A Gente na Copa - História da Gente que faz o País do Futebol
Depoimento de Haim Franco (Jaime)
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 18/12/2013
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV_441_Haim Franco (Jaime)
Transcrito por Karina Medici Barrella
P/1 – Haim, você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Com prazer. Meu nome é Haim Franco, na verdade Jaime Franco, que é a tradução, nascido em 16 de novembro de 1937, na Bulgária.
P/1 – Seus pais são da Bulgária?
R – Mãe nascida na Bulgária, pai nascido na Turquia, numa cidade chamada Esmirna, uma cidade importante, ele foi jovem para a Bulgária, se conheceram na Bulgária.
P/1 – Por que ele saiu da Turquia e foi para Bulgária?
R – A Bulgária esteve durante muito tempo sob o jugo turco, então era um país também interessante e toda família se moveu para Sofia, que é a capital da Bulgária. E lá cresceu, lá estudou em escola francesa, meus pais se conheceram. Minha mãe era de família tradicional da Bulgária, e meu pai, o mais velho de três irmãos que cresceram e se educaram na Bulgária até um pouquinho antes da guerra.
P/1 – E o que seus avós paternos faziam?
R – Os paternos eram empresários da área de fumo, e é onde meu pai começou essa atividade também na área de fumo, já isso na Bulgária. Não sei se interessa, os paternos, meu avô paterno faleceu cedo, o avô de minha mãe, ou seja, meu bisavô era um rabino também na Bulgária. E a Bulgária é um país que absorveu muito bem os judeus, mesmo quando a guerra se deflagrou, nós tínhamos saído uns dias antes, cuidaram muito bem. A Bulgária é um dos países que melhor atendeu a comunidade judaica na época da guerra.
P/1 – A família do seu pai era judia também.
R – Dos dois lados, pai e mãe.
P/1 – Aí a família do seu pai mudou, foi pra...
R – Bulgária.
P/1 – Para Sofia e foi lá que ele conheceu sua mãe.
R – Isso, que era nascida em Plovdiv, é uma cidade próxima de Sofia, Sofia que a gente fala em português, e dali foi para Sofia para estudar, lá se conheceram, lá casaram e tiveram dois filhos, minha irmã e eu.
P/1 – Quem que é mais velho?
R – Minha irmã, quatro anos e meio, quase cinco.
P/1 – Você ficou quanto tempo na Bulgária?
R – Na Bulgária? Um ano e meio. Eu cheguei com menos de dois anos. Eu sou de 37, a guerra em 39, nós saímos no início de 39, um pouquinho antes da declaração da guerra.
P/1 – E que lembranças você tem dos seus pais contarem, falarem da cidade, da Bulgária, desse período pré-guerra? Eles contavam histórias?
R – Desse período pré-guerra muito pouco. Na verdade, surpreendentemente eles absorveram logo o Brasil, escolheram o Brasil, talvez começar como é que a gente veio parar no Brasil, acho que essa é uma curiosidade. Havia dois grandes caminhos das Américas, Estados Unidos e Brasil. Meu pai já era uma pessoa bem sucedida na Bulgária, estava sentindo a guerra iminente, então, minha irmã tinha cinco anos e meio, quase seis, eu tinha um ano e meio, quase dois. Resolveu escolher o Brasil, diretamente o Brasil e não a Argentina, não Uruguai, não Estados Unidos, não tinha relações no Brasil, mas identificou que o Brasil seria um país do futuro. Então, resolveu vir para o Brasil, teve tempo de vender alguns bens, algumas propriedades, algumas coisas que tinha e conseguiu vir com algum dinheiro na verdade. E minha mãe, minha irmã e eu bebê, fomos até a França para acompanhar meu pai que viria sozinho e depois de alguns meses nós viríamos. Então, ele já vinha para se estabelecer e depois de alguns meses deveria nos receber. Mas com a guerra ainda mais iminente resolvemos vir do jeito que a gente estava, com o principal já, que era alguns recursos e a decisão de vir para São Paulo, assim foi.
P/1 – E por que São Paulo?
R – Meu pai pretendia crescer, ter atividades comerciais, industriais e já sabia que São Paulo era a cidade mais importante brasileira para vir para cá.
P/1 – Vocês vieram do quê? De navio?
R – De navio. E curiosamente há pouco tempo eu achei a passagem, a passagem de navio dos cinco, que vieram no navio italiano, com a data, o nome das pessoas que viajaram, muito interessante.
P/1 – Quanto tempo durou a viagem?
R – Não sei, não saberia dizer. Mas seguramente não menos de 20 dias.
P/1 – Chegaram no porto de Santos?
R – Chegamos no porto de Santos, viemos para São Paulo. Essas primeiras lembranças são menos lembranças e mais informações. Fomos para uma pensão da Angélica e dali meu pai começou a buscar algum tipo de atividade, não implantaram nenhuma atividade comercial com seu dinheiro, enfim, conseguiu um emprego, era um homem que falava diversas línguas, minha mãe também falava muitas línguas, então assim começou.
P/1 – E ele conseguiu emprego aonde? Você sabe?
R – Eu lembro do nome que era uma empresa chamada Schaible, essa lembrança, até o que fazia não sei, mas sei que foi o primeiro emprego bom e com esse emprego ele foi crescendo e pouco depois, talvez dois ou três anos depois, já familiarizado, aí começou a ter atividades comerciais para posteriormente se tornar um importante industrial.
P/1 – E aí vocês saíram da pensão?
R – Saímos da pensão, fomos para uma outra pensão maior e depois fomos para o que hoje se tornou uma rua muito interessante, que é a Rua Oscar Freire. Nós moramos em duas casas na Rua Oscar Freire e depois nos mudamos para o Pacaembu, aí já com casas compradas e numa situação bem melhor.
P/1 – E dessas da Oscar Freire você lembra?
R – Lembro das duas casas.
P/1 – Como é que era? Conta um e depois da outra.
R – Ah! A primeira era uma casa geminada, não muito grande. A segunda eu tinha menos de dez anos, era na Oscar Freire, 588, em frente era o Cine Paulista, o antigo Cinema Paulista, onde hoje é esquina da Augusta com a Oscar Freire. E ali, o cinema me traz lembranças muito gostosas de toda natureza. Primeira, é que tinha um corredor enorme e foi o meu primeiro campo de futebol. E a segunda é que o cinema tinha aqueles seriados, que eram imperdíveis, os capítulos se apresentavam, então, minha infância está muito ligada ali à Rua Oscar Freire, esquina da Rua Augusta.
P/1 – E quais eram as suas brincadeiras de infância?
R – Futebol, futebol, futebol, molecagem, esportes em geral sempre foi. Meu pai também era um apaixonado por esportes, me levou desde o início para conhecer. Curiosamente uma das primeiras famílias que meus pais conheceram quando chegaram aqui no Brasil foi a família de um que foi famoso jogador de futebol chamado Luisinho, era Luís Mesquita de Oliveira. Ele era diferenciado porque era advogado, o irmão dele era médico. Na época, em 39, 40, 41 era incomum um jogador de futebol formado em curso superior, o que continua até hoje, é muito difícil. Mas Luisinho foi um extraordinário jogador, também de seleção brasileira, de Copa do Mundo de 38, meus pais ficaram muito amigos. E ele era jogador do São Paulo, o que nos fez ficar são-paulinos.
