, mas muito mais enriquecedora para criança. Então, é nessa linha que a gente vai trabalhar, na construção desses valores que vão ser os valores que eles vão ampliar no futuro deles. E tudo isso dentro do espaço do brincar, eu acho que isso vem muito de encontro com o que a gente espera. A gente não vai escolarizar os pequenininhos, só atividadezinha, chega na escola e já senta para fazer atividade. Eles têm o espaço que eles têm que brincar, eles têm o espaço que eles têm que fazer as escolhas deles, eles têm o espaço em que eles tem que ampliar essa atividade junto com o outro. O espaço para melhorar a autonomia, então, tudo isso é no momento da brincadeira que você vai trazer. Para nós, a brincadeira é superimportante. O que a gente ampliou também na Educação Infantil foi um pouco alguns eventos culturais e literários que a gente fez. Então, foi criada uma usina de reciclagem, a gente montou uma usina de reciclagem em parceria com os pais da Educação Infantil, os pais trazem o lixo para gente, a gente montou um espaço na garagem onde esse lixo é selecionado e a gente tem caixas onde vai guardando tudo isso para ser reutilizado como material de Artes. E baseado nessa usina de reciclagem, a gente montou um evento chamado “Eco Arte”. É um evento para Educação Infantil onde a gente retrata todos os trabalhos de projetos que fizemos, atividades que eles fizeram através do material reciclado. Então, a gente faz uma exposição grande na escola, nos corredores da escola, nos espaços em comum da escola e os pais e os alunos visitam esse espaço. E um outro evento que a gente criou também a gente chamou de "Books and Dreams", que é um evento que acontece sempre em anos que não são de Bienal, então, por exemplo, no ano que vem a gente tem Books and Dreams e "Eco Arte" de novo. O Books and Dreams é um evento voltado para ampliação da literatura. A gente trabalhava muito com a leitura de livros, a gente fazia seleção de livros baseada nos projetos que estavam desenvolvendo, e a gente fisgava essências do livro, ou dos personagens, ou da narrativa, enfim, o que seja, e a gente retratava através das artes plásticas. E a gente fazia um evento, eu consegui fechar com a Livraria da Vila. No ano passado foi no Shopping Cidade Jardim, e nós fizemos a exposição desse Books and Dreams lá, em um sábado. Os pais vão, a gente tem oficinas que a gente faz, tem oficina de leitura, de brincadeiras, enfim. E os pais vão para lá também. Esses são eventos novos que começaram de um tempo para cá.
P/1 – Você falou de projetos. Como é esse trabalho de projetos na Educação Infantil?
R – O projeto também desmistifica um pouco essa coisa que o professor tem que saber de antemão tudo o que ele tem que dar. Alguns projetos têm muito a ver com a faixa etária da criança, porque o projeto nada mais é do que um tema que vai instigar a curiosidade, que vai instigar o aluno a estar mais interessado, a conhecer um pouquinho mais sobre aquilo. A gente pega esse interesse do aluno e desenvolve as áreas que o aluno tem que ter dentro da faixa etária, em todas as áreas, área da Psicomotricidade, Matemática, Linguagem, enfim. Só que dentro da concepção que a gente acredita, às vezes, tem projetos que vão aparecer de acordo com a escolha do grupo. Eu lembro que tinha um grupinho de três anos há uns anos atrás, eles iam no playground da escola, tinha uma porta, sabe com aquela caveira que tem "Não entre, choque"? Eles morriam de medo daquela caveira, daquela porta, porque eles falavam que lá atrás tinha um monstro, que eles não podiam entrar. Enfim, eles começaram a criar toda uma história e a professora captou essa necessidade desse medo que estava aparecendo nesse momento e desenvolver um projeto baseado nesses medos, um projeto de super-heróis, eram super-heróis. E baseado nesse projeto, ela foi trabalhando com as áreas que ela precisava, mas ela foi desmistificando um pouquinho o que é ter o medo, como a gente pode combater esse medo, as crianças criaram os próprios super-heróis em sala, quer dizer, não é aquele super-herói já com aquela ideia, Super Homem, Mulher Maravilha. Não. Cada um criou o seu Super Homem, fez a sua fantasia, e foram combatendo essas inseguranças que nesse grupo especificamente apareceu. Então, o projeto acaba sendo uma linha principal que vai conduzir todas essas expectativas da área da criança que são necessárias perante os parâmetros e expectativas dessa faixa etária, mas que agregam muito essa curiosidade, esse interesse, esse olhar mais específico, qualquer criança está querendo saber. Eu acho que é isso.
P/1 – Existem projetos ou atividades extracurriculares para essa turma?
R – Extracurriculares é uma questão. Porque na realidade a gente tem uma questão com o espaço físico, então eu não posso ampliar muito essa questão das atividades porque às vezes a gente não tem onde colocar. Por exemplo, eu tenho para os pequenininhos Balé e Judô, são after school programs, os pais podem deixar os filhos, eles almoçam na escola, a gente troca, faz tudo e eles ficam lá. Mas de manhã, por exemplo, para os alunos que vêm à tarde, eu não tenho porque não tenho lugar em que isso possa acontecer. Isso é um pedido das mães, elas vira e mexe dizem: "Mas eu queria que tivesse isso, aquilo, Tênis, Capoeira". Mas eu acabo não conseguindo viabilizar muita coisa. Os pais têm esse interesse mas a gente ainda não tem ainda um local onde a gente pudesse ampliar mais. O que tem está lotado, que é o Balé e o Judô, está lotado. Eles adoram porque no Balé, todo final de ano, tem apresentação em teatro, tem ensaio, fantasia, enfim, eles acabam fazendo bastante, mas eu não tenho muita opção, não.
