Eu nasci dia 17 de setembro de 1927, estou hoje com quase 87 anos. Nasci na Rua Clélia, Lapa, São Paulo. O nome do meu pai é Salvador Arturo Bruno, e minha mãe Tomazina Nicoletti Bruno. Eu ouvi ele falar que ele gostou muito da minha mãe e acabou casando com ela, mas era em Guariba, estado de São Paulo, interior de São Paulo. Depois eles vieram morar em São Paulo, na Rua Clélia, que era barro em cima de barro. O meu pai conseguiu um emprego na Companhia Vidraria Santa Marina, que é o fabricante de pirex, colorex. Hoje essa companhia abriu falência e fechou. Como o meu pai era funcionário dessa companhia, ele ganhou uma casa para morar e eu vivi lá. Então eu com seis anos, eu fui morar na Avenida Santa Marina, cuja moradia era propriedade da fábrica. Depois fomos crescendo, eu fui estudar, estudei até o primário, fiz o primário completo, depois mesmo estudando, com nove anos eu comecei a trabalhar para ajudar o meu pai. Eu pesava arroz e feijão no armazém, era o meu trabalho, era um trabalho leve e assim foi até os 14 anos. Quando eu completei 14 anos, minha mãe me inscreveu numa firma que chamava Zevozari. Zevozari era uma firma mecânica, produzia coisas mecânicas e eu aprendi o meu ofício. Então, eu fui trabalhando, trabalhei nove anos nessa firma, depois arrumei uma outra firma para trabalhar aqui no Matarazzo. Eu passei na Avenida Santa Marina a minha juventude até casar.
Eu comecei a jogar futebol com sete anos no Juvenil Santa Marina. E eu aprendi a jogar futebol e eu tinha queda para coisa, eu era bom de bola (risos). O SPR era da Estrada de Ferro Santos–Jundiaí, era SPR Atlético Clube. Eu jogava no Santa Marina quatro vezes por semana, jogava sábado de manhã, sábado à tarde, domingo de manhã e domingo à tarde, eu vivia para o futebol. Então, eu fui convidado para treinar no SPR, mas eu tinha só 16 anos. O SPR contratou um treinador chamado Caetano de Domenico, era um italiano, ele veio da Itália para o Brasil e...
Continuar leituraEu nasci dia 17 de setembro de 1927, estou hoje com quase 87 anos. Nasci na Rua Clélia, Lapa, São Paulo. O nome do meu pai é Salvador Arturo Bruno, e minha mãe Tomazina Nicoletti Bruno. Eu ouvi ele falar que ele gostou muito da minha mãe e acabou casando com ela, mas era em Guariba, estado de São Paulo, interior de São Paulo. Depois eles vieram morar em São Paulo, na Rua Clélia, que era barro em cima de barro. O meu pai conseguiu um emprego na Companhia Vidraria Santa Marina, que é o fabricante de pirex, colorex. Hoje essa companhia abriu falência e fechou. Como o meu pai era funcionário dessa companhia, ele ganhou uma casa para morar e eu vivi lá. Então eu com seis anos, eu fui morar na Avenida Santa Marina, cuja moradia era propriedade da fábrica. Depois fomos crescendo, eu fui estudar, estudei até o primário, fiz o primário completo, depois mesmo estudando, com nove anos eu comecei a trabalhar para ajudar o meu pai. Eu pesava arroz e feijão no armazém, era o meu trabalho, era um trabalho leve e assim foi até os 14 anos. Quando eu completei 14 anos, minha mãe me inscreveu numa firma que chamava Zevozari. Zevozari era uma firma mecânica, produzia coisas mecânicas e eu aprendi o meu ofício. Então, eu fui trabalhando, trabalhei nove anos nessa firma, depois arrumei uma outra firma para trabalhar aqui no Matarazzo. Eu passei na Avenida Santa Marina a minha juventude até casar.
