Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Dom João Henrique de Orléans e Bragança
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 17 de junho de 2013
HVC_017_Dom João Henrique de Orléans e Bragança
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
Quem é:...Continuar leitura
Correios – 350 anos aproximando pessoas
Depoimento de Dom João Henrique de Orléans e Bragança
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 17 de junho de 2013
HVC_017_Dom João Henrique de Orléans e Bragança
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Claudia Lucena
MW Transcrições
Quem é:
O príncipe Dom João Henrique de Orléans e Bragança nasceu no Rio de Janeiro em 1954. Bisneto da Princesa Isabel, seu pai nasceu na França onde a família imperial brasileira vivia no exílio e sua mãe é de nacionalidade egípcia. O pai foi piloto da Força Aérea Brasileira. Dom Joãozinho estudou Zootecnia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, mas abandonou o curso para ajudar o pai com os negócios em Paraty. É fotógrafo e empresário do ramo hoteleiro em Paraty.
Sinopse:
Em seu depoimento o príncipe Dom João de Orléans e Bragança fala sobre a origem de sua família. Bisneto da princesa Isabel, Dom João nasceu e passou sua infância no Rio de Janeiro. Seu pai levava-o em suas viagens, despertando-lhe o gosto por viajar e pela fotografia. Dom João narra as dificuldades financeiras que o pai passou e como que aos 23 anos teve que assumir os negócios da família para ajudar o pai.
História de vida:
P/1 – Então vamos começar a falar. Você pode falar o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Príncipe Dom João de Orléans e Bragança, 25 de abril de 1954, eu nasci no Rio de Janeiro.
P/1 – E os seus pais são do Rio de Janeiro?
R – Meus pais, meu pai nasceu no exílio, mas é brasileiro e nasceu na França, e minha mãe é egípcia, nasceu no Egito.
P/1 – Como é o nome do seu pai e da sua mãe?
R – Dom João de Orléans e Bragança, o meu pai, e Dona Fátima Chirine, um nome egípcio, da mamãe.
P/1 – E como é que eles se conheceram? Você sabe?
R – Papai era piloto da Força Aérea Brasileira e ele foi abrir uma linha comercial da Pan Air na época, que era uma companhia muito querida por todos que viveram nos anos 50, e era uma linha Rio–Cairo. E papai conheceu mamãe no Cairo nesse momento, se casaram e mamãe veio morar no Brasil.
P/1 – E você sabe a origem dos seus avós maternos?
R – Também egípcios, mas de origem turca, de origem turca, ou seja, uma misturada, eu tenho bastante mistura de continentes e de raças, como o Brasil, que eu acho que é o país mais miscigenado do mundo.
P/1 – E os seus avós, o que eles faziam? Os maternos?
R – O meu avô materno, eu sei que foi vice-governador do Cairo no Egito, dos maternos, a minha avó eu não sei, eram muçulmanos e tudo. E do lado paterno, o meu avô era filho da Princesa Isabel, então, nasceu no Brasil e foram exilados, foi o maior exílio político da história brasileira, foram exilados no golpe da República.
P/1 – E os seus pais como é que eles foram parar no Rio de Janeiro?
R – Papai já morava aqui, porque quando a lei do exílio acabou, foi o maior exílio político da história brasileira, uma vez eu disse para o Governador Brizola que o exílio dele, do Miguel Arraes e do Gabeira somados não dava o exílio político da nossa família, porque o governo militar tinha muito medo da volta de membros de descendentes de Dom Pedro II ao Brasil, pela popularidade de Dom Pedro II, principalmente nas classes mais baixas. Então, foi um exílio de 32 anos, então, depois que a lei do exílio acabou, que a família pôde voltar para o Brasil, o meu avô veio para o Brasil, o meu pai veio também, e meu pai veio servir ao país, ele foi servir às Forças Armadas, no caso a Aeronáutica.
P/1 – Em que lugar do Rio de Janeiro o seu pai foi morar com a sua mãe?
R – Eles moravam no Flamengo, papai ainda era piloto, ele se reformou, quer dizer, ele se aposentou como piloto da Força Aérea Brasileira. Ele nunca entendia a aposentadoria dele, ele falou: “Meu filho, eu defendi o Brasil durante a guerra, eu fiz o patrulhamento da costa brasileira em aviões anfíbios, eu não entendo como é que os militares, que tanto lutaram pelo Brasil, ganham menos que um garçom do Senado”. Ele já ficava chocado com essa barbaridade, essa discrepância, essa falta de respeito com o dinheiro público, com o garçom ganhando valores muito maiores do que um aposentado que passou a vida inteira. Então, ele fez Aeronáutica, tinha muito orgulho da vida na Aeronáutica dele e ele sempre dizia quando eu era pequeno: “Meu filho, eu fui educado a servir o Brasil,” ele foi convidado várias vezes para vir, para fazer parte de conselhos de empresas, mas ele não quis. Ele se aposentou com salário inclusive de Tenente Coronel, que não era dos cargos mais altos, não era um brigadeiro nem nada, mas ele se aposentou com o cargo de Tenente Coronel da Aeronáutica e ele tinha muito orgulho da vida na Aeronáutica e os amigos que ele fez na Aeronáutica e tendo servido ao Brasil.
P/1 – E você nasceu nesse... Era um apartamento no Flamengo?
R – Era um apartamento no Flamengo.
P/1 – Você nasceu lá?
R – Eu nasci lá e eu me lembro que a gente morava lá no Flamengo antes de ter o Aterro do Flamengo, então eu me lembro que a praia era logo ali em frente, aí depois eu me lembro das obras para fazer o Aterro do Flamengo, foi em 62, três,quatro, eu me lembro dos tanques passando no aterro recém inaugurado, os tanques no Golpe Militar de 64, eu me lembro, eu tinha dez anos, eu tinha dez anos. Então, é incrível como as mudanças no século XX, 1900, como as mudanças no mundo inteiro, foram muito rápidas e muito fortes.
