Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Ivete Medeiros de Oliveira
Entrevistada por Márcia de Paiva e Ana Lage
Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2005
Código: HV2005_44
Transcrito por Flávia Penna
Revisado por Daniela Soares
P/2 – Boa tarde, Dona Ivete. ...Continuar leitura
Projeto Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Ivete Medeiros de Oliveira
Entrevistada por Márcia de Paiva e Ana Lage
Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2005
Código: HV2005_44
Transcrito por Flávia Penna
Revisado por Daniela Soares
P/2 – Boa tarde, Dona Ivete.
R – Boa tarde.
P/2 – Eu gostaria de começar perguntando o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ivete Medeiros de Oliveira, dia 8 de abril de 1929.
P/2 – E onde a senhora nasceu?
R – Em Belém do Pará.
P/2 – Agora, me diz o nome dos seus pais e dos seus avós?
R – Dos avós, eu não lembro. O meu pai era Francisco Freire de Medeiros e minha mãe era Maria do Carmo Barbosa de Medeiros.
P/2 – Quais eram as atividades dos seus pais?
R – O meu pai era comerciante e minha mãe era dona de casa.
P/2 – A senhora sabe a origem da sua família? Vocês são todos lá de Belém?
R – A minha mãe falava que nasceu no Rio Grande do Norte e foi criada em Belém. Meu pai era de Belém e eu nasci em Belém.
P/2 – A senhora tem irmãos?
R – Tenho uma irmã.
P/2 – Além da sua irmã de sangue, a senhora foi criada com mais alguém, com mais algum parente?
R – Não, fui criada com a minha mãe e essa minha irmã, nós duas só.
P/2 – Me fala um pouco da sua infância. Como foi a sua infância, como era a casa em que a senhora morava, o bairro?
R – Olha, o bairro, eu não me lembro muito do bairro, com sinceridade. Eu morava em casa com terreno. Brincava como toda criança gosta de brincar, com bichos, minha mãe tinha criações.
P/2 – Sua mãe tinha criação de quê?
R – Ah, era pato, peru, galinha, essas coisas, que antigamente era mais assim, casa que tinha quintal e a criança aproveitava... aquelas brincadeiras de criança, pulava macaca, não é macaca não, mas nós chamávamos de macaca...
P/1 – Amarelinha?
R – É amarelinha e bole-bole, essas coisas de criança.
P/2 – Como? Bole-bole?
R – Era aquela que brinca com umas pedrinhas, que joga assim. Essas brincadeiras de criança.
P/1 – O bole-bole é essa pedrinha que vai para o alto, que jogava para pegar?
R – É, você pega assim, né? É isso mesmo.
P/2 – E quais eram as suas favoritas, que a senhora mais gostava?
R – As minhas brincadeiras eram isso mesmo. Era muito levada, né, gostava muito de subir em árvore.
P/1 – O que a senhora se lembra de Belém, da sua infância?
R – Eu me lembro da infância, dos amigos que eu fiz lá. Eu me criei lá, e só saí de lá depois de casada. Então, tinha muita coisa, né, a infância, brincava. Eu era muito levada, gostava de brincadeira de menino: jogar bola [risos]... essas coisas é que eu gostava. De trepar em árvore, essas coisas. De boneca eu não gostava muito não.
P/2 – A senhora brincava no seu quintal ou brincava na rua?
R – Brincava na rua, no quintal, naturalmente. Mas criança brincava muito na rua assim, à noite a gente brincava de roda, né, naquela ocasião, tinha muita brincadeira de roda.
P/1 – Qual é a diferença de idade para a sua irmã?
R – Três anos.
P/2 – Ela é menor?
R – Mais velha.
P/1 – Mais velha? Brincava com ela também?
R – Brincava, brincava muito com ela.
P/1 – E as frutas lá de Belém, tem essa lembrança também?
R – Ih, frutas nós temos muitas, né, de todas elas eu gosto.
P/1 – Conta pra gente quais eram as frutas que a senhora gostava mais.
R – Aliás, de todas. Porque as frutas são saborosíssimas. Tem o cupuaçu. Já ouviu falar?
P/2 – Já.
R – Bacuri.
P/2 – Bacuri?
R – Não, você já ouviu falar no açaí? Então, o açaí, até hoje, é o que mais eu gosto.
P/1 – Como é que a senhora tomava o açaí?
R – Eu tomo açaí com farinha [risos]. Aliás, hoje tomo muito com a farinha de tapioca. Já ouviu falar, né?
P/1 – Já.
R – Mas eu gosto mais com a farinha d’água, que é essa farinha que chamam de farinha de mandioca, mas nós chamamos de farinha d’água.
P/1 – Lá se usa mais com a farinha, né?
R – Com a farinha, porque tem a farinha mais fina e a farinha mais grossa. A farinha de mandioca é diferente um pouco, muito mais gostosa do que a daqui. E agora o pessoal já está misturando muito o açaí com guaraná... Pra mim só tem que ser o açaí do jeito que ele é preparado e tomado. Não ponho nem açúcar. Pra mim é mais saboroso.
P/1 – E aqueles peixes de lá, Dona Ivete?
R – O quê?
P/1 – Os peixes de lá, a senhora gostava?
R – Ah, todos eles. Tem muito peixe, e fresquinhos, né?
P/1 – Qual é o que a senhora gostava mais?
R – Eu gosto mais do filhote. Já ouviu falar no filhote?
P/1 – Não, no filhote não. É um peixe grande?
R – É grande. Tem a pescada amarela também que é grande e é muito gostosa.
P/1 – Tucunaré?
R – Lá aparece Tucunaré, mas dizem que vem mais de Manaus. Mas lá tem, encontra Tucunaré. Mas o conhecido mesmo é o filhote, é a pescada amarela, e tem outros peixes, muitos tipos de peixes. Os mais conhecidos são esses.
P/1 – E o tacacá, o pato ao tucupi? Também tinha tudo isso?
R – Ah, o tacacá, o pato no tucupi. Tinha. Eu ainda faço isso no meu sítio, porque eu tenho criação ainda de pato, tenho jambu, já ouviu falar? Porque tem aquela erva que treme a boca, né, quando você prepara. E lá eu tenho isso tudo. Só levo daqui o tucupi, que eu compro, e lá eu preparo. E o tacacá também. O tacacá tem muita gente que não gosta por causa da goma.
P/1 – E a senhora consegue comprar aqui no Rio?
R – Eu compro aqui no Rio e levo. Tem uma casa muito boa ali no Flamengo, a Sucolândia, você encontra o melhor tucupi que tem; aí eu já tenho o mais difícil que é o jambu, tenho a pimenta.
P/1 – Isso tudo em casa, lá no sítio?
R – Tenho o jambu, tenho a pimenta, tenho o pato. Só levo o tucupi.
P/2 – Dona Ivete, a senhora teve educação religiosa?
R – Tive, sou católica e tive religião.
P/2 – Frequentava a igreja?
R – Fiz o catecismo, fiz primeira comunhão e frequentava a igreja. Até pouco tempo, ainda frequentava muito. Depois que eu passei a ter o sítio é que eu deixei mais de ir à missa.
P/2 – Fica difícil?
R – Fica mais difícil. Mas sempre eduquei meus filhos todos com a religião católica.
P/2 – Me diz como e quando a senhora iniciou os seus estudos.
