Projeto CTBC
Depoimento de Geraldo Batista Caetano
Entrevistado por Luiz Egypto e Rosali Henriques
Uberlândia, 27 de abril de 2000
Realização Museu da Pessoa
Código: CTBC_HV015
Transcrito por Lúcia G. A. Oliveira
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 - Boa tarde senhor Geraldo.
R - Boa tarde.
P/1 - Gostaria que o senhor, para início de conversa, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Meu nome é Geraldo Batista Caetano, eu nasci em Patos de Minas em 13 de outubro de 1946.
P/1 - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?
R - O meu pai chamava-se Adelino Gonçalves Caetano, e a minha mãe chamava-se Rita Maria Caetano.
P/1 - Qual era a atividade do seu pai, senhor Geraldo?
R - Meu pai era funcionário público federal na área de Agricultura.
P/1 - E o que ele fazia em Patos de Minas?
R - Ele fazia enxerto em plantas, ele tinha um dom muito forte de fazer enxerto de plantas, e assim ele fez um pequeno curso, até porque ele não tinha cultura, mas ele tinha um dom de mexer com plantas, então ele fez um pequeno curso, não sei se foi em Belo Horizonte ou no Rio na época, uma espécie de fomento agrícola, e ele então começou a mexer com pomar e enxerto de planta e conviveu com isso até aposentar-se.
P/1 – E era vinculado a que órgão público?
R - Ao Ministério de Agricultura, órgão federal, de Brasília.
P/1 - Sempre em Patos de Minas?
R - Não, ele trabalhou em Patos de Minas em princípio, depois teve uma temporada aqui em Uberlândia, no Posto Agropecuário de Uberlândia, e em seguida ele voltou para Patrocínio onde se aposentou.
P/1 - E a sua mãe, a dona Rita?
R - A minha mãe toda a vida, ainda tinha dito para a nossa colega, antigamente a mulher era do lar, era do fogão, né, então a minha mãe toda a vida foi do lar, criou bastante filhos e então não tinha tempo para mais nada.
P/1 - Quantos filhos?
R - Nós somos, é, comigo quinze.
P/1 - O senhor, em que ordem está nessa...
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Depoimento de Geraldo Batista Caetano
Entrevistado por Luiz Egypto e Rosali Henriques
Uberlândia, 27 de abril de 2000
Realização Museu da Pessoa
Código: CTBC_HV015
Transcrito por Lúcia G. A. Oliveira
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
P/1 - Boa tarde senhor Geraldo.
R - Boa tarde.
P/1 - Gostaria que o senhor, para início de conversa, dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Meu nome é Geraldo Batista Caetano, eu nasci em Patos de Minas em 13 de outubro de 1946.
P/1 - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?
R - O meu pai chamava-se Adelino Gonçalves Caetano, e a minha mãe chamava-se Rita Maria Caetano.
P/1 - Qual era a atividade do seu pai, senhor Geraldo?
R - Meu pai era funcionário público federal na área de Agricultura.
P/1 - E o que ele fazia em Patos de Minas?
R - Ele fazia enxerto em plantas, ele tinha um dom muito forte de fazer enxerto de plantas, e assim ele fez um pequeno curso, até porque ele não tinha cultura, mas ele tinha um dom de mexer com plantas, então ele fez um pequeno curso, não sei se foi em Belo Horizonte ou no Rio na época, uma espécie de fomento agrícola, e ele então começou a mexer com pomar e enxerto de planta e conviveu com isso até aposentar-se.
P/1 – E era vinculado a que órgão público?
R - Ao Ministério de Agricultura, órgão federal, de Brasília.
P/1 - Sempre em Patos de Minas?
R - Não, ele trabalhou em Patos de Minas em princípio, depois teve uma temporada aqui em Uberlândia, no Posto Agropecuário de Uberlândia, e em seguida ele voltou para Patrocínio onde se aposentou.
P/1 - E a sua mãe, a dona Rita?
R - A minha mãe toda a vida, ainda tinha dito para a nossa colega, antigamente a mulher era do lar, era do fogão, né, então a minha mãe toda a vida foi do lar, criou bastante filhos e então não tinha tempo para mais nada.
P/1 - Quantos filhos?
R - Nós somos, é, comigo quinze.
P/1 - O senhor, em que ordem está nessa história?
R - É, quinto, de nascimento é o quinto.
P/1 - Quantos homens e quantas mulheres?
R - Tem três homens, e o saldo é mulher. Remanescente, lógico.
P/1 – Como é que era a sua casa? A casa da sua infância?
R - A minha casa era uma casa nem muito confortável mas também não chovia dentro, era uma casa de governo, porque casa de governo toda vida foi uma casa bem cuidada, batida toda com aqueles defensivos de praga etc., etc. Casa modesta, que eu digo para você, na época não existia BNH, mas eu poderia dizer para você que seria uma casa hoje, tipo condomínio de médio porte, porque era em uma estação experimental de governo, e o pessoal era muito privilegiado em termos de residência, a parte de agricultura, verduras, leite etc., etc. O governo toda a vida, no passado ele era muito paternalista, então você tinha em abundância, além da residência você tinha outras vantagens nessa comunidade. Chamava-se Estação Experimental de Patos de Minas, então era um negócio assim, muito diferente, de hoje.
P/1 - Era afastado da cidade?
R - Afastado? Distava dezoito quilômetros de Patos de Minas, chamava-se Sertãozinho, um lugar muito rico, muito próspero.
P /1 - Você poderia descrever a casa, como é que eram os cômodos, a distribuição dos cômodos.
R - Olha, era uma casa, não tinha suíte nem nada até, porque não existia isso, mas tinha quatro quartos, uma cozinha muito boa, um fogão de lenha, um banheiro, é, chuveiro frio, mas um bom chuveiro, uma sala ampla, e um pequeno alpendre. Era uma casa bem confortável, de telha, porque na época, nessa época em lugar distante da cidade era muito comum você ver casas de pau a pique, não sei se você conhece essa palavra, pau a pique, então, mas a do governo não, a do governo era de tijolinho, não transparente, mas de tijolo, massa etc., etc. Então era casa comum tipo caixotão, mas muito funcional, muito bem desenhadinha, calafetadinha, toda, não tinha forro, mas bem protegida do vento e da chuva, lógico.
P/1 - Havia uma vizinhança nessa Estação?
R – Sempre, porque o governo, era uma espécie de colônias agrícolas, tinha uma parte do pessoal mais graduado, que o meu pai não fazia parte, meu pai era um simples enxertador de planta e tinha o pessoal da parte operária técnica que meu pai fazia parte, né, e tinha a parte do trabalhador que ficava às vezes até que distante, em outro tipo de casa e etc. Não é casta, mas tinha uma certa divisão, de casta, vamos falar assim.
P/1 - Mas essa divisão certamente era subvertida pelas crianças naquele pedaço, né?
R - Ah sim, não tinha dúvida, não tinha dúvida. Tem um livro, chama: "Como era verde o meu vale", de Richard Llewellyn. Ele retrata bem, por isso é que eu gosto muito desse livro, já o li diversas vezes. É "Como era verde o meu vale". Retrata muito esse local. Você era uma comunidade, você matava porco, se matava o porco ali, todo mundo comia carne, se fazia qualquer festa todo mundo participava, era como se fosse uma grande família de muitas pessoas adultas e muitas crianças, então não tinha, não tinha divisão. Então era um negócio que hoje, se você mata um porco e leva para o seu vizinho comer, primeiro que não mata nem porco, quem mata é o frigorífico, você não tem mais nem mais esse tipo de coisa, esse relacionamento nem nada, esse negócio de sentar na porta e conversar até sete e meia, oito horas da noite, depois fazer um pito de palha, deitar e dormir, isso você não vê mais, isso é resgate que você tem na mente mas ao vivo você não vê mais. Então, essa comunidade em Patos de Minas, ela te proporcionou uma infância rica porque a infância só é rica quando você passa por tudo que a infância permite passar, né? hoje eu estava brincando com um colega meu, eu levo as filhas na fazenda, a que ele chama pejorativamente “galinho de knorr” porque, não conhece nem o que é isso, né, a gente não, a gente viveu tudo, então isso é uma riqueza que a gente guarda para sempre, né? É diferente, é um pouco diferente.
P/1 - Como é que eram as brincadeiras dessa infância?
R - As brincadeiras, você tinha brincadeira de pião, você tinha brincadeira, aquela que ficava dois no meio e você passava em velocidade para ver se você dava quando ele passava, o “barreira humana” que chamava, todo dia a sua mãe tinha que estar costurando botão de camisa. Jogar pião, finca, soltar papagaio, bolinha de gude, todas as brincadeiras de criança, né.
P/1 - E a escola senhor Geraldo?
R - A escola, é de uma época repressiva, porque a escola quando eu entrei ainda era, quando você errava tinha, você já ouviu falar no fura bolo, aquele que batia na mão?
P/1 - Palmatória..
R - Palmatória. Existia, então o erro era, o erro não era uma iniciativa do aprendizado, o erro era no sentido punitivo, quer dizer, uma outra cabeça, né, então você era premiado com uma puta de uma palmatória quando você errava o ABC, qualquer coisa nesse sentido, depois é que mudou. Mas a escola, a professora naquela época, e hoje muito mais lógico com os recursos que tem, mais prendada na língua, matemática etc., ela era um clínico geral, hoje você tem a professora disso, professora daquilo e tal, né, as multifunções e tal, não, professora sabia tudo, Geografia, História parará, era a mestra mesmo, então era, ela te pegava, era única. Hoje você tem três, quatro matérias, você tem cinco professores, tal etc.
P/1 - Essa escola era dentro da estação mesmo?