P/1 – Você era o quê? O primeiro? O caçula?
R – Eu sou filho único, mamãe tentou ter outros filhos, mas não conseguiu.
P/1 – Como é que era esse apartamento no Flamengo?
R – Era um apartamento na Rua Tucumã, é engraçado também como vai mudando, como mudam as coisas, os lugares, aquele zona de Viera Souto, que hoje em dia é super valorizado, aquilo naquela época não se dava muito valor, as áreas mais valorizadas do Rio e mais bonitas, era perto do centro da cidade. Ou seja, as áreas onde a cidades do mundo inteiro se desenvolvem, são sempre em torno do porto, em torno do porto porque tem gente, tem comércio e tem proteção para chegada de barcos, então, no mundo inteiro foi isso, no Rio também, então o centro ali era a zona da concentração maior. Então, a gente morava num apartamento com muitas peças de família, tinha quadros de Dom Pedro II, tinha retratos da Princesa Isabel, então, eu cresci muito no meio de retratos de família.
P/1 – Como era o ambiente na sua casa? Quem exercia a autoridade, o seu pai ou a sua mãe?
R – Os dois, de uma forma muito equilibrada e de uma forma muito democrática até, eu acho papai herdou e eu também herdei isso do perfil de Dom Pedro II, da Princesa Isabel, de sempre muito respeito a todo mundo, escutando sempre todas as opiniões. Mesmo eu sendo jovem, papai gostava de escutar minha opinião sobre tudo e a gente discutia, quando ele me pedia ou falava para fazer uma coisa não era uma ordem, enfim, era um pai falando para um filho, mas que o filho, antes de tudo, tinha que entender aquilo que o pai falava. Então, eu acho que isso é um perfil muito da nossa família, como se diz, desde Dom Pedro II, de escutar, era um grande conciliador, mas também muito firme nas suas decisões, Dom Pedro II era um democrata para época, tinha liberdade de imprensa no Império, isso é muito interessante, tinha total liberdade de imprensa, numa América Latina totalmente dominada por caudilhos militares. Era o único governo civil da América Latina naquele momento era o Governo Brasileiro, e uma diferença também na América Latina toda, porque era um governo, era uma monarquia, era a única monarquia das Américas, que era uma forma de governo totalmente diferente do resto todo. Mas o presidente da Venezuela na época, Jorge Rojas, ele quando caiu o império no Brasil, ele dizia: “Que pena, cai a única verdadeira res pública da América Latina”, pelo perfil liberal, pelo perfil conciliador, pelo perfil aberto e democrático do Governo Brasileiro na época, com liberdade de imprensa, com liberdade política, de expressão. Então, eu acho que eu fui educado muito com esses valores, de que você pode ter um nome importante, mas você é igual a todo mundo e todos nós somos iguais, nascemos iguais e morremos iguais, então eu acho que era isso é uma das coisas que eu mais me lembro do nosso dia a dia em casa, era muito diálogo, muito respeito, mas sem ser uma coisa obsecada, era uma coisa natural.
P/1 – Quais eram as suas brincadeiras de infância? Você brincava do que quando era garoto?
R – Eu vou fazer 60 anos, há 50 anos, 55 anos atrás a gente se divertia com muito menos, não vídeo games, não tinha nenhum jogo eletrônico, então, a gente gostava de uma bola, subir numa árvore, brincar de esconder, de esconde-esconde, ou seja, um clássico de todas as crianças ao longo dos séculos, menos esse agora que nós estamos que tem uma variedade tão grande, e cada vez mais novidades para as crianças que mudou muito. Na nossa época era isso, as meninas tinham uma boneca, que eram, inclusive, bem baratinhas e bem simples, e os homens brincavam de bola, de esconder, de esconde-esconde, de pique, então, muito saudável isso, muito gostoso.
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Eu entrei com cinco anos, seis anos, cinco anos.
P/1 – Você tem alguma lembrança desse período?
R – Ah, ótimas, ótimas, as lembranças que a gente tem de escola são sempre ótimas, os amigos de escola, as brincadeiras.
P/1 – Quais eram as brincadeiras? Quem eram os amigos?
R – Era até um colégio muito interessante, era o São Vicente de Paula, que era um colégio religioso, mas era um colégio com muita gente, uma educação boa e até me lembro, engraçado, era coisa do governo militar, mas eu acho que precisávamos hoje em dia, talvez, uma educação dessa, enfim, na época era uma coisa meio forçada pelo governo militar, que era a Educação Moral e Cívica. Quer dizer, eu acho que faltam valores hoje em dia no Brasil, principalmente éticos e cívicos de amor ao país, de dedicação ao país, e sem querer nada em troca, quer dizer, o sentimento de serviço, como eu te disse que papai foi educado e eu também ao país, à comunidade, mas sem querer nada em troca, sem querer salários altos, sem querer fazer negócios com o governo, que isso aí já uma traição. Os governantes que usam dos cargos públicos para se dar bem pessoalmente, é uma traição total, e eu acho que a gente perdeu um pouco o sentimento de se revoltar contra isso, muita gente hoje em dia acha que nem é assim, que a pessoa entra na vida pública, faz coisas boas, mas também se dá bem, não, esse sentimento de puro patriotismo em relação à tua comunidade e de dar um pouco de você para o teu país, para tua comunidade é uma coisa muito bonita e sempre existiu, eu não acho que...
P/1 – Isso se aprendia em Educação Moral e Cívica?
R – Exatamente, tinha na época claro que era uma coisa do governo militar, enfim, era uma ditadura, mas eu achava muito interessante, porque eles ensinavam que o país depende de cada um de nós, claro, que com o governo militar, a gente não pode falar alguma coisa que desagrade aos ditadores. Mas o fato de você aprender numa escola de que a gente deve e tem que se dedicar à sua comunidade, ao seu município, ao seu país sem querer nada em troca, principalmente isso, sem tirar nenhum proveito, isso é uma coisa que eu acho que foi bastante interessante, eu ter tido esse contato.