Eu comecei a jogar futebol com sete anos no Juvenil Santa Marina. E eu aprendi a jogar futebol e eu tinha queda para coisa, eu era bom de bola (risos). O SPR era da Estrada de Ferro Santos–Jundiaí, era SPR Atlético Clube. Eu jogava no Santa Marina quatro vezes por semana, jogava sábado de manhã, sábado à tarde, domingo de manhã e domingo à tarde, eu vivia para o futebol. Então, eu fui convidado para treinar no SPR, mas eu tinha só 16 anos. O SPR contratou um treinador chamado Caetano de Domenico, era um italiano, ele veio da Itália para o Brasil e justamente, calhou de eu estar dentro do clube SPR, quando o Caetano foi apresentado para os jogadores e ele perguntou para mim: “Quantos anos você tem?” “Eu sou menino, mas eu sou bom de bola” “É bom mesmo? De que é que você joga?” “Eu jogo de back central” “Back central, então eu não preciso de você, eu preciso de um zagueiro lateral esquerdo”. Então, eu fui treinar de alf (lateral) esquerdo, quando ele me viu jogar, ele falou: “Você é bom de bola mesmo. Que time você joga?” “Eu jogo no Santa Marina todo sábado, jogo num clube da Lapa todo domingo de manhã e jogo também no sábado à tarde e domingo à tarde”. Ele falou: ‘Bom, eu vou te escrever aqui”, primeira coisa que eu perguntei para ele: “Quanto eu vou ganhar?” “Como que você quer ganhar, você nem começou a jogar, já quer ganhar?” “Eu preciso ajudar o meu pai”, ele falou: “Então, nós vamos ter um problema”, eu falei: “Olha, eu jogo futebol por amor, tenho muito amor em futebol, mas eu não posso deixar de trabalhar, meu pai precisa do meu dinheiro”. No meu tempo não existia nada desse negócio de ganhar dinheiro, a gente jogava por amor ao clube, por amor ao futebol, coisa que estava dentro da gente. Meu pai falou: “Você precisa me ajudar” “Então eu quero te ajudar, eu não vou jogar futebol no SPR, eu vou jogar só nos clubes que eu estou jogando agora” “Você pode jogar, mas você tem que trabalhar”. Sábado de manhã eu acordava já tinha a minha chuteira embaixo do braço, para ir jogar. Eu jogava de manhã e de tarde, e no Santa Marina eu jogava de manhã e de tarde também. E assim foi a minha vida, uma vida de futebol, eu vivi para o futebol amador e infelizmente, eu não consegui ser mais do que isso.
O meu clube de coração era o SPR, era Santos-Jundiaí, e é até hoje. Então, foi-se passando os anos e o SPR caiu para segunda divisão. Eu tive que escolher um clube da primeira divisão para torcer, porque eu não torcia para ninguém, eu torcia para o SPR. Os jogadores eram: Cetali, Escobar e Passerini, Damasceno, Sabiá e Silva, Corrêa, Passarinho – o Passarinho dois anos foi artilheiro do SPR, no campeonato paulista – Passarinho, Carlos Leite, que era o melhor centroavante que tinha aqui, Eduardinho e Tim, Tim, ponta esquerda, era um menino o Tim, tinha 17 anos, jogava um futebol bonito, maravilhoso! Essa foi o SPR que eu abracei. Aí, o tempo foi passando e um dia, eu fui no Pacaembu ver o Corinthians, a linha era Cláudio, Luizinho, Baltazar, Joane e Carlinhos. Falavam mil e uma do Corinthians. Então, fui lá ver, fui com a minha marmita do almoço, almocei dentro do Pacaembu. Eu fui ver o Cláudio, Luizinho, Baltazar, Joane e Carlinhos como eles faziam gol, cinco, seis gols, todos os jogos, era o maior time do mundo! E foi assim que eu me transferi para ser torcedor do Corinthians. Então, o meu irmão, que já era o mais velho falou: “Mas como que você vai torcer para o Corinthians? Você é filho de italiano, nós somos tudo italiano, você não pode torcer para outro time, a não ser o Palestra Itália”. Eu falei: “Olha, você vai me desculpar, mas está em mim, você não pode modificar o meu pensamento, eu sou corintiano doente, eu não posso ficar sem ver Claudio, Luizinho, Baltazar, Joane e Carlinhos, eu não posso, eu vou ficar com o meu Corinthians. Você fica com o Palestra, que era o Palestra Itália e eu fico com o Corinthians”.
