Depoimento de Mário Jorge Lobo Zagallo
Entrevistado por Paula Ribeiro e Manuel Manrique
Rio de Janeiro, 16 de março de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista FLA_HV029
Transcrito por: Leandro S. Motta
Revisado por Leonardo Sousa
P/2 – Zagallo, bom dia. A gente gostaria de começar a entrevista dando seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bom meu nome é Mário Jorge Lobo Zagallo, nasci em Maceió, no dia 09/08/1931.
P/2 – E o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai é Aroldo Cardoso Zagallo e da minha mãe Maria Antonieta Lobo Zagallo.
P/2 – E a atividade deles?
R – Meu pai era um representante de uma firma do cunhado, de tecidos e toalhas e ele veio como um representante para o Rio de Janeiro, isso oito meses depois de eu ter nascido, por que eu quando nasci em Maceió, meu pai foi para o Rio de Janeiro em 1932, fomos morar ali na Tijuca na rua Professor Gabizo, esquina da Trapicheiros, hoje é Heitor Beltrão. E meu pai até, dentro desse prosseguimento ele foi... o clube mais próximo ali era o América Futebol Clube e ele acabou dentro da continuidade, depois de ser um sócio contribuinte, ele foi fazer parte do conselho deliberativo, ele participou para botar refletores no campo do América, isto uma questão já eu estando no Rio de Janeiro. A minha mãe ela estudou também em colégio de freira falava corretamente o francês e depois ela abandonou todo um lado e ficou apenas como doméstica, vamos dizer assim, e a nossa vida prosseguiu dentro dessa vinda pro meu pai depois de oito meses de Rio de Janeiro e a entrada como América.... comecei a minha vida como jogador em 1948.
P/1 – Mas antes então da gente entrar eu gostaria de fazer algumas perguntas um pouco da sua origem tá, então recuperando um pouco os seus avós maternos e paternos, você se lembra deles você sabe a origem deles, por favor, se sabe a origem do seu nome Zagall...Continuar leitura
Projeto Museu do Flamengo
Depoimento de Mário Jorge Lobo Zagallo
Entrevistado por Paula Ribeiro e Manuel Manrique
Rio de Janeiro, 16 de março de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista FLA_HV029
Transcrito por: Leandro S.
Motta
Revisado por Leonardo Sousa
P/2 – Zagallo, bom dia.
A gente gostaria de começar a entrevista dando seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Bom meu nome é Mário Jorge Lobo Zagallo, nasci em Maceió, no dia 09/08/1931.
P/2 – E o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai é Aroldo Cardoso Zagallo e da minha mãe Maria Antonieta Lobo Zagallo.
P/2 – E a atividade deles?
R – Meu pai era um representante de uma firma do cunhado, de tecidos e toalhas e ele veio como um representante para o Rio de Janeiro, isso oito meses depois de eu ter nascido, por que eu quando nasci em Maceió, meu pai foi para o Rio de Janeiro em 1932, fomos morar ali na Tijuca na rua Professor Gabizo, esquina da Trapicheiros, hoje é Heitor Beltrão.
E meu pai até, dentro desse prosseguimento ele foi.
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o clube mais próximo ali era o América Futebol Clube e ele acabou dentro da continuidade, depois de ser um sócio contribuinte, ele foi fazer parte do conselho deliberativo, ele participou para botar refletores no campo do América, isto uma questão já eu estando no Rio de Janeiro.
A minha mãe ela estudou também em colégio de freira falava corretamente o francês e depois ela abandonou todo um lado e ficou apenas como doméstica, vamos dizer assim, e a nossa vida prosseguiu dentro dessa vinda pro meu pai depois de oito meses de Rio de Janeiro e a entrada como América.
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comecei a minha vida como jogador em 1948.
P/1 – Mas antes então da gente entrar eu gostaria de fazer algumas perguntas um pouco da sua origem tá, então recuperando um pouco os seus avós maternos e paternos, você se lembra deles você sabe a origem deles, por favor, se sabe a origem do seu nome Zagallo, família.
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R – É o que eu escutei de criança e que falavam que veio da Europa, Itália, os últimos ascendentes no caso portugueses mas os meus avós já eram brasileiros por parte de pai por parte de mãe e consequentemente.
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inclusive eu posso até falar que o meu avô foi enterrado no São João Batista, era Luís Zagallo o nome dele e o que me recordo e a minha avó chamava-se Laura Zagallo isto do meu pai e me recordo da vó por parte de mãe dona Júlia, dona Julinha que era a minha avó, é assim o ambiente, esse negócio de avô, pai e filho.
Tive um irmão mais velho do que eu nove anos o nome dele era Fernando Henrique Lobo Zagallo, e construímos, no caso, minha vida depois da vinda de Maceió para o Rio de Janeiro.
P/1 – Mas os teus pais.
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você conviveu com os avós aqui no Rio ?
R – Não, eu tive evidente contato muito grande com a avó porque o meu avô eu me recordo, eu era criança quando ele faleceu, tive um contato muito grande com a avó por parte da minha mãe, a dona Júlia e consequentemente até uma coisa interessante porque eu tava estudando francês então eu estava lá conjugando o verbo ____________ ____________ ________________ aí ela disse assim: “ih isto é antigo.
” Coisas que aconteceram de criança que ficaram assim gravados na minha mente.
E por parte do pai a dona Laura eu tinha um contato assim, sempre que eu ia, em final de semana visitá-los, mas o avô por parte tanto de pai por parte de mãe, eu não tive assim nada na memória que ficou gravado, apenas as avós por parte de pai e de mãe que eu tive um contato maior.
P/1 – E elas moravam em que bairro da cidade?
R – A avó por parte do pai morava na própria Tijuca, eu tive este contato, e por parte da mãe ela morava no norte mas vinha passar temporadas no Rio de Janeiro, então eu tinha um contato com frequência porque ela estava sempre vindo de Maceió e a por parte de pai uma convivência mais comum porque ela morava no Rio de Janeiro, no bairro Tijuca onde eu próprio morava.
P/2 – E que lembranças você tem da sua infância na Tijuca?
R – Bem a lembrança da minha infância é que eu comecei os estudos, o que me veio à mente neste momento, eu fiz o jardim da infância no próprio instituto de educação e dei prosseguimento na escola primária na rua Mariz e Barros, era um colégio público de primeiro gabarito no caso, instituto de educação que eu estudei os cinco anos primários e depois do primário eu fui para uma escola particular do Externato São José.
Então lá eu fiz a admissão e o ginásio, e mais tarde eu não segui o científico e fui fazer contabilidade; eu fiz três anos de contabilidade, me formei como técnico de contabilidade, que é o contador hoje no caso, não exerci a função por que nesse ínterim, vamos dizer assim, eu tive a minha vida esportiva porque o meu pai ele entrou pra sócio do América e eu acabei frequentando o América como filho de sócio, depois passei a ser sócio contribuinte e nessa minha vida eu acabei engrenando em vários esportes, em tênis de mesa que era o ping pong antigamente, a natação, eu fiz de tudo um pouco dentro do esporte.
Mas o destino acabou me levando para área do futebol.
Comecei minha carreira esportiva, eu já tendo acabado o ginásio e os meus estudos, engrenando dentro do futebol em 1948, no juvenil do América eu tive dois anos 48 e 1949, porque eu morava próximo ao América e a vida do meu pai foi frequentar o clube, então ali era uma coisa muito perto porque eu ia a pé pro América então ficou uma coisa assim muito fácil.
P/1 – Mas na sua infância, por exemplo, na Tijuca você tinha turmas, vocês jogavam futebol na rua, tinha algum campo de várzea, como é que eram estas tuas brincadeiras?
R – É evidente que eu antes de engrenar no América como juvenil em 48 e 49, na minha vida de garoto nós jogávamos peladas na rua, e o gol era até em diagonal porque na minha época não havia tanto carro na rua, os carros quase que não passavam, não existia, para ter um carro naquela época precisava ter muito dinheiro.
Então nós jogávamos aquelas peladas na rua e teve uma curiosidade muito grande que eu vim jogar uma pelada no derby.
O que era o derby? O derby era o Maracanã de hoje, quer dizer, antes do Maracanã ser construído era o derby, onde guardava os cavalos que depois se transferiu para a Gávea, ali eu joguei uma pelada mas jamais poderia supor na minha vida que eu fosse chegar a um ponto de iniciar uma carreira dentro de um clube como o América, mas antes de eu jogar 48 e 49 no América, nós tínhamos os sócios e o pessoal ali da turminha da Tijuca tinham dois clubes, o Maguary e o América Júnior, então havia o confronto, todos éramos amigos, mas foram dois clubes que foram criados.
Então havia um jogo contra o outro e cada um depois jogava disputando canecos, como a gente fala, as taças no final de semana porque na minha época de garoto havia local.
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existiam campos de futebol a vontade, hoje já não existem mais porque onde tinha campo de futebol acabou sendo construído prédios e acabou com esses campos de futebol que você jogava com frequência.
Então eu joguei no América Júnior e depois também joguei no Maguary, acabei jogando nos dois clubes, quando eu acabei engrenando na minha vida de futebol, apesar dos meus pais gostarem muito de futebol porque eu ia pro América ver jogo do América acompanhava o time todo o domingo, meu pai, minha mãe.
Porque meu pai, ele jogou também no CRB lá em Maceió e isto ele me contou porque eu não sabia, eu não vi nada, até mexi com ele uma ocasião.
“Você tá dizendo que jogou, tem alguma coisa escrito?” “Não, não tem nada escrito.
” “Então como é que eu vou saber se você jogou?” “Eu tenho aqui já, olha aí ó, comecei jogando já tenho alguma coisa escrito.
” Mexendo com ele claro, mas meu pai também.
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ele foi para o exterior, ele esteve em Londres, esteve na faculdade, foi capitão do time isso tudo ele me passou e depois voltou normalizando a vida dele comum de Alagoas, depois houve, retrocedendo, veio pro Rio de Janeiro onde começou uma vida como representante da firma da Alexandria.
E engrenando na minha vida, que nós já entramos nela como peladeiro, garoto que jogava pelada de rua, jogava dentro do próprio América torneios porque dentro do América havia torneios de bandeiras verde, amarela, azul e branco de todos os esportes: natação, vôlei, basquete.
Enfim, e dentro deste ingrediente todo eu acabei participando efetivamente do futebol em si.
Mas apesar dos meus pais gostarem muito e dar frequência como eu já falei anteriormente, eles não queriam que eu jogasse.
Porque na minha época que eu comecei a jogar, o jogador de futebol ele era sinônimo de vagabundo, a sociedade não aceitava o jogador porque sempre o pensamento era aquele, acabava de jogar cada um ia para suas vidas noturnas.
Quer dizer, havia poucas pessoas de uma classe média penetrando dentro do ambiente do futebol apesar de até antes de mim, tinha o esporte amadorismo e eu não tô caindo em contradição não, havia médicos e tudo, mas a totalidade é que era um outro lado da história.
Então, meus pais sabendo quem eu era, a educação que tavam dando não queriam deixar que eu jogasse, aí houve uma interferência até do meu irmão que era nove anos mais velho o Fernando Henrique, não é o presidente, mas é o Fernando Henrique Lobo Zagallo.
P/1 – Que teve o que de profissão, qual era a profissão dele?
R – Ele foi comerciante, ele fez de tudo, trabalhou na White Martins e trabalhou particularmente, ele era uma pessoa muito inteligente.
P/2 – Jogou bola também?
R – Jogou, mas não deve ter levado jeito não porque não prosseguiu, eu que tive esta felicidade toda de entrar nesse ambiente de futebol.
Mas dentro do ambiente de futebol, tratando mais da minha pessoa, quando eu comecei no juvenil do América em 1948 e 49, foram dois anos no juvenil do América, evidente que já garoto eu já pensava em seleção brasileira, e eu jogava na meia esquerda, mas o meu pensamento pra chegar a seleção foi “aqui eu não vou chegar a lugar nenhum, eu tenho que passar pra ponta esquerda onde não tem muita concorrência.
” Então eu mudei de posição e o meu pensamento acabou dando certo, porque pela meia esquerda tinham jogadores fabulosos vamos dizer assim e eu dificilmente chegaria à seleção e o meu pensamento acabou num caminho em que me levo à seleção brasileira porque havia poucos concorrentes que jogavam pela ponta esquerda, as dificuldades eram grandes não tinham muitos jogadores nesta posição e eu escolhi justamente por isto e acabou meu pensamento.
P/1 – E quais eram as dificuldades?
R – Não, as dificuldades pela a posição de meia esquerda de meio de campo, tinham excelentes jogadores e em quantidade e com qualidade e pela posição de ponta esquerda haviam poucos jogadores porque era uma posição que muita gente não gostava de jogar porque não participava muito naquele momento, a bola tava mais centralizada pelo meio de campo, mas evidente que numa composição de time tinha que ter do goleiro ao ponta esquerda, então eu escolhi e acabou na minha vida dando tudo certo em relação a esse meu pensamento.
P/2 – Zagallo, quem eram seus ídolos quando você era garoto?
R – Na minha época eu cheguei até a ver e que ficou na minha memória por exemplo o Leônidas, eu cheguei a ver jogar, apesar de garoto ainda, mas me ficou na memória, eu vi jogar o Heleno de Freitas, que foi outro jogador também de muito prestígio.
Agora depois com a minha entrada e tudo aí, as coisas já mudaram de caminho que eu não vou comentar agora vamos deixar mais para frente.
P/1 – Mas vocês ouviam jogos, por exemplo, no rádio em casa, tinha um pouco de acesso?
R – É, porque televisão não existia, então o problema todo era escutar em rádio ou a presença como meus pais faziam, aquilo ali era obrigatório todo domingo o jogo do América em Campos Salles, nós estávamos presentes, acompanhava mesmo os campeonatos.
Só que meu pai não queria mesmo, não queria deixar eu jogar então veio o meu irmão que interferiu, veio um diretor também do América, que veio fazer um convite, primeiro para deixar eu jogar tênis de mesa porque eu joguei tênis de mesa federado, federado porque eu jogava no Externato São José, no colégio, e eu comecei tinha cinco meses, comecei na quinta e em pouco tempo eu era o melhor jogador de tênis de mesa do ping pong naquela época do externato, e dentro disso um diretor do América acabou me convidando para eu disputar pela federação.
P/2 – E o seu Aroldo.
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R – E aí meu pai ele estava negando, aí ele foi em casa disse que se responsabilizava, me levava e me trazia na porta de casa, isso no tênis de mesa.
Começou então por aí um caminho em que eu acabei largando a bolinha pequenininha para engrenar no futebol.
As coisas ficaram um pouco invertidas, mas a gente vai lembrando, vai falando.
Eu num ano só eu disputei pela terceira, segunda e primeira divisão e estava sendo comparado inclusive com o melhor jogador da época que era o Ivan Severo, haviam três irmãos que eram os melhores: Ivan, Hugo e Wilson Severo e eu comecei já chegando e tive até a oportunidade numa fase classificatória já de ganhar de um deles, eu acho que era o Wilson ou o Hugo que eram também dos melhores, o melhor de todos era o Ivan Severo.
Mas o destino acabou me levando para uma bolinha maior, para a felicidade minha por tudo que aconteceu na minha vida e o meu pai já cedendo ao pedido do meu irmão, eu engrenando e jogando dois anos no juvenil do América, quando eu acabei indo pro exército em 1950 e daí eu fui pro Flamengo.
A minha ida pro Flamengo foi justamente.
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eu estava servindo o exército, o América estava com problemas de obras no campo e um soldado que já jogava no juvenil do Flamengo chamado Gerson falou comigo e o tenente, que era do pelotão lá, também era flamenguista, eu digo “sabe de uma coisa eu acho melhor eu dar uma guinada” e eu fui treinar lá no juvenil do Flamengo eu até então pagava pra jogar, eu não, meu pai porque eu era sócio contribuinte pagava 20 mil réis por mês de contribuição e eu nunca recebi um tostão do América, então eu pagava para jogar.
Quando eu fui para o Flamengo que eu treinei fizeram um trampolim do Rio de Janeiro para Niterói e Niterói para o Flamengo que tinha que ter três meses de estágio para jogar, então eu não estava preso, fiz esse trampolim e fui de graça lá pro Flamengo, só que houve não bem um contrato, eu fui ganhando até mil réis pra jogar no Flamengo sem contrato sem nada, foi uma coisa tratada em que eu recebia mil réis por mês.
Então no exército eu servindo o exército eu fui para o Flamengo, mas no próprio exército estava uma história interessante que o Maracanã estava sendo construído, foi o ano da copa e eu estava lá no exército e aí a polícia do exército acabou sendo requisitada para ajudar a retirar o madeiramento do Maracanã, parte evidente lógico, então ia aquele grupo de soldados para ajudar tirar madeira, então até participei do Maracanã retirando madeiras e depois como é que eu poderia pensar.
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vi a Copa do Mundo que foi ali, tive a oportunidade de tirar até serviço no último jogo com capacete, cassetete tirando serviço na arquibancada e vendo infelizmente o Brasil perder para o Uruguai de dois a um.
Então, eu tenho uma história no Maracanã que tirei madeira, que vi a Copa do Mundo, a final, vi os outros jogos também, mas na final eu estava de serviço vendo o Brasil infelizmente perder mais uma vez e nunca poderia pensar que um dia fosse acontecer uma coisa tão boa de chegar a acontecer tudo que aconteceu na minha vida dentro do esporte de eu acabar sendo tetracampeão do mundo.
Então esta é uma história em que eu comecei a minha vida no Flamengo, foi eu indo pro exército na polícia do exército, na Barão de Mesquita, dali sendo convidado por um soldado que estava no batalhão que já estava no juvenil do Flamengo, aí eu fui pro Flamengo em 1950 o técnico foi o Jaime de Almeida, falecido, que já tinha sido tricampeão pelo Flamengo em 42, 43 e 44 e eu tive esta felicidade de tê-lo como meu treinador no juvenil do Flamengo em 1950.
P/1 – Você lembra de um primeiro jogo ali no Flamengo, como é que.
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R – A minha primeira experiência foi justamente.
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eu não me recordo qual foi o jogo, eu me lembro que nós fomos vice campeões, porque naquela época o time do juvenil do Fluminense era muito bom, tanto que eles foram três vezes seguidas 48, 49 e 50 que eles foram tricampeões eu estava os dois anos no América e este último ano no Flamengo, eu acabei sendo vice campeão pelo Flamengo e o Fluminense foi campeão de juvenil.
Mas para mim foi uma felicidade muito grande no meu período de início de rubro negro, no caso, no Juvenil do Flamengo e engrenando minha vida como profissional dentro do Flamengo que eu fiquei de 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57 e 58.
Eu fui tricampeão pelo Flamengo 53, 54 e 55, e só sai do Flamengo, não que eu quisesse, aí foi uma questão até de uma exigência que eu tive.
Quando eu entrei para o Flamengo e fui assinar meu primeiro contrato eu exigi passe livre, isto foi de 51 para 52 e na época, eu não me recordo qual foi a pessoa que disse: “olha mas para você assinar, você não tem direito a passe livre tem que assinar e pronto.
” E eu evidente que ingenuamente eu assinei, porque eu nunca tive orientação de procuradores, estas coisas que tem por aí, nem de empresários eu sempre fiz a coisa comigo, meu irmão, meu pai, minha mãe.
Então eu assinei, quando acabou o contrato em 51 aí me disseram: “você está preso.
” Eu digo: “não, eu tenho passe livre.
” Disseram: “não, você está preso.
” Então eu tô preso no contrato eu vou retornar meu pai, vou trabalhar com meu pai que é representante da firma que é do meu tio, então eu vou prosseguir um caminho diferente, estava aqui como um prazer, jamais eu poderia pensar na minha vida que eu seria um jogador profissional, então eu aqui tô retornando e dei um adeus.
Eles evidente sentiram que eu tinha qualidade, foram à minha casa, fiquei pouco tempo neste intervalo, eles me chamaram e eu assinei um contrato, aí só disseram assim: “olha você não pode ter um passe livre, você tem que ter um preço estipulado.
” Eu digo: “bom então quem vai estipular sou eu, então vai ficar estipulado em 30 mil réis.
”
P/1 – Que para época significava o que Zagallo?
R – Não tinha nada de nada entende, porque se eu queria o passe livre e eu mesmo estipulei em 30 mil réis, não tinha problema nenhum.
Os anos passaram e acabou na época o presidente do Flamengo era Gilberto Cardoso o diretor de futebol era Fadel Fadel.
E o técnico já da época e que eu estava já na equipe principal foi o Fleitas Solich, que acabou sendo tricampeão pelo Flamengo, e nessa época depois de ter sido tricampeão pelo Flamengo foi uma coisa muito boa na minha vida como profissional.
P/1 – Conta um pouquinho para gente, como foi esta experiência, a vivência.
R – É evidente que você conviver com a vitória, não há coisa melhor, porque o futebol é sinônimo de vitória e você jogar no Flamengo a cobrança sempre foi muito grande, como é até hoje.
O grande clube como o Flamengo é ele tinha que estar sempre no topo, e eu tive uma felicidade, eu sempre fui pé quente na minha vida, quer dizer eu já comecei no Flamengo como profissional e sendo tricampeão, ganhando estes títulos.
Não é fácil, ainda mais na época em que o Fleitas Solich abusou das concentrações, era um negócio muito sério, pior que colégio interno.
Porque que eu digo isto, porque nós só jogávamos no final de semana, aos domingos, aí o que acontecia: ele obrigava no retorno do jogo a dormir na concentração, então você acabava o jogo, em vez de ir para casa você ia dormir na concentração, na segunda-feira de manhã ele liberava, então você voltava no dia seguinte terça-feira de manhã a gente treinava e na quarta-feira ele dava o coletivo a tarde.
No coletivo à tarde ele botava todo mundo para concentrar, dormir na concentração.
P/2 – Aspirante e time de cima?
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R – Time de cima, eu já estava no time de cima, então você dormia de quarta para quinta-feira para treinar logo de manhã, aí acabava o treino você ia para casa.
Na sexta-feira você voltava a tarde e ficava até segunda.
Porque eu ficava sexta, sábado, jogava no domingo e só voltava segunda-feira para casa, isso durante três anos seguidos, quer dizer, foi muito bom ter ganho o tricampeonato pelo Flamengo, mas foi um período muito difícil para nós atletas porque você passava praticamente menos de três dias em casa, a gente passava três noites em casa.
