Projeto: Morro dos Prazeres, esse Morro
Realização: Museu da Pessoa
Depoimento de: Antonio Alves da Silva
Entrevistado por: Neide Amaral e José Bernardo
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2002
Código: MP_HV011
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por: Marina Tunes
P/1 – Seu Antonio, o senhor pode dizer para a gente a data e o seu nome todo por favor?
R – Antonio Alves da Silva.
P/1 – Há muito...qual... há muito tempo que o senhor chegou aqui no Morro dos Prazeres?
R – Ah, eu cheguei para aqui em 1947. Que eu morei no Morro Turano e cheguei aqui em 1947.
P/1 – Qual é a data de aniversário do senhor?
R – 10 de janeiro de 1923.
P/1 - O senhor é casado?
R – Viúvo.
P/1 – Quantos filhos o senhor tem?
R – Cinco.
P/1 – O senhor já tinha ouvido falar aqui no Morro dos Prazeres?
R – Eu já ouvia falar que a irmã, a minha irmã...
P/1 – Qual o nome da irmã do senhor?
R – Almira.
P/1 – Ah, Almira.
R – Morava aqui com o Zé Paulo, que foi presidente aqui. Então quando eu cheguei “para aqui” não tinha caminho. Não tinha nada. Era buraco puro. Quando chovia, a gente para descer era sentado. Escorregando.
P/1 – [risos]
R – Era menina. É. Para subir não tinha ônibus, não tinha bonde. Naquele tempo tinha bonde com dois reboques, mas quando chovia não tinha ônibus. A gente tinha...eu trabalhava em Niterói lá em Piratininga e subia à pé. É.
P/1 – É.
R – Não tinha água, não tinha. A gente carregava água lá do Chororó. Naquele tempo isso aqui foi feito com água do Chororó.
P/1 – Nossa.
R – É.
P/1 – O senhor nasceu aonde?
R – É, em Senhor do Bonfim.
P/2 - Na Bahia, né?
R – Bahia.
P/2 - Então está bom.
P/1 – Assim que o senhor chegou aqui, qual era o seu relacionamento com os vizinhos?
R – Bom.
P/1 – Muito bom?
R – Bom. Que eu vivo aqui há, esses anos todinhos, não tenho nenhum inimigo.
P/2 - Graças a Deus.
R – Esse aí me conhece, o José Bernardo.
P/2 -...
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Projeto: Morro dos Prazeres, esse Morro
Realização: Museu da Pessoa
Depoimento de: Antonio Alves da Silva
Entrevistado por: Neide Amaral e José Bernardo
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2002
Código: MP_HV011
Transcrito por: Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por: Marina Tunes
P/1 – Seu Antonio, o senhor pode dizer para a gente a data e o seu nome todo por favor?
R – Antonio Alves da Silva.
P/1 – Há muito...qual... há muito tempo que o senhor chegou aqui no Morro dos Prazeres?
R – Ah, eu cheguei para aqui em 1947. Que eu morei no Morro Turano e cheguei aqui em 1947.
P/1 – Qual é a data de aniversário do senhor?
R – 10 de janeiro de 1923.
P/1 - O senhor é casado?
R – Viúvo.
P/1 – Quantos filhos o senhor tem?
R – Cinco.
P/1 – O senhor já tinha ouvido falar aqui no Morro dos Prazeres?
R – Eu já ouvia falar que a irmã, a minha irmã...
P/1 – Qual o nome da irmã do senhor?
R – Almira.
P/1 – Ah, Almira.
R – Morava aqui com o Zé Paulo, que foi presidente aqui. Então quando eu cheguei “para aqui” não tinha caminho. Não tinha nada. Era buraco puro. Quando chovia, a gente para descer era sentado. Escorregando.
P/1 – [risos]
R – Era menina. É. Para subir não tinha ônibus, não tinha bonde. Naquele tempo tinha bonde com dois reboques, mas quando chovia não tinha ônibus. A gente tinha...eu trabalhava em Niterói lá em Piratininga e subia à pé. É.
P/1 – É.
R – Não tinha água, não tinha. A gente carregava água lá do Chororó. Naquele tempo isso aqui foi feito com água do Chororó.
