Projeto Memória Vale do Rio Doce
Depoimento de Romeu do Nascimento Teixeira
Entrevistado por José Carlos e Karen Worcman
Local da Gravação: Rio de Janeiro
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CVRD_HV001
Transcrito por: Ronaldo Ventura Souza
Revisado por: Nataniel Torres
[Fita 1/Lado A]
P/1 - Então, Projeto Memória Companhia Vale do Rio Doce Fundação. Entrevista com o senhor Romeu do Nascimento Teixeira, dia 27 de março de 2000. Projeto do Museu da Pessoa, entrevista número 001, entrevistado pelo Zé Carlos e Karen.
P/2 - Só um minutinho.
P/1- ______________ (riso) Vamos fazer uma claquete básica, viu. ____________.
P/2 - ________________________________
P/1 - Uma base para fazer cinema em ____________.
P/2 - Ah, tá (pausa) os detalhes técnicos. (riso)
P/1 - Detalhes técnicos, sua primeira entrevista.
R - Que isso, agora tem que ser, é isso mesmo. (pausa)
P/2 - Então Romeu, a primeira pergunta que eu gostaria de fazer para o senhor é só: o senhor se apresentar, nome completo, data de nascimento e o local de nascimento.
R - Meu nome é Romeu do Nascimento Teixeira, eu nasci no dia 2 de dezembro de 1933, na cidade de São João del Rei/MG.
P/2 - E os pais do senhor, a atividade deles e nome?
R - É, meus pais, meu pai chamava José e minha mãe Julieta. Meu pai tinha uma fábrica de tecido em São João del Rei, era uma cidade que tinha várias fábricas de tecido, e ele era dono e gerente da fábrica.
P/2 - Ele foi para São João del Rei em função disso?
R - Ele foi para São João del Rei em função disso, trabalhando, meu avô também trabalhou nessa área de tecidos com os Guimarães, que até hoje estão na área de tecido, Ferreira Guimarães, que tinham fábricas em Seada da Cachoeira, em Oliveira e em São João del Rei, naquela época, além de outros lugares, mas no roteiro da família esteve nesses lugares.
P/2 - E a origem da família mais remota que o senhor conhece, qual é?
R - Eu não tenho muito...
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Depoimento de Romeu do Nascimento Teixeira
Entrevistado por José Carlos e Karen Worcman
Local da Gravação: Rio de Janeiro
Realização Museu da Pessoa
Entrevista: CVRD_HV001
Transcrito por: Ronaldo Ventura Souza
Revisado por: Nataniel Torres
[Fita 1/Lado A]
P/1 - Então, Projeto Memória Companhia Vale do Rio Doce Fundação. Entrevista com o senhor Romeu do Nascimento Teixeira, dia 27 de março de 2000. Projeto do Museu da Pessoa, entrevista número 001, entrevistado pelo Zé Carlos e Karen.
P/2 - Só um minutinho.
P/1- ______________ (riso) Vamos fazer uma claquete básica, viu. ____________.
P/2 - ________________________________
P/1 - Uma base para fazer cinema em ____________.
P/2 - Ah, tá (pausa) os detalhes técnicos. (riso)
P/1 - Detalhes técnicos, sua primeira entrevista.
R - Que isso, agora tem que ser, é isso mesmo. (pausa)
P/2 - Então Romeu, a primeira pergunta que eu gostaria de fazer para o senhor é só: o senhor se apresentar, nome completo, data de nascimento e o local de nascimento.
R - Meu nome é Romeu do Nascimento Teixeira, eu nasci no dia 2 de dezembro de 1933, na cidade de São João del Rei/MG.
P/2 - E os pais do senhor, a atividade deles e nome?
R - É, meus pais, meu pai chamava José e minha mãe Julieta. Meu pai tinha uma fábrica de tecido em São João del Rei, era uma cidade que tinha várias fábricas de tecido, e ele era dono e gerente da fábrica.
P/2 - Ele foi para São João del Rei em função disso?
R - Ele foi para São João del Rei em função disso, trabalhando, meu avô também trabalhou nessa área de tecidos com os Guimarães, que até hoje estão na área de tecido, Ferreira Guimarães, que tinham fábricas em Seada da Cachoeira, em Oliveira e em São João del Rei, naquela época, além de outros lugares, mas no roteiro da família esteve nesses lugares.
P/2 - E a origem da família mais remota que o senhor conhece, qual é?
R - Eu não tenho muito conhecimento da árvore genealógica da minha família não, mas, é, meu avô, ele era espécie assim de contador, guarda-livros, assim, de fazendas, de pequenas indústrias, no interior de Minas Gerais, né?
P/2 - E o senhor passou toda infância em São João mesmo?
R - Eu passei a infância em São João del Rei, estudei em colégio interno, depois como eu tinha 12 irmãos, era preciso descarregar um pouco, meu pai matava alguns para colégio interno, e eu estudei quatro anos num colégio interno perto de Ouro Preto, Cachoeira do Campo, e depois fiz a faculdade em Belo Horizonte, quando eu já estava terminando a engenharia, meu pai vendeu a fábrica em São João del Rei e transferiu-se para Belo Horizonte, e, então, eu praticamente vivi pouco tempo em Belo Horizonte. Depois me mudei, já me formei e fui trabalhar no meu primeiro emprego como engenheiro. Naquela época, era época do Juscelino como presidente da república, e da faculdade lá em Belo Horizonte 90% foi trabalhar em construção de estradas, que era a tônica do Juscelino e eu fui trabalhar no DNER, na construção da rodovia Belo Horizonte-Brasília, morando também numa cidade antiga, tradicional de Minas Gerais que é Paracatu, a última cidade de Minas antes de entrar em Goiás e trabalhei lá desde o princípio da construção até terminada, quando fui convidado para vir para a Vale do Rio Doce, foi um convite que teve conseqüência desse primeiro emprego, porque um diretor, um dos diretores dessa comissão especial que construiu a estrada foi chamado para vir para a Vale do Rio Doce, não era da equipe da Vale, foi pelo então presidente da Vale do Rio Doce, Sá Lessa, e chamou dois engenheiros que trabalhavam lá na construção da Belo Horizonte-Brasília para vir para a Vale do Rio Doce, eu fui um deles.
P/2 - A decisão de o senhor fazer Engenharia, como é que foi, como é que surgiu isso para o senhor?
R - Não tem nada especial, a não ser que eu gostava muito de matemática, eu me dava bem nos estudos na área de matemática e na época, quase não tinha muitas alternativas de profissão, lembro, não existia economia naquela época. As próprias atividades de engenharia eram concentradas na engenharia civil, o engenheiro era um administrador, não devia, não existia nem faculdade de administração de empresas de porte, o engenheiro era tudo e é o que realmente a gente foi mesmo, naquela época, durante muitos anos, acabou sendo administrador, né?
P/2 - E o curso de engenharia, ele correspondia um pouco a isso?
R - Era engenharia civil, só para dar exemplo a escola tinha uns, formaram 110 engenheiros naquele ano, em 1957. 95 eram engenheiro civil, cinco eletricidade, cinco mecânica e, sei lá, uns dois ou três geologia, só isso que eram, quase a totalidade era engenharia civil e que depois foi se especializando. A engenharia civil praticamente desapareceu também, agora só tem engenheiro especializado.
P/1 - Agora, seus irmãos e todos também fizeram curso superior, estudaram?
R - Vários diversificaram. Tenho um irmão que foi da marinha, um irmão bancário, outro advogado, economista. Eram oito homens na minha casa e quatro mulheres e dava para fazer pelada de futebol dentro de casa. E a família era muito grande, não só lá em casa eram 12, eu tinha além de 12 irmãos, 12 tios, e mais ou menos 60 e tantos primos (riso). Então, ah, e dessa minha infância, dessa minha origem de São João del Rei, duas coisas acho que foram importantes na minha carreira na Vale do Rio Doce, além de ser mineiro. Mineiro consegue se adaptar bem, principalmente se adaptar com japonês, não sei porquê. Por isso talvez, o projeto de maior sucesso entre Japão e Brasil fosse a Usiminas naquela época, era o mineiro...Mas duas coisas eu te falo, uma que em São João del Rei todo mundo bebe muito (riso), foi a resistência para bebida essencial para a minha vida profissional (riso) então, eu tinha ficado alcoólatra com as minhas viagens ao Japão, eu fui umas 35 vezes, depois na minha vida e passei muito tempo lá, e era importantíssimo ter resistência para bebida, senão você não conseguia se aproximar dos japoneses; a outra dado importante para o relacionamento com os japoneses foi saber cantar. Na minha família, uma família grande de Minas, todo mundo sabia cantar. Então nós tínhamos coros em várias vozes, etc. e uma facilidade muito grande para decorar, então aprendi a cantar japonês, sabe, e foi absolutamente essencial para o meu relacionamento com o Japão, com os japoneses. Quando eu fui presidente da Cenibra, quando eu fui presidente da Albrás, saber cantar japonês. Hoje todo o mundo canta em karaoke, mas naquela época era uma raridade, um estrangeiro cantar japonês do jeito que eu cantava, e por facilidade de música, decorava muitas músicas, inteiras, letras completas, e os japoneses consideraram isso assim um tipo de aproximação que me ligou e abriu a confiança que eles tiveram em mim para tocar esse projeto.
P/2 - O contato do senhor com a música era dentro, começou dentro de casa...
R - De dentro da família, isso mesmo, aprender a cantar. E a nossa família tinha um hino que era assim, parecia uma música japonesa, porque não dizia nada, eram só sons, então eu aprendi a cantar música japonesa por causa disso, ouvia o som e decorava a música inteira, só pelo som, porque eu não sabia ler japonês, não sabia falar japonês, não entendia o que estava falando, então era mais difícil ainda.
P/2 - O senhor, a família tinha um hino (riso) o senhor lembra desse hino ainda ou não?
R - Lembro sim.
P/2 - É mesmo, o senhor poderia cantar um minutinho.
R - O hino, só para ver como que parece com o japonês, é assim: “Um glei, um glei, um glei, beribiti um glei, beribiti au, um glei, um glei, um glei, biribiti um glei, biribiti au e cata flau, flau, flau.” Esse, e aí vai para frente, é o hino da família que é bastante longo, né? (riso)
P/1 - Mas parece japonês mesmo, né?
R - É.
P/2 - E a família se reunia e cantava o hino?
R - É, cantava muito e sempre cantava esse hino também, né?
P/1 - E era muito religiosa a sua família?
R - Muito religiosa, esse hino foi feito inclusive por um padre, está entendendo, um tio que era padre, eu tinha dois tios padres, três tias freiras, então, primos padres, etc., então é muito religiosa, e era coral de Igreja, a base do coral de vozes, era coral de Igreja.
P/1 - E beber, porque que era tão importante?
R - Bom, beber porque essas cidades de Minas, cidades tipo, cidades de clima frio, tipo Ouro Preto, São João del Rei, são famosas porque as pessoas bebem bastante, e bebem cachaça mesmo, então a resistência para bebida possibilitava depois você poder fazer a extensão do seu trabalho que as coisas em geral, principalmente no Japão, não se resolviam na sala de reunião, se resolviam depois num encontro no bar, e quem tivesse resistência para bebida raciocinava melhor, e poderia comparar mais os programas deles também, né?
P/2 - Porque os japoneses são resistentes a bebida?
R - Mais ou menos, alguns são, mas não são todos não, sabe, tanto que no discurso, na inauguração da Cenibra, no discurso lá em Belo Oriente, lá em Ipatinga, o Fumio Tanaka, que era o presidente da empresa japonesa, falou assim: “Eu estou aqui, não é porque eu sou o mais inteligente, mais capaz, é porque eu tenho mais resistência para bebida.”, ele citou isso no discurso de inauguração da Cenibra (riso) como é que a importância disso, né?
P/2 - E nessa infância do senhor em São João, algum momento a Vale teve alguma presença, mesmo distante?
R - Não, para dizer a verdade eu nem sabia o que era a Vale do Rio Doce, nem quando era engenheiro formado e fui para o DNER, eu não sabia que a Vale do Rio Doce cuidava de minério de ferro, a Vale do Rio Doce naquela época não tinha expressão nenhuma, nem em Minas Gerais, era muito pequena, era muito sem expressão.
P/1 - Nós estamos falando dos anos 1950?
R - 1957 por aí, e quando fui convidado para vir para a Vale do Rio Doce, fui porque era uma obra de construção ferroviária, não tinha nada a ver com minério de ferro, ia trabalhar na retificação da estrada de ferro.
P/2 - Essa experiência do senhor lá na DNER?
R - __________ que levou eu a ir para cuidar de terraplanagem, construção de estradas, né?
P/2 - E é a de BH-BRASÍLIA, né?
R - É Belo Horizonte-Brasília, e aí eu fui cuidar dessa construção.
P/1 - E qual foi o seu primeiro cargo, então, que o senhor chegou lá e...
R - Bom, o primeiro cargo foi de chefe desse escritório de fiscalização da variante Sá-Carvalho, era uma obra enorme, tinha, é, construção de quatro túneis, duas pontes, a terraplanagem, apesar de ser uns 40, menos de 40, uns 27 Km., menos de 30 Km., a terraplanagem era quase igual a terraplanagem de Carajás, de tão grande que era, eram cortes enormes, um trecho pesadíssimo de estrada e eu fui então encarregado, naquela época, para você ver como é que a engenharia mudou, naquela época tinham dois engenheiros na fiscalização dessa estrada (riso) nesse trecho, mesmo durante o período, que eu tive na Vale, depois mais tarde, não se fiscalizava um trecho desses com menos de 50 engenheiros, mas naquela época era tudo muito mais primitivo, né?