P/1 – E atividades fora de aula para os pequenos, tem saída, estudo do meio?
R – Nós temos. A gente começou esse ano a usar muito mais, a gente já usava, mas esse ano com mais intensidade o Parque Alfredo Volpi, que é o nosso vizinho, a gente brinca que é o nosso quintal. Então, eu comecei a levar até os pequenininhos de dois anos, eu não levei os de um, mas os de dois anos já vão para lá. Vão fazer piquenique, vão fazer um passeio, a busca de um urso, a gente fala que é um bear hunt, e assim vai. Dependendo da atividade, eles vão mais para esse Parque Alfredo Volpi que é como uma extensão nossa de sala. Agora, tem alguns passeios que são vinculados aos projetos, por exemplo, a partir dos três anos, eles começam a ter os passeios oficialmente, os field trips, que a gente chama. Então, no preschool three vai ter um projeto sobre under the sea, aí, a gente vai com eles até o aquário no Ipiranga, superlegal e tal. Ou a gente vai fazer um projeto voltado ao lado artístico sobre paintures. A gente vê alguma exposição que está tendo, algum museu que tem para gente visitar. E a gente vê que infelizmente no Brasil ainda tem uma quebra muito grande com a idade que as crianças podem frequentar o museu, ou uma exposição, porque eles ficam: "Mas é só crianças a partir de cinco, seis anos". Não lembro com qual, a gente teve que assinar um termo de compromisso, não sei se foi no MAM, que a gente se responsabilizava pelas crianças não danificarem nada, tal. Ainda tem um pouco dessa dificuldade dos pequenos entrarem em museu, mas a gente força. Assim, a Pinacoteca, alguma exposição. A gente vai agora ver a exposição “Água” na Oca que vai ter agora em dezembro. Em teatros nós vamos bastante, mas aí é em Português, a gente vai bem no perfil de peças teatrais do Teatro Alfa, que são companhias que fazem apresentações bem legais lá. E o que a gente não tem muito, que eu sinto falta, são espaços que se fale o Inglês em outros espaços que não sejam em escola. Foi criada agora um outro espaço agora que se chama Spice, e até a gente vai levar as crianças de quatro anos agora, que é o espaço para se brincar em Inglês. São professores que estão lá, eles fazem leitura, atividades, tem um espaço bem gostoso e a gente vai fazer uma experiência. Mas isso é uma coisa que a gente não tem muito aqui. Eu faço os field trips voltados ao projeto, a gente retoma em Inglês com eles quando volta, mas o espaço, durante o momento do field trip é em Português.
P/1 – E como é o processo de alfabetização deles? Que ainda é dentro da Educação Infantil.
R – Eles começam na Educação Infantil, na verdade a gente chama de “letramento”. Eles são formalmente apresentados ao letramento aos cinco anos de idade, e isso vai acontecer no período do Português. O letramento, a gente sabe que eles tendo contato com a leitura, com as letras, o pai lendo, eles já estão começando a ter esse processo de letramento, mas formalmente aos cinco anos a gente vai introduzir isso na Cultura Brasileira. Então, com quatro anos eles escrevem o nome deles, mas vai muito por reconhecimento. Por exemplo, o nome da menina é Fernanda: "Ah, essa letra também tem na letra do Flávio", vão fazendo pequenas associações que vão mobilizando um pouco mais esse brincar com as letras. Com cinco anos a gente entra com Português que é o primeiro ano que eles têm o Português na rotina deles. E no Português eles vão usar o nome que eles já escrevem com o primeiro alfabeto. “Ah, então, eu vou escrever feijão. Será que se eu olhar o nome da Fernanda, vai ter alguma letra que me ajude?” A gente formaliza o nome das letras, então, as crianças saem do preschool five sabendo o nome das letras, eles começam a fazer o levantamento de porte de escrita. Então, baseado em literatura, em lenda, em contos que a professora conta, eles vão tentar fazer uma reprodução do uso social da língua, que é isso que a gente quer. Quebra aquele tabu de cartilha, aquilo que a gente tinha antigamente, eu lembro da minha época de Santa Maria, eu lembro da minha cartilha do patinho, de não sei o quê, quebra completamente essa expectativa e eles começam a ter isso no social da língua. “Ah, vamos montar um projeto de feira. O que será que vai ter na nossa feira?” E o que vai ter na feira, eles vão tentar usar os nomes das palavras que eles já sabem para poder tentar escrever. Esse começa a ser um pouco o alicerce que está sendo formado para alfabetizar no ano seguinte, porque no primeiro ano se sistematiza alfabetização. Não que alguns alunos não fiquem, tem criança que sai alfabética, a gente fez uma sondagem agora, tem uns que estão alfabéticos, já. E não dá para falar, não se alfabetiza que é só no primeiro ano porque é maturidade, é o processo de decodificação, está montado já e ele consegue reestruturar isso. Mas é muito sutil. Antigamente não se tinha o momento da Cultura Brasileira, o preschool five era só de manhã ou só à tarde, tinham dois períodos e duas vezes por semana, a própria professora do Inglês abria o espaço para ter o Português. E era um trabalho feito muito em cima de histórias em quadrinhos, a Turma da Mônica, então, utilizava isso como um procedimento de aquisição de formalização de letramento. Após alguns anos, na época em que a Célia entrou, aí se tirou um pouco isso, colocou o Português separado do Inglês e não se tinha mais dois grupos de preschool five, era um grupo só e esse grupo ficava de manhã para ter Inglês imersão e à tarde tinha o Português. E aí começou esse processo da formalização do letramento no five. E a gente viu grandes crescimentos, as crianças chegando muito mais preparadas no primeiro ano, elas estão contando em Português, sabendo nome de letra em Português, elas estão já fazendo uma brincadeira maior em Português, coisa que antes eles não tinham, era mais diluído esse processo do Português.