R – Ih...peraí [risos]. Ah, meu Deus do céu! Bem, naquela ocasião, a gente entrava, não era como agora, que entra com 3 anos. Era, parece, que com 7 anos, uma coisa assim. 6 ou 7 anos.
P/2 – A senhora estudou onde?
R – Lá em Belém.
P/2 – O nome da escola a senhora lembra?
R – Olha, eu estudei no Grupo Doutor Freitas, no primário. Depois eu fiz o ginásio no Paes de Carvalho.
P/2 – Me descreve como era a sua primeira escola. A senhora tem alguma lembrança dela?
R – Do Grupo?
R – É.
R – Tenho.
P/2 – Como é que era?
R – Era como todo colégio, né, tem a hora da aula, tem a aula do recreio, fazia ginástica, tinha aula de canto. Agora parece que não tem mais, mas naquela ocasião era obrigada. Tinha aula de canto.
P/2 – A senhora gostava de ter aula de canto?
R – Eu gostava. Até hoje eu gosto de cantar.
P/2 – Ah, é?
R – Cantar no banheiro, né [risos]?
P/1 – E o que vocês cantavam lá na aula? Era canto coral mesmo?
R – É, era um coralzinho e também aprendia os hinos. Você tinha que saber todos os hinos. Não é como agora. Tinha que saber o Hino Nacional, o Hino da Bandeira, tudo. Mas isso já faz tanto tempo, que eu nem me lembro muito. E põe tempo nisso.
P/2 – E a senhora estudou lá até quando?
R – Estudei lá até os 18, 19 anos, né?
P/2 – Na mesma escola?
R – Não, como eu te falei, estudei no Grupo Doutor Freitas, terminei o primário. Depois, estudei mais o ginásio – que a gente terminava com 11 ou 12, não estou lembrando mais – então terminei o ginásio e depois parei.
P/1 – E era escola só de moças?
R – Não, era mista. O ginásio, era. Tinha os colégios só de moças e só de rapazes, mas o ginásio era misto.
P/1 – Era uma turma grande ou pequena?
R – Era grande.
P/1 – Dessa época de escola, tem alguma lembrança que a senhora tenha guardado, uma mais especial, uma professora? A aula que a senhora gostava mais?
R – No meu primário, eu tenho a recordação de que as professoras eram muito severas. Ainda era época de palmatória, né [risos]?
P/1 – Tinha palmatória?
R – Na época de primário tinha.
P/2 – A senhora chegou a...
R – Ah, levei umas, porque eu era muito levada, como eu te falei.
P/1 – Quais eram as razões para você levar uma repreensão assim?
R – Eu não queria estudar, chegava na hora tinha que saber a tabuada direitinho – porque tinha que saber a tabuada, né, fazia arguição e tal, e quando eu não sabia responder levava uma palmatória assim, na mão [risos].
P/1 – A palmatória era uma só?
R – Depende. Aí eu já nem me lembro mais.
P/1 – Dependendo da travessura era mais de uma?
R – É.
P/2 – Na sua juventude, quando a sua mudou de escola, como era a juventude lá em Belém? O que a senhora fazia para se divertir?
R – Ah, eu adorava dançar, né?
P/2 – Saía muito para dançar?
R – Saía, iiiih...
P/1 – Tinha muito baile?
R – Muito baile, em Belém tinha muito.
P/1 – Isso, com quantos anos?
R – Ah, com 18 anos, porque a gente tinha ambiente. Até com 16 ou 18 anos não podia frequentar o baile de adulto. Aí, 18 anos, já era baile de adulto, e aí, pronto, eu ia muito em baile. Lá tudo era motivo de festa: fim de ano, formatura de engenheiros, tinha festa, de advogado, tinha festa, tudo era motivo. Era a diversão, né, ir ao cinema... Aos domingos de manhã você tinha o parque que chamava Parque Rodrigues Alves, onde você ia passear, ia paquerar, e lá eu encontrava os namorinhos, né, era isso.
P/1 – A senhora foi muito namoradeira?
R – Fui.
P/1 – Com quantos anos foi o seu primeiro namorado? A senhora lembra?
R – O primeiro?
P/1 – É. Namoradinho...
R – Isso aí foi depois dos 16 anos porque a minha era severa.
P/1 – Quem era mais severo, o seu pai ou a sua mãe?
R – Eu não conheci o meu pai. Quando ele morreu, eu não tinha nem um ano de idade.
P/1 – Ah, é verdade. E ela era muito severa?
R – A minha mãe era, porque eram duas filhas, então, tinha que andar na linha mesmo [risos]. Depois eu começo a namorar, vai em festa e tem namoradinho daqui e de lá, né? Eu sempre falo para os meus filhos que eu fui namoradeira. Mas o namoro era diferente, né?
P/1 – Era. Era namorinho, né?
R – Namorinho.
P/1 – E nos bailes, o que tocava?
R – Ah, minha filha, naquela ocasião, eu já fui de tango, eu já fui de bolero, samba-canção, samba.
P/1 – E gostava de dançar?
R – Adorava. Não gostava não, adorava. Eu deixava até de falar com o namorado para ir para o baile [risos].
P/1 – E ia com as amigas? Como é que era?
R – Nós íamos com as amigas, mas sempre tinha que ter uma pessoa responsável. Como eu não tinha irmão, ia o irmão das amigas ali para tomar conta.
P/2 – Tomando conta de todas.
R – De todas.
P/2 – E quem eram as suas amigas? Elas eram da rua, do colégio ou de onde?
R – Foram as do colégio, também de rua, da vizinhança. Depois a gente vai afastando porque uma vai casando, outra vai casando, né? Tinha um grupo de amigas.
P/2 – E o que mais que a senhora gostava de fazer para se divertir, além de ir aos bailes, que a senhora adorava?
R – Olha, Belém não tinha muita coisa. Era cinema, ou você tinha lugares, assim, afastados, de praia, em Mosqueiro, para passar o fim de semana. Era esse o passeio da turma antigamente.
P/1 – Dona Ivete, a senhora não contou das roupas dos bailes. Como é que era?
R – As roupas?
P/1 – É. Fazia roupa para o baile? Era vestido comprido?
R – Não, comprido não. Era vestido que estivesse na moda.
P/1 – Como é que era a moda?
R – Agora, você usa de tudo. Naquela ocasião, se usava você usava tubinho, era tubinho, se você usava saia godê, rodada, era rodada. Então, tudo tinha a sua época.
P/1 – Qual a que a senhora mais gostou? Qual era o modelito?
R – Eu gostava mais do modelito de saia rodada, saia godê.
P/1 – Era mais bonito para dançar também, né?
R – Para dançar. Quando rodava assim, né. Roupa justa eu não gostava muito não. Mas antigamente, quando a moda era curto, tinha que ser curto. Agora não, você usa de tudo, né, está mais fácil a moda.
P/2 – Como a senhora conheceu o seu marido? Foi nesses bailinhos?
R – Não, ele não gostava de dançar.
P/2 – Ahhhhh...
R – [risos] O pior foi isso, né? Eu conheci o meu marido exatamente na época do Círio. Já conhece, já ouviu falar na festa de Nazaré, o Círio de Nazaré?
P/1 – É famoso, né?
R – Famoso, pois é.
P/1 – Conta pra gente e pra quem não conhece, como é que é o Círio de Nazaré, como é a festa?