R - Essa escola era dentro da estação, o governo muito rico na época, até por dia de fomento agrícola em estações experimentais, onde se estava na época sendo elaborado a semente do milho híbrido, que depois ficou famoso aqui no Capinópolis. Então tinha muita verba, tinha muito dinheiro, os carros do governo, carros novos, tinha dentista, tinha farmacêutico, tipo médico, paramédico, não tinha médico, aqueles paramédicos, mas qualquer atendimento, você dentro de dezoito quilômetros, você estava dentro de Patos de Minas, era confortável, tinha toda a assistência, escola etc.
P/1 - Quantas pessoas viviam nessa estação?
R - É, eu diria para você, quase com certeza era uma comunidade de umas quatrocentas e tantas pessoas, que eram famílias nessas plantações experimentais.
P/1 - E essa escola, essa primeira escola do senhor, o senhor se lembra o nome dela?
R - Era um grupo escolar da comunidade do Sertãozinho.
P/1 - A sua primeira professora?
R - A minha primeira professora foi a Dona Expedita, Dona Expedita Mendonça, foi minha primeira professora.
P/1 - Você levou muito côro dela?
R - Levei alguns, porque quem que não erra, né? Levei alguns. (riso)
P/1 - Algum que tenha ficado especialmente marcado?
R - Não, especificamente falar assim: “Não, esse foi ruim”, não, porque qualquer erro que você cometia, você levava o bolo da mesma forma, com a mesma força, na mesma posição, para chupar mesmo, então eu não me lembro de nenhum específico, eu levei bolada na mão.
P/1 - O senhor ficou nessa estação até que idade?
R - Eu fiquei nessa estação até a idade de oito, nove, nove anos, depois o meu pai foi transferido aqui para Uberlândia para o Posto Agropecuário para fazer trabalho aqui. Nós ficamos aqui até tipo 1958, depois ele foi transferido para Patrocínio no mesmo, quer dizer, no mesmo órgão, Posto Agropecuário e lá a gente ficou até eu me formar no terceiro científico e depois, não tinha faculdade e eu vim para Uberlândia para estudar, logicamente viver do trabalho, estudando, né?
P/1 – Eu queria recuperar só um pouco esse primeiro período de Uberlândia, quanto tempo durou?
R - Esse período de Uberlândia durou pouco, porque nós saímos no ano de 1955, 56, acho que 56 aqui para Uberlândia, para o Posto, nós vivemos nas mesmas condições, hoje, aqui, bem menor, onde você morava, a quinze, vinte quilômetros daqui, era estratégia do governo sempre fazer próximo à cidade até por conveniências estratégicas, pessoal etc. Onde meu pai fez um trabalho, terminou esse trabalho, mas foi o quê? Saímos daqui em 1958, 1959, uns quatro anos e pouco, alguma coisa, onde nós fomos para Patrocínio.
P/1 - Em Patrocínio como é que era a vida?
R - Em Patrocínio, aí já era cidade, porque o Posto Agropecuário de Patrocínio só tinha uma sede boa, e quatro ou cinco casinhas, porque por incrível que pareça o governo dava ênfase, estações experimentais que é o caso de Patos de Minas que era um negócio muito forte, e, em postos agropecuários, ele investia muito, mas tinham o mesmo conforto etc., e em Patrocínio já, as casas do Posto já estavam ocupadas por outras famílias, então o meu pai já foi morar na cidade, aí já era aluguel por conta etc., etc. Aí nós já morávamos na cidade e o Posto ali ficava a dois quilômetros, está lá até hoje, hoje é da prefeitura, o governo modificou o organograma dessas funções, mas esse posto está lá a uns dois quilômetros da cidade, e hoje entregue para prefeitura. A gente então morou na cidade onde o meu pai de bicicleta ia trabalhar todo dia, fazia o trabalho dele e voltava para casa, e lá ele aposentou-se.
P/1 - Foi a primeira vez que o garoto Geraldo morou numa cidade, né?
R - Foi, morar, morar na cidade foi.
P/1 - E qual foi a impressão dele?
R - A gente já, logicamente você saindo da Estação Experimental de Sertãozinho, para Patos você via cidade, então você já tinha aquele convívio, né? Uberlândia e Patos, tinha a Recreativa, tinha todo aquele, guloseimas de sorvete, canjica, aqueles negócios todos que moleque gosta. Então aquilo, a cidade significava para você lazer de boca. Você não sabe o que é ir ao cinema, você não tinha um gibi, sua visão era glutão, então era picolé, maçã, não sei o quê. Então a visão de cidade sua era guloseima, era coisa né. Aqui, não muito diferente, morava distante mas é a mesma coisa, mas para Patrocínio não, aí realmente você tem um foco mais, coisa e tal, mas tá para você ali no seu visual, isso, isso, isso e aquilo aí é que você começa a conviver, tirar aquele negócio lá de quatro patas e começar com roda redonda, né? Então você começa, é um outro mundo, um outro mundo. Então, você sair da imagem de veículo a cavalo, porque lá tinha veículo, mas o rolo compressor era, era animal de tração, você caminhava de um lugar para outro com animal de tração, e você ia para a cidade onde tudo muda, né? Então você toma um choque de cultura, é bem tupiniquim mas é, mas você aprende a conviver. As brincadeiras já mudam um pouco, né, porque você já não joga finca porque tem um pouco chão duro, o asfalto, a finca já ficou lá atrás, porque como é que você vai fincar o negócio no asfalto, né? Então você começa a bolinha de gude, você não pode furar o buraco mais, você começa brincar com papagaio, ler gibi, então você começa a mudar os conceitos de brincadeira e a adaptabilidade, né, e foi isso aí que aconteceu. O homem é versátil, então em cada situação você se adapta, né?
P/1 - E o senhor continuou seus estudos lá em Patrocínio?
R - Continuei os meus estudos em Patrocínio, quando eu fui até o terceiro ano e como toda a cidade pequena, você não tem acesso à universidade, faculdade, e logicamente a vida inteira. Dos irmãos, dos quinze, eu sou o único formado, porque isso é uma determinação que eu coloquei para mim, eu não queria parar, porque eu sempre quis ler muito e li muito, não tanto quanto precisava, mas sempre procurava ler e você sempre via através dos jornais, principalmente, o governo assinava jornal, aquele negócio todo, na sua casa naquele tempo, na sua casa não tinha cultura de comprar jornal, seu pai não falava “vou comprar a Folha de São Paulo”, que já existia o Estadão, para quê aquilo, não passava na cabeça saber, dólar, qualquer coisa, não tinha interesse de saber notícia de qualquer coisa, mas o governo tinha aquilo, o pessoal do governo culturalmente acima tinha aquilo. E eu logicamente, quando você ia fazer qualquer coisa, visitar seu pai, até levar café, porque antigamente era perto, então, tinha que levantar e levar café para o seu pai e aí enquanto ele tomava café, para pegar as coisas de volta, você folheava e tal. E os jornais, é uma coisa muito boa, né, sempre tem aquele negócio de propensão ao estudo etc., etc., tinha uma parte educacional muito bonita, se não me engano saía no Estadão ou na Folha de São Paulo, que eles assinavam na época, e tinha uma frase que marca sempre, é: "Quem sabe, vai longe", né, de vez em quando, não sei quem escrevia isso, eu li isso muitas vezes: “Quem sabe, vai longe”, tem que estudar etc. Os jornais da época massificavam um pouco isso, e porque o pessoal do interior, o que é que acontecia numa cidade igual a minha, você formava ou no científico para poder fazer depois alguma coisa ou você formava em Contábeis e ia montar um escritório de Contabilidade, se você tivesse sorte de casar com uma fazendeira, estava feito, se não, se você casasse com uma pobre igual a você, passava a vida inteira com dificuldade, e é verdade. Então, a gente brincava muito: "Olha, nós não vamos casar com fazendeira porque os caras já foram na frente, então o negócio nosso é universidade, vamos ter que estudar". Então a gente, eu já tinha posto isso na cabeça que eu não parava ali. E quando eu me formei, apesar das dificuldades, porque numa família de quinze pessoas não é fácil você tomar uma decisão e falar assim: "vou realizá-la", né, você tem variável um, dois, três, dez etc., mas quando você quer, você faz. Então eu tomei a decisão que terminando eu iria estudar e fiz. Vim para cá, passei no vestibular, primeiro por sorte, tinha estudado um pouco também, o mesmo vestibular que o Celso passou, só que o Celso não continuou e eu continuei, fiz vestibular, passei e fiz Contábeis e depois fiz Administração, dois cursos superiores.
P/1 - O senhor disse que fez curso científico. O senhor já optou pelo Científico e não pelo Clássico.
R - É, deixa eu corrigir um pouquinho. Porque, no interior, eles misturavam muito o comércio, o Clássico e o Científico especificamente, se você quisesse é como se fosse fazer um básico, que se eu quiser depois, é como se fazia Admissão antigamente para entrar no Ginásio, então o Científico é porque tinha matéria que era do curso do Científico, mas inteligentemente o Ginásio fazia o seguinte: olha, se esse cara quiser fazer Contabilidade, ele vai embora para Contabilidade, se ele quiser fazer um Clássico e depois quiser ser um professor, alguma coisa assim na área de Pedagogia etc., tinha matéria para isso, porque antigamente tinha muito esse negócio de também de ser professor, não era só para professor, ser professor, que ia para a roça, e depois olha, se você quisesse seguir uma carreira médica, alguma coisa assim, Engenharia etc.: científico. Então você tinha um misto, não chamava Clássico, nem Comércio nem Científico, mas tinha as matérias básicas num currículo totalmente desenhado diferente onde você tinha ascensão a qualquer coisa que você quisesse depois, era como se fosse um básico mas muito mais para o lado científico, porque tinha muito mais matéria pendendo para Engenharia, para Medicina etc., Biologia era muito massificado, não sei para quê e tal, Estatística naquela época e etc., Matemática muito forte.
P/1 - E de onde nasceu essa propensão para a área de Economia e Administração de Empresas que foi a que o senhor optou afinal?