P/1 – E se tratando com criança, como é a relação com os pais dessas crianças no dia a dia, nas reuniões?
R – Isso também eu diria, Fernanda, que é um diferencial da escola. Eu vejo que os pais se sentem muito acolhidos com isso na Educação Infantil. Os pais dos pequenos se sentem seguros, ou deixam os filhos seguros quando eles se sentem seguros. E eles depositam uma confiança muito grande em quem está tomando conta deles. Somos eu e as professoras. É aquela coisa, “Fui com a cara da professora, fui com a cara da Dani, vai dar tudo certo”. Agora, o que eu vejo muito é que eles têm uma entrada muito grande, isso a Guida sempre deixou muito claro e sempre foi assim, mesmo quando a escola era pequena. Essa entrada dos pais na rotina das crianças, de deixar as crianças dentro da sala de aula, a escola sempre teve os visores espelhados nas salas de aula e que fazia com que os pais se sentiam acolhidos em dar uma espiadinha na entrada ou saída, isso também tranquiliza o pai. Eu lembro uma vez que eu queria colocar uma porta na entrada da Educação Infantil e a Guida falou: "Ah, Dani, não vamos colocar porque senão vai dar a sensação de que a gente está barrando os pais, e eu não quero essa sensação". É um pouco dessa linha, da rotina que os pais entram e acho que é um pouco dessa linha dos pais se sentirem assim, dar um telefonema e dizer: "Dani, dá uma olhadinha no meu filho para ver se ele tá bem porque ele não dormiu direito à noite". A gente tem essa disponibilidade de dar essa olhadinha, ver se está tudo em ordem, ou a própria professora liga e diz: "Olha, ele não tá muito legal hoje, tá muito chorando", então, eles se sentem muito confiantes nos profissionais que estão cuidando dos filhos dele. E lógico, eles acreditam também no Inglês, eles sabem que tem um diferencial, mas eu vejo um pai de Educação Infantil com uma necessidade muito grande de ter essa confiança de “quem é esse profissional que toma conta do meu filho, que é a coisa mais preciosa que eu tenho”. É nessa linha que eu vejo, mas é uma parceria muito grande, tanto em momentos informais, de diariamente eles entrarem e saírem, passar pela minha sala, conversarem, darem um recadinho ou alguma coisa, como em momentos formais. Nesses eventos que a gente tem, os pais são superenvolvidos, eles vão, a gente tem uma experiência muito grande de pais que frequentam Dia das Mães, Dia dos Pais. Eles adoram. No final do ano a gente tem um evento que é da entrega do scrapbook, é um álbum, acho que eu mostrei para você, né? É aquele álbum de recordação que a gente monta, chama Preschool Memories, é um álbum que é montado desde o começo do ano até o final, então, tem uma entrega no final do ano, tem esse dia que os pais vão para sala de aula, a Book Fairy, que uma professora fantasiada vem de fadinha para entregar esses scrapbooks. É um evento que eles curtem bastante, mas sempre eventos muito singelos e pequenos, nada de superprodução. A gente vê que traz uma parceria com a escola e os pais se aproximam mais dos filhos.
P/1 – E como é que são os primeiros dias das crianças na escola?
R – A adaptação?
P/1 – É.
R – Ah, você precisa ir lá um dia para ver como é que é (risos). Vai no ano que vem, em fevereiro. É bem intenso, é bem intenso.
P/1 – Porque é tanto para os pais quanto para as crianças.
