“Caio trançando pela ponta esquerda; o cruzamento pra área; A CHANCE, RENATO; AGORA, PÉ ESQUERDO: GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! RENATO DE NOVO! RENATO, NÚMERO 7! TRÊS MINUTOS E DEZ DA PRORROGAÇÃO. A FESTA BRASILEIRA EM TÓQUIO E A VIBRAÇÃO DE RENATO... outro liiiiiindo gol de Renato, Grêmio 2x1”. Com este antológico gol de Renato Gaúcho, o Grêmio parava o Hamburgo – campeão da UEFA Champions League de 1983 – numa partida que leva o “estilo Grêmio”: com sofrimento. Os foguetes e as bombas na Zona Leste de Porto Alegre eram inevitáveis, assim como a curiosidade do pequeno Gabriel Tessis que indagou sua mãe, Dnª Miriam, o porquê de tanto barulho. “O Grêmio foi campeão, filho”, “O Grêmio ganhou o Mundo”. Daquele dia em diante, do alto dos seus três anos incompletos, Tessis decidiu que em sua vida haveria um amor maior, e ele vinha em azul, preto e branco. Enquanto criança amadureceu esse amor, percebeu que futebol não era apenas glória e com sete anos começou a frequentar sua segunda casa: o Olímpico Monumental. Viu em Renato o maior ídolo da história do clube; em Dener, o melhor que viu jogar; e pelo Grêmio o amor apenas crescer. Fazendo um comparativo com os dias atuais, Gabriel Tessis explicita que o time não joga como jogava, e conta que para ele, um time ideal do Grêmio não contaria com craques badalados como Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, mas sim com a seleção uruguaia inteira, “do 1 ao 11”. E esse espírito “peleador, brigador e raçudo” que ele vê no país vizinho não vem apenas no futebol. Tessis apoiou, apoia e diz que sempre apoiará movimentos separatistas, uma vez que enfatiza sem nenhum receio que “gaúcho não é brasileiro”. “A identidade cultural do gaúcho tem muito mais a ver com as regiões dos pampas uruguaios e argentinos”, argumenta...
Continuar leitura
“Caio trançando pela ponta esquerda; o cruzamento pra área; A CHANCE, RENATO; AGORA, PÉ ESQUERDO: GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! RENATO DE NOVO! RENATO, NÚMERO 7! TRÊS MINUTOS E DEZ DA PRORROGAÇÃO. A FESTA BRASILEIRA EM TÓQUIO E A VIBRAÇÃO DE RENATO... outro liiiiiindo gol de Renato, Grêmio 2x1”. Com este antológico gol de Renato Gaúcho, o Grêmio parava o Hamburgo – campeão da UEFA Champions League de 1983 – numa partida que leva o “estilo Grêmio”: com sofrimento. Os foguetes e as bombas na Zona Leste de Porto Alegre eram inevitáveis, assim como a curiosidade do pequeno Gabriel Tessis que indagou sua mãe, Dnª Miriam, o porquê de tanto barulho. “O Grêmio foi campeão, filho”, “O Grêmio ganhou o Mundo”. Daquele dia em diante, do alto dos seus três anos incompletos, Tessis decidiu que em sua vida haveria um amor maior, e ele vinha em azul, preto e branco. Enquanto criança amadureceu esse amor, percebeu que futebol não era apenas glória e com sete anos começou a frequentar sua segunda casa: o Olímpico Monumental. Viu em Renato o maior ídolo da história do clube; em Dener, o melhor que viu jogar; e pelo Grêmio o amor apenas crescer. Fazendo um comparativo com os dias atuais, Gabriel Tessis explicita que o time não joga como jogava, e conta que para ele, um time ideal do Grêmio não contaria com craques badalados como Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi, mas sim com a seleção uruguaia inteira, “do 1 ao 11”. E esse espírito “peleador, brigador e raçudo” que ele vê no país vizinho não vem apenas no futebol. Tessis apoiou, apoia e diz que sempre apoiará movimentos separatistas, uma vez que enfatiza sem nenhum receio que “gaúcho não é brasileiro”. “A identidade cultural do gaúcho tem muito mais a ver com as regiões dos pampas uruguaios e argentinos”, argumenta Gabriel com sua figura imponente. O capítulo separatista da vida da nossa figura começa com o “RS Livre” e passa por outros movimentos que visavam tornar o Rio Grande do Sul independente do Brasil. Sobre os diferentes ideais desses movimentos, diz com clareza: “Não me identifico com ‘O sul é meu país’ porque eles buscam uma divisão econômica e não pela raiz, pela cultura”, “Eles