R – Não, não é urbano. Esse meu não é urbano, não.
P/2 – Não é urbano o causo?
R – Não, não é urbano. Os bons causos são rurais.
P/2 – Então, eu queria que cê falasse teu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Já pra gravar? O meu nome verdadeiro, já é pra gravar?
P/1 – É.
R – O meu nome verdadeiro é Neltair... Trovão...
P/1 – Então vamos esperar o trovão passar.
R – Pô, cara, tu não vai colaborar aí em cima? Que o cara lá não tá colaborando, tchê.Ainda bem que eu não sou muito rezador, mas pô... Olha quem veio, olha quem veio. Fica aqui, vem cá, fica assim, quietinha, quietinha, quietinha. O Santiago... O meu nome verdadeiro é Neltair Abreu. O Santiago é um apelido que eu ganhei quando eu vim morar em Porto Alegre porque eu vim da cidade de Santiago, na fronteira da, fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Aí eu terminei adotando esse pseudônimo, Santiago, e ele tem me dado sorte, tem me dado boas, boas, boas experiências.
P/1 – E que dia que você nasceu?
R – Eu nasci no dia 14 de setembro de 1950, no, no começo da Guerra Fria. (risos)
P/1 – E, Santiago, é, qual o nome dos seus pais e o que que eles faziam, no que que eles trabalhavam?
R – O meu pai era pecuarista, ele criava gado. Tinha uma pequena propriedade no interior de Santiago, entre Santiago e São Borja. E a minha mãe era costureira, ela pedalava uma máquina Singer o dia inteiro. Que tinha cinco filhos, e, sabe como é, o pequeno pecuarista era o cara que fazia uma safra de boi a cada ano. Então, uma vez por ano, ele tinha dinheiro, depois não tinha mais nada. Então, a minha mãe tinha que co..., tinha que, né, fazer das tripas coração em cima de uma máquina Singer. E, por isso, ela ficou com uma perna mais, mais grossa que a outra.
(Alguém interrompe, tem um diálogo fora da entrevista: peraí, corta. ... Você já foi, tinha uma tribo no alto do Juá,...
Continuar leituraR – Não, não é urbano. Esse meu não é urbano, não.
P/2 – Não é urbano o causo?
R – Não, não é urbano. Os bons causos são rurais.
P/2 – Então, eu queria que cê falasse teu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Já pra gravar? O meu nome verdadeiro, já é pra gravar?
P/1 – É.
R – O meu nome verdadeiro é Neltair... Trovão...
P/1 – Então vamos esperar o trovão passar.
R – Pô, cara, tu não vai colaborar aí em cima? Que o cara lá não tá colaborando, tchê.Ainda bem que eu não sou muito rezador, mas pô... Olha quem veio, olha quem veio. Fica aqui, vem cá, fica assim, quietinha, quietinha, quietinha. O Santiago... O meu nome verdadeiro é Neltair Abreu. O Santiago é um apelido que eu ganhei quando eu vim morar em Porto Alegre porque eu vim da cidade de Santiago, na fronteira da, fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Aí eu terminei adotando esse pseudônimo, Santiago, e ele tem me dado sorte, tem me dado boas, boas, boas experiências.
P/1 – E que dia que você nasceu?
R – Eu nasci no dia 14 de setembro de 1950, no, no começo da Guerra Fria. (risos)
P/1 – E, Santiago, é, qual o nome dos seus pais e o que que eles faziam, no que que eles trabalhavam?
R – O meu pai era pecuarista, ele criava gado. Tinha uma pequena propriedade no interior de Santiago, entre Santiago e São Borja. E a minha mãe era costureira, ela pedalava uma máquina Singer o dia inteiro. Que tinha cinco filhos, e, sabe como é, o pequeno pecuarista era o cara que fazia uma safra de boi a cada ano. Então, uma vez por ano, ele tinha dinheiro, depois não tinha mais nada. Então, a minha mãe tinha que co..., tinha que, né, fazer das tripas coração em cima de uma máquina Singer. E, por isso, ela ficou com uma perna mais, mais grossa que a outra.
(Alguém interrompe, tem um diálogo fora da entrevista: peraí, corta. ... Você já foi, tinha uma tribo no alto do Juá, dormindo na rede e cagando no mato. R-Peladão.Domingo passado no Faustão tinha uma pegadinha que o cara ia fazer uma claquete, pegou o dedo aqui, ai... O incompetente pegou o dedo na claquete, enfiou o dedo na claquete. (risos).
P/2 – Contigo, Claudia.
P/1 – Então vamos começar a entrevista. Eu ...
R – Intensificou a chuva... O barulhinho da chuva é bom, né?
P/1 – Então vamo lá. Então, vou perguntar de novo. O seu nome completo, local e data de nascimento e de onde vem o apelido.
R – O meu nome verdadeiro é Neltair Abreu, e o pseudônimo vem da cidade onde eu nasci e me criei, Santiago na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. E eu terminei adotando o Santiago e eu acho que até me deu sorte esse nome. Eu tive boas, boas satisfações com, na, nos desenhos que eu assino como Santiago. Sempre me deu sorte.
P/1 – Mas, quando é que veio esse apelido? Quando você veio pra Porto Alegre...
R – Quando eu vim pra Porto Alegre, eu fui estudar na faculdade de Arquitetura e eu tinha, como tenho até hoje, o forte sotaque da fronteira, né? E aí o pessoal: "De onde é que tu é?". "De Santiago." E aí ficou Santiago, Santiago, Santiago. E aí eu terminei adotando como desenhista esse, esse pseudônimo. É, daí vem a origem.
P/1 – Tá jóia. E, Santiago, nome dos seus pais e no que eles trabalhavam.
R – O meu pai era pecuarista, ele tinha uma pequena propriedade no interior, entre Santiago e São Borja. E criava gado, né? E a minha mãe era costureira, ela trabalhava o dia inteiro numa máquina Singer. E até hoje ela tem uma perna mais grossa do que a outra porque as máquinas eram de pedal, não havia máquina elétrica. E ela pedalava só com o pé direito, então ela tem a perna direita mais grossa do que a perna esquerda de tanto costurar na máquina Singer. E ela diz que conseguiu formar os quatro filhos na máquina Singer (risos). Isso é comercial pra Singer, aí (risos).
P/1 – Me fala uma coisa, vocês eram quatro irmãos, né? Como era essa convivência na família? Como era a casa de vocês?
R – Todo mundo era muito, são até hoje, meus “irmão”, todo mundo brincalhão, divertido. O meu pai era, meu pai era uma figura quieta, calada, mas, quando abria a boca, sempre dizia uma brincadeira, uma gozação. Então, ele tinha, ele tinha bons causos de campo de campanha, tinha muita vivência do campo. E ele sempre contava causos muito bons, muito engraçados da vida dele de campo.
P/1 – E como é que era, vocês se reuniam pra contar esses causos quando cês eram crianças? Como é que é isso?
R – A gente vivia, né, eu vivi com a família em Santiago até quase os 20 anos. Eu vim pra Porto Alegre com quase 20 anos de idade, então sempre teve uma convivência muito grande. Era uma família grande e, além de ser família grande, tinha muitas, muitos agregados que vinham à família, parentes que vinham. A minha mãe criou duas meninas, é, além dos cinco filhos que ela tinha, ainda criou duas meninas até a idade de casar e tal.
P/1 – Me fala uma coisa. A casa que vocês moravam, onde ela ficava, como que ela era...?
R – A nossa casa era quase no centro da cidade de Santiago. E era uma casa curiosa, que era a única casa que tinha sótão. Então, a casa era... E o sótão era nosso refúgio de bagunça, onde a minha mãe não subia, ela tinha preguiça de subir a escada. A escada era íngreme, então a gente ficava com o território livre lá. Até, até arma de fogo a gente fazia lá. Pegava um cano, é, fechava na ponta o cano, deixava um buraquinho, botava pólvora e chumbo e atirava nos passarinho lá de cima. A minha mãe não sabia daquelas o que é que era... Bum!. Aqueles tiros lá de cima ,era, chamava trabuco nesse tempo. Fazia arma de fogo. (risos) Tal era o nível de loucura, que ninguém vá me repetir essas, essas barbaridades que eu tô dizendo aqui.
P/2 – Vou só mudar o plano aqui...
P/1 – E o que vocês faziam com o passarinho?
R – Felizmente pouco se acertava, né?
(...)
R – Peladão assim, tem muito reflexo na sua bunda. Puxa a bunda pra cá, tem muita sombra na bunda... (risos) Essa bunda tá com muito brilho!
P/1 – Então vamo lá.
P/2 – Peraí, só um pouquinho. Aí, ok. Valendo.
P/1 – E, quando vocês acertavam o passarinho, matavam, que é que cês faziam?
R – Não, pouco se acertava. Era mais bagunça mesmo, tiro ao alvo, essas coisas assim. Eu tinha um irmão que era pirômano, tava sempre inventado arma de fogo, um troço. Qualquer cano que ele pegava, ele transformava em espingarda, trabuco. Era um piromaníaco completo, (risos).
P/1 – E quais eram as outras brincadeiras, assim, de infância lá, na cidade
R – Ah, eu sou do tempo que não tinha brinquedos, a gente inventava os brinquedos, né? É, bodoque, que a gente fabricava. Estilingue, que se diz no centro do país, né? Bodoque, aro de roda, uma coisa como se diz hoje, é uma coisa pré-histórica, fazer um brinquedo com aro, que se caminhava com arame, esse tipo de coisa, né? Futebol também, evidentemente que tinha bastante. Mas se, se, se inventava muita brincadeira. Tinha uma brincadeira muito maluca que inventava, e eu era cobaia dessa brincadeira de meus irmão, que era me botarem dentro de um pneu, enrolarem o pneu, iam rodeando assim... Então, tenho um irmão que diz até hoje que eu aprendi a ver o mundo de cabeça pra baixo assim (Risos).