Passava muito mais tempo enclausurado e isto tudo acabou trazendo problema, apesar das conquistas, acabou trazendo problema porque aconteceram fatos interessantes dentro de concentração.
No primeiro ano o pessoal acabou indo, mas no segundo e terceiro ano começou a ter fugas.
P/1 – Vocês eram jovens, vinte poucos anos?
R – É, vinte e poucos anos, então começou a ter fugas sem o Fleitas Solich saber porque quando ele concentrava no domingo depois do jogo, toda vez depois do jogo, não todo mundo.
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P/2 – Revista?
R – Não, ele primeiro.
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porque a concentração ficava num patamar mais acima e ele ficava num lugar embaixo, então nós sabíamos quando ele descia e apagava a luz e ele ia dormir, e ele pressentiu qualquer coisa porque o pessoal deixava rádio ligado, aí ele cortava a luz, não deixava ninguém botar rádio na tomada, aí o pessoal já tinha o radinho de pilha, passava a botar pilha para escutar, isto foi o começo.
As portas dos quartos ficavam fechadas aí ele passou a mandar não fechar mais as portas, para deixar elas abertas para ele poder ter o controle a qualquer hora.
Depois disto tudo, de radinho estas coisas passou a ter as fugas aos domingos, o pessoal ia para as boates de domingo e voltava cinco horas da manhã porque você jogava três horas da tarde, a gente voltava, jantava e tinha ainda o dia inteiro pela frente, o pessoal chegou a um ponto que não aguentava mais.
Tinha uma meia dúzia que saiam mesmo, os outros não, ficavam ali.
P/1 – Você saía?
R – Não, eu não saia porque inclusive eu já estava casado, então eu não saia, também não saía o Joel, vários não saiam, mas isso aí eu não vou ficar aqui pra ser dedo duro para dizer quem sai.
Mas, uma boa parte saía e ele desconfiou porque no meio daquela escuridão, as vezes ele passava, olhava, abria a porta via lá o pessoal dormindo, tinha gente que fazia até boneco, ele passava, olhava, mas teve um dia que ele desconfiou ou alguém falou sei lá quem foi que ele deu uma incerta e pegou.
P/2 – E aí?
R – E aí as consequências vieram porque ele reuniu, chegou, falou e puniu quem tinha que punir, olha só para você ter uma ideia de como ele era tão rígido que eu sempre na minha vida fui uma pessoa disciplinada dentro de campo jogando porque eu tive o Belfort Duarte, um jogador que nunca foi expulso de campo e eu casei em 55 na época do tricampeonato e o Flamengo não jogava no domingo e ele deu uma concentração de sábado para domingo para treinar logo de manhã e como eu tinha casado tinha coisa de uma semana eu tinha uma visita programada na minha casa, então como eu já tinha isto programado eu não fui no sábado e fui domingo de manhã, aí eu expus a situação para ele, eu digo: “ô seu Fleitas Solich o senhor sabe que eu casei, tinha visita dentro de casa, não deu pra sair, o senhor conhece a minha vida, sabe quem eu sou, sabe do meu comportamento.
” Ele riu e tudo bem, chegou na hora ele me tirou do time, botou até o Babá para jogar e me tirou do time, só para você ter uma ideia e eu era um cara ultra disciplinado e aconteceu isto comigo para você ver a reação do treinador e ver como ele era severo.
Mas eu também cheguei a uma conclusão dele porque ele vivia sozinho, e estas concentrações passou a ser, o Flamengo passou a ser a família dele, isto o meu pensamento o dos outros eu não sei, ele passava então sem concentração, ele ficava sozinho num apartamento em Copacabana de quarto e sala, ele dentro do Flamengo ficava naquela convivência toda, isto se tornou a família dele, por isso que ele fez aquilo durante os anos.
Depois ele acabou abrindo mão de tudo aquilo e também depois saiu do Flamengo, mas eu cheguei a esta conclusão com relação ao Fleitas Solich, foi uma dos melhores técnicos que eu tive em relação a treinamentos, plano tático, foi o primeiro que eu vi colocando botões para argumentar e falar como treinador, para mim foi excepcional agora muito rigoroso.
Eu acho que o técnico tem que saber disciplinar e tem que ter a elasticidade nos momentos certos porque nem tudo você pode seguir com aquele rigor, tem momentos que você deixa alguma coisa passar mesmo contrariando a si próprio, mas dá uma folga porque vai ser melhor psicologicamente pro grupo, mas isto foi na minha vida, que com o tempo depois de passar por muitos treinadores eu fui tendo a minha própria.
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a liderança, que você nunca sabia se você ia ser um líder, isso é uma história depois que eu transformei minha vida na vida de um treinador.
Mas foi o melhor técnico que eu tive dentro do Flamengo, fui tricampeão pelo Flamengo.
Depois eu só saí do Flamengo que eu tive o problema do meu passe, entrei num outro caminho, mas agora eu vou retornar, depois que Doutor Gilberto faleceu que o presidente foi eu acho que o Fadel Fadel, mas na época que eu transformei meu passe de 30 para 100 foi com o Doutor Álvares de Morais que eu falei: “olha presidente eu quero transformar meu passe, eu vou dar 70 mil de graça pro Flamengo, mas eu quero que meu passe fique estipulado em 100 mil, mas eu to dando 70.
Antigamente na federação havia um teto de 7 mil e se aquele teto chega-se ao máximo eu não tinha como sair do Flamengo, então eu fiz esta proposta e fiquei com meu passe estipulado em 100, não que eu tivesse intenção de sair do Flamengo mas era um direito anterior de passe livre e os 100 mil me deram essa liberdade como acabou acontecendo.
Não por culpa da minha parte, mas culpa até do Flamengo, tô aqui declarando e foi a realidade porque quando eu assinei eu falei que se eles me dessem um emprego na caixa econômica eu daria o meu passe porque era um futuro garantido, no futebol você tem que olhar para frente, olhar para o momento só não adianta, então eu sempre pensei assim e exige isto, então ficou em uma carta, os anos foram passando até que chegou 1958 que eu acabei sendo convocado para uma Copa do Mundo, fui e voltei campeão.
Eu já tinha estrela, veja a coincidência: nós fomos campeões do mundo no dia 29 de junho e meu contrato terminava com o Flamengo dia 30 de junho, quer dizer, eu voltei campeão do mundo livre.
Meu pai teve que depositar os 100 mil réis.
P/2 – No Flamengo?
R – Foi na federação, eles não quiseram aceitar, pegamos um advogado colocamos no banco os 100 mil para ficar limpo, não que eu quisesse sair do Flamengo.
Eu já tinha tido uma proposta porque todo mundo já sabia do meu problema, da Portuguesa de São Paulo e do Palmeiras, queriam acertar comigo antes, eu digo: “jamais”, se eu estou no Flamengo, tenho meu passe estipulado, vou assinar antes? Jamais, é educação, dignidade, moral e meu caráter não permite que eu faça uma coisa dessa, quando eu voltar aí eu vou estudar, mas primeiro eu vou ver o Flamengo e foi o que eu fiz.
Eu vou ver eles e falei, vocês sabem perfeitamente, eu tenho uma carta eu pedi um emprego vocês ficaram de me dar este emprego, não me deram, agora eu tô aí com meu passe livre, o dinheiro foi depositado, eu não quero sair do Flamengo tenho proposta da Portuguesa, do Palmeiras e do Botafogo: Na época eu ganhei três milhões não lembro se era cruzeiro, não me recordo agora mas deu para comprar na época dois apartamentos.
E eu falei que não queria sair do Flamengo, o ambiente para mim é excelente, gosto do clube não quero sair, agora não tá nas minhas mãos, tá na mão do Flamengo se vocês me derem um emprego ou o que o Botafogo tá me dando estamos conversados, eu continuo aqui porque eu não vou trocar um ambiente que eu conheço por um ambiente novo.
P/2 – Mas no Botafogo tinha colegas seus de seleção também.
R – Tinha, tinha o Nilton, Garrincha e o Didi.
Eu quero ficar no Flamengo, aqui eu conheço todo mundo tem ambiente, direção todo mundo e gosto do clube.
P/2 – E como é que aconteceu este momento?
R – Este momento o que é que foi? Aí o Fadel e o Fleitas Solich foram na minha casa, eu falei: “eu não quero sair, aí vocês conseguem isto?” Aí o Fleitas Solich já devia nesta altura saber de tudo e fizeram o último pedido dizendo para mim não ficar no Rio porque eu era muito bem quisto aqui por todos e tudo e não gostariam.
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aí eu tive que tratar da minha vida particular porque minha mulher era professora, ela tinha estudado no Instituto de Educação, se formou.
P/1 – Como é nome dela?
R – Alcina de Castro Zagallo.
P/1 – Como e que você conheceu ela?
R – Eu conheci no América, foi no América em um baile de gala de carnaval a rigor e fantasia eu tava lá a rigor e conheci nesse baile, aliás conheci primeiro nas batalhas de confete que antecediam ao carnaval.
P/1 – Como é que eram as batalhas de confete?
R – As batalhas eram toda semana porque o carnaval em si antigamente era um carnaval gostoso, um carnaval sem maldade, um carnaval família em que havia as músicas, as modinhas, várias diversas, que até hoje se cantam, “mamãe eu quero”, “jardineiras”, as músicas que vários autores faziam e que você tinha de cor e salteado até chegar no carnaval.
Hoje já não tem mais isto, se tem os enredos das escolas e naquela época não, as batalhas de confete que eram um mês antes do carnaval toda quinta-feira se não me falha a memória, toda semana até chegar.
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P/1 – Mas aonde?
R – No próprio clube, devia ter nos outros, eu ia no América, numa dessas eu a vi tentei me aproximar mais porque éramos eu e um amigo e eram duas amigas, as duas eram professoras, estavam se formando, ela se formou em 52 e eu a conheci naquele ano, quer dizer, ela ainda não era professora.
E quando houve o contato mais forte foi no dia do baile a rigor, até então eu não tive.
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meu amigo colou na amiga e ela ficou sozinha, tudo bem.
Quando vieram as duas novamente para a batalha aí eu pousei e estou pousado até hoje, tem 46 anos de casado, pousei firme.
Então ali começou história do meu namoro.
Teve um fato também muito interessante porque eu ainda estava no Flamengo nessa época em 52 e eu jogava, cheguei a jogar em cima, mas voltei para os aspirantes porque naquela época o Esquerdinha ainda era titular.
Eu a conheci e é aquilo que eu disse, o jogador não era aceito na sociedade, ela se formando em professora que era a coqueluche do momento era a letra, ia ganhar o máximo, quando chegasse a professora ia ganhar não sei quanto, professora era: “normaliza linda.
” Tinha até música neste sentido.
E quando eu a conheci através desse baile tivemos contato, peguei telefone, ligamos contato normal de qualquer pessoa e quando eu liguei e começamos a conversar, e aí quando eu precisei falar o que eu fazia, eu disse: “eu trabalho com meu pai, me formei em contabilidade, tô fazendo meu curso de datilografia aqui na praça da Bandeira, pertinho de você onde você estuda.
” E tudo combinava, porque ela saia do instituto de educação passava eu já ficava na última fila, ela passava me via eu dava um adeusinho e a noite eu ia falar com ela lá em Bom Sucesso porque ela morava lá, então tudo combinava.
Aí um certo dia eu to na praça Santos Pena.
P/1 – Você não contou que era jogador?
R – Não, não, futebol até logo.
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não tinha concentração, aquela época eu era aspirante e foi indo o namoro pá, pá, pá, pá.
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eu tinha sábado e domingo não tinha problema.
Daí tô eu entrando no cinema Carioca, que hoje até não existe mais, na praça Santos Pena e meu atual concunhado, casado com a irmã dela, quer dizer, eu não conhecia, não era nada meu.
Quando ele me viu me reconheceu, era flamenguista doente, daí ele contou para ela e para os pais dela que ela estava namorando o Zagallo pô! Como eu disse jogador não era aceito, ela se formando professora, isto é o fim, namorando um jogador de futebol não tem condição, já tinha seis meses de namoro, passou em branco até que estourou.
Mas aí ela me conhecia, sabia da maneira que eu me portava, sabia da minha história, que eu tinha estudado no instituto no Externato São José, então evidente que a pessoa sabe quem é quem, mas não sabia que eu jogava futebol.
Então tinha tudo isto, mas o futebol ela não sabia porque não era aceito mesmo, vocês não tem nem ideia, nós estamos em 2001, o negócio foi em 1952, então a coisa era muito séria mesmo não tinha como aceitar, apontava para o outro lado, se tinha uma menina, estava lá um jogador, apontava pro outro lado olha ali que coisa linda para não ficar vendo e não ter problema.
P/1 – Mesmo sendo de uma família de classe média de comerciante, tendo boa educação?
R – Pois é, mas não era aceito, até você saber quem era quem a coisa fica difícil, a família toda dela não aceitava, mas como a coisa já estava em seis meses nessa altura ela viu, gostou, viu como eu era então a coisa acabou caminhando e deu nisto, 46 anos casados, quatro filhos, quatro netos.
Eu que não era muito bem quisto pelo pai e pela mãe acabei sendo o genro mais bem quisto depois, para você ver como coisas dão volta.
Porque as coisas de fato caminham de uma maneira diferente pelo conhecimento, depois viu quem eu era, tudo isto, participação já de entrar na casa de conhecer tudo aí acabou a coisa caminhando tranquilamente.
Ainda teve mais os pais, no caso o pai dela até seis meses antes de acontecer o casamento ele faleceu, nós estávamos marcados para casar no dia 13 de junho que é dia de Santo Antônio, minha mulher é devota de Santo Antônio, então depois transferimos para 13 de janeiro, seis meses depois de 1952, de 55 de 55.
52 foi quando eu a conheci.
P/2 – Nesse intervalo 52, 55, Zagallo, você falou das concentrações e a falta de tempo, como é que você conciliava o namoro, família?
P/1 – A vida social.
R – Isto tudo foi um problema que claro se ela namorou, noivou e sabia, sabia da minha vida como atleta, que ela aí já começou a entrosar, já sabia o roteiro, claro que nos fomos para um momento de Fleitas Solich, que foi um troço anormal, mas já estávamos casados, já tínhamos nessa altura, já estávamos com dois filhos.
A Maria Emília e Paulo Jorge já tinham nascido, quer dizer, ela professora com os problemas porque de fato é uma vida muito difícil para mulher, mulher, mãe e professora como ela, quer dizer, praticamente os filhos não tem pai.
Ela se torna mãe, pai, educadora, tudo e você bota anos nessa vida, você sente.
Tanto que eu até prometi à ela quando eu acabasse de jogar ou quando eu parar de jogar eu encerro, aí vocês vêem eu tô até hoje, como eu menti hein.
P/1 – Super companheira.
R – É, vê se pode, e aí continuei minha vida como treinador e tô até hoje neste caminho mas prosseguindo aí.
P/2 – Eu queria.
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eu tenho uma duvida, o Dida esteve aqui falando com a gente e ele comentou que na final contra o América, um ônibus do América passou e fez uma provocação aos jogadores que estavam concentrados na estrada da Gávea logo depois do quatro a um do segundo jogo.
Foi uma coisa verbal passageira, alguns viram outros não viram eu queria saber.
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R – É, de fato você tá lembrando uma coisa que pela puxada do Dida houve alguma coisa, mas que não tá na minha memória guardado, ficou na do Dida porque talvez ele presenciou mais o fato.
Mas eu sei que houve alguma coisa que mexeu com o grupo, mas eu aqui de viva voz e vocês me vendo não posso chegar e entrar em detalhes.
Eu me lembro da passagem porque você tocou agora no nome do Dida, mas que houve alguma coisa, que isto teve uma influência de fato positiva pro nosso jogo, porque nós havíamos perdido para eles e fomos jogar a negra, a decisão e a equipe deu a volta por cima e ganhamos o jogo de quatro a um se não me falha a memória e quatro gols do Dida.
P/2 – Quando você era substituto do Esquerdinha como é que você.
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você achava “eu vou chegar lá”, como é que era dentro de ti?
R – Olha eu não vou ser muito modesto não, apesar de eu ser uma pessoa que eu não gosto de fazer autocrítica.
Mas eu era para ter chegado até mais cedo à equipe principal pelo que vinha acontecendo na minha vida.
O Esquerdinha era um jogador batalhador, brigador, bem quisto pelo grupo, pelo Flávio Costa, o técnico da época e o Zagallo estava começando uma carreira incomodando e eu era um jogador que a torcida gostava pela minha maneira de jogar, depois eu mudei a minha característica, mas eu era um driblador, eu ia para cima driblava, o que o Garrincha fazia por um lado eu fazia pela esquerda mas era o meu estilo de jogo.
Com a chegada do Fleitas Solich é que eu comecei a fazer uma mudança e dentro do Flamengo, eu fui campeão de aspirantes, cheguei a jogar no time de cima com o Esquerdinha, que ele casou me deu oportunidade e eu comecei a jogar muito bem, aí eu tive uma contusão e me lembro como se fosse hoje, lá em Salvador me choquei até com um próprio companheiro, que era Adãozinho, centroavante na época, eu dei um choque, bati e tive um problema na rótula em que eu fiquei um período bom.
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O Esquerdinha retornou, ele era o titular, ele retornou à equipe e o Flamengo também numa fase boa, o Esquerdinha ficou.
Eu tinha certeza absoluta pelo que eu to falando hoje que tecnicamente eu era superior a ele, mas ele tava dentro de um contexto e bem quisto ele acabou sendo conservado na equipe e eu jogando nos aspirantes.
Ele foi campeão porque eu era reserva dele em 53, eu joguei poucos jogos em 53 depois é que eu fui titular em 54 e 55 na saída do Flávio para a entrada do Fleitas, então ele ficou mantido e em 54 é que eu acabei sendo titular, 54 e 55, aí foi houve até a mudança do Fleitas Solich, que toda bola que eu pegava eu driblava, ele me fazia foul contra, eu pegava a bola driblava e ele foul contra, eu digo: “bom, eu pra ficar na equipe principal vou ter que jogar diferente.
” Como eu tinha pulmão, eu tinha uma condição orgânica nata e eu fazia já uma função dupla naquela época e vinha já por características, ele disse: “você driblando primeiro, você vai cansar muito mais rápido do que se você faz esta função soltando mais a bola” e evidente que eu não era bobo, eu comecei a jogar soltando mais e ele disse: “driblar só quando necessário.
” Então eu driblava só quando necessário, fazia só a função e com isso eu acabei ganhando a posição de vez do Esquerdinha e ele ficou na minha reserva.
Veio um pouquinho tarde, mas acabou vindo pelas circunstâncias que.
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eu sou uma pessoa simples mas a verdade é esta, eu era tecnicamente superior ao Esquerda, gostava dele tudo, mas eu era superior a ele tecnicamente, tanto que acabei conquistando a posição e no embalo chegando a Seleção Brasileira e a minha história vai por aí, depois se vocês quiserem que a gente entre nessa história também.
P/2 – O senhor gostava de treinar?
R – Evidente que o treino é fundamental, sem treino você não pode chegar a evolução pela condição física, porque sem condição física você não pratica esporte nenhum seja ele qual for.
Na época não era tão evoluído que nem hoje, mas havia o preparo normal, tranquilo e tinha que se treinar porque sem o treinamento você não se condiciona e o condicionamento é tudo na vida, é tudo, sem condição física você não pode praticar esporte.
P/2 – E o Fleitas Solich, ele controlava a parte tática, técnica e física?
R – Física é, é porque quando eu comecei minha vida também foi assim, como treinador, você era tudo sozinho, depois é que houve a evolução e aí veio professor.
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preparador técnico, preparador físico, auxiliar, treinador de goleiro, aí que vem uma sequência de um trabalho de equipe que hoje está desenvolvido e que de fato é o melhor.
Você tem um rendimento muito maior do que ficar tudo focalizado ou centralizado, melhor dizendo, em cima de uma pessoa, isto não é dentro do futebol, isto é onde você trabalha, você tem que ter uma pessoa e saber escolher a equipe que vai trabalhar para você ter sucesso.
Porque não adianta você centralizar, quer dizer, centralizar não, você ser o comandante e não saber escolher para sua equipe funcionar, então isto é fundamental.
P/1 – Como é que eram as roupas, uma chuteira, uma camisa, o shorts naquela época, o clube dava? Vocês tinham que.
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R – Olha, você tocou num assunto de material que era um negócio muito sério, principalmente a chuteira, chuteira era um negócio triste em relação ao que se vê hoje, porque ela era feita.
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a trava.
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era couro, botava a trava, isso o travessão, as travas eram batidas de couro em cima de couro, para raspar e bater o prego, em cima ficavam aqueles pregos, você as vezes jogando entrava por dentro da sua pele e fazia até sangue.
Aí você tinha que ir por dentro para bater, achatar daqui a pouco com o decorrer aquilo vinha e dava uma espetadela, para você deixar ela mais folgada você botava embaixo de água de chuveiro deixar cair ali, botava às vezes até pro juvenil treinar, amaciar e você colocava.
Hoje não, hoje você entra é uma luva, a única diferença é que antigamente tinha jogador bom a beça tecnicamente, hoje a coisa tá brava.
Tem jogadores excelentes, mas eu tenho que voltar ao passado porque muitas vezes dizem assim: “é saudade.
” Não, não é saudade não, tecnicamente nós tínhamos valores em quantidade e qualidade, hoje nós ainda temos jogadores bons tecnicamente, mas não temos quantidade, nós temos poucos e num futebol que é mau jogado em relação ao passado.
No passado a gente até podia botar arte, hoje tá feio, hoje a coisa está feia, há um contato físico muito grande, a força sobrepujando a técnica e consequentemente muito mais difícil de se jogar.
P/2 – E você, algum tipo de proteção você utilizava?
R – Olha, minha proteção, eu não jogava com caneleira, nunca joguei com caneleira, nem jogava com atadura, depois que eu tive uma torção é que eu passei a utilizar a atadura, hoje já é obrigatoriedade de você colocar em jogo a proteção da caneleira, então todo jogador hoje é obrigado, antigamente não era obrigado a jogar.
P/2 – E zagueiros que tenham marcado você, aquele bom, bom marcador você poderia citar alguns?
