P/1 – Almir, primeiro eu queria agradecer a sua presença aqui no Museu, por ter aceitado o nosso convite e, pra começar, eu gostaria que você falasse o seu nome completo, local e a data do seu nascimento.
R – Eu sou de 26 de janeiro de 1958, Almir Vieira Nascimento, sou natural de Piraju, interior do Estado de São Paulo.
P/1 – Certo. E qual é o nome dos seus pais?
R – Aristeu Nascimento e Zoraide Vieira Nascimento.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Meu pai era mecânico no interior e a minha mãe não trabalhou, ela trabalhava em casa.
P/1 – E o seu pai como mecânico, como era o negócio dele? Ele trabalhava sozinho?
R – Bom, ele era empregado. Trabalhou desde os 14 até os 50 anos, se aposentou na mesma empresa como mecânico.
P/1 – E era mecânico de máquinas, de carros?
R – De carro. O meu primeiro contato com máquinas foi através do pai.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho mais três irmãos.
P/1 – E como você está nessa escadinha?
R – Eu sou o mais velho.
P/1 – Conta pra gente um pouquinho como era a Piraju da sua infância, sua casa, ser o mais velho da família...
R – É, a gente vem de uma família muito religiosa, Pentecostais. Então, a gente teve uma educação muito rígida, eu e meus irmãos. Na verdade (risos), essa nossa infância era igreja e casa o tempo inteiro. E claro que, a hora que gente tem possibilidade, a gente sai, sai do ambiente, enfim. Foi quando eu vim pra São Paulo pra estudar, acabei ficando e não voltei mais. Com a minha irmã e com o meu irmão mais novo, aconteceu a mesma coisa. Ele está no Paraná, em Arapongas, e eu tenho uma irmã que mora em São Paulo também.
P/1 – Antes de falar então dessa sua vinda, eu queria que você contasse pra gente como que era Piraju? Assim, descrever um pouquinho da cidade, dos lugares, fora a igreja que vocês frequentavam, onde que ficava essa igreja?
R – A cidade é muito linda! Ela fica no Vale do Paranapanema. A cidade é muito linda, pequena, mas linda! Eu gostava muito de lá e tenho a intenção de voltar um dia. Ainda não é a hora.
P/1 – E você chegou a conhecer os seus avôs?
R – Conheci. Conheci os meus avôs por parte de mãe e por parte de pai.
P/1 – E você sabe um pouco da origem deles? Como eles foram parar em Piraju?
R – Não sei. Eles também não sabiam falar. Um pessoal muito simples. Minha avó por parte de pai veio da Itália, mas, ela não tinha ideia de onde. Era italiana pelo sotaque muito carregado, mas ela não sabia e não tinha contatos também com a família. Por parte de mãe, meus avôs vieram de Macaé, no Rio de Janeiro.
P/1 – E você sabe por que eles vieram pra Piraju?
R – O meu avô era agricultor. Ele vivia numa cidade vizinha a Piraju e comprou um sítio e começou a cuidar da lavoura. Os meus tios por parte de mãe são todos lavradores e depois foram para os vários campos do comércio, né? Vários viraram alfaiates, enfim.
P/1 – E você convivia bastante com eles? Ia encontrar com os seus avôs ou estava junto aos ofícios deles?
R – Convivemos muito. A minha avó morava ao lado de casa, então, existia muita amizade. A família era bem unida, os meus primos todos e tinha um elemento que ligava todo mundo, que era a igreja. Tinha esse fator que também dava liga entre a família. Todo mundo era muito unido.
P/1 – E quais as lembranças que você tem do comércio de Piraju, de infância? De andar por lá, ter alguma loja que você gostava de passar na frente ou de entrar...
R – Eu adorava o Natal na cidade, porque as lojas ficavam abertas até mais tarde e os comerciantes enfeitavam as lojas. É uma lembrança muito boa que eu tenho de antigamente. Agora, todo mês de Natal, era pra todo mundo ir passear à noite, e as lojas fecham muito cedo, cinco e meia, seis horas, já estava tudo fechado e tinha o básico. Era um comércio bem fraquinho, tanto que as pessoas saiam de lá pra fazer compras na cidade vizinha. Compra de supermercado e tal. Tinha um comércio bem fraquinho, mas, eu adorava.
P/1 – E qual é a primeira lembrança que você tem da sua primeira escola? Você se lembra de quando você começou a ir pra escola?
R – Lembro. A minha primeira lembrança é do Parque Infantil, eu tinha uns seis anos. Hoje eu nem sei, já mudou tudo. Parquinho, eu acho que é o primeiro ano hoje em dia. Na verdade, nesse parque, dona Nininha era a minha professora, então, eu tenho lembranças muito boas. Eu era muito moleque, né? E eles davam leite que a Prefeitura fornecia. Era um leite em pó, mas, quando ela começava a fazer o leite assim, aquele cheiro, invadia o parque inteiro, então, é uma lembrança muito boa que eu tenho.
P/1 – E como que foram passando os anos da escola? De lá do Parque Infantil, você chegou a ficar com medo por ser o mais velho?
R – Não, a gente não tinha isso. Não tive medo na minha infância, mesmo porque, a igreja já colocava medo suficiente, então, eu não tinha outros medos, não adiquiri outros medos! (risos). Eles eram todos Testemunhas de Jeová, enfim, tudo não podia. Tudo era pecado. Então, a gente já cresceu com isso, né? Mas, fora isso, eu não tinha medos.
P/1 – E como foi então prosseguindo então, a sua vida na escola, depois do Parque Infantil foi pra escolinha, pro ginásio...
R – É, daí eu fui pro ginásio, naquela época, era o quarto ano do ginásio e eu sempre fui bom aluno, eu nunca tive problemas pra tirar nota. Eu sempre estava assim, muito tranquilo com minhas notas. Então, eu tinha bastante tempo pra brincar, pra me divertir. Uma lembrança que eu tenho, deixe me ver..., assim que eu entrei no colegial, eu comecei a estudar à noite. Isso foi na época dos tempos mais duros da Ditadura Militar, em 72, 73, quando eu fui pro colegial e eu conheci um professor de Geografia de uma cidade vizinha – e isso é muito legal –, e ele era muito subversivo. Naquela época, só Bauru que tinha uma universidade, nenhuma outra cidade ali na região tinha, então, eles se reuniam dentro da universidade, pra discutir a situação política do país, então, foi uma época bem legal. Foi a primeira vez que eu tive contato assim, com a transgressão, vamos dizer assim, né? E Franho era o nome dele, desse professor de Geografia. Eu adorava conversar com ele, eu tinha 16 anos, talvez, minha primeira experiência com a transgressão assim, porque ele me contava das reuniões e muito medo, daí, até me lembro de falar: “Não sou só eu que tenho medo, né, eles também tem”, porque a polícia política era bastante atuante. A gente sabia de vários professores que haviam sido presos, alguns sumiram. Nessa época, eu tomei contato que existiam outros medos, a não ser o da religião, de Deus, que era punitivo, mas tinham perigos também no dia a dia das pessoas. Isso eu tinha 16 anos. Daí, eu comecei a ser treinado pra ser Missionário e, daí, durante o tempo que eu fiquei em Piraju, eu trabalhei como Missionário das Testemunhas de Jeová e não trabalhava fora. Eu trabalhava o tempo inteiro pra igreja, assim, dia e noite, e, quando eu vim pra São Paulo, eu vim pra sede da organização aqui em São Paulo e eu vim trabalhar dentro da Sede. Claro, ninguém era remunerado, eu tinha 19 anos na época, quando eu vim pra cá, enfim, até então estava tudo ok. Até eu vir pra cá. Eu sempre fui gay, sempre. Assim, eu realmente não pensava nisso, eu não tinha espaço pra pensar nisso, agora, em São Paulo, quando eu cheguei aqui, você começa a ver a cidade, centro da cidade, rodoviária, então, eu comecei a me dar conta que existia uma vida gay e que as pessoas que eram gays, que eu via aqui no Centro da cidade, não necessariamente eram travestis, que era aquela ideia que a gente tinha, né, o estereótipo do segmento, mas que eram pessoas normais, trabalhavam, enfim, se vestiam normalmente. Daí, eu comecei a questionar a minha fé nessa época, embora eu trabalhasse full time dentro da organização. Bom, foi isso. Daí, eu me acidentei quando eu fui trabalhar na gráfica dentro da organização, eu cortei o meu dedinho, amputei o meu dedo na gráfica, tive um acidente de trabalho e isso foi a gota d’água. “Eu não quero. Vou cuidar da minha vida...” Enfim.