P/1 – Nossa.
R – É.
P/1 – O senhor nasceu aonde?
R – É, em Senhor do Bonfim.
P/2 - Na Bahia, né?
R – Bahia.
P/2 - Então está bom.
P/1 – Assim que o senhor chegou aqui, qual era o seu relacionamento com os vizinhos?
R – Bom.
P/1 – Muito bom?
R – Bom. Que eu vivo aqui há, esses anos todinhos, não tenho nenhum inimigo.
P/2 - Graças a Deus.
R – Esse aí me conhece, o José Bernardo.
P/2 - Com certeza.
R – Me conhece. Sabe que aqui...
P/2 - É. Seu relacionamento sempre foi muito bom. Com todo mundo. Realmente.
R - ...todo mundo me conhece.
P/1 – Quem morava nessa casa.
R – Eu e a minha esposa.
P/1 – Qual o nome da esposa do senhor?
R – Era Neuza da Costa Alves da Silva.
P/1 – Era muito diferente a sua cidade de origem para onde o senhor veio? A cidade do senhor era muito diferente dessa aqui, do Rio de Janeiro?
R – Era porque eu fui, saí de Salvador fui para São Paulo, Ponteio. E de São Paulo eu vim para Salvador. De Salvador eu trabalhei no campo de aviação de Santo Amaro de Pitanga, em 1942. Em 1942 para 1943 eu fui para o Amazonas, que era seringal. Então eu vim, cheguei aqui no navio Almirante Alexandrino. No dia 10 de janeiro de 1944. Aí eu vinha para casa da minha irmã, daqui eu fui para o Turano. Do Turano eu arrumei um barraco aqui no Querosene, e do Querosene eu vim para cá. Fiquei lá uns 3 a 4 meses. Aí vim para cá. Aí eu fundei, tinha o falecido Benevides. O João Benevides fazia cava aqui para vender por 100 mil réis. O senhor se lembra de João Benevides?
P/2 – Lembro. As cavas eram para poder fazer barraco, por causa da ribanceira, né?
P/1 – Cava é o quê?
P/2 - Era um trator.
R – É, é...
P/2 - Para acertar o terreno.
P/1 – Ah, sei.
R – Acertar o terreno para fazer os barracos. Eu sofri aqui, minha filha.
P/1 – Trabalhou muito.
R – Eu morei ali no falecido Cláudio. Fiz um barraco lá. Tenho um barraco da Maria Soares. Maria Soares 27. De lá eu comprei isso aqui da Maria.
P/1 – Comprou essa casa?
R – É, só tinha um cômodo.
P/1 – Hum, hum.
R – Daí eu fiz a casa.
P/1 – O senhor mesmo que fez?
R – É, eu mesmo que fiz.
P/1 – Atualmente o senhor mora aqui com quem nesta casa?
R – Só eu e o Moisés.
P/1 – O Moisés é quem?
R – O meu filho.
P/1 – Ah, Moisés é filho do senhor.
R – É pintor. Ele se aliou agora. Só que eu tive um derrame e tenho dificuldade para falar.
P/2 - ___________
P/1 – Mas fala bem. Como era o fornecimento de água aqui antigamente.
R – Era precário. A gente para ter a água aqui, eu levo lá nos fundos. Fiz uma cisterna, tem as calhas, que eu tirei as calhas essa semana. Aparava a água da chuva que batia no telhado e parava a caixa. Às vezes estava pelo meio, quando era muita chuva, então a caixa chegava ao meio. Mas quando era pouca, água nenhuma.
P/1 – É.
R – A gente para beber tinha que pegar no Chororó. E, interessante que eu trabalhava, a gente trabalhava, chegava em casa pegava a balança d’água e dava duas viagens. Lá no Chororó.
P/1 - _______
R – No Silvestre. A vida aqui foi muito difícil.
P/1 – O que é que o senhor me diz da luz também antigamente?
R – Não tinha luz. A luz a gente para ter luz tinha o Severino lá embaixo, mudou daí, né?
P/1, P/2 - Severino Tatu?