P/2 - Essa, a estrada de ferro ______________ quando o senhor chegou, o que ela era, representava exatamente?
R - Ela transportava, a Vale do Rio Doce já era uma empresa organizada e funcionando, ela era pouco conhecida e pouco difundida como potencial de emprego em Mina Gerais, mas a Vale do Rio Doce exportava naquela época dois e meio milhões de toneladas de minério de ferro, depois chegou a exportar mais de cem milhões, fora outras coisas, então eles exportaram dois e meio, tinha um programa de expansão para chegar a quatro.
P/2 - Programa era de quatro?
R - É, e já ultrapassou a cem.
P/2 - E a estrada de ferro era?
R - A estrada de ferro era uma estrada de ferro, condições precárias que tinha sido retificada pela (Morrison?), pela... aquele acordo Brasil - Estados Unidos, para possibilitar a exportação de minério de ferro, trabalho da (Morrison?) ___________ mas vários trechos não foram mexidos, esse trecho era muito pesado de curvas ruins, subidas fortes que foi, que teve que ser todo remodelado e construído túneis e etc., e foi a primeira, e eu vim então como um estranho na Vale do Rio Doce, entrando como chefe duma obra grande. O meu primeiro contato com a Rio Doce foi de rejeição, rejeição total, era um engenheiro que caiu de pára-quedas por cima de todo mundo, tinha um salário alto em relação aos outros, meu nível salarial era acima de quem tinha mais de dez anos de casa, que eu vim de fora e tive mau reação por parte da Vale, né?
P/1 - Por que o senhor foi chamado e veio direto para um cargo assim?
R - Porque, como eu disse, o... foi convidado para ser superintendente do departamento de obras, na Vale do Rio Doce, uma pessoa de fora da Vale, e era do DNER, ele conhecia eu no DNER, e me chamou para vir, então esse processo aí levou bastante tempo para você introduzir na turma, até ter resultado, a primeira reação era de certa forma dificultar tudo, quisesse fazer, por causa do corporativismo da estrada e nem era que eles estivessem com ciúmes porque eu estivesse fazendo obras dentro da estrada, simplesmente eles não admitiam que chegasse um garoto de fora, com salário alto, etc., para chefiar aquilo, e mais o processo levou uns dois anos assim até que eu me incorporasse com bastante jeito e cuidado e fosse aceito até se tornar depois um da turma, depois eu fiz muito disso com outros. (riso)
P/2 - Tinha, a Vale tinha um corporativismo?
R - Tinha um corporativismo tremendo, depois vou dar outros exemplos quando nós continuarmos a história, isso era na estrada de ferro uma reação contra o novo departamento de obras, para cuidar dessa obra, mas era uma reação tremenda, a ponto de eu, eu morava em Nova Era, tinha que descer para obra que era lá perto da Acesita e na época de chuva a estrada de rodagem não dava, não podia descer de jipe, eu tinha que descer de trem, quando... como eu tinha um passe livre para circular em qualquer trem, era empregado da companhia, simplesmente a ordem era não parar o trem para mim não, só desce do trem de passageiro, não para trem de minério para mim descer. Aí eu tinha que fazer amizade com o chefe da estação, conversar sobre futebol e sobre tudo, ficar amigo dele para ele dizer assim: “Bom, então tá bom, vou desobedecer a ordem e parar o trem para você descer.” Nunca desceu muito disso, né?
P/2 - Os funcionários que trabalhavam na ferrovia eram basicamente gente da região, como é que era?
R - Era gente da região.
P/2 - Gente da região, eles se conheciam já.
R - E rodovia era bastante rígido, eles obedeciam bastante, agora tudo controlado por Vitória. Vitória controlava todo o fluxo da rodovia, mas levou uns dois anos depois, eu fui, até morei um ano em Vitória, aí fiz amizade com o que eles chamavam “o núcleo intelectual da Vale do Rio Doce”. A Vale do rio Doce tinha depois dois núcleos, que a gente chamava a Universidade do Cauê, que era a turma de Itabira, e a Universidade de Pedro Nolasco que era a turma de Vitória, Pedro Nolasco é o nome da estação ferroviária de Vitória, então o pessoal da Universidade de... eles não se entendiam, Cauê e Pedro Nolasco, e o pessoal de Pedro Nolasco, depois consegui entrar para essa universidade e fiz parte da turma e fiz amizade com todos, e o grande avanço da Vale foi quando houve a união realmente do pessoal da ferrovia com o pessoal da mina, porque a partir do momento que houve a... e foi alguns anos depois que eu estava na Vale, e não só ___________ não era só a estrada que rejeitava, eu não entrava na mina, apesar de ser empregado da empresa, não era do departamento da mina, eles não deixavam eu entrar na mina, para conhecer, se eu quisesse eles me recebiam até como visitante, com todas as honras, mas como funcionário eles não deixavam entrar não, então havia assim, cada departamento era um núcleo fechado, e a grande mudança foi quando realmente saiu um presidente de dentro da empresa de baixo que foi o Eliezer Batista que conseguiu, e levou algum tempo ainda, aos poucos, quis, colocando um elemento de Vitória como superintendente da mina, misturou as coisas e aí a empresa começou a funcionar como um todo, mas levou alguns anos ainda.
P/2 - E teve que ir trocando pessoas para conseguir quebrar isso (pausa) e a estrutura portuária você tinha também?
R - Era pequena naquela época, era o porto velho de Vitória, e era a estrutura portuária, era um departamento da estrada de ferro.
P/2 - Era ligado a Universidade de Pedro Nolasco, é isso?
R - Eu acho que é isso mesmo.
P/1 - Mas essas duas universidades, vamos dizer assim, essas duas culturas eram diferentes em que?
R - Em tudo. A estrada de ferro tem uma cultura própria, de hierarquia muito forte, de ser um pessoal mais idoso também de certa idade, e quanto a mina era uma atividade mais fechada, porque o pessoal da mina, a maioria, vinha dali da escola de Minas de Ouro Preto, que era ali perto, já era um grupinho que já era (patoca?) desde a universidade, aquilo era fechado mesmo, e a estrada de ferro oxigenou com a estrada de gente nova também, que foi chegando vinda, essa mudança de gente nova do próprio Eliezer Batista, que era novo naquela época e trouxe gente nova para Vale, então houve a revolução quando vieram, aí o Rio que era uma coisa também, quando antes o separado, pessoal operacional veio para o Rio assumir a presidência _______________ do trabalho, aí pessoas de 30 anos de idade eram diretores da Vale, enquanto se olhar a faixa etária antes era muito mais alta, mas essa história começa um pouco antes de eu entrar para a Vale, eu conheço mais de ouvir falar e peguei o finalzinho dela, quase o final da briga.
P/2 - Porque foi ascensão difícil isso.
R - É, mas de qualquer jeito eu tive a rejeição muito grande, e depois não, depois quando você faz parte do corpo, aí sim, tem todo apoio, o ambiente de trabalho da Vale passa a ser outro e sempre foi muito bom e muito... apesar de sempre ter grupos, toda a grande empresa tem grupos, normalmente trabalhar lá era muito bom.
P/2 - Era trabalhar na Vale, o que significava exatamente, mesmo em termos trabalhistas, como se colocava mais ou menos?
R - É, trabalhar na Vale significava, é, (pausa) em primeiro lugar era um projeto de governo, então era por patriotismo também a gente trabalhava lá, e a gente ____________ pelo menos no momento em que eu entrei na Vale, era uma empresa de incrível expansão, se via oportunidade, você ia crescendo muito rapidamente dentro da empresa, porque ela estava crescendo, era cheia de idéias e realizava as coisas,, era uma estrutura, apesar de ter começado dum difícil entendimento entre os empregados, depois houve uma oxigenação e depois todo mundo começou a puxar para o mesmo lado, houve uma reorganização da empresa, estrutural, criaram-se uma estrutura completamente diferente, e todos trabalhavam com muita gana, muita vontade de trabalhar porque tinha oportunidade pela frente, a gente via, antevia que a Vale ia dar oportunidade para todo mundo e era governo, as pessoas eram nacionalistas, muito nacionalistas (pausa) e no setor mineral, que é um setor onde a influência, a cultura do estrangeiro de tomar o minério, de levar as coisas, a gente então, nós tínhamos que manter a Vale grande para primeiro não se envolver nisso, nós queríamos competir com o estrangeiro, não ficar evitando que se explorasse o minério brasileiro, quisesse vim, vinha, mas nós primeiro queríamos ficar na frente, foi a primeira grande briga que a Vale teve foi com a (Rana?), a saída do projeto da (Rana?) que depois foi feito pelo Antunes, feito por brasileiros, mas a (Rana?) quis sair com o minério pela Central do Brasil e a Vale do Rio Doce entrou numa campanha grande, por baixo do pano para ajudar os políticos nacionalistas a combater o projeto da (Rana?), já no princípio da revolução.
P/1 - Isso foi o que?
R - Foi no início de 1964, foi o Castelo Branco, Roberto...
P/1 - E que projeto era esse?
R - Era um projeto de exportação de minério de ferro pelo porto de Sepetiba que inicial, que era... a Vale nessa altura era pequena se saísse o projeto da (Rana?) a Vale não sairia, depois muito mais tarde quando a Vale do Rio Doce ficou muito grande, aí não tinha importância, o outro projeto, podia até a própria (Rana?) fazer esse projeto, mas aí foi feito pelo Antunes, já é um...
P/2 - NBR?
R - É NBR, então foi a primeira briga política que teve séria foi do projeto da (Rana?), e saía de dentro da Vale textos para o Márcio Moreira Alves escrever no Correio da Manhã, a gente ___________ para ele. (riso)
P/2 - Saía escrito.
R - Saía de dentro da Vale, a turma dos jovens, de dentro da Vale, não era diretoria não, e foi a primeira briga, acho que isso trouxe maioridade para a Vale, unificou muito a Vale, e a maioridade foi, e a maioridade comercial como empresa, isso na área de minério de ferro, acho que ela surgiu quando se tornou independente para comercializar, ela era tão pequena que não pagava uma estrutura própria de comercialização, então os agentes comerciais da Vale eram outras próprias empresas de mineração, uma das quais a americana Cleveland Cliffs, era mineradora também e vendia primeiro o minério dela, depois o da Vale, então nos momentos de crise a Vale tinha dificuldade de vender o seu minério porque ela não tinha nem representação comercial para vender o minério. Quando ela abriu um escritório na Europa, ela realmente mudou a sua perspectiva comercial, aí o seu primeiro passo, o segundo passo foi a visão de caminhar a venda de minério para o Japão que era tão longe, precisava construir portos grandes, então partiu para a construção do porto Tubarão que de repente sai do número máximo de navios de 60 mil toneladas para um navio de 250, naquela época, e chegou depois até por 350, 400 mil, então aí mudou a Vale, mudou a escala, mudou tudo. Então aquele programa de expansão que eu falei que era sair de dois e meio para quatro passou para seis logo e depois para vinte e depois para 50 e vamos embora.
P/2 - E o senhor trabalhou no projeto Tubarão?
R - Trabalhei, nesse programa de expansão, que foi o programa de expansão para 20 milhões de toneladas, foi financiado pelo BID, foi o primeiro grande financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento para uma empresa privada brasileira, e nós fizemos então preparação de todo o estudo de viabilidade e com esse plano contemplava a construção de instalações novas para a britagem de minério em Itabira, alguns trechos de retificação da estrada de ferro, melhoria ainda, e a construção do porto de Tubarão, isso foi feito e terminou. A construção do porto de Tubarão terminou em 1967, por 1968.
P/1 - E quem liderava, quem concebeu isso, foi interno ou externo da Vale?
R - Não a construção foi, o grande mentor que puxou isso para a frente foi o Eliezer Batista. Ele foi o presidente que puxou essas coisas, mas ele tinha com ele uma estrutura debaixo dele que alinhavava isso bem, e porque como todo o grande idealizador também, ele não primava por ser um excelente executor, não muito organizado, administrativamente, então ele tinha uma turma que servia para frear, arrumar, alinhavar as idéias dele, principalmente quando passa por cinco elementos que tinha debaixo dele, no princípio e era a equipe do Eliezer principal, a que era na área de desenvolvimento, o Marcos Viana, que foi depois presidente do BNDES por muito tempo, na área jurídica era Rony Lyrio, que depois foi presidente nacional executivo da SulAmérica, o Raimundo Mascarenhas que foi presidente da Vale por muito tempo e o João Carlos de Linhares que era na área de operações e o Lauro Marinho que era área financeira. Esses, e quem estavam projetando a nova organização da Vale, era o Antônio Dias Leite, depois foi ministro de minas e energia e presidente da Vale também. Então, acho que são a base da estrutura que começou.
P/2 - A Vale tinha um corpo técnico muito consistente?