P/1 – Alguma professora, assim, que você lembra?
R – Várias, várias, e quando a gente começou a ficar mais jovem uns alunos, outros achavam uma mais bonita, uma mais...
P/1 – Você lembra do nome de alguma delas?
R – Ah, lembro, Dona Luci, Dona Claudina, naquela época eram quase que mães as professoras para gente, porque era uma turma, a gente passava o ano inteiro, o meu colégio era semi-interno, então a gente almoçava no colégio, então era um convívio bastante longo, diário e longo, então, era muito simpático, muito gostoso.
P/1 – O que você mais gostava de fazer na escola?
R – Bom, eu gostava sempre dos esportes muito, gostava muito das aulas de Educação Física e gostava de algumas aulas também, algumas aulas sempre na área de Ciências Humanas, pouco na área de Ciências Exatas, sempre Geografia, História, Ciências, isso eu gostava mais dessas áreas.
P/1 – Você tinha alguma expectativa? Você tinha algum desejo quando você era criança: “Ah, quando eu crescer eu quero ser tal coisa”?
R – Não especificamente, a minha vocação profissional foi surgindo devagarzinho, uma coisa que não era que eu vou ser nem que eu quero ser, eu sou e vou continuar sendo sempre uma pessoa correta, eu acho que isso era uma das maiores, um dos maiores pesos que eu recebi de casa era de ser correto a vida inteira, sempre correto com o teu país, com teus amigos, com os negócios, obviamente, mas, enfim, sempre ser correto, e por isso que me choca muito as pessoas que tem um discurso quando reclamam dos políticos, mas nos negócios fazem igual, reclama dos políticos que fazem, roubam e tudo, mas ao mesmo tempo sonegam impostos, e a sonegação de imposto, por mais que a gente não goste de pagar imposto, a gente está tirando dinheiro, principalmente, que vai prejudicar principalmente os mais pobres. Então, é um discurso que a gente vê muito, o discurso da boca para fora. Então acho que, meu pai me ensinou isso, a gente tem que ter o mesmo discurso sempre para tudo, não pode ser dois discursos quando interessa um e quando não interessa outro, então, eu acho que o que eu queria ser, e o que eu acho que eu consegui, sempre ser uma pessoa correta.
P/1 – E festas na sua casa, natal, ano novo, se comemorava, tinha comemoração?
R – Não, natal sim, ano novo a gente ia para Cabo Frio, que era um lugar...
P/1 – Como que eram os natais?
R – Sempre, nunca entendia muito que o Papai Noel vinha sempre com roupas muito frias, eu sempre achava que ele tinha que vir com roupas tropicais, eu nunca gostei muito de abraçar costumes de outros países sem nada, do nada. Então, eu acho que a nosso cultura é tão rica e tão bonita, então eu sempre achei muito estranho os papais Noel sempre muito cheios de roupa e pelos e cabelos grandes, mas tínhamos natal sempre em casa e geralmente era em Cabo Frio.
P/1 – Você teve alguma formação religiosa?
R – Tive no Colégio São Vicente de Paula, meu pai era muito religioso, minha mãe, que era muçulmana, se converteu ao catolicismo quando casou com papai, eu tive, mas nunca fui praticante, sempre foram mais os valores, os valores que as religiões, a maior parte delas têm, valores muito bonitos, valores humanos, valores de solidariedade, valores de ajuda ao próximo, que eu acho que se resume muito bem no budismo. O budismo tem uma postura muito bonita de ajuda e de não acúmulo, de não dar tanto valor. Porque a nossa sociedade é tão forte nisso, em valorizar tanto a riqueza, o que se tem e o que não se tem, então, claro que é a meta de todo o ser humano é ser feliz, e você trabalhando e tendo bens você consegue ser mais feliz, mas não é a base da vida, não são os valores principais, a riqueza. Eu acho que o budismo é muito bonito nisso, e a grande parte das outras religiões também, a própria religião católica também fala muito nisso, da política para os pobres, da prioridade aos pobres, então as religiões têm valores muito bonitos.
P/1 – Como é que você tinha contato com a história da sua família, assim, ser membro da família real, como é que os outros te tratavam? Como é que isso passava para você?
R – No começo no colégio, mais antigas memórias que eu tenho, é que me cobravam muito de saber História do Brasil, então o professor quando me chamava eu já: “Ih, vai sobrar para mim”, mas era muito simpático, porque era uma maneira muito carinhosa, porque como eu digo, a história da família no Brasil é uma história, um período relativamente pequeno, desde 22 da independência até a república, são 67 anos, é onde Dom Pedro I fez a independência do Brasil, quer dizer, deu liberdade para o Brasil. Dom Pedro II ficou 49 anos como imperador muito querido, muito respeitado, mundialmente respeitado, um humanista e a Princesa Isabel, minha bisavó, fez a abolição da escravatura, e todos sempre muito empenhados em justiça, Dom Pedro II nunca teve escravos.
P/1 – Mas como é que essa história chegava em você, era seu pai que contava? Objetos? Como é que você foi aprendendo?
R – Objetos em casa, como eu te disse, quadros que pertenceram ao Dom Pedro II, pertenceram a Princesa Isabel, que era filha dele, passaram para o meu avô e papai e hoje estão comigo, objetos.
P/1 – Tinha cartas?
R – Tem uma parte de arquivo sim, tem uma grande parte, mas que a gente doou para o Museu Imperial de Petrópolis, que eles conseguem conservar muito melhor uma quantidade grande de arquivos e documentos.
P/1 – Você teve algum contato com essas cartas?
