Projeto: A Economia Solidária na Vida das Pessoas
Entrevista de Arildo Mota Lopes
Entrevistado por Bruna Oliveira
Entrevista concedida pelo Zoom (São Paulo/Diadema), 26/04/2023
Entrevista n.º: IPS_HV005
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Arildo, para começar eu queria que você se apresentasse dizendo seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R – Meu nome é Arildo Mota Lopes, eu nasci em Santa Mônica, Paraná, no dia 30 de março de 1965.
P/1 – E quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai chama-se, está vivo, vai completar 87 anos, Valdomiro de Oliveira. E minha mãe, infelizmente, nós a perdemos na pandemia, ela teve covid, enfim, não resistiu, chamava-se, Teresa Mota Lopes.
P/1 – E com o que eles trabalham, trabalhavam?
R – Então, meus pais sempre trabalharam na lavoura, pequenos produtores. Enfim, meu pai acabou se aposentando, sempre trabalhando na lavoura, hoje ele vive numa chacrinha, lá na região de Cascavel, Paraná.
P/1 – E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Olha, principalmente a minha mãe, a minha mãe sempre foi uma batalhadora, mãe de seis filhos e filhas, somos em seis, três homens e três mulheres. Na verdade ela sempre foi a matriarca da família, nós tínhamos uma pequena propriedade. E meu pai sempre trabalhou fora, em fazendas, meeiro, então assim, eu quase não convivi muito com meu pai na verdade. E com a minha mãe, eu convivi até os 13 anos de idade, é raro eu contar essa história, porque as pessoas não perguntam, mas a partir dos 13 anos eu vivi com parentes. Então assim, minha mãe foi aquela que sempre cuidou da casa, dos filhos, a gente agradece muito a Deus. Também muito católica, era fervorosa, de a gente, todos os seis ir para igreja, catecismo, de levar todos, enfim. Mas a partir dos 13 anos, então eu não convivi com eles, enfim, mas sempre ligava ainda, eu era daquele do tempo da ficha, daquela ficha de aço, sei lá, de latão, só ligava aos domingos, né...
Continuar leituraProjeto: A Economia Solidária na Vida das Pessoas
Entrevista de Arildo Mota Lopes
Entrevistado por Bruna Oliveira
Entrevista concedida pelo Zoom (São Paulo/Diadema), 26/04/2023
Entrevista n.º: IPS_HV005
Realizada por Museu da Pessoa
P/1 – Arildo, para começar eu queria que você se apresentasse dizendo seu nome completo, a data e o local do seu nascimento?
R – Meu nome é Arildo Mota Lopes, eu nasci em Santa Mônica, Paraná, no dia 30 de março de 1965.
P/1 – E quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai chama-se, está vivo, vai completar 87 anos, Valdomiro de Oliveira. E minha mãe, infelizmente, nós a perdemos na pandemia, ela teve covid, enfim, não resistiu, chamava-se, Teresa Mota Lopes.
P/1 – E com o que eles trabalham, trabalhavam?
R – Então, meus pais sempre trabalharam na lavoura, pequenos produtores. Enfim, meu pai acabou se aposentando, sempre trabalhando na lavoura, hoje ele vive numa chacrinha, lá na região de Cascavel, Paraná.
P/1 – E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Olha, principalmente a minha mãe, a minha mãe sempre foi uma batalhadora, mãe de seis filhos e filhas, somos em seis, três homens e três mulheres. Na verdade ela sempre foi a matriarca da família, nós tínhamos uma pequena propriedade. E meu pai sempre trabalhou fora, em fazendas, meeiro, então assim, eu quase não convivi muito com meu pai na verdade. E com a minha mãe, eu convivi até os 13 anos de idade, é raro eu contar essa história, porque as pessoas não perguntam, mas a partir dos 13 anos eu vivi com parentes. Então assim, minha mãe foi aquela que sempre cuidou da casa, dos filhos, a gente agradece muito a Deus. Também muito católica, era fervorosa, de a gente, todos os seis ir para igreja, catecismo, de levar todos, enfim. Mas a partir dos 13 anos, então eu não convivi com eles, enfim, mas sempre ligava ainda, eu era daquele do tempo da ficha, daquela ficha de aço, sei lá, de latão, só ligava aos domingos, né gente, porque domingo era mais barato, gastava-se menos fichas naquela época.
P/1 – E quantos irmãos você tem? E como era a sua relação com eles na infância?
R – Então, eu sou o irmão mais velho, Arildo mais velho, é escadinha, a segunda é a Miriam, a terceira Marilei, o quarto o Antônio, a gente chama ele de Tony, o quinto a Neide, ou a quinta, a Neide, e o sexto é o Odair, que é o Dário, enfim. Brinquei muito com eles esse fim de semana, os três estavam de moto lá no Atacama, os três últimos aí, os mais jovens. A gente se fala o tempo todo, mas enfim, como eu era o mais velho, era aquele que quando a mãe ia para roça, eu tinha que ficar com os irmãos, cozinhava, esquentava comida para eles e a gente convivia. Então, os irmãos, assim, como era escadinha, a partir dos 6, 7 anos, era aquilo, um vai cuidando do outro. A mãe ia para roça, puxava a mão de um, o outro no colo, essa era a nossa vida, até os 13 anos de idade, quando eu vim para São Paulo. Mas enfim, era uma convivência muito harmoniosa, enfim, a gente ia acompanhar a mãe, os mais velhos trabalhavam, faziam alguma coisa, mas enfim, era aquelas brincadeiras nossas, como nós não tínhamos brinquedos, então a gente pegava um chuchu, furava o chuchu com um pauzinho, enfim, fazia um cachorrinho, um gatinho, essa era nossa infância. Carrinho? Que carrinho que nada. Então a gente pegava umas tampinhas, enfim, pregava ali numa madeirinha, aquilo era o nosso carrinho. Enfim, a gente conversa hoje, fala puxa vida, como nós éramos felizes. Enfim, não que nós não sejamos felizes hoje, mas enfim. E nós não valorizamos muito aquele tempo de almoçarmos e jantarmos todos juntos, a gente sempre relembra disso, os seis estão aí para sempre estar relembrando essa história. Com a mãe, como eu disse, foi a mãe que nos trouxe, hoje todos são formados em nível superior, cinco são empresários, só eu que de um modo ou de outro, depois eu te conto o resto da história.
P/1 – Queria saber se você chegou a conhecer os seus avós?
R – Sim! Também conheci a minha avó e o meu avô, sempre assim, eles eram nordestinos, são aqueles migrantes dos anos 50, para colonizar o sul do país, aí ainda foram de trem, famoso pau de arara que veio da Bahia, do estado da Bahia. Então eles foram um dos colonizadores do oeste do Paraná, onde chegaram, abriram picada, picada, vamos dizer, abriram uma rua, enfim, chamava-se de picada, abria-se uma rua, no meio da floresta, derrubava-se tudo, terrível, né! Inclusive, quando eu comecei a me entender ali, seis anos, sete anos, ainda se usava muita motosserra, derrubando todas as árvores, peroba, enfim madeiras de lei, para poder colonizar. Eu estou falando aí dos anos 70, 1970, 1971. Então, assim, eles foram para lá, são uns dos desbravadores, sofreram muito preconceito, preconceito racista, porque para se ter uma ideia, quem já estava lá, colocava… Para que as pessoas saibam, hoje e tratores, altas tecnologias, antigamente não, era uma junta de bois, dois bois, uma canga, para arar a terra, para plantar. E as pessoas que estavam lá, não quero mencionar ninguém, que é chato, enfim, nada disso, mas colocavam o nome dos bois de baiano, Ceará, enfim, para constranger nós de poucas posses, vamos se dizer assim. Tivemos que enfrentar, meus pais enfrentavam tudo isso, minha mãe chorava muito, meu pai quando tava, quando vinha. E aquilo que eu te falei no começo, trabalhava de meeiro, empregado para os grandes fazendeiros. E sempre fora de casa e longe, para se ter uma ideia, a cidade mais próxima era 25 km, tipo não, era 25 km de distância. E não tinha nada do que tem hoje, né gente, nós para limparmos arroz para comer, na época, nós tínhamos que… plantava-se arroz, escolhia o arroz, colocava no lombo de um cavalo, ou no limite, quando ia melhorando as coisas, numa bicicleta e tinha que andar um dia inteiro, levava-se 60 kg de arroz, para trazer para casa 10 kg de arroz limpo, 15 Kg. Enfim, essa foi a vida aí de quem colonizou esse estado, que hoje é o que é. Um pouco isso, enfim, da minha infância.
8:11 - E pensando na sua infância ainda, eu queria saber se tem algum cheiro ou alguma comida que lembra essa época?
R – Ah, claro que tem! Eu sinto o cheiro até hoje, o cheiro da mata, que não é cheiro de chuva, cheiro da mata, isso eu sinto até hoje. Enfim, quando eu vou em qualquer lugar, às vezes, alguns finais de semana a gente acaba saindo aqui com a família, esse último fim de semana eu senti o mesmo cheiro que eu senti quando tinha 6 anos a 13. Então eu consigo sentir, sinto esse cheiro até hoje, então assim, o cheiro da mata, que não é o cheiro de chuva, é um cheiro harmonioso, maravilhoso, o vento batendo assim no rosto, eu me recordo muito daquela época. Sim, sinto sim!
P/1 – E você lembra da casa? Como era essa casa, como era o entorno?
R – Nossa, agora até arrepiou, viu gente! Não sei se é para todo mundo assim, nossa, dos pés a cabeça. Eu me lembro perfeitamente da casa, me lembro até quando o meu pai fez uma melhor, na verdade era de chão batido, de madeira e o telhado, eu me recordo bem, então eu não conhecia telha, então, na época, tinha uma cobertura de telha, isso era para quem já estava razoavelmente. O que eu me lembro dessa casa, mas era chão batido, uma parte difícil, para uma família, eu lembro quase tudo, meus irmãos, só Odair, que eu te falei, o caçula, esse nasceu já numa cidade, chama-se Céu Azul, foi quando nos mudamos, saímos da roça. Houve o grande êxito, porque lá a casa era isso, era só 2 cômodos, 2, 2 era dividido, aí tinha tipo, tipo não, tinha uma varanda, onde ficava o fogão, fogão a lenha, construído de barro. Então assim, me recordo muito bem, como se fosse hoje. Então nós torcíamos para não vim o inverno, 1976, eu me recordo, 1975, caiu neve. Então você perguntou da minha vó, a matriarca, não conhecia neve, ela correu para nossa casa, ele morava, cerca, muito próximo um dos outros. E ela achava que ia acabar o mundo, então nevou em 1975 e nós não conhecíamos. Enfim, tem uma história longa, a gente não sabia o que era sorvete, então nós colocavamos uma marca, enfim, de um pozinho, não precisa fazer propaganda aqui. Para que congelasse e virasse sorvete, então nós não conhecíamos sorvete. Mas, enfim, nós não conhecíamos essas coisas não, viu. Então eu lembro de tudo isso, passa um filme na cabeça da gente. Mas era isso! Então assim, mais um detalhe, então não tinha cama para todos, era aquilo, 2 dormia com os pés para cima, 2 para baixo, foi bastante, enfim. Mas só que nós éramos felizes, é isso! Tinha bastante frestas, como diz o paraense, frestas são buracos na parede. E quando ligava o fogão a lenha no frio, fechava-se a porta e aquele fumaceiro, um perigo, né gente, para a gente morrer. Às vezes a chaminé não dava conta. Mas tinha umas coisas maravilhosas. Então os pães, enormes que a gente conseguia fazer, claro, fazia os pães, não tinha padaria, não tinha pão francês, não existia nada disso. Então fazia-se o pão em casa e quando assava a fornada o cheiro era para um dia inteiro de cheiro maravilhoso. Então também são recordações maravilhosas. Mas no inverno sofríamos muito, porque passava o vento e nós não tínhamos cobertores suficientes, é isso! Uma época difícil.
P/1 – E você estava começando a contar também sobre a mudança para uma cidade maior, como é que foi essa mudança?