R – Severino Tatu, [risos] Severino Tatu é que eu tenho uma história para te contar.
P/1, P/2 – [risos]
R – Quando o Zé Rei, o falecido Zé Rei estava na casa dele escutou um barulho embaixo da casa dele [risos], era o Severino fazendo um túnel embaixo da casa dele para fazer quarto.
P/1 – [risos] O senhor se lembra de algum vendedor ambulante aqui no Morro dos Prazeres.
R - Tinha o Zé da Mala.
P/1 – Zé da Mala? Ele vendia o quê?
R – É, miudeza.
P/1 – Hum. O senhor lembra de alguma rezadeira?
R – Rezadeira?
P/1 – Aham.
R – Tinha a Dona Carmelita. Que morava aqui em cima, que tinha nessas casas de lá, isso aí era um canavial. Então a rezadeira que tinha aqui era ela.
P/1 – Aquela...
R – Parteira...
P/1 - _____________
R - ...não tinha médico. A parteira que tinha morava lá no campo.
[pausa]
P/1 – A parteira era quem?
R – Era a mulher do seu... é...já morreu. Morreu ele e morreu ela. Que ela é a parteira que até veio pegar o Moisés aí, esse meu filho. A parteira aqui era ela.
P/1 – E o Casarão dos Prazeres? O senhor tem alguma, se lembra de ter alguma lembrança do Casarão dos Prazeres?
R – Tenho. Tenho. Lembrança do Casarão dos Prazeres, e tenho lembrança do hotel velho.
P/1 - Aonde era o hotel velho?
R – Era ali na _________.
P/1 – Ah na __________.
R – É, naquela...
P/2 - Do lado da escola __________.
R – É. Escola Júlio Lobo. Ali era o hotel velho. Isto aqui está tudo mudado. Graças a Deus que entrou um Governo que urbanizou tudo. Botou luz nas casas. Cada um tem o seu relógio. Ele fez caminho, fez escada, botou água. Aqui em casa não falta água, viu?
P/1 – Que bom.
P/2 - Graças a Deus.
P/1 – O senhor já foi ao casarão?
R – Já, eu estive lá agora pouco. Eu vim, eu me encontrei com o Zé Bernardo lá.
P/2 - Lá em frente à Associação, né?
R – É.
P/1 – O senhor sabe como era chamado o casarão?
R – Não me lembrava não.
P/1 – O senhor já brincou lá?
R – Ah, o casarão era dos alemães.
P/1 – Era?
R – Era. Aquele casarão era dos alemães. Então um casarão grande que tinha derrubaram agora, fizeram aquela beleza que está lá.
P/1 – Vamos mudar para a Associação de Moradores?
R – Ahn.
P/1 – O senhor lembra das pessoas envolvidas na fundação da Associação? Como o Almir Chaves, seu Zé Bernardo. O senhor conhece outros que estavam envolvidos na fundação?
R – O Zé Paulo, Zé Flamengo. Antonio Alves que sou eu. Tinha o, eu tenho...
P/2 - Laureano Nascimento.
R – João Loriano. Era cabo da polícia.
P/2 - É.
R – É, tinha o Humberto Siqueira que tinha aquela tendinha lá embaixo. Baiano velho, Zé Gonçalves. Zé Gonçalves foi presidente lá. Eu lembro de tudo.
P/1 – O senhor tem algumas fotos de lá? Dessa época lá na Associação de Moradores?
R – Eu tenho. Até eu, o Zé Bernardo mas está lá em Engenheiro Pedreira. Eu vim de lá ontem. Se a gente tivesse comunicado antes eu trazia.
P/2 - Mas há possibilidade de o senhor trazer mais ________
R – Não, tem, tem. Eu essa semana, a semana que entra, eu vou lá buscar. E entrego a você.
P/2 - Está ok.
R – Tá?
P/1 – Os filhos do senhor nasceram todos aqui no Morro dos Prazeres? Os filhos?
R – Fui.
P/1 – Foram nascidos, né? Com quem? Com a parteira?
R – Foram. Com essa parteira.
P/2 - Como é que era o nome da parteira mesmo?
R – É, a mulher do seu Augusto. Aquele que trabalhava, que era administrador daqui da equitativa.