R – É, eu peguei um jogador que eu vi jogando uma Copa do Mundo, que foi o Augusto, lateral da Seleção Brasileira e eu começando minha carreira como titular, isto eu cheguei a jogar em 1952, eu cheguei galgar a equipe do Flamengo apesar de ter sido titular só em 54 e o Esquerdinha se machucou, houve algum problema que eu participei e o Augusto me marcando, um Flamengo e Vasco em que eu ia pra cima, na minha época de driblador e ele por conta começou a dizer, a falar e me diminuir pela experiência dele, jogador de seleção já consagrado e eu começando uma carreira eu digo: “ô rapaz, cala a boca aí que você é um velho, eu to começando e você vai me aguentar, pô.
” Eu não disse “vai me engolir” porque naquela época eu não falei isto ainda.
Isto aí acabou espontaneamente numa competição que aconteceu que eu falei: “vocês vão ter que me engolir.
” Mas eu comecei a diminuí-lo porque era a experiência contra minha juventude.
Ele querendo acabar comigo, querendo me botar nervoso, mas eu fui um rapaz instruído não ia entrar na dele nunca, ao contrário, eu reverti a situação, eu digo: “você já tá velho pô, agora você não vai me segurar de maneira nenhuma, então hoje eu sou mais eu, você jogou Copa do Mundo mas comigo não.
” Então havia estes enfrentamentos dentro de campo, verbais.
Mas eu tive um outro lateral, Paulinho, que jogou no próprio Vasco depois na minha época, lateral direito que marcava muito bem.
P/1 – Mas você, emocionalmente, você se considera um atleta centrado, como é que você era emocionalmente, você tinha controle sobre você, dava de vez enquanto suas explosões?
R – Eu, dentro de campo, foi o que eu falei, eu nunca fui expulso de campo, eu tive o prêmio Belfort Duarte, poucos tem este título, então eu sempre joguei, evidente que fouls existiam, mas eu nunca fui expulso de campo, então eu era um jogador dentro de campo correto e sempre procurava jogar na bola e fui o vencedor não só por ser disciplinado, mas porque eu tinha uma técnica boa e desenvolvi e acabei um dia sendo chamado para uma Seleção Brasileira.
E já o meu orgulho de ter participado já do próprio Flamengo, você jogar no preto e vermelho acho que foi muito importante, porque o Flamengo é diferente dos demais clubes.
O torcedor vibra mais.
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Eu não tenho nem palavras para dizer o que é um torcedor em conjunto dentro do Flamengo.
Naquela época tinha o Jaime de Carvalho que era o chefe da torcida, só existia um chefe que era ele, era coisa muito na base do amadorismo.
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P/2 – Uma charanga?
R – É, era uma charanga, uma charanga exatamente, Mas que comandava toda uma torcida, hoje você tem vários componentes de torcida é Independente, Jovem, é Raça, quer dizer, há uma mistura muito grande, a coisa se tornou muito profissional.
Mas nunca deixou de ser uma torcida vibrante, diferente, que te dá assim um algo que puxa mais, estímulo dentro de campo, eu posso falar porque eu joguei em outros clubes apesar de ter jogado em poucos.
Joguei no América, mas foi início, joguei mais tempo até no Botafogo.
O Botafogo tem uma grande torcida, excelente, mas a do Flamengo é contagiante, é contagiante e eu posso falar isto depois na minha própria vida depois como treinador e tudo na minha sequência de vida, nas ruas você parece que.
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poxa, parece que só tem Flamengo na rua, você pode virar qualquer esquina ou você está dentro do carro, é impressionante “vamos lá, vamos ganhar, vamos ser tri!” Isto agora, se eu era conhecido como dentro da minha vida esportiva pelo sucesso que eu tive dentro de uma seleção Brasileira, no Flamengo triplicou, triplicou, porque eu to em evidência em todo Flamengo, então ser Flamengo assim é demais.
P/2 – Eu queria falar do tri, do segundo tri, dos clássicos com Vasco, Fluminense com Botafogo esta coisa da disputa, da expectativa, da imprensa como é que era esse pré, este durante?
R – Olha aqui, todo Flamengo e Vasco, Fla-Flu e Flamengo e Botafogo de épocas passadas é a mesma coisa da recente, é a mesma coisa as rivalidades, o clássico vovô, o charme do Fla-Flu, a rivalidade de um Flamengo e Vasco, isto já vem da minha época de jogador e convivendo com ela como treinador.
Isto não vai parar nunca, amanhã to indo embora e Flamengo e Vasco, Fla-Flu e Flamengo e Botafogo vão continuar existindo com outros torcedores, com a mesma empolgação com o mesmo tudo que acontece, é uma continuidade, é uma bola de neve que vai persistir anos até o mundo acabar, se isto acontecer algum dia.
P/2 – Tem um jogo em 56, Flamengo 12, São Cristóvão 2, que falam que é a maior goleada da era do Maracanã, queria saber se você jogou ou se lembra de ter jogado?
R – Cinquenta e seis, cinquenta e seis.
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Foi Flamengo e?
P/2 – Foi Flamengo e São Cristóvão, quatro do Evaristo, quatro do Índio, dois do Joel, um do Paulinho.
R – 56 eu devia estar jogando.
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P/2 – Sabe o que me surpreende é que você não estar lembrando.
R – Eu devia estar jogando porque 56 eu tava no Flamengo, eu saí do Flamengo em 58, junho de 58 após a Copa do Mundo ou se houve alguma coincidência de eu tá machucado, ou se houve uma coincidência.
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Mas esta época eu era titular do Flamengo.
P/2 – Você teve muitas contusões?
R – Eu tive contusões, tive, eu tive uma contusão que eu fiquei um período bom tive uma concussão cerebral.
P/2 – Como isto?
R – Um jogo Flamengo e América no Maracanã.
O lateral direito Jorge, houve uma bola prensada e eu entrei, mas ele muito mais forte e eu mais franzino, estouro no impacto, eu rodei e perdi a noção, caí de cabeça.
Eu caí de cabeça, fui para o vestiário e depois disto acabei, se não me falha a memória, eu retornei.
P/2 – A jogar?
R – Retornei a jogar, meu deus do céu, é eu retornei a jogar, foi feita a ressonância, não sei se é a ressonância magnética que se chama, não sei dizer bem.
P/2 – Pôs lá uma faixa?
R – Não, não porque eu fiquei desacordado, fiquei desacordado dentro do vestiário, deixa eu me lembrar bem.
Foi porque eu me lembro do meu pai ter entrado, meu pai tava vendo o jogo e eu vi meu pai dentro do vestiário, foi quando eu acordei.
Eu acordei, fiquei bom sem problemas, eu retornei.
Eu não sei se eu to fazendo confusão com outro lance que eu tive que eu voltei ou se foi quando eu tive essa concussão cerebral.
A concussão eu me recordo perfeitamente que foi com o Jorge, um lateral direito do América, porque depois foi feita ressonância e foi constatado, eu fiquei uns 15 dias fora, parado e depois retornei sem problema nenhum, não tive sequela não tive problema nenhum.
Mas houve um outro fato que eu me recordo, eu não sei se precisamente é este que eu voltei a campo, depois de ter tido problema, tive vômitos, voltei e não retornei mais, eu agora minha mente não estou bem.
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mas aconteceu este fato comigo.
Eu tive algumas contusões e quando tive foram contusões graves, teve uma que eu fui parar no pronto socorro pensando até que eu tinha uma fratura da espinha porque quando botava uma toalha e queriam me levantar me queimava tudo por trás, este jogo foi contra o Santos, agora eu não me recordo se eu estava no Flamengo ou se eu estava no Botafogo.
Mas como você perguntou de contusões graves no geral, isto aconteceu eu me recordo que botaram.
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Não, eu tava no Flamengo, me botaram.
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É, eu me recordo porque depois a ambulância me levou pra casa eu tava ainda com a camisa do Flamengo, me recordo, agora me bateu.
Botaram-me uma toalha pra poder me tirar, botar na maca e me levar pra ambulância e eu fui pro Souza Aguiar, fui pro hospital, lá tiraram as radiografias, mas no caminho do Maracanã para lá eu comecei a experimentar pra ver se tinha alguma coisa e comecei a não sentir queimação nenhuma, então foi o momento forte da pancada que não podiam nem me pegar que eu gritava e me queimava tudo e me botaram a toalha, eu fui e graças a deus não deu em nada.
A outra contusão grave foi aqui no joelho, mas eu já não estava mais no Flamengo, foi no primeiro jogo que eu tive contra o Flamengo, o Jadir ele deu uma pancada violenta forte, eu fiquei oito meses, aí me deram como inutilizado pro futebol.
Eu já tinha sido campeão do mundo, isto foi em 59 ou no próprio 58, foi no quinto jogo do campeonato carioca, sendo o primeiro contra o Flamengo, e o Jadir, que foi meu companheiro de time, entrou e me pegou firme, a sorte é que eu tava ainda com a perna no ar, se estava embaixo eu tava perdido, porque ele era muito forte e eu com 63 quilos, na época 62, por aí, 61, era meu peso.
Eu fiquei com problema, fiquei com a perna.
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tive que operar.
Então eu operei e quando tirou o gesso fiquei uma semana, a minha perna tava dura, ela não descia, aí comecei um trabalho, eu tinha dois filhos pequenos, quer dizer, era a minha vida, poxa.
Eu inutilizado, então eu tive uma força de vontade muito grande, eu comecei a fazer peso com um quilo, botava um quilo de feijão porque na época eu não estava com a coisa, botei um quilo de feijão.
P/2 – Você mesmo?
R – É, e fazia em casa, depois é que eu fui fiquei três meses em casa e fui aumentando gradativamente depois o peso, aí consegui a bota para botar, pra ir cedendo porque a perna tava assim.
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A articulação pra tentar dobrar, mas você não via, lágrimas corriam.
Três meses eu fazia de 15 em 15 minutos, eu só parava para almoçar e jantar só, durante três meses isso na minha casa.
Depois que eu fui para dentro de campo, fui para piscina, cheguei a 15, cheguei até a 60 quilos já no final.
Botando como se fosse.
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Entrava com os pés por baixo e levantava na perna que precisava de mais peso segurava e a outra só servia de apoio, eu cheguei até os 60 quilos, isto demorou oito meses.
Foi quando eu comecei a retornar ao time, eu fui campeão até dos aspirantes pelo Botafogo, pedi para jogar pelo aspirantes do Botafogo e depois então engrenei e fui ser bicampeão do mundo depois deste problema.
Esta foi a contusão mais grave que eu tive que eu fiquei oito meses e já tinham me dado como inutilizado.
P/2 – Agora você acabou de falar campeão do mundo, quando foi a primeira vez que você foi convocado para seleção?
R –Eu fui no próprio ano de 1958.
P/2 – Foi o Feola que chamou?
R – Foi o Feola exatamente, foi o Feola
P/1 – Você jogava no Flamengo?
R – Eu jogava, jogava no Flamengo.
P/1 – Foi como atleta do Flamengo que você foi convocado?
R – Era um Flamengo e Botafogo, o Paulo Amaral era do Botafogo ele me avisou, disse: “capricha que você está sendo olhado pela comissão para ser convocado.
” Me recordo como se fosse hoje.
E tinha um lateral que se chamava Ademar, que era o lateral direito, aí aquele dia eu fui pra cima driblando, fiz uma partida sensacional, o Flamengo ganhou o jogo e ali eu fui convocado para a Seleção Brasileira.
E depois foi uma disputa inglória porque a imprensa sempre dava o meu corte, porque era o Pepe e o Canhoteiro.
O Canhoteiro era um driblador nato, jogava no São Paulo e o Pepe jogava em Santos, era um jogador que fazia quarenta gols e eu fazia, minha média, era seis gols, sete por temporada.
Só que a minha característica era diferente dos dois, eu fazia uma dupla função e isso foi que acabou me valendo.
P/2 – E você não tinha Pelé também.
R – Não, o Pelé eu tive na Copa porque ele era garoto, até brincam, falam comigo: “você jogou com o Pelé.
” Eu digo: “não, ele jogou comigo.
” Porque eu sou nove anos, dez anos mais velho que ele, então ele que jogou comigo, foi melhor, bem melhor que eu mas ele que jogou comigo não fui eu que joguei com ele não, eu mexo com isto.
Então a minha convocação foi ali naquele jogo Flamengo e Botafogo e depois eu estreei num jogo do Paraguai no Maracanã, eu que não era de fazer muito gol fiz dois, ganhamos de cinco, Maracanã super, super lotado era 180 mil pessoas, totalmente lotado e as coisas foram caminhando e eu de terceiro passei a ser o primeiro pela sequência de trabalho que foi sendo feito, o Feola era treinador de São Paulo, dois atletas de São Paulo e ele deu preferência ao Zagallo no caso, pela maneira que eu jogava, pela mudança tática que acabou existindo do quatro-dois-quatro para um quatro-três-três.
Foi aí que houve uma mudança, porque a mudança de futebol ela é vista e condicionada quando está o mundo todo voltado pra aquilo, não é num clube.
Eu já jogava no Flamengo fazendo esta função, mas nunca foi caracterizado o que caracteriza uma mudança que chama atenção, é numa Copa do Mundo, então a mudança tática de um quatro-dois-quatro para um quatro-três-três ela foi feita justamente com o Feola, na característica minha, porque ele me convocou e nunca me disse como eu tinha que jogar, ele aproveitou o que eu fazia dentro de campo, então eu sabia quando eu transformava num quatro-dois-quatro ou quando passava um quatro-três-três que eu fazia um terceiro homem de meio de campo.
Ele me convocou e me colocou pelas minhas características, mas a cabeça dele é que sabia o que ele queria pra não ficar só com dois homens no meio de campo.
O Pepe e o Canhoteiro não faziam isto, tanto que o Canhoteiro acabou sendo cortado e o Pepe ficou na minha reserva, acabou ficando na minha reserva nas duas copas porque eu joguei todos os jogos na copa de 58 e da copa de 62.
Só que o Feola ficou doente, não pode prosseguir, na copa de 62 entrou o Aimoré, mas foi mantido o mesmo esquema, mudanças poucas pelo problema do Orlando, que era quarto zagueiro, entrou Zózimo e depois o Bellini que saiu e entrou o Mauro no seu lugar e o Bellini ficou na reserva, então praticamente foi esta a mudança da minha.
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Saí de uma contusão.
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P/1 – Agora nesta Copa de 58 tem algum jogo que tenha te marcado muito, algum evento algum acontecimento que tenha ficado registrado?
R – Da Copa do Mundo?
P/1 – É, de 58.
R – Bom, eu vou levar pro palco da decisão, porque a decisão ela teve um fato interessante com relação à cultura, porque em 1958 todo mundo sabia que o Brasil não gostava de jogar com chuva.
O futebol Brasileiro era um futebol leve, solto, de toque, e nós chegamos a esta final e choveu, choveu quinta, sexta e sábado e parou pro domingo e nos íamos jogar e jogamos, evidente, contra a Suécia que era a equipe da casa, jogando uma final de Copa do Mundo.
Eles colocaram no campo, impermeabilizaram o campo com uma lona, cobrindo todo um campo para não prejudicar o espetáculo e favorecendo inclusive a própria Seleção Brasileira, porque a Seleção Brasileira não gostava de jogar no meio de lama, as chuteiras nossas não eram preparadas como eles, que tinham coisas de alumínio, a nossa chuteira não tava preparada pra lama, escorregava, ninguém ficava em pé, nessa proporção então a gente tem que colocar sempre para ficar guardado para o resto de uma vida, uma atitude da cultura de um povo sueco em 1958 que colocou justamente esta lona para não prejudicar o espetáculo e o próprio futebol brasileiro, em uma final que nos acabamos conseguindo uma vitória de cinco a dois, eu deixei o meu selinho lá, fiz o quarto gol, dei o passe para o Pelé fazer o quinto.
A gente lamenta que filmagens tem pouca, em preto e branco, isso é o que eu lamento, que naquela época a gente não tem, pelo menos dentro do futebol brasileiro e na nossa cultura, não é nada.
Felizmente vocês dois tão guardando aqui um depoimento que vai ficar para história porque nem isto me chamaram até hoje, mas é vida que segue.
E eu quero aproveitar só para mostrar dentro desta cultura, da lona que foi coberta, eu já estava, saindo um pouco do Flamengo eu já estava no Botafogo eu já tava em 59, fomos fazer uma excursão, jogar Botafogo e Sevilla na Espanha, céu estrelado, aí você entra em campo thuac, thuac, thuac, thuac, molharam todo o campo, porque sabiam que a gente não gostava de jogar com campo encharcado pra dificultar a nossa movimentação, mas acabamos ganhando o jogo de dois a zero, mas você vê só.
Em 58, um cobre na final da Copa do Mundo, o outro num simples amistoso molha.
Claro, quando a gente fala em cultura a gente não está querendo falar de um país, é a mentalidade de um dirigente ou de um diretor, naquela época que era do Sevilla na Espanha, a gente não pode ir a este ponto todo, e agradecer a cultura de um povo sueco.
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e a mentalidade daquele dirigente que estava naquele momento comandando e fez com que acontecesse aquele gesto que dificilmente aconteceria no mundo inteiro.
P/2 – Antes de entrar pro Zagallo técnico, e que você falou de excursões pelo Flamengo você chegou há.
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R – Xiii.
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Pô, cansei de excursionar, pô, eu conheci o mundo.
Eu conheci o mundo no Flamengo, eu comecei a excursionar pelo Flamengo em 1954.
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P/2 – Aonde você foi?
R – O mundo inteiro, pô, porque antigamente só tinha o campeonato estadual, o carioca e o Rio-São Paulo, eram poucos jogos, então nós tínhamos excursões antes de junho aqui pela América, América do Sul, América do Norte e América Central que eu conheço tudo, conheço tudo e Europa você ia também todo ano, mas era todo ano.
A Suécia eu conheço de ponta a ponta, a Alemanha eu conheço de ponta a ponta sem falar a Itália, enfim a Europa toda eu conheci.
Uma das grandes vantagens, porque na minha época não se ganhou muito dinheiro não, da minha época você vê hoje jogadores de prestígio, de renome com dificuldade, você vê sim, jogadores de pouco nome hoje, com situação, sem títulos de Copa do Mundo, com muito dinheiro e aqueles que se sagraram bi praticamente sem nada, sem nada, vivendo modestamente.
Bom isto é outra história, a vida é assim e eu toquei num ponto só para dar demonstração do que foi antigamente, rico em conquistas e pouca situação, outros com poucos títulos e boa situação.
É a realidade da vida, mas eu não estou aqui.
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tô defendendo um lado passado, sem ter inveja do que ocorreu aqui.
Porque eu fiquei nas duas, eu peguei esta parte, mas tive a felicidade da continuação na minha vida como treinador que eu consegui pegar um pouco ainda do outro lado, então eu fico, não que eu fico em cima do muro, porque eu sou um cara muito positivo na minha vida.
Mas eu tenho que falar a realidade de um passado dos meus colegas que não tiveram esta oportunidade de continuar a vida como eu tive, inclusive indo pro exterior, e outro que a vida assim, esta parte de cá, também não tem culpa nenhuma de o mundo ter mudado e eles terem ganho muito dinheiro.
Que eu tenho, que tenham muita saúde.
Mas eu lamento a parte dos meus ex-companheiros que sofreram e estão sofrendo essas consequências, eu queria deixar este registro sem mágoa nenhuma porque eu vivi os dois ambientes, mas sei o lado de cá e o outro lado também da história, pô, isso é que eu to colocando no ar.
P/1 – Mas em 58, você era um jovem casado, tinha filhos, você vivia do futebol?
R – Eu só vivi do futebol, foi a profissão que eu escolhi, sempre tive a minha cabeça no lugar nunca eu tive um carro.
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Primeiro, logo que eu comecei a minha vida que eu fui para o Flamengo, eu pegava o ônibus 108, eu morava na Tijuca não tinha túnel não, a evolução é de tudo quanto é jeito, demorava uma hora e não sei quanto, dava uma volta enorme para chegar no Flamengo todo santo dia: ônibus.
Eu peguei.
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o que eu fiz na minha vida foi primeiro comprar um apartamento, eu ia de ônibus mas peguei meu apartamento.
Eu pegava todo meu ordenado todo que eu ganhava eu pagava de mensalidade, porque naquela época não tinha nada de juros, de correção monetária não, era fixo, hoje é um pandemônio.
P/1 – A prestação do apartamento você diz?
R – A prestação do apartamento que eu disse que eu comprei era certinha aquilo, então eu pude fazer.
Eu dava todo meu ordenado e vivia de gratificações, as gratificações que pingavam, isto eu não era casado ainda, eu era solteiro, então deu para equilibrar as coisas.
Hoje o futebol já mudou, você está ganhando muito e já não tem mais gratificações, você só ganha se você conseguir objetivo final, que é de um título, um campeonato carioca, uma Copa do Brasil, você tem que ganhar e não está vivendo das gratificações como sempre teve, até o ano passado, aqui agora o regime mudou, a situação como os clubes estão com dificuldades.
Os clubes estão com empresas, então a coisa mudou pela situação porque os clubes hoje estão praticamente falidos e consequentemente.
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Qual é o objetivo de qualquer pessoa? Ter uma meta, ganhar, chegar a final e ganhar.
Se você não chegar a esta meta por que que você vai ficar ganhando a cada jogo a cada partida? Claro que eu sempre gostei, era interessante, você ganhava mais, você passou a ganhar menos, então hoje mudou tudo porque a vida está mais difícil, principalmente para os clubes.
Para os atletas, para a vida de treinador não, porque eles fazem, ainda bem, os contratos ,principalmente os jogadores, e consequentemente as consequências vem para o clube, esta medida de arrocho, está sendo adotada pra poder os clubes terem um a sobrevivência e caírem numa real.
P/1 – Mas quando o senhor era atleta do Flamengo, quer dizer, o clube ajudava, ele que dava os uniformes, ajudava em passagens essas coisas como é que era?
R – Não, com relação à vida do atleta, o jogador sempre fez o seu contrato e tudo era por conta dos clubes, você não pagava nada, absolutamente nada.
Material e qualquer excursão tudo as custas do clube, não havia um outro meio porque o clube quando, por exemplo, saía pro exterior ele vendia sua cota para os jogos já com estadia, com hotel tudo pago, quer dizer, só entrava e daí era poder pagar os atletas.
Porque na minha vida eu ganhava o meu ordenado das rendas do Maracanã, do que o clube arrecadava, hoje a coisa.
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P/2 – Inverteu né?