R - Eu diria para você, talvez seja influência dos jornais porque toda vida, primeiro toda vida eu tive uma facilidade muito grande de trabalhar na área comercial. Em Patrocínio por exemplo, eu trabalhava em um emprego, é, revenda de automóveis, então toda a vida eu tive uma facilidade muito grande de mexer na área comercial, contabilidade, esse negócio todo etc., embora fazendo matérias que não tinha nada a ver. Então essa facilidade me levou a escolher o curso de Economia.
P/1 - Esse foi o seu primeiro emprego?
R - Qual?
P/1 - Na revenda.
R - Não, o meu primeiro emprego foi freelancer, eu comprava por conta própria, era pequeno, eu comprava garrafa na rua e vendia para o cara do armazém, então o meu primeiro emprego eu mesmo empreguei, eu era um autônomo. Depois no segundo emprego eu já mais grandinho, Patrocínio é uma cidade que não te dá muito recurso, mas o meu pai, graças a Deus, a vida inteira não foi abastado mas também, o básico não faltava, mas você tinha que inteirar alguma coisa, pra eu fazer Admissão. Então, lá tinha alguns hoteizinhos e tal, e tinha um mandiocal muito grande perto da nossa casa, então eu pegando essas mandiocas e chuchu, empreitei e vendia para os hotéis onde eu paguei o meu curso de admissão, então foi o segundo emprego que eu mesmo me empreguei, tal. E depois, quando você começa a ficar forte, lá em Patrocínio tem um lugar que emprega se você é forte, é o Frigorífico Dourado do Jorge Elias, então você precisava ser forte porque você mexe com manta, essas mantas de gado, não sei se você já ouviu falar em manta.
P/1 - Sei, carne seca.
R - Carne seca, aquilo pesa sessenta, setenta quilos e aquilo se você aprende a dar o golpe, dependendo da força, o resto você faz, no golpe você faz a sua destreza, aquele negócio todo, mas precisa ser forte, porque se ela virar em cima de você tem que aparar. Então, a partir dali eu já fui trabalhar nisso, eu já fui trabalhar nisso, que ganhava bem, porque você levantar cinco horas da manhã e mexer com a carne, você começa com ela verde, ela começa verdinha, você vai passar para os contêineres até ela chegar no varal onde começa a ficar seca para poder pegar o fardo e exportar era um parto. Então é o meu terceiro emprego, vamos falar assim, foi esse, eu peguei essa carne, fui fazer isso, eu ganhava bem, e enfrentei isso aí. Depois para o mesmo patrão eu fui trabalhar no frigorífico dele, mas aí já na cidade, já fui trabalhar no balcão, já com uniformezinho e tal. Depois dele mesmo, cinema, fui passar filme, é, já trabalhei no cinema, então eu fui passar filme à noite etc., porque estudava durante o dia e passava filme à noite. Depois disso de estudando e tal eu entrei nessa Carpal, que é uma revenda de automóveis Volkswagen, Volkswagen, e dessa Carpal eu vim para Uberlândia.
P/1 - Esse momento do cinema aí, durante quanto tempo o senhor foi projecionista?
R - É, projecionista, trabalhei de projeção e depois varria a frente do cinema, porque para você ganhar melhor, passar o filme era mamata, você pega o rolo, antigamente era à mão, você tinha calo aqui, porque você pegava o filme, a sua sensibilidade que o filme ia cortar ou não era aqui nessa mão aqui, você pegava, você tinha um calo desgraçado aqui porque isso aqui era sensibilidade, você passava aqui, mas isso era mole, olha para você ver, calo desse tamanho era mole. E para você ganhar hora extra, acabava o cinema, você tinha que varrer para no outro dia estar prontinho e tal, porque às vezes tinha matinê etc., então eu não era bobo, isso aqui é mole, varrer essa frente aqui é fácil, fácil. Para ganhar mais, é lógico. Cidade pequena você tinha que fazer tudo porque, primeiro, não tem emprego, o emprego que tem é do padrinho político, é da prefeitura, é do cartório e essa turma já tem os padrinhos, então você tem que se virar com criatividade, né, então eu fazia isso e ganhava um extra em cima disso.
P/1 - E o senhor conseguia assistir filmes também quando trabalhava?
R - Você é obrigado a assistir porque você tem que tomar cuidado, porque no cinema, quando a fita não era como hoje, tranquilo, aquilo tinha um carvão, se você abria você ficava cego, então você tinha que controlar o carvão aqui em um vidro espesso dessa grossura assim. Você conheceu máquina de filmadora? Então você sabe bem o que eu estou dizendo, era dessa grossura, onde você regulava o carvão para dar o foco, para dar a luz, e se você abrisse aquilo lá você, estava cego, arrebentava tudo. Agora aquilo de vez em quando esquentava e ia na fita e deteriorava a fita, e aí o pessoal quase descia o cinema abaixo. Quando você fazia aquilo, o dono, se estivesse lá, falava: “Que desgraça”. Você era culpado se o filme arrebentasse. Então você tinha um cuidado desgraçado, por isso que a sua mão ficava, não podia nem fechar, com cuidado, porque se arrebenta... Primeiro a qualidade da prestação do serviço, e segundo, se fosse um filme de ação que era muito, um faroeste, se arrebentasse na hora em que o bandido ia ser liquidado, puts, aí quem estava liquidado era você. Então a gente tinha muito cuidado nesse sentido, mas era obrigado a assistir o filme porque você tinha que estar de olho na tela.
P/1 – E perguntei também, no sentido assim, do senhor ter assistido algum filme que tivesse marcado muito, que o senhor tivesse gostado muito?
R - Ah sim, um filme na época, minha mãe toda vida foi muito religiosa, um dos primeiros filme que eu passei do Pablito Calvo, para você ver o tanto que a gente é, eu sou museu mesmo. Pablito Calvo, “Marcelino Pão e Vinho”, mas não é esse de agora não, é o outro, é o outro, então esses filmes assim me emocionavam muito. Um filme que depois eu peguei e falei: "Vou ver se eu sinto a mesma emoção", que eu passei ele, assisti ele, depois voltei para assistir novamente um tempo depois, devo ter assistido esse filme umas oito vezes, foi "O Candelabro italiano", Suzane Prechet e tal. Hoje eu vejo o filme e falo: "Gente o que é que eu via nisso aqui?”. Então muda tudo, né, mas teve, "E o vento levou", eu sou, se você for na minha casa, tem um cômodo que está cheio de fitas, eu tenho uma televisão do tamanho de um cinema, eu gosto.
P/1 - O senhor virou um cinéfilo?
R - Já no nascedouro, toda a vida eu gostei.
P/1 - E o público? O público era um público diferenciado?
R - Não, o público era, o público era, não sei se você, o público era cinema poeira, e o que era o cinema poeira? Para você entender. Antigamente, lógico depois ficou decente, mas por exemplo, tinha o Super Oito e você botava aquilo em uma lona, e botava um pano no banco e tal, e você passava aqueles filmes. “Quo Vadis”, Super Oito lá trás e tal, você passava aquilo em qualquer lugar. E aquele público veio ali daquelas comunidades e tal, e o cinema, o prédio, com carvão etc., etc., era coisa recente, era como celular hoje, em nível de telefonia, isso era um achado. Mas o público era um público embebe, era um público sem educação, tanto que o ibope, que dava bilheteria, se você pegar "E o vento levou" por exemplo, que é um puta, um dos melhores filmes do mundo, não dava bilheteria à altura, agora você pegava um Durango Kid, um Rex Allen, um Hopalong Cassidy, o diabo que for de faroeste de classe D, aquilo enchia o cinema, então o público, é coisa de falta de cultura mesmo. Há pouco tempo que eu comprei nos Estados Unidos toda a coleção que eu passei do Roy Rogers, eu estava pensando, que outra coisa também, hoje eu passo para ver só as músicas e ver aquela simplicidade e tal. Mas é o que o público via na época, aquele negócio do cavalo, aquela coisa da ação, quer dizer, todo perigo iminente, tudo programado, mas o público pedia aquilo vivendo, né?
P/1 - Sério?
R - Mas quê! Poxa vida, então é. Mas era um negócio bonito, era uma inocência, inocente mesmo, não era planejada não, era uma coisa bonita, espontânea.
P/1 - Senhor Geraldo, então depois dessa fase de Patrocínio, o senhor resolve vir fazer vestibular em Uberlândia, deixou a família lá e veio para cá. Como é que foi voltar à Uberlândia e por que essa opção por Economia e Administração?