P/1 – E não era perigoso?
R – Claro que era perigoso. Quando o pneu caía, tu caía junto com o pneu, rolava na ladeira, pegava força (risos).
P/1 – E, Santiago, cê acompanhava seu pai na atividade, assim...
R – De campo?
P/1 – De campo.
R – Meu pai já nos criou na cidade. Passava só as férias pra fora, mas a gente tinha... Meus irmãos eram mais campeiros do que eu, eram mais cavaleiros, ginetes. Eles acompanhavam o velho em tudo isso aí. Eu, como era um dos mais novos, eu já, tocava sempre um petiço manso, daqueles que qualquer criança anda. Eu não podia me achar cavaleiro nunca naqueles petiço lerdo que davam pra mim. (Risos).
P/1 – Que é ginete?
R – Ginete é o camarada que anda bem a cavalo. Que anda bem, que doma o cavalo, esse é o ginete. É o cara, é, bom de, bom de montaria.
P/1 – Jóia. E me fala um pouco do seu tempo de escola, o que que você estudou...?
R – Eu estudei no Grupo Escolar Apolinário Porto Alegre, que era quase ao lado da minha casa. E, eu sou do tempo que tinha o, o primário, depois tinha o secundário, que era o ginásio. Se fazia o exame, que era quase como o vestibular. O exame de admissão se chamava. Depois da quarta série, se fazia o exame de admissão pra se entrar na primeira série ginasial. Ginásio era considerado uma coisa chique, elegante. O cara já se achava adulto, moço, não usava mais calça curta, né, ia pro ginásio. Era uma coisa importantíssima. Eu fiquei muito nervoso quando fiz o exame de admissão. Quando chamaram meu nome eu disse: "Oba!". Comemorava como se fosse o vestibular esse momento. E depois fazia o curso científico, né? E eu vim fazer em Porto Alegre o último ano do curso clássico, que eu já sabia que ia fazer vestibular pras áreas humanas, terminei fazendo clássico. Quer dizer, terminei até indo pra uma área mais ou menos técnica, que é a arquitetura, né? Mas eu fiz o curso clássico.
P/1 – Me fala uma coisa, você lembra o primeiro dia que você usou uma calça comprida?
R – Ah, eu acho que não. Não, não lembro, mas eu acho, me lembro que você esperava muito usar a primeira calça comprida. Eu acho que hoje as crianças não “usa” mais calça curta, né? Mas se usava calça curta, inclusive no inverno, que é rigoroso naquela região lá. Usava calça curta com meinha, você sentia frio no joelho, (risos), o frio no joelho.
P/1 – Quem era os seus grupos de amigo assim? Quem era a sua turma na sua cidade?
R – Era a vizinhança, né? Na minha infância, a vizinhança, depois, na minha adolescência, o grupo da escola que eu convivia. Tem colega de escola que até hoje eu me dou muito bem, né, que me encontro e tenho um bom diálogo com eles. E, e depois, na adolescência, também o grupo de escola, na juventude o grupo de escola. Em Porto Alegre, também aqui eu convivi muito com meus amigos que vinham lá da minha terra. E o grupo ligado a meus irmãos, nós somos cinco irmãos, tudo muito ligado, o amigo de um era amigo do outro, né?
P/1 – Então, me fala uma coisa, o nome dos seus irmãos, assim, que que eles...
R – Os meus irmãos, eles, eles... O mais velho chama Odilon. O segundo é Luiz Augusto. Depois Edson, depois eu, que sou Neltair, e o mais jovem, que é Roberto. O único que não tem nome de gente sou eu, Neltair, né? (Risos)
P/1 – Da onde veio o seu nome?
R – O mau pai morreu com noventa anos sem conseguir me explicar qual é a origem desse nome, Neltair. Eu acho que ele inventou da cabeça dele, não sei qual é. Resolveu criar... (risos). O Ziraldo me perguntou uma vez: "Já sei, o seu pai era Nelson, e a tua mãe, Altair." "Não, nada disso, não é nome composto não. É inventado mesmo." Mais ou menos como inventam hoje, né, os, os Maicon e Maiquel. (risos). Por aí.Os Roberson. Acho que, naquela época, talvez fosse moda em vez dos Roberson, os “ir”, os Neltair, Jandir, Valdair... (risos)
P/1 – Ô Santiago, me fala uma coisa, quando você era jovem, lá em Santiago ainda, aonde vocês costumavam ir? Que lugares vocês freqüentavam?
R – A gente, é, da minha infância, a gente era muito influenciado por aqueles filmes de Tarzan e de ___ das selvas. E é uma brincadeira que, um divertimento que eu acho que hoje as crianças não pode fazer nem no interior, acredito que seja difícil, a gente fazia piqueniques, acampamentos, saía da cidade, a cidade era pequena, saía dos arredores da cidade e ia tomar banhos na, na, na sanga. Sanga é rio, né? É, a gente procurava sempre o lugar diferente pra, né, pra, levava um, uma, um fiambre, algum tipo de coisa, um sanduíche ou... E passava o dia inteiro pescando, tomando banho ou caçando com nosso, nosso trabuco, isso que a gente fazia. E era o divertimento. A gente saía e voltava de noite. E não havia preocupação. A gente ia pro mato, e nunca fomos mordidos por cobra, nada. Mas era uma infância muito ligada à natureza. Muito, muito mesmo de, de, de... longas caminhadas mata adentro, campo adentro. É, sempre teve isso com meus irmãos, os amigos dos meus irmãos “fazia” muito isso aí.
(diálogo com câmera)
P/1 – É...
R – A gente ia nos, na, na sanga...
P/1 – Deixa eu perguntar. É, você fala das tan....
R – Sangas, sangas. Chama sanga o rio de água, água boa, água limpa pra tomar banho, pra lavar roupa. Sanga, se diz em gauchês. Palavra é sanga. (risos) "Vamo tomar banho na sanga!" E tinha várias sangas, né? Na nossa volta, em volta da nossa cidade, tinha o Lambe Beiço... Lambe Beiço era um poço bom de tomar banho, de nadar e de pescar. Depois, tinha Cerquinha e tinha também um outro que chamava... Era o açude... Era o Primeiro Lajeado. Nessa época tinha o Primeiro Lajeado, Segundo Lajeado, Terceiro Lajeado. A gente ia no Primeiro, Segundo, Terceiro, não me lembro qual é deles, onde tinha poço muito bom pra pescaria e pra, pra, e pra nadar. A gente nadava o cachorrinho nesse tempo, né, ninguém sabia esse negócio de nadar com técnica, né, cê nadava o cachorrinho (risos). Era o, o nado oficial usado era o cachorrinho.
P/1 – E, me fala uma coisa, é, sair à noite, tinha esse negócio, sair à noite... E paquerar?
R – É, aí depois, é na juventude, isso sim. tem o café. A gente fazia, estacionava no Café Ponte Verde. E no Café Ponte Verde “passava” as meninas, que “saía” da missa, ou que saíam da escola, a gente ficava ali, naquele tempo acho que não existia o termo paquerar. Porque o "paquerar" é uma expressão que surgiu com o Pasquim, eu acho, né? Eu não sei como é que dizia.
P/1 – Flerte.
R – É. Flerte, usava essa palavra. Cê tava sentado na frente do Café, às vezes pedia uma cerveja no Café, pra tomar entre cinco, e ficava a noite inteira, tomava aquela cervejinha, porque cervejinha era escassa, né? (risos)
P/1 – E como é que era a paquera?
R – E nas festinhas tomava cuba libre, né? Quando era festinhas, tomava cuba libre. Era o, era o xodó daquela época. Daquele tempo. E... mas cê tinha muito essa coisa também da, da, do encontro, da, da, a reunião dançante, que cê... Já na juventude. Mas, na adolescência, era nosso brinquedo era muito ingênuo, era coisa de acampar, de sair, de ir pro campo e pro mato, caçadas. É isso aí.
P/1 – E, me fala uma coisa, é, a questão da, a religiosidade, tinham costumes religiosos?
R – Sim. A minha mãe até hoje é muito religiosa, muito católica, mandava a gente pra missa. Todos nós fizemos primeira comunhão. Tá aqui a prova de que eu fiz a primeira comunhão. O trajinho que ela mesmo confeccionou. Ela tá com 89 anos, ela tava me contando a história do trajinho. Ela não deixou de fazer um terninho, era terninho de calça curta. Ela, ela não deixou de fazer terno pra nenhum dos que fizeram a primeira comunhão. Era, era um, era um compromisso importante dela fazer um terno de calça curta, com a, com o tope de fita que ia no ombro, né? Todos faziam primeira comunhão, era uma coisa muito, um ritual muito importante, muito festejado.
P/1 – Cê lembra da sua primeira comunhão?
R – Sim, sim. Primeira comunhão. E depois a crisma. Fiz o catecismo, durante um mês antes, fiz o catecismo, e aprendi o catecismo com as freiras e, depois, se fazia a primeira comunhão. Se fazia a primeira comunhão.
P/1 – Cê lembra como é que foi o ritual, a igreja?