R – Então, falar dessa mudança, foi uma época que o… do Paraná, plantou-se muito hortelã. E nessa época já tinha uma forte mecanização, não é como hoje, você faz duas safras de milho e uma de soja hoje, nessas regiões, você faz três safras. Não sei se tá fazendo mais hoje. Mas enfim, naquela época não, plantava-se uma de soja, depois pensava plantar uma de milho. Anterior a isso, houve uma febre de plantar hortelã para extrair o óleo, e desvalorizou. E aí o primeiro ano foi bem, o segundo ano, depois também estragou toda a terra, o que se plantava depois já não dava. Então desvalorizou muito a terra e os grandes começaram a comprar todas as terras. Então minha avó tinha dois alqueire de terra, não é pequeno, já é um negócio grande. E aí ela vendeu, falou, vou vender tudo. Cara continua, falou, nós vamos mudar para cidade, vamos levar todos os filhos delas, meus tios, minha mãe e fomos para a cidade. Na época, o meu pai já foi trabalhar numa madeireira. E era tudo novo, né gente, tudo novo! Isso foi em 1976. Morei de 1976 a 1978, enfim já era tudo diferente. Eu não contei a parte anterior, para eu ir para a escola, gente, eu tinha que passar no meio de uma invernada, tinha gado, eu corria de gado, porque o colégio, na verdade era assim, como se diz, era o grupo escolar, podia estudar ali até a quarta série, depois já não tinha mais. Nós falamos, então vamos para a cidade, precisa estudar, tal. Aí nós fomos para a cidade. Aí eu cheguei, estudei a quarta, quinta, a sexta, fiquei dois anos. E aí o meu pai falou não, minha mãe, você vai estudar, vai para São Paulo, vai estudar para ser alguém na vida, etc, etc. Foi uma mudança brusca, não precisava andar 2, 3, 4 km para vê passar um ônibus, ver um carro, onde a gente morava era super longe. E daí já comecei a me enturmar, matricularam, aí conheci o que era rodoviária, porque até então nós, nada disso. Aí foi assistir os primeiros filmes, e assim, mesmo nessa idade, com 11 anos, não tinha dinheiro, né gente, meu pai ganhava assim, um salário mínimo, minha mãe trabalhava de doméstica, lavava roupa, aquelas coisas. Só que quando não tinha roupa para lavar… Então, eu comecei a estudar, entrei na quinta série, não esqueço até hoje da minha primeira professora na cidade. Quem dava aula era a irmã Carmelita, extremamente rígida, aquelas que levava vara, vara, enfim, eles dizem que é corrigir, mas enfim, podia ser na conversa, né! Na comunicação não violenta, né! Podia ter isso na época, mas enfim, era varinha. E aí também, foi a primeira professora, tinha aula de francês. Imagina eu, aula de francês para quem veio do meio do mato. Então, assim, sofri muito, mas acabei passando ali, fiquei dois anos na cidade. Só que um detalhe, nas minhas férias da escola, então a minha mãe além de lavar roupa, nas férias da escola ela ia trabalhar de bóia fria. E o meu pai de novo correndo o mundo, então não tinha serviço ali, ele arrumou um trabalho perto de Mato Grosso, e fugiu da casa, ficava tipo dois meses fora, de novo a minha mãe. Então a minha mãe ia trabalhar de bóia fria, eu lembro, eu com 10 anos… Como eu não tinha tamanho para carpir soja, eu carregava a moringa d'água, e nós andávamos numa Toyota, Toyota sem ser apropriada, não sei se isso é apropriado, não tinha nem aquela tela de proteção. Então assim, me recordo como hoje, mamãe falava, vamos lutar, vamos lutar, que vocês são direitos, a gente veio aqui para vencer. Mas era assim, pegava 6 horas o caminhão e chegava às 18 horas em casa. Eu e minha mãe, e os quatro irmãos em casa. Enfim, foi uma época aí, eu não esqueço até hoje, então eu carregava moringa d'água, para atender 60, 70 pessoas. Não só eu, como outros moleques também. Aí chegou uma época, que nós estudávamos das sete às 11:30, se eu não me engano, que daí os próprios contratantes da cidade, falava não, então se os meninos chegam, vocês podem trabalhar da uma da tarde, mais próximo da cidade, eu quero que leve os meninos, nós vamos pagar meia diária, leva os meninos e vai ser das 13 horas até às 19 horas. Então, assim, foi um período também que eu ganhei dinheiro, comprei as minhas calças, era os kichutes da vida. Ganhar dinheiro sentido capitalista, né gente, porque a gente não tinha condições. Para se ter uma ideia, eu ganhava a calça dos meus tios, sei lá, vestia 40, 42, tinha que ajustar isso para caber num menino de 13 anos. Então assim, eu conto isso com muito orgulho para a caminhada, orgulho não, a caminhada que a gente fez na vida, eu não tenho vergonha de falar isso, nunca tive, eu sinto orgulho, por essa caminhada a gente tá aqui hoje, eu, meus irmãos. Minha mãe, se foi na Covid, enfim. E meu pai tá aí, com 1987. Ele se reconciliou depois, mas depois de muitos anos, depois de muitos anos.
P/1 – Isso tudo foi antes de você vir para São Paulo?
R – Tudo isso antes de eu vir para São Paulo. Eu sempre vivi intenso, a vida foi intensa. Antes de eu vir para São Paulo. Aí em 1978, eu me recordo como se fosse hoje, assim, acho que dia 6 de janeiro, uma tia minha foi para lá, daí falou, São Paulo está legal, tal, tal. Eu acho que eu tinha 12 ainda, mais ou menos 12, isso foi em 1978. Aí meu pai e minha mãe falou, então vamos para São Paulo, não vamos vender nada aqui e vamos tentar lá. Aí eu lembro, pegou o ônibus, meu pai veio primeiro, depois a minha mãe veio, ficaram seis meses aqui. Só que isso, com 13 anos eu entrei no Bradesco, gente, acredita? Bradesco, tenho maior orgulho, agência Nações Unidas, na Avenida Paulista, 678. Com 13 aninhos, entrei, como office boy. Aí meu pai ficou seis meses, minha mãe falou, não, então agora você fica com a sua tia, você está num banco. Falei, passei, tô no banco, 13 anos, feliz. E fui trabalhar de office boy, gente, não conhecia nada, para quem não é de São Paulo, da paulista a Boa Vista, aquelas ruas, Sete de Abril, muito próximo, muito em cerca, próximo. Não conhecia nada, gente, me perdia no primeiro mês, não sabia para onde ir, assim, foi uma loucura. E aí eu fiquei, é isso! Aí eu fiquei morando com a minha tia. Aí é uma história longa, viu gente, uma história longa. Aí os meus pais voltaram e eu nunca mais voltei para lá, a verdade é essa, continuei aqui. Mas enfim, nessa caminhada. Então entrei no Bradesco com 13 anos, fiquei com a minha tia, muito difícil, assim, mas eu agradeço a Deus, agradeço a ela, por ter me acolhido, mas passei momentos muito difíceis, porque tem outros primos, converso com eles até hoje, enfim, eles não tem nada a ver com isso, mas desligava disjuntor geral, quando eu ia tomar banho para economizar, se tinha frango ou carne, na verdade era para os filhos, e eu ficava no ovo, ou na sardinha. E tinha sempre ameaça psicológica. Quando a gente tem filho, tem neto, acolhe pessoas, ou conhece pessoas, a gente, não é que valoriza, assim, a gente limpa às vezes algumas mágoas que ficaram, a gente tenta entender. E a partir do diálogo, a gente construiu essa amizade, até hoje, quando eu me encontro, está viva, tal, ela fala, meu, eu não devia ter te tratado assim, etc, etc. Mas foi, como se diz, maus bocados. Eu passei aí, dos treze aos dezoito, eu convivi com eles cinco anos, então eles acompanharam a minha adolescência. E adolescência, ela foi construída também junto com os meus primos e com as minhas primas, aqui de São Paulo, de Diadema, foi construído com eles. E de sorte, eles também eram muito emancipados, mesmo tendo o pai e a mãe. Claro, sempre viveram aqui, então também, me levava ali para o clube Homs, menor, levava para as festas, para os bailes funks, da época, dos anos, final de 1970, 1980, peguei ainda a época da discoteca. E eles eram danadinhos, mesmo nos menores, a gente dava um jeitinho, de ir naqueles bailinhos ali das 14 horas, depois aos 16 já ia nos bailes, nas festas, já a partir das 22 horas, enfim, foi um grande aprendizado, ao qual eu agradeço eles até hoje. Junto com eles foi formando a personalidade, também estão bem hoje, mas a gente passou vários perrengues, a verdade é essa, mas foi uma construção beneficio. Aí completei 18.
P/1 – Arildo, antes de você continuar eu queria perguntar se nessa época você estava estudando ainda, você estava fazendo o ensino médio?
R – Pergunta excelente! Esqueci dessa parte. Quando eu vim para cá, estudei mais um ano aqui, sétima série. Aos 16 anos, eu não culpo o Bradesco não, viu gente, não estou fazendo merchandising para Bradesco não. Aos 16 anos eu fui emancipado, olha que loucura! Tanto é que eu nem servir o exército, porque esperei muito tempo, estava com 19 e meio, não recebi a reservista. Mas eu fui emancipado, meu pai e minha mãe fizeram toda documentação. Acredito eu que com 16 anos, eu já era caixa no Bradesco, uma loucura falar isso, 16 anos. Aos 18, 13, 18, eu fiquei bastante tempo, eu fiquei de 1978 a 1985, setembro de 85 no Bradesco. Então assim, foi uma carreira meteórica também, porque me dedicava só o banco, não é que dedicava, ali era um ponto, como se diz, era um ponto para me livrar dos problemas, então eu entrava 8 da manhã e saía às 8 da noite, 9 da noite, é isso! Então esquecia o problema que tinha familiar aqui, da vida difícil, os parentes, e me dedicava totalmente ao trabalho. Então sei que eu fui caixa aos 16, uma loucura, com 18 eu já era chefe de sessão, depois subchefe de serviço, foi o último cargo. E aí eu era responsável pelo setor de compensação de cheques, mais experiente, vamos dizer assim. Tinha uma empresa, não sei se existe ainda, que ela vendia livros, mas era uma loucura, era tipo 2 mil cheques por dia, 3 mil cheques por dia, só daquela empresa. Era assim, uma loucura, eu trabalhava com 8, 10 pessoas, recebendo os cheques, somando os cheques, separando os cheques, dos bancos, na época. Eu entrava 8 da manhã, gente, saía 9:30 da noite, olha que loucura. Aí o banco, gente, naquela época, se faz isso hoje ainda. O chefe falava, ou o banco, é isso, assim! Muito duro, era aquilo! “Ou você estuda, ou você trabalha no banco, você é chefe”. Então assim, loucura, como você falou. Fiquei todo esse tempo, saí em 1985. Uma história interessante, nos anos 1980, todos os pais, todas as mães, abra aspas, fecho aspas, queria que o filho trabalhasse numa grande montadora, quem não se lembra disso. “O filho, ou você vai trabalhar numa grande montadora, ou você vai trabalhar no Banco do Brasil, ou você vai ser funcionário público”. Não sei se isso mudou. Então eu estudei ajustagem mecânica, tornearia mecânica, aos sábados. Olha que loucura, entrava no banco, saia essa hora, aí aos sábados eu fiz ajustagem e depois eu fiz tornearia. Ao sair do banco, falei não, sou chefe do banco, eu vou arrumar emprego. Todas as empresas que eu ia, “qual sua profissão?” “Eu fui bancário!” “Não, isso daí não é profissão! Qual o seu grau de escolaridade?” “Terminei o primeiro grau!” A oitava série, na época. “Não meu amigo, aqui não!” Aí eu digo, puxa vida, e agora, e agora? Sei que eu fiquei parado ali uns quatro, cinco meses e tinha bastante emprego. Aí eu falei, não, eu fiz um curso de ajustagem, eu sou torneiro, vou fazer um teste. Enfim, fiz o teste, passei no teste. Sei lá, eu ganhava, exagerado 5 mil no banco, como torneiro mecânico, eu ganhava 5 mil também, falei, rapaz, o negócio é bom, é bom! Então, comecei a trabalhar de torneiro mecânico. Aí já vou entrar em outra história. Fiquei um ano só, na antiga Nakata, que produzia amortecedores HG, foi uma febre, amortecedores H. Fiquei um ano, fiz um teste numa empresa chamada Conforja, na época, como torneiro, passei, agora já estou em 86, passei como torneiro. Se eu ganhava 5 lá, eu entrei ganhando 7, 600 metros da minha casa atual, 600 nada, eu vejo o muro dessa empresa até hoje. Então, eu entrei lá em 1986, e saí em 2019. Foi a partir dessa empresa que começa toda a minha trajetória. Claro, ainda, nessa empresa, a o entrar nessa empresa, como eu já tinha uma convivência na igreja e aqui também, independentemente do pai e da mãe, morando com a tia, a gente conhecia a teoria da Libertação, por conta disso, no banco também, nas greves de 1985, eu era filiado ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Então eu tinha uma rebeldia, não aceitava, eu não aceitava algumas coisas, tipo, a gente trabalha para caramba, não recebe… Já desde 1985, naquela época, 1980. Então eu sempre tive uma tendência a olhar as injustiças, olhar as desigualdades, eu tinha um olhar já diferente. Sempre tive, segundo os meus colegas. “pô, você tem um olhar diferente”. “Isso não é justo, isso não é justiça!” Então, ao trabalhar na Paulista, as grandes greves de 1978, 1979, enfim, até 1985, passava na minha porta, eu dizia, esse povo está certo, tem que reivindicar mesmo. Então, a trajetória, ela vem daí, ligado muito à igreja católica, ligado ao mundo sindical e perceber as injustiças ao redor batendo na porta, ou sentindo na pele. Tem um fato, antes de 1985, vou contar esse fato, é muito rápido. Eu era chefe, eu era chefe de serviço, então já era mais do que caixa, mais do que supervisor de caixa, eu era chefe de serviço. E o banco queria fazer uma limpa, uma limpa, significa, ia mandar muita gente embora, em 1984. Eu senti muita injustiça, trabalhava com um colega, ele tinha lá também um 4 anos, casado, a esposa grávida, havia financiado um apartamento BNH, na época. O banco falou, vou mandar ele embora. “Não vai mandar ele embora, ele é trabalhador, conto muito rápido isso. Aquilo me indignou de um jeito, que na verdade, me indignou. Mandaram ele embora, eu falei, não vou aceitar isso, eu não vou aceitar. E passou-se mais ou menos um ano, fiquei com aquilo na cabeça, das injustiças e injustiças, e podia, não era para ter mandado embora. Acabei pedindo para encerrar a história do banco, mas enfim, eu acabei pedindo para ser mandado embora, essa é a verdadeira história. Enfim, acabei depois. Enfim, as horas extras que me pagaram, eu fiz justiça também, viu gente, eu recebi assim, como se fosse 300 mil hoje, na época, não é que eu fiz justiça, procurei os direitos na época, enfim. Mas uma das causas de eu sair do banco, foi as injustiças cometidas com pessoas que não havia necessidade. Aí eu vinha carregando isso, com esse olhar diferente. Ao chegar no mundo Metalúrgico, na região aqui do ABC, nossa, ai eu falei, meu Deus, é isso mesmo! No primeiro dia, que você chega na empresa, cheguei na empresa, Nakata ainda, perguntaram de onde eu vinha, todo sem jeito, toda vida