R - Não, não tinha, essa turma era, eu diria, de idade média de 30 anos (riso) não era gente antiga da Vale não, não era muita gente antiga, claro que tinha gente antiga de experiência e também envolvida. Mas foi formando, agregando gente, o Marcos Viana que foi o primeiro superintendente da divisão de desenvolvimento que depois, logo depois, eu substitui e quando houve a revolução ele pediu demissão, ele eu substitui em 1964. Ele criou divisão de desenvolvimento que tinha, começou com cinco engenheiros, depois tem um livreto até que eu fiz, chama dez anos de desenvolvimento, tem lá na Vale, se não tiver, eu tenho em casa, esses anos parece que a gente trabalhou, já tinha 500 pessoas de nível superior, em termos de engenheiros, arquitetos e _______________ e economistas trabalhando, ela cresceu muito rápido em dez anos, muito rápido, e aí foi a evolução do minério de ferro, ela partiu para isso, eu acho que seu espírito está moldado nessa base duma luta nacionalista, né?
[Fita 1/Lado B]
R - ...trabalhando ela cresceu muito rápido em dez anos, e aí foi a evolução do minério de ferro, ela partiu para isso, eu acho assim o espírito moldado nessa base duma luta nacionalista. Embora parece incoerente que foi o próprio nacionalismo que retardou a exploração do minério de ferro no Brasil, que aquele negócio do minério é nosso, aquela teoria do minério é nosso, retardou a exploração, e outras minas no mundo foram abertas. Então, o minério de ferro era abundante no mundo, mas esse ___________ isso também evitou que os estrangeiros entrassem na frente da Vale, e a Vale se tornou a maior empresa produtora de minério de ferro no mundo. Então, é a fase “minério é nosso”. Ela que era muito mais para “vamos fazer siderurgia” e nós vamos exportar minério de ferro, era uma certa incoerência em termos de mercado internacional, porque você tem um produto que não consegue vender, tem que vender o produto que pode vender, mas a diferença é você conseguir vender, e aço naquela época não conseguia vender, então a Vale do Rio Doce teve, na minha opinião, uma linha de ação, quase virou uma filosofia, que norteou durante muitos anos, primeiro fica na exportação, ficou só na exportação, então ela como empresa do governo não competia internamente e não se envolvia em negócios internos, isso evitou muita influência política na Vale. A Vale do Rio Doce era muito desconhecida, no princípio de ____________ é porque ela estava dirigida para exportação, ninguém sabia o que era a Vale, não vendia produto aqui, não aparecia no jornal, não anunciava, a segunda é exportação, a segunda é não competir com as empresas e dirigir participação, não competir com as empresas nacionais, essa é conseqüência, a segunda seria: não parte para siderurgia, fica na área de minério de ferro e ficou, depois ela entrou em siderurgia como associada de outras empresas siderúrgicas, mas ela basicamente é uma empresa produtora de minério de ferro, isso norteou a filosofia da Vale.
P/2 - Nesse período dos anos 1960, a perspectiva de diversificação não existe dentro da Vale?
R - Não existia nada de diversificação, nem outros minerais, até 1970, até que fosse criada a Docegeo, não se falava nem em outros minerais. A Vale do Rio Doce já estava começando a crescer, atingir 20 milhões de toneladas de exportação de minério de ferro, e só trabalhava com minério de ferro e o Brasil era fraquíssimo em outros minerais, em produção mineral em geral, porque minério de ferro é um mineral de baixo valor, então se somasse a total produção mineral brasileira era muito pouco. O Brasil... a Vale do Rio Doce começou, era para ser dentro da Vale os primeiros cadernos, os primeiros relatórios sobre outros minerais que o Brasil poderia ter potencial e então acho que aí foi, quer dizer, terminado essa fase do minério de ferro que é a filosofia, entrou na fase de primeira diversificação que foi mineral, fazer outros minerais. Então foi criada a Docegeo, que foi criada dentro da própria divisão do desenvolvimento, a nossa divisão lá, por pressão do pessoal debaixo, os geólogos insistindo que tinha que criar uma empresa subsidiária e a gente, a essa altura, já estava, já era o superintendente da divisão, então como é que nós vamos, uma empresa estatal dirigir pesquisa e que tem que, nós não conseguimos comprar um lápis sem fazer concorrência, vamos mandar um geólogo lá para o meio do mato, ele morre de fome, então, não mas tem, fizemos então, foi criado a Docegeo. Foi feito um plano e financiado pelo BNDES, e gastaram cinco milhões de dólares em pesquisa de outros minerais e depois se gastou muito mais, mas o primeiro plano eram cinco milhões de dólares e como a Vale do rio Doce não tinha flexibilidade para operar, criou sua subsidiária e que seria impossível fazer hoje numa estatal, porque naquela época ainda não tinha todas as regras que depois foram fechando as estatais, então nós contratamos uma empresa, foi tudo subcontratado com terceiro, você imagina, hoje nem se podia fazer, você tem concorrência, nós escolhemos a empresa mais gabaritada que era feita por um geólogo americano, e fizemos toda a pesquisa geológica, a Docegeo se transformou na maior empresa de pesquisa geológica brasileira e descobriu coisas importantíssimas. E uma das razões que realmente estimulou que a Docegeo partisse para pesquisar, foi que os americanos já estavam começando a achar outras coisas _____________ tinha achado Carajás, e a Rio Doce ficou para trás, quem achou Carajás foi um americano e de repente, imagina se a Rio Doce não tivesse se envolvido, então precisamos ter a nossa empresa de pesquisa, os americanos estavam na Amazônia _______________ ia para o Hotel de Belém, os outros falavam inglês, eram só geólogos estrangeiros que tinha lá e iam descobrir todos os minérios brasileiros.
P/2 - Como que na Rio Doce foi recebida essa notícia de Carajás, quer dizer, a descoberta dessa e ela não envolvida nisso?
R - Nós tivemos informação através de pessoas do DNPM que começaram a desconfiar que tinha muito pedido de pesquisa numa determinada região da Amazônia, onde nunca ninguém tinha pedido pesquisa, como a área de pedido de pesquisa era muito pequena e Carajás era muito grande tinham duzentos e tantos pedidos de pesquisa ligados uns aos outros e...
P/1 - Que quer dizer um pedido de pesquisa?
R - Um pedido de pesquisa para quando você quer descobrir, acha que no lugar tem um mineral, você tem que ir ao DNPM, que é o Departamento Nacional de Produção Mineral, e requerer para você o direito de pesquisar, então você tem um determinado prazo, dependendo do mineral tem um prazo definido, mais ou menos de dois, três a quatro anos, para fazer isso, nesse período é seu direito, ninguém pode ir lá pesquisar e se alguém achar, é seu, porque é você que requereu o direito, você apresenta o resultado de pesquisa e pede o direito de lavrar aquele lugar. Então, ainda estava Carajás no direito de pesquisa, de repente alguém pede, 200 pedidos de pesquisa na Amazônia e aí já, como tem limite também para um determinado mineral, já era pedido de tudo quanto é mineral para a pessoa ficar só com o direito de ninguém invadir aquela área, então pessoas lá de dentro do DNPM acharam aquilo estranho e resolveram mandar alguém lá verificar e como sabiam que a Vale que tinha a experiência de minério de ferro pediram um geólogo da Vale para ir junto, e essa história está contada no livro ______________.
P/1 - Mas conta de novo para gente. (riso)
R - É muito interessante essa história, mas é muito longa, porque é um verdadeiro filme de faroeste descobrir como foi Carajás.
P/1 - Sabe porque é assim oralmente para o vídeo, conta para a gente, para a gente não, para as futuras gerações
R - Então vou fazer um resumo disso, porque é muito interessante, porque envolve, até riscos em jogados de pessoas que são nacionalistas mesmo que defendem os interesses do Brasil seja em qualquer posição, o fato do DNPM ter estranhado aquilo, se eu fosse um funcionário burocrático, eu liberava aquilo, só podia estranhar, mas ele alertou e falou com o Ministro: “Olha está acontecendo alguma coisa estranha, então tem que mandar alguém que saiba, não adianta mandar um geólogo comum do departamento para chegar lá eles mostrarem o que eles quiserem, vai um elemento da Vale do Rio Doce porque conhece.” Então mandaram um elemento da Vale, foi o nosso chefe do departamento de geologia nosso, nós mandamos para lá, José Eduardo Machado, ele foi para lá e eles armaram tudo para ele não ver, inclusive dando pane no avião para não chegar no local (riso), quando chegou no local do acampamento foram mostrar o lugar mais longe, que tinha que caminhar quilômetros a pé para chegar no local para ver se cansava, foi o José Eduardo Machado junto com outro geólogo, o outro geólogo cansou, ficou no meio do caminho, José Eduardo Machado foi até o local e desceu, fizeram tudo, descer em cordas para chegar no buraco e, lugar difícil de acesso, o Machado foi, fez o relatório, dizendo que era realmente impressionante a quantidade de minério de ferro que tinha, depois disso que o diretor geral do DNPM, é um sujeito de um grande valor eu acho, esse pedido não sai enquanto não resolver o assunto politicamente e o Ministro segurou, houve pressão política de todo lado.
P/1 - O Ministro na época era?
R - Era o Antônio Dias Leite, né, e o diretor do DNPM é lá de Pernambuco, né, bravo segurou, aí eu fui conversar com ele, falei assim: “Olha que garantia que nós vamos ter que isso não vai sair e a Vale do Rio Doce está fora.” Falou: “A garantia está aqui, a chave está no meu bolso, está na minha gaveta, não sai enquanto eu for diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral.” e então a Vale do Rio Doce chamou a ______________ para conversar e chegaram a um acordo de fazer juntos o projeto.
P/1 - E a United States Steel, os 200 pedidos de pesquisa eram da United States Steel?
R - Nem tinha jeito de ser, então o pedido de pesquisa era assim de pessoas físicas, um dentista em Belo Horizonte, um advogado não sei aonde.
P/1 - Mas todos para a United States Steel.
R - É, todos deviam ter um contrato de gaveta com a United States Steel e transferiam para ela se tivesse algum produto, porque não tinha 200, porque tinha que ter empresas. A Vale do Rio Doce uma vez teve que criar 50 subsidiárias para poder preencher os pedidos de pesquisa, cada uma tem direito de fazer cinco ou dez pedidos, então teve que criar empresas de mineração para poder fazer o pedido, porque para a Vale do Rio Doce, eles não podiam usar pessoa física, uma empresa privada pode pegar uma empresa física e fazer um contrato de gaveta, como é que a Vale do Rio Doce pode fazer, não pode fazer isso.
P/1 - Mas quando chamou a United States não fez uma pressão no Congresso, no governo, não ficou, ah... completa...
R - Ficou, mas ela também, ela na realidade, insistiu, ela não tinha tanto, ela sabia, e aí a história começa bem antes, quando ela descobriu o assunto, quando a United States Steel descobriu o minério de ferro em Carajás, ela não estava procurando minério de ferro, ela estava procurando manganês, que manganês é muito mais raro que minério de ferro e está escasso no mundo. O geólogo da United States Steel resolveu, porque tinha tanto geólogo lá nas proximidades que estavam também procurando outros minerais, manganês, níquel, etc., que ele resolveu sair de Marabá, que era mais perto, e ficar no, acampar no Xingu, ficar na estrada, fazer um acampamento no Xingu e de helicóptero ele ia pousando em diversos lugares até chegar no local onde estavam procurando manganês. E no mapa do Brasil, um mapa que existia e circulava aí, um mapa Brasil ao milionésimo, não sei se vocês conhecem, é um de capa preta grande assim, tem uma fotografia até de Carajás, só que diz assim é: “Clareiras de calcário na região entre o Xingu e o Tocantins.” Ele então escalou algumas clareiras dessa para pousar o helicóptero, para reabastecer, porque o helicóptero não tinha, eles levavam latas de gasolina no helicóptero, operação perigosa, pousava o helicóptero, botava gasolina e continuava. Na segunda clareira que pousou, esse geólogo __________ o avião começou a chegar no chão, ele começou olhar e viu aquela canga mineral, ficou tão entusiasmado que ficou eufórico dentro do helicóptero e o piloto pediu a ele assim: “Eu vou descer, mas você olha com cuidado, que não era um local limpo, para o rabo não bater em alguma árvore.” Ele distraiu e não avisou e a hélice bateu de leve numa árvore, entortou a hélice e ele chegou e desceu: “Ah, minério de ferro, aqui dava para reconhecer a vista, essa área era tão mineralizada.” Uma daquelas clareiras, ele viu assim.
P/1 - Ah, ele viu assim a olho nu.
R - É, viu a olho nu, estava assim e (nos?), como era tão ermo, a região entre Xingu e o Tocantins e o piloto xingou ele toda a vida, depois teve que amarrar hélice de um jeito e conseguiram levantar vôo e ele então passou a Marabá para telefonar para United States Steel, dizendo assim: “Olha, achei minério de ferro.”, falando com o geólogo chefe da United States Steel, uma região muito grande com minério de ferro, a resposta dele assim: “Esquece o minério de ferro, continua procurando só o manganês, esquece esse minério de ferro aí, não vale nada.”, aí ele voltou e disse assim: “Olha, é muito minério de ferro, mas é muito grande.”, porque depois ele, aquela que ele tinha visto era pequinininha, nem a Carajás hoje, era mais perto do Xingu, Carajás é outro, depois que ele viu Carajás, ele viu que era enorme, é muito minério de ferro, então o minério de ferro tem que subir. A resposta: “Esquece, a sua função aí é procurar manganês, e vai procurar manganês, está bom, então ele achou manganês assim uns dois meses depois, a Reserva de Buriti ____________ que fica 35 Km acima de Carajás, aí ele avisou a United States Steel que tinha descoberto, mas sabe como é que ele avisava para ninguém saber, veja só, ele fazia assim: “Mande soro antiofídico.”, que dizer “descobri manganês”, tinha um código (riso) parece filme policial, de faroeste, então...