R – Não, pouco, mas a maior parte delas, a parte mais importante desses documentos tem hoje em dia até digitalizados e reproduzidos em livros, então é muito interessante. E Dom Pedro II escrevia tudo o que fazia, tudo o que pensava, quase tudo, então os historiadores hoje agradecem muito e acham que aquilo foi muito importante para história do Brasil ele ter registrado com as próprias mãos as reuniões do Conselho Ministerial, os conselhos que ele dava à própria filha, as posturas, é muito interessante, então, isso tudo foi registrado em letras, em palavras por ele.
P/1 – Mas essas cartas chegaram em algum momento a estar na sua casa, com o seu pai?
R – Não, não, ficou sempre com o meu tio e o meu tio depois, muito bem feito, ele doou esse arquivo inteiro para o Museu Imperial.
P/1 – E você, na sua adolescência ou depois, você tinha o costume de escrever carta, tinha alguma coisa na sua vida nesse sentido?
R – Eu sempre gostei muito de escrever, papai escrevia bem, papai tinha o dom da escrita, eu acho que eu peguei um pouquinho, então, eu escrevo e escrevia, já com o meu filho nascido, e eu e papai, às vezes a gente trocava algumas cartas, ou eu em viagem ou ele em viagem. Então, quando eu era jovem eu não tinha dinheiro para viajar e queria fazer uma viagem de conhecimento, então eu fui de cargueiro do Rio até o Japão e voltei pela Ásia, pela Indonésia, larguei o cargueiro e voltei, cruzei a Indonésia toda. E naquela época a gente tinha telex ou cartas, então eu tenho cartas até hoje guardadas, que papai e eu, a gente trocava por telex ou por carta, com desenhos nas cartas inclusive, com pequenos desenhos, ele fazia isso para mim e eu fazia isso para ele, então, isso é uma memória muito simpática que eu tenho, minha e de papai.
P/1 – E você tem isso guardado?
R – Tenho, tenho.
P/1 – É mesmo, na sua casa?
R – Tenho, não muitas, mas tenho algumas.
P/1 – Na sua casa do Rio?
R – É.
P/1 – Depois, se a gente precisar, pode fotografar?
R – Vou tentar achar agora, porque eu tenho me mudado tanto, mas pode, pode.
P/1 – Você lembra de alguma especial, alguma notícia que tenha te marcado?
R – Uma delas foi quando teve um terremoto em Bali, papai soube, eu estava na Indonésia, teve um terremoto, papai soube através dos jornais, ele ficou preocupadíssimo, as ligações de telefone levavam 12 horas para completar uma ligação naquela época, então eu consegui um posto de telégrafo em que ele batia o telégrafo na hora e a gente recebia no rolo ali na hora, então eu via ele escrevendo do outro lado do mundo, isso tem 40 anos, 37 anos atrás. Então eu via: “Meu filho, você está aí na agência”, eu falava: “Papai, eu estou”, eu mesmo batia: “Estou aqui”, “E o terremoto?”, “Terremoto tremeu muito, mas não houve problema nenhum conosco, graças a Deus”, então eu tenho isso enrolado, eu acho que eu tenho isso também, isso nos marcou muito, essa nossa conversa através do telex, muito simpático isso, isso foi em 76, 37 anos atrás.
P/1 – E a adolescência, por onde você passeava, o que você fazia como adolescente?
R – Eu ficava muito em Cabo Frio, nós tínhamos casa em Cabo Frio quando Búzios não era nem conhecido ainda, Búzios não tinha sido descoberta, que é a praia badalada hoje em dia no Estado do Rio. Então, nós íamos para Cabo Frio numa época que faltava luz de noite, então a gente ficava com luz de velas, mas era muito gostoso, muito simpático, um primitivo muito gostoso, um lugar muito bonito, Cabo Frio. Então, a gente passava as férias de verão todas lá e eram férias muito maiores do que hoje, mas eu tenho muito boas lembranças desses verões em Cabo Frio, 1961,dois, três, até seis, então eu passava todos os verões lá, então era muito bonito, muito bonito.
P/1 – Você tinha uma turma, como é que era?
R – Olha que interessante, eu sou muito fácil de fazer amizade e gosto muito de me comunicar, então, logo que a gente chegou lá na casa, em 1961, por aí, eu tinha sete anos, eu já fiz amizade com todos os vizinhos ali, que eram pescadores, eram filhos de pescadores que moravam ali, na redondeza ali. E eu lembro do nome deles até hoje e volta e meia eu passo lá ainda de carro e eu encontro com um deles, que foram meus amigos há 50 anos atrás, e a gente se abraça, se lembra, parece que essas amizades quando a gente é muito pequeno, parece que para mim foi ontem. Então, eu me lembro do passeio que a gente fez, uma vez que a gente saiu de casa sem avisar a minha mãe, não tinha perigo nenhum naquela época, mas uma vez eu saí de casa sem avisar minha mãe, meu pai foi me pegar pela orelha e eu fiquei envergonhadíssimo na frente dos meus amigos todos. Então, as minhas amizades, justamente, foram todas, esse grupo, era o Renato, era o Oswald, era o Valtinho, era o Heleno, eram todos os filhos da comunidade local, e eu passava o verão inteiro com eles, inteiro. E me lembro que a gente ia na casa da mãe do Oswald, do Valtinho, eles tinham oito irmãos, tinham dois mais ou menos da minha idade, os outros eram mais velhos, Mauro, tinha o Mauro, que era menorzinho, eu me lembro que vivia com o nariz escorrendo e a mãe vendia sacolé, você sabe o que é sacolé?
P/1 – Não, o que é sacolé?
R – Na verdade não era um sacolé, era mais primitivo que sacolé, era um sorvete, que você fazia um suco de groselha, botava na forma do gelo, na forma do gelo quadradinha, era uma forma maior do que hoje, e você botava um palito dentro, um palito de madeira, aí congelava, quando você descongelava você vendia um picolé de gelo, e eles faziam isso em casa, cobravam uma coisa mínima, mas vendiam isso, e eu me lembro que a mãe me adorava, eu ia lá, ela me dava de graça, então muito bonito, um tempo muito bonito.