bancário. “Não, aqui tem um sindicato”. Claro, já conhecia o sindicato dos metalúrgicos, já era filiado ao Sindicato dos Bancários, na época era o Gushiken, enfim. Então essa trajetória, os caras falaram, “legal você gosta e tal, você não quer entrar na CIPA?” Aí, moral da história, na primeira empresa, falei, pô, mas entrar na CIPA, sou novo ainda, tal! Comecei a sindicalizar pessoas, já na Nakata. Aí depois eu vim para a própria Uniforja, que eu fiz toda essa trajetória na própria Uniforja. E na Uniforja comecei a participar, era Conforja antes. Aí na Uniforja, a própria Conforja, comecei participar da vida sindical, na vida sindical, na comissão Sindical de empresas. Eu vim fazendo essa trajetória, comecei então desde o Cipeiro, até chegar a ser o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, então foi uma caminhada. E nessa empresa também, entrei de torneiro mecânico, depois virei torneiro vertical, fui fazendo a caminhada. Enfim, o salário era altíssimo, ainda é, mas na época assim, eu ganhava na época 10 salários mínimos, fazendo hora extra isso ia para 15 salários mínimos. Enfim, foi uma época interessante, mas do ponto de vista da construção. Eu entrei nessa empresa, essa empresa, ela começa a entrar em decadência, essa é a parte dura do negócio. Então eu entrei em 1986, ela começa a entrar em decadência já no início dos anos 1990, morre o dono da empresa, seu Ville. Uma história que a gente gosta de contar que emociona, era uma empresa que tinha 14º, o dono era alemão, constituiu 12 empresas aqui no Brasil, um cara que vem fugido da guerra, era um engenheiro, começou ali no Ipiranga, construiu um Império no Brasil, só que ele morre e deixa para os filhos. Infelizmente um dos filhos dele também morreu com uma overdose, só sobrou uma menina, uma moça, uma senhora hoje, que mora na Alemanha. E ela entra em decadência a partir do final dos anos 90. Para você ter uma ideia, a empresa Conforja foi considerada a primeira do Brasil, em 1976, se não me falha a memória, em vendas, uma empresa que produzia peças para extração de petróleo. Hoje o foco é energia eólica, enfim, também se reinventou. A partir do momento que a gente vem fazendo essa construção, ela entra em concordata, ela não sai da concordata e a partir disso, eu já estava no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, aí o sindicato convida o Luiz Marinho, atual ministro agora do trabalho, enfim, foi prefeito de São Bernardo. Tem uma longa trajetória no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, da Central Única dos Trabalhadores. O Lula os convida para ir à Itália e na Espanha, para conhecer experiências de autogestão, a qual também depois a gente… depois no decorrer, a gente acabou também fazendo esse caminho de conhecer experiências, não só no Brasil, mas também no mundo. Mas voltando, então foi essa construção, ela entrou, tudo isso, não quero ser repetitivo. E nós na época, fomos conhecer experiências, voltaram, na época, muito difícil, nós organizamos. Então em 91 ela entra em concordata, não sai da concordata, em 1995, aí o sindicato envia as pessoas para fazer esse percurso na Itália, na Espanha, em parceria com outras centrais sindicais, seja da Itália, …e a Tisley, na Espanha, as comissões obreiras. Ao voltar desse percurso, eles vêm, conversa com os diretores dos sindicatos Metalúrgicos do ABC, na época foi difícil convencer os diretores do Sindicato dos Metalúrgicos, que era possível gerar trabalho, gerar renda a partir do processo de autogestão, onde os trabalhadores e as trabalhadoras, podem a partir do momento que se organizam, se organizam em cooperativas, ou qualquer outro sistema. O importante não é o CNPJ, o mais importante é a concepção das pessoas em organizar um empreendimento, aonde os trabalhadores são sujeitos do processo. Imagine você, nós, eu digo, nós, enfim, a classe trabalhadora, que vinha nesse processo, captar o trabalho, eu trabalho, o patrão me paga. E não é assim num estalar de dedos que você diz para uma massa de trabalhadores, olha, a partir de amanhã vocês vão administrar a empresa. Fato interessante, nós criamos o processo de cogestão, por um lado, nós cumprimos, os trabalhadores e as trabalhadoras, cumpriam a nossa parte, trabalhávamos de domingo a domingo para tentar levantar a empresa, por outro lado o gestor na época, o gestor, já não era mais o dono, ele entregou na mão de gestores, uma loucura, gestores que chegaram a vir de helicóptero para impressionar os trabalhadores, “olha, agora vai, vai dar certo!” E nada disso! Então nós nos arrastamos aí de 91 até 97. E a cogestão não deu certo. E aí de sorte, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com outras pessoas, na época, tinha uma instituição chamava,..., infelizmente ela não está mais hoje. Enfim, que nos apoiaram e começaram a fazer um trabalho de formiguinha, “olha, isso aqui é importante, acontece em outros países, então vamos tentar!” Ato contido na época, o filho do dono ainda estava vivo, mas ele nem ia mais na fábrica, deixava na mão de gestores. Aí nós fizemos uma proposta para ele, nós montamos a primeira cooperativa lá, que chama-se… Ta viva até hoje, graças a Deus, vida longa para a própria Uniforja. Então a primeira cooperativa chama-se Coopertratt, ela é de 1997, a primeira. Só que na época nós falamos, olha,.... É grande lá ainda, viu! Para você ter uma ideia, de área lá, era 100 mil metros quadrados, para você ter uma ideia, é gigantesco, 100 mil metros, é muito grande. Hoje são 65 mil metros. Eu conto rapidinho essa história. Mas enfim, na época nós falamos, é muito grande, é impossível nós montarmos uma cooperativa, na época, quem aceitou tocar foi 258 trabalhadores e trabalhadoras. Mas antes desse processo tinha 700 trabalhadores e um gestor. Um dia desses aí ele mandou 200 embora, sem falar conosco, nem falar com o sindicato, nada disso! Sobraram 400, desses 400, só 258 aceitaram montar cooperativa. E assim, só que nós vimos num processo que não tinha fundo de garantia depositado, não tinha convênio, não tinha INSS pago. Enfim, foi doído, dolorido, todo esse processo, mas que culminou então, 258 aceitaram, criamos a primeira cooperativa. E formação, gente, imagina, Sindicato do Metalúrgico do ABC parceiro, a CUT parceiro, liberar o espaço, trazer formadores e formadoras, para que pudéssemos, aí fazer um processo com todos nós. E nós aceitamos, criamos a primeira cooperativa, na época era 20 pessoas no mínimo, criamos com 20, criamos a Coopertratt, ato contínuo, criamos a Coperlaf, depois criamos a Coopercon, quatro cooperativas, olha que loucura. Quatro cooperativas, usando o mesmo refeitório, usando o mesmo restaurante e cada uma fazendo a sua conta individual, com quatro departamentos pessoais, enfim, tudo com quatro, quatro engenharias, quatro eu não sei o que, tudo com quatro e convivendo no mesmo espaço. Então fizemos a caminhada de 97 até 2000 e foi amadurecendo. E a primeira cooperativa arrendou todo o parque fabril, e como foi o arrendamento? Olha, de X por cento do que nós faturamos… E no começo nós só prestamos serviços de mão de obra, a terceiros. Então viemos nessa caminhada e sabíamos também que na Itália na Espanha existia cooperativas centrais, ou seja, três cooperativas singulares, você cria uma cooperativa central. E fomos convencendo, por quê? Porque já começou já ter disparidade desde o começo, olha, aquele trabalhador X, Y, Z, o João, a Maria, José, fazendo a mesma função, ele tá fazendo a retirada maior do que a cooperativa, por exemplo, entra na Coopertratt, na Cooperfor, do que nós. E nos primeiros anos a cooperativa A, B ou C, tinha sobras, e às vezes as sobras de uma cooperativa singular, era maior do que as outras três. Então nós também fomos amadurecendo todo esse processo. E nós que seguimos criar então a Uniforja, que é um sistema, com três cooperativas se cria a Uniforja, criamos com quatro no começo, depois nós incorporamos a Coopercon. Por que? Porque nós sabemos que a China, enfim, a China é muito competitiva no que faz, e aquele segmento. Não mandamos nenhum trabalhador embora, porque você é sócio e dono, dono você não manda embora, não existe isso. Tanto é verdade que nós temos trabalhadores lá hoje com 78 anos de idade, 80 anos, deve ter 45 anos, 50 anos de empresa. Que está lá até hoje, a gente respeita muito, a gente que eu digo, porque é assim, você sai da cooperativa, a cooperativa não sai de você. A partir do momento que você conhece um sistema, onde todos têm direito a voz e a voto, onde você decide quando comprar, onde comprar, para quem vender e como vender, você decide isso coletivamente. Você muda totalmente o seu jeito de ver o mundo, não que alguns já não tenham visto isso, mas você muda completamente. Onde você percebe que dinheiro não é tudo, dinheiro não é tudo. Alguns países têm o índice de felicidade bruta, é o índice de felicidade bruta. Então aí nós constituímos a própria Uniforja, centralizamos a compra uma só, engenharia uma só, departamento de Recursos Humanos um só, e todas as sobras, das quatro cooperativas, depois que a gente incorporou, a Coopercon, a sobra das três cooperativas, assim falando abertamente, coloca-se tudo dentro de um saco, paga tudo que tem para pagar, faz todos os fundos. Tem uma história, não sei se é importante, mas enfim, nós fizemos vários fundos na Uniforja, acredito que seja isso, isso é, porque depois fomos para Mondragon. Sistema Mondragon é uma cooperativa Central da Espanha, que tem mais de 100 empresas, 40, 60 mil trabalhadores, trabalhadoras, que nós na verdade também aprendemos com eles em 98, que eles hoje dizem também que nós somos uma referência, porque nós, como se diz, o aprendido e compartilhado, não dá para você replicar igualzinho, porque tem que se respeitar a cultura, o local, você tem que ir respeitando tudo isso. Então nós fomos adaptando aquele modelo dele, onde criamos um fundo que de toda sobra, o trabalhador é a trabalhadora leva para casa, leva 50%, vamos dizer. Por quê? Porque ele faz um fundo, que quando ele sair da cooperativa, ele leva, uns 25%, tô chutando aqui, pode ter mudado. 25%, sobrou, 10.000, ele vai levar só 25.000 para casa, os outros 7,5, ele vai investir na cooperativa, cooperativa é uma empresa, é uma empresa. Vamos lá, explicar o que é a empresa, para que não tenha mal entendido aqui. É uma empresa onde ela pratica solidariedade entre seus e com aqueles que praticam com ela. Porque, por exemplo, a própria Uniforja, ela vende para grandes multinacionais do mundo, só que lá, eles não querem saber se ela é Cooperativa, autogestão. Onde a maior retirada não pode ultrapassar cinco vezes a menor retirada. Então imagina, o gerente de uma grande montadora, multinacional, vai ganhar um milhão por ano, dois milhões por ano, tô chutando, tá! Na nossa não, na nossa, ou no que nós defendemos, ele deve ganhar, se você tem uma sobra exorbitante, onde também um operário de máquina, ou faxineiro, ou a faxineira. Louvado seja as funções, porque sem isso também nada funciona. Também deve levar para casa também os seus 500 mil, no final do ano da sobra. Então é isso que muitas vezes o mundo capitalista, as empresas capitalistas, gerentes, gestores, não compreendem, muitas vezes quando nós vamos pedir essas empresas de autogestão, vão num banco, não precisamos falar banco de ninguém. Primeira coisa que o gerente pergunta, o gestor da conta, quem é o dono da empresa ou a dona da empresa? Até você explicar para ele que isso é organizado, administrado por um coletivo, onde, claro tem toda essa questão, você tem um conselho, você tem presidente, secretário geral, tesoureiro, tal, tal. Mas um detalhe importante, voltando um pouquinho na Uniforja, qualquer trabalhador, ou trabalhadora, pode ser presidente da Uniforja. Mas não é qualquer trabalhador, nem trabalhadora, que pode ser gestor ou gestora da engenharia. Portanto desde o primeiro dia que nós, eu digo nós na terceira pessoa, depois eu vou falar, que em 2019 eu me apresentei e to fazendo outra coisa, que isso não sai da gente. Desde o primeiro dia, formação, então assim, eu agradeço primeiro a Deus e a própria Uniforja, que eu consegui fazer uma graduação, uma pós-graduação, conhecer 25 países, fazer especialização fora, pago pela Uniforja, que ela me pagou o tempo que eu fiquei fora, não é que ela pagou em dinheiro, mas assim, o mês, que eu fiquei 45 dias da primeira vez, recebi a minha retirada igual aos outros trabalhadores, trabalhadoras. Então, assim, não só eu, como muitos trabalhadores e trabalhadoras. Hoje tem algumas que têm doutorado pago pela própria Uniforja. Por quê? Porque nós fizemos fundos para garantir a formação, então desde a formação técnica, nível superior, uma segunda língua, terceira, para aqueles que querem, eu sei que isso está acontecendo. Criamos fundos para ajudar outras cooperativas, criamos fundos para formar os trabalhadores celetistas, por exemplo, lá usamos o sistema de Mondragon, aprendemos em 98, você entra, trabalha 3 anos enquanto celetista, se você vai bem, você gosta do sistema e a cooperativa gosta do seu jeito de trabalhar, porque já está ali há três anos, você passa a ser um sócio cooperado. Mas com um detalhe, você é demitido, com todas as garantias da CLT. Que quase rasgaram a um tempo atrás, esperamos agora que a gente consiga rever todos os direitos perdidos, aí no longo da caminhada, você recebe 80%, você recebe lá o seu checão, recebeu 10.000, 8.000 você vai integralizar na cooperativa. Ah Arildo, mas a cota hoje está em R$ 50.000, sempre foi, desde 1997, cota é o que você subscreve, você diz que vai contribuir para capitalizar a empresa, ou a cooperativa, desde 1997 é R$ 50.000, deve estar isso hoje também. Se você colocou 8, como é que você vai completar os outros 48, você vai trabalhando, vendo sobras, desconta 10% da sua retirada. Só que tem um detalhe, você é celetista, sei lá, ganha 2.500, 3.000, é um piso alto aqui, na região. Você passa a sócio cooperado, em algumas funções você vai para 6.000, então é isso. Aí você vai constituindo fundo. Então essa parte foi bem inteligente, e por isso que eu digo, foi a partir dos fundos que vai completar aí, tem toda essa caminhada, só que assim…
P/1 – Arildo, como que foi pensar nesses fundos, de onde veio essa concepção de que era necessário fazer esses fundos, de onde veio a ideia, de onde veio o exemplo que era necessário?