P/1 – E como eram esses seus primeiros trabalhos na Igreja ou tinha uma imposição pra que você seguisse esse caminho lá em Piraju? O que você fazia?
R – Eu tinha todas as imposições. Primeiro que assim, quanto mais você participa, mais você é aceito. É mais ou menos assim que funciona as Testemunhas de Jeová. É uma sociedade muito fechada, é uma organização social muito fechada e as pessoas que transgridem, sei lá, de repente, uma menina deu pra um cara, deu pra um namorado e descobriram. Ela tem duas chances: ou ela se arrepende e para, ou ela é expulsa da organização. No ato de expulsão, você perde todos os vínculos com as pessoas da Igreja, numa primeira etapa. E se a sua família também é Testemunha de Jeová, eles passam a te tratar como uma pessoa de fora, não como uma filha, então, também existe uma distância. E quando eu estava aqui em São Paulo, com 19 anos, eu decidi abandonar a organização, me aconteceu tudo isso. Então, com 20 anos eu me vi sozinho, porque eu não tinha amigos fora, a não ser dentro da Igreja, não conhecia absolutamente ninguém fora. Todo o meu círculo social estava ali e tudo. Daí, eu penso, isso é muito cruel, porque, se é um cara equilibrado, tudo bem, ele supera e vai embora. Mas, se é uma pessoa que tem algum problema, ele se mata mesmo, porque é muito cruel essa rejeição, essa exclusão total. Daí, eu comecei a trabalhar na Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo) aqui em São Paulo, com processamento de dados, uma empresa do Estado. Daqui, eu fui fazer universidade em Processamento de Dados, fui tocar a minha vida e eu me separei da igreja e nunca mais voltei.
P/1 – E com isso também os seus pais... está estudando uma volta ou teve um afastamento, tem notícias ou não tem, como foi?
R – Principalmente os meus tios, tias e primos, assim, a família é muito grande, eles eram em nove irmãos. Minha mãe nunca foi muito carola, ela ia, participava, mas ela tinha uma certa distância, então, com a ela, não teve o menor problema e o meu pai, antes de eu abandonar a organização, ele já tinha abandonado. Certas coisas ele não gostava. Ele achava muito cruel também. Mas, assim, na minha família eu realmente nunca tive problema quando eu me assumi gay, eles ficaram sabendo. Eu não tive problema. Tenho uma irmã que é gay também e ela está em São Paulo. Ainda bem! Esse problema a gente não tem em casa!
P/1 – E como foi essa chegada aqui em São Paulo? Você já conhecia a cidade? Qual foi sua primeira impressão?
R – Conhecia a cidade. Uma vez por ano, nós vínhamos pra cá. Eu tinha uns tios que moravam em Osasco, então, nós vínhamos e ficávamos hospedados na casa deles. E o meu tio, eu me lembro de uma vez ele saindo pra me mostrar a cidade, ele me levou no Aeroporto de Congonhas... Enfim... Uma gracinha. É, minha primeira impressão de São Paulo é muito boa. Eu tinha um tio que trabalhava na Líbero Badaró também, então, aqueles prédios enormes assim: “Meu Deus do Céu!, (risos), que medo!”, mas, são boas ideias, são boas recordações da primeira impressão de São Paulo. Depois desses 19 anos que eu mudei pra cá que eu comecei a descobrir a cidade! Eu era moleque, curioso, e daí, eu fui descobrindo aqueles puteiros no Centro da cidade, aqueles cinemas de filme erótico, strip-tease, eu ia sozinho. Foi justamente no processo em que eu estava questionando a minha fé, mas, eu ainda não tinha deixado, então, inventava histórias, enfim. Aí, comecei a descobrir a cidade!
P/1 – E onde que você foi morar? Como era o seu dia-a-dia de trabalho, de conciliar tudo isso?
R – A entidade ficava na Vila Mariana, perto do metrô Vila Mariana, metrô Praça da Árvore. Quando eu saí, eu vim morar na Rua Butantã, aqui em Pinheiros, numa quitinete, junto com um amigo meu, aí, a gente começou a dividir a quitinete também. Então, foi o meu primeiro endereço. Dois anos depois, eu conheci um carinha, daí eu me apaixonei, foi o primeiro cara na verdade que eu saí, que eu me apaixonei, daí, fui morar com ele. Ele morava no Copam, daí, eu morei dois anos no Copam. E eu adorava! Aí, eu comecei a fazer o Mackenzie e era ali do lado, né? Eu trabalhava no DEIC, na Prodesp do DEIC e eu fazia tudo a pé. Ia trabalhar, ia pra universidade... Enfim, foi uma época boa!
P/1 – E como que foi morar no Copam, um edifício símbolo da cidade?
R – Na época, o Copam era muito decadente, assim, era muito, muito decadente. Hoje não. Hoje, ele tem uma prefeitura, tipo, tem um Prefeito lá dentro. Um síndico que tem poder de Prefeito, enfim, existem regras. Ele recuperou o prédio inteiro, mas, na época, não. Então, são vários blocos, eu morei num bloco, no bloco F, e tinha muitos travestis morando no Copam. Então, foi a primeira vez também que eu tomei contato com essa realidade, então, também conheci essa outra tribo dentro do segmento GLBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), mas, assim, nunca fiz amizade, nunca consegui fazer amizade com eles, mas, passou a ser uma coisa comum, porque eu encontrava com eles o tempo inteiro. Subia no elevador, encontrava na padaria, no Centro da cidade e foi a primeira vez que eu tive consciência de como o segmento estava organizado. Então, o Centro tinham várias baladas, vários bares, várias lojas, todos gays e, então, comecei a pensar: “Pôxa vida, existe alguma coisa, uma luz além do horizonte”, vamos dizer assim, enfim, essa descoberta foi muito legal, muito boa.
P/1 – E o que tem nessas lojas? Como que os grupos se encontram pela cidade?