P/1 – Você ia na casa dele?
R – Íamos. Eu tenho lembranças muito curiosas dele, Luisinho.
P/1 – Quais?
R – Uma delas, incrível, ano 46: A esposa do Luisinho, que se chamava Murila, o pai dela era um administrador do Parque da Água Branca, que era lindíssimo, então os administradores moravam no Parque da Água Branca. Uma lembrança marcante para mim foi que ia haver um jogo de decisão São Paulo e Palmeiras no campeonato de 46, e o Luisinho era um homem pequeno, de baixa estatura, curiosamente fazia muitos gols de cabeça e tal, era o capitão do São Paulo, e eu lembro da gente estar reunido lá no Parque da Água Branca, na sede do administrador, e ele ter comentado: “Olha, se nós fizermos um gol e vamos fazer, eu vou acabar o jogo, eu vou provocar uma briga e tudo o mais, vai acabar o jogo e nós vamos ser campeões”. Isso foi antes, e aconteceu exatamente o que ele falou. Renganeschi, que foi um zagueiro argentino, se machucou, na época não existia substituição, olha, isso é 46, viu, eu tenho lembrança da partida. Ele se machucou, não havia substituições na época, ele foi deslocado para uma posição no ataque só para fazer número e acabou fazendo o gol da vitória. Aí, o Luisinho provocou uma briga com o Oberdan que era o goleiro, com o Og Moreira, com Leônidas, de certa forma acabou a partida, alguns foram expulsos, ele também, e o São Paulo acabou campeão.
P/1 – Você estava no estádio?
R – Estava no estádio. Não perdia jogo desde meus três, quatro, cinco anos de idade. Meu pai me levava e foi isso que, acho, que me influenciou a ter paixão pelo futebol que hoje, passados mais de 70 anos continua intacta.
P/1 – Você escutava pelo rádio também?
R – Sempre com radinho, era um radinho de pilha. Eu tenho lembrança do radinho mais para frente. Aí, eu estava mais preocupado em ver tudo e tal e não acompanhar necessariamente a partida em si, mas era o clima, era tudo.
P/1 – Do que você vai gostava no estádio?
R – Eu ia muito ao Pacaembu, aquela concha acústica me encantava. Os estádios viviam lotados. E com o Luisinho e tudo o mais nós tínhamos muita intimidade com os jogadores, então, desde criança o jogador era uma pessoa, de certa forma, próxima. Isso que me encantava.
P/1 – Que outros jogadores você conhecia?
R – Ah! Todos, todos. Os da época, King, Piolim, Renganeschi, Zezé Procópio, Zarzur, Noronha, isso estou falando no início dos anos 40. Luisinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal, depois Teixeirinha. Então, essa foi a equipe que mais deslanchou, que mais me emocionou, e daí para frente não parei de acompanhar o meu São Paulo, a seleção brasileira, todas as partidas de futebol e todos os esportes. Na verdade, desde o boxe, luta greco-romana, tênis, basquete, vôlei, atletismo, eu sou apaixonado.
P/1 – E essa influência veio pelo seu pai?
R – Veio pelo meu pai, basicamente o futebol. Mas eu não saberia dizer o que me levou tanto para os esportes e eu acabei desempenhando algumas funções como eu fui presidente do Conselho Regional de Desportos do Estado de São Paulo no momento que fui convidado pelo governador, pelo então secretário para cuidar de todos os esportes, mas na época eu já era apaixonado por diversos e praticava diversos.
P/1 – A gente vai chegar aí. Você disse que você jogava bola onde?
R – Eu joguei bola, primeiro na várzea. Aí a comunidade...
P/1 – Com quantos anos?
R – A vida toda. Pela escola, pela faculdade.
P/1 – Mas quando você era pequeno você tinha um time de várzea.
R – Time de várzea. Nós jogamos, como eu disse, primeiro era com sete, oito anos, nove anos já era ali o Cine Paulista. Na Rua Oscar Freire e na Rua Canadá, duas ruas importantes hoje, existiam diversos campos. Então, nesta fase de até dez, 11, 12 anos eram esses campos menores, dali para frente equipes de várzea até que aos 16, 17 anos eu fui jogar pela primeira vez na comunidade judaica, tinha uma equipe chamada Macabi. E lembro que eu fui convidado para ir jogar, quiseram me colocar nos da minha idade, eu tinha 16 para 17, mas já era hábil, então disse que não queria jogar com os jovens, queria jogar com os adultos. Me colocaram com os adultos, porque o jogador que jogava na posição que eu jogava esse dia não tinha ido. Lembro bem que no meu primeiro jogo com a equipe principal eu fiz seis gols e nunca mais saí. Aí, eu passei a jogar pelo Macabi, nós fomos a Israel participar das macabíadas, eu era capitão da seleção brasileira. Aí, depois eu joguei na seleção universitária aqui, embora estivesse fazendo a GV, a GV tinha pouquíssimos alunos, eu era tão apaixonado por futebol que criei na GV, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, não gosto do ‘eu criei’, mas na verdade foi a criação da Associação dos Alunos da GV. No primeiro e segundo ano nós tínhamos menos de 100 alunos na faculdade e nos inscrevemos em todas as competições da FUPE. Então, cada um de nós tinha que participar de esgrima, de futebol, de vôlei, de basquete, porque num grupo de uns 80 alunos, tinha uns dez, 15 que praticavam esporte regularmente e esses dez, 15 faziam todos os esportes. Então, foi muito gostosa essa época da GV.
P/1 – Posso voltar só um pouquinho?
R – Lógico.
P/1 – Vou voltar um pouquinho para a sua infância. Como era na sua casa, quem exercia a autoridade, seu pai ou sua mãe?
R – Ah, meu pai, duríssimo, pessoa muito forte. Minha mãe, a verdadeira Amélia, minha irmã e eu morríamos de medo do meu pai. Era uma pessoa boníssima, mas muito forte. E ele se tornou um empresário muito bem sucedido, muito respeitado.
P/1 – Como que ele foi crescendo?
R – Ele era um homem muito qualificado e muito determinado. Ele não veio com uma mão na frente e outra atrás, como eu disse lá atrás, ele foi arrumar um emprego até se habituar aos costumes do país, entender bem o país. Aí, começou a abrir atividades e depois chegou a montar um grupo industrial que teve quatro mil empregados.
P/1 – Qual que é o nome do grupo?