R – Então, os fundos veio da nossa visita na Itália, em 1998, depois 2000, 2002, 2003, enfim. A ideia veio de lá, porque aqui, o modelo que tinha aqui, por exemplo, não atendia, por exemplo, tinha casos aqui, tem ainda, sobrou 100%, faz os fundos obrigatórios, faz os fundos obrigatórios, que deve chegar aí 25. 30%, e o resto dividia, nós falamos não, como é que nós vamos capitalizar essa empresa? Imagina você pegar uma empresa que é dos anos 50, com maquinário extremamente caríssimo. Para você ter ideia, nós adquirimos uma máquina na época, faz tempo, custou 14 milhões de reais, uma máquina. Como é que nós vamos fazer isso? Nós falamos não, nós vamos capitalizar. Então, assim, vamos fazer os fundos obrigatórios. Para você ter ideia, fizemos um fundo de investimento no valor de 40% das sobras. Então sobrou um milhão de reais para empresa, 40% já fica para investimento, fica para investimento para empresa. Fomos fazendo os fundos, então assim, fizemos fundos obrigatórios, que eu te falei, 10%, 15%, FAX, fundo de assistência social, assistência técnica para formação, que é 5%, 10% e fundo de reserva. Vamos fazendo esses Fundos. Essa ideia foi apreendida na Espanha e na Itália, principalmente com Mondragon, se você quer uma empresa, você quer uma empresa com 10 anos, ou você quer uma empresa com 100 anos? Para você ter uma ideia, eu conheci uma cooperativa que estava fazendo 110 anos, gente, como é que pode isso? Assim, a partir do momento que foi se capitalizando, mas também sem sangrar o trabalhador, você faz os fundos para que seja também competitivo, o trabalhador seja competitivo, no sentido de… Imagina você, se a montadora, exemplo, está pagando 5.000, você não vai pagar aqui na região do ABC para um profissional equivalente, profissional homem e mulher equivalente, pagar abaixo disso, então a gente sempre trabalhando nesse sentido. Mas teve ano, por exemplo, não vou me esquecer disso nunca, sobrou 16 mil para cada sócio cooperado. No dia a gente brincou, qual foi a montadora, foi poucas, mas assim, de PLR. É claro que os tempos são outros hoje, os tempos são outros, assim, a gente vem da pandemia, muitos detalhes, hoje são outros. Mas por exemplo,2007, 2008, 2009, sobrou 16 mil para cada sócio, chegar no final do ano e falar, estou levando 16 mil para casa. Então assim, é um modelo que funciona, que é possível, basta ver como é que tá hoje ainda, é bem grande o sistema. Então nós aprendemos e adaptamos isso daqui.
P/1 – Eu queria saber se nessa época que vocês constituíram a Uniforja, já se falava em Economia Solidária, ou era só nas questões das cooperativas, que depois foi se transformando na Economia Solidária? Como entra a Economia Solidária nesse momento da Uniforja?
R – Então, eu me recordo bem assim, eu me recordo da questão da autogestão, cooperativa de autogestão. Economia solidária, acho que eu me recordo bem, 2.000, porque em 1998, eu já tinha um colega… 2000. Então assim, é que a história paralelamente a gente criou uma instituição também, que aprendemos fora do Brasil, como eu falei, a gente fez esse intercâmbio na Itália… E lá tinha um negócio chamado Legacop, que é a liga das cooperativas. Aí no Brasil tem uma outra entidade, muito ligada ao mundo do agronegócio, aí nós falamos não, a gente estava com o sindicato, o próprio sindicato de lá nos apresentou a Legacop, porque vinha de uma tradição de esquerda socialista, a própria cooperativa Legacop. Aí nós conhecemos lá, não, vamos chegar em São Paulo, vamos criar a liga das cooperativas do estado de São Paulo, essa história. Então nos anos 2000, nós criamos a Unisol São Paulo. Também foi aprendido lá fora, tivemos apoio dos Italianos, enfim, dos espanhóis, na época e acabamos criando a Unisol São Paulo, na época. Então são coisas, são comitantes, vem andando. E na época um colega falou, não… Aí começaram a falar, a Igreja Católica, desde os anos 1980, a teoria do Oprimido, a CNBB, Rio Grande do Sul, com o Olívio Dutra. Então nós já começamos, opa, tá acontecendo isso lá no Rio Grande do Sul, com Olívio Dutra, anos 2000, a Igreja Católica está apoiando. Economia popular e solidária, esse era o nome, popular e solidária. E aí a gente já começou também ouvir falar o diálogo. Eu só vou incorporar em 2000, então cria-se a Unisol São Paulo, eu não sou dirigente dela, porque na época eu era da comissão de fábrica na empresa. Quem cria a ideia de criar mesmo, são os próprios trabalhadores da Uniforja e de outras cooperativas, de empresas recuperadas, não só de empresas recuperadas, mas também do Instituto Cajamar, tinha uma cooperativa no Instituto Cajamar, que era uma cooperativa, era um hotel, uma pousada, que eu lembro, o Valmir, finado Valmir, era Valmir mesmo. Espero não cometer equívocos, que a gente está falando. Também veio com isso para dentro da Unisol e da Uniforja, e o Enedino, que era da própria Conforja e Uniforja na época, na época era presidente da Unisol São Paulo. Então nós já começamos a ouvir falar. Aí um dia o meu colega falou, vamos na USP. Claro, já sabia do Singer, ele foi, se eu não me engano, secretário da Erundina, aqui em São Paulo. Então a gente já conhecia. Então um colega meu falou, não, a gente vai ver vai, vamos lá na USP para ver um debate de economia solidária. Daí sim, eu tomei contato. Aí em 2000 Porto Alegre, depois eu me recordo, aí já veio, sei lá, acho que Osasco, Santo André, tá muito próximo, nós estamos na região do ABC, então tá muito próximo. Aí a gente começa a ouvir falar, ouvir falar, efetivar mesmo, participar diretamente, aí sim, aí a partir de 2002, 3, aí sim, aí a gente já começa a acompanhar, participar, toda movimentação. Então assim, 98, 2000, era economia popular, tinha popular primeiro e solidária. Aí fora social, 2001 Porto Alegre, 2003 eu já tava. Aí vim toda a caminhada, aí não parou mais, é isso!
P/1 – Você tava falando, quando você tava contando do processo de criação da Uniforja, de transformação da Uniforja, sobre o processo de convencimento dos trabalhadores. Aí eu queria que você contasse um pouco como foi, como foi pensar nessa possibilidade da cooperativa e como foi convencer, se você lembra de alguma história dessa época?
R – Eu lembro, eu lembro! Eu me lembro bem, talvez eu fui protagonista não do lado bom, assim eu sou um doce, eu nunca, não é verdade, as pessoas acham que a gente é, nós não somos, existem pessoas segurando a nossa mão, sabe. Então, protagonista, por quê? Porque quando nós estávamos… O que eu te disse, ainda sobrou 400, desses 400, teve uma época de vias de fatos, uma pessoa pegou uma peça e queria matar Não só eu como outros líderes. Que Deus o tenha também, morreu de infarto, de idade, hoje não está mais conosco. E depois aceitou a cooperativa, depois abraçou, era a mesma cooperativa minha, abraçava, até queria beijar, sabe, depois. Mas antes, assim, alguns ficaram extremamente revoltados, nós tivemos oposição sindical, na época, pessoas que estavam dentro da empresa era oposição ao Sindicato do Metalúrgico dos ABC, na criação da primeira cooperativa. Então teve muita oposição, não foi um processo fácil, acho que não te contei isso, não contei para ninguém isso, contei agora, mas é um processo muito difícil, o convencimento foi muito duro, de nós termos que fazer reuniões escondidos na casa de pessoas, pessoas extremamente, que nós temos muita gratidão, são três, quatro. Alguns diz que é dele, cada um reescreve a história como queira, eu digo que são três, quatro, cinco ou mais, que participaram efetivamente e que não são da Uniforja. Por exemplo, o Luiz Marinho tem uma história lindíssima de apoio, para você ter uma ideia, ele penhorou, isso é público, ele penhorou o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, para que nós garantirmos o pagamento da conta de luz para a Light, isso é público! Precisa ter coragem. Que ia dar certo. Um outro momento de coragem, foi enfrentar quem era da oposição que não entendia esse modelo, ou que não entende até hoje. Tem gente que não entende até hoje, é loucura falar isso aqui, mas é verdade. Tem gente que é sócio os 30 dias, só que quando chega o dia da retirada, ele quer ser celetista. Porque lembra, nós somos sócios, dono e trabalhadores ao mesmo tempo, tem mês que pode sair a retirada cheia, por exemplo, você ganha 10.000, você vai retirar 10.000, tem mês que é retirada pode ser R$ 7.000,00, só que eles, elas, ficam extremamente bravos. Bravos no sentido… e mesmo fazendo parte da direção ou do conselho da cooperativa A, B ou C. Então nós tivemos muita resistência. Formar consciência não é você fazer formação, trocentas mil coisas, trocentas mil carga horárias, formar consciência é vivenciar o processo, é contribuir para o processo. Criticar é extremamente importante… isso é extremamente importante, agora não pode criticar a vida toda, se começamos em mil… poder pode. Mas enfim, eu acredito que esses ou essas entrem em contradição consigo mesmo, se eu estou no processo desde 1997, nós estamos em 2023. Mas enfim, nós respeitamos, isso não é grande, acreditamos que é 10%, 15%, mas que existiu, é importante. O meu questionamento, é assim, como é que é consigo mesmo, deve ficar brigando, assim, brigando com os pensamentos o tempo inteiro. Mas enfim, tivemos muita resistência, então voltando um pouquinho lá, tivemos oposição sindical, não quero citar nomes, acho que não interessa aqui. Mas tivemos oposição sindical, vias de fato de enfrentamento, teve pessoas que desligaram a energia, porque entra uma carga gigantesca de energia, para quem conhece a empresa, gigantesca, para você ter uma ideia, nós temos uma estação preparada dentro da empresa. Então você tem uma linha de altíssima atenção que termina na Uniforja hoje. É que eu não falei isso aí, um dia… quem é aqui de São Paulo vai conhecer. Eu esqueci um detalhe, para não ficar ali um rabinho. A Uniforja na verdade, só fazendo recorte, para que nós recebamos todos os direitos, moral da história, primeira empresa do Brasil que faliu, onde os trabalhadores compraram todo o parque fabril, com todos os maquinários, que pagaram 100% empréstimo para o BNDES, primeiro empréstimo, segundo empréstimo, terceiro empréstimo, valor de milhões, tá tudo pago. Muito orgulho disso, para os meus amigos e amigas que estão lá. Pegamos empréstimo… também pagamos, então assim, tudo que está lá são dos trabalhadores e trabalhadoras lá. Mas tudo isso, voltando um pouquinho para falar, para receber a primeira, nós demoramos, assim, uns 10 anos, para receber a primeira etapa, onde nós também integralizamos 80%. A segunda etapa nós também integralizados, na segunda etapa nós vendemos 25 mil metros, ou 30 mil metros, que nós não precisávamos, porque tinha a própria Conforja e outras empresinhas no terreno. Foi onde nós recebemos a segunda etapa corrigida de juros, correção monetária e etc, etc. Então isso é um marco na história do Brasil, não me lembro, nós não conhecemos nenhum caso, não existe, né gente! Onde o trabalhador recebe 100% de todos os direitos, depois de 10 anos é dono do parque fabril, de tudo e não deve nenhum empréstimo atual. Mas toda essa construção, essa construção, que eu digo, foi muito trabalho, com muita formação, formação de consciência, essa parte extremamente difícil. Hoje, não estou criticando, alguns amigos e amigas vão ver isso, não estou criticando, os jovens hoje que entram, com 20 anos, 25 anos, ele quer ganhar o primeiro milhão, quando você perguntou, essa parte interessante, “eu quero ganhar o meu primeiro milhão”. Hoje está sendo mais difícil do que aqueles que vivenciaram a parte extremamente difícil de convencer esses trabalhadores e essas trabalhadoras, que o modelo de autogestão é um modelo que ele não vai ficar milionário, não é esse o modelo, mas que ele não vai passar necessidade, no sentido de, ele não vai ser demitido, ele não vai correr o risco do chefe está mandando ou desmandando, ele poderá fazer um curso universitário pós, desde que o empreendimento tenha as condições que as pessoas possam evoluir também, o preenchimento possa evoluir. Então esse é um grande desafio, uma dificuldade é um grande desafio para esse modelo, ainda tem várias no Brasil que vão muito bem, obrigada! A gente acompanha de perto. E no mundo, alguns países expandiram mais, outros menos. Então essa é a grande dificuldade, no meu ponto de vista, hoje.
P/1 – Eu queria saber se essa época do começo da Uniforja e até no andamento dela, se teve alguma política pública, seja em nível Estadual, Federal ou Municipal, que ajudou vocês em relação a economia solidária. Quando começa o movimento de economia solidária, se tem alguma política da economia solidária que ajudou vocês nesse processo.