R – Assim, não existia uma organização, uma associação, não existia uma entidade comercial que congregasse todas essas casas, todos esses comerciantes. Isso foi na década de 80, 82, 83, então, era tudo muito solto, mas, assim, tinham lojas de souvenir, as bandeirinhas do arco-íris, camisetas. Eu adorava aquilo lá, imagine! Eu nunca descobri que isso se vendia em loja (risos), que poderia comprar, cartões postais de gays, enfim, calendário... Era uma realidade que não existia pra mim até então. Depois, eu fui morar no Paraíso, mudei de trabalho, me formei, comecei a trabalhar como Analista de Sistemas. Primeiro, como programador no Unibanco, lá na Raposo Tavares, depois, eu saí de lá e fui ser Analista de Sistemas no Real ainda, na época. Nessa época, eu estava namorando um carinha e a gente deciciu, tinha vontade de abrir um negócio próprio e tal, foi quando eu deixei do meu trabalho e ele deixou do dele e a gente abriu um bar lá na Rua Augusta, lá nos Jardins, próximo da Oscar Freire. E foi o máximo! Foi um sucesso! Era bem pequenininho, tinha dez lugares, numa galeria, onde a gente começou a fazer almoço e estava sempre cheinho assim... era bem legal! Nisso, eu só vivia para o restaurante, né? E ele também. Aí, a gente ficou um ano, um e meio nessa galeria e foi onde eu aprendi a cozinhar também, porque, logo nos primeiros meses a cozinheira me deixou na mão e eu ficava desesperado quando ela resolveu ir embora. Aí, eu falei: “Ah, eu não vou ficar mais na mão de funcionário!”, (risos), aí, fui fazer curso, fiz vários cursos de cozinha. Eu tinha um cozinheiro, mas, quando tinha necessidade, eu mesmo ia pro fogão, cozinhava e era uma coisa que eu gostava. Não era uma coisa ruim pra mim. Depois de um ano e meio, a gente viu que bar, esse espaço era muito limitado, aí, nós alugamos um sobrado na Rua da Consolação, entre a Alameda Franca e a Tietê. Isso na década de 80, quando o segmento gay começou a explodir ali nos Jardins, porque o segmento migra, dependendo da vizinhança, dependendo da aceitação dos lugares. Nessa época, começou a ter um movimento organizado, então, começou o Massivo, começou a rolar uma balada chamada Malícia e nós abrimos o Paparazzi, ao lado do Malícia e daí, foi o máximo! Até eu trouxe alguns artigos aqui, que depois... vocês pediram pra eu trazer fotos, eu acabei trazendo artigos da época, que eu tenho um book do negócio e foi o primeiro vídeo-bar gay da cidade. Isso foi em 92. E foi um estouro assim... era muito cheio, muito cheio e foi naquela época que começou o movimento clubber também. Hoje ninguém mais fala de clubber, mas, o movimento clubber, eles não eram gays, mas, eram alternativos, então, o bar começou a ser um point de encontro do movimento clubber aqui em São Paulo, enfim, foram dez anos ali, bem legal!
P/1 – Eu queria voltar um pouquinho e perguntar como foi a decisão de montar o primeiro restaurante, se ele tinha o mesmo nome, Paparazzi?
R – Já era o Paparazzi. Quem deu esse nome, a gente começou a falar com vários amigos e foi uma amiga do meu namorado, na época, ela sugeriu e falamos: “Nossa, perfeito! Um nome facinho, um nome legal e tal”, e a gente criou o Paparazzi. A fachada era toda em rosa e cinza. Eu tinha uma amiga que trabalhava comigo no Unibanco, no Real, Analista de Sistemas também, e tudo dela era rosa e cinza, eu já era gay, eu adorava essas cores! (risos). “Então, por que você não faz rosa e cinza? Eu adoro essa cor!”, daí, a gente fez toda a fachada de rosa e, é claro, que quando a gente mudou lá pro Jardins, aí, a identidade mudou, o logotipo mudou, enfim, a gente começou a tratar o restaurante de uma maneira mais profissional.
P/1 – Até porque também já tinha uma experiência.
R – Tínhamos a experiência do restaurante pequenininho, mas, na época, no bar, a gente acabou conhecendo o André Hidalgo, por sinal, o André é hoje o produtor e é o dono da Semana de Moda aqui em São Paulo. Naquela época, ele também era estudante de jornalismo e ele sempre foi assim, de vanguarda, e a gente começou muito a montar junto, né? Qual seria a identidade do bar? Enfim, ele passou a trabalhar com a gente, foi quando explodiu! Existia uma coluna na Folha de S. Paulo, uma coluna clubber, que era a tendência da época, que era a jornalista Érica Palomino, e ela era muito amiga do André, então, a gente ficou bastante em evidência, nessa época, em várias notas nos jornais, nas revistas, na Veja, indicando restaurantes, enfim, foi bem legal!
P/2 – Queria só perguntar pra você, o que pra você caracteriza um bar, ou uma balada, como gay? É a questão da fachada? Da maior tolerância? Ou você acha que as pessoas vêem como um ponto de encontro? Como que a pessoas sabem que aquele é um bar gay?
R – Então, é quando você faz um marketing direcionado. Você faz um plano de mídia e tem a mídia especializada. É muito ruim a nossa mídia gay mas existe. Enfim, são as únicas que tem. Então, quando você quer direcionar um estabelecimento pra atender esse público, você se utiliza dessas mídias, e tem uma coisa do movimento que é o boca a boca, a net que os gays fazem é impressionante. Na época, não tinha e-mail, não tinha Facebook, não tinha nada, então, era o boca a boca mesmo. Então, o bar explodiu assim, foi um estouro, era notado o tempo inteiro. Uma coisa muito legal também, que caracteriza é quando o estabelecimento tem uma política friendly, ou seja, não importa quem você esteja recebendo no seu bar, ele vai ser bem tratado, independente, tá? Então, isso é muito legal. Não adianta só o empresário ser friendly ou ser gay, todo o staff precisa estar treinado. Então, são várias coisinhas. Existe uma discussão no segmento sobre a estética gay. A gente sabe que os gays são formadores de opinião, muitos estão envolvidos com a cultura, com moda e, realmente, existem alguns sinais, na sua decoração, que você sinaliza. Nos Estados Unidos, por exemplo, a gente sabe que algumas empresas, na hora de lançar um produto de vanguarda, um eletrônico, elas lançam primeiro na comunidade gay, dependendo da aceitação, elas lançam por mercado. Então, a gente sabe que eles estão sempre antenados, sempre ligados, então, na hora de você abrir uma balada ou um bar, você tem que estar sempre antenado sobre o que está acontecendo, senão, você fica pra trás mesmo e vão pra outro. Eles saem, te deixam e vão pra outro estabelecimento.
P/1 – Você falou de todo staff, que todo o pessoal que trabalha tem que estar treinado. Como que é esse treinamento, quais são as instruções, como que é escolhido o pessoal, se tem uma diferenciação?
R – Então, na época, não existia nada. Hoje, não. Hoje a ABRAT (Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes), a associação que eu presido. Nós temos treinamento e esse treinamento é dado para as empresas, enfim, é dado na Secretaria de Turismo, no Anhembi, na SPTuris, mas, na época, não. Na época, era uma coisa muito espontânea assim. Eu era gay, o meu namorado, e a gente procurava selecionar funcionários gays. Mesmo porque, tivemos funcionários que não eram gays e é complicado, porque eles vão recebem cantadas, né, claro! Numa balada, todo mundo quer cantar, quer... Um garçom, por exemplo, como eu tive lá, um barman, também, que não eram gays, trabalhando num ambiente gay, não era muito fácil, ainda mais no início dos anos 80, né? Por isso que eu sempre procurava selecionar funcionários gays, e eu sempre insistia na questão do bem atender. É importante o bem atender, é importante você sorrir pra todo mundo, se vem um deficiente aqui, faz o impossível pra atendê-lo, né? Na época, não tinha cota, não tinha acessibilidade, não tinha nada, imagina como eles iam! Enfim, é essa um pouquinho da história.
P/1 – E como que era esse bar? Como que era o balcão ou as mesas? Como que ele estava distribuído?