R – Sim, depois o almoço, depois é que se reu..., é, a gente ia enfileirado, ganhava pela primeira vez a hóstia. A minha mãe era e é muito religiosa. Depois, eu, claro, na juventude vai se afastando, vai começando a duvidar de tudo, não é? E hoje eu acho que sou um agnóstico, não sei o que que eu sou. Mas não tenho nenhum hábito religioso, não.
P/1 – Agora, quando você era criança, adolescente, tem, assim, alguma procissão, festa religiosa na cidade?
R – Sim. Sim. Muitas procissões. Havia procissão de, eu não sei se é Corpus Christi, onde as pessoas enfeitavam as janelas. Faziam que, todos faziam seu altar. E o padre parava em frente de todos os altares que havia e fazia a reza. E tinha uma dessas minhas irmãs de criação, a Tereza, que ela fazia as “tocha”, quando a procissão era de noite, ela tinha o maior cuidado de fazer a tocha. E uma vez eu fui com ela, com a tocha na mão, e pegou fogo na tocha, foi aquele horror, aquele perigo. A tocha pegava fogo, a tocha era uma vela que se colocava com, com uma espécie de um copo de celofane, né? Ficava bonito aquilo, todas as velas, o celofane verde, amarelo, vermelho. Era muito bonito caminhar com a tocha. Isso eu me lembro que eu fiz. Me lembro da tocha ter pegado fogo também, né? Essa minha irmã de criação correndo, assim, apavorada, mais velha do que eu, né? (risos) Com a tocha na mão.
P/1 – Ô, Santiago, e como é que era a convivência dos cinco homens com as duas irmãs de criação? Tinha educação...
R – Tinha aquelas coisas de guri. E ciúme, dava brigas homéricas, tal, às vezes cinco na briga. (risos) Sempre tinha brigas. Mas, daqui a pouco, já tava resolvido aquele, a questão de briga. (risos)
P/1 – Mas tinha uma diferença de educação das meninas pros meninos?
R – É, eu acho que, naquele tempo, assim, ainda tinha aquela coisa um pouco do, da, do fazendeiro, assim, tinha que ter aquelas meninas pra ajudarem ali e tal, em volta. Mas eu me lembro que a minha mãe era muito, era muito... Muito cuidadosa com as meninas, muito carinhosa e tal. Todas depois casaram, continuam freqüentando a casa de minha mãe, levam os netos pra conhecer e tal. A Tereza, essa que foi criada comigo, já faleceu. Eu depois adotei uma filha dela que ficou órfã. Criei ela até casar, com 22 anos. Casou-se com 22 ou 23 anos.
P/1 – E a outra, como é que chama?
R – A outra o que?
P/1 – A outra irmã.
R – A outra se chamava Ana Maria. Essa mora aqui em Porto Alegre. Que é uma menina, é, que a mamãe criou desde men..., acho que desde os seis, sete anos. Que a minha mãe, que a mãe adotou ela.
P/1 – É um hábito, assim, aqui do sul, de ter sempre...?
R – Sim, sim. Eu não sei, talvez, hoje, se modificando... Mas, até o tempo que eu era menino, tinha muito esse hábito de ter as, se criavam as mocinhas que não tinham, né? Até menino rapaz, também. Era uma coisa muito estranha, assim, porque era um misto de filho de criação, ao mesmo tempo era uma coisa meio serviçal. Embora tivesse uma, um tratamento muito bom, todas estudaram, né? Tiveram oportunidade de estudar. Mas era uma coisa um pouco serviçal, né? Esse relacionamento.
P/1 – Os meninos ajudavam em casa. Nos trabalhos.
R – Ajudavam, todo mundo ajudava.
P/1 – Que que tinha que fazer?
R – Eu me lembro que a minha mãe costurava o dia inteiro. E, é, à tarde, por exemplo, se eu queria fazer o lanche da tarde, era comigo mesmo. Tomava o café da tarde, naquele tempo, a gente tinha que preparar e tal. Eu me lembro que até roupas a minha mãe botava pra lavar. "Não, eu tenho que costurar. Eu não posso tá fazendo isso aí", e tal. A minha mãe, às vezes, botava a gente nesse tipo de serviço. Minha mãe era descendente de imigrantes. O pai dela era um imigrante catalão. E o imigrante tem muito essa coisa do serviço, né, do trabalho, ser obrigado. O nosso português, pelo duro não é mais atirado, sempre teve aquela coisa meio escravagista, tinha o escravo que fazia. Mas a minha mãe, a minha mãe tinha os hábitos do imigrante, dela mesmo fazer, da gente mesmo fazer as coisas. E dar valor ao trabalho, né? Não ter vergonha de fazer trabalhos, também. Que é uma coisa que o português, o fazendeiro português, tinha vergonha do trabalho braçal, não é? A família do meu pai já tinha um pouco disso aí. Mas a da minha mãe, não, eles eram de pegar na, no pesado, no serviço, não ter vergonha de fazer serviço de limpeza, esse tipo de coisa.
P/1 – Pra gente registrar, o nome dos dois, do seu pai e da sua mãe?
R – Dona Ema Rebés Abreu, o Rebés é o nome catalão, e o meu pai é o Augusto Abreu, o meu pai é bem português mesmo. Português do tempo das caravelas, ainda.
P/1 – Vamo fazer a frase toda: "Minha mãe se chama..."
R – A minha mãe se chama - porque tá viva hoje, 89 anos - Ema Rebés Abreu. O Rebés é da parte do pai dela, que era catalão, e o "Abreu", português. E o meu pai era Augusto Monte Abreu, bem de origem, de descendência portuguesa. Embora seja os portugueses que vieram com as caravelas, que não tem notícia nenhuma dos antecedentes, mas era de origem portuguesa mesmo. E era o típico fazendeiro da região, lá. Fazendeiro pequeno. Pequena propriedade, né? É, não tinha, não tinha grandes posses. Mas ele fazia uma ginástica lá com o pouco que ele tinha, né? E conseguiu dar educação pros filho e tudo mais, né?
P/1 – Você crescendo um pouco, né, como é que você decide fazer arquitetura...?
R – Eu vim pra Porto Alegre com 19 pra 20 anos e fiz, se vi na dúvida, gostava muito de desenhar, e desenhar era uma mania, eu desenhei desde menino, muito pequeno, e eu não tinha dúvida que eu queria fazer alguma coisa relacionada a desenho. Então, eu tinha dúvida, naquele momento, se eu ia fazer o vestibular pra Belas Artes, ou pra Jornalismo, pra me enfiar como ilustrador, já pensando em ser ilustrador de jornal, ou pra Arquitetura porque Arquitetura, os arquitetos desenhavam. Mas aí eu terminei optando por Arquitetura porque acho que eu, que foi o equívoco da minha vida, que era a profissão que menos tinha a ver com o que eu queria fazer. O desenho na arquitetura é apenas um instrumento pra ti comunicar tua idéia, pra ti transmitir tua idéia de formas, e, ao fim de quatro anos, mais ou menos, da metade pra o fim da Arquitetura, eu terminei desistindo da Arquitetura, e fui trabalhar em jornal. Aí, realmente me encontrei porque fui fazer o que realmente queria fazer, que era caricatura, que era desenho humorístico, né? Desenho pelo desenho mesmo, não o desenho como um meio pra arquitetura. Desenho como um fim.
P/1 – Me fala uma coisa, é, os primeiros desenhos que cê fazia quando criança, o que que era?
R – A minha mãe coleciona. Os meus desenhos que eu fiz, a minha mãe coleciona todos. Eram desenhos muito ingênuos, assim, muito... Coisa feito a lápis, lápis-de-cor, é, tinha... Mas, lá pela minha adolescência, eu comecei a fazer caricatura dos políticos da minha terra lá. Aí fiz muita caricatura. Levei até algum corridão. Critiquei demais políticos (risos).
P/1 – Que que é corridão?
R – Corridão é quando o cara quer te pegar mesmo pra dar um cascudo (risos). Dar um (risos), aplicar um cascudão daqueles na cabeça (risos).
P/1 – Por causa da caricatura que cê fez?
R – É, caricatura. Eu fiz caricatura do prefeito, eu sei que ele não gostou, naquela época. (risos)
P/1 – Mas já publicava, como é que era isso?
R – Não, não. Não havia nem xerox naquele tempo, né? Havia, quando muito, algum mimeógrafo a álcool. Mas não, não reproduzia, eram desenhos que circulava de mão em mão mesmo. Que eu... não tive a sorte de pegar essa, essa... essa quantidade de meios de reprodução que tem hoje, né, a impressora do computador, a xerox, é, pô, tem mil maneiras de tu imprimir, tu reproduzir o teu trabalho. Eu fui ver um trabalho meu reproduzido, impresso, com 21 anos de idade, quando eu vim pra Porto Alegre, né? Num jornal estudantil que eu, que a gente fez na faculdade.
P/1 – Que que você sentiu nessa época?
R – A emoção foi muito grande. Ver um desenho meu publicado. Porque, quando tu vê um desenho teu publicado, tu vê reduzido, né? Tu faz o desenho original grande, tu reduz. E, na redução, o desenho parece mais bem acabado, sempre dá uma impressão duma coisa mais bem acabada. Isso aí dá um impacto grande na vida da gente, na, é, que a gente vê o desenho com um acabamento mais profissional e... foi uma emoção grande mesmo, acho que eu guardo até hoje o primeiro desenho que foi publicado. Que saiu... imprensa mesmo, né?
P/1 – Sobre o que que era, cê lembra?
R – Não lembro. o que que era, mas devo ter guardado aí. Era alguma coisa relacionada a política, na época. Era em plena ditadura, mas eu me lembro que eu arriscava alguns temas políticos. Apesar de tudo.