P/2 - Ah...
R – A dona...
P/2 - O nome dela eu não me lembro não.
R – É, uma branca. Muito vistosa.
P/1 – Se o senhor pudesse mudar alguma coisa na sua trajetória de vida o que o senhor mudaria? Se o senhor pudesse mudar alguma coisa desde que o senhor veio pra cá, o que o senhor mudaria?
R – Eu ainda hoje eu estava falando com o Zé Bernardo o que eu posso fazer hoje em dia é ser vigia. Só. Que eu não espero mais nada, né? Mais nada.
P/1 – Não tem nenhum sonho não?
R – Sonho?
P/1 – O senhor não tem um sonho de realizar alguma coisa?
R – Eu tenho o sonho de ter uma Kombi.
P/1 – Ah, de ter uma Kombi?
R – Para eu trabalhar. Carregar. Que eu tenho até aqui...
P/2 - Quer dizer que o senhor acha que com essa Kombi o senhor resolveria o seu problema?
P/1 – O senhor sabe dirigir?
R – Fui encarregado, [chora] se eu conseguisse essa Kombi, rapaz.
P/1 – O senhor até se emociona, né?
R – É. Mas o que vai fazer? Já estou... agora dirigir, eu dirijo. Eu fiz exame lá, a minha vista está boa. Passar marcha eu sei. Eu sempre dirigi: Kombi, pick-up, Dodge, Volks. Eu dirijo tudo.
P/1 – Mas o senhor está muito, está inteiro ainda, dá para trabalhar sim. Dá sim.
R – Se eu conseguisse essas Kombi, rapaz.
P/1 – Que é que o senhor acha de estar participando do Projeto da Memória dos Prazeres, do casarão dos Prazeres agora? O que o senhor acha de estar participando dessa entrevista, dessa memória, ________
R – Eu acho que o Governo tomou uma iniciativa maravilhosa. Que a gente aqui não tem nada. E agora a gente tem tudo. Telefone passa aí na porta, água, luz, gás, entrega na porta. Naquele tempo a gente ia buscar longe. Nem era gás, era lenha. Fogão de lenha.
P/1 – Hoje tem tudo, né? está bem melhor, né? Bem melhor do que antigamente.
R – É, está bem melhor, filha.
P/1 – Seu Antonio, muito obrigada pelo senhor ter participado dessa entrevista, tá? E, espero que o sonho do senhor seja realizado, tá? Muito obrigada.
P/2 - Muito obrigado, seu Antonio. Desculpa aí ter tomado o seu tempo, viu?
R – Ô, Zé Bernardo. Como agradecer a vocês? Eu acho que o Governo vai me dar essa Kombi. A administradora, a administração vai me dar uma Kombi.
P/2 - E aí o senhor terá os seus sonhos realizados.
R – Que eu trabalhei muito aqui. A gente no tempo do José Paulo, esse presidente, “nego” que não pagava o Zé Paulo ali em cima, com uma 765: “Corta a água dele.” Quem não pagava, cortava. A Ação precisa pagar o manobreiro para jogar água para cima, pagar luz, pagar tudo e tudo, não queria pagar 50 centavos? Na época eram 500 réis.
P/2 - Com certeza.
R – Era 500 réis. Nego, a gente ia lá cortava a água do cara e eu já, como um cara saiu de lá de dentro com um 38 na mão, “se cortar meu cano cai.” O Zé Paulo arrancou a 765 disse: “Quem vai cair é você”. Aí o cara... [risos].
P/2 - [risos] Guardou.
P/1 – [risos] O cara guardou logo a viola no saco.
R – Guardou. [risos] Cortamos a água. Ele foi lá na Ação pagou a água e religamos a água dele. Naquele tempo é que era tempo, né? Hoje em dia tem caçamba de lixo, a gente bota em um saco naquele da Casa da Banha, amarra o saco, o lixeiro vem...
P/1 – E leva.
R - ...isso é uma maravilha, menina.
P/1 – Progresso, né, é o progresso. Seu Antonio, muito obrigada.
R – Tá.
P/2 – Muito obrigado.
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