R – Vigorelli. Vigorelli da família foi fundada por meu pai e depois por um irmão dele, Peppo, Giuseppe. E de uma fábrica de máquinas de costura que foi a origem, virou fábrica de máquinas operatrizes, fundição, artefatos de madeira, casas pré-fabricadas, barcos de pesca, cem mil coisas, virou uma referência nacional. E aí, o meu pai também se tornou muito importante na política, ele era um homem intelectualmente forte, empresarialmente forte, então a minha juventude, mais do que a minha infância, a minha juventude, foi muito ligada a políticos. A casa do meu pai era um centro que recebia o Juscelino para dormir em casa, o Lacerda para dormir em casa, papai era o melhor amigo do Jânio, o Jânio Quadros foi meu padrinho de casamento. Então, meu pai era um homem muito importante, mas que não exercia política do ponto de vista partidário, atividade, mas o mundo político girava em casa. Então, eu cresci neste meio, com Juscelino, com Lacerda, com Jânio, com milhões de políticos importantes. Meu pai tinha programas de televisão, eu lembro que uma ocasião um deputado brasileiro apresentou um projeto para instituir no Brasil a pena de morte, essa lembrança eu tenho muito forte na minha juventude, meu pai era totalmente contrário, como um homem muito intelectual lembrava de muitos erros judiciários, então ele implantou um programa de televisão, Os Grandes Erros Judiciários da História, contratou um dos melhores professores da Faculdade São Francisco, que fez os estudos completos e teatralizou. Então, o importante desse programa era mostrar que executar um inocente era um crime sem perdão, porque não tinha retorno, então ele queria defender, ele queria combater a pena de morte.
P/1 – E quem apresentava o programa?
R – Era na TV Tupi, quem produzia era um professor fantástico chamado Soares de Melo e meu pai ficou muito amigo do Ministro da Justiça, de todo mundo. Eu me lembro, você vai lembrar, acho que todos vão lembrar do bandido da Luz Vermelha, foi o Caryl Chessman, foi um caso famoso, um dia meu pai resolveu: “Olha, esse é um caso interessante”. Se ele era realmente o bandido, leu alguma coisa, depois o sistema penitenciário americano que possibilitou uma série de prorrogações da execução do Caryl Chessman, meu pai falou: “Eu acho que eu vou até lá para conhecer esse cara, eu quero conhecer”. Como era um empresário muito forte, nós chegamos a ter, só na TV Tupi, 13 horas de televisão por semana de patrocínios da Vigorelli, eram jornais, mesas redondas. Então, ele pegou os jornalistas e o jeito dele, que era um homem tão forte, então ele acabou indo onde queria e ele chegou a sentar na cadeira elétrica para ver o que era, foi entrevistar o Caryl Chessman, ficaram amigos. Lembro que meu pai não se convenceu que ele era inocente, mas se convenceu que era um homem recuperado. Então, ele fez de tudo para salvar o Caryl Chessman, além de empresário, então ele conseguiu, o Eisenhower veio ao Brasil, ele conseguiu colher um milhão de assinaturas pedindo clemência, trouxe ao Brasil depois de entrevistar, fotografias, filmagens e tudo o mais. Aí, passou a se corresponder com o Caryl Chessman, trouxe ao Brasil uma ministra da Justiça, doutora Ana Cross, você está me puxando pela lembrança algumas coisas, a advogada do Caryl Chessman, que era Rosalina não sei o quê, trouxe todas essas ao Brasil, trouxe a mãe do Che Guevara, mesas redondas. E ele passou a ser convidado, não era advogado, era economista, passou a ser convidado para fazer palestras contra pena de morte.
P/1 – Ele aparecia no programa?
R – Aparecia. Ainda de vez em quando cometia um pequeno erro de português, mas no início da nossa conversa você perguntou se conversamos muito sobre a Bulgária. Não. Meu pai e minha mãe se abrasileiraram logo, viraram brasileiros fanáticos, brasileiros mais fortes do que qualquer brasileiro nato.
P/1 – E tinha alguma comida típica de lá que sua mãe fazia?
R – Tinha. Dizem que uma das razões da longevidade é o iogurte de lá. Outra coisa, há plantações de rosa, roseirais, por toda a Bulgária em que o cheiro fica nos ares e as rosas são usadas para perfumes, para geleias. Então, isso tudo se tornou público para nós muito mais à frente, porque os valores deles eram Brasil, Brasil, Brasil, aqui que tiveram todas as oportunidades. Eu não era nascido no Brasil, como conversamos, nasci na Bulgária, quando eu fiz 18 anos meus pais já eram brasileiros naturalizados, meu pai me emancipou, embora nascido na Bulgária eu era cidadão italiano, como nós somos judeus da ala sefardita, que foram expulsos da Espanha nos anos 1500, foram em primeiro lugar para a Itália, então desde aquela época se mantinha a cidadania italiana. Então, meu pai nascido na Turquia, minha mãe nascida na Bulgária, minha irmã e eu nascidos na Bulgária, todos nós viemos ao Brasil como cidadãos italianos, embora nascidos na Bulgária, minha irmã e eu. Assim quando fiz 18 anos, meus pais já brasileiros naturalizados, me emanciparam, então eu ganhei a maioridade e em me emancipando eu optei pela cidadania brasileira. Essa é uma figura que existia na constituição, não existe mais hoje, ou é brasileiro nato ou é brasileiro naturalizado. Eu sou brasileiro por opção, no momento que eu optei eu tive que abrir mão da nacionalidade italiana e búlgara, então, passei a ser só brasileiro. Então, com os 18 anos eu me emancipei, e aí eu também era tão brasileiro que eu quero crer que eu tenha sido o primeiro brasileiro não nato a fazer serviço militar. Eu fiz o CPOR, porque eu já era universitário, fiz Cavalaria, que eu adorava Cavalaria e lá no CPOR tinha todos os esportes que me encantava. E depois eu estagiei para me tornar tenente, então sou o primeiro brasileiro não nato a ser brasileiro, o que já era de sentimento, coração. E se joga Brasil e Bulgária eu quero que ganhe de dez a zero mesmo, essa é uma etapa gostosa.
P/1 – Jaime, você teve educação religiosa?
R – Light.
P/1 – Que costumes vocês seguiam?
R – Judeu dos dois lados, pai e mãe. Minha mãe, um avô, portanto meu bisavô foi rabino, então minha mãe tinha mais tradições do que nome, mas desde cedo eu comi carne de porco, camarão, adoro. Então, nós somos light em que sentido? Os valores judaicos básicos respeitados, e datas importantes, o ano novo que se chama Rosh Hashaná e o dia do perdão, Yom Kippur, e pouca coisa mais do que isso. Na verdade, a minha convivência era muito mais no mundo não judeu do que no mundo judeu, mas sempre me identificando, nunca escondendo, nada disso. E por acaso, o lado da que é a minha esposa, eu casei com 31 anos, vivi bem antes de casar, ela também tinha as mesmas características, pai e mãe judeus, ela judia, mas bem light. A maioria dos nossos amigos eram não-judeus. E minhas filhas foram criadas da mesma forma que nós, bem light, como a gente diz. Aliás, na linha judaica tem três segmentos, os super-ortodoxos, os totalmente lights e os médios, nós éramos mais da linha light, tanto minha mulher quanto eu. E criamos três filhas, as três casaram com judeus sem que nós conduzíssimos, não fizéssemos nenhum esforço nessa direção, e os maridos são mais religiosos do que elas. Hoje nós temos muitos amigos da comunidade judaica, na comunidade laica, como se diz, mas curiosamente filhos e netos estão mais para a linha judaica.
P/1 – Voltando um pouco atrás. E a escola, com quantos anos você entrou na escola?
R – Desde cedo. A primeira escola, Externato Meira na Rua Padre João Manuel, como nós morávamos já na Oscar Freire, Externato Meira ali na Padre João Manuel. Depois, Externato Nossa Senhora de Lourdes, foi uma escola maravilhosa na Rua Bela Cintra, isso até os nove, dez anos. Depois já Mackenzie, Mackenzie eu não tinha idade para entrar no ginásio, então eu tinha que fazer na escolinha americana o quinto primário e dali ginásio e colegial Mackenzie para depois fazer a GV.