R – Era um sobrado, então, você entrava assim, no nível da rua, você já tinha um bar, o balcão, o caixa e a prateleira de bebidas e, na parte de trás, você já tinha duas tevês, aquelas tevês enooormes, eu falava: “Ai meu Deus, se um dia ela despencar, vai matar, né?”,(risos), eram muito pesadas, daí você subia uma escada... A gente abriu tudo no sobrado, tínhamos todos os cômodos, as paredes, tudo, tudo. E na parte de cima, também, era um espaço, um vão bem grande, onde tinha um telão. Daí, sim, tinha um telão e tal... E o André, ele sempre... Na época, eu gastava um fortuna com essas fitas de clips, né, fitas de vídeo, e uma vez por mês a gente ia lá na Galeria do Rock, pra comprar os últimos lançamentos, então, assim, realmente era uma programação de vanguarda que tinha no bar em termos de música, de imagens, enfim, tudo isso contribuiu para que o negócio fosse pra frente.
P/1 – E lá ainda você ia todos os dias, ficava acompanhando o movimento?
R – O tempo inteiro. Durante o dia, nós abríamos como um restaurante por quilo e à noite era o bar que tinha alguns pratos a La carte. Então, eu ficava o tempo inteiro, morava na Rua Frei Caneca, que era muito pertinho pra mim e foi um dos motivos que eu vendi o bar, porque, bar, você abriu a porta, tem movimento, né? Você está atendendo alguém, então, era muito trabalho. Aí, você começa a questionar: “Pôxa vida...”, tem a fase, né, que você fica enfiado o tempo inteiro e foi quando eu vendi o Paparazzi.
P/1 – E quais eram as maiores dificuldades? Porque é bem diferente você servir um almoço por quilo e você depois abrir o bar de noite, então, o público mudava muito? O quê que tinha de mais difícil pra fazer ou pra organizar?
R – Mudava total o público, porque nós estávamos muito próximos do Incor, do Hospital das Clínicas, então, os meus clientes de almoço, eram médicos, enfermeiras, às vezes, estudantes de medicina da Faculdade de Medicina, eles só atravessavam a passarela e caíam no bar. E assim, terminava o almoço, a gente precisava limpar tudo pra abrir a noite como bar gay. Aí, você guardava mesa, guardava vários utensílios de cozinha, enfim, você dava uma outra cara pro ambiente à noite. A iluminação mudava, iluminação era indireta, acho que era isso. Como sempre a nossa maior dificuldade era com o staff mesmo, principalmente com os bares e restaurantes, o staff muda muito, né, a qualidade da mão de obra é muito ruim, enfim. Aquele treinamento, você ia ensinar um funcionário e era eterno, a cada dois meses você precisa treinar, enfim, ensinar...
P/1 – E lá no bar tinha promoções ou algum outro atrativo, para o cliente? Vocês precisavam fazer ou eles já viam normalmente?
R – No bar, a gente fez vários lançamentos de fitas e de shows, lá. Do George Michael, da Madona, e, assim, a empresa de disco ia fazer o lançamento lá, e a gente sorteava algumas fitas para os clientes, isso acontecia várias vezes. E, no restaurante, sempre tinha uma promoçãozinha, suco de laranja gratuito pra quem consumisse acima de um determinado valor, às vezes, uma gelatina, enfim, são essas promoções que todo mundo faz.
P/1 – E as compras pra fazer as comidas? Quem que fazia, onde que vocês iam buscar essas mercadorias?
R – Eu fazia e, daí, é claro, eu não agüentava, no dia que eu fazia, porque eu levantava as duas da manhã pra ir lá no Mercado Municipal, no Parque Don Pedro. Ia lá pro Mercadão, carregava a caminhonete. Ela ficava lotada de caixas e caixas de verdura, de legumes, e por volta de seis e meia, sete horas, estava descarregando no restaurante, os funcionários já estavam chegando, e, nesse dia das compras, eu não ficava no bar à noite. Eu não aguentava. Estava morto. (risos).
P/1 – E qual era a periodicidade dessas compras? Era uma vez por semana, por mês...
R – Por semana. Fora isso, nós comprávamos carnes diariamente, peixe também era diário, frango. Então, a gente tinha um certo cuidado na escolha dos produtos.
P/1 – E qual era o produto mais difícil de escolher?
R – Peixe e camarão que a gente usava muito, mas, como eles viam todos congelados, então, a gente nunca sabe, né? Ele está congelado, tem aquela barra ali, né, então, eu tinha sempre esse preocupação: “Meu Deus, ele vai descongelar e o que vai virar isso?!” (risos). Porque a gente sabe que esse produto foi transportado da baixada até aqui. A gente não tinha muito controle de onde vinha, como vinha. Então, era isso e acho que a maior dificuldade era com peixe e camarão, siri. Que, às vezes, eu fazia casquinha de siri, então, era a mesma coisa, frutos do mar, né, de um modo geral.
P/2 – E, voltando um pouco naquela questão do marketing direcionado que você falou, como que vocês faziam? Eram planfetos, cartazes, vocês anunciavam em rádio, alguma coisa assim?
R – Só lembrando que naquela época não tinha site, não tinha internet, depois que começou. A partir de 95, 96, começou a internet. Mas eram flyers mesmo. A gente fazia o flyer e distribuímos nas festas, íamos nas baladas, distribuíamos nas baladas e, daí, eu tinha um divulgador. Esse divulgador trabalhava só no final de semana e quando tinha alguma festa, algum evento, a gente fazia um flyer específico pra isso. Tinha mês que nós fazíamos um flyer semanal, então, toda semana tinha uma festa diferente e tinha um material diferente pra cada festa.
TROCA DE FITA
P/1 – Almir, antes de a gente voltar a falar do movimento do restaurante e tal, eu queria perguntar, por curiosidade, qual era o prato que você gostava de fazer quando estava na cozinha? Tinha alguma coisa que você preferia?
R – Eu gosto muito de cozinha regional, então, adoro cozinha mineira, tutu de feijão, arroz de carreteiro, costela com mandioca, gostava muito! Eu sempre fazia. Uma vez por mês, eu tinha uma semana de cozinha regional. Cozinha baiana também adorava, fazia. É que não era muito fácil. Cada vez que eu inventava moda, claro, isso era mais trabalho pra mim, porque eu tinha os produtos que eu comprava todo dia e sempre, mas, por exemplo, quando eu queria fazer uma comida baiana, por exemplo, daí, eu ia atrás de camarão seco, porque não tinha no meu fornecedor, eu precisava ir, então...
P/1 – E falando agora de fornecedor, já que você tocou nesse assunto, como que era a sua relação com eles? Foi sempre tranquila?Tinha vários fornecedores? De onde que eles vinham?
R – Eu tinha vários fornecedores. E minha relação com eles era muito tranquila. Como eu sempre comprava... Assim, questão de personalidade, se alguém estiver me atendendo bem, eu não mudo de fornecedor, eu sou fiel, assim a... Todos eles me atendiam de muito tempo, de muitos anos, então, minha relação com eles era muito legal, era muito boa. Se eles por ventura me mandassem uma mercadoria que não estava muito legal, eles trocavam. Eu não tive problemas quanto a isso não.
P/1 – O bar funcionou mais ou menos uns dez anos, né, você chegou a comentar...
R – Isso, ele funcionou de 99 a 2009, final de 2009. Aí, eu vendi pra dois japoneses recém chegados do Japão, um era dentista e o outro era... não lembro. Héteros. Queriam investir, se apaixonaram pelo bar e eu vendi pra eles. Em um ano, eles fecharam o restaurante, é claro! Já era mais ou menos previsível.