R – Tem, tem muitíssimas. Enfim, teve muitíssimas, que nos ajudou, a própria Uniforja e muitas outras, não só do nosso segmento, mas de muitas outras. Então assim, como eu te disse, nós tivemos a oportunidade de acompanhar desde a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, a SENAES. Claro, professor Paul Singer, ele foi o nosso queridíssimo secretário nacional. Até digo, quem conviveu com o Singer, nossa, é até difícil de falar. Enfim, era uma pessoa que dava oportunidade, sempre deu, dava oportunidade. Ele tinha o dom de ouvir as pessoas independentemente da sua formação, de ouvir, tanto que para nós… ele era um intelectual, eu falava que ele era um paizão para nós, que ele esquecia que ele era intelectual, ele falava de igual para igual. E nós que estava na ponta, a gente contava do nosso jeito de contar, era a contação de história que você abre o coração, não era aquele negócio imposto. Então, a gente teve a oportunidade de participar, a gente pode até a conta, de trocentas mil reuniões porque depois também a gente foi evoluindo, a Uniforja me criou condições, a própria Uniforja, para que eu… No começo era isso também, mesmo com toda a vivência você conta do seu mundo. Depois eu volto no Singer, que estou emocionado. Você conta do seu mundo, do seu lugar, quando você expande horizontes e vai construindo repertórios, você fala, puxa vida, eu podia ter compartilhado, mas lá atrás, eu podia ter aprendido mais, eu podia ter ouvido mais. Então foi uma dádiva, assim, para mim pessoalmente, ter convivido com ele. E da possibilidade de ter construído com a equipe dele, com o próprio governo Lula, que expandiu muito, interministerial e toda política… principalmente para nós da Uniforja, foi a possibilidade com empresas recuperadas, teve projeto empresas recuperadas um, dois e três, não quero me equivocar aqui, que deu um grande salto de abrir horizontes, de no sentido, nós somos capazes, também nesse sentido, desde o um, de fazer propositura, por exemplo, nós propomos um programa pro BNDES, não é novidade, isso já saiu na mídia, não é novidade, onde o próprio BNDES nós recebeu, “olha, aqui tá a Uniforja”. Ele sabe do que estão falando, eles estão vivenciando, eles vivenciaram, eles pagam. É possível! Então, assim, o Singer, ele abriu muitíssimas portas para vários setores, segmentos da economia solidária, mas não só em propor programas juntamente com a sua equipe. Que eu volto assim, é o olhar dele para cada ser vivo que ele encontrou nessa caminhada dos diversos setores, é isso que mais marca para mim nessa construção do que a gente é hoje, nós somos hoje, enquanto Uniforja. E não sou só eu, são outros e outras que conviveram com ele, que ele veio na Uniforja, que nós fomos lá. Nós fomos recebidos por um ministro… sendo o Marinho, mas enfim, ele havia acabado de tomar posse lá, nós fomos lá, “não, a Uniforja tá aqui! Eu quero recebê-los”. Enfim, mas assim, o Singer tinha essa bondade de nos ouvir e ao ouvir nós, ele acaba socializando isso com toda a sua equipe, o que potencializava a pensar, a criar termos de referência da nossa necessidade… a partir da nossa necessidade. Então, esse é o olhar que a gente vivenciou, nós vivenciamos do lado de cá, não do lado do próprio gestor, também a gente admira quem escreve muito. Por exemplo, nós somos teses, não quero exagerar, de trocentos doutorado, pós doc, enfim, trocentas teses. Eu tive a felicidade de 2006 a 2019, atender todos esses, essas, empresas nacionais e internacionais. Claro, para falar um pouquinho da gente, claro, não era esse padrão aqui, só perguntas, era bate-bola, lá você tinha todo um script, às vezes no bate-bola a gente esquece de dar os detalhes. Mas enfim, assim, foi muito bom a convivência, os programas foram extremamente importantes para nós, os programas voltados para empresa de autogestão, especificamente para empresa de autogestão, mas fora disso, para quem está vendo aqui a nossa conversa, abrir o leque para trocentos setores. E se alguns estão vivos até hoje, eles devem muito aí, ao professor e a sua equipe, que foi guerreiro, enquanto pode estar na frente da SENAES. Depois teve uma ruptura aí, não sei se você vai perguntar, mas teve uma ruptura gigantesca na caminhada.
P/1 – Antes de você contar dessa ruptura, eu queria saber uma coisa bem básica, até para quem está vendo a sua história, acho que é uma dúvida que vai ser pertinente. Que era basicamente, como que era trabalhar numa empresa com patrão e depois de forma autogestionada?
R – Essa é uma pergunta extremamente marcante. Mesmo trabalhando numa empresa de origem alemã, que a Conforja, o dono e a dona, a dona é americana, tinha tripla nacionalidade. A dona, enfim, americana e ele, é alemão, de origem alemã. Como eles vieram da guerra, então ele tinha um olhar diferente, como eu falei no começo, ela tinha o 14º. Então ao invés de você entrar aqui nas grandes montadoras, vou falar montadora, mas tem outras maravilhosas aqui no ABC, tem algumas que sobressai a montadoras, existe, é uma em um milhão, mas existe. As pessoas falam, assim, eu preciso prefiro entrar na Conforja, porque ela tinha o diferencial. Só que esse era o olhar do dono, só que o chefe não, o chefe queria arrancar a sua pele, no sentido amplo da palavra. Mas assim, “você vai vir fazer hora extra no sábado e no domingo”. De novo, repete-se, é a mesma história do banco, capital trabalha, eu tenho dinheiro, eu mando, você tem só a mão de obra, então você… Então assim, era… a mudança, assim, é da água para o vinho, eu posso dizer, a mudança é muito significativa. Porque enquanto você tem um chefe, um chefe, a gente chamava até alguns de feitor, feitor não precisa voltar, capitão do mato, aquele que ia olhar os escravos. Enfim, de judiar, de maltratar. Então, os chefes, eles nunca tiveram dó, independentemente, não tinha chefe amigo, nunca teve! Ainda mais, eu sempre fui do mundo sindical, “lá vem ele! Vai parar as máquinas quando?” Mas não era assim! “Vai parar quando? Porque vai parar?” E assim, a empresa sempre falou, você não quer vir para outra área, o chefe do setor tal para você sair do Sindicato? Não, não é isso! Eu falava bem isso para eles. Então sempre me maltratava. Eu trabalhava, por conta disso, eu trabalhava das seis às duas, 15 dias, das duas às dez, 15 dias, das dez às seis, quinze dias. Casadinho de novo na época, casadinho de novo! Eu casei também em 86, eu casei. Quando eu entrei na primeira metalúrgica, eu já casei no mês seguinte. Então, não tem diferença, tem muita diferença no sentido de, infelizmente, assim, no começo ainda tinha muitos colegas que pensavam que tava ainda trabalhando para empresa capitalista. Porque na cooperativa, nós sempre fomos coordenadores, já arrancamos o nome de chefe, quem ganhava… Quem quis ficar, tá! Quem ganhava 20 mil, na época, baixou para 10, foi isso! Para aqueles que acreditaram no projeto e tão lá até hoje! Ninguém saiu! Os engenheiros estão lá até hoje, podemos contar história, fora os que se aposentaram. Então, assim, aqueles que acreditaram, a molecada, jovens, vamos dizer jovens, também fizeram engenharia. Mas voltando, então, assim, a mudança não tem como explicar a diferença, porque assim… Só que tem um detalhe, nós, com o passar do tempo, então, no começo nós ficamos 4 meses sem ter pró-labore ou retirada. Então os engenheiros que pegavam a retirada maior, separavam R$100,00 cada um. E aí também, a gente trabalhava sábado e domingo para fazer o capital inicial. E os engenheiros tiravam dinheiro do bolso para passar para nós, a verdade foi essa! De comprar cesta básica para nós. Aí o Sindicato dos Metalúrgicos, doou cesta básica. Não contei essa parte dura. A Igreja Católica doou, e outras, enfim, outras religiões, na época, apoiaram, a verdade é essa! Vários sindicatos também nos apoiaram. Então, assim, a mudança é extremamente… muito boa, a partir do momento que você vai entendendo isso. Um detalhe importante, lá na época quando você era celetista, nós fazia operação tartaruga, fazia greve, quando viramos sócio tudo isso acabou. A qualidade, nós começamos a olhar diferente para a qualidade. Então nós não tínhamos ISO 9000, 14000, TS. Enfim, aqueles ISOs. Hoje nós temos tudo, TS não sei das quantas. Então assim, nós começamos a olhar diferente, se não der certo quem vai fracassar somos nós. Então nós passamos a gostar, admirar. E se na empresa você produzia quatro peças, um exemplo com umas peças grandes, a partir do momento que virou sócio tinha pessoas que produziam até 7 por dia, porque começou… É isso, não tem um chicote, desculpa a expressão, mas não tem um chicote estalando nas costas, não tem aquela questão da, como se diz, do chefe ficar humilhando, ameaçando. Então, tudo isso muda com o sistema de autogestão. Precisa vivenciar isso, acho que a gente vivenciando, você não, cara, você muda a vida, assim. Tem um detalhe que eu acho que eu falei no começo, vivenciar isso é mudar a vida, é olhar a vida diferente, é olhar o vizinho diferente, é olhar a rua diferente, é olhar a sociedade diferente, olhar para o lado… se existe bem e mal, eu prefiro dizer, então, eu estou olhando para o lado do bem, é o compartilhar. Compartilhar é extremamente importante. Enfim, tem um detalhe, é um ditado que a gente repete, quando alguém chama o outro de companheiro, é compartilhar o pão, às vezes você não compartilha o pão com seu irmão. Então isso para nós é muito forte, isso para nós é muito forte, é coisa que nós não fazíamos, levar um pão com mortadela e repartir com outro. E quando era empregado não, era cada um comendo o seu escondido. Então a gente vivenciou muito isso, eu acredito que é uma parte de evolução. Viver esse estado da autogestão, para mim é formar consciência, é você dar um salto na evolução, de perceber o mundo, de perceber o mundo do trabalho, porque existem outras formas de organizar o trabalho. E tá acontecendo, tá acontecendo umas formas que eu não gosto dessas formas que estão acontecendo. Enfim, não é o tema de hoje, mas que na minha opinião, está sendo puxado agora por esses dias, que existe outra forma de organizar, essa nova forma de trabalho pós pandemia, a revolução 4.0. Enfim, espero que eles adotem a autogestão, independentemente do CNPJ, isso não importa o número, o que importa somos nós, essência, ser vivos, que falamos, dialogamos, escutamos, muitas vezes discordamos. Mas é isso que importa, não é o número. As pessoas vão falar, mas tem que ser cooperativa? Não, nós preferimos que seja, teoricamente, mas não necessariamente. Eu conheço limitadas, empresas limitadas, que estão funcionando aí, até hoje, bem obrigada! Dos anos 90, extremamente autogestão. Precisa conhecer… está com capital gigantesco, cada um lá deve estar com 400, 500 mil de capital hoje, sabe! É uma história também linda, mas enfim, é outra história, que não é cooperativa, é uma limitada, dos anos 90, que tem um capital gigantesco. Mas enfim, é um olhar diferente, então por isso que a gente vai defender aí, até o dia que a gente der o último suspiro, com relação a autogestão. Essa parte do trabalho associado, ou compartilhado, não precisa compartilhar dos mesmos ideais, não precisa gostar, mas desde que… gostar um do outro, porque às vezes tem tudo aquilo. Mas entender o sistema, que é possível, então isso é uma coisa que nos enche de alegria, de falar, de fazer a defesa.
P/1 – Você queria contar da ruptura, acho que é o momento.
R – Então, um pouquinho também da vida da gente. Um pouquinho até chegar na ruptura. Nessa caminhada, também não sei se é o tema aqui. Eu acabei me tornando presidente da própria Unisol Brasil, longo período, na verdade eu fui presidente por três mandatos. Com essa possibilidade de conhecer o Singer, do governo progressista, do próprio governo Lula. Eu tive a oportunidade de conhecer uns 25 países, para trocar experiência. O último eu fui, o último foi bem hilário, mas já te conto aqui, não tem problema hilário. Pelo entendimento dos meus colegas, era o próprio governo Temer, eu fui convidado para ir para Kuala Lampur, Malásia, representando cooperativismo. Eu fui presidente do ramo trabalho dos Estados Unidos para cá, Canadá para cá, Estados Unidos para cá. Fui presidente também por um longo tempo, e pude compartilhar isso no mundo inteiro. E eu fui assinar um acordo, enfim, em pleno, na época do governo Temer. Governo Temer a gente entende que foi uma ruptura, entende e defende, uma ruptura gigantesca de tudo isso que vinha se construindo, no tema da economia solidária, nos seus vários segmentos, seja crédito, seja investimento nas universidades, nos catadores e catadoras. Enfim, em vários setores da sociedade, que chegou a representar 1% do PIB. A gente precisa ver os números hoje, em pleno Dilma. Era Lula, não, Dilma já. Onde a gente começou ali, acho que com 0 a 4, tem estudo do IPEA sobre isso. E vinha se construindo uma política de ir se consolidando, se consolidando, isso. E o Brasil foi referência, Brasil foi referência para o mundo inteiro. O tema economia solidária, o Singer aqui,... com a questão dos bancos, da moeda social. Enfim, infelizmente houve uma ruptura. Isso é um atraso, você não vê, você fala, mas só foi seis anos, não, não foi seis anos, é 10, 12, 16 anos, ou mais, se você olhar a construção que vinha sendo feita a partir de 2002, 2003, 2002, a própria criação da SENAES, que você vai dar ali, 2003, 2004, vem se conciliando com os seus diversos programas, investimentos. Nós estamos falando aí de alguns milhões, com vários ministérios fazendo ações interministeriais, seja com bancos, com os bancos públicos. Isso infelizmente, a partir da ruptura, você chega no absurdo de você ter investimento, por exemplo, de um PPA de 170 milhões, aí quando você chega no final você tem um investimento de 10 milhões. Gente, significa você rasgar, não é rasgar o dinheiro, a gente tem que olhar o investimento, mas você prepara o empreendimento, faz formação, você constrói a casa, na hora dos moradores entrarem na casa você diz, nossa, você não vai entrar na casa. Isso eu estou fazendo um paralelo que é isso, você cria as condições, forma, cria os empreendimento, constrói o empreendimento, faz um investimento gigantesco, na hora de entrar você fala, não, agora tem uma ruptura Então para nós foi um caso que não podemos esquecer da história, essa ruptura, realmente foi um golpe, com a nossa presidenta Dilma Rousseff. Assim que nós vamos defender a história, até que exista a história, a história tem que ser contada, recontada, de uma forma que nós vemos a história. Porque se cessou tudo, chegou um absurdo, não sei se é o caso aqui, mas enfim, você colocar um policial civil para cuidar da SENAES quando o Singer sai. Conversei com ele, ele me recebeu bem, conversamos, finalizou os projetos. Não é esse o problema. A pessoa até me disse no particular, nem sei porque eu estou aqui. Mas enfim, não significa que você é inimigo, inimigo, você é adversário político, tem uma diferença enorme entre isso. Da pessoa abrir o coração, não sei o que estou fazendo aqui. Enfim, esse é o papel, pelo menos honrou os finais de projetos, etc. Mas também não pode fazer muita coisa, porque essa era a ruptura. Bem difícil, bem difícil! A partir da Dilma, 2016, encerra. Acho que o Singer foi grandioso, que já houve a ruptura, também ele saiu fora. Alguns colegas ainda ficaram ali no finalzinho, para encerrar os projetos. A gente também admira e respeita, porque para muitos outros colegas e colegas, não entenderam, que algum colega ou colega, ficaram até o final, mas ficou até o final para garantir as coisas. Infelizmente eu tenho que falar isso aqui, muita gente não reconhece, a gente tem que reconhecer, que às vezes a gente olha por um prisma que na verdade não condiz com aquilo que outras pessoas, na época, olharam e criticaram. Essa ruptura, então, assim, ela zerou, para você ter uma ideia, enfim. Projetos que foram sacados 99%, aí já é da ruptura e do próprio governo anterior, ao governo atual. Eu não me sinto à vontade até para falar o nome do último governo. Mas enfim, respeito, eu sou corinthiano, respeito os palmeirenses, mas também não preciso tá falando o nome do Palmeiras toda hora, né gente! Mas enfim, projetos e programas, secaram, assim, só deixou o nome. E alguns, infelizmente, eles foram limados, foram exilados, que a partir de agora, do próprio governo Lula, você tem que fazer toda a reconstrução. Claro que você não vai trabalhar o PPA do governo anterior. Então, muitos amigos e amigas desse Brasil afora, que isso aqui é um continente, não fiquem angustiados, porque vai ter que se trabalhar, vai ter que se recomeçar. Seis anos não são seis anos, você vai ter que trabalhar 16 anos aí para frente. Eu digo abertamente, do estrago que foi feito, essa é a nossa visão, é a minha concepção, a qual a gente tem que defender. E eu acredito, não é que eu estou defendendo por defender, é que eu acredito. E com certeza farão muitas análises aí no futuro, vai ver que é difícil construir, extremamente difícil, leva anos, décadas, para destruir basta um ano, três anos. Então assim, enfim, a gente sabe que tem alternância no poder, alternância no poder é só lutar, só que tem horas que é extremamente difícil, quando é um lado da alternância não consegue perceber o estrago que está. Enfim, fazendo para o seu próprio país, para o brasileiro. Eu sempre acreditei, eu acreditei mais em 2007, bem legal, acreditei muito em 2007, demais. Não desacreditei, enfim, que a gente… não é que nós vamos construir a nossa identidade, a gente tem que reconstruir ou construir a nossa identidade enquanto povo brasileiro. Isso tem me incomodado muito, eu tenho conversado muito sobre… A gente importa muitas coisas que a gente não precisa importar, ainda mais quando você pega 6 anos que importou só de um, só de um. E não precisava importar só de um, sendo que a gente tem aí 200 e poucos para compartilhar, seja da cultura, seja da economia, enfim, um pouco isso que eu vejo. Então, assim, muito doído o que aconteceu, graças a Deus, o Singer deve estar sorridente, acredito eu, onde ele está. Quem assumiu a SENAES é o Gilberto de Carvalho, que é uma pessoa que era muito próxima do Singer também, a gente diz que são dois sábios. São grandes desafios, gigantescos, gente, são gigantescos os desafios futuros. Por que? Pós pandemia também não era… mudou o jeito de produção, mudou o jeito de consumir e as tecnologias, assim, nós temos que aprimorar muito, nós enquanto ser, se aprimorar muito, acompanhar essa tecnologia muito rápida. A economia solidária tem que acompanhar muito rápido, é outro jeito, são outros jeitos de produzir, já falei, de consumir e de olhar o que está acontecendo no mundo, principalmente. Porque aqui, às vezes, não é a gente, o olhar que tinha o governo anterior, era só mirando só um país, enfim. A gente tem que olhar novos negócios, novas oportunidades, abrir horizontes. Que é isso, você vai numa feira hoje não é mais o stand tático, você vai numa feira hoje, eu fui em uma esses dias, não é mais nada estático, é bate-papo, é informação, é o evento que está acontecendo, é gastronomia ali, o cara tá apresentando, mudou totalmente. Tá rolando a feira, tá falando com outros clientes, fornecedor de outro país, tudo acontecendo. Então nós da economia solidária temos que evoluir, gente, evoluir e começar a olhar essa movimentação que está acontecendo nesse momento.