R – É uma procissão. A pessoa que tem muita devoção lá com a Santa – eu tenho muita devoção com ela – e todo segundo domingo de outubro, tem a Festa de Nazaré e, aí, as moças se preparam. O dia do Círio, o segundo domingo, vem muita gente de fora, então era aquela aglomeração muito grande e você acompanha o Círio. Agora, já mudou muito, eu tenho voltado à Belém e já tem muita coisa mudada. Mas antigamente, depois, tinha os 15 dias de festa. Tinha a praça, que chamava o Largo de Nazaré, e ali que toda a noite a turma, a juventude ia para lá para passear, para se distrair. Foi lá que eu conheci o meu marido.
P/1 – Como é que foi? Ele chegou, se apresentou?
R – Não. Deixa eu te contar. Ele estava sentado num bar. Porque lá, no Grande Hotel, era um grande hotel que tinha lá, eles formavam aquelas barracas… barraca era assim, cada um tinha a sua parte separada, O Grande hotel, a barraca de Nazaré e tal. E lá a turma, os homens, principalmente essa turma da Petrobras que gostava muito de beber, estavam lá sentados. Você sabe que essa turma da Petrobras não é fácil... Eles estavam sentados lá, se distraindo, olhando as garotas. Nisso, eu chego com uma amiga minha, que por sinal é muito amiga, até a minha irmã é casada com o irmão dela... nós chegamos e ele estava sentado. Nós pegamos uma mesa e sentamos assim, perto dele. Eu estava de costas e a minha amiga disse: “Ih, mas tem um cara ali que não para de olhar pra cá, não para de olhar.” Eu fiz assim e olhei pra lá, mas passou, ficou ali mesmo. Ele levantou, acho que ele foi ao toalete ou qualquer coisa, quando ele voltou, ocuparam a mesa dele. Aí, ele veio e perguntou se podia sentar na nossa mesa. Só estava eu e ela. Aí, já começou.
P/2 – Já começou o namoro aí?
R – Já começou o namoro.
P/1 – E a senhora achou ele bonito assim, de primeira?
R – Não, no princípio, eu não queria porque eu tinha outro namorado [risos]. Também, estava com 21 anos, era nova ainda. E foi assim, marquei, ele queria conversar comigo no outro dia, eu falei que não podia sair e tal. Disse que só no outro sábado, que eu ia lá pra festa.
P/1 – A senhora ia pensar o que ia fazer?
R – Ia pensar. E aí fiquei pensando. No outro sábado, eu fui, e estava ele já esperando. Aí, começamos. Mas ainda não estava muito animada, né, para estar namorando assim não.
P/1 – Mas achou ele bonitão?
R – Achei. Achei ele bonitão. Para falar com sinceridade, eu não gostava de paraense para namorar, porque eu achava o paraense muito feio [risos].
P/1 – E a senhora namorava quem lá? Ficava escolhendo quem não era paraense?
R – Ficava escolhendo. Escolhia, não era qualquer um que eu namorava não. Quem eu não simpatizasse, eu não namorava.
P/2 – Não podia ser paraense?
R – Não, não podia ser paraense. Eu tinha uma implicância com paraense, sabe? Naquela ocasião, agora não sei, mas antigamente, tinha moças bonitas em Belém, mas os rapazes – para o meu gosto – eu achava feios. Eu comecei a namorar com ele e fiquei escolhendo. Ele veio, passou o Natal, foi passar o Natal em casa, porque ele é de Formiga, em Minas. Voltou. Quando nós nos conhecemos foi em outubro. Quando ele voltou, que passou as férias de fim de ano com os pais dele, veio e já queria casar.
P/2 – Isso, em quanto tempo?
R – Pois é, em outubro, e ele já queria casar em janeiro, fevereiro.
P/1 – Três meses.
R – Eu disse: “Não, não é assim não.”
P/1 – Nisso, ele tinha quantos anos?
R – Acho que ele tinha uns 34, 35, uma coisa assim. Queria casar. Eu disse: “Não, ainda está cedo pra casar. Não conhece ainda muito bem, né?” Eu sei que em julho nós casamos. Pouco tempo, né?
P/1 – Deixa só eu voltar um pouquinho. A senhora contou da festa do Círio, que tinha a mesa dos rapazes da Petrobras que gostavam muito de beber. A senhora já sabia que tinha esse grupo da Petrobras ou soube quando conheceu ele?
R – Não, só quando eu conheci ele. Eu não sabia. Era o Conselho Nacional do Petróleo ainda. E ele vinha do mato, ficava muito tempo no mato. Parece que passava três meses e vinha um mês passar na cidade. E, por coincidência, ele já estava a uns 10 anos em Belém.
P/1 – Até agora, a senhora não falou o nome do seu marido. Queria que a senhora falasse.
R – Nome? Geraldo de Oliveira.
P/1 – Então, o senhor Geraldo já estava lá trabalhando há 10 anos?
R – 10 anos, mas eu não conhecia, porque ele ficava três meses lá no campo. Quando ele já veio pra trabalhar em Belém, foi que eu conheci nesse dia, mas aí ele já não ficava três meses no mato, ele já estava mais na cidade. Ele alugou um apartamento com uns amigos e já morava lá em Belém.
P/1 – E o que ele contou do trabalho dele?
R – Ele era apaixonado pelo trabalho dele. Ele gostava muito, tanto que ele fala sempre pra mim que ele ficou 10 anos sem tirar férias.
P/1 – Esse tempo anterior, antes de conhecer a senhora?
R – Anterior. E eu acho que depois que nós casamos, ele também não tirou férias, porque ele começou a trabalhar em 1946, parece que no Conselho Nacional, e nós casamos em 1953, acho que logo no início também ele não tirou férias. Eles estavam lá preparando umas embarcações, umas coisas e ele queria estar lá. Ele sempre foi muito trabalhador, muito dedicado.
P/1 – Qual foi o ano então do casamento?
R – Eu casei em 1953, em julho de 1953.
P/1 – Conheceu em 1952 e casou em 1953. Aí, já tinha a Petrobras, né?
R – Não. Depois, em outubro de 1953 que foi criada a Petrobras.
P/1 – Ah, é verdade.
R – Ele ainda era do Conselho Nacional do Petróleo. Foi naquela ocasião que pediram para as pessoas fazerem a opção se iam ficar na Petrobras ou no Conselho Nacional e o Geraldo preferiu ir para a Petrobras.
P/1 – Então, antes de falar dessa parte, me conta como foi o casamento. O que a sua mãe achou dele?
R – A minha mãe, primeiro, ficou preocupada porque ela pensava que ele fosse casado.
P/2 – Por quê?
R – Por causa da idade, né, lá casava cedo, né?
P/1 – Naquela época, 30 e poucos anos sem casar...
R – É, ela dizia assim; “Ah, ele deve ser casado.” Aí, começou. A minha irmã já era casada e ela pediu para o meu cunhado pedir informações sobre ele, se ele era casado. Porque ela, viúva, a maior preocupação era se ele casado. Depois ela aceitou porque viu que ele não era casado mesmo.
P/1 – E gostou dele e aprovou o casamento.
R – Gostou.
P/1 – Então, conta como foi o casamento. Vocês casaram na Igreja?
R – O meu casamento foi simples, foi tudo em casa. De manhã, eu casei no civil e à tarde, eu casei, em casa, no religioso. O casamento foi tudo em casa.
P/1 – Como era costume também, né?