P/1 – Do que você mais gostava na escola?
R – Eu sempre fui bom aluno, mas não era dos mais estudiosos, nem pretendia ser dos mais inteligentes, eu apenas era um pouco atento na escola. O que eu mais gostava, dos amigos, das molecagens e do esporte. Uma das grandes vantagens do Mackenzie era uma das poucas escolas, na época, que tinha espaço, campo de futebol e outras coisas, e eu fazia parte das seleções e tal, porque era bem jeitoso.
P/1 – Que lembranças você tem desse período da escola? Do externato até antes de ir para o Mackenzie.
R – Os amigos, os professores, as bagunças. As memórias, eu tenho algumas gostosas, eu consigo, meu Deus, lá se vão mais de 60 anos e eu ainda sei o hino de cor do Mackenzie.
P/1 – Como era o hino do Mackenzie?
R – (canta): Mackenzista com todo fervor, irmanados no mesmo ideal, entoemos o hino de amor, estudar, estudar é o lema. Na grandeza da fé, do valor, aprender, aprender é a lida, que enobrece e conduz à vitória, pela honra da pátria querida. Entoemos o hino de amor. Mackenzie! (risos).
P/1 – E você jogava futebol na escola?
R – Jogava. Eu era muito bom para o nosso nível. Se eu tivesse tido uma infância com menos recursos e um pai menos possessivo, eu tinha qualidades para ser profissional. Tanto que bem posteriormente, quando eu terminei a faculdade, que eu fui fazer pós-graduação na França, acabei jogando profissionalmente lá e eu era considerado como bem talentoso. É um das coisas que eu me arrependo, não ter forçado um pouquinho a barra para... Eu consegui jogar no Pacaembu, eu consegui jogar no Morumbi, não joguei no Maracanã, mas joguei em outros campos do Rio, então eu joguei no...
P/1 – Mas jogou por esse time que você era na França?
R – Pela França era uma equipe profissional, era a melhor equipe da época, era o Racing Club. Eu estava fazendo pós-graduação, mestrado, mas lógico tinha que levar chuteira. Levei, um dia eu falei: “Meu Deus, eu estou tendo um pouquinho de tempo, vou lá com a cara e a coragem”. Fui, me apresentei, treinei, gostaram, aí fiquei jogando. Ali não tinha pai nem mãe para impedir, estava livre, leve e solto, fiz teatro, fiz de tudo nessa época da pós-graduação na França.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. Quando você era criança ou adolescente, o que você queria ser quando crescesse?
R – Jogador de futebol ou cantor, uma dessas duas. Aí, meus pais já tinham transformado a atividade comercial em atividade industrial, a coisa foi num crescendo. Trabalhar, na verdade, eu tinha algumas facilidades, com meus pais falando muitas línguas, na nossa fábrica vieram muitos engenheiros de fora. Os meus ouvidos sempre foram habituados para francês, para inglês, para italiano, para espanhol e tal. Então, sem ter me aprofundado a não ser, no inglês que quando eu fiz a GV, boa parte dos professores eram americanos e boa parte da bibliografia era em inglês, então a gente tinha que ter um inglês pelo menos razoável. O francês, um companheiro e eu, quando terminamos a faculdade, ganhamos bolsa de estudo do governo. Eu poderia me permitir de ir, mas eu, enfim, com esse colega nós éramos bons alunos e conseguimos ganhar uma bolsa do governo francês muito boa. E um prazer meu foi de ter levado bastante dinheiro de casa, porque eu tinha uma posição privilegiada, eu não usei o dinheiro, eu trouxe integral de volta, eu consegui viver com a bolsa que eu recebia lá. Era uma bolsa técnica e isso foi gratificante para mim, conseguir estudar, me manter na França sem precisar do dinheiro de casa, isso foi uma libertação.
P/1 – Qual a primeira Copa que você lembra?
R – 50. Em 50 eu tinha 12 para 13 anos.
P/1 – Você assistiu onde?
R – Depois de 38 e com a guerra até 45, foi interrompida a Copa. A primeira Copa foi a de 50.
P/1 – Você tinha...
R – Doze anos. Não tinha feito 13 ainda, estava 12 e meio faltavam três, quatro meses para completar 13 anos. Então lembro, eu era um bom aluno, era um bom filho, fiz um pedido a meu pai que eu queria ver a maior parte dos jogos no Brasil “Deixa comigo”. Então nós assistimos quase tudo. Ele conseguiu o que queria melhores ingressos, tinha amigos em todo lugar. Nós perdemos a primeira partida que foi Brasil e México, se não me engano 4 a 0 Brasil. Depois o Brasil veio jogar uma partida em São Paulo, jogou contra a Suíça, a seleção foi transformada numa meia seleção para atender um pouquinho São Paulo, colocando alguns jogadores de São Paulo que não eram os titulares. Não foi uma boa apresentação.
P/1 – Tem alguma cena que tenha te marcado, alguma jogada?
R – Não. Nós ficamos até o fim da partida, lembro que já estava quase todo mundo saindo com a vitória do Brasil, embora apertada por 2 a 1, quando no finzinho do jogo, faltando dois, três minutos, a Suíça empatou. Então, isso foi uma grande frustração, mas foi totalmente superada, porque nós fomos para o Rio e aí o Brasil teve o primeiro grande jogo com a Iugoslávia, antiga Iugoslávia, que era considerada uma das melhores seleções. E aí eu tenho a primeira lembrança marcante, que o Maracanã não estava totalmente pronto e a Iugoslávia tinha o melhor jogador, que era considerado um dos melhores da Europa, chamava Mitic, se escrevia Mitic. E no momento em que a Iugoslávia foi entrar em campo esse rapaz entrou no túnel, tinha ainda ferros e não sei o quê, ele bateu a cabeça e abriu a cabeça. Abriu, não existiam substituições na época, então teve que interromper a entrada para o início do jogo. Ele voltou para o vestiário, não existia substituição, não tinha como e ele era o melhor jogador do time, deram um monte de pontos e aí ele entrou com a cabeça enfaixada e assim jogou. Foi considerado talvez o melhor jogo da Copa. O Brasil ganhou de 2 a 0. Depois assistimos Brasil e Suécia, 7 a 1, Brasil e Espanha, 6 a 1. E aí fomos para o Uruguai, o modelo da competição era diferente.
P/1 – Quem que ia aos jogos? Você, seu pai?
R – Meu pai, eu e meu pai levava um monte de amigos. E era tão engraçado, ele tinha uma personalidade tão forte que, digamos que ele tinha cinco ingressos, ele levava dez pessoas. Mas isso é um registro que eu tenho, aí não existiam as catracas, eram pessoas que pegavam os ingressos e ele sempre era o último e ficava com os bilhetes. Aí ele fazia para todo mundo, vão entrando. Aí a gente ia entrando, quando chegava: “Mas como passaram?” “Eu não conheço, os que estão comigo são esses”. E era o que era, e não tinha jeito e nós entrávamos e assistimos a todas as partidas, até a última, que foi desesperadora.