Mas o futebol, eu não parei, eu continuei jogando na várzea e na várzea, eu era muito escolhido. Eu, quando completei 17 anos, eu entrei de sócio num clube na Lapa, na Água Branca, Clube Atlético Água Branca. Era uma sociedade italiana e depois, teve que mudar o nome e mudou para Água Branca. E aí, eu fui conhecer o meu outro meio de vida, que eu comecei já ficar adulto. Eu conheci uma mocinha que tinha 13 anos e eu tinha 15. Eu gostei dela, comecei a namorar com ela e começamos a namorar assim. O lugar para namorar era em frente à igreja da Água Branca, Igreja São João Vianney. Foi a mulher dos meus sonhos, a mulher que eu tenho até hoje, estamos juntos até hoje, temos uma família feliz, eu tenho duas filhas, três netos, o que eu não pude estudar, os meus netos estudaram. Casei dez anos depois de namorar, namorei até 25 e ela estava com 23, foi quando nós resolvemos casar. Eu já estava na Santa Marina. Trabalhei dez anos na Santa Marina, antes eu trabalhei oito anos no Matarazzo, aqui na Água Branca e trabalhei nove anos na Atma Paulista. Atma Paulista é uma indústria que fechou, fabricava bonecas para criança. A primeira boneca quem ganhava eram as minhas filhas porque eu estava no meio de onde fabricava as bonecas, eu era mecânico de máquina e eu ia fazer o conserto nas máquinas, a primeira boneca que saía eu já levava (risos). Quando eu casei, eu fui morar na Rua Bica de Pedra. É onde eu estou morando hoje. São 50 anos que eu moro lá, mas com um ano de casado, minha mulher não estava boa de saúde, então eu falei com a minha sogra e ela arrumou uma casa na Rua Caio Graco, na Lapa. E nós saímos da Bica de Pedra e fomos morar na Caio Graco. Morei na Caio Graco dez anos. Dez anos, depois, eu saí da Caio Graco, fui morar com uma tia na Rua Duílio. Morei três anos com a minha tia. Mas começou as encrenquinhas de família, minha mulher falou: “Olha, vamos voltar para nossa casa. eu quero voltar” “Está bom”, falei com a minha tia que eu ia sair e eu falei com o inquilino que estava na minha casa, ele concordou, saiu e me deixou a casa outra vez, eu reformei toda a casa.
Eu não perdia um jogo do Corinthians, não jogava quarta, jogava de sábado e domingo, quando o Corinthians jogava, eu estava no Pacaembu, frequentei o Pacaembu, até que eu tive um certo problema, eu fiquei todo paralítico. Eu tive um enfarte e não mexia nada, não mexia nada. Eu fiz sete anos de exercício numa escola e tenho todos os meus movimentos, nem falar eu não falava. Até hoje eu vou no jogo do Corinthians, eu tenho um netinho que casou com a minha netinha, ele é corintiano doente, ele me leva junto com ele, me leva no meio daquela torcida maravilhosa. O Corinthians é uma maravilha!
Olha, a primeira Copa foi Brasil e Itália, a Itália desclassificou o Brasil, eles diziam quando eu era criança, que o Brasil foi roubado, não foi roubado não, o gol da vitória da Itália foi de pênalti e foi pena. Hoje, eu estou vendo que foi pênalti, eu não acreditava, eu acreditava o que os conhecedores de futebol aplicavam que o Brasil foi roubado, não foi roubado, a Itália ganhou certo.
Na Copa de 50 eu estava no Rio quando o Brasil perdeu para o Uruguai. Eu estava lá assistindo o jogo. Eu gostaria de não te contar, mas eu vou te contar, foi a maior tristeza da minha vida, em futebol, foi a maior tristeza que eu vi. Nunca vi tanta gente chorar como em 1950, perdemos aquela em casa. Fomos nove pessoas. Em nove aqui do bairro, a maioria Palestra, tudo Palestra. Fomos de carro. Fomos em dois carros de aluguel, cinco foi num carro e quatro no outro, o único corintiano era eu e fomos para o Rio e eu tenho tudo gravado em fotografias, a minha estada no Rio, nós ficamos lá quatro dias, nós chegamos na véspera do Brasil e Uruguai, quando Brasil perdeu. Um dos rapazes tinha um conhecido no Rio que cedeu o apartamento dele, e foi maravilhoso, uma coisa que eu nunca mais esqueço. E não me esqueço, nossa! Eu não conhecia o Rio. Fui conhecer essa vez. Fui por obra de um italiano, que falou para mim: “Você vai, nós vamos torcer para o Brasil, você vai com nós”, eu falei: “Mas eu nunca fui no Rio” “Mas você está comigo”, ele era o mais velho da casa e eu acompanhei ele, foi de ruim só ter perdido a Copa.