R – Era costume. E ele também não gostava muito... Ele é ateu, né, não gostava muito de igreja nem de padre, e eu queria casar no religioso também. Então, nós programamos para fazer o casamento em casa e ele aceitou bem.
P/1 – Então, vocês casaram e ficaram morando aonde?
R – Ficamos morando em Belém. Passamos a lua-de-mel em Belém mesmo.
P/1 – Por conta do trabalho ainda?
R – Porque ele não se desligava do trabalho.
P/1 – Até a lua de mel não deu chance?
R – [risos] Teve uma semana só de lua-de-mel, de folga e pronto, foi trabalhar.
P/2 – E a senhora ficava em casa ou trabalhava?
R – Eu casei e logo engravidei.
P/1 – Mas antes de casar, a senhora estava estudando?
R – Eu estudei. Depois, a minha mãe tinha uma confecção e eu gostava de ajudar. Ela fazia muito chapéu, naquela ocasião.
P/1- Que bacana!
R – Usava muito chapéu. E eu sempre gostei dessas coisas assim, de costura. Até hoje eu adoro costurar.
P/1 – E a senhora ajudava a sua mãe?
R – Ajudava. Depois, caiu a moda do chapéu e aí partimos para o negócio de confecção de roupas. Até hoje, eu que costuro pra mim. Eu faço toda a minha roupa. Aí nesse meio tempo eu comecei a ir, com 22 anos, né?
P/1 – Que ótimo!
P/2 – Aí, depois que casou continuou trabalhando com a sua mãe?
R – Não, aí eu já parti para ser dona de casa [risos].
P/1 – Mas ele não deixou ou a senhora resolveu que não ia mais trabalhar?
R – Não. Naquela ocasião, não sei, as moças...
P/2 – Não tinham costume de trabalhar depois de casadas?
R – É casada, não. Muitas tinham, mas não era normal como hoje. Casava e ia logo ser dona de casa.
P/2 – E aí, logo depois a senhora engravidou. E como é que foi, foi lá mesmo?
R – Foi lá mesmo.
P/2 – E o seu primeiro filho nasceu lá em Belém?
R – Os dois primeiros filhos nasceram em Belém.
P/2 – Então, conta pra gente como foi o início dessa vida de casada, logo com filho. Foi difícil?
R – Não, não foi difícil, porque a gente (ano?) trabalhando, tudo se torna fácil. E eu tinha a minha mãe que me ajudou muito. Depois tive o segundo.
P/1 – O primeiro nasceu em que ano?
R – Nasceu em 1954, em abril de 1954. E o outro nasceu em dezembro de 1955. Depois disso, nós viemos em 1956 para o Rio de Janeiro.
P/1 – Mas me conta um pouquinho ainda deste período lá. O senhor Geraldo preferiu ir para a Petrobras, quando teve a criação. Como essa movimentação toda? Vocês participaram também, ele participou da Campanha de petróleo? O que ele contava disso? Qual era a expectativa dele?
R – Olha, ele não era muito de contar coisas de serviço. Ele sempre dizia: “o serviço é lá e em casa é outra coisa”. Mas ele gostava muito do trabalho dele. Era, como se diz, “caxias”, entendeu? A dedicação dele ali era o trabalho dele. Agora, quando acabava o expediente, era para cuidar da família.
P/1 – E aqueles amigos que a senhora comentou que gostavam de beber, a senhora chegou a conhecer?
R – Ah, conheci, conheci. Saiam lá do escritório e primeiro passavam num barzinho que tinha, para beber e depois iam para casa.
P/1 – Tem alguém que a senhora se lembre dessa época?
R – Olha, quem eu me lembro muito é o Doutor Décio Bisol – não sei se você já ouviu falar – tinha o João Vitor... Mas o João Vitor foi mais na Bahia... Deixa eu ver um outro que tinha. Tinha o Bisol, tinha o outro que depois largou a Petrobras, que era o Petri, tinha o Amorim. Tinha uma “turmazinha” lá. Também eu casei, não demorou muito, eu vim logo para o Rio. Fiquei lá uns dois anos, né, porque eu engravidei logo.
P/1 – E nesses dois anos ele continuou indo para o mato?
R – Ah, continuou.
P/1 – A gente também não falou aqui qual era o trabalho específico do senhor Geraldo.
R – Ele era geofísico.
P/1 – Então, nesses dois anos em Belém, ele continuou fazendo esse trabalho de ir para exploração no mato?
R – Continuou, para exploração. Ele passava às vezes uma semana no mato. Sempre ele ia, passava uma semana, depois vinha, passava uns 15 dias em casa, depois voltava.
P/1 – E quando a senhora ficava sozinha, como é que era? A sua mãe ficava com a senhora?
R – Ficava, a minha mãe ficava comigo.
P/1 – Já estava com as crianças pequenas, né?
R – Já. Aliás, quando eu vim para o Rio, o meu segundo ainda não tinha um ano, tinha uns dez meses. Mas a minha mãe ficava comigo. Eu também tinha uma irmã e ela morava perto.
P/1 – Dava um apoio?
R – Dava um apoio. E aí ele passava uma semana no mato e voltava.
P/1 – E como é que foi essa transferência para o Rio, Dona Ivete? Ele foi convidado? Foi vontade dele também?
R – Não, a transferência para o Rio foi mais caso político. Porque o Geraldo é assim, muito ele. Ele não gosta de bajular ninguém, entendeu? Ele é ele, ele acha que o que ele faz está certo, que o que ele está fazendo está certo. E, nessa ocasião, quem era o Presidente da Petrobras era o Janary Nunes, não sei se você já ouviu falar. Era um militar. E esse militar, toda vez que ia lá, a primeira coisa que ele fazia, quando ele pisava em Belém, ele tinha que ir à Igreja, na basílica de Nazaré. O Geraldo acompanhava aquilo, mas não era muito do gosto dele, porque ele não gostava muito de igreja. Mas, tudo bem. E teve uma ocasião que esse Janary queria que ele colocasse uma pessoa lá. Ali ele já era superintendente. Ele ficou interino enquanto tinha o Doutor Décio Oddone, que era o superintendente em Belém. Mas o Doutor Décio Oddone gostava muito do Geraldo, achava que ele era um cara muito inteligente. E quem deveria ficar no lugar dele, quando o Doutor Décio veio para o Rio, era o Geraldo. Então, deixou o Geraldo interinamente uns três ou quatro meses.
P/1 – Como superintendente?
R – Como superintendente. Depois ele já foi efetivado. Só que o Janary chegou lá em Belém e queria que o Geraldo colocasse uma pessoa lá dentro. O Geraldo disse: “Eu vou ver se a pessoa tem qualidades para ficar aqui.” E mandou fazer um teste. Não agradou e o Geraldo não botou o cara pra dentro. Eu acho que, por causa disso, uma semana ou 15 dias depois já veio a transferência do Geraldo, para em 8 dias ele se apresentar no Rio. E aí ele veio para o Rio transferido.
P/1 – Aí, a senhora teve que, em oito dias, fazer a mudança?
R – É porque aí o meu marido falou: “Ah, vamos embora e tal...” Em oito dias, nós arrumamos tudo e viemos embora.
P/1 – A senhora já veio junto com ele.
R – Eu já vim. Deixei tudo para vender lá e vim embora com ele. Nesse meio tempo, enquanto ele se apresentou aqui, eu fui para Minas, para casa da minha sogra, para ver o que ia resolver.