P/1 – Como é que era essa questão da ditadura, assim, quando cê começa a trabalhar?
R – É, aí, aí eu vou pra Faculdade de Arquitetura e começo a fazer jornais estudantis. Que aí já tinha algum, algumas formas de expressão, pequenas máquinas ofset, que a gente mesmo imprimia, e aí a gente fazia loucuras, que a gente não sabia o que que poderia dar aquilo, não tinha idéia, não era nada corajoso, mas eu era irresponsável mesmo. Hoje eu vejo os desenhos que eu fiz, críticas aos militares, né? Que eu não sei como não deu cadeia aquilo, né? Por causa daquelas coisas que se fazia. (risos)
P/1 – (risos) Cê não militava, não?
R – Militava nessa área. Jornais estudantis, eu sempre metia desenho meu. Militava também, participei de passeata, né? Muitos jornais estudantis de crítica à ditadura e... Mas, felizmente, eu acho que eles acharam que não tinha grande alcance aquilo, não, não foram me chamar. Mas eu sei de que, de um jornal que a gente fez na Faculdade de Engenharia, que a Faculdade de Engenharia era muito perto da Faculdade de Arquitetura, que foi parar no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), naquela época. E o presidente do Centro Acadêmico teve que ir lá dar declarações por causa do jornal. Eu acho que o desenhista eles não descobriram porque eu já tava me refugiando no Santiago, ali. Até saber que o Santiago era o Neltair levava um tempo, né? Eu acho que foi por isso que não me pegaram, felizmente. (risos)
P/1 – Ô, Santiago, e me fala uma coisa, como é que foi, assim, pra você, sair lá de Santiago, da casa dos seus pais, a mãe etc. e tal e vir morar em Porto Alegre?
R – É, eu saí da casa dos pais e vim morar numa república. Os meus irmãos já tinham alugado um apartamento, aí foi morar um grupo de estudantes, né? Aí eu descobri a vida, né, aquela zoeira, aquela bagunça e tal. Não precisava prestar contas de nada do que fazia. Foi uma coisa boa, maravilhosa. Apesar de tu perder todo o conforto que tu tem em casa, né? Mas mais tarde, os meus pais resolveram vir pra Porto Alegre e eu voltei a morar com a família, né? Resolveram que os filhos tavam todos aqui e tal. Eles tavam muito sozinhos, vieram morar em Porto Alegre. E meu pai terminou morrendo aqui por Porto Alegre mesmo.
P/1 – Que que ele fez? Ele vendeu a propriedade?
R – Não, manteve a propriedade sempre. E ele voltava sempre. A cada mês ele ia lá olhar e tal. E ficava, ficava dez, 15, 20dias lá, depois voltava pra cá. Continuou sempre fazendo a ponte aérea. Nunca se desgrudou do campo, não. Ele era muito apegado ao campo. Era muito... muito fiel às raízes dele. Ele era um homem do campo mesmo. Ele nunca se adaptou nem a cidade pequena, quem dirá a cidade grande. Se bem que ele gostava da cidade grande também porque ele era muito ligado em política e tal, então, aqui ele acompanhava melhor as coisas da política.
P/1 – Me fala uma coisa, ele se vestia, assim, tradicionalmente? (diálogo com câmera)
P/1 – Então, a gente tava falando da sua vinda pra Porto Alegre, né? É, aonde que você começou a freqüentar, aonde que você costumava ir, quem era a sua turma nessa época de faculdade?
R – Ah, era os... Eu convivi um pouco com meus amigos de Santiago, que eu trouxe de lá, que também vieram pra estudar aqui. E, com muitos dos amigos da Faculdade de Arquitetura, também. Havia o famoso bar Alasca, na frente da Faculdade de Arquitetura, que era o ponto de encontro de todo mundo. Onde , evidentemente, como tudo naquela época, corria a história que o garçom era do Dops, né, que ele ficava escutando a conversa pra ver as articulações. Nunca se provou isso. E eu acho que era paranóia daqueles tempos. Mas, dizem que, naquela época, era muito comum os garçons ficarem escutando essas conversas de mesas de bar. Era lá que se planejavam revoluções e se pregava guerrilhas, se planejava tudo ali. (risos) Não saía nada, claro. (risos) Mas, pra arranjar passeatas, pelo menos saíam. As passeatas... Famoso bar Alasca. Foi um bar importante da minha vida, esse aí, da minha vida de estudante.
P/1 – E cês ficavam ali até que horas? Altas horas?
R – É, eu, um dia a gente tava na faculdade assistindo aula, e veio a notícia de que um estudante havia subido em cima duma árvore, uma árvore grande, né, uma árvore... bonita. E, como protesto pra que a árvore não fosse abatida pra construir uma rua ali. Esse foi um caso que ficou famoso, assim, no Brasil inteiro, e até no mundo inteiro. O estudante subiu numa árvore, ficou lá em cima: E disse: "Aqui vocês não vão cortar. Se for cortar, vão cortar comigo mesmo". Aí os caras terminaram desistindo de cortar a árvore. A imprensa foi pra lá, o cara passou o dia inteiro lá em cima. E disse que não desceria enquanto os caras não prometessem por escrito que não iam cortar aquela árvore. Esse cara virou um símbolo do movimento ecológico, e a gente tava na faculdade, naquele momento, e disseram pra nós: "Ó, tem um cara maluco que subiu na árvore e não quer descer enquanto não prometerem que não cortam ela". Aí a gente correu pra lá pra dar apoio pra ele, né? "Ficamo" todo mundo em volta lá, aí fizemos o cinturão e tal. Foi uma coisa maravilhosa, aquilo, coisa de jovem mesmo, a gente tinha 22, 23 anos. E dizia: "Vocês não vão cortar essa árvore" e tal. E aí mais uma colega minha de Arquitetura subiu pra cima também da árvore, ficaram dois lá em cima, e... E foi um momento maravilhoso. Passamos o dia inteiro lá acompanhando o cara. Até que veio a polícia pra tirar o cara a pau, não conseguiram tirar e tal. Aí veio a imprensa, a imprensa começou a cobrir. E aí já não podiam mais surrar o cara, né? Aí subiu o diretor da FAculdade de Engenharia, pra negociar com o cara e tal. Que é um momento lindo aquele ali, né? E isso foi notícia na imprensa no mundo inteiro, né? Que um estudante subiu numa árvore, subiu numa árvore pra salvar a árvore. E aí começou essa coisa do movimento ecológico. Já existia, mas ela ficou mais forte aqui. E aí uma militância que eu sempre tive, né, participei da Agapan, né, que é a Associação Gaúcha de Proteção à Natureza, que deu apoio pra esse estudante e tudo o mais.
P/1 – Essa é...
R – Então, é um momento importante. Também um momento da, do nascimento do, do, da, não digo do nascimento, mas o fortalecimento desse espírito ecológico, que é uma coisa muito forte aqui, né? Que nós temos várias associações de apoio à ecologia, e todas muito ativas. Agapam é a mais famosa de todos. José Lutzenberger, que é nosso grande líder, um cara que ficou conhecido no mundo inteiro pela, pelas suas posições de defesa à ecologia.
P/1 – E isso vem desde a década de 70?
R – Da década de 70. Isso aí tudo foi um, é todo um, uma, um rebuliço que houve naquele momento, década de 70, que é os movimentos políticos, movimentos ecológicos... Na Faculdade de Arquitetura, também, era foco de festivais de música, também, né, conheço, tem muita gente que tava lá que virou músico depois, né? Faculdade de Arquitetura, naquela época, tinha tudo, menos arquitetos. Tinha músico, tinha, é, escritores, tinha, né, Tabajara Ruas, hoje é um grande escritor, passou por lá. Na verdade, ele queria ser escritor. A Faculdade de Arquitetura porque a Faculdade de Arquitetura era um local de encontro, assim, de cabeças pensantes, de cabeças criativas. Todo mundo que caía na Faculdade de Arquitetura. Não sei se hoje ainda existe essa tradição, mas, nesse tempo, era muito forte. A Faculdade de Arquitetura realmente era um pólo de rebeldes, de criativos, de... líderes.
P/1 – Tinha algum professor que foi marcante, assim, pra faculdade, pra sua turma, pra sua formação?
R – Eu tive bons professores, mas nada, assim, que um se diferenciasse do outro. Tive bons professores, é, eu tive um professor que foi importante, eu aprendia conhecer a arte com ele, aprendi a apreciar a arte, que eu vinha muito bruto do interior, que era o professor Armindo Trevisan, um poeta reconhecido aqui no sul. E no Brasil inteiro também. E foi um cara importante. Até hoje é um amigo que eu tenho, que eu encontro sempre, que sempre tenho boas conversas com ele. E tive história, aulas de Hist´ria da Arte, I e II com ele. Muito boas as aulas, muito frutíferas. Ele passava slides, tinha bons slides da arte clássica. E ensinou a gente ter o olho da, o olho pra arte, pra arte clássica, pra pintura clássica, escultura e arquitetura também.
P/1 – Isso te influenciou no seu trabalho?
R – Eu comecei aprender, eu aprendi nos slides dele eu vi um cara chamado Antoni Gaudí, que é o arquiteto mais louco que surgiu na face da terra, e me apaixonei, digo: "Que maluco esse cara, tchê, como é que esse cara tinha ousadia de propor isso?" Através das mãos desse professor. Mais tarde, eu fui a Barcelona conhecer a, a Sagrada Família, o Parque Güel, só aumentou a minha paixão por esse... Que às vezes eu até me arrependo de não ser arquiteto por esses exemplos desses malucos que eu vejo por aí.