R – Muuuito, eu digo para vocês que mais para os pais do que para as crianças, principalmente os pequenininhos. É um processo que eu comecei a fazer já antes de acabar o ano. Eu começo a preparar esses pais para o que eles vão enfrentar quando entrar o ano seguinte. Então, eu faço uma pequena reunião no final do ano, individual, com cada pai, para os pais me contarem um pouco dessa criança, me darem dicas do que é importante a gente saber dessa criança antes de começar a aula. E aí, eu entrego um texto para eles, e conto um pouquinho de como vai ser esse processo de adaptação. E eu sempre começo não pelo pior, mas falo: "Olha, pode acontecer isso, pode acontecer aquilo, é normal". E é muito interessante porque, quando a gente fala isso, já prepara o pai. Se acontece alguma coisa lá na frente, "Ai Dani, ainda bem que você me falou, porque senão eu ia achar que tinha alguma coisa errada". A gente acaba preparando para o pior porque a hora que chega, mesmo que não fique, está tudo bem. Mas é uma reunião superimportante porque os pais trazem, eu consigo perceber um pouco, as angústias, inseguranças, ou expectativas que o pai tem com relação à escola. Daí, no ano seguinte, antes de começarem as aulas, eles têm um encontro com a professora que vai ser a professora da sala do filho dele. Aí, também eles adoram, a gente monta um vídeo, o antes e o depois de uma adaptação. A gente pegou vários, tipo um mini Museu da Pessoa, vai. A gente pegou algumas memórias de como era esse processo de adaptação, aquela bagunça de criança chorando, mãe chorando, monte de gente na sala, aquela loucura toda, e daí a gente mostra esse mesmo grupo e essa mesma criança depois da adaptação, fazendo atividades, superfeliz, dando risada, brincando, correndo. Então, a gente mostra um pouco nessa reunião esse processo do que vai acontecer. E também é legal porque eles conhecem as professoras, querem ver a carinha delas, fazer várias perguntas: "Como é que eu tiro a fralda, como é que eu não tiro a fralda, como é que é mamadeira". Coisas que são importantes e fazem parte da rotina, mas eles não têm noção. Então, também é legal. E aí, a gente começa a acompanhar bem de perto, passo a passo esse processo de adaptação deles. Eles ficam um tempinho na escola, uma hora e meia no primeiro dia, daí eles vão embora, e a mãe fica junto, sempre tem um dos responsáveis na sala com eles. Aí, tem o segundo momento que a gente começa a perceber que a professora vai assumir a criança, mas a mãe está lá ainda visualmente para o filho. E, a hora que a gente vê que a criança pegou vínculo com alguma das professoras, a gente começa a fazer a retirada da mãe. Mas esse ponto da retirada, ultimamente tem sido bem tranquilo, as mães já estão bem confiantes na gente, estão vendo que o filho está bem e ficam mais tranquilas. Mas eu digo para você, é um desafio tão gratificante no final, para as professoras então, elas não acreditam. Porque às vezes a gente tem que adaptar vinte crianças ao mesmo tempo, então, tem todo um planejamento, um mapeamento, tudo o que a gente faz antes da adaptação para gente conseguir efetivar isso na hora. É um quebra-cabeça lá que a professora tem que ir montando e a gente vai falando: "Puxa, quem vai adaptar primeiro, quem vai fazer isso primeiro, que mãe está mais tranquila?". A gente faz todo um estudo do grupo (risos).
P/1 – E tem algum pré-requisito para a entrada na escola?
R – Olha, só tem que estar andando. A gente brinca assim: "Ficou de pé, assoprou e não caiu pode ir". A palavra toddler quer dizer andar já meio cambaleando um pouquinho, mas já está firminho. Então, esse que é o pré-requisito para entrar na escola. A gente tem um grupinho dos bem pequenos, toddlers one, que são grupinhos de crianças de um ano e dois meses, que já andam, mas a gente dividiu. Tem o toddlers one, esses pequenininhos, o toddlers two que são crianças que completam dois anos no início do ano, até julho. A gente dividiu um pouco para não ficar tão pequenininho e tão grande, porque nessa faixa etária tem uma diferença grande, mas deu supercerto, eles são uns fofos.
P/1 – E como funciona a agenda? É um meio de recado para os pais?
R – A agenda é um meio de comunicação. Às vezes, elas mandam recados sobre projetos, algum dia especial que vai ter que levar alguma coisa, algum brinquedo, alguma coisa, tudo isso vai na agenda. Se tem alguma coisa que acontece fisicamente com a criança elas ligam. Ah, ralou o joelho, ou bateu a cabeça, a gente liga na hora, ou alguma coisa um pouquinho mais séria, mas tem uma comunicação bem imediata. E até mesmo para gente ver: “Ah, preciso ver quem está autorizado a buscar essa criança”. Então, a gente dá uma ligadinha. Hoje mesmo aconteceu um fato que a mãe falou: "Dani, eu não acredito que você lembra". Tinha uma babá desse menino de três anos, que foi uma babá dele há uns dois anos atrás, aí, essa babá saiu e agora, hoje, essa babá voltou. Só que a mãe não avisou para gente que essa babá voltou. Só que na cabeça dela, é uma babá conhecida, já. Eu vi a babá e pensei: "Puxa, ela voltou, mas será que ela voltou mesmo?". Eu liguei para mãe e falei: "Olha, a Helga voltou aqui para escola?". Ela falou: "Dani! Como é que você lembra da Helga!? Ela voltou, eu esqueci de te falar!". Pequenos detalhes que individualizam muito, essa mãe se sente acolhida, ela fala: "Puxa, ela tá lembrando o nome da babá, ou tá sabendo que ela é uma babá minha antiga". Como a gente tem muito essa convivência na escola, a gente acaba aprendendo, acaba vendo, porque você vê todo dia, você conhece todo dia. E isso eu vejo que a Guida quer preservar muito, de não ampliar muito numa proporção que você perca a identidade daquela família. Isso eu acho que é um diferencial dos pequenos também.
P/1 – Quais foram os seus maiores desafios na PlayPen?
R – Olha, eu vejo assim, os momentos mais marcantes que eu vejo para mim na PlayPen foi na minha entrada, que eu estava nesse dilema: "Meus Deus, o que eu faço?", que acho que tinha esse ano bem decisivo para mim, e esse momento de eu assumir uma coordenação, que foi muito significativo. Eu estava muito segura, mas ao mesmo tempo foi um marco para mim, iniciar e ser responsável por esse departamento, ter uma equipe comigo e ter esses pais que realmente tinha que fidelizar, esses pais sob minha coordenação. Tudo isso foram dois marcos muito grandes para mim. Eu sou mãe também na escola, minhas duas filhas estão lá desde pequenininhas, e eu vejo o quanto elas cresceram no desenvolvimento do Inglês, eu tenho parentes e sobrinhos que não falam Português, elas têm que usar o Inglês como meio de comunicação e eu vejo que está excelente. E também nesse processo delas do crescimento social, emocional, desses valores que elas estão construindo, eu me sinto muito realizada como mãe, e gostaria muito que isso continuasse até o final do segmento delas na escola. Mas com certeza isso está fortalecendo demais. Agora, eu acho que esses dois marcos, a minha chegada e essa minha transição de posição foram dois marcos importantes na escola.