P/1 – Eu queria que você contasse se tem alguma história desse período da Unisol, que você esteve a frente da Unisol, tem alguma história marcante da economia solidária.
R – Tá! Eu vou contar uma marcante e uma hilária, se é possível? São várias marcantes, nossa, eu tenho até medo de falar aqui, medo, porque assim, são várias. Eu participei… mas são várias, assim. Uma marcante é a Casa Ápis, apicultura, que fica em Picos, no Piaui, teve muito apoio de uma entidade da Holanda, da própria CUT, aqui, Fundação Banco do Brasil, SEBRAE e muitos outros parceiros. Pessoal, me perdoem os parceiros que vão ver isso aqui algum dia. De muitos parceiros, sabe, onde hoje eles estão, eles conseguem produzir, não quero errar aqui a quantidade, até vi esses dias, 700 toneladas de mel ao ano, é muito mel, gente! É muito mel! Eles devem exportar aí uns 80%, eles são… Uma história marcante, marcante, na época, quando nós começamos ir para lá, eu comecei em 2004, você vai hoje, é assim, totalmente diferente. Onde eles construíram uma central, então eles tem uma própria, uma cooperativa central, que chama-se casa Ápice, uma construção moderna, com laboratórios. Mas isso foi feito lá atrás, já bem lá atrás, eles vem numa caminhada, são certificados …, em vários países, então eles exportam, agregam 30% do valor no quilo do mel. Para quem eles exportam para fora, eles adiantam até 50% do valor. Tem que tomar cuidado também, esse tipo de coisa, daqui a pouco vocês vão virar, como se diz, toma cuidado. Vou dar um exemplo, a soja, para o ano que vem ela já está vendida, tem que tomar cuidado com essas coisas. Claro que tem todo um seguro de safra, resafra, etc, etc. Mas eu brinco muito com eles, que é um caso extremamente de sucesso, onde a gente conheceu, assim, os produtores, estão firmes e fortes. Hoje já são os filhos deles, os filhos que vêm comandando, trocando, à vendo rodízio nas próprias cooperativas singulares, na administração, na própria casa Ápice. Assim, um caso muito marcante, que eu acompanhei de perto, de 2004 a 2019. Continuo conversando com eles, independentemente, assim, conversando, vendo a evolução. Horas eles estão na Alemanha, horas eles estão no Japão, hora eles estão aqui, nas grandes feiras. Enfim, esse é um caso que eu tenho muito orgulho de falar, tem outros, a Justa Trama, que vai desde a produção, da plantação do algodão orgânico, passando por toda a cadeia produtiva, até a camisa, a calça, a blusa, feita. Então, são várias, são várias, que a gente fala, puxa vida, é possível. E só foi possível, a partir de investimento do poder público, extremamente estruturado, com comitê gestores e gestoras, de várias instituições parceiras, olhando, olhando não, trabalhando junto, para e pas. E muitas vezes os próprios produtores que vivenciam a cada dia ali, a cada dia. Tem calorzinho aquela região, 48 graus lá, 45, não é brincadeira. Mas enfim, eu estou falando aqui no caso de pico. E também nos ensinando, aprendendo, ensinando, ensinando, aprendendo, tudo aquilo que Paulo Freire nos ensinou. Então, assim, são casos, que é referência. Essa tecnologia, é uma tecnologia social, que já foi replicado em outros estados, em outros estados também têm centrais de apicultura também, igual a essa. E outras que a gente, a partir da organização, da própria comercialização, você organizar, organizar juntos, construir galpões, construir a parte de refrigeração, toda parte da distribuição, da plantação, da distribuição para grandes redes, para feiras de orgânicos. Então, assim, nós temos milhões de casos, não é milhões, mas tem casos, que a gente tem que replicar. Respeitando aquilo que eu falei no começo, a cultura local, o tempo de cada trabalhador, de cada trabalhadora, independente se a gente está no sudeste, ou se a gente está em Brasília, em qualquer lugar, em qualquer instituição, respeite quem está na ponta. Digo com certeza, você vai aprender muito, você vai aprender muito. E outro detalhe, a gente tem também, tem dado, não dado alerta, mas onde nós erramos, nós não podemos cometer o segundo erro, então isso é uma vivência, do jeito de falar, gente aqui nós erramos, não vamos cometer o segundo erro, sabe! Seja na gestão, seja na elaboração de projetos, seja na execução de projetos. Então são vivências, são vivências, que podem ser replicadas enquanto uma tecnologia social, mas tem, como se diz, respeitar os tempos. Não adianta eu chegar em qualquer lugar do Brasil, colocar uma fábrica ou qualquer unidade de processamento, reprocessamento, de agregação de valor etc, etc, etc. Se as pessoas falarem, amigão, não, não! Enfim, eu não vou falar aqui, que eu já vi outras coisas. Mas um caso que me chamou a atenção, as quebradeiras de coco, eu li isso e vi o vídeo, não adianta você colocar o último modelo lá de tecnologia, não, não, eu quero quebrar o coco, que é aqui que eu conto a história, é aqui que eu converso, esse é o meu espaço de fala. Querer colocar o último modelo, não é assim! Então a gente vai aprendendo isso, conforme vai chegando isso aqui. Então a gente vai aprendendo. E muito feliz também, de poder compartilhar um pouco da vivência, nossa, mexe com a gente, porque é possível, já falei dos erros, não cometer os mesmos erros e respeitar. Então, não adianta você ser formado em Harvard, se você não está vivenciando aquele local, você vai vim com trocentas mil fórmulas, trocentas jeitos de ver um projeto, 400 métricas, mas não vai fechar. Então, é isso que é o aprendizado que a gente… aprendemos muito. Muita gente chamava o professor de velhinho, eu já dei um dia uma entrevista, falei, para nós ele foi um pai. Que ele usava a simplicidade e você aprende muito, você aprende muito com quem é simples, independentemente se você é pós doc. Às vezes, a gente aprende muito com um educador popular, uma educadora popular, lá em Manacapuru. Fala, poxa vida, eu viajei 3.000 km, rapaz! Eu digo, rapaz, não é isso mesmo! É isso mesmo! É isso! São essas vivências. Um dia, enfim, tava, um dia, não interessa o status que a gente estava, status não interessa, tem gente que engrandece coisa que não precisa. Daí eu acabei falando para uma senhora, que a vida era dura, que eu estava cansado. Uma senhora com os 80 e poucos anos, ela falou, filho, a vida não é dura não, a vida é dura para quem é mole, levanta essa cabeça, você é jovem! Aquilo foi uma lição, isso foi em 2004. Então, eu digo, vamos lá, vamos poder, se dedicar um pouco mais, se dedicar um pouco mais. Acho que essa é a palavra.
P/1 – Arildo, você estava contando sobre esse período da Uniforja, e eu queria saber sobre essa saída, como que ela se deu, o que aconteceu? Caso você queira contar.
R – Claro que eu quero! Por favor! Claro que eu quero! Então, assim, saí, saí bem, e graças a Deus, tanto é que eu falo com eles direto, eu ainda vou lá, almoço lá. Nunca precisou tomar o meu crachá de entrada e saída. Eu brinco com eles, eu ganhei uma placa do tamanho do mundo, fui o primeiro a ganhar a placa, e eu disse assim: a placa você só ganha quando as pessoas estão achando que você vai para algum lugar. Sabe, hoje, sabe, é brincadeira de mau gosto. Tô fazendo uma brincadeira aqui, viu gente! Não se faz isso! Enfim, eu trabalhei, então, de 1986 a 2019, eu era liderado 100% nesse período, aliás eu fui liberado a partir de 2006, mas desde 2004, que eu estava na própria Unisol Brasil. Eu me aposentei, eu digo também, assim. Aí eu pensei, falei com a minha família, tal. Fui presidente da Unicopas, que reuni, a Unicopas reúne a Unisol Brasil, a Unicafes, a Unicatadores e a Cootrab, do MST. A gente teve a felicidade também, com outros colegas de pensar isso, oportunidade, não eu, outros colegas juntos, pensar isso. Vou voltar um pouquinho, dureza, vou falar isso, para entender a saída. É a mesma coisa da Uniforja quando eu falei, quatro cooperativas, cada uma por si. A Unisol ia do governo por si, a Unicatadores ia por eles, a Unicafes ia sozinha, Cootrab ia sozinha. Um dia o Gilberto Carvalho, o atual secretário da economia solidária, falou, gente, mas vocês são todos filhos de Deus, todos do mesmo segmento, por que que cada um tá vindo aqui individual, sendo que vocês pautam as mesmas coisas, ou as mesmas coisas. Então a gente teve a oportunidade de vivenciar esse momento, todo esse momento. Então, assim, também já vivenciei bastante coisas. Aí surgiu uma oportunidade, eu abri uma empresa para prestar consultoria, veio a pandemia. Levei umas pauladas também. Aí veio a pandemia, conversei com os meus colegas, falei, estou a 33 anos, já tinha feito os três mandados, enquanto presidente, já tinha feito os mandados também na própria organização das cooperativas mundiais, no ramo trabalho. Se quisesse ficava para o resto da vida, mas só que nós temos uma máxima, no ABC, eu já gerei uma. Você pode até fazer dois mandatos, fica uns dois fora, depois você volta, se precisar. Essa foi a construção. Cheguei na Uniforja, falei, olha eu vou dar um… Eu já dei 180 na vida, você ser bancário, funcionário de banco, sair, virar metalúrgico, já é um 180. Eu tive a oportunidade, vou dar outro, senão não vou dar muito na vida. Eu falei, vou montar uma empresa de consultoria e vou tocar a vida, dar um 380. E foi isso que eu fiz. Daí veio a pandemia, aí desanimou no caminho, deu uma desanimada. Tinha montado um pouco antes da pandemia, falei com os meus amigos, eu havia comprado uma casa financiada, essa que eu tô, tenho outra que é do meu sogro. Vou capitalizar um dinheiro, a verdade, é isso, é vou dar uma pancada. Minha filha mais nova também precisava comprar um apartamento, graças a Deus tá bem, liberada, tá com apartamento. E a gente precisou dar uns acertos na vida, falei, não, a hora é agora, 33 anos, eu podia ficar e eles sabem disso, qualquer um sabe, até eu morrer lá! Só que assim, você precisa sentir gente, a gente precisa viver, precisa sentir algo, você precisa sentir alguma coisa queimando para você ir, vou dar 380. A empresa tá viva, tá tudo ok. E aí eu recebi um convite, para trabalhar na prefeitura de Diadema, governo Felipe, para quem não sabe o governo Felipe é o quarto mandato dele, nosso grande Felipão, engenheiro da USP, engenheirão civil da USP, tá aqui no quarto mandato. Eu recebi um convite, ainda estava na pandemia. Falei, já que deu o 380, porque não, né? Posso fechar com 360. Então, já estou mais de dois anos na prefeitura de Diadema, feliz! Primeiramente eu trabalhei na Secretaria de desenvolvimento econômico, eu era diretor de economia solidária. Enfim, houve uma mudança, enfim, houve uma mudança interna, aí eu fui para Secretaria de Segurança cidadã, também é uma área que eu gosto, mediação de conflitos, falo com as pessoas o tempo inteiro. E outros projetos que a gente toca aqui na cidade, a gente tá também acompanhando pari passu. Mas enfim, tem outros convites. Então, enfim, eu sempre analiso com a minha família. A gente diz abertamente, o nosso jeito de falar, nós somos soldados, onde nós pudermos contribuir. Soldado, é um sentido, que nós metalúrgicos do ABC falamos, mas enfim, somos um ser servente. Não sei se essa é a palavra que pode confortar as pessoas. Então onde existir oportunidade e possibilidade, que a gente possa contribuir para um mundo melhor, para que as pessoas vivam em harmonia consigo mesmo, com seus familiares, com seus vizinhos e com o mundo, é nesse sentido que eu vou me dedicar assim agora, até eu puder. Independentemente do lugar que eu estiver. E aprendizado é um negócio, assim, diferente. Eu aprendi muitíssimo nos últimos dois anos. Eu nunca fui gestor na vida, nunca imaginei, mas assim, esses dois últimos anos, vai fazer dois anos e pouco agora, para mim valeram por 20 anos. A vida, não sei, cada um avalia como quer. A vida, são espaços de aprendizados e você tem que vivenciar, tem que experimentar também, porque se você não experimentar, vai ser difícil, você vai se arrepender de algumas coisas depois. Não adianta você não estar num lugar e falar, meu, aqui já deu! Assim, já deu! Às vezes na conversa, é isso, você não cria repertório, essa é a questão. Você imagina, tem gente que consegue ficar, respeito, 50 anos passando no mesmo portão. Eu sou inquieto, eu acho que é possível fazer mais. Eu falo tranquilamente, é isso que eu digo sempre, falei desde o começo, você sai da cooperativa, você sai da autogestão, independentemente, seja Uniforja, qualquer nome que você queira, ela nunca mais vai sair de você. Por isso que eu falo, tem que vivenciar. Eu conheço pessoas que são dirigentes, foi presidente de banco, não vou citar muito, mas foi, gerentes de grandes empresas que conheceu mesmo apoiando, eles falam até hoje, continuo apoiando trocentos mil projetos. E bancos grandes aí, viu! O gerentão, o gestorzão, conheceu, vivenciou, nem que seja uma semana, mas aí foi uma semana. Conheço gente que foi para o Amapá, meio do mato, ficou lá, sabe, 6 meses, é gente que fez Harvard, fez isso, voltou, agora tudo que tem nas empresas que ele comanda, ele coloca um pouco, porque vivenciou. Então é nisso que eu acredito, feliz pelo que fiz. Enfim, oportunidades virão, tô muito feliz, também é um momento muito feliz. Eu sou meio carrancudo, assim, viu! Eu tô me soltando um pouco mais! Mas é o meu jeitão mesmo. Mas muito feliz! Enfim, eu nunca desacreditei. Assim, e todas as amizades que eu fiz, também fora daqui, eu continuo falando, acabou virando amigos, eles vem na minha casa, simples, enfim, na nossa casa, não interessa como é a nossa casa, eu vou na casa deles, continuo mantendo também, que acho que é importante. Tem gente que sai de um lugar, se esquece, eu acho que isso que eu tô levando. Mas o aprendizado, que eu te falei, foi maravilhoso, é maravilhoso, e amanhã não consigo te responder, mas muito feliz, muita disposição do que fiz, até aqui! É isso.