P/1 – Legal. É, a tua vinda pra Porto Alegre, o que que, na vida pessoal, assim, como é que mudou, assim, sair de casa e morar em república... Os irmãos?
R – Mudou, o que mudou bastante, assim, é que eu era menino, era adolescente lá, eu e meus irmãos gostava muito de cinema, e a a única janela que a gente tinha pro resto do mundo era o cinema. O pequeno cinema da avenida principal, podia ver os filmes que, né, da época, daquela década de 60, quando aparecia os filmes europeus, que eram mais ousados, mais diferentes. Mas ali era a única janela que a gente tinha pro mundo. A televisão não pegava lá, né? Eu não tenho cultura televisiva de infância, eu não tenho, não sei o que é essa história de desenho animado, essas coisas. Só tinha o cinema. E eu e os meus irmãos, tem um irmão, até hoje é ele é fotógrafo profissional, grande fotógrafo, e a gente gostava muito de cinema e, depois da adolescência a gente começou a se dar conta que o cinema não era só diversão. Então, ,a gente lia os jornais da capital, aqui de Porto Alegre, lia as críticas de cinema, pra ver que tinha mais coisa além daquela diversão oura. Começou a conhecer, conhecer, saber que os filmes do John Ford não eram apenas um faroeste brincalhão, né, e começou a cuidar essa coisa do diretor, passou a ter idéia de que o filme tinha um diretor e, portanto, o filme tinha a cabeça do diretor, que queria mais do que uma diversão. E... E aí, foi um momento importante, assim, o cinema era nossa, nossa janela pro mundo. E, quando eu venho a Porto Alegre, chego a Porto Alegre, aqui já tinha televisão também. E aqui tinha os festivais de cinema, e aqui tinha os cinemas alternativos. Aí, a gente ia ver, nos festivais de cinema alternativo, os filmes experimentais do Norman McLaren, que era um canadense maluco, que fez grandes, grandes invenções no cinema. Aí, descobri o mundo, realmente, cheguei aqui em Porto Alegre, uma cidade que tinha mais recursos, que tinha mais, muito mais janelas do que aquela mera janelinha do cinema do interior pra mim, e aí é um momento de deslumbramento pra mim, né, eu podia freqüentar as bibliotecas onde havia coisas muito boas, né? A biblioteca das faculdades. Realmente, aí, a minha cabeça deu uma explosão. Aí, realmente, eu comecei a desenhar com gosto e vontade porque eu tinha influências, tinha, tinha estímulos, principalmente, né? As histórias em quadrinho, que só chegavam lá no interior as histórias de Disney, ou essas histórias tipo Luluzinha e Bolinha. Eu comecei a descobrir as livraria, onde tinham outras histórias mais experimentais e mais ousadas. Eu já comecei ver que tinha os desenhos do Hugo Pratt, que era um dos desenhos mais sofisticados, então... Isso foi importante.
P/1 – ... a festa?
R – Aqui, o que é forte, forte, que forte mesmo, tchê, é o 20 de setembro, dia do gaúcho. Que é a Revolução Farroupilha. É uma coisa maluca, tchê! Se vocês viessem filmar aqui... Tem um parque, chamado Parque da Harmonia, onde eles acampam e fazem festas, churrascos e botam cavalo, fazem gineteada. Que reúne um universo de 20 mil pessoas aqui, tchê. Acampados, com roupa de gaúcho e tal. Ficam durante dez dias, os caras ficam fazendo festa ali. Churrascada e carreteiro de panela e... Cantam e trova e improviso, declamação de poesia. Muito forte isso. É um fenômeno muito forte, essa coisa do regionalismo. Eu acho, eu tenho até minha opinião sobre isso, tchê, que o mundo vai se globalizando, vai se globalizando e vai ficando uma coisa tão parecida, uma merda tão parecida, tu vai no lugar, vê tudo igual, que as pessoas começam a se apegar a alguma coisa do regionalismo, né? É o que acontece lá na Europa Oriental, lá os cara começa a se pegar, aquelas, aqueles... às vezes até duma forma meio belicosa, como é lá na Europa, mas aqui, aqui felizmente duma forma pacífica. As pessoas se apegaram muito às suas, aos seus regionalismos aqui, pra não começar a ficar tudo muito, muito geléia geral, né?
P/1 – Aham.
R – Vai ficando tudo.. O resto... E aqui, eu acho que aqui no, no Rio Grande do Sul e lá no Nordeste, são os únicos locais em que o Brasil rural não acauboilizou ainda, né? O resto tudo virou caubói americano. Dallas direto, assim, cópia direta de Dallas. O Xorãozinho e Xaropós aí, o sertanojo, que eu digo. Os caras acauboizaram o Brasil, tchê. É tudo uma grande Dallas! Né? Goiás é uma Dallas, Minas Gerais é uma, um... Todos são municípios texanos. Isso aí é uma coisa que... E eu acho que a televisão agora tá tentando reverter isso aí, tchê, eu acho que vai ser uma coisa boa se a televisão começar realmente valorizar a nossa cultura. Nós não somos caubóis texanos, nós somos caipira. Eu me orgulho de ser caipira, né?
P/1 – Ahn, vamo lá.
R – Aqui, assim, como aqui nós somos gaúcho e grossão, mas tem que ter um certo...
P/1 – Como que você conheceu a Olga?
R – Embora, essas, essa coisa aqui do gauchismo, aqui, ela seja um pouco conservadora, reacionária, mas tem um lado bom, que é a valorização daquilo que é da terra, né?
P/1 – Aham.
R – Vamo lá.
P/1 – Vamo lá. Como que você conheceu a Olga?
R – Bom, aí eu vim a Porto Alegre, e tinha um grupo de amigos que era, que era da, da cidade de Santa Maria, que é uma cidade universitária, né? E, aí, esse grupo de amigos aí, que vinha de Santa Maria, eu tinha muita relação com eles. (diálogo com câmera pra voltar e repetição da pergunta)
R – Não, eu tinha um grupo de amigos que era de Santa Maria, que é uma cidade no meio do caminho de Porto Alegre e Santiago, a minha terra. Uma cidade universitária, uma cidade que tem muitos jovens. E esses meus amigos terminaram se formando, vindo pra cá e, né, então, tinha o grupo de Santiago e o grupo de Santa Maria. Aí, nesse grupo de Santa Maria, eu acabei conhecendo em algumas festas, aquelas festas de, de jovem, aquelas galinhada que se fazia, fazia, então, o famoso arroz de China pobre, China é a prostituta, né? O arroz de china pobre porque é uma arroz com lingüiça. Fazia aquelas festas com vinho vagabundo, cerveja e tal. E eu conheci a minha mulher, a Olga. E começou a namorar e tal e, depois de um ano e meio, eu já tava casado, né? E, lá por 1978, por lá. E, bom, somos o, eu sou casado nas primeiras núpcias. Sou um caso raro em meu grupo que continuo casado há tanto tempo.
P/1 – E por que que ela chama Olga?
R – Ela tem o nome de Olga porque o pai dela, o famoso, ele era militante do Partido Comunista, Polaco Pacheco, tá aqui nessa foto, e deu o nome de Olga, não, era pra ser Olga Benário, mas a mãe intercedeu e disse: "Não, Bernário não entra". E ficou só o Olga, em homenagem a Olga Benário Prestes. E... Tá na moda hoje, né? As Olgas todas, tão muito na moda. Ela mais ainda porque é homenagem à nossa heroína.
P/1 – Então, vamo lá, é, que que é um causo?
R – Um causo, aqui no sul, a gente diz assim, que a piada, a anedota é aquilo que foi inventado, que não aconteceu. E o causo é aquilo que aconteceu. O gaúcho diz assim: "Eu vou contar um causo que se deu." Se deu, ocorreu, né? E o causo, é sempre contado com coisa que aconteceu mesmo, que é possível de se acontecer. A piada é aquela coisa mais absurda, que a gente sabe que é impossível acontecer. Mas o causo, em geral, é coisa que se deu. Embora tenha alguns causos exagerados que beiram a piada mesmo, a anedota. Mas o causo, ele, em geral, a gente conta a pessoas que são conhecidas, que a gente já sabe as características da pessoa e tal, características daquele personagem, e isso resulta numa coisa mais engraçada quando a gente conhece o personagem. Mas é evidente que, pra um público mais extenso, né, um público mais amplo, não vai se contar coisa de, de coisas de pessoas, tu não pode contar com essa cumplicidade do cara tenha, que o telespectador ou o ouvinte tenha conhecido a pessoa. Geralmente, cê dá os, aí as características do personagem pra que se situe.
P/1 – O causo é sempre engraçado também?
R – O causo é muito engraçado. O final dele é muito engraçado. Eu já uma vez, me contataram pra ilustrar um livro de causos. E eu tive uma grande dificuldade pra ilustrar, sabe por quê? Porque tu não pode contar o fim do causo. Senão tu... No desenho. Se tu botar no desenho, colocar a situação que ocorre no fim, o cara vai começar a ler, já vai adivinhar como é o fim do causo, vai perder a graça. Então, tem que deixar pra que a pessoa tenha a surpresa final. Então, tem que ilustrar, nunca o fim do causo, tem que ilustar o meio ou o começo do causo. O que tá acontecendo no começo ou tá acontecendo no meio. Pra que tu não estrague o jogo do final. Então, eu, ah, costumo dizer que ilustrar causo é uma coisa complicadinha. Tu não pode correr o risco de, de, de tirar a surpresa final.