P/1 – Essa do Uruguai?
R – Desesperadora. Com o empate, nós sabíamos que tínhamos uma boa seleção. O empate com a Suíça ficou uma interrogação. Com a exibição com a Iugoslávia e as mega exibições, quer dizer, a equipe foi se encontrando e se fortalecendo, nós tínhamos certeza que seria mais uma goleada contra o Uruguai e bastava o empate. Porque na época não era como hoje que vão dois finalistas, na época o sistema era que chegavam quatro às finais e jogavam entre si, Brasil ganhou de seis, Brasil ganhou de sete, Uruguai tinha empatado uma das partidas. Então, na final de Brasil e Uruguai bastava um empate para o Brasil ser campeão, uma equipe muito mais forte que o Uruguai. Primeiro tempo 0 a 0, segundo tempo fazemos 1 a 0, quando bastava o empate, ah! Já éramos campeões. E aí vieram os dois gols do Uruguai, desesperador, eu chorei meses. Outra cena que eu lembro, um que meu pai disse depois que era um deputado, fulano de tal, não lembro o nome agora, na saída do estádio, pegando pedras que estavam no chão e batendo na cabeça, eu vejo essa fotografia. Eu tinha um primo, tinha porque esse primo faleceu num acidente de avião, quando vieram da Europa pouco depois de nós, eles não puderam vir direto para o Brasil então foram para o Uruguai. Uma irmã desse primo meu nasceu no Uruguai e eles ficaram uns dois, três anos no Uruguai. Então, esse primo meu ganhou, se apaixonou pelo Uruguai. E na final, eu estava no Rio com o meu pai, mas o jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, tinha feito uma promoção para ver quem acertava o resultado do jogo, e esse primo meu ganhou. Ganhou porque colocou 2 a 1, porque ele torcia para o Uruguai. Eu fiquei meses sem falar com ele, virou um inimigo público por torcer pelo Uruguai. Eu lembro de tudo como se fosse agora, a equipe do Uruguai campeã do mundo, Máspoli, Matias Gonzáles e Tejera; Gambetta, Obdulio Varela, Rodríguez Andrade, Ghiggia, Julio Perez, Míguez, Schiaffino e Vidal, e nessa partida jogou o Morán. Lembro de tudo, lembro da Espanha, de quem ganhamos de seis, tinha uma música fantástica na época, As Touradas de Madri, e um, dois, três, cada gol que o Brasil fazia a torcida inteira cantando As Touradas de Madri. E a Espanha, 50, Ramallets, Alonso e Gonzalvo Segundo; Gonzalvo Terceiro, Parra, Puxades, Basora, Igoa, Zarra, Panizo e Gaínza. Tem algumas coisas que me marcaram, essas são algumas e não me esqueço dessa Copa que o Brasil perdeu para ganhar muitas outras depois. Em alguns momentos da vida a gente precisa aprender a perder para sair fortalecido.
P/1 – E depois, as outras Copas você assistiu a todas.
R – Eu fui a diversas. Não todas, hoje eu estou um pouquinho mais acomodado.
P/1 – Qual outra que te marcou?
R – 54 eu não fui. 58 também não, mas 62 eu tenho lembranças fotográficas de tudo.
P/1 – Quais são as lembranças?
R – Estão até num livro, não sei se vocês chegaram a ver, se conheceram, o Roberto Regis Velludo Macedo, dono da Churrascaria Rodeio. Ele foi um amigão meu, tivemos parte da nossa juventude juntos. Fizemos o serviço militar, o CPOR, a Cavalaria juntos. Ele faleceu há um ano e os filhos lançaram um livro que ele queria, ele queria escrever um livro, não deu tempo e os filhos tomaram a iniciativa. O livro é uma coletânea de depoimentos dos que viveram próximos dele, e os quatro, cinco, seis primeiros capítulos são da nossa vida no CPOR e as Copas do Mundo de 62 e 66, que aí eu tenho fotografias curiosas. Em 62, boas lembranças, o Roberto e eu, ele era mais conhecido como Velludo, nós invadimos os campos em todas as vitórias do Brasil. Nós carregamos os jogadores nos ombros, nós estivemos na volta triunfal, tinha cachorros dentro que corriam atrás da gente.
P/1 – Como foi? Como vocês entraram? Conta desde o começo.
R – Primeiro, nós éramos muito amigos das seleções. Então, nós vivíamos no mundo do futebol, o Roberto também e eu, e nós fizemos uma equipe brasileira no Chile. O Roberto e eu éramos bons jogadores e acabamos descobrindo diversos amigos ou conhecidos: “Você joga?” “Jogo” “Que posição?”. Formamos um time e chamamos de Everton Brasil, porque um dos companheiros nossos, um tio dele chileno era diretor de um clube de Valparaíso que se chamava Everton. Então, nos arrumou uniforme e onde o Brasil treinava nós desafiávamos equipes de lá, então nós dizíamos que a seleção brasileira fazia a nossa preliminar. Nós éramos amigos de todo mundo, o Brasil treinava e depois nós jogávamos e ficamos invictos, deu para montar, de repente, uma seleção fantástica, e jogávamos sempre. E como éramos amigos de todo mundo, dos jogadores, comissão técnica e tal, mas nós pulávamos o alambrado, éramos pessoas apaixonadas. Então nós pulamos no estádio, em Viña Del Mar, em Viña onde o Brasil jogava e no estádio de Santiago, na semifinal e na final nós invadimos, não tinha quem conseguisse nos segurar. Então, nós temos lembranças de brigas homéricas...
P/1 – Mas aí vocês entraram para dar a volta olímpica? Como é que foi esse episódio?
R – Carregamos jogadores. Até recentemente eu tinha a fotografia do Gilmar no meu ombro sendo carregado.
P/1 – Você tem imagens? Fotografias das copas?