P/1 – Queria saber como que foi essa volta aos estudos? Por que você decidiu estudar Geografia? Como foi?
R – Então, assim, vou ser direto, eu gosto de ser desafiado. Pensa um cara que gosta de ser desafiado. Então, é interessante isso, eu voltei a estudar em 1998, geografia. Primeiro, a própria Uniforja, na época, a Uniforja disse, aqueles é aquelas que quiserem fazer um curso superior… Nós decidimos, eu estava na mesa quando foi pensado isso. E não só nessa área, área de engenharia, área de administração, área de direitos humanos. Nós temos oportunidade, a hora é agora, tem o fundo, a hora é agora! Esse é 1, então eu fui desafiado. 2, essa é minha prima que eu morei muitos anos, um dia ela falou para mim, você nunca vai escrever um livro, você não vai mais plantar, não é plantar, você não vai fazer nada, você não vai conseguir. Isso é um desafio! Não foi nem minha família! Família que eu digo, da minha companheira, Rosa. Estamos juntos aí, vamos longe! Eu fui desafiado. E teve oportunidade, então eu falei, não, eu vou fazer geografia. Eu li Milton Santos, é isso que eu falei, a vida acontece na rua, no local, foi o Miltão, gente. Era Milton Santos na veia, eu digo, eu vou fazer. Não pelo lado da geografia física, mas mais da geografia humana, geografia social, como é que se dava isso? Como é que acontecia? Se acontece ali, os orçamentos participativos, aquilo foi. Enfim, tudo isso foi levando, eu falei, não, eu vou para essa área, eu vou para essa área. Mas nunca fui na lógica de dar aula, de ser professor. Enfim, acabei fazendo tudo aquilo que tem que fazer, fiz quatro anos, na verdade hoje reduziram algumas para 3, mas eu fiz 4 anos. E foi nesse sentido, por ser desafiado. Eu podia ter feito a administração, falar baixo, que a família… falar baixo. A família sempre cobrou que eu fizesse direito, até hoje, cobra. Mas assim, dá para fazer, que hoje eu estou fazendo pós, fiz também outros cursos que a gente conversa em off, extremamente puxado, mas que é possível conciliar e também é possível conciliar a família. Então eu tenho me dedicado muito aos netos, que moram comigo, desde que nasceram, tenho me dedicado muito para a própria família. Eu tenho me dedicado, eu devo isso a eles, como eu te falei, eu não vi as minhas filhas crescerem e estão aí com 36 anos e a outra 34. Tudo isso depois que eu saí, é incrível! Então tudo isso depois de 2019, é claro, veio a pandemia, tudo isso, mas eu fiz uma reflexão, que eu devo muito para minha família, para a sociedade. Eu podia ter feito mais, sabe! Não no sentido… Não é que eu tô me cobrando. Tô me cobrando. Mas podia ter feito, é isso, é difícil a gente admitir, mas a partir do momento que a gente admite, te dar uma garra, sabe, te da luz, vamos, vamos, se você não fez, é agora. Se você não fez, é agora. É isso que me enche de luz. E foi por isso que eu fiz toda essa caminhada. Ter experiência fora também, onde que eu te falei, a experiência fora do país também foi extremamente importante, ver o país extremamente desenvolvido, onde as pessoas não ligam para carro, na mesma mesa que senta até hoje, o cara que para com caminhão, claro que não é igual aqui no Brasil, que o caminhão pega todo o lixo, ele entra, ele almoça, ele janta, no mesmo lugar que alguns bilionários do mundo vão, entram no mesmo restaurante. Eu vi essa cena, falei, não é possível! E é possível! Então assim, comecei ver o mundo assim. Comecei a ver nessa perspectiva, acho que isso me tornou, tá me tornando, um pouco mais crítico, no sentido que é possível, sabe. É possível chegar, o nosso país também é possível chegar, é possível, a gente enquanto formiguinha ir plantando de pouquinho em pouquinho e formando a consciência. Eu acredito nisso! E não estou enganado. Então, eu vou até o fim, acreditando que é isso. Fazer o bem, que vai se receber o bem. O bem no sentido, não preciso tirar nada do outro, não preciso fazer nada de diferente, nada! A gente vai para o mesmo lugar, enfim, não é só questão de religião, religião também é aquilo que eu te falei. Enfim, eu sou católico apostólico, mas daquele jeito, vai abrindo horizontes. Eu creio que tem um Deus, independentemente do idioma que você ora, reza, que você faz suas orações, só tem um, enfim.
P/1 – Arildo, você contou que você é casado, eu queria saber como vocês se conheceram?
R – Então, como eu te disse, como eu morava sozinho com a minha tia, a minha esposa, ela namorava com o meu primo, e eu gostava da namorada do meu primo. Assim, uma história interessante, moral da história, meu primo acabou casando com a menina que eu gostava dela e eu casei com a minha esposa, que era namorada do meu primo. É meio confuso. Na época eu tocava bateria de ouvido e foi assim que eu conheci ela. Então, eu tocava na época e acabei conhecendo. Um dia ela foi assistir, ela acabou largando do meu primo e ficando comigo. E nós casamos muitíssimos jovens, nós casamos em… ela muito jovem. Assim que eu entrei na Uniforja eu casei, em 86, assim, nós namoramos, eu conheci ela em 83, 84, só ficava olhando, e aí nós namoramos só um ano e já casamos. Porque aí a partir dos 18 anos eu já morava sozinho, eu já conhecia ela, assim 18, 85, é isso! Eu conheci ela, tinha 18 e ela 15, que ela namorava com meu primo. Aí assim, como eu saí da minha tia e fui morar sozinho, já ganhava razoável, que eu te contei anterior. Eu aluguei uma casa grande na época e tal, a conheci, aí eu tocava, tal, foi assim que eu conheci ela. Mas já conhecia, conhecia, só que meu primo que casou com a menina, que hoje é esposa dele e eu casei com ela, que era namorada do meu primo. É bem hilário, assim, até hoje um tem ciúmes do outro, ainda existe um pouquinho de ciúmes, até hoje. De 86 até agora, acredita? Mas é isso! Ciúmes no modo de dizer, até hoje! Ele tá casado com ela, que eu gostava dela, e eu tô casado com a minha esposa, é bem Hilário isso. É muito hilário.
P/1 – Como é o nome da sua esposa?
R – Lúcia.
P/1 – E eu queria saber… você contou que você é pai, o que é paternidade representou na sua vida?
R – Então, hoje, se eu fosse vivenciar hoje, seria quase paternagem, porque hoje, o Enzo, como o Enzo é autista, então, eu já dei banho nele. Tô vivendo a paternagem agora, antes eu era pai, aquele pai, vou dizer, aquele pai, não vou dizer que era um pai machista, porque a gente vai aprendendo com a vida. Falei para você, nos últimos dois, três anos, dei… muito aprendizado. Eu aprendi muito com o Enzo, que ele é autista, ele é grau máximo, ele mora comigo… a gente pediu até para minha filha dar uma olhada. E com a Rafaela, a Rafaela, assim, para eu dar banho não, só algumas vezes. Mas o Enzo deu dar banho, porque ele não sabe fazer nada disso, ele não sabe usar o banheiro, ele vai fazer 9 anos, Então, ele não sabe usar o banheiro, ele não sabe o que é quente, ele não sabe o que é frio, ele não sabe o que é altura, enfim. Estuda, tudo, tá na rede pública, já teve na particular, agora está na pública. Enfim, passa em trocentos médicos, quase todo dia da semana. Mas está evoluindo. Então foi a partir disso, de trocar, de vestir a cueca. Antes eu, que dizer, sabia tudo, tinha todo respeito, então para mim foi um aprendizado, do que é ser pai. Pai é aquele que chora com o filho, aquele que troca, aquele que faz dormir, eu estou aprendendo isso hoje. A Rafa, ela vai fazer 6 anos, hoje ela dorme comigo grudada, às vezes tem que tirar do quarto para ela não dormir, quando o Enzo chega perto de mim, ela empurra ele. Tudo isso eu estou reaprendendo. Como eu disse antes, eu não vivenciei isso com as minhas filhas, pode ter tornado umas filhas diferentes, um pouco mais longe, sabe. Com eles não, eu chego ela e abraça, eu janto com ela, com a neta e com a minha esposa, então nós sentamos mais na mesa hoje, é outra vivência. A gente fala, que é Deus que coloca no mundo da gente, a gente acredita nisso. Mas enfim, ele é extremamente inteligente. Eu estou sendo pai hoje para os meus netos, pelo menos eu estou vivenciando isso e tô tentando ser o que eu não fui. Eu reconheço isso hoje, sabe! Reconheço, reconheço! E muito aprendizado. Então assim, na área que eu estou, muito aprendizado. Eu tenho conversado muito com homens, feito reflexões como homens. Inclusive o curso que eu participo, é justamente isso, um curso reflexivo de homens, onde a gente trabalha todas essas questões, de desconstruir a masculinidade. Mas antes de eu fazer esses cursos de pós, tô fazendo agora, o Enzo nasceu tem 9 anos, então assim, tá lá atrás. A partir desse nascimento dele, dessa convivência, que eu acho que pai é isso! Pode ser mais do que isso! Então, assim, hoje eu conheço pai nesse círculo, conheço e vejo, que ele cuida dos dois filhos, é ele, a esposa faleceu, ele não arrumou outra companheira. E a empresa faz tudo que ele precisa. Sim, pelo menos a empresa tem esse lado social. Mas ele que leva nos médicos, enfim, ele que cuida, não tem nada de diferente, já faz 3 anos. Nem brinco com ele com outros assuntos, de companheira, eu não tenho essa intimidade de brincar com ele, mas ele faz tudo. A gente vai ouvindo, vai trocando. Eu sou totalmente diferente, eu queria ser o que eu sou hoje, quando eu estava com 21 anos, no nascimento da Evelyn e da Isabela, que são as minhas filhas. Mas assim, é isso, assim, por isso que eu falo, tem que acelerar agora para recuperar, é isso! E tentar compartilhar com outros homens, mulheres, essa questão da paternidade, da paternagem, um pouco isso, assim! Tô te falando, é muito aprendizado de 2019 para cá, é isso! Sinto isso! E falo com muita alegria, assim, meu, puxa vida, caramba, perdi isso! Mas também não quero vivenciar com outras não, eu quero ficar com a minha e cuidar dos meus netos, é isso!
P/1 – E quais são os seus maiores sonhos hoje?