P/1 – A senhora ainda não conhecia ou ela tinha ido no casamento?
R – Já. Já conhecia. Ele veio para o Rio e aí, não sei se foi para você que eu falei, que não sabe onde põe um piano de cauda, entendeu? Aí, era como se ele fosse um piano de cauda, que não sabe para onde que vai...
P/1 – Mas ele já tinha um cargo de superintendente, né?
R – Já tinha o cargo de superintendente.
P/1 – E ele permaneceu como superintendente?
R – Não, aí, já era outro setor. Aquele foi para a parte de geofísica. Nesse meio tempo...
P/1 – Da parte de exploração?
R – Da parte de exploração. Ele foi encaminhado para a França para fazer um curso.
P/1 – Mal chegou aqui, já foi encaminhado para o curso?
R – É, aí ficou, não sabia se ia para os Estados Unidos, para a França. E resolveram jogar o piano para a França.
P/1 – Mas a senhora tinha contado que tinha ido para Minas. Ficou um tempo lá com a sua sogra, voltou para o Rio...
R – É, passei pouco tempo.
P/1 – Chegou aqui no Rio, organizou a casa.
R – Organizei a casa.
P/1 – Aonde vocês foram morar?
R – A gente morava na Senador Vergueiro, aqui no Flamengo. Organizamos a casa assim, coisas só necessárias. E depois, decidiram e ele foi para a França.
P/1 – Aqui no Rio, passaram mais ou menos quanto tempo antes da França?
R – Nessa época, pouco tempo. Fiquei uns meses, quase um ano. Porque depois eu já fui grávida da minha filha para a França.
P/1 – A senhora foi grávida para lá?
R – Já fui, com um mês e pouco, não, nós chegamos lá em novembro, e ela nasceu em maio.
P/1 – Aqui no Rio, o senhor Geraldo não chegou a sair para fazer exploração por aqui?
R – Não, ele ficou só no escritório.
P/1 – Para ele deve ter sido um período...
R – Ah, foi difícil.
P/1 – Ele estava acostumado há 10 anos andando, fazendo exploração no mato.
R – Ah, ele não se adaptava. Ele gostava mais de lá, né?
P/1 – Aí, vocês foram para a França.
R – Passamos dois anos lá.
P/2 – E como a senhora recebeu essas transferências, uma atrás da outra, como é que a senhora organizou a vida?
R – Olha, eu senti muito, mas eu me adapto a tudo. Sou fácil de me adaptar. Então: “Vamos para o Rio?” “Vamos.” E achei até uma boa. Achei bom.
P/1 – A senhora já conhecia o Rio?
R – Eu conheci o Rio depois que eu vim. Quando eu cheguei aqui no Rio, não conhecia não.
P/1 – O que a senhora achou?
R – Ah, eu achei maravilhoso. Adoro!
P/1 – Mas achou muito diferente também? Sentiu muito?
R – Ah, claro. Sente muito aquele impacto, mas gostei. Eu me adapto muito bem nos lugares.
P/1 – Tinha saudades daquelas comidas boas de lá?
R – Tinha, mas tudo passa. Aí, ele ficou dois anos na França. O Doutor Pedro Moura, que era chefe lá, já ouviu falar?
P/1 – Um geólogo.
R – É, antigo também e, por sinal, gostava muito do Geraldo. Ele falou: “Geraldo, você quer voltar? Dois anos, você quer voltar ou vai querer ficar mais aqui?”.
P/1 – Não quer voltar para onde?
R – Perguntou se ele queria ficar mais um pouco na França. Eu falei: “Não, eu prefiro ir para o Brasil”. Porque depois de dois anos, já estava com saudade também da família.
P/1 – Mas me conta um pouco o que ele foi fazer lá na França.
R – Ele foi fazer um curso no Instituto Francês do Petróleo. Mas, como ele falou: “Ivete, o que eu estou fazendo aqui, esse curso que eu estou fazendo, isso aqui eu já sei tudo.” Mandaram ele fazer esse curso porque não tinha onde colocá-lo, entendeu? E ele foi, se adaptou, mas ele já sabia tudo.
P/1 – E a vida lá, como é que foi para a senhora, com as crianças, com neném nascendo... Como é que foi?
R – É, aí, eu sentia já muita saudade daqui, eu já tinha vontade de voltar, mas ... Aí quando voltei, a minha filha já estava com um ano e meio.
P/1 – Foi muito diferente ter neném lá?
R – Demais, demais, completamente diferente.
P/1 – Me conta como foi.
R – Lá o pessoal é muito frio. Aqui, a gente está acostumada, tem o médico da gente, que trata da gente. Quando tem o neném fica a família, vai o marido, vai a mãe, né, para ver. Lá não. Eu entrei umas oito horas da manhã. Falaram para o Geraldo: “Agora você pode ir, que está tudo bem. Quando tiver o neném, nós avisamos.” E ele foi. Aquilo já me deu nervoso.
P/1 – E a senhora ficou sozinha?
R – Fiquei sozinha. Aí, me deu nervoso, tanto que era para nascer umas oito, nove horas e a Gisele só foi nascer meio dia. Já começaram a aplicar umas injeções para acelerar. Foi quando eu tive. Mas é completamente diferente, aqui a gente tem o carinho da família e lá não, a gente fica no hospital sem conhecer ninguém.
P/1 – E a língua, dava para entender?
R – Mais ou menos, eu quebrava o galho.
P/1 – Mas dava para quebrar o galho?
R – Ah, dava. Eu não me aperfeiçoei bem porque já fui com dois filhos. Eu podia até ter feito um curso, mas não fiz, eu era meio vadia… não gostava muito de estudar mesmo.
P/1 – Mas não se apertava também.
R – Eu não, ia para todo lugar.
P/2 – Sozinha, com as crianças...
R – Sozinha. O Geraldo ficava com as crianças quando eu queria dar meus passeiozinhos.
P/1 – Mas dava? Dava para dar os seus passeiozinhos lá?
R – Dava, eu ia com a minha mãe. A minha mãe foi comigo.
P/1 – Ah, a sua mãe foi? Ah, que bom!
R – Foi.
P/1 – Passou um tempo lá.
R – Os dois anos que eu fiquei.
P/1 – Ah, ela ficou lá?
R – Foi, porque ela é viúva, né? Ficou dois anos comigo, porque com dois filhos, esperando o terceiro, ia ser difícil.
P/1 – Ah, que bom. Aí, dava para dar uma escapada com a sua mãe.
R – Ah, dava.
P/1 – Onde é que vocês iam? Onde a senhora gostava de passear lá?
R – Ia muito em shopping, lá no Printemps, Lafayette. E, aos domingos, às vezes, juntava a família toda e nós íamos para Paris. Porque nós morávamos onde era o Instituto de Petróleo, em Rueil Malmaison. Dia de domingo nós íamos à Paris. Era perto, 10 minutos, 15, para Paris. Mas era meio difícil sair com três crianças, época de frio principalmente.
P/1 – Pois é, isso que eu ia perguntar. E o frio, para a senhora acostumada com Belém?
R – Eu me adaptei bem, não tive nada, não.
P/1 – Não teve problema nenhum?
R – Não. Eu sou dura na queda, não tive nada.
P/1 – Não se aperta não, né?