P/1 – O que você percebeu que mudou, no bar, na clientela, no bairro durante esses dez anos que o bar funcionou?
R – Eu acho que a gente contribuiu pra que houvesse uma discussão sobre diversidade no bairro, porque é impossível, dez anos você como um estabelecimento num lugar, é impossível que a vizinhança não saiba o que é, como é, e que tipo de público recebe. Eu nunca tive problemas, acho que só duas vezes, quando começou a lei do Psiu e foram lá e fecharam o bar duas vezes, mas, fora isso, acho que contribuiu sim. Acho que se você for lá, os moradores mais antigos ainda sabem o que era o Paparazzi, quem era o Almir, quem era o Neto, o restaurante, o cara da farmácia, o cara da padaria, todo mundo sabe! E sabem que eu era gay também, mas nunca tive o menor problema quanto a isso. Então, eu acho que ajudou muito, quebra de preconceito, quebra de um monte de coisa, porque é claro que os moradores, a vizinhança deveria conhecer o centro da cidade, aqueles bares todos muito ruins em termo de estrutura, né, mas quando você cria um negócio e esse negócio é um produto, porque era muito legal, a estrutura era muito boa. Você muda a imagem também. “Olha, dentro do segmento também existe coisa legal, veja esse bar!”
P/1 – E qual era o espaço do bar que você gostava mais, que você se identificava mais? Que você falava assim: “ah, esse aqui é o meu cantinho...”, ou que você cuidava mais? Tinha algum?
R – Eu gostava muito de ficar no balcão pra rua. Eu adorava ficar servindo café, porque durante o dia era cafezinho, e toda hora chegava alguém pra conversar, né, e eu gostava muito de ficar ali.
P/1 – Qual era a relação com os clientes? Teve algum, ou alguns, que marcaram, que iam sempre e que disso se tornou uma amizade...
R – Sim, vários! Eu tenho amigos até hoje do Paparazzi, que a amizade começou lá. Muitos. Muitos casais, muitos casamentos aconteceram ali também, né, que a gente sabe. Hoje, eu tenho uma sauna e até na sauna a gente faz casamento, imagine, na época, num bar, restaurante? Então, era bem legal, porque tinha um telão e daí, os casais subiam juntos pra namorar em frente do telão. Não tinha telão na época, era muito difícil, muito raro. Hoje não. Então, eles iam pra namorar em frente ao telão, principalmente quando tocava Madona, né? (risos)
P/1 – E qual foi a importância pra você de ter um comércio como esse, que é um diferencial, que traz quebra de preconceito, traz um monte de outras coisas, que enriquecem o entorno?
R – Quando eu me lembro do restaurante, eu me lembro com muito carinho. Foi uma coisa que aconteceu e foi muito bom. Claro que tem um time, né, principalmente, bar e balada, você tem um time. Ele dura quatro, cinco anos e você precisa vender. Eu perdi um pouco esse time na época, porque eu gostava muito dali, então, eu não queria sair dali, mas, as pessoas vão abrindo lugares novos, enfim, as pessoas vão indo embora, né? Mas, foi muito bom! Foi muito legal!
P/1 – E como que veio essa decisão de vender para os japoneses e o negócio, né, discutir a venda?
R – Pois é, eu e meu sócio, a gente começou a conversar sobre a dificuldade de se ter um restaurante, de ser dono de um restaurante, porque você não para. Qualquer outro negócio, você fecha as portas e você vai pra casa, num restaurante não, você ia pra um mercado, você ia pro açougue, você ia... Enfim. Então, a gente não parava. Se nós abríssemos em final de semana também, seria a mesma coisa. Você abre, tem gente, né? Aí a gente pensou: “Vamos simplificar um pouco a vida, né? Vamos vender!”, aí a gente vendeu e nós abrimos uma sauna. A gente tinha vontade de continuar mexendo com o público gay e, depois de muito pesquisar, muita pesquisa de mercado, a gente viu que existia esse nicho aqui em São Paulo. Aí, vendemos o restaurante para os japoneses e abrimos a sauna.
P/1 – E como que foi essa mudança de tipo de trabalho? Quais foram as dificuldades iniciais de se abrir a sauna, como escolher o ponto onde ela está?
R – Então, quando nós começamos a olhar os pontos da cidade, na época, as luvas estavam muito caras. Estava havendo um boom em Higienópolis, no Centro e eu queria abrir no Centro da cidade, mas, as luvas estavam muito caras, porque, pra sauna você não pode ter um lugar pequeno, né, tem que ter um espaço razoável, pela variedade de atividades que você tem dentro de uma sauna. Aí, em Higienópolis, vimos uma casa, que era uma casa de morada, uma tecelagem, e o proprietário estava alugando o imóvel. Aí, a gente precisou adaptar, claro, o imóvel não ser para ser uma sauna, a gente precisava adaptar, quebrar parede, faz parede, tira escada, coloca escada, então, foi um tempo aí, foram três meses de reformas. Como eu nunca tinha mexido com isso, claro que foi um aprendizado, né, porque eu achava assim: “Saunas gay você abre, está lotado, né?”, e não foi bem assim, principalmente, porque tem vááárias na cidade de São Paulo e, a mesma coisa, você não pode esquecer nunca que você tem que fazer um plano de mídia, tem que fazer um planejamento. Então, no primeiro e segundo ano, foi meio complicado. Depois não, a partir do terceiro ano já foi bem.
P/1 – E quais são as atividades que ela oferece, porque você falou que tem várias?
R – Tem massagem, não é massagem erótica, é massagem relaxante, profissional mesmo, que é o diferencial das demais saunas que tem os garotos de programa que fazem massagem, então, nós tentamos ir pra uma nova linha. Depilação masculina, tem um estúdio de depilação que é bem legal, um bar que não é nem um diferencial, mas o bar está bem montadinho também. É isso. Daí, tem cabines, tem a sauna seca, sauna a vapor, então, ela é enorme.
P/1 – E passada essa dificuldade dos dois primeiros anos, como é que ela reagiu, funciona hoje, qual é o horário de funcionamento, quando tem mais público?
R – Ela funciona todos os dias a partir das 14 horas até as 23, exceto às sextas-feiras, que tem uma festa toda sexta que começa as 23 e vai até as quatro horas da manhã. Toda sexta tem um evento lá. Então, é isso. Mas, é muito tranquilo, porque numa sauna, é o que eu sempre falo para os meus funcionários, os clientes estão aqui, eles vem pra se divertir entre eles. A gente só precisa tomar cuidado pra atendê-los, deixar sempre limpinho, mas eles vão se divertir por eles. É até um ponto de encontro, é claro! Então, até entender isso, né, você não precisa fazer muita coisa, mas você tem que proporcionar e colocar a disposição uma estrutura pra que eles se divirtam.
P/1 – E tem algum período que vai mais gente? Um dia de semana que coincide de ter mais movimento?
R – Como em todas as saunas, nos finais de semana: sexta, sábado e domingo. Mas, como a gente tem algumas festas, então, nessas festas também fica bem cheia, fica bastante cheia.
P/1 – E as festas são temáticas ou ela só abre e vira balada?
R – São temáticas. Hot Ass enfim. São títulos assim... (risos), eróticos! (risos).
P/1 – E qual é a faixa etária do público que vai? São mais novos, é variado?
R – São mais novos, porque o pessoal mais velho costuma ir onde têm garotos de programa, saunas que trabalham com garotos de programa, que não é o caso da minha. Então, vai um pessoal mais jovem, a maioria, entre 20, 45 anos. Claro que sempre tem os mais diversos públicos, mas, a maioria é o pessoal mais novo mesmo que frequenta a sauna.