R – Inverteu totalmente, porque renda não dá para pagar nada, inverteu totalmente a coisa, mas nós ficávamos esperando justamente dar boa renda, estar numa boa situação para ganhar mais umas gratificações e o ordenado.
E nunca houve problema, sempre recebi em dia.
Hoje que está todo mundo ganhando muito e que está havendo estes problemas todos aí de até os clubes precisarem de grandes empresas e que os problemas começaram a surgir.
P/1 – Anteriormente o senhor falou do Gilberto Cardoso, o senhor conviveu com ele, se lembra bem dele como figura no Flamengo no clube?
R – É o Gilberto Cardoso foi o meu primeiro presidente, vamos dizer assim, ele tinha a clinica dele lá na cidade, sendo que ele tinha prejuízo na sua vida particular por ser presidente do Flamengo.
Ele era uma pessoa dinâmica, ele era tão dinâmico na sua vida que prejudicou tanto a sua vida particular que ele acabou morrendo pelo Flamengo.
A verdade é esta: ele acabou morrendo pelo Flamengo.
Porque ele estava em todo canto, as disputas que existiam, até o próprio basquete, foi, ele morreu em um desses jogos, eu me recordo em que ele até tinha sanduíche dentro do carro porque não havia tempo nem pra almoçar nem pra nada, atividade.
E que o presidente acabou falecendo num desses, ele ainda foi dirigindo seu próprio carro pro hospital para ser atendido, ele médico, sabia o que tava acontecendo, infelizmente Deus o levou naquele momento e nós perdemos de fato um grande rubro negro, um grande presidente em que ele poderia ser um exemplo para todos não tenha dúvida, por tudo que ele realizou.
P/2 – Tenho uma foto famosa também, acho que quando Flamengo é bicampeão em 54, ele embaixo do chuveiro com o Rubens e o Fleitas Solich também, não sei.
R – Tem passagens sim, que a memória hoje está aqui, falha até.
A gente chega e hoje nós estamos em 2001, nós estamos falando coisa de 1954, que foi a época do tricampeonato, então às vezes a memória falha, mas ele foi de fato fantástico, uma pessoa que prejudica a sua própria família em prol de um clube - não é fácil.
Eu acho que ele foi um grande exemplo pro Flamengo.
P/2 – A sua maior alegria como jogador do Flamengo?
R – A minha maior alegria foi o título de tricampeão pelo Flamengo em 53, 54 e 55, porque é difícil você conquistar um tricampeonato, você vê que são décadas que acontecem 42, 43, 44 e 53, 54 e 55, agora eu.
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P/2 – 78, 79.
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R – É, exato, e agora nós estamos aí para tentar um outro tri, vamos lá vamos ver se a gente consegue, vamos caprichar porque eu to nessa também.
P/2 – Zagallo quando você decidiu ser técnico, como é que foi esta decisão?
R – É, foi da noite pro dia, eu estava em uma excursão com o Botafogo no México e chegando desta excursão eu tive um convite de um diretor e do próprio presidente, Doutor Ney Cidade Palmeiro e o diretor do juvenil era o seu Vasconcelos, Walter Vasconcelos.
P/1 – Isto em que ano Zagallo?
R – Isto foi em 66 e o Doutor Ney Cidade Palmeiro, que era o presidente do Botafogo.
Então eu fui convidado, na chegada eu só exigi um fato, eu nem me despedi, eu tinha ainda sete meses de contrato, eu falei: “eu aceito, mas eu ganhando os sete meses de contrato que eu tenho como atleta e fazendo um como treinador, se vocês querem eu largo agora a chuteira, não tem despedida não tem nada, eu largo e neste momento eu vou virar treinador de juvenil do Botafogo.
” Foi assim.
E aí começou minha carreira, eles sentiram na minha maneira de procedimento, dentro de campo, disciplinado, tendo uma certa cultura, saber se expressar.
Eles viram na minha pessoa, porque eles poderiam ter ido para outros jogadores, inclusive jogadores de mais nome e prestígio Nilton Santos, tinha o Didi, mas eles vieram para cima de mim.
Então eu aceitei, exigi e eles acharam justo aquilo que eu tava pedindo e eu parei assim de estalo.
Aí começou a minha vida, eu tive a felicidade de ser campeão de juniores, eu fui vice e depois fui campeão, e em 67 eu já saí dos juniores e peguei a equipe principal, quem estava tomando conta por acaso, um amigo meu, um profissional fora de série que faleceu, que vocês conhecem de nome que foi o professor Admildo Chirol, que tinha já sido meu preparador físico no próprio Botafogo e na ocasião que eu fui convidado ele tava deixando a equipe principal como treinador, porque ele estava tomando conta já da equipe principal e a única exigência que eu fiz nessa minha passagem de juniores para a equipe principal foi que ele trabalhasse comigo, foi a única exigência que eu fiz pelo convite do próprio Doutor Ney Cidade Palmeiro.
Ele acabou aceitando e aí vivemos um momento de felicidade juntos, porque nós ganhamos as copas de 67, 68, Campeonato Carioca, Taça Guanabara e a Taça Brasil de 68, 69, engrenando depois 1970, junto com o falecido Chirol, em que nos sagramos assim tricampeões do Brasil.
Então, a minha carreira de juniores foi importante na minha vida, eu ter começado por baixo, porque largam e começam por cima o que eu acho um grande erro porque na vida a gente tem que ter uma base em tudo na vida, ninguém sabe para chegar e galgar um posto que nunca tinha assumido na vida para comandar, primeiro que eu nem sabia se eu tinha liderança ou não.
P/1 – Você se espelhava em alguém, quer dizer, como é que foi se formando o técnico Zagallo?
R – O problema começou na minha vida, que eu já tinha, como jogador, eu já gostava de ir aos estádios ver como o lateral direito que marcava o ponta esquerda jogava para eu quando fosse enfrentá-lo já sabia se ele jogava marcando muito em cima, se ele deixava mais distante, qual era o ponto fraco dele para fazer o drible.
Quer dizer, eu já comecei na individualidade de um marcador, quando eu era jogador, eu gostava de ir aos estádios, coisa que a maioria dos meus companheiros não iam.
Mas ali eu já estava visando um passo à frente, então eu sempre fui analisando e a minha carreira como jogador ela teve um bom desenvolvimento também devido a esta situação.
Como um marcador, quer dizer, eu já jogava, eu já sabia o que ele queria fazer e eu tirava evidente partido disto.
A coincidência muito grande também existiu foi quando eu estava ainda na seleção, como jogador, e nós fomos ver um jogo até de Copa do Mundo, o Didi e eu e nós fomos ver o jogo, a maioria não quis saber ficou dentro da concentração, porque é aquele negócio de sair, ir pra estádio e as vezes vem, chega, pede autógrafo, aquelas amolações que você tem que saber lidar porque você pertence ao clube e você tem que ser solícito pra isso, então muita gente não gosta daquele burburinho.
Mas como eu gosto, sempre gostei de futebol e foi meu prato, foi meu prato, a realidade é esta, foi minha vida, foi a lição de vida que eu tive até hoje, ainda tô tendo.
O Didi e eu por casualidade fomos, mas o destino tava traçado daqueles que gostavam de fato do futebol em si visando até para frente porque depois o Didi acabou sendo treinador de renome, ele acabou sendo treinador de seleção, de participação em Copa do Mundo pela seleção Peruana e eu acabei atingindo a Seleção Brasileira, e o destino até nos confrontou em 70, eu como técnico da seleção Brasileira e ele como técnico da seleção Peruana.
Então eu já vivia o momento de atleta olhando e as coisas foram se aprofundando, foram clareando e eu não só vendo a individualidade comecei a passar por um todo e sempre observando os treinadores que passavam as instruções, que analisavam, eu sempre pegava e captava.
Aquele que mais me passou foi o Fleitas Solich, porque foi o primeiro técnico que mostrou botões para falar com os seus atletas, claro que da minha parte eu tive uma evolução muito grande, mas pessoal.
Mas eu quero voltar a parte inicial minha vida de treinador em que eu comecei por baixo e era importante e fundamental para você saber se você tem uma liderança, como é que você ia saber se você tinha uma liderança.
Eu acho que a liderança é uma coisa nata, eu acho que vem de dentro, mas como você vai ser testado, tava sendo pela primeira vez ali.
Então eu acho que começar de baixo é fundamental porque você está começando uma vida comandando, mas garotos que estão iniciando uma carreira, que dizer, você já trazendo no seu bordo, vamos dizer assim, principalmente eu tive esta felicidade de ser campeão do mundo, bicampeão do mundo, isso já me ajudava e me favorecia muito para eu passar pros meus jogadores.
É melhor do que eu alcançar um objetivo largando uma vida de jogador e comandar estes próprios jogadores, dois dias antes eu era companheiro e no dia seguinte eu era treinador pra comandá-los.
Eu achava que não era uma boa então quando eu fui convidado para ser o treinador de juniores eu aceitei de imediato, então ali eu tava me testando, será que eu sei ser líder? Será que eu sei transmitir? Não só o que eu jogava, a minha posição, eu tenho que transmitir um todo, quer dizer, então você tem que começar por baixo, e por isso que muita gente se machuca, como a gente diz na gíria, não vai a frente.
Porque larga jogador hoje para chegar e ficar como treinador dois dias depois ou então larga, vai para uma outra função de comentarista pra depois voltar como da equipe principal.
Ser comentarista é uma coisa, ser treinador de campo é outra totalmente diferente, mesmo que tenha uma base, mas não continuou, não deu continuidade, é totalmente diferente.
Eu posso falar de cadeira porque eu já passei por tudo começando certo, na base, indo depois para equipe principal já tendo dois anos de juniores, depois chegando a uma Seleção Brasileira, quer dizer, já passei aí por tudo, já sendo comentarista de Copa do Mundo com uma vivência muito grande de tudo, o que é diferente de você sair, ir pra comentarista pra retornar pra ser treinador que nunca foi, é diferente, é bem diferente.
Então eu comecei certo, fui aqui, comentei o que é mais fácil, pomba, bem mais fácil porque você falar daquilo que você sabe, que você viveu.
Pô maravilha, não tendo derrota pela frente, você está sempre ganhando, é uma maravilha, eu ainda vou chegar lá novamente.
Então, do que aqueles que foram pra lá e eu sei que tem gente que retornou e veio para aqui, pra minha posição de treinador e por isso que eu tô dando o exemplo.
Posso falar que é diferente, não adianta dizer que é a mesma coisa que não é, porque ali você não está lidando no dia a dia, reações tem que ser imediatas, você tem que mostrar disciplina ali dentro, não é fora, você tem que dar instrução, não é individual, tem que ser coletivo, você é líder.
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P/2 – E o exemplo.
R – Evidente, você sabe falar, sabe transmitir para aquele momento que está ali, é totalmente diferente do que você falar o que você está vendo e não depende de resultado.
Você é sempre um vencedor.
Porque o comentarista é sempre um vencedor.
Para ele não precisa de empate, vitória ou derrota, não depende de nada, ele tem que saber dar o recado, é diferente, mas lá você se queima, aqui não, tudo é festa, é diferente, é uma grande profissão.
Agora é evidente, tem que ter conhecimento de causa que é muito melhor porque tem pessoas que tão nessa vida que sabem, tem cultura, sabem falar, sabem transmitir, mas não tem conhecimento de causa.
É diferente.
Então, aquele que participou, que jogou e que vai para ali ele tem uma visão, evidente, melhor do que um teórico não tenha dúvida, não tenha dúvida, ele precisa o que: saber transmitir, o que aquele que já está na vivência de um microfone já tem o lado profissional, já fala com facilidade, enxerga as coisas inteligentes, sabe.
Mas se você pegar um profissional que veio de baixo, vem para cá, conhece tudo lá e vem para aqui e sabe falar igual, vai levar vantagem.
Agora tem que saber transmitir, tem que saber transmitir, que às vezes não sabem transmitir passar aquilo que está se passando.
É diferente.
P/2 – Depois do Botafogo então você vai para a Seleção Brasileira?
R – Foi em termos de técnico, na minha vida de técnico?
P/2 – É.
R – Certo, eu tive uma.
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o meu primeiro convite foi justamente em 1970 em que a Seleção Brasileira apesar de ter tido uma, como é que se diz, uma eliminatória.
Eu até tenho que, evidente, aproveitar a oportunidade para parabenizar ao Saldanha pela classificação da Seleção Brasileira, pela escolha dos jogadores em que ele colocou em campo e evidente que acabei assumindo dois meses antes da Copa do Mundo, mas eu acompanhava, eu o substituí num programa do canal, acho que era TV Rio na época, porque ele pertencia a um programa Zona do Agrião, na Zona do Agrião, ele falava todo dia dois minutos e ele acabou indo pra Seleção e eu o substituí antes dessa substituição, me veio agora, eu o substituí.
Eu ainda estava como técnico de clube no Botafogo e ele estava como técnico da Seleção Brasileira e era Zona do Agrião que eu falei, eram dois minutos diários na televisão.
E até o diretor era Brasil, o sobrenome dele era Brasil, é um detalhe só que eu quis falar.
Eu ia substituí-lo, como substituí.
E ficou combinado que no primeiro dia ele me apresentava e eu ia fazer o programa, aí daqui a pouco eu sento, o Saldanha não chegava, eu sento na cadeira e vou daqui a pouco murro na porta.
O Saldanha chegando, o Saldanha chegou aí já entrou, um cara culto inteligente o cara sabia transmitir, ele falava o linguajar do povo.
Aí, entrou pegou, disse pois é.
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eu não tava no ar ainda, ele entrou disse: “pois é, hoje tô aqui vocês sabem que eu to de despedida, vai ter uma substituição, vocês já sabem perfeitamente quem é, ele vai apresentar o programa para vocês.
”
P/2 – Que roubada.
P/1 – Que nervoso.
R – E eu entrei, é que eu sou um cara esperto, não sou bobo, sei falar, mas aconteceu isso que é um fato que ninguém sabe, só que é um fato histórico, que não tem nada mas é uma historinha que é boa de se contar.
Então o que ficou programado é que ele iria me apresentar, ele faria o programa e eu depois no programa seguinte entraria e falava.
Porque você falar dois minutos em televisão é coisa a beça, é muita coisa.
Mas eu, poxa, eu digo deixa comigo eu já me programei, não estava sabendo o que ia acontecer mas me programei, eu digo: “bom, se tiver que falar alguma coisa eu já tenho meu texto aqui”, mas ninguém falou nada.
Porque o Brasil era o produtor, o Saldanha que fazia o programa, e eu ia ser o apresentador, fazer o programa.
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e agora nós temos aí o Zagallo então, me largou no ar, tum! E você olhar para aquela luzinha vermelha acesa e falar para milhões de pessoas, mas eu daqui dei meu recado, dei o meu recado, saí bonitinho, sem problema nenhum, não conseguiram me botar lá no fundo não, eu levantei a bola e fui bem.
Aí o que aconteceu, o que ficou combinado foi que mandariam de fora dados, para eu poder falar dos jogos, do que tava acontecendo lá.
Pergunta se mandaram alguma coisa, e o produtor não falava nada do que eu tinha que fazer, eu todo dia falava sozinho, quer dizer, eu fiz a coisa sozinho até o Saldanha retornar, porque a Seleção fazia aqueles jogos amistosos e quando voltava ele assumia o posto dele.
Então eu fiquei fazendo um programa assim diário, eu fazia o que eu bem entendia, falava o que eu bem entendia sem ninguém me falar nada, Zagallo você sabe tudo aí você fala, foi nessa base, só pra você sentir o drama que eu passei, porque ali você podia se machucar perfeitamente e não fazia mais programa nenhum para frente, até se amanhã ou depois você quisesse, mas felizmente as coisas.
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mas eu quis contar esta historinha que acho que vale a pena, se está gravado aí a história, eu acho que valeu.
Mas qual foi a pergunta mesmo pra dar continuidade?
P/2 – Da chegada na Seleção.
R – Ah, muito bem, então eu cheguei à Seleção dois meses antes de uma Copa do Mundo, me chamaram.
Várias pessoas amigas “Zagallo você é louco.
” Porque eu elogiei o Saldanha e tudo pela classificação, mas não houve nenhuma vez ainda dentro do Brasil que o Brasil não deixasse de se classificar para uma Copa do Mundo.
O Adolfo Newman, era o supervisor da época com o Saldanha, e eu no Maracanã vendo o Brasil jogar, jogo no Maracanã, fui lá eu falei pro Adolfo, eu conhecia o Adolfo, eu digo: “Adolfo fala com o Saldanha, eu não vou falar diretamente com ele, jamais, não vou falar, não tem nada a ver, não tem como, mas eu posso falar com você.
O time está jogando num quatro-dois-quatro, eu sou Brasileiro pô.
” O Saldanha saiu de comentarista e veio para tomar conta de uma Seleção Brasileira, porque estava uma confusão, um balbucio tremendo e que o Doutor Antônio dos Passos que era o diretor, na época, do Havelange, que era presidente da CBD, o Doutor Antônio dos Passos que era o diretor e como tava uma situação ruim ele procurou chamar o Saldanha, porque ele era um nome de comunicação fácil, um homem inteligente, já tinha dirigido o Botafogo em 1958, então era um homem adequado para botar as coisas tranquilas, então ele foi convocado por isto para a seleção.
A coisa foi, ele se classificou, fez um ótimo trabalho, mas aí eu.
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já tinha classificado o time e veio os jogos amistosos, já na fase de preparação para uma Copa do Mundo, veio os jogos amistosos, quando eu encontrei o Adolfo lá no Maracanã aí eu falei com ele “Adolfo a seleção Brasileira ela está jogando no quatro-dois-quatro.
nós vamos para uma Copa do Mundo, fala com o Saldanha rapaz e não sou eu que vou falar para ele, você que está aí com ele.
” “Ô Zagallo eu já falei, você sabe como o João é, ele é teimoso.
” Eu digo: “mas insiste, porque em 58 nós saímos de um quatro-dois-quatro para um quatro-três-três coincidente comigo, que o Feola já fez a mudança, poxa, nós estamos em 70, você vai jogar quatro-dois-quatro numa Copa do Mundo, não vai chegar a lugar nenhum.
” Falei, bom minha consciência tranquila, foi dado o recado, aí correm as coisas, correm as coisas, aí aconteceu um problema, o que estava faltando que estava havendo muita briga do Saldanha com o Yustrich, que quando foi à Minas, negócio de Seleção e Atlético Mineiro deu problema lá, discussão, aí ele foi pra outras entrevistas no Itanhangá e briga com o repórter.
P/2 – Eram problemas só de futebol ou coisa política?
R – Não, futebol, nada de política, o problema foi só futebol, o Saldanha com a imprensa, com técnico lá entende? No último jogo, no último jogo contra o Bangu, amistoso, foi quando eu entrei, ainda estava no Botafogo, eu tava até concentrado para um jogo.
Foi a seleção contra o Bangu em que tava tudo previsto que ia haver a substituição, mas ele não foi no vestiário, ele ficou junto com a imprensa conversando, o time voltou, era para fazer uma substituição, já estava programada, entraram 12 dentro de campo e o Doutor Antônio dos Passos como dirigente tava presente a tudo e o Bangu ganhando de um a zero e muita confusão, eu não estava lá, eu to contando o fato, eu não estava lá e aconteceu isto tudo, o Bangu até deram, sei lá se deram pênalti eu sei que fizeram que a seleção empatasse e acabou o treinamento em um a um.
Eu sei que depois dessa confusão toda vieram me procurar dois dias depois em que foi o presidente João Havelange, desfez toda a comissão técnica e partiu para fazer outra, outra comissão, foi quando eu tava com o Botafogo lá na Urca, estava treinando na Urca porque o Botafogo estava sem campo, tava em obra e veio o Siroll com o Antônio dos Passos, me chamaram o Luís Henrique era o preparador físico da época, que tava comigo ali porque o Siroll era do Botafogo, mas tava na seleção e me chamou e me levaram, eu só fui em casa pegar as minha roupas e fui lá para o retiro dos padres, ali em São Conrado, lá no fundo no morro que tinha o retiro dos padres eu entrei, substituí o Saldanha assim.
Até quando falaram que ia ser dissolvido o Saldanha, até deu a expressão no jornal, que ele não era sorvete para ser dissolvido.
E ele acabou saindo devido as circunstâncias e os problemas que eu citei, e eu convidado, não tinha nada a ver com o problema, acabei aceitando o convite e entrando dentro da seleção, eu já vinha acompanhando, sabia de tudo e tinha a minhas ideias.
Eu parti para a modificação radical, tanto que nós jogamos praticamente dentro de um quatro-cinco-um, deixando só o Tostão na frente, Tostão na frente entre aspas porque eu não fiz a marcação.
Eu já estou chegando na Seleção para não ficar um troço muito grande com negócio de amistoso.
Então dentro da Copa do Mundo vocês devem ter percebido através de televisão e tudo que o nosso time não marcava lá na frente, só marcava atrás, do meio do campo para trás, Por que? Porque todo mundo quer espaço, então quando eu disse que não queria que jogasse no quatro-dois-quatro, porque nós estávamos dando espaço, porque os jogadores que iam de frente não iam jogar, fazer nada nós íamos ficar com dois homens, íamos dar espaço e ser envolvido.
Então quando eu entrei já tinha a minha ideia, logo que eu peguei, eu já armei o time, claro que eu tinha algumas ideias e as coisas foram se modificando.
Porque o Clodoaldo e.
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Eu vou entrar em detalhes porque isto aqui está marcado.
O Clodoaldo e o Rivelino na época do Saldanha eram banco, eram banco, eles não jogavam, estavam no banco, e quando eu assumi o que eu fiz? Eu peguei o Piazza e botei de quarto zagueiro, peguei o Rivelino botei pela ponta esquerda, era o Edu que jogava, era quatro-dois-quatro.
Era Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu, quatro-dois-quatro.
Era Piazza e Gérson no meio de campo, então o que foi que eu fiz, eu tirei o Piazza botei de quarto zagueiro, tirei o Edu, botei Rivelino e botei o Clodoaldo no meio porque o Piazza veio para quarto zagueiro.
Eu fiz uma mudança radical na equipe e eu tive um grande problema depois desta mudança mesmo, voltando um pouco atrás, porque aí eu já to dentro da Copa do Mundo nessas mudanças.
Mas eu tive um problema do Tostão, do olho, da retina que ele teve como é que se diz?
P/1 – Deslocamento da retina.