P/1 - E tinha mesmo, tinha o pessoal ficava ouvindo, passando informação de fato?
R - Tinha pesquisa porque quando ele estava fazendo esta busca, você ainda não fez o pedido de pesquisa, está entendendo, você está ainda para fazer, porque você não pode simplesmente pedir pesquisa _______________ , você primeiro localiza e depois é que você entra no DNPM, se alguém soubesse, sabendo eles estavam, que eles tinham descoberto manganês, ia com o documento no DNPM e pedia o pedido de pesquisa para ele, com outra empresa, não sei se vocês viram na televisão há pouco tempo até problemas de gente correndo para chegar primeiro para pedido de pesquisa lá na Amazônia, há pouco tempo na televisão aconteceu isso, bom, quem chega primeiro a ordem da pesquisa, naquele que você perguntou, que chega primeiro é que ganha, então o geólogo chefe da United States Steel foi lá ver o manganês. E e foi, viu, tinha uma reserva de manganês interessante e para agradar ao geólogo que tinha avisado sobre minério de ferro, mas numa conversa assim: “Escute, e aquele minério de ferro que você falou, aonde é que é?”, falou: “Amanhã cedo nós vamos ver.” No dia seguinte de manhã cedo ele pegou, foi trouxe o helicóptero, foram de helicóptero, a hora que ele sobrevoou e ele estava eufórico, esse geólogo americano, e falou animado. De repente, o geólogo olhou para ele e ficou calado, cada vez mais que ele via as coisas ia ficando cada mais calado, quando chegou de noite que eles foram para o acampamento, o brasileiro falou assim, o amigo dele falou: “O que houve com o Tolbert que está tão calado?”, aí ele falou assim: “Não sei, vou perguntar a ele.”, perguntou: “O que aconteceu Tolbert.” “Olha aconteceu o seguinte, o minério de ferro é tão grande que nem eu vou continuar na United States Steel, e nem a United States Steel vai continuar com esse manganês, com esse minério.” Que ele via assim, a reserva era tão grande que, e primeiro a United States Steel se fosse uma reserva pequena ia descobrir e deixar calada, esconder, eu como geólogo, profissionalmente, não vou poder deixar de anunciar que isso foi descoberto. Ele era um geólogo de importância, ele tinha sido chefe da United States American Geological Service no Brasil, ele era um excelente geólogo, e a United States Steel não ia poder ficar com aquilo sozinha, nenhum país ia deixar uma empresa ficar com aquilo, era só requerer e ficar, aconteceu exatamente o que Tolbert diz, ele depois, se desentendeu com a United States Steel e saiu e o DNEM segurou e obrigou a United States a ceder metade para a Vale do Rio Doce. Dessa, a Docegeo depois se organizou, um dos, o primeiro chefe, presidente da Docegeo, foi esse geólogo brasileiro, enviado da Vale do Rio Doce, que foi o primeiro a visitar Carajás, Eduardo Machado, depois o substituto dele era o representante da Amazônia, era brasileiro da United States Steel, Breno Santos, que provavelmente vocês vão entrevistar aquela pessoa muito importante na área de geologia, e o americano Tolbert que já até é falecido, ele foi contratado pela Docegeo para fazer a primeira pesquisa, e trouxe para o Brasil os melhores geólogos do mundo nas atividades que a gente precisava, ajudou muito a Docegeo, então essas três personagens vieram depois a ser um fator importantíssimo na diversificação de minério da Vale do Rio Doce.
P/2 - E nesse momento que ele descobre a Carajás acontece, enfim, a Vale consegue 50%, já se pensa em algum projeto para lá ou não?
R - Aí a segunda etapa de Carajás, outro fato importantíssimo, foi que os americanos...foi feito toda a pesquisa, gastou cem milhões de dólares de pesquisa, e realmente comprovou toda a potencialidade, mas a United States Steel tinha um cronograma, ela não queria gastar dinheiro, construir uma ferrovia de 900Km., um porto, ela tem lá na Venezuela diferentes reservas de minério de ferro no rio ___________, né, então ela queria segurar o máximo possível e a Vale do Rio Doce, com ela, queria apertar o máximo possível para sair, então ela concordou em vender, e aí foi preciso de alguém brigar com a United States Steel, e foi importante que nessa época, era presidente da Vale do Rio Doce uma pessoa de fora da Vale do Rio Doce, numa época que quando Geisel assumiu a presidência da República, é, ele colocou _____________________ como Ministro de Minas e Energia e mandou dar uma limpeza geral na Vale do Rio Doce, manda todo mundo embora, todo mundo que é amigo do Dias Leite vai embora, porque o Dias Leite era, tinha tratado mal o Geisel, que o Geisel era presidente da Petrobrás antes de ser presidente da República, e realmente, nunca houve uma mudança tão grande. A Vale do Rio Doce tinha seis diretores, saíram cinco, tinham 12 superintendentes gerais, que eram os executivos, saíram dez, mudaram de posto, e esse presidente, e chegou um presidente sem aquela cultura internacional, que só a coragem dele de brigar com a United States Steel, fez a United States Steel ficar tão zangada, que não vai dar certo, nós não vamos conseguir fazer esse projeto, vendeu a parte dela e saiu, depois se arrependeu amargamente, mas foi preciso alguém...
P/1 - E esse presidente quem era?
R - Era, chama Fernando Roquete Reis, que ficou, já falecido, ele ficou pouco tempo na Vale colocado pelo ______________ mas ele prestou um benefício que todo mundo considerou loucura na época, brigar com a maior empresa americana de aço, vai acabar com a Vale do Rio Doce no mundo, não isso realmente colocou na mão da Vale a reserva de Carajás e depois a Vale, antes da United States, depois que a United States Steel saiu, a Vale descobriu cobre, níquel, manganês, bauxita, tudo em Carajás.
P/2 - Que era uma grande província.
R - Até o manganês que a United States Steel tinha custado achar fora, nós achamos dentro de Carajás, lá pertinho.
P/2 - Naquela época do sessenta e... naquela descoberta de Carajás e tal, isso ficou, quando passou para a Vale, ficou a cargo do setor de desenvolvimento?
R - A negociação ______________________ aí Carajás foi criado uma associação da United States Steel com a Vale, a pesquisa de Carajás, nós só mandamos gente acompanhar, a United States Steel fez, nós mandamos alguns geólogos para ficar com eles, porque já estava instalado um controle, mas depois foi feito uma empresa chamada Amazônia Mineração que era uma associação da Vale do Rio Doce com a United States Steel, antes da Amazônia (Valoec?), que era Vale mais uma subsidiária da United States Steel que desenvolveu o projeto de Carajás e ficou desenvolvendo, aí acho que a United States Steel não entrou para Amazônia Mineração, entrou só para a (Valoec?) que foi a antecessora na hora da Amazônia, ela vendeu a parte dela e saiu, mas é muito _____________, Carajás é muito importante. Carajás é uma reserva mineral importantíssima, que é o futuro da Vale, que o minério de ferro aqui no sul vai acabar, mas a reserva no Carajás é muito grande realmente, e além de que tem outros minerais, de muita importância.
P/1 - Mas na medida e quando então resolveram, fizeram a pesquisa, como é que foi a implantação efetiva do projeto lá?
R - Olha, quando a United States Steel saiu, a Vale ficou sozinha e tinha essa empresa Amazônia Mineração e a Vale do Rio Doce começou a conduzir o projeto com a Amazônia Mineração e depois ela conseguiu extinguir a Amazônia Mineração e transformá-la num departamento da Vale. O risco político de ter uma empresa no Norte era muito grande, separado, senão ia separar a Vale, ia criar depois duas empresas, Vale do Sul, Vale do Norte, com influência política grande, o grande poder de sobrevivência da Vale do Rio Doce foi ela ser uma empresa do governo e não sofrer muita influência política, nem de empreguismo, nem de solicitação, ela ficou fechada, e primeiro porque ela era um pouco desconhecida, não mexia com exportação, não se envolvia no mercado interno, os políticos não __________ depois que ela cresceu, ela ficou muito sólida, e acho que os políticos ficaram um pouco com medo de mexer na Vale, teve épocas, inclusive, é a bastante tempo atrás, onde realmente uma época decidiram colocar diretor da Vale só políticos, então colocaram ex-deputado do Espírito Santo, ex-deputado de Minas Gerais como diretores da Vale do Rio Doce. Nós fizemos uma estrutura em que diretor não mandava absolutamente nada, ele só aprovava as coisas na reunião de diretoria, tinha uma secretária, um carro, um gabinete, mas não se envolvia em nenhum negócio da Vale, como eram também políticos de baixa expressão, eles não se insurgiram contra isso, aceitaram, tinham um salário bom, e houve uma época __________ foi assim, não se colocava nada, não se admitia nenhuma pessoa por indicação política, ao contrário, se alguém era indicado político nós não admitíamos de jeito nenhum, para ter idéia só do poder de independência nossa, que era uma garotada, naquela época o Brasil tinha muita possibilidade de emprego, você não tinha medo de ser mandado embora, o salário da Vale não era tão brilhante assim, você trabalhava mais por vocação. Na época da construção de Tubarão, nós _________________ desenvolvimento, bilhete do presidente da república, João Goulart, pedindo para convidar uma firma para participar da conferência, não era para dar serviço para firma não, nós analisamos achamos que não devia convidar, não convidamos, pronto, acabou (riso) qualquer outra empresa não convida, depois essa até cria caso para ela. A medida que a Vale foi crescendo a influência política foi aumentando, a política em todo sentido, a política do empreguismo, a política de fazer negócio paralelo, a política da época da revolução de colocar militares, teve empresas estatais que encheram de militares, a gente não existiu, não entrou muito militar na Vale, com isso você fica um cargo (saliado?). Claro que tem pessoas competentes também que entram, mas poxa, no risco é preferível manter a turma da casa que está dando certo, mas a medida que a Vale foi crescendo, as pressões foram aumentando, mesmo na época da construção do Carajás, eu me lembro de ter visitado Carajás com o Ministro que deixou todo mundo desesperado lá, lá ele fez um pronunciamento: “A Vale do Rio Doce só vai cuidar de minério de ferro e bauxita, quando a Docegeo, que era a nossa ponta de lança estava a plena carga, descobrindo coisas e fazendo coisas, a ordem era descobre, a Vale do Rio Doce não vai mexer com nada, vai entregar tudo para outros. Você não descobre, se não for para explorar. Vou te dar um exemplo, lá ao mesmo tempo que foi criado a Docegeo, foi criado a CPRM que é o órgão de pesquisa mineral do Ministério de Minas e Energia, nós tínhamos mais ou menos, 100, 110 geólogos, na Docegeo, já é uma quantidade de geólogo enorme. A CPRM acho que tinha 900, nós descobrimos as coisas, a CPRM não descobriria, por quê? Porque o geólogo que está lá no meio do mato, ele tem que ter bandeira, ele tem que ter camisa e saber que aquele negócio vai ser descoberto, vai ser explorado, vai ser usado, porque senão ele não vai para fazer descobrir uma coisa, fazer um projeto teórico, depois licitar para ter um privado, aí comprar. Geólogo é muito politizado, ele não vai descobrir coisa, e a Vale do Rio Doce descobriu muita coisa assim, que as coisas tá... a tecnologia ajuda, mas lá no meio do mato tem que ter muita raça, tem que ter muita camisa.
P/2 - Esse projeto de, esse processo de ampliação da Vale, diversificação, quer dizer, que depois vão tentar limitar, ele surge como na Vale, quer dizer, a abertura do ferro para outros minerais, outras áreas?
R - Bom, essa _________________________ foi por isso, foi quase um exame de consciência, de vergonha, de como que o Brasil, com uma empresa como a Vale não podia entrar em outros minerais. Acabamos entrando. O segundo, a diversificação para outros produtos, a primeira foi por uma espécie de hobby quase, de pessoas de influência da Vale, tanto o Dias Leite, como o Eliezer gostavam de florestas, sabe. E a Vale do Rio Doce tinha algumas florestas que usava para plantar eucaliptos para dormentes, como essas empresas paulistas também fizeram, então ela tinha algumas reservas de eucaliptos e foi estudada a possibilidade de a Vale do Rio Doce entrar, como ela tinha acesso às áreas grandes, às áreas junto das ferrovias, e o Dias Leite a essa altura foi também para o ministério, fez aquelas, ajudou a preparar as leis de incentivo ao refresco fiscal reflorestamento, e a Rio Doce com a capacidade dela internacional, digo, ela abria o cargo de confiança, a posição de confiança no japonês para trazer dinheiro e investir em florestas, porque trazer dinheiro e investir em floresta não é fácil, porque é um negócio de muito longo prazo, negócio de sete anos até a primeira árvore cortar, entendeu, você tem que entrar num ciclo de pelo menos 20 anos, pensando, não é uma coisa de curto prazo. O japonês aceitou investir dinheiro com a Vale do Rio Doce em Florestas, então partiu para diversificação em floresta, mais porque o Dias Leite e o Eliezer gostavam de floresta, e a gente tinha um pouquinho de floresta, aí nós contratamos, chamamos algumas pessoas de fora que vieram ajudar a gente na floresta.