P/1 – E no Rio de Janeiro, por onde você andava quando adolescente?
R – Nessa mesma época era férias em Cabo Frio, e o Rio era colégio e praia, o Rio tem essa coisa da praia que é uma coisa muito democrática, que vai todo mundo na praia, então, não tem a coisa de você ter mais poder aquisitivo ou não, isso é muito positivo, isso é muito interessante. E como eu gostei de pegar surf na minha vida inteira, sempre foi um esporte que me fascinou, até hoje ainda, eu estou indo para Indonésia agora daqui a dois meses, comecei a pegar onda e surf em 68, quer dizer, 70, há 30, 45 anos atrás. Então, aí comecei a pegar onda no Arpoador, que era um lugar também que não era de elite, que era um lugar de classe média média, classe média baixa, e meus amigos também foram todo esse pessoal do Arpoador, e que a gente se reunia e uma coisa muito simpática que o meu apelido, todo mundo se tratava por apelido, praia é uma coisa muito informal, então o meu apelido era João Príncipe e era o apelido. E era muito bom porque o papai dizia: “Meu filho, eu fico muito contente que teus amigos não tão te bajulando, nem nada, por causa do teu nome, eles são teus amigos porque são teus amigos, porque gostam de você e você também é amigo deles porque gosta deles”, então, era um meio muito bom, era um meio muito bom, a gente fazia muito esporte e era o começo dos anos 70, mais tarde, que era uma época de transformações no mundo. Eu comecei a usar cabelo comprido também numa época que as pessoas olhava a gente na rua, em 72, exatamente 71 eu já tinha cabelo comprido, quer dizer, 42 anos atrás, num Rio de janeiro onde os homens ainda usavam cabelo gumex, com gumex para trás, então quem usava, homem que usava o cabelo comprido parava um carro na rua para olhar, era um bicho de outro mundo. Mas foi uma época muito bonita, porque a gente queria mudar o mundo, era uma juventude que queria mudar o mundo, e já começando através dos hábitos, era uma maneira de dizer: “Olha, nós somos diferentes”, as roupas, o cabelo, era uma maneira de dizer: “Somos diferentes, queremos mudar muitas coisas que nós não gostamos e não admitimos só porque nossos pais tiveram essa postura que nós tenhamos a mesma”. Então, foi uma época muito rica no Brasil e no mundo, só que nessa época nós estávamos na ditadura, e os militares não gostavam muito da garotada com costumes novos, eu me lembro disso, então foi uma época muito rica.
P/1 – Que tipo de música você escutava? Que você gostava?
R – Bom, nessa época, 17, 18 anos, foi a invasão do rock, não tinha como você não gostar do rock, que era a música da contestação, e tinha MPB aqui no Brasil também, que era uma música de contestação, mas já era para uma turma mais velha e mais intelectual, eram duas tribos diferentes que contestavam e que queriam mudar o mundo, mas a nossa turma 17 anos, era uma turma que gostava mais nessa época do rock, e era o rock também que contestava o mundo inteiro, era contra a Guerra do Vietnã, era contra a poluição. Outro dia eu fiz uma abertura de um jantar numa conferência sobre meio ambiente em Belo Horizonte, tinham cientistas do mundo inteiro, sobre o aquecimento global, eram três dias de conferências, e era exatamente os 40 anos de Woodstock, e eu lembrei àqueles senhores, mais velhos do que eu e mais ou menos da minha idade, que naquele dia nós estávamos comemorando um dos maiores movimentos de preservação ambiental e de mudança em relação à natureza, que era o movimento hippie, o movimento hippie nos anos 60, começo dos anos 70, pregava justamente a não poluição, a volta às raízes do homem, que estava se distanciando demais, imagina, eles nunca imaginariam o quanto o homem iria se distanciar das raízes ao longo daquele século, muito mais do que o começo dos anos 50, 60 nos Estados Unidos, que era o famoso american way of life. Então, eu lembrei e foi muito interessante, que numa conferência sobre meio ambiente eu estava mostrando que o movimento hippie começou 40 anos atrás, a proteção da natureza, a poluição do ar, o cuidado com a energia nuclear, que naquela época já começava a ser contestada, então, foi um momento muito rico, muito bonito.
P/1 – Tem uma música que você lembra dela, você fala: “Eu gostava”, aquela que você punha várias vezes para escutar?
R – Eu botava várias músicas várias vezes.
P/1 – Quais?
R – Tantas, mas tinha todos os músicos, por exemplo, que foram ao Woodstock, como Crosby, Stills & Nash, The Who, Ten Years After, quer dizer, conjuntos que fizeram o momento, não só pelas músicas boas deles, mas pelo momento que o festival Woodstock significou para o mundo. Então, todos esses conjuntos, repito não só pela música, mas pelo acontecimento de um festival que reuniu 500 mil pessoas, assustando todos os vizinhos das fazendas naquela época, mas que marcou o mundo, marcou a história do século XX.
P/1 – Você comprava discos?
R – Ah, sim, obsecado por música e, principalmente, pelo perfil de não aceitar o que te empurram goela abaixo, principalmente, pelo perfil de achar que a gente pode mudar e deve se a gente acredita, eu achava muito interessante. Eu sempre digo que eu sou um antropólogo sem diploma, porque eu sou muito interessado e fascinado por todas as relações humanas, o comportamento e as relações humanas e esse momento dos anos 60, 70, que eu peguei, quer dizer, já começou no final dos anos 50, era muito bonito, muito rico nesse sentido, de mudanças, de postura, de hábitos.
P/1 – Você ia em festinha? Tinha festinha, baile?
R – Eu ia, mas nunca fui muito de boate, não, nunca gostei, eu sempre...
P/1 – Mas dançava, como é que era?