P/1 – E contar causos é uma tradição, assim, do gaúcho?
R – É, é uma tradição sim, o fogo de chão. Quando o gaúcho se reúne pra tomar o seu, tomar o chimarrão, né, assar uma carne e tal, toma uma cachacinha, também, se toma muito. Cachaça na guampa. Bota dentro duma guampa a cachaça e se conta causos. Outra coisa que é muito forte aqui no Rio Grande do Sul é o famoso jogo de empulha. Sabe o que que é jogo de empulha? O jogo de empulha é uma pegadinha, que no centro do país chama pegadinha, é aquele jogo que tu fica, assim, numa conversa de chimarrão, e um tenta pegar o outro através do duplo sentido das palavras. O cara diz pra o outro, assim, é: "Ei, vamo comprar uma carne pra fazer um churrasco. Acho que eu vou comprar aqui uns dez quilos. Dá pra 20 comer?" Então, o duplo sentido aí e tal, que o outro não percebe, às vezes, aí os outros riem, aquele, o babacão não percebeu o duplo sentido, ele concorda que sim. "Nem, dá pra 20 comer, sim, dá". E aí esse jogo é um jogo muito engraçado, muito divertido porque tem um momento que, assim, os gaúchos tão reunido, né, os peão se reúne no, na... Hoje, não, já tem televisão, já tem formas de lazer. Mas no, no... Quando eu era menino, que era guri, que eu andava na, na, lá nas, no interior, lá nas fazendas do meu pai, do meu tio, e, chega a noite, os peão não tem muito lazer, então o lazer é a conversa. E a conversa se esgota também. Então, tu fica explorando a possibilidade da palavra. A possibilidade que a palavra te dá de fazer uma brincadeira. O duplo sentido. Que é uma coisa muito usada no humor, o duplo sentido. Sempre com uma, uma característica meio maliciosa, picaresca. Como se o cara tivesse querendo agarrar o outro, no sentido de sacanagem mesmo e tal, né? Ou então se... Tem também aí um forte preconceito contra as minorias, né, tem um forte preconceito. E... mas é uma diversão deles, tentar fazer uma pegadinha pra o outro, né? Aí aquele outro tenta se vingar depois, começa a armar uma também, por exemplo, no duplo sentido da palavra comer ou no duplo sentido da palavra... Ou então, a junção das palavras. O cara diz assim: "É, jacaré no seco anda, né, tchê?" "É, jacaré no seco anda, jacaré no seco anda." Jacaré no seco anda. Jacaré no se-co anda. No se-co anda. Mas tem um duplo sentido aí, uma, né? Que é o segundo sentido é o sentido malicioso. O Millôr Fernandes dizia, costuma contar história, o Millôr Fernandes tem uma frase, uma das frases geniais dele, que... Onde ele define o idiota. "O idiota é aquele cara para o qual tu conta uma piada com dois sentidos e ele não entende nenhum". (risos) E, então, acho que esse gaúcho não é o completo idiota porque ele pega o duplo sentido da palavra ali, ele joga com essa malícia e é uma perspicácia, assim, que eu acho interessante. De como que eles tão estudando uma forma de descobrir um duplo sentido da palavra pra fazer essa pegadinha. Mas essas são as pegadinhas, não são os causos. Os causos são outro gênero. Que também são muito divertidos. São histórias, também, muito engraçadas, muito divertidas, sempre com o final muito surpreendente.
P/1 – Cê se lembra, assim, de alguma reunião desses peões, lá...?
R – Sim.
P/1 – Conta como é que era, descreve pra gente.
R – Tinha, havia um, havia um peão, é, que era um misto de peão e filho de criação de um tio meu, que se chamava Érico. Era um cara que tinha uma... Era um bugre, era um índio, e ele tinha muita perspicácia e era muito engraçado nessas coisas. E ele tava sempre, sempre fazendo uma pegadinha, tchê. Tudo que ele dizia, tinha que desconfiar. Qualquer frase que ele dissesse, tava embutida uma pegadinha. E, quando ele te pegava, ele ria, ria, dava risada. E era a vingança dele contra os guri que vinha da cidade. Ele vivia numa cidade pequena, a gente vinha duma cidade, tinha colégio, tinha estudo, e ele era o peão da estância. Então, quando ele pegava a gente, era a vingança dele. "Ah, peguei os, os estudados!" (risos)
P/1 – E vocês comiam, faziam churrasco, como é que era?
R – Sim, sim.
P/1 – Fogo no chão, que que é isso?
R – Se assa carne. Carne... Eu... Ah, o resto do Brasil só conhece o churrasco, mas o Rio Grande do Sul tem grandes carnes, grandes comidas feitas em panela, né? O arroz de carreteiro, é, o ensopado, o ensopado de ovelha, é, tem o mocotó, também, que cê faz. Então, também se faz, no galpão, na panela de ferro, se faz comidas, né? Muita coisa, o arroz com galinha, também cê faz, que tem receitas próprias. E a gente come também muita comida de panela, não era só o churrasco que se comia. Eu até, tem algumas comidas de panela que eu prefiro ao churrasco, né? Como o ensopado de ovelha, que se faz om mandioca, que é muito gostoso.
P/1 – Mas aí, todo mundo, assim, nessa culinária, tem essa contação de causos, como é que?
R – É. Tem um outro ritual macabro que o gaúcho faz, totalmente macabro, que é comer a cabeça da ovelha assada. Cê assa a cabeça da ovelha e come. E tem cara, tem cara no campo que come até o olho da ovelha, tchê. São tão, tão antropófagos que fazem isso. (risos) Quase canibais. (risos) E é uma coisa muito selvagem comer a cabeça da ovelha, mas eu posso garantir que é uma das carnes mais deliciosas da ovelha tá em torno da cabeça. A carne que assa junto com o osso.
P/1 – Os causos, eles fazem parte dessa tradição gaúcha?
R – Sim, sim, tanto que um grande escritor riograndense, que se chama João Simão Lopes, João Simões Neto, ele escreveu muitos causos, ele registrou esses causos. Os causos do Romualdo, onde ele conta histórias maravilhosas, que são.. O Romualdo é uma espécie de Barão de Munchausen gaúcho. Tinha exageros incríveis. E os causos, os causos do, do Simão Lopes Neto são causos já exagerados, que tu tem que, tu sabe que não poderia ter se, não poderia ter acontecido. Mas é engraçado ele dizer que aconteceu, também já começa a ficar engraçado dizer que aconteceu e que tem testemunha de que, de que o fato aconteceu.
P/1 – Vai pro lado da lenda?
R – Pro lado da lenda Tem a famosa figueira do Romualdo. Romualdo, personagem de Simões Lopes Neto, que era, a figueira que era tão velha, tão velha, que ficou caduca, ela começou dar banana, começou dar laranja, pêssego. Ficou caduca, não sabia mais que tinha que dar só figo. (risos) Caducou a pobre da figueira, muito velha, né? (risos) Os causos do Romualdo.
P/1 – E, me fala uma coisa...
R – E o Romualdo também tem uma história dum, história de que ele tinha um cachorro, que era um cachorro lebreiro, uma cadela lebreira que tava prenhe. Que a cadelinha lebreira, ela correu atrás duma lebre que também tava prenhe. E aí, correram tanto, correram tanto que, no meio do caminho, deram cria as duas. A lebre deu cria, e a cachorra também deu cria. E os cachorrinhos, como eram muito... Tinha uma, tinha um, uma genética muito forte, eles já saíram correndo atrás da lebrezinha. Cada cachorrinho correndo atrás de cada lebrezinha. (risos) São os causos do Romualdo.
P/1 – Que que é um cachorro lebreiro?
R – É o cachorro galgo, aquele grandão, fino, que o gaúcho gosta de ter pra correr lebre, né? Pra fazer a caça da lebre. É o único bicho que consegue alcançar uma lebre. É o lebreiro. É o galgo.
P/1 – É o galgo. Sai pra caçada.
R – Pra fazer uma caçada, exatamente. Solta no campo, e ele consegue, na planura do pampa, ele consegue alcançar uma lebre, caçar a lebre. Que também é uma carne que se come muito, né, é uma caça apreciada.
P/1 – E me fala uma coisa, Santiago, os causos são mais...
R – Não é a caçada da raposa, aquela que os nobres ingleses faziam (risos.) É mais rústica um pouco. Ninguém bota, ninguém bota aqueles culotes e a jaqueta vermelha (risos).
P/1 – Mas usa uma roupa gaúcha?
R – Roupa gaúcha mesmo, claro. Aí é roupa de campo mesmo. Bota, a bombacha e o chapéu, né? Bombacha, chapéu, bota e lenço, lenço, às vezes, vermelho, quando o cara é maragato, branco, se ele for chimango.
P/1 – Maragato e "chicabanco".
R – Maragato e chimango é outra tradição do Rio Grande do Sul, que vem da Revolução Federalista de 1893, se dividiram maragatos pra um lado, chimangos pra outro.
P/2 – Chimango.
R – Chimango. Chimango era o, era o lenço branco, e o maragato, o lenço vermelho. Maragato e chimango. O maragato veio da, mais tarde veio originar o Partido Libertador, que usava lenço vermelho. E, quando as tropas se encontravam, de chimango e maragato, não tinha prisioneiro, era degola mesmo, em 93. Degola. Foi a revolução mais selvagem que houve no Brasil. O chimango encontrava um maragato, degolava. O maragato encontrava o chimango desprevenido, degolava também. É uma revolução muito selvagem. E depois ela se repete em 1923, uma outra revolução que também divide maragatos e chimangos, no Rio Grande do Sul. 1923. P/2- As tradições gaúchas, elas são muito fortes, elas identificam um pouco o característico do Brasil. Cê vê as diferenças entre os outros. E é isso, essas diferenças que complementam o Brasil.