P/2 - Os japoneses foram convencidos como da viabilidade disso?
R - Os japoneses queriam, eles tinham falta de madeira, mas queriam só a madeira, só chips, que chama wood chips, e então fizemos um projeto enorme, na época do governo Geisel, dentro do plano, aquele plano de reconstrução do Geisel, e eu até fui encarregado de trabalhar nesse projeto de plano quadrienal, eu fiz a parte de floresta, eu que sou __________ nada a ver com isso, mais aí o nós entramos para a floresta, mas o japonês...
[Fita 2/Lado A]
R - ...aquele plano de reconstrução do Geisel e eu até fui encarregado de trabalhar nesse projeto de plano quadrienal, eu fiz a parte de floresta, eu que sou ___________ tenho nada a ver com isso, mas aí o nós entramos para a floresta, mas o japonês só queria a madeira, e é muito difícil trabalhar com japonês a gente custou naquela lentidão, e eu junto com a turma de mineiros, “esse projeto de madeira com os japonês não vai dar certo”, nós não temos capacidade, assim é, e tranqüilidade para conviver com japonês tanto tempo seguido, porque o ano que era, que estava bem a economia japonesa: “Oh, vou investir vou para lá .”, no outro ano caia, sobe, desce, sobe, desce, vamos levar tantos anos até cortar a primeira floresta, não tem tanta floresta de eucalipto existente aqui, onde é que estão as florestas?, aí não estão, as florestas nossas, o nosso projeto estava todo no Espírito Santo, que era para exportação, para a madeira ficar mais perto do porto, tem floresta na Belgo mineira, tem floresta na Acesita em Minas Gerais, vamos fazer o seguinte, naquela época ainda não tinha dado o choque da energia, estava sobrando madeira, o carvão não valia tanto, vamos fazer um para começar com celulose em vez de começar com... como é que continua plantando a madeira com japonês, mas vamos fazer uma fábrica de celulose, que você faz um fato com a fábrica, ela ficando pronta, tem que operar, tem que botar dinheiro, tem que produzir, a árvore se você não plantar, não plantou, a outra pode continuar crescendo, se você deixar não investe nada no ano, mas as árvores continuam crescendo, a indústria obriga você dia a dia a estar em cima do investimento, a não deixar morrer, a não deixar falir, nós temos que comprometer o japonês nisso, para ele, para o projeto não morrer. Está bom, então fomos, brigamos, nem a Vale do Rio Doce queria, “Vocês estão malucos, nós nunca mexemos com celulose, não vamos fazer isso, não vamos fazer isso.”, mas fomos, puxamos aqui, puxamos ali, falamos com os japoneses, não falamos dessa nossa estratégia, da que precisava de fazer, porque já tinha madeira, que naquela época a celulose estava bem, conseguimos a madeira da Acesita, compramos a madeira, fizemos a fábrica de celulose da Cenibra, o projeto da Flonibra que ia exportar chips, morreu, não saiu, ficou só a Cenibra. Claro que a Cenibra hoje é quatro vezes maior que aquele projeto nosso, a indústria enorme, mas se não tivesse feito a Cenibra, o projeto teria morrido, teria ficado na floresta. Um dia vendia a floresta, como venderam a floresta lá do Espírito Santo para fazer o projeto Bahia-Sul, então essa foi uma jogada de estratégia porque os mineiros, e sabe por que que os mineiros resolveram fazer isso? Por que estavam enciumados, porque a Vale do Rio Doce a essa altura estava no projeto de pelotização de minério de ferro e colocaram todos os índices de pelotização no Espírito Santo, porto Tubarão, os mineiros então ficaram enciumados, que numa indústria da Vale do Rio Doce, ali o máximo possível perto de Itabira, aí foi feito ali por perto da Acesita e é um grande projeto a Cenibra hoje.
P/1 - Vamos dar uma paradinha agora e daí a gente continua, para a gente dar uma respirada.
P/2 - ______________ quero retomar um pouquinho e perguntar para o senhor a respeito dessa, essa relação com japoneses, elas também tem um resultado de uma relação mais antiga com os japoneses, quer dizer, essa confiança mútua, digamos, de onde que ela vai surgindo?
R - Bom, ela surgiu da venda de minério de ferro, quando a Vale do Rio Doce fez um contrato de exportação para Tubarão, de longo prazo, foi o primeiro contrato muito grande realmente de longo prazo que a Vale fez e que possibilitou com isso arranjar financiamento para fazer o porto de Tubarão, você lembra que a Vale estava crescendo muito, mas numa época que o Brasil não tinha dinheiro, a Vale cresceu muito e não tirou dinheiro do Brasil, ela arranjou financiamentos externos com aval, sem precisar dos primeiros, até sem precisar do aval do tesouro para financiar o porto de Tubarão. Ela, para isso, precisava ter contratos de longo prazo que garantisse esses financiamentos, e aí começou o relacionamento com o japonês, como todo o relacionamento com japonês é muito demorado, muito lento, devagar, até que foi para frente, e felizmente com o projeto bem sucedido que foi a Usiminas, aumentou a confiança do japonês, pelo menos, nessa área. Depois do japonês já ter até fracassado em algumas experiências no Brasil, né?
P/2 - Houve experiências perdidas.
R - A colonização da Amazônia do japonês, por exemplo, foi um fracasso. Nos projetos de colonização não se deu bem, no princípio. Mas você tinha feito uma outra pergunta assim, porque que a Vale do Rio Doce tinha entrado em celulose e eu disse essa razão pessoal, mas ela tinha uma...mas tem também a razão do interesse brasileiro. Acho que no caso, a importância da Vale do Rio Doce ter entrado em celulose foi enorme porque o Brasil tinha toda possibilidade de ser um exportador de celulose para o mundo e era importador de celulose, ninguém tinha coragem de investir, depois que a Vale do Rio Doce começou a desenvolver projetos, e o próprio Dias Leite e o Eliezer foram implantar o projeto Aracruz, eles que começaram o projeto de Aracruz. O Brasil se tornou o maior exportador mundial de celulose fibra curta, hoje um dos maiores produtores mundiais de celulose, então foi importantíssimo. Só depois que a Vale do Rio Doce entrou, antes não havia interesse do empresariado brasileiro de correr riscos de super investir e exportar, o empresário brasileiro quer manter o mercado insatisfeito porque o preço é mais alto, vender bem mais caro aqui dentro, não quer excedente, e não tinha capacidade para montar esquema de exportação, então a posição, a entrada da Vale do Rio Doce da celulose, que é uma coisa que não tem nada a ver com mineral, foi importantíssima, e os próprios japoneses disseram que o argumento nosso é: “Vamos fazer celulose no Brasil, lá tem mais sol, lá a árvore cresce mais depressa.”, e os japoneses falaram comigo assim: “Não, lá tem a Vale do Rio Doce, uma empresa que a gente confia.”, e uma vez, num daqueles papos assim de botequim que a gente tinha lá, um deles falou assim, uma das maiores empresas de campo japonesas falando comigo: “Só tem duas empresas brasileiras aqui na lista da nossa empresa que você pode fazer projeto, sem restrições: é a Vale do Rio Doce e a Petrobrás, e assim mesmo, a Petrobrás tem que estudar assim em certos campos.” O japonês também não corre muito risco com os privados brasileiros, talvez já tenha sofrido com isso no passado.
P/2 - A credibilidade que a Vale foi conquistando aí como...
R - Então essa credibilidade, essa presença no mercado externo, essa confiança que deu esse salto, e a mesma coisa repetindo o alumínio, o Brasil, com reserva de bauxita, com capacidade energética hidrelétrica, que era de produção barata, foi pelo menos, ele tinha capacidade de ser um grande produtor de alumínio. No entanto, tinham três produtores aqui no Brasil: a Alcan, a Alcoa e o Ermírio, que mantinha o mercado insatisfeito, chegava até a importar um pouquinho de alumínio primário, foi a Rio Doce entrar, a Alcan expandiu, Alcoa expandiu, o Ermírio expandiu, todo o mundo expandiu, que aí tem a presença de um outro puxando e ameaçando a estabilidade deles. A Rio Doce quebrou a equação brasileira de celulose, quebrou a equação brasileira de alumínio. Hoje o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de alumínio, isso foi uma das coisas que nós da Vale do Rio Doce consideravamos na empresa. Claro que como empresa estatal, como uma boa empresa, como qualquer empresa, nós desejávamos ter eficiência, lucro, etc., mas principalmente, considerávamos a empresa um instrumento de desenvolvimento, o Brasil precisava de uma empresa que puxasse o desenvolvimento e por isso a gente caminhava, um projeto de grande porte, grande investimento como alumínio, e que foi bem sucedido, mesmo que assim, que o lucro do alumínio, hoje a Vale, chegaram os novos sócios, queriam vender alumínio, vender celulose porque não dá o mesmo lucro que o minério de ferro, claro que não dá, o minério de ferro tira do chão e manda embora, então esses que exigiu mais investimento, que exigiu mais tecnologia, exigiu mais esforço, foram importantes para o Brasil, muito mais que para a Rio Doce como empresa, mas vão dar lucro também, nós também não fazemos bobagem, todo o projeto que a gente faz é só para crescer, não fazíamos. Então a importância da Vale do Rio Doce dar entrada nesses projetos foi que ela quebrou totalmente o equilíbrio que existia, de produção desses materiais, sem possibilitar o crescimento do brasileiro.
P/2 - Como que o senhor mobilizava, como conseguia se mobilizar a Companhia __________ é o know-how para a celulose, por exemplo, então ele...
R - Bom, digo internamente tinha a maior dificuldade, eu tenho que reclamar dos meus companheiros de empresa, nós éramos do lado da diversificação e a Rio Doce era 100% cabeça de minério de ferro. Todo mundo lá só pensava, respirava minério de ferro, né?
P/1 - Nós, quando se diz nós, é Cenibra ou _____________?
R - Pessoal da área de diversificação, divisão de desenvolvimento e diversificação, aí diga Docegeo. Na área de diversificação mineral, a gente então podia fazer só em subsidiárias, nós tínhamos que criar uma subsidiária e um modelo. Voltava aquele modelo, dirigido para o mercado externo, é o modelo comercialmente, não é o melhor, se ver que já começava vendendo a grande parte do seu produto para o sócio, o que dificultava obter melhores preços, mas se viabilizava aquilo sem mexer no castelo do minério de ferro. Ah, não tinha que tirar dinheiro do minério de ferro, vamos fazer outra equação para tocar esse projeto. Com isso conseguimos fazer, e a duras penas o primeiro projeto da diversificação na área de alumínio foi na área mineral, foi a entrada da Rio Doce num projeto que já era da Alcan, que é a mineração Rei do Norte, um projeto que hoje dá um resultado fabuloso, o resultado da ________________________, é melhor que o da Vale do Rio Doce, porque já é um projeto mais maduro também do que esses alumínio e celulose, nós estamos ainda investindo, estamos crescendo, mas é um excelente projeto que a Rio Doce aí entrou, já era um projeto da Alcan, porque a Alcan quis parar, a partir do momento que a Rio Doce está, eu estou entrando para a diversificação. O governo usava também a Rio Doce como arma, quem quer parar projeto, manda falar com a Rio Doce, a Rio Doce, “não, não vamos parar, vamos tocar, eu entro e toca”, e tocou o projeto da mineração Rei do Norte, com êxito, um excelente projeto e, aliás, o primeiro projeto bem sucedido da Amazônia. A Amazônia era um lugar de enterrar projeto e a mineração foi a primeira que deu certo lá, depois Carajás.
P/2 - Rio Trombetas, é?