R – Então, eu tenho um sonho sim! Para onde eu for, em qualquer instituição, eu sempre construo o coletivo, eu não gosto de disputa, eu nunca gostei de disputa, mas já enfrentei várias disputas na vida, ganha-se algumas, perde-se outras. Então eu tento construir coletivo. Então assim, meus maiores desafios. Hoje eu estou muito bem obrigada, eu poderia de novo, igual Uniforja, eu poderia, mas tem convites que são irrecusáveis, sabe. Então, assim, eu tô muito disposto ao desafio de fazer melhor do que eu fiz, independentemente para onde eu for, esse é um desafio meu. É um desafio que é meu e de toda minha família, não posso esquecer disso, desafio é sonho, isso é sonho mesmo. Esse fim de semana nós fomos para uma cidade aí, senti aquele cheiro que eu falei no começo, que eu senti, não é um sonho só meu, a minha esposa insiste também. Então é isso, é ter uma chácara, ou um sítio, a gente tem, mas é da família. Os sonhos às vezes nos impede, por conta de netas e filhas, distância longuíssima, 1000 quilômetro. Então, assim, eu tenho sonho sim, claro que eu tenho. Fazer essa pós, essa que eu tô fazendo, depois, com o tempo, o mestrado, com certeza, mas não na área obrigada, mas na área que eu me identifico, não que você seja obrigado a A, B ou C, porque tem gente que faz e não era bem aquilo, acaba não terminando ela, porque não é bem aquilo. Fazer o que eu não fiz, eu podia ter feito também, é aquele estalo, eu podia ter feito em 2004, 2002, tinha tudo para fazer. Então assim, eu estou sendo desafiado de novo, é isso! Sonhos, é isso, a gente tem que ter sonhos, sonhos é aquela luz, assim que eu vejo, na minha simplicidade, é aquela luz que diz, olha, é possível. Então, mais uma vez eu estou sendo desafiado e vou realizar. A minha filha, tenho uma filha que mora comigo aqui, que mora comigo, a mãe dos meninos. O espaço, se for para mim e para minha esposa, tem que vender isso daqui, porque assim, o espaço é grande, é grande e ruim de cuidar. Então, assim, ela está se acertando com apartamento dela, tá de boa, independente, ela é mãe solo, atual, só tem namorado, não faz tempo. Tá solo faz seis anos, 6, 7. Tá só, ela que toca, com ajuda da gente. Então ela se resolvendo também, não vai ficar aqui. São esses sonhos. E viajar para Europa com a minha esposa, então assim, eu viajei 25 países e a minha companheira só foi em dois. Dois, não, enquanto eu estava trabalhando, na minha folga, nas minhas férias, nada de viajar com família em projeto. Sou bem chato nisso, eu sou chato, é o meu jeito. Então, assim, eu não misturo trabalho… Então, assim, isso também eu quero realizar, já devia ter realizado, mas eu continuo postergando. Então, são sonhos que, nossa, eu vou fazer, pegar ali, dar uma rodadinha na Europa com ela, porque afinal de contas, ela estava brincando comigo, já, já, nós vamos fazer 40 anos de casados. Casados não, nós estamos juntos, não é no papel. Já, já, é isso, 2026, né gente? É 86, 2026, acho que é isso, né? É, vai dar 40. Mas é isso, são sonhos que eu vou realizar. Com o apoio da família, com apoio também daqueles que acreditam na gente, não sozinho, mas junto com outros, nós vamos realizar esse sonhos. E eu espero realizar o deles também e delas, não pode ser o sonho só meu. Enfim, a gente tem que estar no projeto juntos, todos.
P/1 – Arildo, e qual o legado que você deixa para o futuro?
R – O legado, é construir uma sociedade mais justa, igualitária. Enfim, uma sociedade mais justa, que não é o que você tem, é o que você é, o que você é a partir desse coletivo. Às vezes você vê pessoas, você fala, meu, você olha, né! Eu não tenho mais isso! Aí você fala, puxa vida, não é possível! Não, é possível! As pessoas olham… vou ficar quieto. A gente já foi em lugar que as pessoas olham para você e pede para você entrar pela porta dos fundos, dos fundos, sabe. E você tá com pessoas que podem comprar tudo aquilo, mas trocentas vezes aquilo que tem. Que as pessoas te julgam pela sua aparência, pela sua cor de pele e pelo que você está vestindo. Então, assim, o meu legado é construir uma sociedade justa, igualitária, sem distinção de credo, raça, etnia. Uma sociedade que acredita e vivencia a democracia a cada segundo dela. O que nós temos hoje, se é justo ou não, a democracia ela custa cara, mas feliz aquele, aquela que vivencia isso, tem a oportunidade de compartilhar isso. Não vai ser armas, isso não vai levar nós a lugar nenhum. A gente tem que pensar numa sociedade, que a gente tenha as forças sempre preventivas. Enfim, eu acredito, eu acredito muito nisso, vou trabalhar para isso! É isso! A gente quer se espelhar sempre, a gente quer se espelhar, olhar, e depois que a gente conhece algumas pessoas, você conheceu? Conheci, peguei na mão, conversou comigo, não preciso falar isso aqui. Mas que eu nunca imaginei, você conversar com o Pepe Mojica, uma hora e meia, duas horas, primeiro ministro da Itália, que eu conversei, espanhol, pegar na mão, muita gente. Preferia pegar na mão do Singer, pegar na mão de um catador, de uma catadora, seja a Mônica, os catadores, o Roberto. Não é que eu estou menosprezando as pessoas, é disso que eu estou dizendo, é nisso que eu acredito. Fui em algum país que o cara foi apresentar, essa aqui tem 5 bilhões. Sabe, a pessoa chegar, te cumprimentar,... te cumprimentar, sentar. E tem gente, que enfim, não é só o dinheiro, pessoas também aculturadas, aculturada não é a palavra, com o nível extremamente elevado, que olha para você também como se você fosse um trato. Então eu digo isso, são esses, como se diz, são essas diferenças que eu digo, tem questão que não é dinheiro, tem questão que é… pessoa extremamente, têm cultura, ou se tem muito dinheiro, que também não ligam para isso. O Legado é esse, gente, é isso, eu não quero ser retumbante. A gente queria ser melhor do que é, não é se comparando, se olhar, o próprio Singer, a capacidade que tinha, e outros, Paulo Freire, quem conheceu, quem conviveu, a gente também teve a oportunidade de conhecer, conversar. É isso, assim, não sei se eu… é nisso que eu acredito, acredito, vou trabalhar, vou tentar… não convencer, mas mostrar o que que é possível, que as pessoas possam ver e vivenciar, olha, aqui você pode ver isso! Você pode tomar dessa água aqui! Então é nesse sentido, na nossa humildade, tranquilidade, nós vamos trabalhar para isso.
P/1 – A gente já está chegando no fim, tenho só mais duas perguntas, a primeira delas é se você gostaria de contar alguma coisa que eu não te perguntei, alguma passagem da sua vida, ou deixar alguma mensagem?
R – Então, eu comentei aí, eu já vivi situações hilárias, posso contar uma hilária? Eu fui convidado para ir para Genebra, na Suíça, eu não falo inglês, eu não falo alemão e eu não falo italiano, arranho algumas coisas, falar, falar, não! E ao chegar na Suíça, eu fui sozinho, com uma carta da OIT, Organização Internacional do Trabalho, e fiquei lá 8 dias. Fui contar a história da própria Uniforja, e fiquei, o seminário foi cinco dias e de lá eu fui para Grécia também. Foi tudo organizado pela OIT. Moral da história, ao chegar lá, eu fui parado, claro, eu levei roupa para 10 dias, na época, eu até levei um terno, tal, lá faz um frio, um frio, você nem imagina, um frio, que Ave Maria, sei lá, abaixo de zero. A gente não está acostumado com isso! Cheguei no aeroporto, e tinha uma carta da própria OIT, escrita em dois ou três idiomas. Acho que fala francês lá, perdão, não sei se é francês, enfim. Lá as pessoas que vivem lá, falam três quatro idiomas, ali é normal para eles, tanto faz um ou outro. Cheguei lá com uma carta escrita em inglês, sei lá, alemão, francês, da própria OIT, em três idiomas, com a passagem ida e volta, hotel, tudo no convite da OIT. Ao bater o pé, me pararam, veio a polícia, enfim, dois cachorros, dois policiais, uma policial. Me levaram para uma salinha, fizeram pergunta em alemão primeiro, claro, a gente entende alemão, o mínimo, via que era alemão, depois fez pergunta em inglês, não, primeiro em inglês, segundo em alemão, terceiro italiano. Italiano a gente também compreende um pouco. Eu fiquei quieto, falei que não falava nenhum dos três idiomas, mostrei que eu estava com a carta, isso é bem hilário, mostrei que estava com a carta, eles deram de ombros, pegaram os cachorros, abriram toda a minha mala, jogaram toda a minha roupa em cima da bancada, umas roupas caíram no chão. Aí pegaram de novo, aí na carta tinha telefone da OIT, era de dia, claro, cheguei 10 da manhã. Moral da história, leram tudo, ligaram para lá, ligaram para cá, aí voltou, as mesmas pessoas que estavam fazendo abordagem, isso é bem hilário, deixa eu contar essa história. Aí a moça me pergunta em português, “senhor Arildo, você veio fazer o quê aqui?” Daí eu me senti bem humilhado, na época, porque foi, pelo jeito, pela minha aparência, pelo o rosto, eu fui tratado muito mal mesmo. Então essa foi uma história bem hilária que aconteceu comigo, me deixaram, duas horas, três horas, esperando. Ela era de Portugal, ela falou que fez isso porque o chefe dela havia pedido para ela fazer. Enfim, saí bem chateado, não consegui nem pegar metrô, porque lá é interessante, mas é outra história, lá o metrô é dentro dos aeroportos, a maioria dos países da europa é tudo dentro do aeroporto. Eu já não consegui mais acertar… fiquei muito chateado, eu conto essa história, porque foi uma coisa muito hilária, hilária assim, fora da curva, que aconteceu durante todas essas andanças aí. E qual que foi a outra pergunta que você falou? Então é coisas hilárias que acontecem na vida, por você ser assim, por você ter essa aparência. Primeiro é isso, aparência, um pouco mais escuro, foi muito chato o que aconteceu. Assim, de mais hilário, foi isso, de todas as andanças. E outras vezes, tem países que você vai, que os caras te tratam, nossa, admira. Fui para Alemanha, graças a Deus, não aconteceu o que aconteceu com as meninas brasileiras, agora recente. Mas lá eles te recebem como brasileiro mesmo, sabe! Vem, falam no idioma, quando te abordam. Tem lugar que você fala, gente, puxa vida! Independentemente da sua bandeira, do seu time de futebol, tem um padrão de te atender, enfim, enquanto brasileiro, enquanto nação. Isso eu acho muito positivo. Aí você perguntou, a outra qual que foi?
P/1 – Se você queria deixar uma mensagem?
R – Eu vou deixar uma mensagem, sim! A mensagem que eu deixo, é, acredite na democracia, acredite no Brasil, acredite em você mesmo. É possível construir um país diferente, existem outras formas diferentes de organizar o trabalho, ou seja, o mundo do trabalho, ele está sempre em construção e mudanças, mudanças que serão profundas na vida da classe trabalhadora. Então, essa mensagem que eu deixo. Acredite sempre na democracia, é difícil viver a democracia, democracia tem preço, mas não desista dela não. É isso gente, é isso! Obrigada pela entrevista! É isso! Muito obrigado!
P/1 – Antes de acabar, a última pergunta, era o que você achou de contar a sua história hoje no Museu da Pessoa?
R – Eu achei ótimo! No começo eu me emocionei bastante, não sei se foi percebido. Só de pensar já me emociona. É isso! Eu estava me segurando o máximo, porque assim, são pessoas que são marcantes na vida da gente. Eu já falei para muita gente, são marcantes porque falaram para a gente acreditar, não é que falaram, falou olhando no olho, ouviu as nossas limitações. O Singer fazia isso, ele tinha essa mágica de independentemente de onde nós viemos, ele tinha essa mágica. Então eu me emociono muito quando eu falo, porque eu nunca imaginei, ele chegar para gente e falar, vocês têm que acreditar, vocês tem que acreditar, vocês tem que disputar os espaços, porque os espaços eles estão em disputa o tempo todo, vocês tem que se organizarem, porque a sociedade organizada, ela disputa os espaços e conquista as pautas. Isso é dele! Vocês não podem desistir! Em muitos momentos ele ficava muito bravo com a gente. Ele tinha uma coisa hilária também, aqui, agora, para descontrair, ele fingia que tava dormindo, mas quando você falava qualquer coisa fora. Ou ele ficava na dele quieto… Ele era ilegal, ele meio que despertava e pontuava a cada ponto da reunião, o do que nós estávamos falando naquele momento. Então, assim, muito feliz de poder estar compartilhando isso. Poderia ter sido melhor, mas eu acredito muito nisso. E agradecer muito por essa oportunidade, porque não é sempre que alguém pergunta para a gente de onde nós viemos, o que que nós passamos. Então, primeiro agradecer muito o tempo de vocês, pela oportunidade, só agradecer, de coração. Fazia tempo… A gente chora assim, fazia tempo mesmo que eu não me emocionava por conta da vivência….Quando eu conheci o Singer, fiquei muitos anos, até o último momento que ele ficou no SENAES a gente se encontrava muito, às vezes quer fazia parte também do conselho… se encontrava muitíssimo, com ele, com a equipe dele. Enfim, é sempre orgulho poder conversar do que foi construído por ele, onde ele, enfim, ele foi e ainda vai orientar muitos corações para essa forma de organizar o trabalho e por ele ter trocentas mil opções e ter escolhido essa. Que é olhar o mais pobre, não de espírito, mas de meios, de compartilhar uma riqueza de um país tão grande, como o nosso. Então ele teve esse olhar, esse olhar para o mais humilde, vamos dizer assim, para o mais pobre economicamente, que eu sempre vou olhar desse prisma. Porque às vezes a gente olha muito, pobre no sentido de dinheiro, mas não é isso, pode ser pobre, ou dificuldade em dinheiro, mas tem um coração, uma alma, uma aura, assim, muito potente, que nós… Às vezes, a gente deixa passar. Então, é isso! E só agradecer vocês aí, toda equipe pelo tempo. Agradecer mesmo, de coração! Foi ótimo! Para mim foi ótimo! Não sei para vocês, mas para mim foi maravilhoso, poder compartilhar. Há anos que ninguém me ouve, ninguém pergunta sobre isso. Maravilhoso, gente.
[Fim da Entrevista]
Recolher