R – Não. Só não me adaptei por causa da língua e por não ter os parentes lá. Não me adaptei por isso.
P/1 – Mas gostou, achou bonito?
R – Achei bonito, passei dois anos lá bem, mas não queria passar mais nem um mês [risos].
P/1 – E na volta? O senhor Geraldo fez esse curso, no Instituto de Petróleo...Era Instituto de Petróleo?
R – Instituto Francês de Petróleo. Quando nós voltamos, nós já tínhamos apartamento aqui, ficamos no apartamento. E estavam resolvendo o que iam fazer com ele. Aí, fomos para Salvador. Partimos para Salvador.
P/1 – Ainda ficou um tempinho aqui...
R – É, um tempinho aqui, uns meses, depois fomos para Salvador.
P/1 – Aí, outra transferência.
R – Com a família toda.
P/1 – Quer dizer, a casa aqui no Rio ficou quase...
R – É, ficou vazia.
P/1 – Mas vocês deixaram ela aqui.
R – Deixamos, o apartamento ficou aqui. Fomos para Salvador e ele alugou apartamento lá. E quando eu já estava lá há um ano, um ano e pouco, resolveram que ele devia voltar pra cá, por que tinha uns negócios para resolver e só quem conseguia cálculos e isso tudo era ele.
P/1 – Os cálculos da sísmica?
R – É. Achavam que ele é que era o bom nisso.
P/1 – Antes de a gente voltar para o Rio, em Salvador, o senhor Geraldo conseguiu fazer as explorações dele, e continuar esse trabalho de exploração que ele gostava tanto?
R – Ele continuou. Ele fez trabalho em escritório, não é?
P/1 – A parte toda de pesquisa, mais teórico até.
R – Pesquisa, mas lá é escritório. É. Com um ano e pouco, ele veio. Eu fiquei uns meses ainda lá com as crianças. Ele ia todo fim de semana e segunda-feira ele voltava para cá. Até resolverem e com dois anos, nós voltamos outra vez para o Rio. E nisso, ele ficou até aposentar.
P/1 – Aqui no Rio?
R – Aqui no Rio.
P/1 – Quer dizer que ele voltou um pouquinho antes e a senhora...
R – Fiquei lá.
P/1 – Ainda ficou em Salvador?
R – Fiquei lá, terminando os meninos, porque estava em época de escola. Aí, resolveram e ele veio para cá e ficou aqui até ele aposentar.
P/1 – E aqui no Rio, ele veio trabalhar em que setor?
R – Na parte geofísica, de Exploração, acho que era Depex, um negócio assim.
P/2 – Ele trabalhava onde?
R – No Edifício Central, no Edise. Ele trabalhava ali até ele aposentar.
P/1 – Quando vocês voltaram aqui para o Rio, vocês conviviam com outras pessoas da empresa, outros geólogos, outros funcionários?
R – O Geraldo levava muita gente lá para almoçar. Sempre tinha gente para almoçar lá em casa, amigos dele. Aí, eu conhecia vários. Em Salvador eu me entrosei com alguns e depois esses voltaram também para trabalhar aqui.
P/1 – Eram geólogos também?
R – Tinha geólogos, geofísicos, perfuração. Era aquela mistura lá da Petrobras, daquela turma ali do escritório.
P/1 – Conhecia as esposas também?
R – Com as esposas, é. Sempre convivemos, desde Salvador tinha um grupinho assim, com as esposas.
P/1 – Quem era do grupinho, a senhora se lembra?
R – Tinha o Waldemar Viana, Waldemar Assis, não sei se vocês já ouviram falar, Doutor Waldemar Assis, tinha o Hélio... Eu esqueço o nome dele. Tinha uma turma aí.
P/1 – Não tem importância não.
R – É, eu esqueci. Tinha o (Fachetti?) que já morreu, o Rosa, que já morreu. Uma turminha _____________ já partiram.
P/1 – Dona Ivete, olhando para trás, desde o início, que a senhora conheceu o senhor Geraldo, ou até pensando nesse grupo, o que caracterizava um funcionário da Petrobras? Quando a senhora começou a entender o que era a Petrobras, conviver com essas outras pessoas tinha alguma característica que unia essas pessoas?
R – Não, acho que não. O Geraldo não era assim... Ele levava os amigos lá em casa para almoçar, mas se convidassem para ele ir na casa deles, ele já não gostava, ele era mais caseiro. Então, ele não gostava muito de frequentar a casa dos amigos, era muito difícil. Ele gostava mais de receber, entendeu?
P/1 – E um geólogo, como o senhor Geraldo, o que definia, sem ser esse amor pelo trabalho?
R – Ah, eu não sei te explicar. Isso aí eu não estou sabendo te explicar.
P/1 – Não tem importância, não.
P/2 – Desses lugares que vocês moraram, qual foi o que a senhora mais gostou?
R – Que eu morei? Eu gostei de Salvador.
P/2 – Por quê?
R – Não sei, acho que... Até hoje, eu gosto de Salvador. Acho que é um lugar alegre, cheio de vida, onde você chega vê praia. Eu gosto muito do Rio. Mas se fosse para eu escolher, naquela época, eu preferia ficar em Salvador. Me adaptei bem e gostei muito de Salvador,
P/2 – Como era a sua vida lá em Salvador? O que a senhora fazia?
R – Ah, era levar menino para o colégio, trazer menino do colégio, levá-los à praia. Eu morava perto de praia, na Barra, então, quando podia, eu estava na praia com eles. Com criança era isso, era praia, era colégio e fim de semana dava uns passeiozinhos. Também não tem muito o que fazer porque no fim do dia, com criança, a gente já está cansada, né, com três filhos [risos]...
P/2 – Então, a senhora se adaptou muito bem em Salvador, né?
R – Ah, dessa vez me adaptei.
P/2 – Se pudesse voltaria para Salvador?
R – Não, agora, eu já estou radicada aqui no Rio e gosto. Viajo, vou para a minha terra, gosto, vou a Salvador, gosto, mas para morar mesmo, eu já estou aqui. Porque a família toda está por aqui, né, os filhos, os netos, tudo.
P/1 – Fica perto, né? Dona Ivete, dessa série de viagens e transferências, teve algum momento que a senhora achou mais difícil?
R – Não, não achei difícil não, porque eu gosto de movimento, eu gosto de experimentar outras coisas. Então, falava: “Vai pra cá”, eu estava satisfeita.
P/1 – Estava pronta para ir.
R – Estava pronta. Até hoje, se você fala: “Vamos pra cá”, eu estou pronta para ir.
P/1 – A senhora tinha o espírito também de exploradora.
R – Ah, é vamos. Pra mim não tem isso. Eu gosto, para mim, eu ia com a maior facilidade. Só não gostei muito de ficar mais tempo na França, porque aí é diferente. Mas aqui no Brasil se fosse para mudar para outro lugar, eu iria.
P/1 – A senhora tinha comentado essa história do piano, que não tinham onde botar o senhor Geraldo, como é que foi isso? Que lado foi esse da política? O que a senhora acha que tinha também? A senhora contou lá da saída de Belém, mas aqui a senhora voltou a falar do piano de cauda, o que causava essa coisa?
R – Eu não sei, porque o Geraldo sempre o que falava para mim era isso, que existia muita panelinha dentro da Petrobras. Você sabe o que é panelinha, né?
P/1 – Humhum.