R - É, rio Trombetas, a Amazônia já tinha enterrado Ford, e depois enterrou ________________ (riso) todo mundo, só deu certo lá foi a Vale, então esse instrumento de desenvolvimento faz parte do espírito do pessoal da Vale do Rio Doce, desenvolvimento, o espírito da Vale do Rio Doce, então que unia todo mundo, eu acho, principalmente, que a juventude, que era uma empresa muito nova, então a juventude tem um aspecto, como a empresa muito nova, você ___________ a empresa não cresce, você pensa, então vou vir aqui 20 anos com o mesmo chefe, com o mesmo chato em cima de mim, tem que crescer, se não diversificar, você não estimula ninguém a trabalhar, senão a empresa não tem perspectiva. Então a Rio Doce tinha que estar sempre com projetos novos, sempre com perspectiva para estimular o pessoal, é vestir a camisa, e eu acho que a Rio Doce, como já falei, sofreu menos influência política, a equipe ficou mais homogênea, não ficou, não vinha muita gente de fora. Teve épocas que entraram pessoas de fora, como nessa época que entrou do Geisel, que trouxe uma equipe grande de fora, e que traz gente boa também, mas depois o próprio esquema vai conseguindo devolver alguns, sabe, e eu acho que a Rio Doce, também, como então o pessoal todo se conhecia, havia um campo mais propício para honestidade, eu acho. Porque o problema da grande empresa, depois, é cada um jogar para si, e vai e o risco de armações, o risco de jogadas, onde entra corrupção, favorecimento, essa situação é muito grande em qualquer empresa que seja estatal ou não seja estatal, na estatal é pior ainda, porque tem outras pressões externas, então eu não conheço ninguém. Na minha relação, e eu ocupei durante muitos anos cargo importante na Vale do Rio Doce, que tenha se enriquecido na Vale do Rio Doce, e a gente fazia projetos de bilhões e bilhões de dólares, quer dizer, isso é um negócio assim incrível, eu acho. Não é que não existisse a corrupção, sempre existe algum tipo de corrupção, mas nunca uma coisa que a gente notasse assim. Acho que são os pontos positivos, o ponto negativo, quer dizer, até o corporativismo ajuda aí, acho ponto positivo do corporativismo, a defesa da bandeira, no caso nacionalista, e nós tínhamos. Hoje a Rio Doce não é mais estatal, não adianta falar essa linguagem, mas naquela época era obrigatório falar essa linguagem, quando eu ia, eu era presidente da Albrás, eu ia por Barcarena, o que eu ia fazer em Barcarena, o pessoal dá de maior confiança, toca obra com facilidade, eu ia lá para beber com a turma e encher a cabeça deles contra a Alcoa, para eles trabalharem de vontade, está certo. Eu ia lá para isso, a minha função principal era para a noite ir para a associação de empregado e encher a cara e falar da Alcoa que está fazendo pressão nisso, que nós temos que terminar antes, cara, e a Alcoa cheia de armação para cima da gente, querendo parar o nosso projeto, e tendo que a gente segurar embaixo, né?
P/2 - E a Alcoa ficou pressionando?
R - Oh, em cima do Delfim, em cima do Eliezer, nessa altura a gente já não podia ter certeza de que tinha todo o apoio, mesmo internamente na companhia, qualquer coisa furava lá dentro mesmo, então teve horas que teve que _________ duro para não parar o projeto e até parou, conseguiram parar o projeto da ___________ Norte que atrasou cinco anos por causa disso, a Albras acabou, mas a ____________ Norte demorou mais cinco anos para acabar.
P/1 - Por que, por causa de...
R - Porque a pressão, num determinado momento, externa, fez arrefecer o ânimo, o japonês tirou o corpo fora, o japonês se bobear também vai embora, ele não quer gastar dinheiro, ele quer o alumínio dele e pronto, não é nada de anjo, não ajuda não, então aí houve momentos em que tentaram, que nem agora, vende projeto, para, essas coisas. Essa pressão havia, num momento falou, e “no norte vai dar prejuízo, para o projeto”, foi preciso a gente ter inventado um processo lá de fato consumado, para não acabar de vez, sabe, senão teria acabado de vez, nós fizemos. Vamos tocar três anos devagarzinho, só para esperar, como é que vai acontecer, com esses três anos devagarzinho a gente investiu para burro (riso) por baixo do pano e fez mais do que esperava e aí não podia...
P/2 - Continuaram investindo...
R - É, não podia, o argumento definitivo, para você ver como é engraçado, o argumento definitivo na reunião, para o projeto da __________ Norte, nós nunca tínhamos parado projeto nenhum. Aí perguntaram para o diretor da área de alumínio, um amigo ____________ Rodrigues: “O que tem que fazer, o que vai gastar agora para parar?” “Não, não gasta nada não, põe um tapume e um guarda lá tomando conta, só e pronto, mas é a primeira vez que a Vale do Rio Doce vai fazer isso.” (riso) a vergonha geral, nós vamos parar esse negócio, onde que eu vou botar o guarda lá tomando conta, lá o tapume parada (riso) nunca, né, nunca a Rio Doce ia fazer um negócio desse, e tocava devagarzinho. E retomamos depois, e acabou. Hoje está uma beleza, entrou sócio novo agora estrangeiro estão tudo animado.
P/2 - Porque parece, inclusive, verticalização ________________.
R - É, então essas coisas, é a briga permanente interna, e essa equipe que foi formada lá dentro, essa aí é garotada, foi crescendo lá dentro, muita gente boa. Realmente a Rio Doce produziu muita gente boa. Ela também investiu em treinamento, em experiência exterior. Nós viajávamos muito para o exterior, então você tinha experiência, experiência financeira, experiência econômica.
P/1 - No seu caso, por exemplo, o senhor investiu a Rio Doce em algum, o senhor fez algum tipo de curso, algum treinamento específico?
R - Fiz, até eu fui da época, como era muito sobrecarregado, fiz pouco curso, mas fiz, sei lá, uns quatro ou cinco cursos, de economia, na minha faixa estava mais de economia, administração, e cursos e línguas. As pessoas da Rio Doce, a gente já sabia receber o cliente, sabia tratar o cliente, conversar, e tinha cultura para desenvolver com o cliente, então isso, essa posição da Rio Doce, eu acho assim, ela corre o risco muito grande da transição para a privatização quebrar isso, porque mesmo o fato da honestidade, ela tinha bandeira política atrás dela, agora não tem bandeira, agora a bandeira é o lucro, o lucro é dinheiro, dinheiro é ganhar, ganhar tem muito jeito de ganhar, então a Rio Doce está tendo que aumentar, ou vai ter que aumentar os controles administrativos num certo ponto, por incrível que pareça, mesmo deixando de ser estatal, vai ter que aumentar os controles, para aumentar a segurança das operações. A não ser que ela crie outra filosofia de empresa, com outra bandeira, não existe só a bandeira estatal, existem empresas de menor porte até, aí a participação dos empregados é muito importante nos lucros, a participação no resultado, o estímulo e a vontade de trabalhar, liberdade de trabalhar, liberdade de criar, e o fato de você propor uma coisa ser aceita em si, não só a liberdade de trabalhar e saber que não vai falar em vão, propor uma coisa que sabe que vai ter ouvido, ser for boa ela vai para frente, estímulo da liberdade de trabalhar, essa participação pode estimular os empregados a ter outras ______________, lá dentro da empresa, senão ela corre o risco de desmantelar. É muito difícil para uma empresa do tamanho da Vale, e aquele diálogo inicial, vamos vender, vamos retalhar, como é que trabalha o empregado se amanhã _________ o dono está querendo vender minha empresa, vai comprar. Pode ser aí uma grande multinacional que vai querer fechar, ele não tem mais estímulo para trabalhar, e o outro é o fica sob o terror da demissão, vinte mais vinte, mais dois mil, mais três mil, mais isso, mais aquilo, se não tiver fim, ninguém vai querer ficar, trabalhando lá dentro. Então, esse, não é história, isso é para a frente, a Rio Doce tem que estar atento nisso, senão perde o que ainda restou dela de qualidade.
P/2 - A Vale estatal ela era, quer dizer, além desse engajamento no desenvolvimento, o grau de participação dos empregados, como é que isso existia ou não?
R - Não existia, os empregados tinham uma remuneração razoável, considerada empresa estatal e tinha uma estabilidade no emprego, eu acho que estabilidade prática, não era estabilidade legal, mas sabia que a empresa estava sempre crescendo e era paternalista, e não ia mandar o sujeito embora só por não estar produzindo tão bem, então isso é considerado, em termos de empresa, não é bom. Mas o empregado tinha esse estímulo lá dentro, e isso é um dos males do corporativismo, é ficar de vez em quando sustentando pessoas que não tem mais qualidade para participar, embora eu ache que a Rio Doce é ainda, comparada a outros níveis de empresas estatais, ou mesmo às vezes empresas privadas também tem isso, empresas grandes, ainda não era das piores, mas tinha um excesso, sem dúvida tinha um excesso de pessoal.
P/1 - Como era para entrar, fora a sua época que o senhor disse que...
R - É, eu fui convidado, mas logo depois estabeleceu concurso, tinha concursos para entrar.
P/1 - E o pessoal trazia, por exemplo, _____________ indicava muita gente, como é que era o processo de incorporação de novas pessoas?
R - Havia concurso para entrar, mas havia muita indicação. Na área operacional que estava instalada, há na Rio Doce muita indicação do próprio pessoal, filhos de empregados. Por exemplo, na ferrovia, trabalha na ferrovia, fazem concurso, mas são indicações, são pessoas de certa forma já ligadas a Vale, de vez em quando havia preparação, fazia cursos de treinamento de pessoal dessas novas áreas, de informática, de economia. Isso criava grandes ___________ e, de vez em quando, dava uma entrada de gente nova, mais nova na Vale, mas assim em termos de entrar, não sei. Também já tem muito tempo que estou aposentado. Aposentei da Vale em 1988, mas ultimamente, pelo contrário, só tem saído gente, também nos últimos, nos últimos dez anos entrou muito pouca gente para a Vale, e nos últimos cinco anos, saiu muito. Mesmo antes da privatização a gente já estava diminuindo os quadros um pouco e forçando, principalmente forçando aposentadorias, o quadro da Vale hoje é muito novo ainda, a idade média é muito nova porque todo mundo que estava perto de aposentadoria saiu, isso também porque perdeu um pouco de experiência. Mas o crescimento da Vale trouxe também problemas. A Vale, no princípio, como é que numa empresa estatal investe tanto sem ser incomodada pelos políticos, sem ser incomodada pelas negociatas, a Vale era muito desconhecida, a Vale só começou a ficar conhecida quando a bolsa, aqueles ____________ de bolsas de valores, todo o mundo começou a falar em Vale do Rio Doce. O Brasil não conhecia bem a Vale do Rio Doce, começou-se falar em Vale do Rio Doce porque as ações começaram a evoluir, aí era para evitar até influência, começou a haver um pouco mais da Rio Doce, quando ela começou crescer, e aí também cresceu, na minha opinião para o lado errado, ela foi obrigada a essas mudanças de governo, ela estar sempre bem na mídia, teve que aumentar corpo de jornalistas trabalhando para a Vale, aquilo cresceu demais, eu acho que foi um mal porque ficou muita gente, e a área lá cresceu muito para poder fazer uma espécie de defesa política, às vezes para a proteção dos próprios administradores lá, havia muito disso, ficou tendo muito disso na Vale, e aí começaram a vir as associações, a Vale muito grande, o interesse das empresas em associar, enquanto a vale, a vale até o crescimento, até tubarão, até o início da construção de Carajás, a Vale praticamente construía tudo, __________ desenvolvimento, cresceu daquele jeito, porque nós administrávamos todos os investimentos da Vale, nós quase não contratávamos empresa de engenharia e gerenciamento só para fazer projeto, nós mesmos gerenciávamos, depois todo...
P/2 - Toda a tecnologia era da Vale, tudo da Vale?
R - É, não, você comprava tecnologia especializada de projeto só, mas de construção e administração era toda contratada e financiada pela Vale, se fazia só o projeto especializado, o projeto básico, então depois disso, começou a diversificar, contratar muita coisa fora. Começou a aparecer muitas associações com empresas, outras empresas brasileiras que negociavam, algumas associações nem tão bom em história assim, porque a partir do momento, de repente, começou a na associação. Antigamente a Vale do Rio Doce era pobre, com o estrangeiro que vinha com o dinheiro, agora é o contrário, nós éramos ricos e os empresários privados, pobrezinhos, querendo associar com a Vale, e aí acho que algumas associações não foram bem sucedidas assim.
P/1 - Quais foram as principais associações?
R - Continuou expandindo, com os nossos sócios foi fazendo celulose na Bahia-Sul, agora o projeto Bahia-Sul, um belíssimo projeto técnico está melhorando o resultado, mas ele teve dificuldade inicial, custou muito mais caro do que se fosse feito só pela Vale do Rio Doce sozinha, ele estourou o orçamento, coisa que não é comum. Na Vale do Rio Doce não era comum estourar o orçamento, o projeto Albras custou 70% do orçamento original, o projeto Carajás custou mais barato, de repente você começa fazer projeto com outros sócios brasileiros, estoura o teu orçamento. Então mudou um pouco o estilo de trabalho, mesmo porque a própria estrutura da Vale começou também a mudar um pouco a cabeça da Vale, embora sempre com grande participação da diretoria executiva de pessoal da casa, mas já não tinha aquela equipe básica inicial que foi citada aí, já não trabalha, já tinha saído fora da Vale. O Eliezer, cujo o nome até hoje foi ouvido na Vale, de repente começou a trabalhar para muita gente, não fazia projeto para a Vale só, fazia projeto para muito mais gente, então muitas vezes, não tinha mais, a Vale já não tinha mais aquela unidade em termos de diretoria para tomar decisões (pausa) e aí veio a privatização (riso) capítulo final. E a privatização acho que era uma necessidade, a Vale chegou num certo tamanho que era um risco tremendo ser administrada pelo governo, porque é um governo, ou irresponsável, ou com uma idéia fixa de fazer alguma coisa, podia utilizar a Vale muito, porque, inclusive, o pessoal da Vale era um pessoal obediente, ele se via a regra do governo, já aceitava. Bom, nós não aceitava desde que fosse regra, mandasse a diretoria, troca a diretoria, ninguém...