O Brasil saiu ganhando de 1 a 0. O Friaça era o ponta direita do Brasil, Friaça, foi o que fez o gol do Brasil, nós jogávamos pelo empate, ganhando de 1 a 0, nós jogávamos pelo empate e o Uruguai fez um e fez dois, foi o Ghiggia, o Ghiggia, eu não esqueço mais. O jogo foi maravilhoso, Brasil jogou muito bem. Eles culpam o Barbosa, o goleiro Barbosa não foi culpado, porque deram a bola para o cara, ele veio na cara do goleiro, ele não foi culpado de nada e os que entendem de futebol alegam que ele foi culpado, não foi culpado não, foi um bonito gol e eles mereceram. Voltamos para cá, tudo dormindo no carro. Foi uma tristeza que demorou para calar. Quando nós chegamos no Maracanã, não tinha lugar nem para uma formiga, estava tudo fechado, não tinha mais, ninguém poderia entrar, mas esse italiano, Atílio Negrizolli, ele conseguiu um meio e encaixou tudo nós na frente do jogo, nós estávamos assistindo o jogo na frente e foi uma beleza, só que a tristeza empanou toda a nossa alegria.
Eu vou te falar dessa última Copa das Confederações que o Brasil ficou campeão. Você viu que o Brasil ganhou de três da Espanha? E a Espanha veio aqui para ganhar essa, o Brasil ganhou de três, o Neymar fez dois gols, o nosso centroavante, o Fred fez dois e o Neymar fez um, foi o jogo que o Brasil ganhou da Espanha e a Espanha estava bem armada, eles estavam certos de que iam ganhar. E foi assim.
Em 1958, o Brasil foi meio desfigurado, porque tinha muito carioca e o Brasil, tinha o goleiro, que era esse que morreu há poucos dias o Gilmar, De Sordi, e o que levantou a taça lá, Bellini, o alf direito era esse que morreu, Nilton Santos, center alf. Desse jogo, a maior lembrança foi que nós mostramos para o mundo o maior jogador de futebol até hoje. Até hoje, é ainda o maior jogador de futebol do mundo, Pelé! Pelé, nossa, foi uma alegria para nós brasileiros e para eles lá, foi maravilhoso, eu sou anti-santista, mas gosto do Pelé, pelo o que ele fez.
A minha casa foi a primeira casa a ter televisão na Lapa. A Sears lançou e minha mulher ganhou uma geladeira e eu falei: “Olha, eu vou lá, vou ver se eu troco essa geladeira por uma televisão”. A Sears já tinha televisão, mas era coisa de rico, ninguém comprava televisão, não tinha dinheiro para comprar e eu fui lá, eu falei: “Eu quero” “Como que você quer essa televisão?” “Eu vou fazer uma troca, te dou a diferença e você me dá a televisão, eu te dou a geladeira de volta”, ele era americano o dono da Sears, ele falou para mim: “Olha, é uma boa ideia, você me dá um dia só”, ele era responsável pela Sears aqui no Brasil, “Um dia só, eu vou saber se eu posso trocar, você me dá a diferença”. E a diferença não era brincadeira, porque eu era mecânico de primeiro mundo, eu ganhava muito bem, eu recebia quatro vezes por mês, toda sexta-feira, eu ia recebendo, eu andava sempre cheio de dinheiro. E foi assim que eu consegui a televisão, mas a minha casa ficou pequena, porque enchia tudo, a vizinhança vinha toda lá, a minha mulher é uma mulher fantástica, ela nunca disse “não” para ninguém. Todo mundo que vinha lá: “Entra, pode entrar”, eu tinha a casa grande, era de aluguel, mas era uma casa grande, uma boa casa. Mas eu gostava porque nós fomos muito felizes lá e somos feliz, eu sou muito feliz até hoje com a minha mulher, com as minhas filhas, com meu futebol, continuo assistindo futebol, tenho a minha televisão, ela tem a dela, ela assiste o que ela quer e eu assisto o que eu quero, então é uma vida boa.
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