R - Exato. A opção por Economia e Administração já vinha já de algum tempo como disse anteriormente, já estava já na cabeça. E vir para Uberlândia, na minha terra quem tinha condições ia para Belo Horizonte, Belo Horizonte é capital etc., tinha apoio político e tal etc., quem tinha dinheiro, quem não tinha ia para Uberaba ou para Uberlândia, ia para os dois lugares. Uberaba estava um pouco saturado porque Uberaba toda a vida viveu do gado e a indústria era, era, porque hoje está, já mudou um pouco, mudou muito. Vivia aquela fase, Rockfeller visitando a exposição de Zebu, então o gado era palavra de ordem na economia uberabense. E Uberlândia, por sorte, porque teve muitos prefeitos aqui, que é Virgílio Galassi e Renato, a briga entre eles é uma briga salutar porque cada um queria fazer mais que o outro, e vieram trazer indústrias para cá, então a mão de obra aqui, a oferta era melhor, então você vinha quase com garantia de emprego. Eu não vim com garantia de emprego, mas eu tinha um amigo maçom dessa empresa Carpal, ele fez um cartãozinho para mim e eu vim aqui para o escritório do Luís Alves. O Luís Alves era um homem muito bom e tinha um escritório de Contabilidade muito grande e eu cheguei, a primeira coisa que eu fiz, eu vim com uma malinha, pouquinha coisa dentro e vim para uma república, final de semana, segunda-feira você tinha que começar a trabalhar porque tinha que trabalhar. Com esse cartão, procurei o Casa Santa aqui, que era um dos chefões aqui da maçonaria, e ele falou assim: “Vai lá no Luís Alves”, fui lá no Luís Alves e o Luís Alves me acolheu. Eu já tinha trabalhado em Contabilidade, tinha uma facilidade muito grande, e comecei. A faculdade paga, a faculdade lá embaixo na Dom Duarte, na praça, a faculdade, eu e o Celso, para ser repetitivo, o Celso também estava no mesmo esquema, só que o Celso tinha família, mãe e tal, estava bem de vida, tal. E eu comecei a trabalhar logo. O Maurício Brandão que é economista, foi economista da CTBC, é de Patrocínio, e eu convivi muito com eles lá, porque o irmão dele, eles eram ricos, toda a vida foram ricos, o irmão dele era colega meu de escola lá, e ele me viu aqui, e tinha outro amigo meu conhecido de lá que era Valmiro dos Reis, até faleceu dentro da empresa nossa, problema cardíaco, aí o Maurício falou assim: "Olha, está tendo uma vaga na CTBC, você conhece?". Eu falei: "Ah, já ouvi falar nessa tal de CTBC".
P/1 - Que ano era isso senhor Geraldo?
R - 1970, principinho, principinho. Aí eles me falaram que tinha uma vaga na CTBC, o Maurício me falou e eu fui procurar o Valmiro porque o Maurício era economista da CTBC, estava a nível de hoje coordenador vamos falar assim, porque tinha na época, a CTBC era o presidente senhor Alexandrino, diretor financeiro, o senhor Walter, que era filho dele, que morreu, e o doutor Luiz que era diretor gerente, tinha até a figura do diretor gerente, depois daquilo ali, era nível de coordenador que nem chamava coordenador, e o Maurício era encostado nesses três diretores, eu falei: “Não vou atormentar o Maurício”. O Maurício só me deu a dica, vou procurar o Valmiro aqui, que o Valmiro, eu vou pela porta que dá som, aí fui procurar o Valmiro, o Maurício falou: "Não, eu também te falei e tal, mas tudo bem”. E o Sátiro, que está até hoje lá me deu teste, naquela época tinha teste e tal. Eu peguei e fiz o teste, passei no teste. Aí eu fui falar para o senhor Luís, o senhor Luís, um cara muito bacana: “Senhor Luís, oh, o senhor me acolheu aqui e tal, eu passei na CTBC, vê quando é que o senhor pode me liberar etc.”. Ele disse: "O dia que você quiser". Como eu tinha ainda alguma coisa para fazer, e eu queria deixar a coisa já pronta, eu falei: "Olha, então eu vou ficar até dia tal, mas eu deixo a Contabilidade...” Eu estava cuidando de três contabilidades, três firmas. “Então eu deixo os negócios pronto etc., e aí vou.” Naquela época era muito comum você trabalhar sábado e domingo direto, era comum, legalmente não, mas era comum você fazer isso para botar serviço em dia, porque a Contabilidade antigamente era por fisco, não era uma ferramenta gerencial que te dá estatísticas para você trabalhar, então era um negócio diferente, hoje...
P/1 – Era prestar contas.
R - É, exatamente, hoje a Contabilidade é uma coisa que dá estatística para você medir a sua performance etc. Naquela época não, faz Contabilidade, tem que fazer declaração de renda e pronto, serve aquela. Mas mesmo assim, você teria que fazer porque no caso tinha IPI, ICMS, naquela ocasião ICM, ISS etc. Eu coloquei aquilo em dia, fui para a CTBC, até ele me deu uma gorja, fiquei muito satisfeito, e comecei na CTBC, comecei na CTBC na área do Sátiro, ele está lá até hoje. O Sátiro um advogado, está lá um outro setor, o Sátiro era o contador geral, eu comecei como auxiliar do Sátiro, auxiliar de Contabilidade, e fui crescendo, né?
P/1 - Ainda estudando?
R – Estudando, sempre estudando, eu tinha começado naquele ano, então a gente, estudando e trabalhando. E daquela época, o senhor Alexandrino, um homem muito forte, que depois, vocês deve ter visto os outros falarem ou ainda vão falar, o senhor Alexandrino ele tinha uma, ele tinha uma missão com ele, ele queria chegar, se fosse possível ele tinha comprado a Telemig e se fosse possível, ele tinha chegado nas caras da Telesp em São Paulo. O que é que acontecia? O senhor Alexandrino, naquela época nós, cabeça raspada e tal, trabalhando ali, tal. Nos finais de semana nós saíamos, ia para Campos Altos, Lagoa da Prata, Pará de Minas e fazia auditoria contábil, porque o senhor Alexandrino estava comprando essas empresas, então, o senhor Alexandrino era um cara que não trabalhava sete dias, não trabalhava só os sete dias, trabalhava os sete dias e mais algumas noites, então ele era um homem de um dinamismo desgraçado. Então ele impunha um ritmo que pouca gente aguentava. Quando você era jovem, você aguentava, mas pouca gente aguentava o ritmo dele, então o que fazia, nós trabalhávamos no final de semana, nós trabalhavamos durante a semana e no final de semana nós íamos fazer essas auditorias nesse crescimento grande que a CTBC teve. E é lógico que isso não durou um longo tempo, com o crescimento você, não tinha limite porque tinha muito dinheiro, não tinha dúvida, poderia ter crescido se não viesse a Telebras e congelasse, mas isso se deixasse por conta dele, ele tinha abarcado Minas Gerais, São Paulo e tinha feito um mundo com isso daí. Porque, primeiro que ele entendia, ele era perspicaz, ele chegava, dava uma volta, olhava e falava: "Oh, faz uma auditoria aqui e tal". E chegava lá e comprava, então ele era um, tinha um feeling para negócio que é uma coisa de louco, e segundo que a meta dele, ele queria, ia ser o pioneiro que ele foi em telecomunicações, no interior do Brasil. E ele continuou, continuou, continuamos, até que veio a Telebras criada em 1970 e poucos, chegou e congelou. Agora não, agora você não cresce mais, você fica nesse bloco aqui, aí não tinha jeito mais de você expandir, então você tinha que melhorar, foi o que ele fez. “Já que não posso expandir mais”, e ele ia fazer isso logicamente de qualquer maneira. “Mas eu vou me dedicar à melhoria então.” Então começou a comprar CPA e tal etc., fazer coisas que nem a Telebras e a Telesp na época, a primeira CPA quem colocou foi ele, e não deixaram nós instalarmos, ligarmos, porque a Telesp ainda não tinha feito a dela, então quer dizer, ele era vanguarda, mandava técnico para a Suécia, toda a vida ele pensou na frente, então o princípio foi esse.
P/1 - Senhor Geraldo, eu queria insistir um pouco nisso, mas eu queria que o senhor relatasse um pouco, antes, como era esse processo contábil, quer dizer, o senhor disse uma coisa muito interessante, da Contabilidade era mais reativa do que proativa, ela não era uma alavanca, uma ferramenta de negócio, ela era uma prestação de contas.
R - É, isso eu estou te falando, na área, isso eu estou te falando na área de escritório de Contabilidade de onde eu estava vindo para a CTBC. A CTBC por ser um empresa concessionária, aí sim, aí já mudava, a CTBC já é uma empresa que desde quando eu entrei e até antes, que o senhor Arcy Vilela, antes do Sátiro era contador, já era uma Contabilidade voltada para a gestão, é diferente. Eu estou dizendo para você que a Contabilidade anteriormente por fisco, era Contabilidade dos escritórios da onde a gente veio, porque o patrão, ou seja, o dono da empresa queria daquele jeito: "Olha, faça o negócio para poder fazer os livros contábeis". O gerencial para mim é meu, eu que controlo na cabeça, eu não estou preocupado. A CTBC não, a CTBC era uma concessionária de serviço público de telefonia, a Contabilidade dela já ia, na época, para a Dentel, ia para os órgãos de administração federal já com a qualidade de concessão, né, já era uma Contabilidade diferente, aí era Contabilidade mesmo.
P/1 – Quer dizer, para o jovem contabilista mudou completamente?
R - Mudou completamente. Por quê? Porque você era remunerado por investimento, então aquela Contabilidade tinha que espelhar exatamente o que era porque a remuneração do investimento é que te dava tarifa, então você tinha que fazer um Contabilidade impecável para provar que a sua insuficiência tarifária foi de tanto, portanto você tinha que ter mais um aumento de tarifa de tanto para poder equilibrar o econômico financeiro da empresa. Então você sai do mundo do amontoado de números contábeis e cai em um mundo econômico de estatística verdadeira do processo todo dinâmico e bonito de se mexer, que era a Contabilidade voltada para processos de tarifa, ou seja, remuneração de investimento, todo um negócio novo, né, aí você começou um mundo assim realmente, de primeiro mundo a nível contábil, né?
P/1 - Essas situações de negociações de tarifa, geralmente elas são situações muito críticas em um negócio, não é?. E a Contabilidade aí tinha um, quer dizer, ela é que formava a base da coordenação.