P/1 – E quem são? Dá pra definir mais ou menos? É uma galera que trabalha no Centro, ou tem pessoal que vem de longe pra lá, do bairro? Como que é?
R – É, a pessoa vem de bastante longe. Pra essa festa específica, a gente recebe clientes que vem de Buenos Aires só pra festa, Campo Grande, Campinas, São José dos Campos... Eles vêm, participam da festa e voltam no final. Do Rio, a gente recebe muita gente do Rio de Janeiro também. Isso, informal, né, não tem nenhuma pesquisa, mas, conversando, é o que a gente conseguiu levantar.
P/1 – E quando que surgiu a Associação que você preside?
R – A Associação surgiu há sete anos, a ABRAT tem sete anos de idade. Antes disso, em 1999, 2000, eu fui diretor de eventos da Associação da Parada Gay de São Paulo... foi o que a gente estava conversando da parada da Virada, né, foi quando o movimento levou 100 mil pessoas pra rua, isso em 99, e que o mundo passou a olhar com atenção. “O que é esse segmento que leva 100 mil pessoas pra rua?”, né?, “Como que está organizado, o que eles consomem?” Daí, foi bem legal porque três anos antes a parada tinha começado na mão de um grupo de militantes, as Paradas são eventos de militância, só que havia na época, um militante mas ele era meio que visionário, o Beto de Jesus, então, ele chamou alguns empresários do segmento GLS pra fazer da Parada de São Paulo, um produto turístico. Então, esse grupo de empresários se aproximou da Associação, fez um planejamento, essa Semana da Diversidade, que hoje existe, nasceu lá, devido ao planejamento. Por sinal, é um modelo de Semana de Diversidade, que hoje, o Brasil inteiro copia. E assim, a Parada de São Paulo virou um produto turístico, por isso, que a SPTuris trabalha, a Prefeitura trabalha, o Convention Bureau da cidade trabalha e tratam com muito carinho esse evento. Uma coisa fundamental foi esse grupo de empresários definir uma data fixa pra Parada, então, a Parada de São Paulo é sempre no Corpus Christi naquela semana de feriado prolongado, que na quinta-feira é feriado. É claro que os dias no mês mudam, mas, por exemplo, se eu tenho uma agência e quero vender uma viagem pro meu turista gay ou lésbica, pra São Paulo daqui a dez anos, eu posso vender, porque eu sei exatamente quando vai ser o Corpus Christi daqui há dez anos. Então, por isso que foi esse boom, tá?!
P/1 – E qual a importância desse movimento, da Parada?
R – A importância é que hoje, cada vez mais jovens saem do armário. Hoje tem meninas de 16, 17 anos se assumindo gay, o que na minha época não tinha porque não existia informação, imagine. Várias empresas estão procurado esse mercado pra trabalhar com GLS, pra investir nesse mercado. Enfim, vários frutos. A importância política da Parada faz com que o movimento ao longo do ano brigue por direitos, por leis, porque é diferente um grupo pressionando um deputado ou um vereador para o projeto de leis e é um evento com três milhões de pessoas, né? É esse número que dá força pra Parada ao longo do ano. Hoje é impossível o presidente da Parada, na atual diretoria, né, que é uma associação também que faz o evento, não ser bem recebido pelo Prefeito, pela Companhia de Turismo, enfim. A Prefeitura dá toda a estrutura, dá gradeamento, policiamento, palco. Então, a Prefeitura hoje investe no evento. E é essa a força política do evento, né? Até é engraçado, que eu dou aula sobre movimento GLS e, às vezes, eu pergunto para as pessoas se a Parada é um evento político ou é um carnaval fora de época? Assim, eu bato muito na tecla, que, embora seja um carnaval, porque é a característica do gay, principalmente do gay brasileiro, que tudo vira festinha, é do nosso povo isso, mas é um evento político sim, porque não é qualquer movimento que leva três milhões de pessoas pra rua e, claro que os políticos estão de olho, porque esses três milhões, eles votam, eles tem candidatos, eles tem partido, enfim, daí, começa a se desdobrar nas várias ações. Enfim, a ABRAT surgiu como? Esse presidente saiu da Parada, da Associação da Parada eu também saí, porque foi um grupo muito xiita que assumiu a organização da Parada e os militantes é muito complicado conversar com eles, e a gente sentia a necessidade de ter uma associação comercial e foi daí que surgiu a ABRAT. A ABRAT não tem pessoas físicas associadas. A gente não associa pessoas físicas, a gente só associa empresas são empresas que querem trabalhar com o segmento e a gente dá as ferramentas pra isso, pra treinamento, capacitação, orienta na hora da confecção do material, da folhetaria, né? Nós temos mensalmente um encontro de negócios, um encontro pra networking entre os associados, então, esse é o trabalho da associação.
P/1 – E que tipo de empresa que está interessada em se associar?
R – Por exemplo, desde a TAM, companhia área, GOL, Novotel Jaraguá, ali na Martins Fontes, a rede Pestana de hotel cinco estrelas, a Bubu, que é uma mega casa, uma mega balada do segmento em São Paulo, eles são nossos associados. Então, nós temos cerca de 120 associados.
P/1 – E quais são os objetivos da associação? A missão...
R – Tá. O que significa uma empresa estar associada à ABRAT? Ela passa pro mercado uma imagem de diversidade, uma imagem moderna: “Olha, eu quero trabalhar com a diversidade sim! Todo mundo é bem vindo!”, então, na verdade, é um bem indireto, né? Ela passa a imagem de uma empresa moderna, sabe, de vanguarda, porque tudo é muito novo, turismo GLS é muito novo, o mercado GLS aqui no Brasil é tudo muito novo, e fora isso, eles estão interessados nesse público. Por exemplo, na Parada de São Paulo a gente recebeu 400 mil turistas, isso é uma pesquisa da SPTuris. Esses 400 mil turistas que vieram pra São Paulo, gastaram cerca de 1.812 reais em média. É muito dinheiro! Eles ficaram em São Paulo cerca de cinco noites para o evento, então, nessas cinco noites, eles vão comer, eles vão às compras, eles à noite vão pra balada, ou pra sauna... Então, o impacto pra cidade é muito grande e quando uma empresa se posiciona como uma associada da ABRAT, ela quer mostrar pro mercado: “Estou aqui, vocês são bem vindos no meu estabelecimento e eu quero fazer negócio com vocês!”.
P/1 – E qual é o diferencial da cidade de São Paulo em relação a esse novo nicho de mercado?
R – São Paulo, por ter a maior Parada do mundo e, na época, eram bastante políticos os militantes da Parada, né, é... hummm... perdi!
P/1 – Você estava falando da cidade, né? Qual é o diferencial da cidade...