P/1 – E falando de futuro, como é que você vê a PlayPen daqui a cinco anos?
R – Ainda bem que você falou cinco (risos). Com relação a número de alunos, e eu vou falar um pouco do meu segmento. Eu acho que a gente chegou no limite de expectativa com número de alunos, pelo menos dentro da percepção que a gente sempre teve, não dá para crescer mais. Agora, eu vejo muito uma questão com relação ao espaço físico, acho que a gente tem que tentar buscar novas coisas, novos espaços onde a gente possa viabilizar outros momentos com esse grupo. Agora, com relação a número de alunos, eu não vejo crescendo muito mais não (risos), pelo menos pelo que eu saiba não é essa a ideia daqui cinco anos, mas talvez o espaço, um pouco mais amplo. Não um espaço diferente, mas ampliar um pouco mais esse espaço, eu vejo a escola, daqui cinco anos, nessa linha e que mais...
P/1 – E o seu papel na escola?
R – (risos) Ah, o meu papel. A gente sempre quer, a gente sempre vai buscando mais. O que eu acho que é o mais difícil é assim, "Aonde você quer, aumentar o seu papel ou mudar o seu papel?". Eu me vejo na PlayPen daqui cinco anos, eu me enxergo lá. Eu não sei se na Educação Infantil, não sei, mas eu me vejo na PlayPen daqui cinco anos. Pelo menos eu estou fazendo parte dessa equipe, eu vejo assim.
P/1 – Voltando um pouquinho mais para o seu lado pessoal. Você falou que casou. Quem é seu esposo, como é que vocês se conheceram?
R – Ah, essa é uma longa história, viu? É história que todo mundo gosta de ouvir. O meu esposo, eu conheci na natação, por isso que eu contei para vocês que eu tinha trauma da natação, porque eu nadei muitos anos na minha vida e com treze anos eu travei. Eu falei: “Eu não quero mais, não vou nadar muito mais”, e parei de nadar. Não entrava mais em piscina, ia para praia pôr o pezinho e só. Aí, com vinte anos, um dia eu estava jantando na minha casa e da sala de jantar dá para ver a Avenida que dá para fora do meu prédio, e tinha uma academia abrindo lá. Eu olhei para aquela academia e falei: "Pai, eu vou voltar a nadar". Eu lembro que ele estava comendo, ele parou e falou: "Que você vai voltar a nadar, Dani? Mas com essa idade?". Eu falei: "Pai, eu quero voltar a nadar para dar uma treinada só, uma brincada", e fui para essa academia. Fui lá, o coordenador falou: "Você tem que fazer um teste. Você sabe nadar?". "Sei." (risos). Ele me pôs lá, eu desci e ele me colocou com o professor para fazer um teste comigo. E aí, o meu professor era o meu marido (risos). Ele fez um teste comigo e, na época, nós dois éramos noivos, eu namorava há muito tempo, ele namorava há muito tempo, eu estava na faculdade ainda, ia acabar a faculdade, ia casar, e a gente ficou uns bons anos assim, eu entrei para o treinamento da academia, ele era o técnico, eu treinava, nós éramos amigos e ele estava com a noiva dele. E aí, eu acabei de me formar, me formei com vinte e dois anos, eu acabei com meu namorado nas vésperas do casamento, não quis saber. Mas nada, ainda continuei amiga dele, e ele ainda noivo. Depois de alguns meses ele também acabou e nós começamos a namorar. E depois de dois anos nós noivamos, casamos, e ficamos juntos. Estamos juntos há quinze anos, já. E foi muito engraçado porque foi uma sintonia, assim, como a gente ficou muito tempo se conhecendo ou só como amigos enfim, e depois de um tempo a gente ficou junto. E os dois para casar com outros, os outros se foram e a gente ficou junto. Mas foi muito legal. Ele é engenheiro formado, trabalhou muito tempo em multinacional, mas gostava muito de esportes, ele era triatleta, adorava se dedicar a isso. Aí, ele fez Educação Física, se formou e trabalhava um pouco com Engenharia e um pouco com Educação Física, tentava mesclar um pouco essas duas coisas. Depois de alguns anos, o pai ficou muito doente, ele acabou assumindo e ajudando bastante o pai no trabalho, mas continuava com Educação Física. Então, treina gente que é workaholic para fazer maratona, personal de pessoas de mais idade, ele acabou se aprimorando mais nessa área. E a gente se dá muito bem, eu sou suspeita para falar dele, mas ele é uma pessoa muito especial, e nós somos superamigos, temos oito anos de diferença, ele é oito anos mais velho do que eu, mas não parece, acho que nunca vai parecer porque a gente tem uma sintonia muito grande e ele é meu parceiro em tudo (choro).
P/1 – E qual é o nome dele?
R – Humberto.
P/1 – E como é que foi o casamento?