querem RS, SC e PR, e isso não bate com a minha crença”, “O que tem pra lá são gaúchos que difundiram a cultura, mas a cultura tá aqui, e é daqui”. Muitos podem pensar que os ideais de Tessis são extremistas e radicais, mas essa relação de amor com o lugar onde nasceu explica isso. O Grêmio ter sido tão imponente com o futebol aguerrido explica isso. Valentia sempre foi sinônimo de Rio Grande do Sul e Tricolor dos Pampas, para ele. Cresceu numa família na qual desde sempre foi o mais identificado com o futebol. Matava aula, perdia prova para ver o Grêmio jogar; cresceu, trocou escola por faculdade e continuou com os mesmos hábitos, afinal: dia de Tricolor é sagrado. Anda sempre com a indumentária do gaúcho presente no corpo, porque sabe que o “verdadeiro gaudério” não “se veste como um”; apenas se veste; é natural. Com as eleições para o conselho do clube do coração chegando, em 2016, ajudou a criar a “Grêmio do Prata”, chapa que preza por um remodelamento total da forma com que a gestão do clube é feita e preza por um time que volte a ser “Forte, Aguerrido e Bravo”. Então aliou suas paixões: montou um piquete no tradicional Parque Harmonia, durante o Acampamento Farroupilha – festa que celebra a semana do Gaúcho e é muito esperada no Rio Grande do Sul – com o mesmo nome da chapa, e se tornou um dos mais jovens patrões dentre todos os piquetes do acampamento. Durante o mês de setembro, Gabriel larga tudo: a faculdade de Agronomia na UFRGS, o trabalho como técnico de informática, o resto da família e dedica todo tempo ao piquete. Equipou com chuveiro, cama, freezer e “eras isso, sem muita frescura”. É o que ele precisa para desempenhar o papel de patrão e ordenar as atividades do seu chão com firmeza. Aí se cria um estereótipo: homem, grande, forte, barba longa, 35 anos, tradicionalista, separatista, de poucas palavras, patrão de piquete, prefere Cavani a Benzema: É um grosseirão! A nossa impressão também foi essa, claro. Chegamos ao Grêmio do Prata e logo meu parceiro de reportagem teve que tirar a flanela vermelha que carregava consigo. Eu, pilchado, “calçando os sapatos do entrevistado” de forma quase literal, pude ficar com o lenço vermelho que tem origem dos maragatos. A partir daí percebemos a firmeza de Tessis, e foi assim até nos encontrarmos novamente. Então pudemos notar o que muitos não percebem: a sensibilidade existe e não é pouca neste cara. Toda essa dureza que aparenta se esvai quando o gaiteiro dá sinal para o violeiro e inicia “Milonga Abaixo de Mau Tempo”. Gabriel pode não ter percebido, mas ele foi muito observado. Cantava baixinho todas as canções com sua caneca de alumínio sempre cheia de chope ou cerveja enquanto perambulava num ritmo calmo pelo piquete. Mas quando a milonga citada começou, era com ele. O violeiro já cansado pediu reforço; e Gabriel, sorrindo, disse que era com ele. Eu juro que me senti emocionado. Aquele cara que nutria poucas semelhanças comigo, que demonstrava dureza constante e que eu conhecia há pouquíssimo tempo tinha uma emoção na voz e no olhar que era contagiante. Meu parceiro e eu, dois colorados fanáticos, num ninho de gremistas, pasmos com uma figura tão duramente idealista; agora emocionados com o que ele passava através da tradição. Um cara que curte AC/DC, Rock Gaúcho e ao mesmo tempo nutre muito carinho por Simpsons e Chaves; um cara que escuta Luiz Marenco e tem referências cinematográficas como O poderoso Chefão e Pulp Fiction; que diz que o gaúcho não é brasileiro e só tira a bombacha para se vestir como papai-noel (de azul, claro) para ações no Natal, tem muito mais definições cabíveis do que “grosseirão”. Não te preocupa, Tessis! A grandeza do Grêmio matará tua saudade dos títulos. Não te preocupa, Tessis! O mundo, agora, vai saber de uma boa forma que de mau tu só tens a expressão. Diz pros teus companheiros de piquete não se preocuparem, Tessis! Os colorados não vão emoldurar tua história em qualquer quadro. A moldura pode até ser vermelha, mas a fotografia faz até a bandeira do Rio Grande se tornar azul.
Recolher