R – Então, quando os órgãos institucionais perceberam o tamanho do evento e o que esse evento poderia resultar no impacto econômico do evento na cidade, claro que todo mundo abraçou. Então, a SPTuris hoje, juntamente com a ABRAT, faz um roteiro da cidade, existe um roteiro GLS. Se qualquer turista for a qualquer central de informação da SPTuris, vai estar lá o Guia GLS da ABRAT. Então, a gente mapeou e nós fazemos um treinamento sobre recepção ao turista gay e lésbica, la no Convention da cidade pra cidade e isso acontece a cada dois meses. Assim, o Serra criou uma coordenadoria na cidade de São Paulo que chama CADS, Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual, que tem um coordenador especificamente pra tratar de políticas públicas para gays e lésbicas. Ele criou também quando foi Governador, essa mesma coordenadoria no Estado. O Estado brasileiro, oficialmente, reconhece que existe esse nicho de mercado e que é importante trabalhar e entender e trabalhar com ele. A ABRAT assinou com o Ministério do Turismo, com a EMBRATUR agora na Abav (Associação Brasileira de Agência de Viagens) do Rio de Janeiro, em outubro de 2010, um acordo de cooperação técnica, com o Ministério e com a EMBRATUR, com a presença do Ministro e tal e esse acordo de cooperação envolve algumas ações, por exemplo, envolve promover os destinos GLS brasileiros fora do país, nas férias de turismo internacionais e aqui no mercado interno, junto com a EMBRATUR, a gente fazer o treinamento, que a gente passa, junto com a EMBRATUR a fazer a promoção de destinos brasileiros fora, mas, a gente precisa treinar o mercado nacional para recepcionar esse turista que está vindo já que a promoção já passou começou. Então, essa é uma ação com o Ministério do Turismo. Infelizmente, devido a esses escândalos aí, durante 60 dias, os projetos estão parados, a gente espera que passe logo pra gente retomar isso.
P/1 – E qual é um dos programas que a ABRAT recomenda para o turismo gay aqui em São Paulo? Do roteiro?
R – É muito legal isso! Na semana da Parada, a gente treinou as estagiárias das CITS da SPTuris, são cerca de nove CITS, Central de Informação ao Turista, e daí a gente fez um roteirinho pra que elas vissem, porque, elas têm o guia lá, mas o cara pergunta especificamente de uma balada, de uma sauna, elas não tinham a menor ideia do que fosse isso, daí, a gente fez um roteiro bem legal com elas. A gente começou esse roteiro no centro da cidade, ali no Arouche, claro, são todos parceiros ali, então, elas viram uma das casas, várias meninas... Elas estavam em 16. Uma casa chamada Cantu, então, elas entraram, foram conhecer a cabine do DJ, enfim, andaram pela casa toda. Na Vieira de Carvalho tem um bar, onde a gente chama de “INPS”, porque vai só o pessoal mais velhinho, mas ele é famoso, tem quase 40 anos de idade e a gente passou lá em frente e falamos: “Olha, a terceira idade também vem, também gasta”, então, o barzinho sempre ficava lotado, o barzinho é pequenininho, o pessoal ficava na calçada, alquela multidão. Daí, nós fomos à The Week, que é a balada mais famosa de São Paulo, daí, elas entraram e nisso a casa já estava funcionando, daí, o gerente levou pra pista, são duas pistas e é enorme, a casa é linda! Saímos de lá e fomos pra um bar, aqui na Vila Madalena, na Harmonia? Que é o Farol Madalena, que é um bar só pra meninas, só pra lésbicas, também existe há muito tempo esse bar. Chama Farol Madalena, aí, passamos por lá e falamos: “Olhem, essa aqui é a comunidade lésbica”, claro, têm as características, né, música ao vivo, que lésbica adora musica ao vivo, cantando Ana Carolina, música nacional, tal e tal. Saímos daqui e fomos lá pro Itaim, aliás fomos aqui pra Rua dos Pinheiros, pra Bubu Louge, entramos, a Rita estava lá, que é a Diretora de Marketing e fez um tour pela casa, saímos do Booo e fomos lá pro Vermont Itaim, que é um bar restaurante, bem legal! Fica lá no Itaim. E o Vermont tem música ao vivo, porqie a comunidade lésbica vai muito lá, então, tinha um grupo tocando. Isso tudo num ônibus fretado pela SPTuris, tá? Tinha um guia da ABRAT, falando, explicando pra elas, o roteirinho, como que ele tinha sido composto, descemos a Frei Caneca pra que elas olhassem os bares e as baladas da Frei Caneca, lotados todos os bares e fomos pra Blue Space, que é uma balada que fica na Barra Funda e é a única balada que tem show de Drag. Mas não é showzinho. Eles investem. São megaproduções de show e você chora de dar risada nesse show. Ele é meu amigo e ele liberou a entrada das meninas, assistiram ao show, enfim. Então, eu acho que esse roteiro é perfeito, pra se ter uma ideia do segmento. Ah! Eles passaram na sauna também, porque a sauna fecha às 11 horas e aí, eu tinha combinado com os funcionários: “Olha, deixa tudo certinho, tudo limpinho, porque elas não têm ideia do que é sauna”. E elas adoraram, né? Então, agora, elas podem indicar agora com propriedade de causa, porque elas foram à sauna, elas entraram, se divertiram lá, fizeram um tour pela sauna lá também. Acho que é isso.
P/1 – E agora que você falou da sauna, eu me esqueci de perguntar quais são os cuidados na questão de higiene que tem que ter pra oferecer, né, porque tem que estar sempre tudo limpinho...
R – Sim. É lei que os estabelecimentos tenham preservativos e gel lubrificante gratuitos, então, esse é um cuidado que a gente tem em oferecer para os clientes, não importa se ele vai usar um ou vai usar dez. Tem. Se ele precisar tem lá. Eles limpam o tempo inteiro, durante as festas eu tenho uma pessoa só pra cuidar da limpeza dos banheiros e dos lavatórios e durante o dia tem cerca de quatro ou cinco cabines que os funcionários limpam, a cada uma hora eles sobem, passam álcool nos colchões, enfim, fazem a higienização da cabine. A Vigilância Sanitária, é claro, eu precisei tirar uma licença da Vigilância e a Vigilância foi lá várias vezes até que ela aprovou, me fez trocar todos os lixos da sauna, por lixos com tampinha, sabe? Eu tinha lixo normal, não. Tem que trocar tudo. Enfim, são vários os cuidadinhos. Mas acho que isso faz parte do negócio e, enfim, na hora de você pensar em oferecer uma estrutura, você tem que se adequar às normas. É isso aí. Legal.
P/1 – Você acha que além da Parada, a cidade de São Paulo tem algum diferencial em relação às outras cidades, de tratamento, de possibilidades...
R – Não tenho dúvida disso! Esse é um trabalho que a SPTuris faz. A gente dava capacitação para os taxistas da cidade, lá na SPTuris, sobre como atender o turista GLS, então, já foram várias turmas de taxistas, um treinamento que é feito na Polícia Civil e na Polícia Militar aqui na cidade de São Paulo e esse treinamento que é feito lá no Convention da Cidade, né, que é pra todo o trading turístico, agências, hotéis, restaurantes, enfim. Isso já vem sendo feito há quatro, cinco anos, então, não tenho dúvida de que São Paulo... é perfeita? Não é, até porque ainda tem vários gays morrendo, apanhando na rua, a gente sabe disso, mas a gente sabe que os órgãos institucionais estão preocupados sim, querem se preparar, querem atender bem todo mundo.
P/1 – E nesses treinamentos, nessas associações, vem gente de fora, de outros estados?
R – Vem. Como é um treinamento gratuito para os associados da ABRAT e os associados do Convention Bureau da cidade. A ABRAT é nacional, então, vêm vários associados de fora, por exemplo, dessa vez tinha um associado que veio de uma agência de viagens do Rio e veio um casal que está abrindo uma agência em Natal. Eles vieram só pra participar do treinamento. Então, vem sim. Acho que é importante. Já que você quer trabalhar com o segmento, você tem que entender um pouco desse segmento.
P/1 – Certo. E agora, indo assim, pra uma parte mais pessoal, qual a sua atividade hoje, como que está distribuído o seu cotidiano?