[Fita 2/Lado B]
R - chiava, troca a diretoria, troca isso, troca aquilo, ninguém chiava; o Governo era o dono, fazia o que queria e era isso que tinha que ser mesmo. Então o Governo, a Vale corria o risco e agora é muito dinheiro. Qual a receita da Vale toda hoje? Sei lá, 4 bilhões de dólares, 5 bilhões de dólares, não é? Isso não resiste, ainda mais em termos de Brasil, é sempre conveniente a privatização, a forma de se fazer a privatização. Acho que aí o Brasil tinha que se conduzir da forma do seu melhor interesse, mas privatizar acho que era uma necessidade, independente da política geral do país de privatizar, acho que a Rio Doce começou a ficar muito grande pra ser administrada. Aí você vai me perguntar assim, “mas e aquele instrumento de desenvolvimento que eu sempre defendi?” aqui, o Governo tinha que ter outros tipos de instrumentos de desenvolvimento, já estava começando a ficar muito grande, a Vale do Rio Doce, e levando, e como o Governo está cada vez mais apertando os controles para evitar corrupção, a Rio Doce começou a ficar cada vez mais difícil de ser administrada; aquele exemplo que eu dei da criação da Docegeo, seria impossível hoje, eu estaria na cadeia, toda a minha equipe estava na cadeia, tinha feito um absurdo, de contratar sem concorrência uma firma do Tolbert, para fazer todo o trabalho da Docegeo. E era o único jeito de fazer, o jeito que deu certo, estava todo mundo na cadeia, não tinha condição. Inclusive, algumas obras começou a fazer, para a obra, porque entra na justiça, porque a concorrência teve um problema qualquer, então você não consegue fazer mais. O Governo já não podia mais administrar a Vale, tinha que privatizar. E ela vai dar muito bem, bom resultado, como está dando e vai dar mais ainda.
P/2 - A venda em blocos, o senhor concorda com essa venda da Vale.
R - Concordo sim, acho que concordo. Acho que aí era quebrar demais a espinha dorsal da Vale, vender aos pedaços, acho que poderia até dar um pouco mais de dinheiro, mas o país, seja estatal ou não, precisa de uma empresa assim grande. Eu gostaria que ela fosse, o controle fosse, a empresa por exemplo que comprasse, fosse uma empresa, um grupo mais de produção, não é, ou de mineração ou industrial. Porque os que estão comprando as empresas estatais são só as entidades econômicas, bancos, essas, ou então pessoas sem experiência, isso não leva a querer conduzir a Vale como uma empresa industrial, quer conduzir a Vale como um negócio, e isso tem prejudicado, nos outros anos a Vale investiu pouquíssimo, eles quiseram tirar o máximo de retorno de capital, mas isso não tem nada a ver com a história, isso é outra história.
P/1 - E _____ , mas o senhor participou da privatização, assim o senhor é acionista da Vale atualmente?
R - Não. Bom, a gente nem era acionista da Vale quando era funcionário, a recomendação era não ser acionista pra você não estar tomando decisões que tivesse retorno, interesse para a gente mesmo. Por exemplo, eu fiz um projeto tal, não sei o que, lancei, compro ação antes por que sei que vai valorizar, eu sou sócio da Docegeo, descobriu cobre, aí eu compro ação da Vale antes. Nós não comprávamos ações da Vale, até porque nós não tínhamos dinheiro, mas mesmo se tivesse, não comprava, era recomendado não comprar. Quando começou o processo de privatização eu já tinha saído da Vale Trabalhei um pouco nas associações de aposentados, pressionando para sair algumas coisas mais a favor da valia, para que preservasse a valia, que era nossa, nossa empresa de seguridade, do que pra fazer, como é que chama, para influenciar no processo, na escolha do candidato. Seria melhor se fosse uma empresa mais brasileira, se fosse, não é, se fosse mais, eu diria alguém que tivesse mais interessado na produção mesmo, embora se nós conversássemos isso com os acionistas todos vão dizer que estão muito, né.
P/1 - Contente?
R - Muitos nessa linha, todos estão nessa linha. Mas na prática, foi colocado um monte de dinheiro, eles querem um retorno rápido. Acho que a Vale tem, o futuro dela continua sendo muito bom e tem muita coisa ainda para fazer, agora é preciso motivar essas pessoas, é preciso motivar as pessoas que trabalhem,, dia e noite sem parar, igual a gente fazia. Você trabalha de dia lá no Japão, de noite vai para bar para trabalhar, então para fazer, para assumir a confiança do parceiro, e dou alguns exemplos, por exemplo, do que acontece. O relacionamento, o que significa você obter a confiança do japonês. Por exemplo, vou dar, eu estava no Japão, fui negociar um financiamento de 250 milhões de dólares para a Cenibra, daí voltei e trouxe, e eles disseram para mim, olha, a taxa de juro pode ser, ter um _________ além do juro bancário de 1,5 a 1, 75%, então cheguei no Brasil, quando veio, cheguei aqui eles falaram “ah, vai ser 1,75, estava dentro do que eles tinham falado, mas era o máximo”. A Vale do Rio Doce se precipitou, eu falei com a Vale, a Vale do Rio Doce disse que aceitava e era uma excelente taxa, naquela época. A Vale do Rio Doce aceitou e eu, como liguei para eles, eles já sabiam, _____________ sabem tudo, eu falei, “olha, a Vale do Rio Doce aceitou a taxa de juro de 1,75, mas eu pessoalmente fiquei muito mal porque cheguei do Japão com aquela conversa de vocês que tinham me prometido 1,50, e eu fiquei mal perante a Vale do Rio Doce”. No dia seguinte veio um, naquela época a Telex, tá muito bem, dessa vez fica a taxa de 1,50. Era 0,25 no juro por causa de um problema pessoal, olha, eles não queriam queimar o presidente da empresa que estava lá em questão que eles gostavam dele. Não é por interesse meu, eles achavam que se eu ficasse mal com a Vale ia ser ruim para a Cenibra, então essas coisas assim acontecem, e eu estou dando um exemplo meu, posso até parecer chato, mas todos os outros que falam, vocês vão dizer, tem outros exemplos assim, inúmeros exemplos que a pessoa conseguiu, com ação pessoal, trabalhar e obter coisas para a Vale do Rio Doce.
P/2 - Tinha essa liberdade dentro da empresa, possibilidade de fazer...
R - É e você fazia, para a Vale, quantas vezes, o pessoal de negociação, a bom agora podemos dar um desconto à parte e que conta que se deposita. Não, diminui na fatura. Já vi isso, vi isso várias vezes, o sujeito chegava, não é praxe, nisso aí a gente dá um desconto, tantos por cento, em que conta que deposita? Não, então desconta na fatura. Vi isso várias vezes, quer dizer, essas coisas é um potencial da empresa que não pode ser perdido, não pode, você tem que ter os empregados do seu lado para funcionar direito, a não ser que seja alguém que compre a empresa para vender depois, você compra o negócio com horizonte de curto prazo e vai vender depois, o que você quer é só fazer uma boa maquiagem e vender. Mas quem quer ficar muitos anos, e um sócio como a Previ, que é uma empresa de seguridade precisa de investimento de longo prazo, então ela precisa que a Rio Doce funcione durante muitos anos ou então vai ter que vender para fazer o dinheiro a curto prazo.
P/1 - Esse desenvolvimento que o senhor apontou na Vale do Rio Doce, esse foco no desenvolvimento, e esse engajamento dos funcionários, quer dizer, esses funcionários, também todos eles eram muitos ligados à Itabira, a uma região, que também engajava, a família dele também recebia benesses da Vale do Rio Doce etc, quer dizer, como é que foi essa relação com a comunidade, que a vale do Rio Doce estabeleceu, mesmo a Albras em Barcarena, como é que isso, essa relação da Vale com a Comunidade?
R - Não, a relação da Vale com a comunidade não foi boa, por que o político quer sempre tirar dinheiro da empresa e o político sempre era, combatia a Rio Doce. A Rio Doce sempre tinha um diálogo meu difícil com o político, não é? Itabira sempre achou que estavam tirando a Itabira, que estavam exportando Itabira, não era minério de ferro. De certa forma, é isso mesmo, uma empresa de mineração o dia em que acabar o minério, uma mina, acabou; o dia em que acabar o minério de Itabira, acabou, não tem. Então, a Rio Doce tinha um fundo de melhoramento e desenvolvimento que ajudava a fazer, financiava outros projetos da região, fazia algumas doações para as prefeituras, pavimentava uma estrada aqui, fazia alguma coisa ali, para ajudar; eu até, pessoalmente, achava que não devia estar fazendo isso, acho que devia pegar esse dinheiro, ir ajuntando e o dia que acabasse a mina, aí fizesse outra coisa no lugar da mina para dar continuidade, porque se você fazer agora, qualquer coisa que você financiasse agora, quando acabasse a mina também ia acabar sofrendo. Bom, mas esse fundo agora não existe mais. Existiu durante muitos anos e a Vale do Rio Doce, isso por estatuto da Vale, que aquela época era diferente, ela tinha esse fundo. A relação, Itabira sempre reclamou, e aliás dizia um antigo diretor da Vale, que aliás eu não conhecia, só me transmitiram, o itabirano só vai ficar satisfeito o dia em que todo fim do mês tiver um cheque debaixo da porta, da Vale do Rio Doce, para todos os habitantes da cidade. Vitória, Rio Doce desenvolveu Vitória, mas daqui a pouco começou a reclamar, estragou a praia de Camburi, a poeira, não sei o que; um Governador do Espírito Santo falou que aqui era um corredor polonês às avessas, que passa dando porrada para fora. Não sei se você já ouviu falar nessa coisa. Isso é um Governador, isso é para pressionar para ganhar dinheiro. O projeto que tive mais tempo de cuidar, que foi o último, já estava talvez mais velho, mais preocupado com essas coisas, foi o Projeto de Barcarena, sabe, procurei fazer com todo cuidado, primeiro, de fazer o, o paraense estava danado com a Vale do Rio Doce, de ter descoberto minério em Carajás e estar exportando pelo Maranhão, que é o vizinho opositor dele, isso o paraense não aceitava de jeito nenhum, queria que o minério seguisse ali pelo rio Tocantins e fosse sair em Belém; então era preciso que o paraense aceitasse, não é, a Albras, e nós fizemos um trabalho muito grande na região em termos de, primeiro que, tornar o projeto assim, em todo sentido, o projeto é paraense, nós fizemos um trabalho de base na prefeitura, conversando com prefeito, conversando com as entidades locais e sabendo o seguinte, nós vamos fazer um projeto industrial aqui, nós não vamos contratar quase nenhum paraense para trabalhar, por que não tinha condição de contratar o paraense mais especializado, então aquele processo assim, eu financio um grupo, de Barcarena para fabricar uniforme para a fábrica, eu compro só desse grupo, mas não me venha pedir um emprego de forneiro de alumínio, que ele não sabe fazer. Eu financio pescador para pescar mais e vender o peixe, está certo, então isso eu fiquei fazendo na região. E na política, nós tínhamos aí o trato feito que era a Alcoa investindo em São Luís. Então nós fazíamos o trabalho e dizia assim, nossa os nacionais estão investindo aqui, os estrangeiros está lá. O pessoal de São Luís tinha “go home Alcoa”, na camiseta, e a agora nasce uma camiseta “Albrás é minha”, para o paraense, então esse trabalho é que fez, devagar, sem gastar muito dinheiro.
P/1 - E funcionou como uma espécie de desenvolvimento da época, assim?
R - Funcionou, durante muito tempo. Ajudou. Nós fizemos a cidade lá, ao lado de Barcarena, ajudou bastante, o pessoal ficou satisfeito; uma vez até, uma palestra, na época da revolução, quer dizer, aqueles negócios de Brasília, me chamaram lá pra falar, antes o cara da Alcoa falou,” ah, porque nós estamos fazendo isso para São Luís, nós demos 15 milhões de dólares para puxar água, da empresa de água lá para a cidade”, aí quando foi falar, o que que vocês deram Belém, aí eu falei não precisa dar dinheiro, nós estamos dando indústria que vai ser paraense, que vai ser deles, não precisa estar comprando política, por que ele está dando isso para a água, mas a empresa dele vai dar água de graça para ele depois, tem troco, essas coisas não são de graça, entendeu. Eu não estou dando dinheiro, não, estou dando um projeto, que vai ser paraense e nós vamos treinar e fizemos convênio com a faculdade para treinar, engenheiros lá, para daqui a cinco anos, dez anos estarem ocupando um cargo na empresa, não agora. Agora, o pessoal ia todo do sul.
P/2 - Isso foi um cuidado que foi nascendo dentro da empresa que não existia antes.
R - É , vai fazendo, vai fazendo com todo cuidado. Não teve antagonismo com a Albras, né. E essas coisas, acho que não estão com raiva de mim não; tem um bairro lá em Barcarena que tem meu nome.
P/2 - É mesmo, tem um bairro lá?
R - Aí eu fui lá em cima, fui com o prefeito e falei assim, mas não pode ter, é proibido dar nome de pessoa viva a bairro, acho que existia uma lei assim. Isso é lá no sul, aqui não tem nada disso.