R – Essa é a nossa federação aqui, né? É quase como se fosse a República Russa, aqui, nós temos várias federações com os costumes próprios. Eu acho bonito isso, essa, essa, esse Brasil ser tão grande, ser um continente, que permite, assim, é, peculiaridades, né, permite ter uma cultura de frio aqui no Rio Grande do Sul e ter uma cultura de calor no nordeste, né? Que nós temos essa cultura do frio. Essa coisa de causo tem muito a ver com o frio. A hora que faz frio, te reúne em volta do fogo, e o sono ainda não chegou pra dormir, tu tem, povoa esse momento com os causos.
P/2 – Então, qual é a importância do causo pra divulgar, pra manter, pra espalhar essa cultura gaúcha?
R – Eu acho que é uma, é uma forma de registrar um monte de coisa, né, costume, vestuário, modo de ser. Eu acho que ela é altamente, é, sintomática. É um sintoma dele. Ela dá um, diagnostica o que é esse tipo que vive aqui, né? Ela... Pelos causos, se chega a muitas coisas, a muitas descobertas a respeito desse povo tão diferente, que é o povo daqui do sul.
P/1 – Então, a outra pergunta. É, os causos são muito mais relacionados ao meio rural, ao campo, né isso?
R – É sim, mas tem muita coisa de cidade pequena, de cidade do interior, também que são curiosas. A cidade pequena, a cidade pequena, onde o gaúcho já começa a ter contato com algumas coisas da tecnologias. Ocorrem coisas muito engraçadas, né? Agora tem muitas piadas que circula do gaúcho que chega na cidade - pelo menos na cidade pequena - onde ele vai comprar um celular, e acontecem umas coisas engraçadas porque ele não sabe lidar muito bem com celular, né? Mas ele já tá chegando na tecnologia e tá encarando ela com seu jeitão gaúcho.
P/1 – E aí isso vira um causo.
R – E virou um causo, isso virou um causo. A história do gaúcho que chega na, quando as televisões começaram a ficar, é, populares, o gaúcho saiu da sua, do seu reduto lá do campo, e vai na cidade, e... Numa loja, pra comprar televisão. E pergunta: "Tem televisão?" E o cara: "Tem". "Tem televisão colorida?" "Tem". "Então, me dá uma verde". (risos) Não sabe muito bem, ouviu falar em televisão e quer ter uma, mas não sabe muito bem como é que funciona (risos).
P/1 – Então, vamo lá agora, cê vai contar um causo pra gente. Cê vai contar dois causos.
R – Tudo bem.
P/1 – Então, primeiro, queria que cê contasse o primeiro, então.
R – Esse causo é um causo muito engraçado que me foi contado por um irmão meu que foi promotor público no interior. E ele recolheu esse causo, que eu acho ele muito... muito... Ele é sutil, ao mesmo tempo ele não é sutil. Mas ele tem um sabor diferente. Pela tirada espontânea da figura da figura que... que é protagonista do caso. É, tinha um gaúcho, gaudério, um índio velho, lá do interior, chamado Candelário. E... Esse Candelário cometeu um crime lá no, na região dele, no rincão que ele morava. Rincão é onde o gaúcho mora, né? Cometeu um crime e foi a júri. Foi a júri na cidade e... Quando ele voltou pro rincão dele, ele sentou no bolicho e começou a contar a história do júri. Como é que foi o tal de júri. Pra o bolicheiro. E o bolicheiro falou assim: "Como é que foi essa história de júri, seu Candelário?" Disse: "O senhor não queria saber. O senhor não queira saber. Me botaram no banquinho, no meio de uma sala. E veio uns homens de gravata lá. O outro com a roupa preta. E me desaforaram, falaram mal da minha vida, falaram mal até da minha mãe." Disse: "Barbaridade, seu Candelário! Mas e do crime não falaram?" "Parecia que não tinham outro assunto". (risos) "E do crime não falaram?" "Parecia que não tinham outro assunto". (risos) Ele achou que o júri era pra discutir outras coisas, né? Só falavam naquele crime, tchê! "Mas do crime não falaram?", o bolicheiro disse. "Parecia que não tinham outro assunto".
P/2 – O que que ele achou?
R – O Candelário disse: "Parecia que não tinha outro assunto."
P/2 – O que que é bolicho, bolicheiro?
R – Bolicho é onde o cara... É o armazém onde tu compra as coisas e tu reúne pra tomar o teu trago de cachaça, a canha. Tomar um trago de canha no bolicho.
P/2 – Repete pra mim, por favor.
R – O bolicho é o, é o armazém de campanha, do campo. Aqui, nós, no campo, a gente diz campanha, né? Uma coisa até acho que meio influência francesa, essa coisa de campanha. Mas o bolicho é a, o bolicho é o armazém de campanha, onde tu reúne, compra as coisas que tu precisa pra levar pra tua casa, que geralmente é longe, tu tem que andar a cavalo pra ir no bolicho, e tu fica um tempo lá tomando, sabendo das novidades do povo - o povo é a cidade, né? E tomando um traguinho de cachaça. Nesses bolichos, eu recolhi muita coisa. Porque o meu tio tinha um bolicho lá no interior, Santiago, onde reunia as figuras mais incríveis, mais... De onde eu tirei muitos personagens pra minhas historinhas, dessas figuras que freqüentavam o bolicho. Tinha um, seu Poncério, que não tinha dente, falava assim e tomava vinho vagabundo com açúcar dentro e um pedaço de mortadela. Como ele não tinha dente, a mortadela ficava assim, ó. Até desaparecer com a mortadela da boca, era uma coisa muito engraçada. E o seu Poncério: "Então, tu me traz de lá..." (Entrevistado atende telefone, conversa com câmera. )
R – Esse causo que eu vou contar, é um causo que eu gosto muito porque tem uma, tem um sabor especial, assim, duma, duma espontaneidade que é o, que é a frase final do protagonista do causo, e ele foi contado pra mim pelo meu irmão que é promotor público, e ele foi promotor na cidade de São Borja, lá onde recolheu vários causos desse tipo, sempre ligados à vida jurídica, que são muito engraçados, muito curiosos. Toda vez que um gaúcho desses vai a júri ou coisa parecida, acontecem coisas muito engraçadas. E esse causo que ele conta é o causo de um, de um gaúcho, de um gaudério, um índio velho, que foi a júri, né? Era seu Candelário. E ele foi a júri porque cometeu um crime no rincão dele e, depois que terminou o júri e tal, ele voltou pro rincão dele e, sentado no bolicho, tomando um trago de cachaça ali, ele contou pro bolicheiro, o dono do bolicho, o dono do armazém, como é que tinha sido o tal do júri, esse. Aí que vem o caso, ali. Quer que eu conte de novo ou não?
P/2 – Eu quero que você fale o título.
R – Eu posso dizer que esse seria o causo do Crime do Candelário. (...) Esse causo que eu vou contar, eu posso intitular ele como O Crime do Candelário. (repete olhando pra câmera)
P/1 – E qual foi o crime do Candelário?
R – Vou contar tudo de novo, ou não?
P/1 – Não, só o crime.
R – Ah, o crime eu não sei qual foi. Eu nunca sei... Eu acho que foi alguma coisa de facada, aquelas coisas que se dão com facada, acho que não foi com morte. O cara dá uma facada no outro e tal, aí vai a júri. Ou que quando vai a júri é porque é crime de morte, né? Eu acho. Eu não sei. Não vou me... Nem grave isso aí porque eu vou dizer besteira. Acho que júri significa morte mesmo, né? Não sei, não sei. Não interessa o causo. Não interessa o crime, só o causo.
P/1 – O causo.
R – O causo.
P/1 – E me descrve como é...
R – Eu tava falando do seu Poncério, né, que tomava vinho vagabundo com açúcar dentro. E ele contava muitos causos porque ele foi, ele foi revolucionário na revolução de 1930. Ele embarcou num trem como, como, ele contava, ele não tinha dente, assim: "Eu era o furriel". Ele era, o seu Poncério Ferreira, e ele dizia assim: "Eu era o furriel Ferreira. Furriel, cabo furriel". Não existe mais cabo furriel hoje. Que falava com a boca fechada, assim. E ele contava. "Como é que foi a revolução, seu Poncério?" Diz: "Aquilo foi uma coisa barba, uma coisa terrível. E era tiro e tiro e tiro e tiro e tiro. Às vezes, esquentava o cano do fuzil, que a gente tinha que mijar dentro pra esfriar", diz ele.
P/2 – E o caso dois, cê quer fazer mais uma pergunta.
P/1 – Descreve pra gente como é que é o bolicheiro. É o armazém, como é que era?
R – É um armazém, com balcão de madeira, né? Aquilo ali é um bolicho, lá tá o bolicho. Aquele´e o bolicho do meu tio. As “prateleira” com salame, com tecidos, com, com garrafão de vinho vagabundo, bota, pro cara que vai comprar, né, tamanco pendurado numa corda, o cinto de (guairaca?), que é o cinturão com bolsa, o peão lá... E eles se reúnem geralmente num banco comprido assim, ficam contando causos. Geralmente de costa pra janela. E ali, naquele bolicho ali, tem até o metro pra vender fazenda, que era o metro que o meu tio usava quando os bêbados começava ficar muito, muito alterados, ele ameaçava os caras com o metro de fazenda pra dar uma paulada. A balança, dessa antiga, né, as balança de, de... E os vidros de bala. Ele comprava bala, caramelo. E os ovo cozido, que ficava no vidro, lá. Até hoje tem, no botequim vagabundo, tem um ovo cozido boiando num vidro, numa água com vinagre.