R – É uma loucura! (risos). De manhã eu vou pra ABRAT, minha rotina, o volume de trabalho da Associação está muito grande, antes eu ia uma ou duas vezes por semana, porque nós temos ações voluntárias na Associação, ninguém é remunerado, né? Nem o Presidente, nem a Diretoria, então, quando eu assumi, eu estou na segunda gestão, dava pra ir uma ou duas vezes por semana e tal, mas, o volume de coisas ficou muito grande, então, eu vou pra lá todo dia e fico até por volta do meio dia, uma hora, daí, vou pra casa rapidinho, vou na academia rapidinho e depois eu vou pra sauna. Na sauna eu chego por volta de umas quatro horas e, daí, eu fico, exceto as sexta-feiras, e hoje seria, né, daí, eu iria só por volta de umas dez da noite e fico até fechar às quatro da manhã. Toda sexta eu faço isso. Hoje não, porque eu acho que... (risos), vou estar com febre! (risos).
P/1 – E o que você gosta de fazer nas horas de lazer, quando sobra um tempinho?
R – Vou muito ao cinema, fui ver Lanterna Verde domingo, adorei! (risos), e tinha aqueles óculos 3D, e eu adorei! É uma história bobinha, mas, os óculos, acho que vale a pena você ir e usar. Faço muita pesquisa pela ABRAT, né, porque assim, eu não vim da área de turismo, é uma ironia isso, porque eu sou Presidente de uma Associação já há três anos e a minha formação não é em Turismo, sou formado em Processamento de Dados e tal e fui empresário da noite, com o bar, com a sauna agora, e, no entanto, faço a gestão de uma entidade de turismo. Então, toda hora eu estou lendo, eu procuro me informar sobre o turismo em si. Eu acho importante porque a gente tem muitas demandas dos associados, na hora de fazer um produto, na hora de direcionar um produto, então, o cara paga a Associação e ele demanda a entidade, claro, você tem que dar uma resposta, senão, ele sai. Senão, ele abandona a entidade.
P/1 – E você gosta de fazer compras?
R – Não, não gosto. Eu acho que eu fiz tanta compra no restaurante que... (risos), eu sou vou quando não tem jeito. A camiseta está furando, quando ela está rasgada, daí, eu vou! (risos)
P/1 – E, aí, tem algum lugar especial que você vai?
R – Eu moro ao lado do Shopping Higienópolis, né, eu moro na Tupi, ali em Higienópolis, então, é mais fácil ir ao shopping, né? O Bourbon também é pertinho.
P/1 – E o que você acha que mudou em relação ao mercado especializado na cidade, ao longo desses anos que você tem trabalhado com isso?
R – Ah, São Paulo é muito incrível, né, porque nós temos comércio segmentado na cidade inteira, né? Nós temos desde a 25 de Março, onde você encontra produtos populares até a Oscar Freire que você encontra produtos de luxo, até uma Florêncio de Abreu que você encontra ferragens; a Rua São Caetano, né, onde você encontra material para noivas, enxoval; Santa Efigênia, eletrônicos, então, é uma cidade muito legal. Acho que essa é uma tendência sim, os shoppings, né, que são verdadeiras ilhas. Eu gosto desse jeito da cidade de São Paulo, (risos), sou apaixonado pela cidade!
P/1 – E o que você tirou de aprendizado durante esses anos de comércio?
R – Não é um aprendizado, mas uma sensação de que eu nunca mais eu vou responder pra alguém, dar satisfação pra alguém, no caso, se eu for empregado de uma empresa, prestar satisfações, né? Eu acho, basicamente, desde a época do restaurante e hoje a sauna, eu acho que eu não voltaria a ser empregado hoje em dia. Enfim, isso é um aprendizado.
P/1 – Se você pudesse, o que você mudaria no comércio? Você faria mais segmentação ou trabalharia com...
R – Na sauna, você fala talvez?
P/1 – Num geral mesmo.
R – No geral? O que eu tento implantar na ABRAT é um serviço de assessoria jurídica, uma assessoria técnica, que eu tento há dois anos implantar. Então, eu acho isso fundamental, claro que o SEBRAE tem alguns cursos de Gestão, pra ensinar o cara a criar um escritório, uma lavanderia, etc e tal, mas o segmento GLS não existe, a não ser a ABRAT, que tem essa expertise, então, eu quero, um dos meus projetos, dos meus planos é implantar uma assessoria jurídica, uma assessoria técnica. Meu associado, por exemplo, quer abrir uma casa, quer abrir um café, o que ele precisa fazer? São “n” licenças, tudo isso tem prazo, sabe, ajudar o cara! Às vezes, ele tem um estabelecimento e não tem alvará, não tem licença do Corpo de Bombeiros, então, isso é uma das coisas que eu pretendo fazer na ABRAT. Eu acho que é aí um pouco da função da associação também, dar ferramentas para que as empresas se profissionalizem.
P/1 – Eu queria perguntar, hoje, qual é o seu maior sonho? Em termos de perspectiva, de futuro...
R – Meu sonho é viver numa sociedade totalmente igualitária e sem diferenciação de direitos entre gays e héteros, entre negros, entre mulheres... eu acho que é o meu maior sonho. Eu acho que o trabalho da ABRAT, o trabalho da Prefeitura, enfim, está caminhando nessa direção.
P/1 – E você enquanto gay passou algumas experiências de preconceito?
R – Eu nunca passei. Eu tenho 54 anos e eu nunca passei. É até engraçado isso, mas, nunca. Mesmo quando eu trabalhava no Unibanco e no Real, as pessoas sabiam que eu era gay, mas eu nunca... Que bom! (risos), eu não gostaria de passar por essa experiência não.
P/1 – E você costuma ir às Paradas?
R – Vou! Eu acho importante participar. Eu acho que tem de ir sim. Não é o lugar mais agradável do mundo, principalmente, a Parada de São Paulo, que tem muito roubo, é muito suja, mas é importante você estar lá e ajudar a Associação, a Prefeitura e melhorar o evento. É uma preocupação de todos, tá? Deixar o evento mais seguro, mais limpo, mais legal, mais acessível. Vou sim!
P/1 – E você já foi a outras? De outros estados, de outros países?
R – Fui. O Vice-Presidente da ABRAT é lá de Florianópolis, então, eu estive lá há dois anos, na Parada de Floripa. Foi o segundo ano que Floripa fez, a Parada lá é muito recente, o evento levou 70 mil pessoas. O evento é na beira mar, é um show! (risos). É bem bonito! E foi muito legal, porque a abertura do evento, teve a banda da Polícia Militar, do Estado de Santa Catarina e uma drag queen gaúcha, cantando o Hino Nacional. É inimaginável isso, assim! (risos). Ela estava em cima do trio, a Polícia Militar embaixo, e aquela brisa do mar, né, então, a saia dela levantava, você via a mala, né, (risos), é muito louco assim! Inimaginável. (risos). Mas, adorei!
P/1 – Então, pra encerrar, eu gostaria de perguntar pra você o que você achou de sentar aí, contar um pouquinho da sua trajetória pra gente, de dar essa entrevista?
R – Ah, foi uma surpresa, porque eu não imaginava que eu ia falar tanto sobre Piraju e infância, enfim, coisas da minha história, porque você não tem chance de falar sobre isso, né, nem de comentar, enfim, foi uma grande surpresa! Obrigado!
P/1 – E você tem alguma coisa que você gostaria de comentar ou de deixar registrado que a gente não tenha perguntado ou abordado?
R – Ah, eu acho que a gente conversou bastante. Foi bem legal! Obrigado!
P/1 – Está certo. Então, em nome do Museu a gente agradece a sua entrevista.
R – Eu quem agradeço!
P/1 – Obrigada!
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