R – Nunca fui de dançar muito, eu gosto muito de carnaval, eu toco tamborim num bloco do carnaval do Rio há muitos anos, não perco um ano, mas bloco de rua, não gosto dos bailes de carnaval, gosto é de carnaval de rua, mas era uma época muito bonita, começo dos anos 70 que eu peguei.
P/1 – E namorada, você namorava muito? Tinha alguma namorada? Alguma paixão?
R – Eu não, na minha época de jovem eu não tinha, não tive nenhuma paixão, mas a gente namorava, era justamente também um momento de muita abertura em relação à relação sexual, a pílula tinha acabado de ser inventada, alguns anos antes, então, era um momento que a nossa juventude, graças a Deus, se aproveitou disso, porque a pílula mudou o mundo e mudou as relações homem–mulher também, porque ninguém se aventurava.
P/1 – Mas tem alguma namorada que você lembra dessa época?
R – Não, não teve nenhuma, época de garotada, ainda no começo, depois eu namorei, mas a gente era muito dedicado ao esporte e ao surf, então, a gente tinha um grupo muito bom de amigos, que todos praticavam, inclusive de meninas que nos acompanhavam também, mas eu não tive nenhuma namorada fixa mais longa não.
P/1 – E quando acabou o colegial o que você foi fazer?
R – Eu fui estudar Zootecnia, sempre ainda ligado ao campo, papai sempre gostou muito do campo, não fui educado: “Meu filho, você vai ganhar dinheiro, vai ganhar muita fortuna, porque o dinheiro é que vale”, eu sempre fui educado: “Meu filho, faça o que você goste, se você gosta do campo, da natureza, vai estudar Biologia, o importante é você fazer uma coisa que você goste”. Eu disse isso para o meu filho a vida inteira também, que se forma daqui a 30 dias, daqui a 30 dias não, daqui a duas semanas o meu filho se forma, já pós-graduação, já se formou e está fazendo pós-graduação e vai morar em Cingapura, meu filho também tem um pouco dessa visão de mundo sem fronteiras que eu tinha e ele vai trabalhar e morar em Cingapura um período da vida dele. Mas, aí, eu fui estudar Zootecnia, mas eu não pude me formar, porque eu tive que ajudar papai, papai tinha uma pequena propriedade em Paraty, eu tive que ajudar ele, ele teve problemas com negócios dele lá e teve dificuldade, eu tive que ajudar ele a resolver toda uma série de problemas, nada de grandes empresas, nem nada, nunca tivemos muitas posses, ele tinha umas terras lá e, mas se enrolou, ele não tinha muito jeito para negócio, eu tive que parar de estudar para ajudar ele, e ajudei, consegui resolver.
P/1 – Onde que você fez esse período da faculdade?
R – Foi na Universidade Rural, no Rio de Janeiro, que é muito interessante, é um campus, enfim, com todos os estudos de Agronomia, Veterinária, Biologia, Engenharia Florestal e Zootecnia, então, era um meio que eu gostava muito, do campo e da terra, eu achava muito interessante.
P/1 – E como é que foi essa mudança para ajudar o seu pai nos negócios? A primeira vez que você entrou no mundo dos negócios?
R – Eu fui obrigado com 23 anos a me debruçar e resolver problemas de burocracia, de problemas que ele tinha se enrolado todo, nada de mega empresa, não era um banco, não era nada, simplesmente ele foi se meter, fazer negócio pequeno, mas se embolou todo e se eu não tivesse...
P/1 – Que tipo de negócio, de compra e venda de imóvel?
R – Não, ele tinha umas terras lá, ele pegou um pouco de dinheiro emprestado no banco para fazer uma pequena indústria, uma indústria para industrialização para fazer creme de banana, pequena, era uma pequena fábrica de mil e 500 metros quadrados, mas ele não fez planejamento, os sócios dele saíram no meio, ele ficou totalmente, ele não chegou nem a inaugurar, coitado, papai nem inaugurou, aí quebrou, papai quebrou. Quebrou em 1966, eu era pequeno ainda, eu tinha 12 anos, mas aí ficou, se enrolou muito, até em 76, dez anos depois, ele continuava enrolado, sem resolver todos os problemas, e foram piorando os problemas, eu tive que parar de estudar para ir lá e vender um pouquinho da terra aqui para pagar um empréstimo no banco que ele tinha, e vender outro ali para pagar um outro imposto, quer dizer, um outro credor, então eu parei, gastei uns dois, três anos resolvendo tudo isso e só pensava em trabalhar e resolver isso, e consegui.
P/1 – E aí depois disso?
R – Aí depois disso eu tive uma aula muito boa de vida, com 23 anos tendo que resolver problemas e discutindo com advogados, eu com 23 anos discutindo com advogado para resolver isso e aquilo, e impostos atrasados, aí eu parcelava os impostos atrasados, porque papai também não conseguia, estava quebrado, não conseguia pagar os impostos que os sócios tinham feito. Então, eu tive uma lição muito boa de vida, foi um aprendizado ótimo, realmente, e daí eu acreditei na região, fui comprando mais áreas, depois que eu comprei mais terras e eu vi que o turismo seria uma...
P/1 – Em Paraty?
R – Em Paraty, eu vi que o turismo seria um bom caminho e que se conseguissem proteger aquele paraíso, tanto a floresta quanto o mar e quanto a cidade histórica, que aquilo não tinha como dar errado, tinha que dar certo em matéria de turismo planejado. Então, hoje em dia, a vida inteira eu lutei muito praquilo, para aquela região toda se preservasse, tanto a floreta quanto o mar, quanto a parte histórica, e hoje em dia é um dos lugares mais preservados do Brasil e talvez do mundo, em matéria de mar, floresta e história, e é um sucesso hoje em dia, e eu lutei também muito isso ao longo dos últimos 35 anos.
P/1 – Aí você foi comprando propriedades lá?
R – Eu fui, quando eu podia eu fazia um negócio, eu comprava um sitiozinho, então, e fui fazendo empreendimentos imobiliários também nesses anos.