R – Ah, o casamento foi lindo, né (choro). Era a primeira filha, aquela coisa de primeira filha, primeiro casamento, e a minha irmã, que é aquela minha irmã quinze anos mais nova, foi a nossa daminha de honra também. Ela tem a idade da minha filha hoje, eu falo, nossa, ela foi a daminha. Mas foi lindo, foi supersingelo. Eu tenho um episódio engraçado do meu casamento porque eu fui para o cabeleireiro e eu fui com o motorista que ia me levar para casa da minha vó para me trocar lá. Eu me troquei, saí de véu e grinalda, roupa normal, mas véu, grinalda, e quando ele foi ligar o carro, o carro não funcionava. Eu falei: "Seu Paulo, e agora, o que a gente vai fazer?". "Ai, não sei, não sei." "Pera aí, seu Paulo, eu vou pegar um táxi." Eu saí no meio da Rua Mario Ferraz, com véu, grinalda, com roupa assim, maquiadinha, peguei um táxi, entramos eu e o motorista no táxi e o taxista então, emocionado, não se conformava: "Mas como é que a senhora está no meu táxi? Uma noiva no meu táxi! Eu nunca peguei uma noiva no meu táxi!". Eu fui contando para ele, ele superemocionado, aí, chegamos na casa da minha vó, eu já fazendo o cheque e ele: "Não, não, não. A senhora não vai fazer o cheque, isso é o meu presente de casamento para senhora. A minha rodada até a casa da sua avó foi o meu presente de casamento, e boa sorte!". Ele estava superemocionado, foi muito engraçado. Mas foi ótimo, aquele casamento tradicional, fomos na igreja, depois teve a festa, a lua-de-mel nós fomos viajar para fora. Muito gostoso. Aí, fiquei cinco anos sem ter filhos, a gente queria curtir, a gente gostava de viajar muito, então a gente viajava e não queríamos ter filho. Eu fui ter a minha primeira filha com trinta anos, e acho que foi uma idade ótima também porque dá para você curtir, dá para aproveitar, fazer o que você quer, ver se é com ele mesmo que você quer ficar (risos). Porque também tem isso, filho não segura marido, então, é bom ter certeza que é com ele que você quer ficar. Aí, eu tive a minha filha com trinta e a outra com trinta e quatro, elas nasceram na mesma época, as duas em julho. Completamente diferentes, uma é canceriana, a outra é leonina, mas elas são muito especiais também.
P/1 – E como é que foi ser mãe trabalhando com criança?
R – Ahhh, foi ótimo, foi ótimo. Primeiro, porque na época que a Helena nasceu eu conseguia conciliar, eu estava ainda com uma carga horária um pouco diferente, Na escola eu conseguia conciliar um pouquinho, voltar um pouco mais cedo para casa. Não é que eu chegava em casa às seis, sete horas da noite, dava para eu conciliar bem, tinha uma pessoa ótima que me ajudava, minha mãe morava do lado da minha casa, então, dava para conciliar. Quando a Sofia nasceu já foi um pouco diferente porque eu já estava na Educação Infantil, já estava ajudando na coordenação, então, já estava num outro momento. Mas também já era a segunda filha, a gente já está mais tarimbada, dá para conciliar mais. E aí, tem a ajuda das pessoas. A minha mãe me ajuda demais também com as minhas filhas, minha mãetorista que vira e mexe pega minhas filhas, leva para o clube, vai para isso, vai para festa. Ela me ajuda demais porque na minha rotina, às vezes, é difícil sair da escola o tempo inteiro para conciliar com a rotina delas, então minha mãe me ajuda bastante. Agora, não me sentia sufocada, me sentia muito tranquila, amamentei minhas filhas nove meses, lógico que eu entrava com papinha, com isso, mas fazia questão de dar amamentação, tinha leite, então, montar um esquema que eu conseguia conciliar isso, né? E foi sempre muito tranquilo, elas respeitam demais o meu trabalho, sabem que eu trabalho demais, mas também tem os momentos que eu largo o trabalho para ficar com elas, final de semana, momentos que a gente curte, viagens que a gente faz. Então é bem gostoso. Elas respeitam o meu trabalho, elas sabem que a mãe que trabalha na escola, minha escola, que às vezes mal vê, mas que está lá. Elas respeitam bastante.
P/1 – E como é que foi a opção de colocar as meninas na PlayPen?
R – Olha, eu não tinha muita opção, para mim já era tão natural, eu tinha certeza que minhas filhas iriam estudar lá. Foi bom porque eu fiquei um bom tempo sem ter filho e conhecer exatamente qual era a proposta da PlayPen, porque, na hora que minhas filhas nasceram e a primeira foi, eu já tinha certeza que era lá que eu queria. No começo, antes de eu conhecer a PlayPen, eu falava: "Puxa, eu fiz escola Waldorf, minha filha vai para Escola Waldorf". Mas meu marido, não teve muita opção com meu marido, "Não, não, não. Waldorf, não". Até porque tinha uma questão de logística, de ser mais longe, e ele também não conhecia a proposta, não achava que elas tinham que ir. E ele sempre tinha muito essa questão de: "Ah, minha filha tem que estudar em colégio forte, tem que estar em colégio que prepare". E ele acabou quebrando um pouquinho esses paradigmas que ele tinha com relação à Educação. Ele falou: "Tudo bem, a PlayPen é um excelente colégio, não é forte que nem o Bandeirantes" que ele fez, nessa percepção de ser forte, mas está preparando as filhas dele para vida, e trazendo conteúdo, que é fundamental para elas, como se estudassem em qualquer outra escola. Ele também é o maior marqueteiro da escola, fala superbem, fica bobo de ver o Inglês delas porque ele não fala nada, muito pouco, e elas falam tudo. Nessa questão da escolha para mim era muito tranquilo e eu acho que eu precisei fazer só o trabalho dele conhecer um pouco mais a PlayPen para que ele se sentisse seguro dessa opção paras filhas dele. Agora, para mim, eu não tinha dúvida. Eu via minhas filhas lá no Play, com Inglês. Mesmo porque no meu lado familiar acabou acontecendo de eu ter familiares, mesmo do meu marido, que casaram com americanos, que moram nos Estados Unidos, que acabam não tendo muito contato com o Brasil e que a gente tem que ter um contato maior com o Inglês. Então, conciliou um pouco esses dois lados, da educação e do Inglês.