R – Deslocamento da retina, e eu convivi com este problema primeiro no Brasil, que eu não podia colocá-lo e muita gente achou dizendo que não podia jogar o Tostão com o Pelé e eu vou deixar isto aqui marcado porque isto aqui é histórico.
Quando eu falei Tostão e Pelé é porque eles jogavam em linha, tanto que a minha exigência para uma Copa do Mundo, eu convoquei cinco jogadores, eu reconvoquei o Félix, que o Saldanha tinha cortado, eu chamei o Leônidas, quarto zagueiro do Botafogo, o Arilson, um ponta esquerda que era do Flamengo, Roberto Miranda, que era do Botafogo e o Dario Dadá que falam que foi convocação do Médici.
P/2 – Falam ainda?
R – Falam, mas não é verdade e isto aqui tem que ficar marcado, aí é que entra a história do Saldanha.
Eu não gosto de falar, mas eu tenho que falar porque isto foi dito sempre porque toda vez que eu ia fazer uma palestra a pergunta vinha, às vezes demorava, eu até brincava poxa, mas só agora, demorou.
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demorou a fazer a pergunta.
O Saldanha, um homem inteligente, naquela época que ele saiu ele disse que o Pelé tava cego, certo, que o Pelé estava cego e que o Dario queria uma imposição do Médici para ser convocado, ora eu entro, coloco o Pelé no time, quer dizer, deixo o Pelé no time.
Tanto que eu vou dizer o que o Pelé falou para mim, vou aproveitar que eu to no Pelé, depois vocês.
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se eu perder a coisa vocês.
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É, o Pelé chegou perto de mim, vou dizer os termos que ele falou para mim, primeiro treino, veio comigo porque nós jogamos juntos, eu sou dez anos mais velho que ele, nove, dez anos, ele chegou: “Zagallo você pode fazer tudo, pode me barrar, só não quero que você faça uma sacanagem comigo.
” Eu digo “ô crioulo”, eu chamo ele de crioulo: “crioulo, fica quieto pô.
Vai jogar você e mais dez porque eu não sou maluco.
” Então só para não estar falando mais, isso foi a minha entrada com o Pelé, porque o Saldanha quando saiu disse que o Pelé estava cego e que o Dario era um homem indicado pelo Médici.
Quando eu entrei o que é que fica subentendido, que eu só convoquei por causa disto.
O Dario ele foi artilheiro por onde passou, por onde passou ele foi artilheiro, inclusive ele foi jogador meu no próprio Flamengo.
Eu o convoquei, a minha ideia inicial, do Dario e do Roberto Lopes porque me chamavam de retranqueiro, mas o time Brasileiro não tinha um ponta de lança, e o Jairzinho era ponta direita, o Rogério era o outro ponta direita.
Os pontas de lança eram o Tostão e o Pelé, o Tostão era o homem que vinha buscar, Pelé era um homem que vinha buscar, não tinha um ponta de lança enfiado para um vértice, então o que eu fiz quando eu entrei, eu desconvoquei, eu fiquei até o período.
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a única exigência do Doutor Passos foi essa, você convoca os cinco que você quer, convoquei os cinco, já foram ditos ficamos com 27 jogadores e quando chegasse o período de ir para o México você corta cinco jogadores a seu critério, claro, e foi o que eu fiz.
Eu desconvoquei o Dirceu Lopes e o Zé Carlos, dois homens de meio de campo e deixei o Roberto Lopes e o Dario, que eram dois ponta de lança, porque meio de campo eu tinha Gérson, Rivelino, tinha o Tostão que vinha buscar, tinha Pelé, tinha todo mundo, Paulo César Caju que a princípio seria titular, mas depois com o andamento dos treinamentos acabou o Rivelino passando para aquela função.
(Pausa)
R – Então, eu tinha que cortar cinco jogadores, eu já abordei o assunto, o negócio de retranqueiro, então eu dei uma demonstração que eu convocando dois pontas de lança, o Roberto que era o ponta de lança do Botafogo e o Dario, e desconvocando o Dirceu Lopes e o Zé Carlos eu mostrei que eu queria mais atacantes porque tinha poucos atacantes, a realidade é esta.
E quando eu convoquei os cinco, nós ficamos com 27 jogadores e eu tinha que cortar cinco então o que aconteceu: eu cortei dos cinco.
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ficamos com 27, eu tive que tirar cinco novamente, então o que aconteceu: tínhamos três goleiros, o Leão, Ado e o Félix, três goleiros.
Eu desconvoquei o Dirceu Lopes que era um homem de meio de campo, o Zé Carlos que era o outro homem de meio de campo, o Arilson que eu convoquei, e eu achei que não deveria continuar, no caso porque a minha ideia acabou sendo modificada, porque o titular seria o Paulo César Caju então não havia necessidade, porque aí eu transformei o Rivelino depois com o decorrer do tempo eu transformei ele na posição do Paulo César Caju, apesar do Paulo César ter jogado umas três partidas, o Rivelino que foi titular da posição, então eu desconvoquei Dirceu, Zé Carlos, Arilson, Leônidas.
O Leônidas eu vou contar um fato curioso com o Leônidas, quarto zagueiro, que ele ia ser o titular da posição e ele teve uma parada cardíaca, ninguém soube, ele teve uma parada cardíaca, teve que massagear e depois ele retornou sem problema nenhum.
Então quando houve a desconvocação do Leônidas, foi dito que ele estava com problema no joelho, que de fato ele tinha esse problema que as vezes inchava, então falou que ele estava assim e ele acabou sendo cortado.
Mas ele teve morto, porque teve que fazer o massageamento, ele retornou sem problema nenhum ele está vivo até hoje, está vivo até hoje, nós estamos em 2001, isso aconteceu em 1970, só que ele foi cortado e houve um fato interessante, o outro médico que estava no Botafogo depois botou ele para jogar mesmo com o problema que ele teve.
Então aí já são quatro não é isso que eu falei? Um, dois, três, quatro quem é que ficou faltando? Tem mais um que foi cortado, ai no final acabou sendo cortado o Leão, presta atenção.
Houve o retorno dele.
Então eu cortei o Leão por que? Porque eu achava que eram dois jogadores de goleiros inexperientes em relação a idade para disputar a Copa do Mundo no meu ponto de vista, eu respeito o ponto de vista do Saldanha, mas to falando do meu ponto de vista, era o Leão e o Ado, então eu acabei cortando, convoquei o Félix que era um jogador experiente, que inclusive foi malhado a beça porque o Saldanha passou a ser o comentarista e foi malhado a beça por esta situação.
Ele foi titular, nós fomos tri.
Então o Leão foi cortado, mas na véspera da decisão final, da lista, o Rogério ponta direita, ele teve um problema de musculação, de músculo e foi cortado, aí eu reconvoquei o Leão e o Rogério ficou então completando o quinto homem, certo.
Então ficamos com 22, com três goleiros, que até então nunca ninguém tinha deixado três goleiros, depois é que passou todo mundo a convocar três goleiros, porque você tem dois, machuca um, você fica sem nenhum e depois não podia chamar mais.
Agora é que tem uma lei da FIFA que você pode chamar dois se existir alguma contusão grave com o goleiro, você tem direito a substituir, mas até então não, então por isto houve esta mudança e todo mundo passou a adotar até esta ideia.
Então aí ficou relacionado toda a minha mudança tática, as convocações, as desconvocações, o porquê, só não citei o caso do Pelé, o porque que o Saldanha tinha dito que ele tinha ficado cego.
Eu vou contar uma história, eu não estava presente, isso eu to passando pelo que me passaram quando eu cheguei a ser o técnico da Seleção.
Quando eu iniciei meu trabalho.
Houve um jogo do Brasil e Argentina lá no Rio Grande do Sul em que houve uma preleção em que o Saldanha botou lá um quadro negro e demarcou, demarcou só o campo e começou a botar X e bolinha, X e bolinha, X e bolinha, X e bolinha, então ficou muito confuso a coisa e ele perguntou: “alguém quer falar alguma coisa?” Aí o Pelé levantou o dedo: “o que é que você quer.
” “eu quero falar o seguinte, você falou que.
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” é um ponta de lança, agora eu não me lembro o nome do atleta, jogava no Botafogo, ele era Argentino agora, me falhou o nome, e ele na preleção disse que ele era um jogador de meio campo e o Pelé disse: “olha, esse jogador que você está falando que é meio campo ele joga na ponta de lança, porque o Santos joga muito e vem com muita frequência aqui na Argentina e esse jogador não é meio campo.
” Então eu acho que estas coisas foram trazendo uns problemas e que na hora da retirada, na hora que o Saldanha acabou saindo da Seleção ele detonou dizendo que o Pelé tava cego e tudo, quer dizer, se vocês depois fizerem uma montagem vocês vão chegar mais ou menos unindo a saída do jogo com Bangu com o que ocorreu aqui, com as brigas que aconteceram com o técnico, com o repórter.
Ele foi até na concentração sabendo que o “estrigue” não tava lá, deu rasteira no porteiro lá, no cozinheiro, quer dizer, uma série de situações que acabaram tirando o Saldanha e a minha entrada que eu não tenho nada a ver com isso, isso não foi problema meu, eu achava até que eu tinha que ser convocado antes pelos títulos conquistados porque 67, 68, 69 foi tudo ganho comigo no comando do Botafogo e o médico era do Botafogo, o preparador físico era do Botafogo, por que não o técnico? Então acabou sendo feita uma justiça por linhas tortas, mas que depois me colocaram lá junto com o elenco do Botafogo, no caso.
Então, apenas o que me veio agora eu aproveitei para acrescentar, então foi a saída que houve uma mudança tática total dentro da equipe como eu já orientei, falei, a desconvocação dos cinco jogadores e o início de uma Copa do Mundo maravilhosa diante da Tchecoslováquia que nós ganhamos de quatro a um, sofrendo o primeiro gol e ganhando de quatro a um dentro de um esquema que era aquilo que eu havia falado com o Adolfo Newman, que era o supervisor, do quatro-dois-quatro indo para o quatro-cinco-um, porque nós não marcávamos na frente, marcávamos atrás, só deixávamos o Tostão, entre aspas, na hora em que a equipe evoluía nós íamos com Pelé, Gérson, Jairzinho, ia com todo mundo, ficava só três pra.
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dois lá atrás.
Foi um futebol de alto nível técnico, talvez uma das últimas equipes vencedoras, já que nós também fomos tetra, mas de um futebol assim que ficou marcado no mundo como um futebol arte, um futebol de toque, futebol de inteligência, que ficou marcado no mundo inteiro através da televisão a cores já que eu poderia falar de 1958, que foi tão bom quanto, mas que ninguém tem recordação nenhuma através de televisão, porque a tecnologia era bem inferior não temos quase nada, e que 70 a própria imprensa abordou e falou que foi um sonho que foi realizado.
Jamais se poderia imaginar ou pensar que poderia a Seleção Brasileira mostrar o que mostrou dentro de uma Copa do Mundo, que dizer, foi um sonho que foi realizado ao vivo.
P/2 – E que momento você destacaria desta Copa, já que você falou que em 58 foi aquele.
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R – Certo, o grande momento e o grande jogo para mim, que poderia ter dito que foi uma final que foi quatro a um, mas o jogo que mais me chamou a atenção foi Brasil e Inglaterra.
Nós ganhamos de um a zero, como poderíamos ter perdido de um a zero, como poderia ter terminado em um a um em que nós de fato ganhamos, mas foi um jogo tático, um jogo excepcional, um jogo difícil e que foi um gol, uma vitória que nos deu uma moral muito grande para chegarmos ao topo como acabamos conquistando este titulo diante da Itália, quatro a um na final.
P/2 – Bom, e depois da final da Copa você volta para trabalhar no Fluminense como técnico?
R – Sim, houve de fato a minha saída do Botafogo, já que eu ainda era técnico em 1970 do Botafogo, quando eu fui convocado para a seleção houve um desentendimento com o diretor, eu saí fui para o Fluminense e fui campeão carioca em cima do Botafogo em 71, faltando dois minutos para acabar, o interessante é que o diretor havia dito que queria ver o Botafogo ser campeão, que o gol fosse feito com mão e tudo mas que o Botafogo fosse campeão.
O Fluminense foi campeão em 71 faltando dois minutos em um lance que ficou discutido aí que o Marco Antônio empurrou o Ubirajara, que era o goleiro na época, e que o Lula foi que fez o gol da vitória faltando dois minutos, então em cima do que ele disse acabou a medalha sendo ao contrário e o Fluminense acabou conquistando um título em 1971 com a minha orientação em cima do Botafogo, clube que eu fiquei um longo período na minha vida, de 58, de junho de 58, após Copa até 70, final de 70.
P/2 – E como que aconteceu o Flamengo, o convite do Flamengo.
O Flamengo convidou pra ser técnico?
R – Foi em 1972, houve um convite, se não me falha a memória, foi o Doutor Hélio Maurício que me convidou, eu assinei o contrato com ele lá dentro da casa dele lá na Lagoa numa rua que esqueci o nome agora, me recordo perfeitamente e a felicidade de ter sido campeão em 72, bi da Taça Guanabara 72 e 73 e quase que a gente faz bi-bi, aí no caso porque a gente disputou uma final em 73 também, o carioca com o Fluminense e perdemos.
Perdemos de quatro a dois num dia chuvoso, me lembro perfeitamente, nós estávamos perdendo de dois a zero empatamos o jogo em dois a dois, estava bico de ganhar o jogo e acabamos sofrendo até um gol impedido e o Fluminense acabou sendo campeão em 73, o carioca.
Foi importante o meu retorno ao Flamengo como treinador depois de eu ter passado a minha vida iniciando em 50 como jogador, sendo tricampeão como jogador 53, 54 e 55 e estando depois com meu retorno sendo campeão novamente, como treinador bi carioca 72 e 73, campeão carioca 72 e vice em 73 carioca, no caso.
Retornando mais tarde não sei se prossigo ou não.
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P/2 – Pode continuar.
R – Em 84 que eu fui campeão da Taça Guanabara, em 84.
P/1 – Mas ainda em relação a 72 a presença do Zico no Flamengo nesta época, você lembra dele, era um menino?
R – É claro que eu lembro.
Lembro o Zico, ele inclusive estava estourando, queria ser um jogador excepcional e eu sempre quando machucava um jogador eu colocava o Zico para jogar e ele só não passou a ser o titular porque naquela época era o Dorval, que era a coqueluche do Flamengo, é como hoje é o Pet, Petkovic era o Dorval, um jogador argentino que se integrou muito ao Flamengo e era muito bem quisto.
E o Zico estava estourando, eu até quando assumi a seleção em 70 eu havia dito: “olha no Flamengo tem um jogador que tem tudo para chegar e atingir nível de seleção.
” Mas foi o momento e o Zico estreando com, se não me falha a memória, foi com o Joubert, já em 74 eu acho que até foi campeão se não me falha a memória.
P/2 – Em 72 ele entrou?
R – Ele entrou em alguns jogos.
P/2 – Substituindo o Caio?
R – É, ele entrou não tenha dúvida, só que ele se efetivou depois.
P/2 – Em 74?
R – Em 74 foi quando ele se efetivou justamente na minha saída, justamente quando ele já estava mais maduro e aí ele galgou tudo aquilo que ele realizou e muito bem realizado, pelo que ele fez no Flamengo, campeão do mundo, campeão a toda hora todo instante pela sua capacidade técnica, fazendo história dentro do Flamengo com seus gols como pessoa que é extra campo, exemplo.
Eu acho que Zico merece todas as honras de um atleta que tem que ser inesquecível com as cores preto e vermelha, podem ter tido outros, mas eu acho que o Zico marcou uma grande história para toda uma vida do Flamengo.
P/2 – A época em que você era treinador ele chegava para você a ponto de pedir alguma orientação, algum conselho?
R – Não, o Zico ainda era um garoto que tava começando ainda uma carreira.
Não tive assim uma intimidade, um contato muito grande porque eu tava justamente chegando, fiquei dois anos aí e saindo a hora que ele foi de fato o Zico, ele começou a ser o Zico foi justamente na minha saída.
Apesar de eu já ter enxergado nele a capacidade ele estourou depois de 74, tanto que ele depois foi para a seleção e jogando o que realmente ele mostrou no Flamengo, jogou na seleção, e teve uma infelicidade de não ser campeão do mundo, mas isto são coisas que acontecem na vida de tantos craques, a gente tem o Zizinho que jogou no Flamengo, excepcional, que também não foi campeão do mundo.
Isso faz parte do contexto.
Mas o Zico era um exemplo fora e dentro de campo, para poder falar em algum atleta você pode citar o nome do Zico que está amparado por todos os lados.
Na capacidade técnica como jogador, disciplinador, fora de campo, pai de família, chefe de família, irmão, enfim tudo que você puder dar de exemplo eu assino em baixo: Zico.
P/2 – E depois você fica 72, 73 aí.
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R – É, aí 72, 73, 74 eu fui para o Botafogo, eu fui para o Botafogo, fiquei um período no Botafogo e depois então é que eu fui para o exterior.
P/2 – Você era assim, então, um técnico cobiçado.
R – Ah era.
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eu não fiquei parado na minha vida e gozado que muita gente me cobrou, principalmente São Paulo, que eu nunca dirigi time de São Paulo, há uma cobrança muito grande, havia só agora em 1999 que eu fui dirigir a Portuguesa porque até então eu nunca tinha dirigido clube nenhum fora do Rio de Janeiro porque pelo meu prestígio, pela minhas conquistas, eu fiquei fazendo uma roda dentro do Rio nas passagens por Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco e fiquei, retornei, voltei porque tava sempre ganhando tudo, então eu não tinha o porque sair.
Eu tenho uma casa instalada no Rio de Janeiro com a família porque que eu vou fazer mudança para ir pra fora, não, eu só fui para fora para fazer minha independência, foi que eu fui para o exterior que eu passei sete anos e meio assim mesmo pingado, fui dois anos retornei, fiquei três anos e meio, voltei e retornei, fiquei mais dois e fim de festa aí voltei de vez, não fui mais, mas eu tive sete anos e meio por causa do interesse para mim fazer minha independência.
Porque aquilo que eu falei, a época de se ganhar teve um período em que aqueles que foram campeões do mundo, bicampeões, não tiveram essa felicidade, não era o momento que se está atravessando hoje, não se ganhava muito você trabalhando mesmo eu que trabalhei em grandes clubes e precisava ter cabeça para poder saber aplicar o dinheiro e tudo, mas que pelo que aconteceu depois no país, pela situação econômica nossa que estamos vivendo até hoje com problemas, aqueles que ganharam e trabalharam bem e tendo cabeça iriam passar necessidades pra frente.
Eu estou dizendo isto porque eu não passei porque eu fui para o exterior e ainda peguei um bom período ainda podendo ganhar e podendo aplicar meu dinheiro, mas aqueles que jogaram comigo e que param a vida com títulos conquistados de campeão, bicampeão do mundo mas que não tiveram prosseguimento e trabalharam em grandes clubes e sendo bicampeões tão com as coisas muito restritas.
Então esse que foi o grande problema, eu é que prossegui e tive então a felicidade de arrumar minha vida.
P/1 – Você falou da sua família, você foi vencedor em várias esferas da sua vida profissional, e como é que a família via isto, o apoio, os filhos, você levava filho para assistir jogo, a esposa ia, quer dizer, os seu pais iam.
Como é que era isso aí, um pouco da vida familiar?
R – Bom, o problema da vida familiar, meu pai e minha mãe evidente que eles sempre gostaram do futebol e papai e mamãe iam ver, não tem dúvida.
Agora depois que eu casei, na minha família, minha mulher eu nunca misturei, primeiro que eu jogando ou estando como treinador a minha mulher não ia para uma arquibancada, isto é dela, ela não gosta de estar se expondo, ela nunca foi de se expor e nós então fizemos um pacto inclusive até de entrevistas ela teve um limite, começamos fazendo em casa e depois cortamos, então não misturamos mais, ainda era jogador, não misturamos mais a minha vida particular com a minha vida pública.
Então passou a eu só dar entrevistas fora de casa, no clube ou no condomínio que eu tivesse morando, mas nunca dentro da minha própria casa, então esse foi um pacto que nós fizemos e foi mantido até hoje.
Com relação a eu ir para um jogo esporadicamente ela pode ter ido a um ou dois jogos nessa minha vida, ela fica mais em casa sofrendo com o Santo Antônio dela lá amarrado, segura, rezando do que indo para estádio, ela gosta de ver os jogos inclusive na televisão sozinha, ela sofre demais.
Os filhos não, eles me acompanham hoje, quando eram garotos não tinha como, mas hoje eles acompanham vão nos jogos e tudo sem problema nenhum, mas não tiveram aquela, por exemplo, o campeão, bicampeão não tinha como, tinham dois, três anos.
Em 70 ainda eram muito garotos, não tinha como, eles começaram a viver e entender mais em 94, agora em 98 pela idade hoje já são adultos, casados já tem filhos, mas na época que eu jogava ou mesmo no tricampeonato ainda eram praticamente crianças, crianças entre aspas, já eram mas não entendiam muito de futebol, a partir daí então é que houve um acompanhamento maior.
Agora a vida dentro de casa a mulher sofre demais, os filhos sofrem, os homens menos, as mulheres mais, as garotas por serem mulheres, os homens já levam mais a coisa na flauta, como se diz, mas há um sofrimento muito grande e uma perda de um chefe de família dentro de casa.
Então eu acho que é um sacrifício muito grande e que a esposa tem, que os próprios filhos tem porque você está num domingo, ela não vai para o estádio, ela saía para almoçar fora com os filhos, iam para um local que tivesse diversão com os filhos, ela não ia com eles para um campo para ficar vendo jogo de futebol, ela sentia e tudo, evidente, sempre me deu força, não poderia ser de maneira diferente, e se eu ganhei tudo isso na minha vida ela compartilhou comigo nas horas ruins e nas boas horas, felizmente tivemos mais horas boas do que ruins, apesar de tantas vitórias também tivemos algum dissabores.
Na própria Copa do Mundo de 74 em que nós chegamos quarto colocado após ter uma conquista de um tricampeonato, mas o futebol é uma paixão, a gente vive o momento, então, entre rosas, flores seja lá o que for não importa, tem os cravos, mesmo com tantos títulos conquistados, tem os espinhos pela frente.
Então eu acho que minha mulher é uma sofredora e que ela me deu muita força e os títulos, merecem muito ela e extensivo também aos meus filhos porque eles também sofrem quando as coisas não caminham bem.