P/1 – Sempre lá em Paraty ou noutros lugares?
R – É, sempre lá, eu dediquei a minha vida à Paraty, papai era apaixonado pelo lugar e a gente tem uma vida comunitária, Paraty tem essa característica boa, que os de fora se envolvem muito com os locais e é tudo uma família só de uma cidade pequena, com as características de uma cidade pequena, onde todo mundo se conhece, todo mundo se cumprimenta na rua, é muito bonito, muito saudável.
P/1 – Mas aí nesse momento você se mudou para Paraty ou você continuou no Rio?
R – Eu ia e vinha, passei, nos últimos 35 anos eu devo ter metade do meu tempo em Paraty, metade no Rio, fim de semana no Rio e semana útil trabalhando fora do Rio.
P/1 – E fora isso você, quando você começou a desenvolver esse gosto pela fotografia?
R – Sempre tive, na minha viagem que eu fiz...
P/1 – Ah, vamos voltar a falar dessa viagem.
R – Eu já queria registrar tudo o que eu via, eu sempre digo que, enquanto os meus amigos iam para Disneylândia, meu pai me levava para conhecer as florestas, me levava para conhecer um museu, e sempre me explicando, a mata, a natureza, o museu, as coisas, então eu sempre fui muito interessado em conhecer. A gente não ficava na beira da piscina comendo churrasco nos fins de semana, até tinha um churrasco e até tinha um banho de piscina, mas sempre tinha uma atividade interessante, educadora, mas que seja um passeio na mata com um mateiro, com uma pessoa da região que vai dizer o ninho do joão-de-barro, como é que ele faz, como é que não faz. Então, eu sempre fui fascinado por conhecer nosso país, cada vez mais, a minha grande paixão é o Brasil, eu diria que a minha grande paixão, maior que a minha família, a minha maior paixão é o Brasil, e isso dentro da educação que eu tive. Então, a gente viaja muito pelo Brasil todo, então o meu interesse pela fotografia não era pela estética da fotografia, mas sim em registrar as viagens que eu fazia, eu estive no Xingu, por exemplo, em 78 e fiz um trabalho fotográfico, e comecei a escrever, escrevi sobre as comunidades indígenas daquela época no Parque Nacional do Xingu, que já era um dos primeiros a ter sido demarcados.
P/1 – Mas você chegou a fazer algum curso, não?
R – Não, fui sempre autodidata, e sempre muito interessado, mas sempre em registrar nossa gente, nossa natureza, nossos costumes, o Brasil, sempre basicamente o Brasil. Então, eu estava dizendo, quando os meus amigos iam para Disneylândia, eu fui para Disneylândia com o meu filho há dez, 15 anos atrás, eu nunca tinha ido, eu nunca me interessei também muito, eu sempre gostei da natureza, de ver, de conhecer. Então, eu comecei a registrar, as experiências que eu tinha eram tão bonitas e eu gostava tanto que eu falei: “Eu tenho que registrar isso”, as histórias, conviver com pescador no norte da Bahia, conviver com os índios no Xingu, conviver com as comunidades gaúchas nas montanhas do Rio Grande do Sul, nos Itaimbezinhos, nos cânions, enfim, tudo isso eu queria registrar e como era mais fácil fotografar do que escrever e eu gostava. Então, eu fazia, na época era o cromo, a gente fazia em cromos, não tinha digital, a gente fazia fotografia slide, o cromo, e eu fazia sessão, chamava os amigos para minha casa e fazia uma viagem, que eu fiz ao Xingu, e cada foto me remetia à uma história e à uma experiência rica, bonita, até hoje eu vejo as fotos, 40 anos depois, e cada foto eu me lembro da história daquele momento. Incrível porque muitas vezes eu fazia uma projeção dessas fotos e ia contando: “Olha, esse índio aqui estava comigo, a gente, pedi para ele pescar um jacaré que estava numa toca ali, ele disse que não matava o jacaré, porque ele não comia jacaré”, aí eu falava para todo mundo: “Uma lição dos índios para comunidade branca, uma lição de preservação, de não matar uma coisa que eles não vão comer”. Aí, outra história, perguntei ao índio se ele podia fazer as necessidades dele na água do rio, ele falou: “Não faço porque 30 quilômetros abaixo desse rio tem uma comunidade indígena que mora, então nós não podemos sujar a água deles”, ou seja, noções tão básicas de respeito humano a gente ia ver com os índios, que eu sempre soube que era um exemplo de educação, mas muita gente acha que são comunidades primitivas, eu sempre digo que não são primitivas, eles pode ser tecnologicamente primitivos, mas a sociedade deles talvez seja muito mais avançada que a nossa em matéria de harmonia em sociedade. Então, isso tudo são lições que eu tive fotografando e que tenho até hoje, então a fotografia surgiu dessa forma.
P/1 – Essa viagem que você ficou se comunicando com o seu pai por telex, quando deu o terremoto, foi sua primeira viagem sozinho?
R – Não, eu já tinha ido para o Peru, em 73, 74, aí em 76 eu fiz essa viagem.
P/1 – Como é que foi, tem algum fato marcante, quer dizer, fora esse do telex?
R – Vários marcantes, cruzamos a Austrália também toda, o deserto da Austrália, terra de cowboys e tudo, mas uma coisa marcante foi que um conhecido nosso, ele tirou uma pedra de um templo em Bali e ele ficou muito doente no mesmo dia, e a comunidade de feiticeiras ali, das matriarcas todas, aquelas matriarcas que preparam a cerimônia, feiticeiras no bom sentido, as matriarcas que viram que ele tinha pego uma peça de um templo, elas disseram que era a maldição dos deuses, que ele nunca poderia ter pego uma peça de um templo religioso deles. Ela pediu para gente devolver essa peça ao templo, nós devolvemos, era uma parte de uma estátua, no dia seguinte ele ficou bom, pode ser uma coincidência ou não, mas o fato é que ele chamou a atenção da comunidade inteira e ele ficou recebendo visita de todos aqueles sacerdotes e líderes comunitários, que diziam: “Aquele ali foi o objeto da ira dos deuses”. Então, forte essa experiência e foi no templo mais importante de Bali, o Templo de Besaki, que é o templo central da ilha, então ele realmente pegou uma peça que era parte de uma estátua de uma deusa, então: “No creo en brujas, pero que las hay”, então o fato é que ele levou, ele levou uma bordoada, não se sabe da onde, mas levou e a história ficou conhecida na comunidade. Agora, eram outros tempos, eram tempos menos globalizados, menos pasteurizados, imagina, eu só pude ir para Ásia naquela época porque eu fui de cargueiro, de graça.