P/1 – E falando de escolhas de escola e tal, como é que você compararia as escolas que você estudou, Santa Maria, um pouquinho mais tradicional, a Waldorf, com a PlayPen?
R – Olha, eu não vejo o Santa Maria dentro dessa percepção, é muito diferente. Eu vejo um pouco de Waldorf, sim, e eu procuro, às vezes, tentar resgatar um pouquinho. Por exemplo, a assessora de Artes que nós temos na Educação Infantil há mais de oito anos, ela foi professora da Waldorf por muitos anos. Foi muito legal, quando eu assumi a coordenação, já havia isso com a outra coordenadora. Mas o fato de eu ter entrado também fortaleceu ainda mais. Então, toda essa proposta de formação continuada com os professores, essa proposta de ver esses projetos que eu construí junto, o Eco Arte, o projeto literário, a visão do scrapbook, vem um pouco da essência da Pedagogia também, desse lado da motricidade, do imaginário. Agora, tem questões que fogem do padrão Waldorf, porque lógico, não é uma escola Waldorf, não é a filosofia, mas eu diria para você que principalmente nessa área das Artes Plásticas e Artes Gráficas, que é uma essência muito forte com os pequenininhos, eu acho que a Teresa, que é a assessora de Artes, consegue fundamentar mais a nossa prática vinculada a essa prática do imaginário que a Waldorf traz, eu acho.
P/1 – Qual você considera a sua maior realização na escola?
R – Nossa, são tantas... Olha, eu acho que quando eu entrei na coordenação da Educação Infantil eu acabei trazendo algumas novas ideias, você acaba inovando coisas, coisas que não aconteciam, acabam acontecendo. Esses eventos que eu fiz, acho que foram grandes conquistas para mim. Esse ano, no começo do ano, a escola sempre teve o Congresso Brasileiro Bilíngue, e eu sempre fiquei com aquela vontadezinha de fazer um congressozinho para Educação Infantil, para profissionais da Educação Infantil. Chegou esse ano, eu cheguei para Guida e falei: "Guida, eu tô pronta para fazer um congresso, quero fazer um congresso". E a Guida me deu carta branca: "Vai em frente, vê o que você quer, o que vai fazer". E eu comecei a desenvolver esse projeto sozinha no primeiro semestre, e em julho a gente fez o Primeiro Congresso de Educação Infantil para Professores Bilíngues chamado “Step, Sharing Teaching Experience in Preschool”, esse era o logo do congresso. Foram duzentas pessoas que vieram para o congresso, na sua maioria professores de outras escolas de São Paulo, outras de outras cidades. Convidei alguns estrangeiros para participarem também, mas foi uma graaaande realização minha também, um marco para mim também. E acho que isso a Guida alimenta muito, porque você vem com as ideias, as propostas, e ela fala: "Vai". Ela te dá essa abertura para você conseguir conquistar esse espaço, então, essas conquistas que eu fiz, os eventos que a gente acabou criando, eu acho que foram marcos muito importantes para o meu crescimento profissional na escola. E sempre essa reciclagem, junto com o Mister French, que eu acho que me nutre muito com essa proposta do bilinguismo, esses cursos de formação que a gente faz, isso te acrescenta muito na sua essência de educadora bilíngue. Isso eu acho que a gente nunca pode parar, a gente tem que estar sempre com essa essência: "Eu quero aprender mais, eu quero saber mais, eu quero trocar mais, eu quero conhecer mais". Isso é superimportante, é fundamental. Acho que em qualquer profissão, né, isso é superfundamental.
P/1 – E como é que você avalia o impacto da PlayPen na sua vida pessoal, profissional?
R – A PlayPen fez parte da minha vida em muitos momentos, ela fez parte da minha vida quando eu casei. Quer dizer, eu comecei a trabalhar eu já era casada, mas acho que ela acabou andando paralela com a minha vida privada, eu acho que muitas das coisas da minha vida privada eu acabei delineando, traçando, em função da PlayPen, e vice-versa. Então, ela sempre fez parte da minha vida, acho que ela sempre teve esse envolvimento, eu sempre coloquei a PlayPen como parte minha. Quer dizer, eu vou tomar uma decisão, vou fazer uma viagem, isso está agregado à escola, mas eu sempre coloquei as duas coisas muito próximas. Em alguns momentos até próxima demais, às vezes eu extrapolava no trabalho, aquela coisa de ficar trabalhando... Eu sempre vi essas duas coisas muito integradas para mim, a minha vida pessoal e a minha vida profissional. Agora, isso também, acho que depois de casada com duas filhas, acho que também se conta muito com a família que você tem (risos). Porque, às vezes, você tem um marido que fala: "Não, você vai largar, você não vai fazer isso, diminui sua carga horária". E eu não vejo isso nem um pouco no meu marido, ele me estimula demais e me fortalece muito nessa área profissional, então acho que isso também me ajuda, nesse lado isso me ajuda também.