Na vitória todo mundo festeja é o que eu digo, nós estamos em Copa do Mundo a cada jogo é um carnaval que nós proporcionamos ao público, mas nós não festejamos esse carnaval a cada vitória, nós só podemos festejar quando o título é conquistado, então nós proporcionamos ao povo brasileiro a cada jogo de Copa do Mundo uma festa, mas nós estamos trancados pensando no jogo seguinte.
Eu posso falar aqui feliz que eu proporcionei, junto com uma equipe de trabalho, festas e muitas festas dentro de Copa do Mundo pelos títulos conquistados.
Porque o povo brasileiro gosta de festa e o futebol, se ela já é uma festa em si a gente festeja como é com alegria, com carnaval é com pula pula, faz parte da nossa cultura.
P/1 – Você falou na devoção por Santo Antônio da sua esposa, você também é devoto a Santo Antônio, é conhecida também a superstição o número treze, como é que é isso?
R – Eu casei no dia 13, é a data escolhida pela própria minha esposa e seria no 13 de Santo Antônio, dia 13 de junho, mas acabamos num dia 13 de janeiro de 1955.
Ela é devota de Santo Antônio, ela vai a Santo Antônio toda semana, eu sou devoto mas não como ela, claro que eu acabei gostando de Santo Antônio porque de fato ela trás isso, ela pede o que nós ganhamos com essa fé toda e a imprensa acabou criando este mito do 13, mas eu digo: “olha o 13 é da minha mulher, o 13 é de Santo Antônio.
” Tanto que até dentro das copas do mundo ela leva pãozinho bento de Santo Antônio para todo mundo, todas as copas do mundo eu levei pãozinho para dar pra cada um, evidente que tinham uns de fundo católico, não queriam e a gente respeitava, mas toda Copa do Mundo todo mundo comia aquele pãozinho de Santo Antônio, bento.
Todas as copas conquistadas e também a de 58, alisa a de 98 que nós fomos vice, teve o pãozinho de Santo Antônio e promessa que ela fez pagar em pão o número de quilos somados de todos os jogadores, quer dizer, isto também acontecia essas promessas.
Fora a colaboração dela financeira.
Eu até mexo com ela que eu sou sócio de Santo Antônio.
A gente ganhando tanto que as vitórias e tudo com a fé e ela me passa isso também, consequentemente eu acho que tudo é válido.
Ah e o negócio do 13, vocês querem que eu conte a história do 13, vamos lá então.
Eu casei no dia 13 de janeiro de 1955, eu nasci em 1931, eu acho que eu já tinha um 13 de santo Antônio dentro de mim porque invertido dá 13.
Eu voto numa.
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espera aí eu não vou chegar nessa já, eu fui campeão do mundo em 1958 o finalzinho 58, você junta dá 13, não é isso? Dentro do próprio futebol nos vamos para um tetracampeonato, 94, os dois últimos somados 9 e 4 dão 13, positivo? Muito bem então, vamos para a complementação de 94, os pênaltis, existiram os pênaltis, foi decidido em pênalti, Roberto Baggio.
Roberto Baggio se você for analisar, vocês podem contar, Roberto tem sete letras e o Baggio tem dois G hein não esqueçam, se tivesse um G não dava, são dois G, o nome próprio dele, dão 13 também, são as coincidências que vem através do anos.
Eu por exemplo, voto numa décima terceira zona eleitoral, aconteceu.
Claro que eu escolhi um décima terceiro, minha mulher escolheu, décima terceiro andar, eu moro no décimo terceiro andar.
A placa do meu carro é 0-0-13, a dos meus filhos tem 13-13, tem 0-0-13.
Agora as dificuldades estão maiores porque tem um cara lá no DETRAN que não quer dar mais placa, eu tive que conseguir o 0-0-13, o Flamengo foi campeão agora em 2001, com o Cássio com aquele gol, defendeu e a bola entrou, ele disse que foi a mão de Santo Antônio, a placa do meu carro é 0-0-13, agora imagine de onde está essa placa porque eu não consegui aqui no DETRAN do Rio de janeiro, Espírito Santo, Vitória, quer dizer, até isso vem junto.
Mais tarde eu vou colocar.
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porque um coronel lá do DETRAN que não quis dar o 0-0-13, ele disse que a transferência do 0-0-13 ele admitiria, mas conseguir o 0-0-13 não, porque havia, eu deduzi isso, porque havia uma rixa dele, não dou, não dou, e está todo mundo de olho no Zagallo, porque eles já estavam esperando quando sabia que eu tinha comprado um carro novo, vem o 0-0-13 aí.
Depois eu tentei, eu tentei nada, nada, nada, peguei um despachante e acabamos conseguindo pela uma amizade, consegui, aí quando bateu lá no DETRAN esse coronel “te dou outra placa 0-0-13 não.
” Eu digo: “por que? Conta qual é o problema, esta é só.
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” “Não, não tem como, eu não posso fazer isso, é só sorteio.
” Tudo bem, se é isso obrigado, então acabei conseguindo e na casualidade fomos campeões e a placa do carro é 0-0-13, Espírito Santo, Vitória.
Espírito Santo, Vitória, Santo Antônio empurrando a bolinha do Cassio lá naquele gol, porque eu nunca vi na minha vida em 52, 53 anos de vida esportiva o goleiro defender uma bola no pênalti, a torcida do Fluminense comemora a defesa e a bola entra e o Flamengo é que vibra, campeão da Taça Guanabara e esse gol está dentro do contexto.
P/1 – O que você sente numa hora dessas?
R – Olha eu fico, fico, fico arrepiado porque está dentro de mim, e eu não sou de fugir do olhar não, eu fiquei olhando fiquei vendo, só que eu não sabia o que tinha acontecido.
Você está a 60 metros de distância, eu estava do outro lado de onde foi batido o pênalti então eu vi o goleiro defender, vi a bola vim para o outro lado e ela pegar um efeito daqui a pouco a gritaria aí eu fui no embarco porque eu não sabia.
Eu só fui ver o que aconteceu, o efeito, na televisão que até então eu não tinha visto, o efeito podia ir para fora, podia ir para o lado direito, podia ir para esquerda, podia bater na trave ela pegou o efeito e entrou, quer dizer, coisa do destino, já estava determinado, então eu acho que foi uma vitória magnífica, somos campeões estamos a um passo desse tricampeonato, eu só espero que a gente possa conquistar esse tri e eu possa complementar essa entrevista aqui dizendo “olha fomos tri” isso seria ótimo, senão já está feito, senão vocês cortam.
P/2 – Zagallo então você estava falando que em 84, você voltou para o Flamengo depois de uma.
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R – Ah sim, 16 anos depois.
Eu voltei ao Flamengo e disputamos uma Libertadores, foi a primeira Libertadores que eu disputei pelo Flamengo, nós empatamos com o Grêmio um jogo fora e acabamos sendo eliminados.
Ficou a marca da minha passagem pelo Flamengo na conquista da Taça Guanabara, isso em 1984.
Em 72 até o presidente era o Jorge Elau, Jorge Elau 72, 73, e bom deixar marcado aqui, em 84 eu não me recordo quem era o presidente, não sei se era o Elau de novo, não me recordo quem era o presidente.
Eu não sei, agora eu fiz até confusão ou se 84 era o Jorge Elau ou 72 era o Hélio Maurício.
P/2 – Hélio Maurício.
R – Hélio Maurício 72, então 84 que foi o Jorge Elau.
Eu me recordo que o filho dele colocou uma bandeira lá no Cristo Redentor, envolveu, envolveu o Cristo Redentor com uma bandeira do Flamengo.
É, tem uma passagem que marca a gente e a gente não esquece.
P/2 – Isso foi num contexto político também, que caiu o negócio das diretas.
P/1 – Isso em 84?
P/2 – 84 tem um depoimento seu que você diz: “nós vamos dar uma tancredada no tricolor.
” Que o jogo Flamengo um, Fluminense zero gol do Adílio.
R – Mas é gozado, porque eu posso ter falado assim mas eu não sou afeito a política, eu posso a até ter feito um trocadilho no momento e ter falado isso se tava na época do Tancredo a gente vai dar uma tancredada.
Mas eu não gosto muito de me meter em política, tanto que eu fui várias vezes convidado para ser candidato e apoio sem gastar nada e eu nunca quis seguir esse lado.
Agora eu sofri todas as consequências de pessoas aliadas a esquerda porque eu tive momentos de dentro de comando da Seleção Brasileira que coincidiam com problemas político.
Momento político e que uma vitória da Seleção Brasileira traria favorecimentos a determinadas pessoas e trazia derrotas para outros, então a consequência era a posição contra a realidade dos fatos, eu não tinha nada com isso.
Eu sempre fui um treinador voltado para o esporte e se tratando de Seleção eu estava no verde e amarelo, sempre falo do verde e amarelo, então eu quero sempre ver o verde e amarelo tremulando a vitória, mas eu fui muito criticado e isso foi dito através de um jornalista na França.
Isto foi, você veja só, em 1997 numa excursão que a seleção fez, jogou contra o Paris Saint Germain, em que esse jornalista Juarez Soares, que é da esquerda disse que ele não gostava de mim, isso ele falou publicamente e me falaram depois, que não gostava de mim porque eu era a favor da ditadura só para vocês terem uma ideia.
Então eu vim só saber essa situação.
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Eu dentro de uma seleção num comando quer dizer, eu por ideologia eu estava sendo perseguido porque tinha uma parte da imprensa que era de esquerda e que eu por ideologia eu estava sendo marcado.
Então eu fui chamado de retranqueiro várias vezes por uma situação que eu nunca me guiei nesse aspecto político, agora o meu dever e minha obrigação dentro da onde eu estou é procurar fazer o máximo.
Se eu estou no Flamengo eu vou procurar fazer o máximo, seu estou no Botafogo eu vou tentar, se eu estou na Seleção eu vou muito menos, vou chegar querendo realizar o melhor possível para as conquistas.
Não tem nada a ver com meu problema político, então eu sou apolítico apesar de tudo que ocorre porque eu voto como cidadão, eu não tenho nem partido porque eu não voto em partido, eu voto em pessoa seja o que for, ele pode estar em qualquer partido se eu gosto da pessoa eu vou votar nele, não tem um partido para mim então eu não sou, A, B, C ou D, para mim não importa.
Agora eu acabei sendo muito pisado por esse problema até na substituição do Saldanha, até na substituição do Saldanha eu fui um cara que fui.
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quiseram dar o título que foi ele, que eu peguei um time pronto o que na realidade peguei um time que tive que modificar tudo porque se joga como estava jogando nós não chegávamos a lugar nenhum entende.
Então essas coisas magoam porque botam interesses a parte em cima de uma pessoa que não tem nada a ver com o problema, eu não pedi para substituir, saiu porque ele mesmo fez por onde que saísse e se me convidaram é porque tinha méritos, não é isso? Então eu sofri essas consequências todas por isso.
Por momentos políticos, por ter substituído um homem de esquerda, não tenho nada nem contra a esquerda nem contra a direita, nem centralista não tenho nada contra porcaria nenhuma de partido.
Agora se o meu candidato tiver ali, lá ou acolá para não estar citando partido nenhum eu vou votar nele não importa em que partido esteja, se eu tenho convicção de uma coisa eu voto na pessoa e não no político - na pessoa.
P/2 – Taça Guanabara de 84, eu queria voltar a isso aqui, tudo começou por aí.
E como é que era dirigir este time, tinha Adílio, o Zico tinha ido embora?
R – Olha, se você me perguntar hoje qual era o time de 84 eu não vou saber me expressar e falar direitinho porque eu tinha que estar com tudo na mão porque é tanto time que eu dirigi, é tanto título conquistado, não dá para guardar.
P/2 – E aquela conquista você lembra?
R – A conquista sim, porque é um jogo mas eu não me recordo como é que foi o gol, você está falando do gol do Adílio.
P/2 – É, de cabeça.
R – Pois é, você vive um momento você está satisfeito, hoje você vai me perguntar a Taça Guanabara conquistada está fluente na minha cabeça, agora 20 anos depois essa talvez fique marcada porque foi para pênalti e ainda teve este gol do Cássio que vai ficar marcado para essa geração toda que gosta de esporte como uma coisa inédita e que eu acho que não vai acontecer nunca mais para frente, é um negócio muito difícil de acontecer no pênalti o goleiro defender e a bola entrar, isso aí marca.
Agora como eu fui campeão, vários títulos da Taça Guanabara com o Flamengo 72 e 73 se você me perguntar o time 72 e 73 eu não vou saber te dizer entende, quem é que fez os gols, nós estamos em 2001, eu tenho boa memória, mas para entrar em detalhezinhos fica difícil, então o título está marcado porque eu sei, tenho meu currículo todo, eu tenho minha vida toda histórica, tudo eu tenho guardado e sei.
Agora chegar e falar aqui como é que foi.
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toda a festa é bonita, toda vitória ela é empolgante você tem que vibrar no momento do que esta acontecendo.
Eu estou até passando um pouco meu ânimo porque estamos voltando um pouco atrás e eu vivo, vivo nas vitórias, evidente, e eu sou assim.
Eu fico alegre, fico contente, é bom falar em vitória, eu vou falar em derrota, sai daí.
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eu quero é vitória, por isso é que eu sou assim.
Você já fez tudo, já realizou tudo, eu digo “não, eu quero mais agora” minha próxima meta é ser tricampeão pelo Flamengo.
Porque que eu vou ficar sentado, porque eu fui quatro vezes campeão do mundo, já me realizei, se eu estivesse realizado não tinha voltado para ser treinador da Portuguesa e ter retornado ao Flamengo.
Então eu vivo, eu vibro, está em mim isso aqui, e eu passo, eu transmito isto para os jogadores, eu sou assim, a hora que eu estiver sem essa fibra, essa vontade toda é o momento, chega, até logo, vou parar aqui.
Como aconteceu na minha vida de jogador para treinador que ninguém.
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o Zagallo sumiu.
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é sumi, estou começando outra, vai ser agora estou aqui no Flamengo daqui a pouco não sei, o que vai acontecer? Eu não tenho dia marcado como não tive.
Uma frase que ficou aí, “vocês vão ter que me engolir.
” Aquilo veio espontaneamente por coisas que vinham acontecendo, que eu tinha que fazer um desabafo, mas foi a frase que saiu naquela hora, eu não premeditei nada para fazer uma frase, eu não sou maluco.
Eu estou jogando aqui eu sei o que está acontecendo, que tão querendo meu lugar, porque pessoas me disseram, gente de São Paulo, da imprensa de São Paulo, que queriam colocar o Luxemburgo no meu lugar.
Quer dizer, eu vou guardando, vou guardando, vou guardando, eu não vou ficar pensando o que eu vou dizer, então na hora veio aquilo “vocês vão ter que me engolir”, ninguém entendeu nada na hora e depois eu expliquei, até que ficou uma frase gostosa, serve, a todo momento.
A torcida do Flamengo já utilizou quando jogou contra o Vasco já duas vezes, quando ganhou, então é uma frase que tornou assim uma coisa gostosa, vocês vão ter que me engolir, uma coisa boa, você passa na rua até criancinha de sete anos, você não pensa, aí os pais vem, pedem um autógrafo: “você tem que me engolir.
” Quer dizer, então passou a ser gostoso.
São moças, são rapazes, enfim.
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foi uma frase que marcou a minha vida.
Então a vitória da Taça Guanabara é alegria de eu ter passado aquele momento, proporcionado a essa imensa torcida do Flamengo, a satisfação de poder vibrar de poder gozar a outra torcida e é isso aí.
Agora em 2001 aconteceu a mesma coisa não é isso? E vamos ver se a gente pode prosseguir aí na campanha, mas 84 eu fiquei feliz, 2001 melhor ainda e vamos ver o que acontece para frente.
P/2 – E quando você recebeu o convite para treinar o time, agora 2000 foi o time do Flamengo agora?
R – Certo.
P/2 – É, você bom.
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deve ter sido uma coisa.
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R – Bom, para mim foi muito importante, porque eu sempre tive na minha cabeça de retornar um dia ao Flamengo, mas eu estava vendo o tempo passar e a coisa não acontecer.
Vocês sabem perfeitamente que eu estive na Portuguesa e pela primeira vez na minha vida de trabalho eu fiquei um ano parado, porque eu quis.
Eu tive propostas para ir para o exterior, mas que não me convinham, tive propostas dentro do futebol brasileiro que também não me convinham e eu fiquei numa expectativa.
Bom, eu quero trabalhar num grande clube que foi a minha vida, sempre foi assim, para tentar ganhar títulos, eu não quero trabalhar por trabalhar, eu quero conquistar, comecei assim e não posso terminar de maneira diferente.
Então eu tinha isso em mente porque minha passagem, quando eu ia para a cidade eu sempre passo na porta do Flamengo, então sempre ficava aquele negócio “será que eu vou voltar um dia para o Flamengo?” Bom, aí vamos encurtar, o Santos apareceu para fazer uma proposta, eu já estava mais ou menos com a coisa engatilhada.
O Clodoaldo que foi meu jogador da Copa do Mundo de 70 marcou um encontro comigo no Plaza logo depois do túnel, fica a direita de quem vem do centro da cidade, encontrei com ele ali.
E ele na época estava no Santos, hoje ele não esta mais, ele já saiu, estava como diretor lá e veio conversar comigo.
Se eu gostaria de trabalhar no Santos, só não chegamos a uma situação porque ele estava esperando o presidente que não estava no clube ou tinha ido para fora, mas que ele tinha autorização para ter o contato e se eu gostaria.
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e olha ele vai chegar dentro de uma semana.
Eu digo “olha, domingo eu vou no Super Técnico”, é um programa, vocês tão aí.
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é um programa que tem lá em São Paulo e eu iria para o programa, então lá eu entro em contato com você para te dar uma resposta e a gente entrar para finalizar a coisa.
Aí o que aconteceu: o Júlio Gomes, Doutor Júlio Gomes que é advogado, não sei se ainda é advogado do clube.
O Doutor Júlio Gomes que é advogado do clube liga para casa, o Flamengo estava jogando com a Portuguesa lá em São Paulo, eu não sei se perdeu, acho que perdeu o jogo – era a quinta derrota parece do Flamengo e aí então entrou em contato: “o presidente está querendo falar com você.
” Eu digo: “olha tem uma coisa, está para acontecer um convite, eu vou para São Paulo no domingo e está para acontecer, eu vou fechar.
Se você me perguntar, é evidente que eu prefiro ficar aqui no Flamengo, um clube que eu já joguei, fui treinador tricampeão, seria ótimo”, ele se comunicou com o Presidente.
Bom, para encurtar.
Domingo de manhã o presidente teve um encontro comigo no Meridian, no 37º andar.
Eu estava com minha mulher indo para São Paulo, parei com o carro, subimos, tomamos café e de manhã, no domingo de manhã, fomos para São Paulo.
Ali nós acertamos, evidente que ele primeiro queria falar com o Carlinhos por um questão de ética, mas o Carlinhos iria sair, não foi pronunciado nada.
Ele comunicou ao Carlinhos, então depois disso ficou concretizada a minha vinda, no caso, para o Flamengo.
Coisa que para mim foi muito gratificante eu ter voltado ao Flamengo depois de 16 anos como treinador, que foi a última em 84 e como atleta que eu tive em 1950, você voltar a Gávea e reviver todo um passado, as coisas que se modificaram ali dentro, quer dizer, é qualquer coisa assim de sensacional.
Até aquele ninho do urubu que ainda tem hoje, não saiu nada de construção, que ainda é do Flamengo, até lá eu fui, até na época que eu estava com o Elau e tive lá e é onde parece que vai surgir o CT.
Então isso tudo vem à nossa cabeça, à minha cabeça, à tona tudo que passou, a minha convivência, os títulos conquistados, as pessoas com quem eu convivi vem todo um passado na nossa mente.
Quer dizer, isso é bom, gostoso para quem vive dentro do esporte, para mim pelo menos, e pegar uma geração nova.
Eu vim através das mãos do presidente, do Edmundo presidente e conviver com as cores preto e vermelho, isso é muito gostoso, é gratificante mesmo eu estar aqui no Flamengo de novo.
P/2 – E ao chegar como é que você resolveu armar o time, o grupo que você tinha?
R – Bem, essa foi uma história em que já vi o Flamengo jogar, sabia dos problemas que o Carlinhos tinha na mão, de dificuldade de armação e que eu encontraria, porque nós tínhamos jogadores de mesmas características que foram contratados e que não poderiam jogar juntos na mesma equipe, porque traria consequências táticas e o Flamengo não chegaria a lugar nenhum como de fato aconteceu comigo ainda no final do ano, porque eu tenho uma experiência, sei o que quero e queria modificar e as coisas não caminhavam com os próprios jogadores, foi quando eu falei com a direção uma coisa muito interna, isso não saiu publicado externamente, isso uma coisa interna que eu jamais colocaria uma situação fora, isso aqui é interno, não é para sair para fora dizendo que o Denílson e o Alex, dois jogadores de alto potencial mas se jogassem Denilson, Alex e Petkovic nós não tínhamos uma armação tática para jogar sem a posse da bola, nós íamos facilmente ser envolvidos pelos adversários.
Jogadores que custaram caro e que não participariam e que eu deixaria até uma liberdade para a direção sair do problema, inclusive difícil, que o Flamengo está atravessando no momento.
Foi liberado o Denilson, Alex, ele seria útil? Sim, desde que o Pet tivesse contundido, mas eu não sou adivinho, o Pet se machucou e eu não tinha outro jogador para colocar na função, eu tinha o Iranildo que a gente não pode comparar a qualidade do Iranildo com os outros dois, são bem superiores.
Mas pela situação econômica que o Flamengo estava vivendo a melhor coisa seria tentar colocar eles fora para o Flamengo não ter essa dispensa brutal que tava tendo e isso foi conseguido.
Agora eu só esperava, eu tô fazendo uma confidência aqui, eu esperava ter nas mãos jogadores de menor porte técnico, mas que me davam condições de poder armar a equipe, o que eu não tive.
Estou sendo muito franco aqui, não sei se vocês vão botar ou não, mas eu tenho que botar para fora a minha franqueza.
Houve de fato, o Flamengo não contratou nenhum jogador que de fato eu pedi até hoje, os problemas nós temos, a equipe ficou mais enfraquecida em relação evidente a saída do Denílson, mas se eu quisesse colocar para uma opção eu teria.