R - É, a Contabilidade que dava suporte, porque a, tem uma portaria até famosa, a 4366, de 1966 parece, 1966, 4366, uma portaria, ela tinha um regulamento, ela era o regulamento que dizia: “Você pode ir até doze por cento de remuneração do capital investido”, tinha umas regras, capital de movimento etc., etc. Então, essa Contabilidade que espelhava, ela encapava todo um processo de tarifa, porque não era só os números econômicos financeiros, você também tinha estatísticas ricas de números de tráfego etc., etc., política, logicamente que a política tinha que estar no meio, porque antigamente quem dava isso era a prefeitura, depois que o governo começou a controlar, estadual, depois da Telebras veio e unificou. Mas era uma guerra, porque a tarifa, ela era muito política, naquela época não existia nem inflação direito, nem tinha motivo de falar que está sendo um peso ponderado na inflação, mas de alguma forma para a barganha política, o prefeito não dava tarifa, o governo do Estado, às vezes, segurava a tarifa, então você lutava bravamente para poder ter um serviço à altura com aquela pequena tarifa que você tinha, e o senhor Alexandrino era mestre nisso. O senhor Alexandrino era tão mestre nisso que ele chegou a buscar dinheiro na empresa dele de veículo para poder jogar em telefonia para poder fazer o que ele queria. Por quê? Porque o governo não dava a tarifa para ele, então ele buscava na empresa dele, de veículos, que era dele e dos irmãos, jogava aí, e lógico, pagava depois. Mas buscava, drenava dinheiro dessa concessionária de veículo e jogava na concessionária de telefonia, porque ele acreditava muito, porque a tarifa era uma porcaria. Com o sistema Telebras, criado o Sistema Telebras, o que é que aconteceu? O governo criou uma tarifa única onde as empresas estatais gastava babescamente e a CTBC era uma empresa que, era mão de ferro, o senhor Alexandrino era um diretorzão mão de ferro, e aquilo descia do número um ao número mil e tanto, que tinha na época. Então o custo era aqui, ele controlava pelo custo, receita é aquilo que pudesse vir de qualquer forma, mas a gestão dele era no custo de despesa, então isso fez com que ele tivesse, ele fosse crescendo, nós fossemos crescendo, crescendo e deu no que deu, porque ele que segurava os custos, as despesas, e tinha tarifa do Sistema Telebras. Se o Sistema Telebras cortasse a tarifa, voltasse ao estado anterior, ele estava bem porque estava trabalhando com as ferramentas que ele podia, do jeito que ele podia, e crescendo da maneira que ele planejou. Então ele era um precavido, era um homem que sabia administrar, sem curso superior, mas tinha uma administração que não é qualquer economista ou administrador de empresas, melhor ainda, porque economista às vezes erra muito, administrador de empresas que tinha uma administração financeira como ele sabia fazer.
P/1 - As estatais tinham um tesouro na retaguarda, né?
R - Tinham. O dela é orçamento, orçamento de tanto, né, tal, Telebras, FNT, o famoso FNT, não deu, manda para lá o FNT, que até o Delfim transformou em fundão. Então, eles trabalhavam com orçamento, é mole para mim, vou cumprir o orçamento, tal, botava um orçamento babesco, quem é que não quer cumprir um orçamento desses? Então não tinha problema. Nós não, nós tínhamos um orçamento de custo de despesas ali, que tinha que cumprir.
P/1 - Era uma situação sui generis porque a companhia, a única privada, efetivamente privada numa situação de empresas estatais, e como negociar tarifas num ambiente onde não havia competição?
R - É, a negociação da tarifa, eu diria para você que não era bem negociação porque tinha um diploma, tinha um dispositivo legal que fazia isso para você, que era a, essa resolução 4366. Ela te dava, ela era normativa, você não tinha que negociar, o problema era você demonstrar a sua insuficiência tarifária, você não negociava coisa nenhuma, você demonstrava a sua insuficiência tarifária que era insuficiência, muito, muito, e os caras demagogicamente falavam: "Não, não, vamos botar tanto". Então na verdade, o que é que eles faziam, ele não ia te matar, mas ele te botava no conta-gota, botava num conta-gota, para te dar só aquele negocinho. Então, por que é que a telefonia no Brasil atrasou muito no passado? Por que é que você acha que tinha aqueles plug, aquelas Dona Maria dando, não chamava tendinite porque naquela época ninguém sabia o que era isso, né, aquele negócio de, mais forte que o Mike Tyson, tanto fazia o negócio, pega o plug lá para fazer a ligação. Por que é que a arcaico com aquela estaçãozinha pequenininha, porque ninguém dava conta de investir, naquela época era coroa sueca, você investia em coroa sueca, olha, o câmbio naquela época, nem dólar não era, o câmbio era coroa sueca, e aquilo era pesado. O equipamento todo importado, no Brasil não fabricava nada e com tarifa, vamos dizer, pegando importação, quer dizer, trabalhando com o câmbio na despesa, e com a tarifazinha local. Então qualquer desvirtualidade que desse em um câmbio, qualquer, que toda vida poderia dar, você estava com a variação cambial, seja ela qual for, de que moeda fosse, sem seguro nenhum, quer dizer, não tinha rédea, não tinha nada, até porque você não exportava serviço, então você era um herói. Agora, por que é que isso aconteceu? Porque o senhor Alexandrino teimou, ele não ganhou dinheiro no princípio, o senhor Alexandrino ficou muitos anos. Admiração maior que a gente tem por ele, de todas, é que ele não era um cara que queria ficar rico, ele ficou rico por decorrência. O senhor Alexandrino era um cara determinado: "Eu quero fazer isso". Ele botava dinheiro de onde é que ele era rico, que era no veículo e jogava numa tal de porcaria de CTBC, que era um negócio incipiente na época, jogava lá. “Dê no que dê isso aqui tem que dar certo.” Então, quer dizer, essa é que é a diferença do homem, do empreendedor, e do cara que quer ganhar dinheiro, essa é a diferença, ele não preocupava em ficar rico, ele preocupava assim: "Eu quero dotar o Triângulo Mineiro, isso aqui, com comunicação etc. e tal e vou". E gastou por muitos anos, desde 1954, o senhor Alexandrino veio ver dinheiro, dinheiro, no auge, eu posso falar isso porque eu estou há trinta anos lá. Ele foi ver dinheiro em setenta e tantos, porque antes foi correr atrás de empreendimentos etc., etc. Nunca viu dinheiro, ele via dinheiro lá dos Irmãos Garcia, que ele constituiu a área de veículos e podia ter aposentado, ter ficado rico lá, não podia estar mexendo com esta encrenca de CTBC, e foi mexer com isso com quase sessenta anos. Então era um cara que botou na cabeça que era daquele jeito e foi fazer daquela forma, independentemente do que desse, porque não dava dinheiro. “Quero fazer.” Progresso, progresso, progresso aí deu no que deu, e logicamente que tem uma lei natural que chama Lei da Abundância, né, quando você faz a coisa e tal, ela vem por acréscimo, então ele parece que tinha esse dom e ele sabia dessa lei, “seja o que for, estou fazendo isso aqui por um bem maior” e foi agraciado por essa atitude dele.
P/1 - Porque ele tinha muito olho também na necessidade pública, do serviço público, das comunidades, ele chegou a levar telefone onde não havia nem energia elétrica.
R - Ele botou telefone, igualzinho Casas Pernambucanas, ele botou telefone, onde ele pagava para botar telefone, é uma coisa impressionante, se você pegar a tarifa, porque quando você faz um processo de tarifa, você estratifica onde você ganha, onde você está com ponto de equilíbrio, e onde você subsidia. A CTBC tem esse sucesso que tem, porque ela nunca foi predatória, ela nunca foi usurária, ela nunca quis morder. A CTBC, em grande parte na história dela, ela subsidiou o assinante, telefone lá na ponta, uma cápsula receptora, nunca falava, então era só para receber, mas ele punha lá, qualquer telefone, vai lá. Tapuirama, esses trem aqui na época, porque aquilo, hoje, se você pegar, bota remuneração num investimento em Tapuirama, verdadeiramente, na ponta do lápis, você vai ver. “Por que é que eu boto dinheiro aqui, por que é que eu não vou botar dinheiro em celular?” Ele não pensava assim. “Eu quero botar dinheiro lá em Tapuirama.” Carneirinhos, uma porcaria de, eu conheço tudo aí praticamente, Carneirinhos, uma porcaria de cidade, nunca deve ter dado dinheiro, toda vida ele teve telefone, fala com o mundo. Então ele fez isso, Uberlândia, Uberaba, Franca, não, vai botar lá em Carneirinhos, vai lá no Arraial D'Ajuda, ele vai botar telefone lá, ele fez isso. Então esse é o respeito. O General Alencastro que foi um cara muito duro, muito duro, no livro dele, ele é vivo até hoje, parece, ele, e eles brigavam na época no bom sentido, cada um no seu campo e no livro dele, ele fala com maior respeito sobre Alexandrino Garcia, por quê? Porque o respeito vem de umas atitudes dessa, ele não estava em telefonia para dinheiro, ele estava na telefonia, um homem de desenvolvimento, que ele, porque está provado por A + B que quando você dota qualquer local de comunicação, você dobra ou triplica em pouco tempo o PIB. E o senhor Alexandrino é um dos culpados do Triângulo Mineiro ser o que é de progresso, porque independentemente de ele ter ganhado dinheiro ou não, ele botou uma malha de comunicação aqui, que hoje o Triângulo Mineiro não separou, porque não deixaram. O Triângulo Mineiro é cobiçado por qualquer um graças a um tipo de homem que nem ele que botou isso aqui de uma malha de comunicabilidade à altura, não é, e o PIB vem junto, lógico.
P/1 - Mas com esse espírito empreendedor, ele tinha na retaguarda dele um grupo de contabilistas e economistas que tinham que segurar essas contas.