P/1 – Quais foram seus maiores aprendizados na PlayPen?
R – Eu acho que primeiro essa questão de você saber ser um educador, saber mediar questões de conflito, você saber olhar essa criança além dessa coisa de "Puxa, uma criança inteligente, uma criança que tem dificuldade, que tem problema". Não. É um ser e a gente precisa ver como interpretar isso e como a gente conduz esse crescimento da criança. Isso eu acho que é uma coisa muito importante que eu aprendi lá. Eu acho que esse enriquecimento maior sobre o bilinguismo, que eu já conhecia muito na teoria e através de estudo, mas acho que a prática de lá e o network que a gente tem na própria escola, com os profissionais da escola, de como a escola conduz o bilinguismo e sendo pioneira em bilinguismo, acho que me acrescentou bastante, e ainda vem sempre acrescentar, mas eu acho que isso foi uma coisa que me acrescentou bastante. E eu acho que você aprende muito, e é uma coisa que eu aprendi muito, a situação da convivência, no seu espaço de trabalho, que também é superimportante. O como você convive, como você é respeitado, como você troca ideias, acho que a PlayPen me ensinou bastante, como a gente conduz para que você atinja os resultados mas saiba conviver com esse espaço de uma forma harmoniosa, que eu adoro trabalhar lá, é muito gostoso. Eu digo assim, pelos parceiros que você tem, com quem você tem que conversar todo dia, com quem você tem que conviver todo dia, olhar na cara todo dia. Se você não está em um espaço que você se identifica, isso fica um martírio para você e isso não dá para ter num espaço de trabalho. E eu vejo isso também como um ganho.
P/1 – Para encerrar, eu queria perguntar para você o que você achou dessa história da PlayPen registrar e comemorar os trinta anos através de um projeto que resgate um pouco a memória dos colaboradores da PlayPen?
R – Eu achei muito interessante. Eu achei muito inovadora porque, sinceramente falando, eu não conhecia o trabalho de vocês da forma como eu estou conhecendo. Eu estou encantada. É inovador, eu não acho que muitas pessoas tenham essa percepção, quando pensa em livro da escola, pensa: "Ah, vou colocar lá as fotinhos das pessoas, como é que a escola começou, como foi o desenvolvimento, como acabou", mas não resgata essa essência da memória. Eu estava assistindo a um filme nesse final de semana e aí, tinha um dizer que aparecia uma hora que falava assim: "A vida é feita de memórias". E acho que é fundamental você até compreender melhor a história da PlayPen se você conhece até um pouco melhor a história de quem está na PlayPen. Eu achei muito legal essa ideia. Para mim está sendo uma superaprendizagem, toda vez que tem reunião eu falo: "Oba, o que será que vai ter dessa vez?" (risos). Coisas novas. Aquela linha do tempo que vocês fizeram que situa bem, mas como vocês elaboram para chegar a essa linha do tempo. Muuuito legal, muuito interessante. Esses relatos, acho que acrescentam e fazem um diferencial, eu diria, da proposta de outros livros. O nosso vai ser "o" livro, "o" relato (risos).
P/1 – E para terminar, o que você achou de vir para cá para o Museu dar essa entrevista?
R – Ah, eu achei ótimo (risos). Porque essa ideia, primeiro porque é gostoso a gente sair um pouco daquela rotina e fugir um pouco para falar da escola, tudo vinculado, mas vir para cá, achei ótimo, acho que também traz um pouco dessa... Porque se a gente estivesse na escola fazendo isso, com certeza o telefone já teria tocado umas quatro vezes, professora, teria aparecido umas cinco perguntando alguma coisa (risos), você não tem aquela tranquilidade de fazer um relato como quando você sai desse espaço. Superlegal, supergratificante.
P/1 – Então, antes de encerrar, eu gostaria de saber se você quer deixar mais alguma coisa registrada, se você tem mais alguma coisa para falar que a gente não tenha perguntado.
R – Não, não, acho que falei bastante, não sei nem quanto tempo eu falei. Eu acho que é bem isso, a PlayPen, para mim, ela não é o espaço meu de trabalho, não é aquela coisa assim que você diz “É lá que eu trabalho”. Acho que ela foi mais do que isso para mim, ela acabou me trazendo ganhos em outros aspectos de sentimento, de emoção como pessoa, de relacionamento, de outras percepções que, talvez se eu estivesse em uma escola mais tradicional e que fosse só o working place, talvez não tivesse. Às vezes, eu fico me perguntando, o que será que me fez, nesses anos todos de escola na PlayPen, que talvez se eu estivesse em outro espaço como teria sido isso. Será que essa repercussão, esse meu envolvimento, esses meus desafios que eu tentei buscar na escola, será que teriam sido os mesmos, ou não? Às vezes me pega um pouco isso, até que ponto a PlayPen, com qual força veio isso que me fez mudar como pessoa, isso eu vejo. Tem muita coisa que eu cresci pela escola, como pessoa, mas pelo meu lado profissional. Então, é isso.
P/1 – Tá certo, Daniella. Em nome do Museu da Pessoa e da Escola PlayPen a gente agradece a sua presença aqui no Museu para essa entrevista.
R – Obrigada, Fernanda! Obrigada vocês por terem me ouvido (risos).
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