P/1 - Tem um bairro Romeu
R - É, vê se pode! Mas era muito interessante, uma coisa muito interessante que eu fiz, por exemplo, quer dizer, a convivência com japonês, eu não sei, acho que nós já estamos passando da hora, mas deixa eu só terminar um caso engraçado que é, é a Albras lá, é um trabalho, lá em Barcarena, todo mundo achava que ia ser muito mais caro, nós conseguimos fazer, e cheio de japoneses, chato trabalhar com japoneses, é (amorrinha?), então, mas chega na hora da inauguração eles trouxeram duzentas pessoas do Japão, trouxeram gente pra burro, e a inauguração era com o Presidente da República, ia estar presente o Presidente da República, tinha o Governador do Pará, Governador do Maranhão, Governador do Amazonas, uns 5 ministros e eu falei assim, “poxa, os japoneses estão ferrados, porque eles estão reclamando que antes da inauguração da CSD aqui em Vitória, eles não tiveram jeito nem de entrar no palanque”, e eles eram sócios, sabe aquele negócio de Presidente da República?, cerca aquele cerimonial, não deixa, “tá bom, então vamos fazer uma festa de inauguração antes, certo”. E na véspera falei “vamos fazer uma festa, só de japonês na Vale do Rio Doce, mas uma festa íntima”, o japonês gosta muito disso, sabe; então escrevi uma pantomima, contando a história da inauguração, e falei assim, “olha, só pode ser feito se for feito amadoristicamente, tem que ser só empregado da Albras que tem que trabalhar, contrata um diretor de teatro, mas manda treinar, empregado da Albras fazendo papel de brasileiro e os japoneses da Albras fazem papel de japoneses”; fizemos a pantomima, uma cerimônia toda, e foi um negócio assim emocionante, eles viram como é que o pessoal se comportou, e só estava o pessoal da Vale, presidente, diretoria da Vale, e os japoneses, todos estavam lá que chegaram. E na inauguração, eu, e aí eles topam tudo, pra eles não tem limite de despesa, eu quero fazer um monumento, e japonês adora pedra, então quero fazer um monumento que tem uma pedra brasileira e uma pedra japonesa. A pedra brasileira eu sei o que que é, eu vou trazer uma pedra lá de Itabira, depois digo de onde que essa pedra saiu; e vocês tem que mandar uma pedra do Japão, mas eu quero uma pedra que represente bem o Japão. Sabe que eles mandaram passagem para o arquiteto que tinha projetado esse monumento, que era da Vale, um amigo meu da Vale fez esse desenho, para ir ao Japão, para ajudar a escolher a forma da pedra, que eles iam mandar do Japão, uma pedra de três toneladas, mandar do Japão, está lá o monumento na entrada da Albras. Não sei se vocês já visitaram a Albras, tá lá o monumento, tem as duas pedras, tem a foto até nesse livro aí, está certo? E na inauguração da pedra, todos os japoneses que participaram, e queriam derreter o alumínio, para o alumínio unir as duas pedras e mostrar as duas pedras, então aí ele, a segurança não deixou, não vamos levar alumínio fervendo lá, vai entornar na hora, cheio de autoridade, vai espirrar. Tá bom, então fica já entornado, mas faz um buraco, leva um cadinho de alumínio pequeno, cada um escreve seu nome numa plaquinha de alumínio, bota lá, derrete aquela plaquinha. Todo mundo se uniu. Tipo da cerimônia que japonês gosta, adora. O japonês adora essas coisas. O japonês ficou satisfeito com a inauguração, tá certo? E reclamou da outra. Quando foi a verba da inauguração o custo foi astronômico, japonês não reclamou, mandou todo o dinheiro, é festa japonesa, todos os brasileiros dão presente para os brasileiros e todos os brasileiros dão presente para os japoneses, e tinham mais de 900 convidados, presentinho vagabundo, aqueles saquinhos, parece bentinho de oração japonês, é bonitinho, né. Vocês mandam do Japão, o que vier do Japão é tudo de graça, o que der aqui, eu não pago nada que veio do Japão e vocês não pagam nada do que eu dei aqui. Fiz um haiku para comemorar a festa, um dos ministros japoneses, haiku é aquele versinho japonês que é concentrado, e que é assim, é monumento a... é _______________ que quer dizer assim, no monumento as duas pedras só dão uma sombra, que era o espírito da união realmente entre o brasileiro e japonês, cada um dá uma pedra, mas só tem uma sombra, porque elas são juntinhas. Porra, sabe, esse trabalho que você faz todo dia, aí você vai conquistando as pessoas, depois o cara te elege o parceiro, daí você pode trabalhar, senão não tem jeito, não tem sossego, é o dia inteirinho, é perseguição, aquela, toda hora um monte de japonês pedindo informação, anotando e o outro pergunta a mesma coisa, você tem que ir conquistando aos poucos o japonês.
P/2 - E outras nacionalidades, o senhor participou...
R - Não, aí eu fiquei mais ou menos especializado em japonês.
P/1 - Fez um doutorado.
R - Um trabalho...
P/2 - A pedra de Itabira, o senhor ia contar de onde...
R - Não, não vou contar não.
P/1 - Por favor.
R - Só eu que sei. Eu que trouxe e botou. Mas sabe e a gente levava, o Japão depois cresceu e desenvolveu e... é até um sócio meio ruim pra Vale hoje, nesses projetos dificulta trabalhar, mas tem uma coisa, também. A Vale muda as pessoas, depois de mim, quantos presidentes teve, 5, 6 presidentes, os japoneses vão ser sempre as mesmas pessoas que estão lá, só sai quando chegou a aposentadoria muito alta mesmo, que você sai, então você sempre mantém o espírito do projeto. A gente muda muito, o Brasil é um país assim, muito jovem e muda muito.
P/1 - O senhor se aposentou quando?
R - Eu aposentei em 1988, já tem já bastante tempo, e eu já tinha 31 anos de Vale e como tinha um grande período que tinha trabalhado em obra, comecei a trabalhar em obra, contei dois ou três anos de aposentadoria especial e pude aposentar sem ter 35 anos de serviço, né.
P/1 - Mas por que que o senhor se aposentou, foi uma opção?
R - Foi, num desses, eu acho que tem que renovar também, eu acho, sabe, não pode...Eu saí da Albras porque pedi demissão depois de ter sido durante sete anos presidente, porque não ia sair nunca se eu, ficava um Vice-Rei lá. Você tem que renovar, você ficou muito tempo, fica viciado nos lugares, você tem que renovar, tem que abrir campo para outro pessoal da empresa ocupar, senão, essa turma toda nova que entrou na Vale com vinte e poucos anos, logo, se não sai, não oxigena a empresa. E aí tinha uma época que tinha um abono para a aposentadoria favorável, a própria Vale do Rio Doce estimulando outras pessoas a saírem, aproveitei essa oportunidade e saí. Podia ter ficado mais, até pelo menos completar 35 anos, usar um pouco de aposentadoria especial, mas aí eu perderia o bonde, porque inclusive a associação de funcionários da vale, o plano de seguro da Vale é um plano que não é muito bom para o empregado, não quantos outros aí, a gente não sai ganhando nem perto do que ganhava na ativa, certo. Mas é bom ainda, muito bom, comparado com aí, não tem nem comparação com quem não tem, mas comparados com outros, Banco do Brasil, PETROBRÁS, não é grande coisa não. Mas é bom.
P/1 - Mas nesse período o senhor aposentou, mas mesmo assim o senhor continuou trabalhando...
R - É eu, algum tempo continuei trabalhando noutra empresa de engenharia, mas aí perdi um pouco o contato com a Vale porque não queria fazer lobby, da minha empresa, achava que eu não podia chegar lá e pedir favorecimento lá dentro. Eu sempre lá dentro, não tinha pra ninguém, não favorecia ninguém, não tinha cara para fazer isso. E eu só voltei a freqüentar mais a Vale um pouco, e aí a participar de associações lá, depois que também saí da empresa de engenharia, e agora estou vivendo aposentado sem fazer nada, que é bom, muito bom, recomendo a vocês não fazer nada.
P/1 - Quais são suas atividades, fora não fazer nada, que eu já ouvi falar que é uma das melhores coisas, mas tem alguma outra coisa que o senhor gosta de fazer?
R - Não, eu estou, eu comecei a fazer pesquisa histórica, por causa, para lançar esses livros e tenho lido muito sobre história, tem feito alguma coisa, ainda recentemente fiz um trabalho para a Bahia-Sul, sobre, lá na Vale, ficou fama de historiador também, que a Bahia-Sul, é lá perto de Porto Seguro, então nesses relatórios dela o tema foi descobrimento, então fiz uma pesquisa histórica e iconográfica sobre o descobrimento que orientou o relatório anual deles, ficou bonitinho. Já fizeram o ano passado e vão fazer esse ano outra vez, então faço uma coisinha assim, e esses dias me deram trabalho, eu tinha escrito um antes sobre Belém do Pará, sabe, o primeiro que eu fiz, eu tive que ler 160 livros sobre Belém do Pará.
P/2 - Cento e sessenta livros.
R - Então, para fazer uma história condensada, bem condensadinha.
P/2 - Mas isso já faz tempo ou não?
R - Esse de Belém, não tem uns quatro anos.
P/2 - Mas como é que surgiu essa paixão do senhor aí por escrever livros...
R - Não, porque eu sou de São João Del Rei, lá conhecer história é com a gente, agora escrever, não escrevo muito bem não, mas gosto de pesquisar e comecei a fazer um livro igual eu faço projeto de engenharia, até eu falei, o único livro que começa tendo layout, orçamento, cronograma, não sei o que, tudo de um projeto de engenharia, então deu certo.
P/2 - Uma logística do livro.
R - Aí o livro vem depois, quando você começa o livro, já está todo organizado.
P/1 - Assim que é bom, né.
R - Tá muito bem.
P/1 - Mas essas 3000 fotografias que o senhor tem?
R - Bom, eu trouxe aqui até um álbum desses que eu, antes de eu chegar em casa dei uma corrida, tenho impressão que elas têm muito mais interesse de obra, né, são algumas coisas assim que provavelmente tem na Vale, algumas coisas talvez não tenha.
P/1 - E por que o senhor fez, por que que o senhor...
R - Porque os cargos que eu ia ocupando ia saindo algumas fotografias, então dava uma fotografia assim e ia levando para casa e guardava e jogava lá, agora eu cataloguei tudo, então a maior parte das fotografias são dos projetos japoneses, Cenibra , japonês fotografa muito, então acho assim, não tem muito interesse na história da Vale, a menos alguma fotografia, por exemplo, mas que deve ter na Vale, a inauguração do Porto de Tubarão, não é, o Castelo Branco cumprimentando a diretoria, a diretoria da Vale daquela época, acho que essas fotografias têm na Vale; eu tenho aqui, eu trouxe até pra vocês, eu tenho aqui o modelo reduzido do Porto de Tubarão, no galpão do departamento. Esse pode ser até que a Vale não tenha, mas é uma fotografia que tinha lá na Vale, mas a Vale pode ter perdido, pode ter jogado fora, teria que ver se a Vale tem, e depois eu mostro para vocês para ver se tem algum, se tem algum interesse, posso mandar; um bocado de fotografia da Cenibra eu mandei para o museu da Cenibra, que eles fizeram lá.
P/2 - O museu...
R - É, até puseram o meu nome no museu.
P/1 - Bairro, tudo...
R - Pois é, mas a única coisa que eu não fui foi diretor da Vale, engraçado, né, eu fui presidente da Albrás, presidente da Cenibra, fundador da Docegeo, eu fui diretor da Docegeo também, diretor da Rio Doce Engenharia e Planejamento, né, Superintendente de Desenvolvimento durante dez anos, eu nunca fui diretor da Vale. Uma vez fui convidado para ser diretor da Vale, exatamente quando entrou essa administração do Fernando Reis que, ele então me chamou, me falou, “olha eu já falei com o Eca e você vai ser diretor da Vale”, eu falei “diretor de que?” “Você vai ser diretor de operações”, eu falei “mas, sempre fui da área oposta na Vale, outra área, desenvolvimento, embora tenha muito boa relação com o pessoal”; ele disse “é, mas eu quero que vai lá, porque nós temos essa divisão muito forte, tem que dividir a mina, do porto, ferrovia”, eu falei “então eu não aceito”. E não aceitei, parece que deu azar, nunca mais fui convidado para ser diretor da Vale.
P/1 - Senhor Romeu, eu queria, depois que o senhor foi tudo isso, perguntar qual é o seu sonho para o futuro? E não precisa ser com respeito à Vale, qual é o seu sonho?
R - Não, o meu sonho é ter boa saúde, sabe, assim para poder continuar fazendo o que estou fazendo. Eu convivo com os amigos, vou no bar, jogo sinuca, e mantenho, apesar, um ciclo de relações que tem muito a ver, que a maior parte do pessoal foi da Vale. Enquanto eu tiver boa saúde e puder fazer isso, é bom. A pior coisa, o único receio que você tem é envelhecer sem… com boa saúde, porque aí o envelhecimento fica desagradável; se eu puder agora continuar estudando livros de história, interessante, você ler mais, mesmo no período de computação, eu mexo um pouquinho, mas o ler, a gente está cada vez lendo mais, e continuar assim nessa vida é ideal, e ver os netos crescerem, né.
P/1 - Eu acho que...
R - Encerrado.
P/2 - O que o senhor achou de ter dado esse depoimento, desse projeto memória...
R - Eu achei bom, sabe, achei bom porque foi informal, bastante informal, a gente tem que ter liberdade de falar, e gostaria que os outros fizessem com bastante liberdade também, porque, para não caminhar, ah eu já falei, para uma coisa muito burocrática, para ser só histórico, porque tem, teria muito mais valor, se viessem com opiniões mesmo, pessoais, né.
P/2 - Obrigado.
R - De nada.
[fim da fita 001]
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