R - Não, ele tinha, mais do que isso, ele tinha o filho dele, o Walter Garcia que era um senhor financeiro, e tinha, e tem até hoje, graças a Deus, o Luiz Alberto Garcia que era um tourão, que era um cara jovem na época, que também, porque o pai, o pai não era um homem letrado mas era muito vivo. O senhor Walter era um homem voltado mais para área de veículos e ajudava o pai nas finanças. O doutor Luiz era o cara que... Japão, Suécia: "Pai, olha, CPA, não sei que é que tem". Então era um cara que ia, era o Marco Polo, né, o cara que ia nas Índias, e olha lá, pimenta do reino e tal, e trazia. O pai, inteligente que era, dizia: "Olha filho, não vai só você não, então manda o fulano". Aí mandava técnico para fazer CPA, para fazer curso de CPA, lá na Suécia, o próprio Luiz Alberto Garcia foi trainee na fábrica da Ericsson na Suécia. Então lá atrás na época em que o povo estava tudo fazendo pito de palha e caipirando aqui, eles, o senhor Alexandrino através do filho já pensava longe no progresso. Então, já estava lá na Suécia onde o telefone já era telefone, já tinha CPA, para você ver, aqui tinha aqueles plugezinhos, aquelas estação bezinho 64, aquele negócio todo arcaico, o filho já estava vendo o computador em forma de central telefônica lá na Suécia. Então, quer dizer, não é a toa que as coisas, não é por acaso também que as coisas acontecem. Então, eu costumo falar: “Fritar o peixe de olho no gado”. Então ele olhava muito o hoje, mas olha lá o que está acontecendo aqui. E eles toda a vida tiveram essa visão, então os três, um caixa forte, o senhor Alexandrino na estratégia, e o doutor Luiz na vanguarda buscando o novo. Foi um trio que deu certo, né, podia ter dado mais certo, não deu porque o senhor Walter infelizmente morreu de câncer um tempo depois, aí os dois seguraram a peteca e trouxe mais gente, né.
P/1 - O senhor trabalhava diretamente com o senhor Walter?
R - Eu trabalhava, não eu trabalhava diretamente na área do senhor Walter, que era a área de Finanças, Contabilidade, fazia parte na época, né, mas quem trabalhava diretamente com ele era uma pessoa muito querida de nós todos, dona Ilce, não sei se vocês já entrevistaram a dona Ilce, já falou?
P/1 - Foi a primeira.
R - Foi a primeira? Tinha que ser, então é a dona Ilce, que trabalhou diretamente com ele.
P/1 - Fazia esse serviço de controle?
R - Era uma gerentona naquela época, porque nós éramos poucos na época. Nós éramos uma família pequena na época que nós começamos, hoje é que é esse monstro, mas na época em que nós começamos, numa brincadeira de sábado se reunia quase todos, na brincadeira, a gente fazia isso, de funcionário, lógico. Então, ela que naquela época era gerente, ela que cuidava disso.
P/1 - E o trabalho propriamente dito, quer dizer, eu não estou pensando hoje, hoje tem sistema gerenciável, informatizado e tudo mais, mas aí era na unha mesmo, na ponta do lápis.
R - Era, você tinha o sistema Front Feed, já não era o sistema Front Feed, já era o sistema Ruff.
P/1 – Ruff?
R - Ruff era uma espécie de Contabilidade mecânica, uma espécie não, era uma Contabilidade mecânica, que você botava a ficha, e você tinha o diário, o diário já botava na máquina carbonizado. Para você ver, carbono, se errava, era uma desgraça. Você botava o diário, azul, tinta azul, você botava a ficha, quando você batia na ficha, inteligentemente aquele sistema já batia a ficha, o razão, a conta razão e já saia no diário, você já fazia o caixa, o razão tudo já dentro do diário e partidas dobradas. Não sei se você entende de Contabilidade, mas se desse uma diferença era um desgraça, Nossa Senhora. Você varava a noite, porque equação de primeiro grau, você tem que fechar. E tem que dar certo, então se desse uma diferença era um inferno, então você tinha que procurar de tudo quanto era forma. E a gente sofria muito com isso, depois veio a era do computador, nossa! E a credibilidade do computador, “essa porcaria não funciona”, “esse negócio não está certo”, e a gente trabalhando paralelamente, “tem que dar certo”, “a equação pede, em três, quatro, cinco meses, será que vamos?” Migramos ou não, para você ver a ignorância, até que: “Ah, deu certinho, oh, bateu”. Puts, o computador.
P/1 - Trabalho dobrado mas era conferido?
R - Exatamente. Mas não, e o computador, a partida é simples, você consistia, você tinha uma consistência, um trabalho bilionesimamente mais rápido. Mas o homem quando sai do seio do seu conforto para o desconforto, é igual sair da barriga da mãe, já sai chorando. Então você ia para um nível de não conforto desgraçado, então como é que eu vou largar esse conforto aqui e passar para essa porcaria aqui onde eu estou no ar. Sei lá se essa placenta aqui, qualquer hora me deterioro, ou então eu morro afogado, tal, esse tipo de coisa. Então era uma convivência, toda hora com o novo você se deparava. Porque o grupo, a vantagem do grupo, o grupo toda a vida buscou o novo, tanto que vai ser um das primeiras empresas que está fazendo a história, embora isso seja comum nos Estados Unidos, nós já vimos nos Estados Unidos. Então ela sempre procurava o novo, então sempre chocava, então a gente estava sempre incomodado. No grupo, aliás, você viveu, eu estou com trinta anos, toda a vida incomodado, porque você nunca está a mesma coisa, você está sempre, mudando e tal etc. Isso é bom, isso faz com que você envelheça sua epiderme e não envelhece a cabeça, não é?
P/1 - Então na verdade é o reflexo de um espírito empreendedor que estava lá atrás.
R - É, já, é um mandato, não sei se você já viu o Erik Berner falando sobre os mandatos que você põe na vida. A empresa tem um mandato, ela é assim, vanguarda, e você põe aquilo na cabeça, o próprio corpo, aquilo é um germe que vai proliferando, vai e vai mudando, né, as mutações, elas existem, e aquilo vai acontecendo assim.
P/1 - E contaminando culturalmente as pessoas.
R - Exatamente, correto, correto.
P/2 - Senhor Geraldo, eu queria fazer uma pergunta, essa parte contábil-financeira, o senhor Alexandrino, ele se interessava por estar entendendo um pouco desse assunto, quer dizer, ou ele deixava na mão do filho dele?
R - Não, ele deixava na mão do filho dele mas mesmo assim ele comungava muito com o filho, porque ele tinha uma noção econômico-financeira muito forte, o senhor Alexandrino, logicamente que ninguém entendia de caixa como o senhor Alexandrino, ninguém tinha um controle de custo como o senhor Alexandrino. Ele ia fazer uma construção, até no layout da construção, ele sabia: "O carrinho passa por aqui, tal, pá, pá, pá tal e depois os entulhos sai daqui vai para essa". Ele tinha organizações e métodos naturais na mão. Então para você ver o que é Contabilidade? Contabilidade nada mais é do que registro de fato, mas mais importante do que registrar o fato, é fazer com que o fato aconteça economicamente, então o que ele fazia? Ele fazia o fato acontecer economicamente, ele tinha o dom de fazer a coisa remunerar, traduzir o capital da melhor maneira possível. Então era um homem que, o filho entendia muito de Contabilidade, logicamente uma coisa traduzida em número e norteado de operação, olho ali no negócio, era uma dobradinha, e o outro buscando o novo era um trio que não tinha como errar, não tinha como errar, só tinha que dar certo. Era um dom nato, então, quer dizer, ele estava no fato, o filho fazia, registrava o fato, mas do que registrar, era fazer o fato acontecer economicamente, financeiramente saudável, e ele fazia isso acontecer.
P/1 - O senhor Walter tinha também essa percepção desse trabalho conjunto, assim, essa visão do conjunto?
R - Tinha, tinha. Era um exímio financeiro, mas um exímio financeiro. Na época... porque ser financeiro com muito dinheiro é a coisa mais fácil do mundo, você aguenta desaforo, dinheiro não tem o que, tal, gosta de dinheiro, não gosta de desaforo e tal, mas, às vezes, você faz desaforo em um determinado ponto para ele, então ter muito dinheiro é fácil. Agora, você trabalhar com um caixa curto e crescer, quando a gente chegou, quando eu cheguei, há trinta anos atrás, a empresa já tinha quase vinte, mais de vinte, então é, 1954, é, já tinha tempo, então você fazer crescer da maneira, quase que a fórceps, do jeito que cresceu, tudo importado, tarifa demagógica, e você controlar aquilo financeiramente, igual ele controlava junto com o pai. E o doutor Luiz, é, tem que ser um expert. Toda a vida primou, nunca pagou coisa atrasada, nunca faltou salário para ninguém, quer dizer, ele geriu o negócio público, vamos falar assim, com tarifa pequena, sem ter problema maiores. O problema maior é que ele queria colocar o serviço para falar em todo o canto e não tinha jeito, aí é um problemão, mas econômico e financeiramente, toda a vida inteira a empresa com uma lisura espetacular, nunca teve problema.
P/1 - O curioso, que no princípio dos anos setenta antes da Telebras, com a grande expansão física digamos, da área de atuação, na verdade você convivia com o fantasma da inflação, né, começou-se a se conviver com o fim do chamado "Milagre brasileiro". Mas a partir desse momento, especialmente depois que a Telebras começa a exercer toda a influência na área da telefonia, os senhores começam a conviver com um bicho de sete cabeças chamado inflação, sem controle, e como era ser contabilista econômico, como era ser financeiro numa situação como essa?