E fiquei sem ter, e não tem nenhum jogador que eu pedi.
Externamente eu jamais publiquei isso.
“Vocês vão ter que me engolir”, eu estou engolindo.
Então a equipe ela foi montada, tivemos problemas iniciais que eu já sabia que ia ter, tentei consertar, de um modo um lado do setor eu consegui, mas com relação a outra parte não.
Os jogadores foram embora, fazendo um trabalho sem os jogadores que eu gostaria de ter para ficar.
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fortalecer, evidente, o Flamengo então eu comecei a trabalhar só com o pessoal que nós tínhamos, tanto que não foi contratado nenhum jogador, só vendemos e consequentemente a equipe do Flamengo em relação ao ano passado para este nós ficamos mais enfraquecidos - a verdade é esta.
Mas estamos aí dentro de um trabalho, há uma união muito grande dentro do grupo, tivemos uma infelicidade muito grande de perdermos os jogadores no início da temporada quando tínhamos duas competições simultâneas: o Rio-São Paulo e o estadual.
Porque nós nunca jogamos até hoje - que é uma espinha dorsal, Gamarra, Pet e Edilson até hoje não jogaram juntos, e estamos em março, por problemas de contusões.
Então você tem uma equipe em que você não tem um substituto ideal do Pet, você não tem um Gamarra e não ter substitutos ideais para estes jogadores, porque eu pedi, eu sabia da fraqueza e pedi.
P/2 – E a prata da casa Zagallo?
R – A prata da casa não tem zagueiro nenhum, tanto que contrataram um jogador, o Max, contrataram o Rogério, mas jogadores de um porte.
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o Rogério está toda hora machucado, o Max um jogador do Friburguense de um porte de nível mais baixo.
Então as dificuldades são grandes, quando sai um.
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tem o Fernando que substituí, que é um prata da casa, mas a hora que sai um Gamarra e sai um Juan nós estamos com deficiências sérias dentro do elenco.
Tivemos uma felicidade de sermos campeões da Taça Guanabara, mas através de trabalho, de dedicação, enfrentando um Vasco bem superior e ganhando.
O próprio Fluminense com jogadores de alto nível técnico, porque nós não temos jogadores criativos do meio campo para frente, nós temos jogadores mais de aplicação, criativo nós só temos o Petkovic e se eu colocar, vamos supor, o Iranildo que é outro que sabe criar, eu perco, porque são jogadores que não são de muito retorno e eu só fico com dois cabeças de área envolvidos, às vezes eu estou com quatro estou sendo envolvido.
O time do Flamengo é união pura, é dedicação, vontade, raça para conseguir o que nós estamos conseguindo.
Eu não sei se isto valeu a pena ou não botar para fora mas eu estou colocando, apesar de nós conquistarmos uma Taça Guanabara, vamos para um tricampeonato com os mesmos problemas, evidente que a equipe ela tem que subir de produção.
Vamos tentar ver se podemos conseguir Gamarra, Edilson e Pet estarem numa condição ideal física, o Beto que está fora também porque há alternativas e nós não temos substitutos de um mesmo padrão, as vezes cai.
Então o Flamengo luta com dificuldade, luta com dificuldade, eu não podia passar em branco aqui e deixar de falar, se é uma coisa interna eu to falando to botando para fora, de coração, porque eu quero sempre o melhor para o Flamengo e gostaria de ter uma equipe mais forte.
Eu estou sempre dando apoio a todos aqueles que estão aqui e temos conseguido, porque conseguir este título da Taça Guanabara e botar o Flamengo para disputar um tricampeonato já prova o trabalho que está existindo com as dificuldades que o Flamengo está enfrentando.
Eu quero também fazer um preâmbulo, evidente que o presidente, a direção, ela não tem culpa dentro de um contexto, porque para você colocar jogadores dentro do clube hoje custa.
O Flamengo está passando por uma dificuldade em que estamos enxugando justamente para podermos sanar as dificuldades momentâneas que o clube está passando, então a situação é difícil para nós profissionais que estamos trabalhando.
As dificuldades de um presidente que está atravessando um momento de coisas que vêm acumuladas anteriormente, sabemos disso tudo, estamos fazendo o melhor.
Mas também sabemos que existem cobranças porque ninguém quer saber se o time está forte, o porquê e qual é a causa, tem que ganhar.
Eu sei disso, estamos fazendo o melhor para colaborar com toda a direção do Flamengo.
P/2 – A volta do Beto, qual foi a intenção, ele estava no São Paulo?
R – O Beto foi um jogador que estava emprestado, e eu falei o Beto.
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e o Iranildo estava na Bahia.
Como não pode contratar nem nada eu digo deixa o Beto retornar, o Beto hoje é titular, mas ele já se machucou, já deixou de jogar este último jogo, não foi para o Piauí pra jogar.
O Gamarra também já não jogou com um problema agora não sei se vai retornar ou não, porque o time ainda não pode ser escalado, uma vez sequer repeti o time, nós estamos sempre.
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E ganhamos um título graças a Deus, eu quero ver se pelo menos se nós formos disputar uma final da taça.
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Se este time está montadinho, é o melhor time para poder enfrentar em igualdade de condições.
Porque nós estamos superando, o termo é este “superação”, dando 110% cada um para poder ter algo mais, é isso aí, é o time do Flamengo hoje, então nós temos que bater palmas para os profissionais que nós temos hoje aí e que estão se superando de fato para colocar o Flamengo a bandeira brilhar.
P/2 – E você fala com os mais novos, Roma, Adriano esses jogadores que tem menos experiência?
R – Nós, eu sempre passo, converso com todos eles, entende? O que é importante, necessário e eles entendem e sabem.
O problema é você saber lidar num grupo em que todo mundo quer jogar e ficam de fora outro tanto.
Às vezes é do mesmo nível, por exemplo, você tem: Reinaldo, Adriano, Roma, Edilson.
Principalmente o Reinaldo, Adriano, Roma, são garotos formados dentro do Flamengo, são biótipos diferentes, características diferentes e que podem jogar um ou outro indiferentemente como Edilson, e agora bota quem? O que fica de fora? Então, às vezes vê um ângulo coloca e vai levando a coisa assim, porque ninguém quer ficar de fora, às vezes amarra a cara porque não botou, isso é normal.
Mas é difícil você chegar e lidar com as vaidades.
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até de braçadeira de capitão existe vaidade.
P/1 – Isso sempre houve, quer dizer, isso você vivencia agora no Flamengo, mas verificou a 50 anos atrás também, como é que é?
R – É normal.
P/1 – Existem as estrelas?
R – Isso é normal, você tem que saber lidar, ser hábil.
Tem que ser hábil, evidente que há um time titular, quando você vem de vitórias e tudo.
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é porque o Flamengo ele vem com contusões em cima de contusões, então entra um, sai outro, o time vem ganhando dentro do campeonato estadual.
Porque já no Rio-São Paulo a gente não foi bem, mas é porque é muita mudança.
Então quando você começa uma competição em que não vai bem e a outra vai bem acontece isso, você caminha bem aqui com uma equipe mesmo com modificações e com a outra você não vai bem.
Se você já tivesse uma equipe montada sem problemas de contusões e tudo você pode ir até bem nas duas competições.
Mas com problemas, eu tenho seis jogadores que estão fora por contusões, você colocar um outro time dentro de campo é difícil, é difícil porque sai da cabeça o planejamento tático, o jogador esta fora, e fora que eu digo é fora do time para entrar, está fora de ritmo de jogo, isso tudo ninguém quer saber, a torcida não quer saber, ninguém quer saber, querem saber é de resultado.
Mas a gente tem que conviver, eu botei aqui para fora conversei, mas eu sei que o treinador ele é responsável por tudo, é ótimo quando ganha e péssimo quando perde, mas a gente já esta habituado a isso tudo.
P/2 – O jogo que você falou que mais gostou de ver foi aquele quatro a zero contra o Vasco?
R – É, contra o vasco nós fizemos uma partida impecável em termos de não deixar o Vasco evoluir, sem cometer falta, mais bem posicionado, a equipe ficou excelente.
Nós tínhamos aí o Pet já numa forma boa sem problema nenhum, como hoje nós já não temos, porque desde março ele jogou só.
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P/2 – Tá sem ritmo.
R – Tá sem ritmo nenhum, naquela partida ele destruiu pela qualidade dele e a equipe atrás foi muito bem.
Então houve um desenvolvimento muito bom de um todo, apesar de tecnicamente, eu não estou fazendo demagogia nenhuma, tecnicamente a equipe do Vasco é superior a do Flamengo.
Mas o resultado foi que importou, nós ganhamos de quatro a zero, então mostra que com trabalho a gente pode conseguir, agora se me perguntar se eu quero um nível técnico superior dentro do Flamengo.
Claro porque o técnico quer sempre o melhor.
Se me deixarem escolher eu tinha colocado dentro do Flamengo uma seleção, só que não tinha condição para desenvolver este trabalho.
Então nós temos que trabalhar com os jogadores, mas o resultado tem que ser de imediato, esse é o grande problema, porque ninguém quer esperar, porque você trazer jogador de baixo tudo as coisas vão caminhando, e às vezes você não tem aquele material humano.
Você pensa pode tirar lá de baixo e colocar, não é assim.
Tem que ser com tranquilidade com mais calma e você ter um conhecimento do jogador, do atleta, como é que ele desenvolveu ali em baixo.
Eu cheguei no Flamengo, eu não vi o desenvolvimento de um jogador, por exemplo, o Cássio, saiu o Athirson, então houve uma promessa de me darem outro jogador.
Quem você quer? Ora eu comecei lá por cima, você me dá o Roberto Carlos, você me dá o Serginho, você me dá o Júnior que está lá fora, aí comecei a descer, você me dá o André Luís que está no Corinthians, você me dá o César que está no São Caetano, o Rubens Cardoso que está no Santos ou o Dutra.
Não veio ninguém.
Aí começa: botar quem, aí eu botava na lateral esquerda um lateral direito, lateral esquerdo que era o Bruno Carvalho, eu digo vou continuar como estava antes aqui.
Eu vim para quê, pelos meus belos olhos? Não, eles querem ver trabalho melhorar a coisa.
Então eu tirei o Bruno Carvalho, não vou botar mais o Bruno Carvalho de lateral esquerdo, que é que tem? Aí começa, olha vamos botar o Marco Antônio, aí eu digo, mas não dá, aí ele entrou, fez até um gol lá no campo do América, não sei se foi contra o Olaria, acho que foi contra o Olaria, não me recordo agora.
Aí ele fraturou o pé, saiu fora, vamos voltar? Aí eu digo: “não, quem é o lateral esquerdo do júnior?” Cássio.
Eu não conheço, porque quando eu comecei a minha carreira, eu comecei sendo técnico de juniores então eu levei meio time que foi campeão comigo, mas foram dois anos trabalhando comigo, eu sei quem é quem e de boa técnica.
Então eu juntei com o primeiro time aí eu fiz um timaço, ganhei tudo.
Então no Flamengo o juniores não é essas coisas, então eu digo quem é que tem? O Cássio.
Traz o Cássio vou ver ele, botei no treino, olhei, eu digo “porque não vou botar?” Vou lançar o garoto assim mesmo, já botei o Marco Antônio, vou botar o Cássio agora, vou dar moral a ele.
Então eu conversei com ele e o garoto foi subindo, aí vem “está vendo Zagallo, eu não falei.
” É gozado.
Pois, e aí nós vimos o Cássio, mas antes tinha que ver, se você perde um Athirson você tem que ter pelo menos um jogador do mesmo nível do Athirson, não é isso? Se saiu um Denílson e um Alex vai ter outros jogadores que eu possa indicar com a parte financeira mais barata mas que possa me dar um equilíbrio ao time - mas não veio.
Então eu to botando para fora, tô falando, eu também tenho que me defender, eu não falo isto para imprensa, o que eu to falando aqui eu tô abrindo o coração.
É a realidade, trabalho com dificuldade, graças a Deus o grupo é bom para trabalhar, eles se dedicam e nós só conseguimos isso devido a esse grupo que está aí, muita gente acha que não dava.
Eles falam, eu aproveito e entro e embalo lá, tão dizendo que o time do Flamengo é fraco, vocês não são de nada.
Isso para puxar o cara para morder, morder o adversário então é nesse impulso de dizer que é fraco e vai ter que mostrar dentro de campo que não é, e que a gente vai e vai somando, veio vitória, não perdemos para time pequeno, fomos somando, somando.
E a coisa vai pouco a pouco, vai evoluindo, vai aumentando a força da equipe, deu moral e nós ganhamos a Taça Guanabara, quando parecia uma coisa impossível, quando nós fomos enfrentar o Vasco e o Fluminense, nós não perdemos para time pequeno nenhum e fomos enfrentar o Vasco, já tínhamos ganho de quatro a zero, eu digo: “olha aconteceu quatro a zero, eles são melhores, não vai pensar que é a mesma coisa não, nós temos que lutar muito para ganhar este jogo e se não tiver uma aplicação, nós não vamos ganhar.
” Aí a gente foi ali, foi e acabamos ganhando o jogo de um a zero.
Aí veio o jogo do Fluminense, eu digo: “ó, é um time que tá aí, embalado, bem, eles são melhores e eu boto sempre a responsabilidade para lá.
É um bom time, tem alto nível técnico, os jogadores todos sabem jogar, nós já jogamos contra eles sabemos disso, nós empatamos em um a um e eles jogaram melhor que a gente, não fiquem pensando porque nós ganhamos de Vasco, tudo, que nós já somos campeões, não somos nada não.
” A coisa já aconteceu, o time estava certinho fizemos um a zero, depois que nós fizemos um a zero o time se perdeu dentro de campo.
Começou a encontrar facilidade, começou a se soltar e aí quase que a gente perde o jogo, se tem mais cinco minutos o Fluminense acabava virando aquele jogo, eles empataram, aí fomos para os pênaltis e fomos ganhar nos pênaltis.
Então essas coisas todas acontecem e vão servindo de exemplo para frente, para os outros jogos, e eu já botei na cabeça deles, nós temos que ganhar essa Taça Rio, temos que ganhar porque o vencedor já tem vantagem de dois empates para ser campeão.
O ruim é que nós estamos com um mundo de gente machucada, isso que me preocupa, porque nós não podemos dar a margem de perder ponto para time pequeno, o Flamengo não pode perder ponto para time pequeno.
Então nós temos que jogar com o Volta Redonda nós temos que ganhar, e as contusões elas diminuem o nosso poder.
P/2 – Como é uma preleção quando joga contra time pequeno, não dá para botar a responsabilidade no outro time?
R – Não, não aí eu passo a responsabilidade para nós.
A responsabilidade é nossa de chegar e ganhar - não tenha dúvida, agora nós não podemos deixar de ser aplicados, nós temos que jogar contra os pequenos como a gente joga diante de um grande.
P/1 – Você diz isto aos jogadores?
R – Digo, digo, evidente que sim, porque se nós nos acomodarmos as coisas são bem diferentes, primeiro: quando você joga com um grande você encontra espaço, quando você joga com um pequeno é diferente, a cobrança é muito maior, você tem a obrigatoriedade de vencer e vocês vão encontrar maior dificuldade ainda porque vocês não vão ter espaço.
Porque eles é que tão esperando, a obrigação é nossa.
Então cada coisa você vai passando e vai mudando o sentido da.
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Eu dou responsabilidade, eu boto o adversário mesmo que não seja.
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eu enalteço, às vezes eu passo a responsabilidade para ele, depende do momento, da situação.
No intervalo quando a coisa não caminha bem, que eu tenho que chegar lá, desculpe, dar um esporro daqueles para acordar.
P/1 – Você dá?
R – Dou, dou e puxo o brio porque eu já falei “já estamos ganhando e se continuar assim não vai acontecer nada, vamos perder.
” Então as coisas se modificam a toda hora, a todo instante, até ganhando você tem que falar.
Porque às vezes pode existir uma acomodação.
Está ganhando aí se fala “ah, tô ganhando.
” Não, você tem que chegar e falar “o primeiro tempo terminou, mas não terminou o jogo.
”
P/1 – Esses são momentos importantes: uma preleção, um papo no intervalo, esse técnico tem.
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R – Não tem dúvida, porque eu sou de levar botões para dentro da preleção, certo? Você leva, mostra.
Já teve jogador que dentro do vestiário não sabia o que eu tinha falado para ele do outro lado, só para você ter uma ideia, não vou falar o nome do jogador.
Só para você ter ideia das dificuldades que um treinador tem, mesmo mostrando como eu mostro botão, agora a maioria não trabalha com botão, a maioria fala.
Agora você indo mostrar com botão, você treina aí fala, vai para lá você falou três horas antes, três horas depois, o jogador não sabe o que eu falei ali naquele setor, eu estava falando para o outro lá, o outro fala, me mostra como é que eu tenho que fazer desse lado de cá.
Porque eu sou detalhista, eu sou detalhista, eu gosto das coisas.
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as ocupações de espaço elas tem que ser feitas.
A vantagem de um técnico para outro é de detalhes, é nos detalhes que você ganha, porque chegar “olha vamos atacar, vamos com sete, vamos defender com oito, defender com dez” e não sei o que.
Não, você tem que explicar o porquê e como e o que tem que ser feito se for batido.
Você não pode botar só coisas que acontecem a seu favor porque você vai vencer todas, você tem que botar dificuldade quando acontece a jogada que o fulano foi batido e não está na função o que o outro tem que fazer.
A coisa vai complicando e quando você fala muita coisa tem jogador que não guarda, entende, está no feijão com arroz como se diz, então fica difícil.
Eu por exemplo, tenho uma parte tática minha que até hoje eu não coloquei em prática.
Eu vou deixar aqui marcado assim por alto é, por exemplo, uma equipe está marcando por zona, evidente que por zona é a distância, então eu estou do lado de cá e o time adversário está marcando por zona.
Eu vou impor, mesmo que o técnico lá não queira, eu vou impor que a marcação que está sendo feita por zona se transforme em marcação homem a homem por pressão, porque há interesse meu em fazer isso.
Até hoje eu ainda não consegui botar em prática, primeiro porque isso tem que ter uma continuidade de treinamento para ser feito, porque a movimentação é um todo, não é uma movimentação de dois, três jogadores.
É uma movimentação de todos os jogadores que estão dentro de campo, dos 11, dos 10, o goleiro está lá, e depende de onde estiver o setor da bola para você chegar e fazer esta mudança.
Para você transformar isso, você tem uma obrigatoriedade de se marcar, quando você está com a posse da bola é ao contrário, tem que se desmarcar para receber, e eu estou fazendo o inverso.
Eu estou fazendo assim, você não vai entender, mas não tem problema não, eu estou explicando uma coisa que ainda não foi feita.
Mas eu sei o que eu quero e sei como fazer, mas o meu cérebro são de 11 só que lá são 11 cérebros diferentes, então para você introduzir tem que ter tempo.
Depois tem que ter vaidade à parte, coisa que numa movimentação geral é difícil de um atleta chegar e realizar.
Primeiro tem que ter inteligência, tem que ter o Q.
I.
, começa por aí para poder chegar e fazer.
Se meter uma coisa que não vai aparecer para outro, aparecer em determinados momentos onde estiver a bola, com o andamento desde a defesa até o ataque.
E quem não está aparecendo, quer fazer aquela função de não estar aparecendo? Então é complicado, é complicado, eu fui para.
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Eu já até falei assim por alto.
Olha vocês não vão fazer nada não, só estou mostrando a vocês, eu dei uma demonstração que eu sei o que eu quero para frente, mas não posso realizar.
Aqui eu estou falando assim, mas também não estou falando o que tem que ser feito, estou falando num modo geral.
Na Portuguesa eu peguei o botão, vamos para o treinamento, aí mostrei, vamos para dentro de campo não vou falar nada, vai começar o treino vocês tem que realizar, quero ver duas vezes isso durante o treino, não fizeram nenhuma vez.
O futebol parece fácil, mas não é, às vezes os caras tem gente que comenta, o treinador complica, o treinador complica.
O cara que fala isso é porque não entende de futebol, tem o microfone e fala, e fala o que não tem que falar porque é fácil, não depende de vitória, empate, derrota, não depende de nada chega lá e fala.
Aqui em baixo é bem difícil a coisa, no gramado é bem difícil, é totalmente diferente.
Até para quem já jogou e subiu e depois que descer é diferente, porque aqui você tem que ter uma liderança, você tem que saber fazer modificação de imediato, lá em cima você fala o que quer.
Não interfere em nada, problema de substituição se fez errado ou não, lá acerta tudo.
P/2 – Ninguém vai demiti-lo.
R – É isso aí, lá em cima acertar tudo é fácil.
É profissão ótima, é só saber, aí fica mais fácil.
P/2 – Uma pergunta, quando você lançou o Reinaldo num Fla-Flu na Guanabara.
Você já estava com isso na cabeça ou isso foi uma coisa intuitiva?
R – Não, estava na véspera do jogo já, o lançamento do Reinaldo para o Fla-Flu.
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P/2 – Segundo tempo.
R – Ah, você fala na mudança?
P/2 – É, quando você mandou, ele fez o gol.
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R – Não, aquilo tudo já estava em mente, os pênaltis quem ia bater, já estava tudo escalado porque eu treinei dois dias pênaltis.
E você tem que saber escolher quem vai bater, são cinco, todos poderiam bater, mas você tem que botar numa sequência aqueles melhores para aí ir diminuindo para se chegar até lá, se chegar você tem que botar os melhores.
Então quando eu botei o Reinaldo, eu estou falando isso aqui uma coisa confidencial que isso não pode ir para fora.
Quando eu comecei com o Adriano, porque que eu comecei com o Adriano, ele está sendo marcado pela torcida.
Ele pega, errou uma, vaia, duas, três, quatro, bota para vender.
Então se eu entro, deixo o Adriano no banco e começo com o Reinaldo, como é que eu vou mexer com o Adriano para entrar? Todo mundo achava que eu tinha que começar com o Reinaldo pelo treino que foi feito, tinha que ser o Reinaldo, até eu sei, só que eu penso e os outros não pensam o que eu penso.
A minha ideia vou botar o Adriano, botei já disse o porque, pênalti, quem vai bater? O Edilson estava no jogo? Estava né?
P/2 – Não.
R – Não, o Edilson tinha sido convocado?
P/2 – Seleção Brasileira?
R – É, eu falei quem é que vai bater o pênalti? Adriano ou, não me recordo agora, não importa.