R – Então, quem não puxa saco do chefe... É isso, ele nunca foi de puxar saco de ninguém. Se ele falava que isso era isso, podia fulano dizer: “mas é isso”, ele dizia: “Mas não é.” Então, ele não sabia adular ninguém e aí fica sendo marcado, né? Ele sabia da capacidade, ele sabia do serviço dele e todo mundo reconhecia que ele era um grande geofísico. Ele sempre foi um cara simples, nunca foi de querer se mostrar, sempre ficou na dele.
P/1 – A senhora falou que quando trouxeram vocês de volta, que precisavam dele aqui para resolver uns problemas. A senhora sabe mais ou menos o que era?
R – Isso aí eu não sei bem o que era. Eu sei que tinha qualquer coisa assim difícil. Era sobre o trabalho dele, porque ele sempre foi muito bom de cálculo, então, ele resolvia as coisas assim, com a maior facilidade. Então, acho que estava faltando o Geraldo aí, entendeu, mas só quem sobressaia eram os outros da panelinha. E isso ele fala para mim, porque ele era pouco de trazer as coisas de trabalho para dentro de casa.
P/1 – Era uma coisa que ele não gostava de fazer.
R – Não. Depois que ele se desligava do trabalho, era a família, porque ele foi muito apegado à família.
P/1 – Vocês tiveram três filhos?
R – Três filhos.
P/1 – Os dois meninos...
R – E a Gisele.
P/1 – A Gisele, que nasceu na França. A senhora se lembra quando foi essa volta para o Rio?
R – A Gisele nasceu em 1958, em maio. Nós voltamos em dezembro de 1959.
P/1 – Voltaram aqui para o Rio e aqui já ficaram?
R – Daqui já ficamos, mas é como eu te falo, depois nós fomos para Salvador.
P/1 – Pois é, mas essa volta definitiva aqui para o Rio foi em torno de que ano?
R – Aí, tem que fazer as contas. Eu cheguei em 1959. Nós fomos para Salvador em 1960.
P/1 – Em Salvador, passaram quanto tempo?
R – Acho que foram dois anos. Dois anos. Tem muito tempo, né, a gente tem que fazer as contas porque esquece [risos].
P/1 – Aí, o senhor Geraldo voltou, para o Rio, trabalhou mais um tempo aqui ligado a...
R – Aí, ele ficou o resto do tempo aqui, no Edifício Central.
P/1 – E ele não voltou mais a fazer mais trabalho de exploração de campo?
R – Não, ele fez uma viagem para os Estados Unidos. Fez umas viagens, foi nos Estados Unidos, não sei bem o que ele foi fazer lá, foram umas pesquisas que ele foi fazer. Foi convidado e foi. Foi ao México. Sempre quando tinha qualquer coisa difícil para resolver, ele estava lá para resolver.
P/1 – Mas de trabalho de exploração, ele não fez mais?
R – Não.
P/2 – E ele sentiu falta, dessa rotina de trabalho?
R – Olha, de início, ele sentiu. No início ele sentia, porque ele estudou em Ouro Preto, que já é mato, né? Saiu do lugar dele, que já é mato, foi para Ouro Preto estudar, porque ele se formou em Ouro Preto. Saiu, foi trabalhar no mato, foi para a Bahia. Então, ele sempre teve essa vida assim, tanto que, quando ele se aposentou, ele ficou lá no sítio, ele não gosta de ficar aqui.
P/1 – Quando foi a aposentadoria?
R – Ah, a aposentadoria dele... Eu tenho até aqui na carteirinha.
P/1 – Não tem importância não, não precisa me dizer a data certa. Mas depois que ele se aposentou, ainda teve alguma ligação com a Petrobras, ainda fez algum serviço?
R – Ele foi convidado para a Paulipetro, uma firma que estava procurando petróleo, lá no Paraná e tal. Ele foi convidado para ir para São Paulo. Quando ele estava para aposentar, o pessoal já estava sabendo, ele teve vários convites para trabalhar lá em São Paulo.
P/2 – Em empresas particulares?
R – Foi a Paulipetro, era o Maluf que estava criando isso lá. E ele não queria ir: “Ah, eu me aposentei, não quero mais mexer com isso...” E nisso, foi quase um ano atrás do Geraldo insistindo, insistindo. Até que ele foi e passou dois anos lá. Aí que ele foi trabalhar e estava adorando, porque ele para negócio de exploração, ia para o mato.
P/1 – Trabalho de campo?
R – É, de campo. Ele estava adorando. Ele pensou, no início, que não ia gostar. Depois, ele estava adorando.
P/1 – E a senhora foi junto? E a família?
R – Fui junto. E adorava São Paulo.
P/1 – Vocês ficaram morando em São Paulo mesmo?
R – Fiquei morando em São Paulo. Tinha três casas: o sítio, no Rio...
P/1 – Aí vocês já tinham comprado o sítio?
R – Já! O sítio ele comprou antes de aposentar. Tinha o sítio e todo o fim de semana, nós vínhamos. Ia para sítio, depois eu tinha que dar uma passada aqui no Rio para ver e voltava para São Paulo.
P/1 – E os meninos ficavam onde?
R – Aí, já estavam todos formados.
P/1 – Todos formados?
R – Tudo grandão, já. Cada um com a sua vida.
P/1 – Já tem quanto tempo que o senhor Geraldo está aposentado? Já tem dez anos?
R – 10 anos não, 30 anos.
P/1 – De aposentadoria?
R – De aposentadoria.
P/1 – É?
R – Ele diz que o INSS está tendo prejuízo com ele [risos]. Já tem 30 anos. Foi em...
P/1 – Então, foi em 1975 mais ou menos.
R – Ou foi em 1980, que ele se aposentou? É, eu acho que ele se aposentou em 1980, acho que foi isso. Mas já tem bastante tempo, 25 anos já, tem bastante tempo que ele está aposentado. Mas aí, trabalhou lá em São Paulo...
P/1 – Mas essa característica que a senhora tem, a senhora acha que é sua ou da sua geração, de ter essa disposição de acompanhar o seu marido, de dizer: “Vamos, tô pronta”?
R – Olha, da minha geração eu acho que não é não, porque a minha irmã é meio... A minha irmã é muito acomodada, a minha mãe que também tinha essa vidinha, porque ela gostava de viajar, de sair. Eu acho que puxei a ela, mas sou muito mais assim...
P/2 – Mais arrojada.
R – Mais arrojada [risos]. Mas isso é bom, né?
P/1 – As outras esposas que a senhora conviveu lá da Bahia e tudo, elas tinham essa disposição também, de pegar e: “Vamos sim, vamos para a França, vamos para a Bahia...”?
R – Aí, eu não sei se eram muito animadas, porque quando eu conheci já estavam lá. Depois que eu vim de Salvador, elas ficaram, muitas ficaram lá. E quando a gente para o Rio, perde um pouco porque cada um mora meio afastado. A gente vai perdendo... Assim, de estar encontrando as pessoas, porque cada um tem a sua vida, né? Onde era mais o grupo, que reuniam para chá e tudo, era mais em Salvador. Aqui no Rio as pessoas já...ainda mais quem tem filho pequeno.
P/1 – A senhora conviveu então mais em Salvador do que aqui no Rio?
R – É, com a turma sim.
P/1 – Aí, o senhor Geraldo trabalhou para a Paulipetro...
R – Dois anos.