R – Sabe que não? A gente não tinha o hábito de fotografar, quase que tudo registrado na cabeça. Lembro que minha mãe, que também adorava futebol, foi na Copa de 62, os pais do Velludo foram na Copa, esse primo meu uruguaio que faleceu foi na Copa. Nós tivemos brigas em boates, nós tivemos briga de toda natureza, porque ninguém conseguia nos controlar. Na Copa do Mundo de 66, depois da Inglaterra, aí temos passagens, essas estão registradas nos livros. Em 66, nós fomos juntos também, um grupo de amigos, para Londres. Nós tínhamos muitos negócios na Itália, então sem nenhum esnobismo a gente tinha um carro bonito lá, que era uma Mercedes branca em Milão. Então, com o Roberto e outros amigos nós pegamos o carro e fomos subindo e fomos de carro lá para Londres. Então, nós temos lembranças gostosas, nós queríamos muito e entre as partidas, as boates mais famosas de Londres que era do Playboy Club. E aquele cantor Agostinho dos Santos, que faleceu num acidente em Orly, chegando no aeroporto, era meu afilhado, eu tinha sido padrinho de casamento dele, nós éramos muito amigos, e o Agostinho vinha de navio e nós fomos de avião até Milão e depois fomos de carro para Londres. E na época fazia muito sucesso aquele filme Orfeu da Conceição, Orfeu Negro, em que a música era cantada pelo Agostinho. Então, para nós irmos ao Playboy Club lá em Londres, no início tinha alguma dificuldade para gente entrar, mas o Roberto era muito habilidoso, então ele conseguiu nos colocar a primeira vez e depois Agostinho chegou, e aí, nós contamos que o cantor ia chegar. A partir daí passamos a sermos os favoritos do clube e nós ficávamos na cola do Agostinho (risos), ele cantava e nós paquerávamos as meninas do Playboy Club. Mas foi tudo isso muito gostoso, uma lembrança. Você deve se recordar daquele ator muito bom, que fazia jeito de mau, Lee Marvin. O Lee Marvin, ele estava nessa época em Londres, ele tinha feito, não sei se lembram, um filme Cat Ballou, com a Jane Fonda, que ele dá uma de bêbado, o cavalo abaixava, ele vivia bêbado e era assim que ele se apresentava, o mesmo jeitão bêbado. E passagens curiosas de Londres, tinha muito brasileiro, o Brasil jogava em Manchester e Liverpool. Muita gente veio em excursões de empresas que promoviam, então a forma dos torcedores irem de Londres para Manchester, a melhor forma era ir de trem, então os brasileiros conseguiram atrasar os trens em Londres. Porque alguns chegaram na estação, enquanto não chegavam todos os outros eles não deixavam os trens saírem. Brasileiros pulavam nos trilhos e diziam: “Não sai daqui o trem enquanto não chegarem todos os meus amigos” e não sei o quê. E nós íamos com o carro que estávamos, então mais uma lembrança gostosa, fomos para Manchester, vimos o primeiro jogo Brasil e Bulgária, que o Brasil ganhou de 2 a 0 e aí ia jogar depois em Liverpool que é perto de Manchester. Então, nós estávamos em quatro amigos, vamos ficar por aqui, não vamos voltar para Londres, vamos procurar um hotel. Procuramos em Manchester, nenhum lugar para dormir. “Bom, vamos para Liverpool, já ficamos lá onde o Brasil vai jogar”. Procuramos hotel, não tinha nenhum. E Liverpool, o lugar dos Beatles e lugar dos caras que usavam casacos de couro e que eram violentos. Então como é que quatro caras vão ficar se não tem um lugar para dormir. Paramos o carro na praça mais iluminada de Liverpool e ficamos duas, três noites, quatro homens, barbados, dormindo dentro dos carros, sem respirar, com janela fechada, com medo dos caras de casaco de couro que vinham nos atacar. Enfim, mais uma passagem, e mais um detalhe marcante, quando o Brasil perdeu nós não conseguimos ficar lá, Roberto e eu fomos então depois para Nova York, e aí temos uma passagem que nos marcou muito. Nós tínhamos ido com duas meninas a uma boate, que era uma boate da época, ela pertencia à que tinha sido esposa do Richard Burton, era Sybil Burton, era a boate mais famosa de Nova York. Fomos, estamos com umas namoradinhas ou qualquer coisa lá, de repente vemos dançando dentro dessa boate a Jacqueline Kennedy, do lado, mais perto do que nós estamos. O Kennedy era o meu ídolo e era o do Roberto e a morte dele para nós foi terrível, era o líder da nossa geração. E de repente ver a mulher dele, até aí nada demais, mas estava com um garotão bonitão, mas com idade para ser filho dela no maior amasso e tal, na boate pública, coisa que nos marcou. E lembro de estar conversando com a menina americana, o que é isso? E a resposta dela: “This is America”. Foi uma coisa chocante para nós, entre as quatro paredes faço o que quiser, mas ela era uma mulher pública, para gente não podia. E nós tivemos esse registro. Essas duas Copas marcaram a nós.
P/1 – Tinha algum jogador que era seu ídolo nesse momento?
R – Ah! Pelé. Pelé, Pelé, Pelé. Eu acompanhei toda a carreira do Pelé. E embora fanático a vida toda que eu fui pelo São Paulo e que continuo a ser, sou um conselheiro atuante, sou sócio número 50 do São Paulo, tenho contribuições relevantes para o São Paulo eu não perdia jogo do Santos. Eu queria que o São Paulo ganhasse sempre do Santos de 6 a 5 e que o Pelé fizesse os cinco gols. Numa fase em que o Santos estava melhor eu não perdia jogo do Santos, eu ia a Santos, eu ia atrás do Santos para ver o Pelé. Então, Pelé é imbatível e acompanhei a vida, mas tal paixão que acompanhei todos os jogadores. Uma passagem gostosa, voltando um pouquinho para trás. Como meus pais ajudavam, eu era jovem, quando aos 27, 28 anos tive uma contusão muito forte, uma ruptura do tendão de aquiles e tive que tirar um pedaço da coxa, fazer um enxerto e tal, aí, eu parei de jogar futebol, não era mais profissional, jogava me divertindo, então me tornei diretor do futebol amador do São Paulo. E aí, nós morávamos numa casa grande na Avenida República do Líbano e tinha uma área grande atrás, minha mãe sempre recebia meninos de fora, os mais talentosos moravam em casa e ela cuidava como meninos especiais.
P/1 – Como assim, não entendi.
R – Jogadores com futuro, mas na chamada futebol de base, 17, 18 anos e tal, sempre dois ou três meninos moravam em casa e minha mãe que cuidava com os sobrinhos ou coisa que o valha. E uma passagem curiosa é que eu disse que o Jânio era meu padrinho e papai era o melhor amigo dele. Então uma ocasião eles foram viajar, Jânio e dona Eloá, fizeram mil viagens com meus pais juntos, mas foram viajar com os pais da dona Eloá. E eles deixaram um carro, a garagem era grande de casa, um fusquinha deles, do seu Paulo, o pai da dona Eloá, lá em casa. E os meninos que moravam em casa um dia pegaram o carro, roubaram e bateram o carro (risos) e quase que arrebentaram. Então, tem que arrumar o carro até voltar e esconder as batidas e coisa que o valha. (risos)
P/1 – E você ajudou a consertar?
R – Lógico (risos). Acobertar, esconder. Mas o menino que dirigiu, estimulou e não sei o quê, pela ousadia, não que eu quisesse, mas foi mandado embora do São Paulo (risos) pela irresponsabilidade.
P/1 – Esse foi o seu primeiro cargo dentro do São Paulo?
R – Como dirigente do São Paulo, primeiro futebol amador, eu tinha menos de 30 anos. Então, eu passei a viver bastante essa fase, muito gostosa, e posteriormente eu vim a ser diretor de futebol do próprio São Paulo.
P/1 – Quando você virou diretor de futebol?
R – Do São Paulo, 78, 79, Diretor de Marketing em 80, 81, Diretor de Futebol. E tenho alegria de considerar que na época, de ouvir até hoje, que foi uma revolução o que conseguimos fazer. Eu era formado pela GV, eu tinha uma boa experiência e a gente reformulou uma série de coisas. Eu tinha um grupo de jovens, eram os Menudos do Morumbi, foi uma época fantástica, era prazerosa.
P/1 – Quais foram as principais realizações que você fez?