Veja só, você não disse que botou o Adriano e ia tirar o Adriano e ele vai bater pênalti? Não, porque ele bate bem pênalti.
Você, se tiver nesses 45 minutos você bate, mas eu já sabia que ele não ia ficar a final, ninguém está sabendo, mas eu sei.
Eu só estava esperando o momento de mexer, ele ia sair no intervalo.
No intervalo o que aconteceu, o Ávila, foi o Ávila meu Deus? Quem é que sentiu? O Ávila sentiu uma dor de estômago e saiu, aí eu fiz uma substituição, tirei o Ávila.
Ia sair o Adriano, eu ia botar o Reinaldo, ai já mudei, voltou o Adriano, mas eu estou sabendo que ele vai sair e que o Reinaldo vai entrar porque já estava previsto por mim isto, por aquelas razões: vai ser vaiado, não sei o que.
Começo e tá, daqui a pouco começou novamente em cima do Adriano, a vaia.
Quando ele veio aqui atrás e errou, aquece o Reinaldo.
Veja só: tudo vai dentro de um segredo, de um feeling, que você sente esse é o momento.
O que aconteceu? Saiu o Adriano, entrou o Reinaldo, dois minutos e teve uma falta, ele fez o gol.
São coisas que acontecem que você tem que ter uma certa sensibilidade, ia sair, Deus não quis que saísse no intervalo, aí você é ajudado pela luz divina.
Ele ia sair aí machucou o Ávila que era uma peça importante, tanto que houve um julgamento e ele foi para jogar e acabou jogando só 45 minutos, você já perde uma substituição.
Eu daqui, isso não é hora de tirar, e se eu tiro vai acontecer aquilo? São coisas que acontecem dentro do futebol, eu achei que aquele era o momento, foi meu feeling, eu tiro, boto o cara, o cara “tum” gol.
P/2 – E o que você falou?
R – Vamos chegar lá nos pênaltis, não é isso que você quer falar?
P/2 – Não, na comemoração que saiu pulando, aí parece que você.
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R – Dei, dei porque está festejando aí o cara dá a saída lá com o pessoal.
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vai, volta todo mundo para lá rapaz, volta, vamos lá que o juiz vai dar a saída.
Alertando, ainda não tinha acabado, festejar tudo bem, mas vai ficar todo mundo se debruçando pode até machucar alguém.
Acabou acontecendo, veio o gol do empate, pênalti.
Eu já estou com os cinco para bater: Reinaldo, Cássio, enfim os que bateram não importa, daqui a pouco o Toninho preparador físico vem: “Zagallo, o Reinaldo diz que não está com confiança para bater o pênalti, muda.
” Isso é, ninguém está sabendo o que aconteceu ali em baixo, muda.
Eu olho, vejo, digo assim.
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vamos perder nos pênaltis.
Eu não posso mudar, não tenho.
Cheguei perto dele e digo: “Ô Reinaldo você está dizendo que não quer bater o pênalti? E se esse pênalti chegar até você? Porque podem bater 10 pênaltis aqui e você tem que bater.
Como é que fica? Você não quer bater?”
P/2 – Mexeu?
R – Mexi, aí: “Zagallo, deixa que eu bato.
” Quer dizer, se eu chego e vou naquilo que veio dizer, porque ele falou, eu tiro boto outro, a gente perde a porcaria por causa disso aí.
Ele era o primeiro, é a hora que você tem que ter a liderança, saber o que quer e impor.
São nesses detalhes que se vê a diferença, porque se deixa influenciar nas mexidas, substituições, eu tenho assistentes isso não é de hoje, preparador físico, todo mundo às vezes quer pôr, “bota fulano, que não sei o que.
” Eu digo: “calma não é agora, não é o momento espera.
” Eu tenho o meu feeling, colaboração eu quero sempre, mas tenho o meu feeling, isso tudo é importante dentro de uma vitória, uma mexida, uma substituição às vezes até você tirar um jogador que está jogando bem, os caras chamam de burro, mas você mexe por uma outra situação.
Futebol é isso, é gostoso por isso, é uma caixinha de surpresa e acontecem coisas que ninguém lá está sabendo, e aqui embaixo as coisas são diferentes e as coisas acontecem.
Felizmente aconteceu para o melhor e nós ganhamos o jogo.
P/1 – Bom Zagallo, eu acho que devagarinho a gente pode ir encerrando a nossa entrevista.
Eu queria te perguntar, você tem uma vida ativa como técnico ainda, mas você tem horas livres, lazer, como você usa o resto do tempo que você não está no Flamengo, fora do futebol?
R – Fora do futebol é uma vida comum, evidente que.
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os domingos você está praticamente preso a eles, a não ser que tenha um jogo sábado.
Dentro das folgas normais você vai a teatro, cinema, sai para jantares, isso faz parte do ambiente que eu vivo socialmente.
O meu hobby é jogar tênis, pratico mesmo, porque dentro de campo eu não corro, quem tem que correr é o preparador físico, são os jogadores, eu dou a orientação, fico ali conversando, não preciso estar correndo.
No tênis, justamente é o meu lazer nesse caso de parte física, para não deixar a maresia me enferrujar e a minha atividade física é essa, um lazer normal, comum só que não pode ser aos domingos.
Por exemplo, eu já não me concentro mais, eu não concentro com os jogadores, não tenho mais paciência para concentrar tanto, que todos os meus contratos há muito tempo eu digo concentração para mim não dá mais, que é assim.
Topa? Topo, então tudo bem.
Eu não concentro com os jogadores, já convivi muito como atleta, treinador, mas chegou um ponto que não dá mais.
Depois é aquilo, você começa a ter muito relacionamento, intimidade e eu gosto de ficar sempre um pouco a distância, eu converso, dou elasticidade, brinco, mas respeito é bom e eu gosto.
Isso aí eu mantenho, não tem como ser diferente, se eu sentisse que está havendo alguma coisa eu digo, não é por aí.
Porque eu comecei minha carreira como treinador e aconteceu dentro do Botafogo comigo, quando eu saí do juvenil para o time de cima.
Aconteceu primeiro foi com o Manga, treinador, nós estávamos no grande circo fazendo um joguinho que eu sempre fiz como jogador e eu estava como treinador do Manga, já tinha dois anos júnior, mas o Manga continuou dentro do Botafogo, aí ele começou numa intimidade de atleta, eu digo: “Manga eu não sou mais o jogador junto com você, aqui eu sou o treinador e comandando, você não pode chegar e.
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” Ele fechou a cara, ficou chateado porque tinha imprensa, eu dei uma chamada nele.
Quando saiu de lá eu falei, porque ele era meio bronco, eu falei aquilo ali não sou contra você, brincou agora, a imprensa está ali do lado, você fala com aquela liberdade toda, os caras vão dizer: “o Zagallo está lá, perdeu a liderança”, não sei o que, não é por aí.
Então foi bom acontecer, porque não tenho nada contra você, vamos continuar brincando sem problema nenhum, tem que ter a seriedade tudo vai ter sempre.
Agora não pode acontecer o que aconteceu de novo, essa foi uma.
A outra foi com o Gérson, o que aconteceu? Aconteceu um problema que um atleta faltou ao treinamento, não ligou, não falou nada e era um jogador sem expressão eu dei uma punição para ele.
Depois a seguir acontece com o Gérson, o que eu fiz: tirei ele do time, tinha um jogo amistoso fora, tirei ele do time aí veio o Lopes, o que foi convocado disse: “Zagallo, o Gérson gosta de você pra burro, por que você fez isso?” eu digo: “o Carlos Alberto, que era o quarto zagueiro fez e eu dei uma tirada nele, se eu deixo o Gérson fazer com a mesma atitude eu vou perder a liderança do grupo e eu estou começando minha vida aqui, como treinador, eu não vou admitir.
Ele quer falar comigo vou falar, sem problema nenhum e ele vai voltar para o time sem problema, agora eu não posso é deixar de mostrar que o que ele cometeu tinha que ser punido.
” Aí o Gerson veio falar comigo, conversei sem problema nenhum, continuou a vida que segue, mas eu tinha que me impor, como eu sempre fiz na minha vida ainda mais iniciando uma carreira.
Isso faz parte de quem quer liderar e que tem que ser líder de um grupo.
Porque treinador de futebol você perde a liderança em fração de segundo, você tem que saber falar.
Às vezes você quer falar que um jogador é melhor que o outro, mas primeiro você tem que elogiar, fala a verdade e elogia depois para não deixar cair a coisa.
Tem que ter muito tato, pelo menos eu sou assim, você vê que até com o problema do Tostão, com o problema da retina dentro de uma Copa do Mundo que eu deixei até de falar.
Eu procurava olhar para ele no olho bom, a minha preocupação de falar com ele olhando para a vista boa dele.
Porque o que acontece, você.
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por acaso ou você vai conversar com alguém se tem um defeito aqui teus olhos fatalmente vão para o defeito, isso aí é tranquilo, se o cara tem um defeito no braço você olha e fixa ali, não é isso? Então eu, dentro de um comando de uma equipe, Copa do Mundo, eu estou conversando com o Tostão o olho dele todo vermelho, congestionado como se fosse carne viva.
Eu perguntei ao oftalmologista se ele tinha um problema de enxergar ou não, ele disse que não que enxergava da mesma maneira.
O problema é triste você estar olhando para a vista dele que de fato é feio a coisa, mas ele não tem problema nenhum ele pode jogar como está sem problema nenhum.
Eu procurava falar olhando para a vista dele aqui e ele está percebendo que eu estou olhando para boa dele.
O Tostão é um cara inteligente e eu me policiava, mas isso eu, entende, eu.
Até aí os cuidados mínimos para que não afetasse psicologicamente no caso do Tostão, alguma coisa, eu tinha essa preocupação.
P/1 – Ao contrário, apoiava emocionalmente, dava um apoio.
R – Apoiava, exatamente, eu já estava dando um apoio botando ele no time e ao falar com ele.
É difícil a beça, você chegar e falar com o atleta e não olhar para a vista que ele estava com problema.
Eu sei porque eu me centralizei, preocupei com a minha atitude, agora para você dominar isso, não é fácil e eu felizmente consegui.
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não sei nem se ele sabe disso, mas uma coisa que passou comigo isso.
P/2 – Qual o seu sonho Zagallo?
R – O meu sonho? Meu sonho no momento meu filho é tricampeão.
Esse é meu maior sonho agora.
Claro, não estou botando família no jogo, família é uma coisa, estou falando na parte esportiva.
Meu sonho hoje é o Flamengo ser tricampeão vai ser o maior sonho da minha vida.
P/2 – Outro dia, outro dia não, em outros projetos a gente entrevistou o Pepe, ele falava que às vezes quando ele dorme, ele sonha lances de jogo.
Já aconteceu isso com você, depois de jogar, sonhar?
R – Não, a pior coisa para mim após o jogo é após uma derrota, não que eu me martirize num sonho, mas eu para dormir é um problema, porque aquilo vem remoendo, remoendo e para dormir é um problema sério.
A derrota ela fica atravessada, não sei com qualquer um, mas comigo.
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P/1 – Qualquer derrota, jogo comum de.
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R – Qualquer derrota, sabe, porque é uma preocupação constante.
Você joga hoje e ganha é um alívio.
Aí chega na outra semana ou no meio de semana tem jogo, você tem que ganhar de novo, se você não ganha fica naquela, perdemos, aí vem outro, se ganha não sei que, você está entendendo? Você vive, é estressante, não tenha dúvida que é uma vida de estresse.
Sem falar em termos de Copa do Mundo essa coisa toda, mas em termos de jogo a jogo, jogo a jogo, eu vivo pelo menos.
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a vitória te dá um alívio tremendo, te alivia mesmo, mas aí vem daqui a pouco tem os treinamentos, a semana e lá vem de novo o jogo, mas você fica nessa roda viva apesar de eu estar habituado.
Essa vida toda que foi minha vida de esporte, mas é a rotina que você.
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P/2 – E agora você passou por isso que o Rio-São Paulo.
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R – Exatamente, e olha, com todos os problemas, não é que a equipe merecesse perder os jogos não.
Ela não merecia perder jogos como nós perdemos, com as equipes grandes.
A equipe jogava bem, jogava bem e perdia.
Agora você conviver não é fácil, felizmente é que paralelamente nós estávamos ganhando a do estadual, isso então passou a ser um consolo, um consolo bom, porque visando um tricampeonato.
Então você tinha uma derrota, mas vinha uma vitória a seguir, vinha derrota, mas vinha uma vitória.
Ela foi contrabalanceada.
Se você está só numa competição e acontece isso, é um problema sério e psicológico para tudo, mas como era simultâneo era lá e cá toda semana.
Deu para equilibrar porque era uma derrota com uma vitória, só que.
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uma não caminhou bem e nós estamos só caminhando aqui só pensando no tri.
Você tira a reta podre, não interessa, nós estamos no tri, nosso pensamento é tri, tu vai pensar “não, outra que não tem mais condição.
” Nós temos que pensar é nessa e eu passava para o grupo, esquece, vamos nessa aqui, aqui que é importante, nós estamos no caminho certo.
Desviar do outro, não fomos bem no outro.
Aí a imprensa: “só joga contra time pequeno, contra time grande…” não tem nada a ver uma coisa com a outra, nosso caminho é aqui, nossa meta sempre foi o tri, você tira os caras para corner, eles querem é botar o lado negativo porque o que aparece é o negativo.
Você desse lado de cá tem que desvirtuar o troço e tirar da cabeça dos jogadores.
Por que nós vamos pontuar o negativo? Não, nós vamos pontuar o que está bem.
O que está bem é isso aqui, olha esqueçam isso aqui, isso aqui não vale mais, vamos nessa aqui, vamos embarcar nessa aqui que é a boa.
Você procura dar o apoio, incentivar e a gente foi e conseguimos o objetivo.
Não podia era perder as duas, nós conseguimos um.
Porque normalmente é muito difícil você ir paralelamente em duas bem.
Ainda mais com problemas.
Nós começamos sem o time gente, nós não tínhamos Gamarra, Edilson as coisas foram entrando pingada, sem condicionamento físico, um grupo bem condicionado.
Que estava entrando mal condicionado e estamos com esse problema até agora.
Mas nós vamos lá hein, com tudo isso a gente tem que superar.
P/2 – Qual o significado do Flamengo para você Zagallo, o que significa?
R – Olha, para mim, eu estive em dois grandes clubes, o Botafogo e o Flamengo.
Para mim o Flamengo foi o clube que me deu o início da minha carreira, da minha vida, apesar de eu ter começado no juvenil do América, eu joguei no juvenil do Flamengo.
Foi o clube que eu passei a torcer pela convivência, pelo ambiente, isso foi importante, jogando e conquistando os títulos, apesar de meu time de garoto era América.
Tudo isso foi formando.
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meu filho.
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eu tenho um que até é Botafogo, mas tem meu filho que é Flamengo, minhas filhas são Flamengo.
P/1 – Os netos?
R – Neto é Flamengo também, tudo é Flamengo, todos eles, aliás três, duas netas e um neto, o outro é Botafogo porque o pai está treinando o América, mas como eu estava no Botafogo e acompanhou a trajetória, aí teve uma outra influência.
O Flamengo para mim foi muito importante na minha vida, eu vou dizer também, não vou aqui dizer que o Botafogo não tenha sido.
Também foi não tenha dúvida, porque depois do Flamengo, eu passei no Flamengo de 50 a 58, fui para o Botafogo depois de 58 até 70.
Foram dois longos períodos na minha vida, Flamengo e Botafogo.
Então eu sou grato ao Flamengo e ao Botafogo.
Mas como eu estou no Flamengo eu tenho que falar é de Flamengo, então Flamengo para mim foi tudo.
O meu início de carreira como juvenil, ser tricampeão por aqui, ter a felicidade de voltar como técnico e ter sido campeão Carioca e bi da Taça Guanabara e depois novamente campeão da Taça Guanabara, eu tenho quantos títulos da Taça Guanabara gente? Eu tenho 72, 73, 84, três, três títulos.
P/2 – E 2001.
R – E 2001, aí já ia esquecendo agora recente, está vendo só.
Eu tenho quatro aqui no Flamengo e tenho duas pelo Botafogo, são seis Taças Guanabara.
E o Flamengo, eu lhe digo assim, mais uma vez sou grato porque é difícil um técnico na minha idade hoje chegar e estar dirigindo uma grande equipe.
Podem olhar por esse Brasil todo, não tem um técnico com a minha idade dirigindo um grande time.
O meu retorno ao Flamengo, eu sou grato ao presidente, ao Doutor Júlio Gomes que entrou em contato comigo, pela minha presença hoje aqui e eu já poder ter uma alegria.
Ter proporcionado já pelo menos um título da Taça Guanabara e se Deus quiser vem mais.
P/1 – Zagallo seria possível para você, são 50 anos de vivência e convivência com o Flamengo.
Você poderia montar para a gente um time ideal do Flamengo, nas posições? Quem foram os grandes jogadores? É possível?
R – É difícil
P/1 – Jogadores que te marcaram.
R – É muito difícil você chegar e abordar, porque para.
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a gente pode citar nomes e eu vou acabar esquecendo de jogadores, esta é que é a verdade.
Dar uma resposta no ar assim é mais difícil ainda porque eu vou esquecer jogadores que participaram de grandes títulos aqui.
Eu posso ir para o passado citar nomes, retornar aqui e faltar alguém que eu não tenha me lembrado.
Minha memória vai falhar e vai ficar uma coisa gravada, sem falar o nome.
Eu acho que todo flamenguista sabe quem é quem, quem passou por aqui, sabe quem ganhou título, quem foi tricampeão, quem foi campeão, quem foi bicampeão.
Na memória aqueles que conquistaram os títulos, estão todos eles gravados aí, eu não vou me esquecer de ninguém.
Eu já dizendo os títulos eu já estou incorporando, evidente que existem jogadores mais famosos da época aqui que exato dentro deste contexto de tricampeões, campeões eu não vou deixar de citar, eu já citei todos de um modo geral, mas eu posso citar.
Recente nosso que foi campeão aqui o Zico eu não posso deixar de citar, o Júnior que foi outro excepcional jogador, não posso deixar de citar o Leandro, foi um zagueiro direito, depois um zagueiro central comigo fabuloso, fantástico.
O Dida, meu conterrâneo que foi artilheiro aí do Flamengo, eu não poderia deixar de citá-lo, o próprio Evaristo que hoje ainda é treinador, está lá no Bahia que aqui fez uma boa campanha foi tricampeão também, mas eu já citei dentro do contexto.
Eu estou dizendo pessoas que apareceram mais.
Eu não quero deixar de fora mas tem gente que eu estou deixando de fora mas que não estão me vindo a memória.
Por isso que é difícil chegar e falar.
Aí eu vou lá para o passado, tem o Domingos que todo mundo fala, eu não vi jogar, não me lembro, o Zizinho, teve Vevé, Perácio, Biguá, Jaime, Bria, teve o Garcia, teve antes o Amado, um goleiro, eu era garoto ainda.
Valter, outro goleiro do passado, eu era criança você veja só, eu to vindo lá de trás.
Leonidas você vê daqui a pouco, eu nem ia falar no Leônidas, vê só como é que é a coisa.
A gente vem mais, tem jogadores vivos ainda junto do Zico.
P/2 – Joel.
R – Joel ponta direita, jamais poderia deixar de esquecê-lo.
Quem eu não posso deixar de citar mais meu Deus do céu? Pavão, Jordan.
P/2 – Dequinha
R – Dequinha meu deus do céu, é por isso que eu não gosto de estar falando nomes que a gente esquece.
Eu vou botar um que era reserva meu que eu gostava muito dele, o Babá.
P/2 – Baixinho?
R – Baixinho é, mas ativo, bom jogador.
Teve Paulinho, teve Rubens, Doutor Rubens eu já ia esquecer do Doutor Rubens pelo amor de Deus, teve o Benites, Adãozinho, Índio, quem mais meu Deus? É, agora a memória não.
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Já falei Tomires, Pavão, Jordan, Dequinha, Moacir, esqueci dele que teve até na Copa do Mundo na reserva do Didi, Henrique Frade, eu não quero fazer injustiça mais à minha memória.
P/1 – Já montou uma porção de times do Flamengo.
Então tá jóia.
P/2 – Vamos fechar, a última?
P/1 – Vamos.
P/2 – O que você achou de ter deixado o teu depoimento, sua historia de vida para o museu do Flamengo?
R – Eu acho que é importante, poxa.
Eu não poderia deixar de dar esse depoimento porque depois de morto a gente não fala.
Pelo menos dizem isso.
Depois de morto ninguém fala, porque às vezes a cultura do Brasil é assim.
Ih, o fulano morreu esquecemos de fazer com ele a autobiografia de uma pessoa famosa como fulano de tal.
Não que eu seja famoso, eu não sou ninguém, eu tive uma felicidade Deus me protegeu, fui quatro vezes campeão do mundo, tudo bem.
A cultura do nosso futebol, a cultura do Brasil é isso aí, esquecem as coisas e depois que a pessoa morre é que vão parabenizar, vão botar nome de rua, está tudo errado gente.
Aproveita enquanto está vivo para chegar e poder falar, se expressar, tirar o máximo desta pessoa seja quem for em toda área.
Não só dentro do futebol, dentro do basquete, do vôlei, enfim a política.
Eu não sou muito político, mas os homens que estão passando pela política, que deixem sua marca registrada para um futuro.
Nós precisamos que esta cultura renasça ou se não renascer que tenha, que lembrem, porque morto não fala.
P/2 – Mais alguma coisa para fechar?
P/1 – Gostaria de deixar, comentar mais alguma coisa, deixar uma ultima mensagem para os flamenguistas?
R – A mensagem que eu posso dizer dos flamenguistas, eu acho que ser Flamengo é bom demais, eu acho que todo mundo já nasce Flamengo como falam.
Os outros vão torcer contra evidente, mas os flamenguistas já demonstram a sua disposição, sua vontade desde que nascem.
Flamengo é Flamengo e esta torcida prova isto depois de adulta que no Maracanã cheio não há uma igual a ela, posso falar porque passei por um grande clube que é o Botafogo que tem uma grande torcida, que é excelente, mas igual a torcida do Flamengo não existe, é muito bom jogar pelo Flamengo, é muito bom ser técnico do Flamengo.
A minha gratidão.
P/1 – Então muito obrigada pela sua participação Zagallo.