P/1 – Dois anos, depois vocês voltaram para o sítio?
R – Depois voltamos. Antigamente ele ainda vinha muito aqui. Agora não, agora ele fica mais para lá.
P/2 – Me diz como é o cotidiano lá no sítio? Como é que é morar assim, afastado?
R – Não é muito afastado. É uma hora e meia de viagem.
P/2 – E como é que é lá no sítio?
R – Olha, eu já estou gostando até de lá. Porque eu também sempre venho aqui, né? O meu dia a dia é isso: eu levanto, vou na horta, vou ver como é que anda a minha horta.
P/1 – O que a senhora tem lá na horta?
R – Ah, quando é época boa assim, agora está muito calor, mas tem muita coisa, tem alface, tem couve.
P/1 – Cheiro verde?
R – Ih, muito, tudo o que é tempero que você precisar tem.
P/1 – Tem tudo, todos os… alecrim?
R – Tudo. Tem alecrim, tem orégano, tem salsa, tem cebolinha, tem coentro.
P/1 – Que delícia!
R – Manjericão de vários tipos, alface.
P/2 – A senhora quem cuida dessa horta?
R – Eu dou lá os meus palpites. Eu tenho quem cuide.
P/1 – Mas gosta de acompanhar.
R – É. Por isso que eu estou assim, sem unha, de tanto mexer em terra.
P/1 – Mas gosta disso, né?
R – Gosto.
P/1 – É uma delícia mesmo.
R – Tanto eu gosto de lá, de horta, de tudo, como eu gosto de vir aqui também. Sempre eu venho. Duas vezes por mês, eu venho aqui porque eu tenho sempre almoço, chá e tal e aí eu venho. Também não fico o tempo todo enterrada lá não.
P/1 – E as suas amigas daqui?
R – Eu tenho uma amiga minha que o marido dela também era da Petrobras. Eu conheci em Salvador. Ela também é bem mais idosa que eu, e eu a conheci em Salvador e ela mora no Rio. Tem amigas que eu fiz de prédio onde eu morei, e nesses almoços, nesses chás, a gente vai conhecendo outras pessoas, fazendo amizade. Porque muita amiga minha também já morreu, né? Já tem muita gente que...
P/1 – E lá no sítio tem árvore também?
R – Muitas. Tem.
P/1 – Árvores de frutas?
R – Tem. Tem graviola, já ouviu falar em graviola?
P/1 – Delícia!
R – Tem graviola, tem siriguela, tem pitanga, tem manga, tem abacate, tem banana. Tem várias frutas.
P/2 – E animais, vocês tem animais?
R – Não. Eu crio aves, só pato, galinha, essas coisas.
P/2 – Só para consumo próprio [risos].
R – Ah, não, se não dá muito trabalho. É muito cansativo.
P/1 – Dona Ivete, quantos netos vocês já têm?
R – Cinco netos. Tenho três netos e duas netas.
P/1 – Me diz o que os seus filhos fazem e o nome deles.
R – Um é engenheiro. O mais velho é engenheiro metalúrgico e trabalha na Siderúrgica de Volta Redonda.
P/2 – Qual é o nome dele?
R – Do primeiro? É Iveraldo, com i. Iveraldo.
P/1 – É de Ivete e Geraldo?
R – Ivete e Geraldo. Iveraldo de Oliveira. Esse mora em Volta Redonda. Esse tem três filhos: duas meninas e um menino.
P/1 – Qual o nome dos seus netos?
R – A mais velha é a Talita, que já está fazendo Direito, tem Natália, que terminou negócio de modas e tem Tiago que ainda não está fazendo vestibular, vai fazer para o ano. E tem o meu filho segundo que é o Gilberto de Oliveira. Esse é engenheiro, mas trabalha por conta dele agora. E tem a minha filha que é médica, a Gisele.
P/1 – E a Gisele trabalha em algum hospital, tem consultório?
R – A Gisele trabalha, tem consultório. Ela tem duas situações: Ela tem o INSS, que ela é concursada e tem o município, que ela trabalha num posto de saúde.
P/1 – Qual é a especialidade da Gisele?
R – Ela fez pediatria e é homeopata. Ela tem consultório. A especialidade dela no consultório é a homeopatia.
P/1 – A senhora falou três netos do mais velho...
R – Um do segundo, que chama Bruno e tem o da Gisele que chama Augusto, que está com oito anos.
P/1 – Dona Ivete, então, a senhora passa a maior parte do tempo com o senhor Geraldo.
R – Lá no sítio.
P/1 – Lá no sítio. E o senhor Geraldo? A senhora pode me falar também como ele está?
R – O Geraldo? Infelizmente, ele está com Alzheimer, de dois anos para cá. Já devia estar, mas a gente custa a notar, porque às vezes a pessoa esquece alguma coisa e tal. Mas vai fazer três anos agora, em julho, que nós notamos mesmo, já foi diagnosticado que ele está. Infelizmente. Ele está com 87 anos. Mas ainda tem algumas “atividadezinhas”. Ainda não está assim... Está muito esquecido, está fazendo muita confusão, já não liga uma coisa com a outra, entendeu? Os netos ele já não conhece bem. Os filhos ele ainda chama pelo nome, mas os netos ele faz confusão.
P/1 – Ele prefere agora ficar mais quieto também, né?
R – Ah, para ele é muito melhor. Aqui no Rio não dá para ele. Ele já estava acostumado lá. E lá, ele anda, vai lá ver a “obrinha” dele.
P/1 – A horta?
R – Ele não gosta muito de horta. Ele jamais gostou. Ele gostava muito é de construir, de obras, fazendo muros daqui, muro dali. Criava as engenharias dele. Porque ele é formado em engenharia civil em Minas, que em Ouro Preto são seis anos que estuda.
P/2 – E ele ainda dá esses passeios dele para conferir obra?
R – Não, ele dá os passeios dele, mas eu acho que ele não está mais ligando uma coisa com a outra. Vai lá e tal, mas faz muita confusão. O meu filho mais velho ele já confunde, pergunta quem é aquele senhor que está ali... Mas vamos levando. É a vida, né?
P/1 – E a senhora enfrentando...
[pausa]
P/1 – Dona Ivete, eu gostaria de terminar essa entrevista perguntando o que a senhora achou de ter participando.
R – Ah, eu achei ótimo. A princípio, eu disse: “Ah, eu vou ficar nervosa e tal.” Mas a minha filha me incentivou: “Não, minha mãe, você vá e tal.” Eu gostei. Foi tão ruim assim?
P/1 – Não! Imagina!
R – [risos]
P/1 – Foi ótimo, Dona Ivete. Eu queria agradecer a sua participação e essa sua generosidade de vir lá de Paulo de Frontin colaborar com a gente aqui.
R – E pra mim foi ótimo, porque eu dei um passeiozinho aqui no Rio.
P/1 – E veio representar também o senhor Geraldo, lembrando a importância dele para a Petrobras.
R – É, infelizmente, ele...É uma dó, né, ele estar assim. Mas até que veio bem tarde. Tem gente que até aparece mais cedo.
P/1 – É. Mas isso, Dona Ivete. Queria agradecer sua participação. Muito obrigada.
R – Nada. Eu é que agradeço vocês também. Gostei muito.
P/1 – A gente também.
P/2 – Muito obrigada.
[fim do CD 01/01]
--- FIM DA ENTREVISTA ---Recolher