R – Revolucionar o futebol. Antes de assumir a direção, no momento que fui convidado, que aceitei, eu fui entender um pouco melhor o que os outros clubes faziam, clubes de ponta, aqui e fora. E aí, montei uma estrutura bem profissional no São Paulo, que é departamentalizando o futebol em vez de ter só um que concentrasse tudo, ou dividia o poder, então divisionar e organizei o São Paulo de uma forma que alguns jornalistas depois consideraram que a Democracia Corinthiana que veio um pouco depois se inspirou na nossa experiência. Então, nós fizemos um plano mestre para o São Paulo. No futebol só se pensava no dia a dia, e quando muito um ano. Nós fizemos um trabalho projetando por 20 anos, onde estamos, onde queremos chegar, qual é o vetor. Quaisquer ações, elas procuravam estar dentro desse vetor. Então, foi uma época muito bem sucedida, foi muito prazerosa e eu defendia a necessidade de uma renovação e tudo o mais, e foi o que eu preconizei. Então, na verdade, eu fui diretor pleno de futebol por dois anos e eu encontro hoje pessoas que acham que eu fui diretor 20 anos. Ontem, literalmente ontem, houve uma reunião muito importante no São Paulo, do conselho do São Paulo, vieram alguns advogados e construtoras sobre um projeto novo que vai haver. Ontem foi tão prazeroso que os membros da mesa que foram convidados, eu fiz um pronunciamento qualquer e depois as pessoas da mesa, que conheciam o trabalho, enfim, foi muito gostoso, ele influenciou muito os clubes depois nesse tipo de trabalho. Depois do São Paulo eu fui convidado a ser presidente do Conselhor Regional de Desportos pelo Governo do Estado para todos os esportes, fiquei em dois mandatos, a gente conseguiu revolucionar algumas coisas também. A filosofia era muito mais não, não, não pode isso, não pode aquilo, não pode aquilo outro, então o grupo de trabalho que a gente constituiu, por que o não? Vamos focar mais nos estímulos e o que pode ao invés do que não pode, muitos consideram também marcante esse período. E ainda dentro do futebol, um que tinha sido meu adjunto no futebol naquela fase gostosa, que é o Fernando Casal Del Rey, depois ele assumiu a presidência do São Paulo, insistiu muito, aí eu voltei a ajudá-lo no marketing do São Paulo. E aí, a gente revolucionou um pouco o Clube dos 13, então eu acabei assumindo uma função no Clube dos 13 que foi a de diretor executivo, quando a gente revolucionou um pouco o Clube dos 13, isso no ano de 97 já, já estamos bem mais para cá. Fizemos uma bela revolução.
P/1 – Quer dizer, a sua profissão, você se dedicava inteiramente ao clube?
R – A partir de 97. Integralmente no clube, o modelo a nível de clubes não é de dedicação full-time, isso ainda é um processo de transição. O futebol brasileiro está caminhando para a profissionalização plena. Mas o que existe hoje em 90% dos clubes importantes são diretores voluntários, no clube fui sempre voluntário.
P/1 – Você tinha outro trabalho?
R – Tinha. Primeiro era a indústria da qual eu fui o presidente, Grupo Vigorelli. Mas depois o conselho regional de desportos era contribuição voluntária, no São Paulo a vida toda contribuição voluntária. No Clube dos 13 eu já estava caminhando, houve problemas da empresa, nós tínhamos vendido, passado a empresa, então eu estava dando consultoria em algumas atividades. No Clube dos 13 eu virei full-time, diretor executivo, diretor de marketing, aí de forma profissional, sendo remunerado no Clube dos 13 em cima daquilo que eu trouxesse. Então, a gente tem a pretensão de ter conseguido realmente um salto, porque o principal trabalho foi realmente conseguir unir os clubes e negociar em bloco com as emissoras de televisão. Então, nós demos um salto de dez milhões de reais para 55 milhões de dólares de um ano para o outro, em cima do quê? Com nossa liderança nós criamos um trabalho onde a gente identificou que as emissoras, primeiro, que a receita de televisão era muito importante para os clubes e que ela era baixíssima na época, até 96. Então, nós identificávamos que os clubes tentavam arrancar ao máximo das TVs e as TVs tentavam arrancar o máximo dos clubes e ninguém construía nada junto. Então, a ideia foi desenvolver um trabalho, como nós podemos melhorar o futebol, o que nós podemos melhorar, o produto, para que todos possam ganhar. Então, ao invés de fazer uma concorrência quem paga mais, começamos a construir um modelo do que seria importante, e fizemos em cima o desenvolvimento de trabalho com todas as emissoras de televisão. E a Globo, que acabou se tornando a forte, foi a pior colocada do ponto de vista financeiro, e a melhor era o SBT, que até o Silvio Santos, que detesta futebol, num dado momento se empolgou com o potencial que isso representaria. Mas a Globo, junto com a Bandeirantes, tinham uma prioridade na renovação, então eles puderam exercer essa prioridade cobrindo 100% do que se tinha acertado com o SBT, que era a melhor proposta. E com isso se deu, efetivamente, o grande salto e foi um marco muito importante para o futebol, isso foi em 97, 98, 99, 2000, 2001, então ficamos quase seis anos no Clube dos 13. Entramos representando o São Paulo, como tudo de forma voluntária e aí se achou que era chegado o momento a pelo menos ali no Clube dos 13, e que talvez eu tivesse o perfil adequado para isso, o que era importante? A gente queria internacionalizar mais o futebol, eu de alguma forma falo cinco línguas, isso facilitou, enfim, foi isso que desenvolvemos nessa época. E de lá para cá não se para, ou seja, quando eu estava quase que me aposentando, isso uns seis anos atrás, um deputado Walter Feldman, que era deputado federal na época, eu o conhecia como membro da comunidade judaica como um homem de bem, um homem muito sério, a gente se conhecia, mas superficialmente. Embora deputado federal, ele tinha recebido um convite para ser o Secretário Municipal de Esportes e ele quis conversar com algumas pessoas para entender um pouco mais de esporte, ele não era totalmente ligado a essa área. Então, ele me convidou para um bate papo, trocamos ideias, eu comentei tudo o que eu sabia sobre esporte e sugeri a ele que se ele tivesse muito apoio do prefeito e se tivesse possibilidade de multiplicar os recursos, a incursão dele na Secretaria de Esportes seria muito importante, mas se não tivesse isso seria a pior coisa, porque o esporte vinha sendo tratado como a vigésima prioridade, ou milionésima prioridade. Ficamos mais próximos, com um subsídio, ele acabou assumindo a Secretaria Municipal de Esportes e me convidou para colaborar, para ser um assessor. Eu fui e ele é um homem maravilhoso, um homem de bem, um poeta, um aglutinador de pessoas, um motivador de gente, que não consegue pensar em nenhuma atividade que não seja pura e poética, quer dizer, uma exceção nesse mundo político. Eu fui me apaixonando pela colaboração e de repente eu passei a ser a pessoa que chegava primeiro e era a última a sair na secretaria. Eu fui assumindo onde ele precisasse e ele fez uma revolução no esporte em São Paulo.
P/1 – Qual foi a primeira revolução?