P/1 – É um lugar mais freqüentado por homens?
R – É. É o pub do gaudério. Pub, onde lee faz a... Eu não diria a happy hour, a gay hour, que eu acho melhor dizer a gay hour. (risos)
P/1 – Mas ali tem uma mulher, pra fora?
R – Não. A mulher pedindo pelo lado de fora da... Porque ela não quer entrar ali, tá muito cheio de peão contando piada suja. Ali ela não entra, ela pede a mercadoria pela janela. Porque ela sabe que ali o ambiente tá infectado já. Isso é muito comum. As mulheres vir, pedir pela janela o que queriam. E o guri de recado, que vai comprar, né? Com a, ele tem lá, na mão dele, ele tem a mala de garupa.
P/1 – Que que é a mala de garupa?
R – A mala de garupa é uma mala feita de pano, que o cara bota em cima do cavalo, fica um embornal pra cada lado, né? Parece que se equilibra dessa maneira em cima do cavalo. Cada bolsa vai uma quantia de peso equivalente pra ela se equilibrar em cima do cavalo. É um alforje, o que se chama de alforjes.
P/1 – E aquele cara entrando com a mala, ali? Que que? Com o jeito diferente.
R – Aquele lá, sabe o que que é? O que se chamava antigamente o cometa. É o cara que era representante comercial, que vinha da cidade para vender mercadorias, né? Trazer amostras de tecido, amostras de produtos que depois eram encomendados por um, por uma quantia maior. Naquela mala ali, o cara levava as amostras.
P/2 – Era o caixeiro viajante?
R – Era o caixeiro viajante. Chamado de cometa, também. Não sei se vali pro Brasil inteiro, mas acho que o Brasil inteiro chamava de cometa. Isso é uma figura que existia muito, na... Andava, às vezes, em lombo de burro, em lombo de cavalo. Mais tarde, eu já... Eu já conheci eles andando de carro, já, de automóvel.
P/1 – E por que que chama de cometa?
R – Porque eles viajavam como um cometa, né, dum lado pra outro, tanto que... E é o cara que trazia as novidades da cidade, né, o cara que vinha trazer as mercadorias, as amostras de mercadoria, e contava: "Lá na cidade, tá ocorrendo isso, isso e aquilo". Uma coisa em desuso hoje porque o cara hoje tem uma televisão lá com uma parabólica, ele sabe tudo em, exatamente no momento que as torres gêmeas explodem, ele tá sabendo lá no interior do campo. campo.
P/1 – Jóia. Vamo lá.
R – Bom, o segundo causo, né?
P/1 – Você quer começar falando o nome do causo...
P/2 – É, faz essa introdução que a gente fez.
R – O segundo causo que eu vou contar...
P/2 – Peraí, só um minutinho.
R –Ah, não deu muito reflexo aí?
P/2 – Não...
R – Tá lá em cima, Terezinha.
P/1 – Então vamo lá. Qual o nome do segundo causo que cê vai contar pra gente?
P/2 – Olhando pra câmara.
R – Bom, o segundo causo que eu vou contar...
P/2 – Não. Pode falar: "O causo que eu vou contar" porque pode ser o primeiro...
R – Ah, eu gaguejo. Eu gaguejo e fico... O segundo causo que eu vou contar é o causo...
P/1 – Sem falar o "segundo", porque ele pode ser o único.
R – O outro causo ...
P/1 – Sem o "outro".
P/2 – Não. "o causo que eu vou contar..."
R – O causo que eu vou contar é o causo que ele é, é, semi-rural, semi-urbano. Foi um causo que ocorreu na minha cidade. E eu posso chamar ele de "A Casa do seu Gomercindo". O seu Gomercindo era um fazendeiro, se diz lá no interior fazendeirote. E esse Gomercindo, ele resolveu comprar uma casa na cidade. E ele tinha mania de dizer assim: "De maneiras.” “De maneiras que eu preciso comprar uma casa na cidade. Preciso de educar os filhos, botar os filhos no colégio". E aí ele foi pra cidade e comprou uma casa. Acontece que nesse tempo lá em Santiago, na minha terra, na minha cidade, a usina de luz elétrica era, a luz elétrica era fornecida por uma usina com óleo, óleo diesel, né? Então tinha um motor, um gerador que era movido a motor que fazia pu-pu-pu-pu-pu, fazia a noite inteira barulho. E ali produzia energia elétrica elétrica pra cidade, antes de trazerem energia elétrica das grandes fornecedoras, né, das hidrelétricas e tal. E aí, o seu Gomercindo comprou uma casa e a casa ficava perto da usina. Aí, comprou a casa, fechou o negócio, achou a casa boa pros filhos estudarem na cidade e tal. E aí, mas continuava com sua fazenda lá, né? Aí o corretor de imóveis, disse assim: "A casa é muito boa, seu Gomercindo. O senhor só vai estranhar... Na primeira semana, o senhor vai estranhar o barulho da usina, mas só na primeira semana, depois o senhor se acostuma". Ele disse: "Não tem problema, de maneiras que a primeira semana passo na estância." (risos)
P/2 – Tá legal.
R – Ele dizia: "De maneiras". Tudo que ele dizia: "De maneiras, preciso comprar uma casa, na primeira semana passo na estância".
P/2 – Pode contar ele de novo, só pra gente fazer um plano diferente aqui.
R – Todo, todo?
P/2 – Todo, todo. Pois é...
R – O causo... Não precisa dizer "o causo", já tem lá na frente, né? O causo de seu Gomercindo, é o seguinte, gente: seu Gomercindo era um fazendeiro, fazenderote. Se diz lá no interior fazendeirote, quando o cara não é um grande fazendeiro, é um pequeno fazendeiro, é um fazendeirote. E o seu Gomercindo é um fazendeirote. Então, ele resolveu que ele tinha que ter uma casa na cidade. E ele tinha mania de dizer "de maneiras que": "De maneiras que preciso comprar uma casa na, preciso de comprar uma casa na cidade pra educar os filhos. Pra mó de educar os filhos". E aí foi pra cidade e comprou uma casa. Só que, naquele tempo, a energia elétrica fornecida na cidade era fornecida por uma, por uma usina, era uma usina movida a óleo, era, né, motores a óleo que produzia energia elétrica pra cidade. Esses motores era barulhentos, faziam barulho a noite inteira, pu-pu-pu-pu-pu, a noite inteira. E, quando seu Gomercindo comprou a casa, perto da usina e tinha escolhido, né? Aí o corretor explicou que a casa era boa, que a casa tinha boas condições e tal, ele disse: "Mas é uma casa, a casa é boa, buenacha", ele disse. "Me parece que a casa é muito boa, buenacha." E comprou a casa. E o corretor se viu na obrigação de dizer pra ele: "É, seu Gomercindo, só tem um problema, né? O barulho da usina, mas é um barulhinho que depois o senhor acostuma. Na primeira o senhor vai estranhar, mas depois o senhor acostuma, acostuma e dorme muito bem". Ele disse: "Não tem problema. De maneiras que a primeira passo na estância". (risos)
P/1 – A casa buenacha?
R – Eu mantive seu Gomercindo, né?
P/1 – Gomercindo?
R – Gomercindo, não “gu”. Gomercindo.
P/1 – Buenacha, que é isso?
R – Casa boa, Bueno, buenacha. Buena, buenacha, boa casa. Gostou da casa...
P/2 – Buenacha é muito boa, né?
R – Ele gostou da casa. É, muito boa.
P/2 – Boníssíma?
R – Muito boa.
P/1 – E bah que vocês falam aqui?
R – O “bah” é a breviatura do barbaridade, né? O gaúcho, quando se admira de algumas coisa, inclusive o gaúcho urbano, diz: "Barbariade!". “Bah!”, quando se admira. É uma espécie de: “OH!”. (risos) O gaúcho acha que “Oh!” é uma coisa muito bicha, então ele diz: “Barbaridade!”. Dizer "Oh" fica uma coisa muito, muito fresca.
P/1 – E o tchê?
R – Tchê é uma espécie de muleta da linguagem, né? Tudo que vai dizer, tu diz tchê. “Tchê, mas que coisa grande aquilo lá, rapaz, bah!" "Tchê, que casa buenacha essa, tchê!" É o castelhianismo. Aliás, não é o castelhianismo, dizem que vem do índio, essa região que dizia “tchê”. Dizem, não sei, não sei bem a origem. Mas, na Argentina, é o tchê, mas pra nós aqui quer dizer che, daí que vem o Che Guevara, né? Che Guevara porque ele tinha mania de falar com tchê. E ficou com o tchê, lá em Cuba, quando chegou lá. Che Gueva. Tomava mate o Che Guevara, né? ______, entre uma guerrilha e outra, ele tomava chimarrão. Ele era o gaucho mesmo, ou o gaúcho.
P/1 – Tem alguma pergunta, André?
P/2 – Maravilhoso.
P/1 – Santiago, em nome do canal Futura e do Museu da Pessoa, queria te agradecer a participação.
R – O cachê deve estar naquele bolso gordo (risos).
P/1 – Maravilhosa a entrevista, demais.
R – Tem notas de dólares ali, (risos).
P/2 – A gente queria saber a possibilidade de você, naquela mesa, fazer um desenho.
R – Terezinha... (risos)
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