R - É, a cabeça do grupo toda a vida, o meio de medição, foi moeda forte. O doutor Luiz não sabia. Não sabia não, o doutor Luiz nunca..., aí eu passo para o doutor Luiz, que aí é que foi determinante a atuação dele, o doutor Luiz nunca soube raciocinar em moeda local, falava: “Quanto que é dólar?”. Por que é que é dólar, na Europa, Suécia ele via os parâmetros em dólar, viajava para os Estados Unidos, os parâmetros em dólar, viajava para o Japão, os parâmetros em dólar. Então o nosso... e nós não fechávamos, nós não tínhamos o US GAAP, hoje nós temos o balanço em US GAAP, que você pode levar para SEC americana e etc. Mas na época, o doutor Luís tinha os parâmetros mundiais de pesos e medidas de tarifas e etc. em dólar. Logicamente que isso pesa na visão, porque quando você tem a visão, você não se perde, agora aquele emaranhado de números, que você fazia com inflação de oitenta e tantos por cento ao mês, ou quarenta e poucos, e tal e tal, no frigir dos ovos o governo te dava mecanismos também para você fazer o famoso relatório em IGPM. E você já começava a trabalhar dentro do país com a pseudo moeda forte dentro do país. Por que disso? Porque se você for pegar um punhado de números inflacionados e você não souber medi-los com parâmetro de moeda forte, mesmo sendo a sua, o seu indexador nacional, sem ser uma variação cambial, você vai se perder no tempo e no espaço, porque em um determinado ponto você está perdido porque você não sabe mais o que é que é real, não tem realidade. Então o que é que você fazia? Você fazia uma espécie de medição no IGPM, que é um índice médio ou em um IPC, procurava aquele que se aproximava mais da realidade sem estar manipulado, como o INCC toda a vida foi no caso da construção civil e etc. Então você pegava um índice daquele e ali você tinha um pajeamento da sua situação, você não se perdia. Estoque por exemplo, era um perigo, o cara comprava: "Eu vou deixar para comprar lá no final do mês, porque na virada da ORTN eu não carrego essa desgraça desse acolchoado aqui de inflação”. Porque qualquer porcaria que você jogasse, ativasse, que não estivesse no ativo já remunerando, que ativasse para poder expor-se à inflação e não traduzisse aquilo depois em receita, seu balanço era penalizado. Então o brasileiro é muito versátil, ele começou a brincar com inflação, ele sabia brincar de alguma forma, o governo caiu do cavalo diversas vezes, inclusive com correção monetária para dar baixa de ativo imobilizado, teve decretos e decretos que a nível tributário o governo levou muito prejuízo. Por quê? O empresariado olha a lei pelo lado dele, olha e aplica, então você deixar para poder baixar um bem lá em, perto de trinta e um do doze, onde você pegava todo aquele “camaçado” e levava como custo, e como custo você joga contra o resultado para efeito de Imposto de Renda. Então você simplesmente usa os mesmos mecanismos que ele está usando, porque o imposto também, quando ele é te cobrar, ele é te cobrado em tantas ORTN. Então a moeda, não existia moeda, existia um indexador que traduzia moeda, então era uma porcaria, então para você não se perder no tempo e no espaço, você usava um indexador forte e ao longo do tempo o que é que você fez? A inflação foi amainando, amainando, mesmo amainada, controlada, você começou, porque tinha as defasagens, TCBTM, toda aquela bagunça, você começou a fazer, aí sim você fazia em dólar. Aí você fazia o dólar médio e tal, e traduzia aquilo, aí você tinha uma Contabilidade em real. Então, na época da turbulência você usava um indexador locar para poder ir ajustando e trabalhando com as mazelas, tanto de um lado como do outro e do ativo e passivo, as mazelas, porque a inflação podia corroer o seu balanço, a manutenção de capital de giro etc., quer dizer, era uma situação caótica mas que pela força da economia principalmente em uma empresa do tamanho da nossa, empresas do tamanho da nossa, você tinha que ir rápido em busca de controlar aquele bichão, porque senão você se perdia, e era controlável, a gente tinha como fazer.
P/1 - Era no fio da navalha mas ao mesmo tempo exigia uma dose de criatividade grande, né?
R - Ah, mas muito, mas muito. Planejamento tributário e fiscal toda a vida foi a espinha dorsal e você tinha que estar com aquilo ali afinado, porque se você errasse no negócio daquele, o prejuízo era fatal, então, você tinha que estar em dia.
P/1 - O senhor atribuiria essa visão mais consolidada e mais sistêmica digamos, de todo esse processo aparentemente descontrolado, mas a visão sistêmica disso, a capacidade que a companhia manteve de investir e crescer, porque também investiu e cresceu nesses momentos críticos.
R - Sim, sim. É, aí vem aquilo que eu falei no princípio, apesar de toda essa caca de inflação etc., telefonia depois da Telebras, aquilo que eu disse para você, é um negócio muito bom. Por quê? Você tinha uma tarifa oficial e um custo privado, porque o senhor Alexandrino não abria mão do custo e nem da despesa. Eu falo do senhor Alexandrino, aquilo que ele passava, o espírito do senhor Alexandrino. Você pega o Luiz Márcio, você ainda não entrevistou o Luiz Márcio, você vai entrevistar? Já entrevistou?
R - Não, não.
R - Controlava lá em Franca, o outro controlava lá em Pará de Minas, o Oswaldo Firmino controlava lá em Pará de Minas, o outro lá em Ituiutaba, o Dílson na época, gerente de Ituiutaba. Então a mão dele, a mão, ele tinha milhões de mãos, então ele estava ali, em todas essas torneiras fechando custo. Então o que é que acontecia? Mesmo nessa turbulência toda, como ele tinha uma tarifa oficial e um custo privado, você tinha margem muito boa para poder crescer apesar das cacas inflacionárias etc. etc. Então você tinha como fazer isso. E naquela época também, aí começou uma outra época também, porque aí a Ericsson de alguma forma entregando a longo prazo, mas aí começou já a não ser mais coroa sueca, você já não estava mexendo com câmbio mais, você já começou a ter moeda contra moeda comprando aqui quase com autofinanciamento. Logo em seguida veio BNDS que é o Banco de Desenvolvimento também que veio financiar, pagava à vista lá e financiava, ao longo do projeto, aí começou o Projeto Finance, toda uma série de, o mundo foi mudando e nós acompanhando a mudança do mundo e querendo andar mais depressa um pouquinho. Era isso.
P/1 – Sofisticando a gestão financeira...
R - Sofisticando, sempre procurando andar mais depressa um pouco, porque estar junto com os outros é mole, o problema é ir na frente, não é?
P/1 - Até chegarmos, digamos, no início dos anos 1990 quando essa abertura começa a suscitar mudanças mais sucessivas.
R – Exato, aí foi um problemão, porque aí você vê o alijamento do capital brasileiro porque, se você pegar, aí nós já estamos falando já na abertura quase total da área de telefonia, se você pegar, pega o modelo Anatel para essa abertura que aconteceu agora há pouco, se você visualizar, está nítido, nítido, só quem pode crescer em telefonia nesse país é o gringo. Primeira coisa da cartilha, tem que ter mais de um milhão e meio de terminais, um milhão e meio de terminais nem a Telesp tinha na época, então você, no edital você já tira todo mundo. Então você já vai além mar, então atravessa o Atlântico aí que você vai ter o cara aí, ou entra por dentro aqui, vai lá nos Estados Unidos que você vai achar lá. Então o próprio edital, ele diz o seguinte: “Olha, eu quero capital estrangeiro no processo, porque eu quero fazer divisa etc. etc.". Então a própria abertura, nós crescemos nesse processo e temos que crescer mais pela experiência, mas se você ver a trajetória do processo, vai dizer o seguinte: “Brasileiro sai fora”. Até porque o brasileiro era governo, é Sercomtel e Ceterp aqui em Ribeirão Preto e CRT lá no Rio Grande do Sul e nós, esses outros três todo mísero, estatal, órgão público, e nós o único privado. Então, na verdade, o que o governo fazia: "Olha, um oásis aqui, o resto nós vamos fazer uma regra para o todo". Então você fica, como sempre, nas mazelas da lei sem proteção nenhuma. Hoje o BNDS, por exemplo, é um banco que, na época, quando foi feita a Banda B, era proposição do doutor Sérgio Mota, saudoso Sérgio Mota, que o BNDS financiasse, fizesse o projeto, financiasse o projeto, e o BNDS desse o working capital que eles falavam, que intera, o teu projeto vai ser financiado sem por cento da Banda B. Nada, depois daquilo, com essa bagunça toda, o doutor Sérgio Mota morreu,e a coisa não foi dessa forma por razões que eles explicaram depois etc. Mas não aconteceu da forma, então quem sobreviveu, no caso, nós passamos por um aperto muito grande, porque nós, não é que nós ficamos pensando só nisso, tinha propostas na época de que a coisa seria dessa forma e não foi. Logicamente que tivemos, não é por isso que nós vamos chorar: “Não, e agora?”. Não, fomos a luta, que nós fizemos de forma diferente e escapamos mas, tem o capital estrangeiro no processo, o capital nacional, praticamente nós e alguns outros, gato pingado pequeno, porque, o grande, somos nós, venderam e tal, então, o que ficou grande, fomos nós. Pagamos um preço fantástico para estar no processo, por quê? Porque no Brasil não tem dinheiro para fomentar parcelas de uma sociedade de telefonia à altura como um grupo Algar necessita. Por quê? Porque hoje o único setor é o BNDS, o BNDS lá com os seus dezenove bilhões empenhados nas mais diversas atividades e sobra pouco para a telefonia. Quando ele vai financiar agora, ele financia sessenta por cento, sessenta e cinco por cento e logicamente com TJLP, mas um índice de crédito, quer dizer, não é aquela taxa de fundão que o estrangeiro vem para cá, pega o negócio há vinte, trinta anos, de acordo com o payback da empresa, muito mais do que isso até com juros, praticamente fundão estrangeiro. Eu vi em Cancún agora, há pouco tempo num seminário, juros módicos vem para cá e nós lutando aqui com TJLP, quase que juro de giro no mercado. Então a desigualdade do capital é muito grande, para ter uma variação cambial, esses caras, pegou um desconto desgraçado em cima do negócio, porque pagou em dólar, de qualquer maneira para ele era dólar, então dinheiro defasado, para ele ficou mais barato, nós não, nós estamos pagando o real porque nós não temos hedge. Então o nosso negócio é aqui dentro do Brasil, tem que pagar aquele preço, então, quer dizer tudo, mas isso...