R – Primeiro, ser respeitada. Segundo, mostrar a importância, ele é médico, que a inclusão social através do esporte e o desenvolvimento da atividade física seriam os fatores principais para a saúde. Então, passou a desenvolver uma série de programas, Clube Escola, o atendimento a todas as faixas etárias, mas sem demagogia. De repente, uma área que não recebia a menor atenção passou a ter o orçamento multiplicado por quatro, quase que por cinco, era um fenômeno, inacreditável. Então, conseguiu desenvolver uma série de coisas e nós tivemos o prazer de viver essa fase. Ele saiu numa mudança, mas ele ficou quatro anos praticamente revolucionando o esporte em São Paulo, mas mais do que esporte é atividade física, mais do que atividade física, a recuperação dos equipamentos para fornecer a possibilidade de prática, a custo zero para a população, de atividade física e tudo o mais, foi uma das épocas mais prazerosas e mais gratificantes. Então, a gente voltou a estar aí no esporte e quando ele terminou, ou seja, ele partiu para outras atividades, nós fomos convidados para fazer marketing da Federação Paulista de Futebol, que hoje eu dirijo, eu já era um diretor antigo, mas sem uma atividade diuturna, passei a ter uma atividade regular e também fui convidado no comitê da Copa para ajudar São Paulo a fazer a melhor Copa do Brasil.
P/1 – É o Comitê Paulista da Copa?
R – Comitê Paulista da Copa. Então, deu para conciliar as duas atividades e hoje eu estou trabalhando dez, 12 horas por dia na atividade que me encanta, que me traz poesia, que me traz alegria, que é o esporte. Então eu estou onde adoro estar.
P/1 – Posso fazer algumas perguntas que vão estar pela entrevista inteira. Qual foi a maior maluquice que você fez para ver um jogo do São Paulo ou da Copa? Que você acha? Você já elencou algumas aqui.
R – De maluquice.
P/1 – Maluquice não, desafio...
R – Quando eu comecei a namorar ou quando nos casamos, a prioridade era sempre o jogo. Quando meus pais avisaram a minha esposa que ora se apaixonara pelo meu filho, mas cuidado que as prioridades vão ser o futebol, então festas ou qualquer coisa, o futebol primeiro, casamentos com radinho ou a televisão pequenininha. Ainda hoje eu vou muito à Sala São Paulo, nós temos algumas assinaturas, o Cultura Artística, Osesp, nós adoramos música clássica, minha esposa e eu, mas eu vou, mas levo ou o celular para estar acompanhando o resultado. Então, maluquice propriamente é mais eu fazer qualquer coisa para poder assistir. Hoje eu estou um pouquinho mais acomodado, ou seja, eu não vou para Buenos Aires ou para qualquer lugar atrás da minha equipe, mas eu dou um jeito de assistir a tudo, boxe, esgrima, qualquer esporte. É curiosíssimo, eu tenho nove netos, os nove são-paulinos, os nove adorando, alguns deles já fizeram comerciais do São Paulo, comerciais na televisão aberta promovendo coisas do São Paulo, outros querem assistir agora a Copa do Mundo, então vou acompanhar alguns com prazer. Mas solta perguntas de qualquer natureza.
P/1 – Jogada do São Paulo, assim, que tenha te marcado? Que você lembra?
R – O Canhoteiro me apaixonou, é um jogador que veio do Nordeste era um mágico. O que eu lembro, ele era o jogador que mais dominava a bola. Ele tinha uma plástica e ele me fez quebrar muito cinzeiro em casa, porque ele jogava qualquer cinzeiro para cima, movimentava o pé e trazia e eu passei a repetir o mesmo, então quebrei muitos cinzeiros, mas ele era mágico. Dias mágico, Pedro Rocha, Gerson. O Rogério Ceni mais recentemente, o seu centésimo gol contra o Corinthians, uma coisa que me emocionou muito, ainda me emociona. Veja, eu me lembro, nós comentamos ao longo do bate papo, lembranças com quatro anos, cinco anos, seis anos de idade, eu estou com 76 e continuo com o mesmo fanatismo, é um negócio louco, louco. Quando eu paro para pensar, mas faz sentido? Eu digo, não precisa explicar, é como o amor, se sente.
P/1 – Tem alguma coisa que a gente não tenha tocado? Deve ter muitas porque você tem uma vida muito rica, já deixo o convite aqui para você voltar. A gente vai assistir a sua entrevista e depois, se você permitir, a gente vai te fazer outro convite para voltar, porque realmente um encontro é pouco.
R – Se valer a pena para vocês, para mim foi gostoso lembrar algumas coisas.
P/1 – Com certeza, porque é um espaço muito pequeno aqui de horas, então com certeza a gente vai marcar. Você quer deixar alguma coisa registrada, de algum outro fato, alguma coisa que a gente não tenha tocado?
R – Não, não. Eu começo parabenizando, porque eu conheço o Museu da Pessoa do meu São Paulo Futebol Clube, foi lá que eu conheci quando na época foi um trabalho pioneiro, foi um embrião de coisas que se multiplicaram logo depois. Acho que precisamos atualizar o do São Paulo que está um pouquinho superado. Mas então, quando vocês entraram em contato me foi prazeroso. Hoje eu também colaboro, eu faço parte do conselho do Museu do Futebol como nós conversamos e do Museu da Língua Portuguesa. Eu acho que nós vamos ter algumas atividades do museu juntos, eu soube agora de um projeto de vocês com o Jaime Lerner, para um projeto para o Museu da Pessoa. Me tornei fã de vocês e sou um fã incondicional do Jaime Lerner, que urbanista. Olha, assisti a palestras e tive contatos com ele, é um cidadão do mundo, é um dos maiores urbanistas que o mundo pôde conhecer. Acho que o Brasil desperdiçou um talento incomum para as melhores posições. Mas acho que se eu tiver ainda algum interesse para vocês, seguramente nós vamos ter outros contatos.
P/1 – Sua história é muito rica. E o que você achou da experiência de contar um pouco da sua história de vida aqui para o Museu?
R – Para mim foi delicioso porque me fez voltar um pouquinho atrás. Há pouco eu te disse desse livro do Roberto, do Velludo.
P/1 – Foi Nirlando Beirão, né?
R – Foi, foi. Se você tiver a curiosidade, ou se no nosso próximo encontro, eu te mostro, você vai pegar os cinco, seis primeiros capítulos, só trata dessas nossas experiências, uma delas de CPOR. Ele era um azarado, pessoa linda, mas todos nós que éramos aspirantes a oficial de vez em quando, por rodízio, nós ficávamos respondendo pelo comando do quartel. E toda vez que ele ficava no comando acontecia alguma coisa, o cavalo do comandante que se machucava (risos), então ele vivia preso. Eram coisas muito engraçadas. E uma passagem que eu lembrei, rememorando como fizemos hoje, foi que um dia nós tínhamos ido a uma festa muito grande, voltamos super tarde e perdemos a hora. E era um dia importante, então já estávamos fardados, “Como é que a gente vai chegar agora no quartel?” Resolvemos passar num açougue, sujamos toda a farda de sangue das carnes do açougueiro e chegamos no quartel, que houve um acidente terrível e que tivemos que socorrer um monte de gente, viramos heróis (risos), no que era uma tragédia do nosso atraso. Mas a gente vai lembrar mais coisas e se tiver curiosidade nós vamos voltar.
P/1 – Ah, muito obrigada!
R – Eu que agradeço, as perguntas foram muito gostosas.
P/1 – Obrigada.
FINAL DA ENTREVISTA
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