P/1 - É uma briga feia, né?
R - É briga feia, mas não é diferente, toda a vida foi assim, toda a vida foi assim, então isso tem que mudar, ao longo do tempo tem que mudar, porque senão você, não é que cansa, mas você fala assim: "Poxa, até quando que pode continuar assim o país?”. Daqui um pouquinho você está falando outra língua, porque tudo vira gringo, olha área bancária para você ver, daqui a pouco não tem nenhum banco nacional, em telefonia, daqui a pouco só temos nós nacional, porque o resto é tudo gringo.
P/1 – Mas engraçado, ainda subsiste o espírito que as outras companhias não têm, esse espírito de identidade local, de estar arraigado, fincado nessa área de atuação.
R - Porque o governo destruiu isso, teve muitos colegas do doutor Luiz na época, o doutor Luiz até, na época o doutor Luiz convidou muitos colegas dele para resistir, no bom sentido, não é dar uma de bagunceiro, mas para resistir: "Olha, resista, resista, não entrega para a Telebras". Eu lembro em Governador, parece, não tenho certeza, mas em Governador Valadares, um colega dele, que ele pediu para o cara resistir, falou: "Oh, oh". O cara: "Não, não". O cara esmoreceu, entregou. Ele, o senhor Alexandrino e o senhor Walter: "Não vamos esmorecer e tal". Veio farda verde, veio tudo quanto é tipo de pressão, eles ficaram em cima e tal. Aí foram e acreditaram, até nisso também, não é só dinheiro, política era contra também por que, o que é que a Telebras fez na época? Ela falou assim: “Eu quero pegar o Brasil e unificar o Brasil e tem um tal de CTBC que é uma pedra no meu sapato, ele atrapalha isso, vamos encampar essa empresa”. E foi um inferno, encampa coisa nenhuma, aí veio uma resistência, porque aí você... Processo de renovação de concessão era um parto, só valorizava, porque... o filho pródigo, não é? Então, quer dizer, a luta só é mais doce porque só valoriza a garra.
P/1 – Isso é que tempera o aço.
R - Tempera, tempera, exatamente, tempera a coisa, então não, nunca foi de mão beijada, tem que ser assim.
P/1 - Esse nível de pressão havido na tentativa de encampação da Telebras, isso chegou a refletir-se muito no cotidiano da empresa?
R - Refletia positivamente porque a última concessão que nós fomos renovar, nós fomos para Brasília e montamos um quartel general em Brasília.
P/1 - Foi quando isso?
R - Foi em 1992, 93, é 1992. Nós montamos um quartel general em Brasília, nós levamos um punhado de associados para lá, e cada associado tinha uma missão: falar com um deputado e conscientizar o deputado, porque o Brasil não exerce o direito de cidadania, isso é uma desgraça, o deputado lá em Brasília, ele não está nem sabendo o que é que está acontecendo aqui. Então nós fomos falar para ele: "Oh, naquele lugar seu, que está o seu pessoal lá, que tem telefone, tem CPA, fala qualquer hora, todo mundo fala etc., etc., o PT, estão querendo pegar". Fala para outro, outro e outro, criamos um clima, e depois maçonaria, tudo quanto é ordem de classe, mandou apoio, por quê? Porque a CTBC, ela tem o telefone muito socializado, então, verdadeiramente, ela serve a comunidade, ela serve a comunidade. Então isso fez com que aquele espírito fosse crescendo, crescendo e o governo, o Congresso fez uma lei, acho que é Lei 8.300 e alguma coisa 367, uma coisa assim, não importa, o governo fez uma lei dando, renovando a concessão da empresa, e naquela época onde o PT através do Suplicy até com autenticidade, porque eles pensam daquele jeito mesmo, paternalismo, etc., etc., um absurdo, “tem que encampar, não sei o quê e tal”. Então, quer dizer, um negócio todo torto, todo desfocado, e foi feita uma lei, foi feita uma lei, para que isso fosse mais x anos e agora, agora acabou. Agora você tem mais, até 2015, e depois vai até 2000 e não sei o quê, agora não tem mais esse processo que vence assim.
R - É, e o mercado se desregulamenta totalmente no final do ano que vem, não é isso?
R - O mercado começa a desregulamentar em 2002 e desregulamenta totalmente em 2004. 2004 é "Festa de Babete".
P/1 – E como é que a CTBC está, como é que ela está preparada para esse desafio?
R - Olha, nós sabemos que telefonia, como todo movimento que está tendo no mundo, é, você não pode ser pequeno, não é? Você não pode ser pequeno, você tem que ser de um certo porte. Nós temos um projeto agora, Peixe Vivo, primeiro que, graças a Deus, nós não somos tão pequenos, nós temos já uma área que, a CTBC tem a área de São Paulo que é o melhor PIB, tirando o estado de São Paulo, tirando a cidade de São Paulo, o melhor PIB brasileiro a gente está nele, mas nós temos um projeto Peixe Vivo, que tem uma série de, que não dá para falar aqui agora porque não foi apresentado oficialmente ainda, mas uma série de trajetórias aí para poder trabalhar, então, anel ótico, uma série de coisas que, que você fica lá, que você vai.
P/1 – Certo. Para terminar, senhor Geraldo, o que o senhor diria para um associado que estivesse chegando agora na companhia sem ainda o conhecimento de toda essa trajetória de luta, o que o senhor diria para ele?
R - É o que eu sempre disse, não inovo nada, você tem que trabalhar, você tem uma dinâmica, você tem que trabalhar que o resto vem por acréscimo, isso é palavra de ordem, não é? Você trabalha, trabalha tudo, e o resto vem por acréscimo, essa é a lei da abundância que a gente fala, vem por acréscimo, é só trabalhar.
P/1 – E o que o senhor, sem lhe pedir nenhum exercício de futurologia, como é que o senhor está enxergando o futuro para companhia e o seu futuro dentro dela?
R - Olha, como eu sempre vi, é, nós temos muitos problemas para enfrentar, se você fizer um exercício todo o 31 de dezembro: “Vamos ver o ano que vem”. Nunca pensar que vai ser moleza. Eu costumo dizer o seguinte: “Moleza é quando você estiver com a mão amarrada, o pé amarrado e alguém te levando, aí você não tem compromisso nenhum”. Se o coração pulsa, você está vivendo, e viver é viver. Então você tem que estar sempre vivendo à altura do que você está fazendo. Então o grupo, eu acredito no grupo, porque a vida inteira eu vi desafios e participei de desafios, é aquilo que eu falo, que eu ainda falei há pouco: “É preciso ser feito, vai ter que ser feito”, não é aquela ignorância, “precisa, vai é meter a cabeça...”. Não, precisa de ser feito, tem uma força que não aparece mas se quiser faz e ela é respeitada, porque tem algo a mais em cima disso aí. O meu futuro, o meu futuro é, eu tenho que agregar mais algumas coisas porque não é no conforto dos trinta anos trabalhados que você vai para o museu e fala assim: “Não, agora eu posso aposentar”, não, o seu futuro está intimamente ligado, aquilo que eu acabei de dizer, em pulsar, em ter desafios e fazer mais, isso é que é viver. Então eu acho que dentro dessa trajetória eu tenho que me acrescentar em algumas coisas e tal, estou programado para fazer isso, também todo, e é sempre isso, vou ter que fazê-lo e continuar nessa briga boa aqui por mais trinta anos.
P/1 - A causa é boa, né?
R - A causa é boa, é justa.
P/1 - E seus sonhos pessoais senhor Geraldo?
R - Meu sonhos pessoais, eu estou formando um filho agora em Londres, eu quero vê-lo um cara pronto, um cara pronto, esse é o meu sonho. E eu estou formando a menina daqui dois anos em Medicina, eu quero ver também ela pronta, profissional. Eu já formei um em Jornalismo, eu quero ver ela pronta, quer dizer, riqueza é a da cabeça, então eu quero vê-los prontos para enfrentar o que der e vier. É isso que eu quero, é esse o meu sonho.
P/1 - E o que lhe pareceu dar esse depoimento para nós?
R - Eu fico muito grato porque, e isso é aquilo que eu disse ainda, anteriormente, as empresas americanas já fazem isso há muito tempo, não é? Nós temos que resgatar valores, porque essa meninada que está vindo agora, para poder: “Olha, como é que isso foi feito, de que forma que foi feito, que sacrifício foi feito”. Nós não queremos tirar uma de vítima e nem procurar verdades para cima de nós, eu quero dizer o seguinte: “Olha, lute como nós lutamos que você vai fazer também o depoimento no final e vai dar a oportunidade para os outros fazerem o depoimento”. Então, quer dizer, é lutar que a coisa cresça, que dê emprego, que pague imposto, que melhore a situação do mundo, que melhore a situação do indivíduo e da própria família do cara, então é lutar para que a coisa floresça, cresça e todo mundo seja feliz, é isso, é a lei da abundância.
P/1 – No fundo aquela pergunta que sempre deve sempre se fazer, não é, Você está sendo útil para alguém?
R – Esse ditado... pois é, é o bem, não é? É isso que as pessoas tem que botar na cabeça, a empresa tem uma utilidade fantástica, é isso que as pessoas tem que enxergar, não é preocupar com o índice de salário, não é preocupar com isso e tal, preocupa em fazer aquela função, faça a empresa, a empresa é um bem social. Ela não é só do Luiz Alberto Garcia, ela é de todo mundo, agora tem que respeitar esse negócio de todo mundo, porque ele respeita, porque o dinheiro dele está lá também, mas o seu patrimônio está lá também, que é o seu emprego, não é isso?. Então, quer dizer, é uma comunidade, fazer com que isso floresça e cresça e você cresça junto, é isso que é importante, não é?
P/1 - Muito Obrigado.
R - Eu é que agradeço.
P/1 - Foi ótimo, foi ótimo.
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