P/1 – Como é que foi essa viagem no cargueiro?
R – Era a única maneira de viajar, era caríssimo viajar naquela época, hoje em dia um garoto que faz calção, vende calção, ele vai três vezes a Indonésia no ano se ele quiser, o mundo, o mundo ficou mais rico, era caríssimo viajar, principalmente para Ásia.
P/1 – E por que você escolheu a Ásia?
R – Porque eu queria uma cultura diferente, eu sempre quis o novo e sempre admirei a cultura asiática, a espiritualidade asiática, a maneira de vida asiática, achava muito bonito, o budismo já me interessava. Então, eu queria conhecer culturas novas e não culturas que você vê na televisão todo dia ou você vê numa revista todo dia, eu queria experimentar essas experiências novas e a Ásia era um prato feito na época, hoje em dia está até mais difícil, que hoje em dia virou uma aldeia global, mas naquela época ainda era bem isolado.
P/1 – E o cargueiro, como é que era?
R – O cargueiro é uma outra experiência fascinante, ir daqui ao Japão de cargueiro, mas confortável, inclusive para os próprios tripulantes que vivem disso, porque tem que ter um certo conforto, porque era é uma viagem de 30 dias, longe das famílias e tudo, então era muito simpático, a gente comia todo mundo junto, tinha sala de jogos. Na época não tinha as antenas todas, então você tinha filmes no vídeo cassete gravados de programas de televisão, então você tinha o Jô Soares, você tinha o Chico Anísio, mas de seis meses atrás, que você via ali numa máquina de vídeo que tinha antigamente, não era o DVD, era o...
P/1 – Vídeo cassete.
R – É, exatamente, então o mundo mudou rápido mesmo, então hoje em dia não precisa mais de nada disso, mas foi uma experiência interessante ir do Rio ao Japão, parando pela China, parando em Cingapura, parando em Macau, que é Hong Kong, do lado de Hong Kong, uma experiência muito interessante, colônia portuguesa Macau, então, foi uma experiência muito boa, muito importante para mim.
P/1 – Você foi sozinho ou você estava com esse amigo?
R – Não, fui com esses dois amigos, que a gente é super amigo até hoje.
P/1 – Quanto tempo vocês ficaram?
R – Um ano viajando, eu disse para o papai: “Papai, depois eu vou chegar, eu vou me afundar em trabalho e em estudo, mas é uma experiência importante, que eu só vou ter chance de fazer agora, ficar um ano fora, na Ásia, dessa forma” e meu pai me falou: “Meu filho, vai ser a melhor universidade da tua vida”, e de uma certa forma foi, foi uma experiência muito boa, muito importante, eu quase que tenho o marco da minha vida até essa viagem e depois dessa viagem, interessante.
P/1 – Você voltou outra pessoa?
R – É, inclusive com uma bagagem, com 22 anos, eu fiz isso com 22 anos, na época era jovem, até hoje é jovem, hoje em dia tem garotada de 25, 26 anos que ainda está brincando com videogame. Então, uma coisa meio desbravar sozinho, não era você liga para o pai em qualquer lugar, era você estava indo num outro mundo, menos violento também, é fato, era um mundo menos violento, não havia tanto terrorismo da forma que tem hoje, mas foi muito, foi importante até para minha...
P/1 – Você já tinha parado a faculdade de Zootecnia, já tinha ido ajudar seu pai?
R – Já, eu comecei...
P/1 – Como é que era Paraty quando você tinha 22 anos, o que mudou de lá para cá em Paraty?
R – Sabe que Paraty se desenvolveu bem, diferente de outros lugares turísticos, agora Paraty se desenvolveu bem por uma coisa que papai dizia muito e eu acho que é totalmente certo, Paraty é longe de São Paulo e longe do Rio, e Paraty não tem praia, então o atrativo da praia você só tem saindo de barco, o atrativo da praia que atrai muito turismo e às vezes as autoridades não têm como ordenar essa ocupação, não houve isso. E pelo fato de ser longe do Rio e longe de São Paulo também não houve uma ocupação predadora nos anos 70, que era o milagre econômico brasileiro. Então, Paraty se preservou por várias razões, essas são umas, então Paraty hoje é um dos lugares mais preservados do Brasil, 80% do município são áreas de preservação ambiental, 80, Parque Nacional da Bocaina, Reserva Ecológica dos Tamoios, APA do Cairuçu, enfim, tem várias unidades de conservação diferentes que preservam Paraty e o próprio patrimônio histórico na parte...
P/1 – E a população local, quem que era na época, quando você tinha 22 anos quem que era o morador de Paraty?
R – Sempre foi uma economia de pesca e de banana, hoje em dia a pesca e a banana virou o turismo, então ainda tem pesca, banana quase nada, o que é bom, áreas que foram devastadas para plantio de banana hoje em dia já se recuperaram naturalmente. Plantava-se muito banana em encosta, Paraty tem poucas áreas planas, então plantava-se muito banana em encosta e, claro, devastava a mata, numa época em que não havia lei, não tinha lei de preservação, ninguém pensava nos anos 50 que um dia ia ter uma lei que proibisse tirar mata, se dissesse isso nos anos 50, começo dos anos 60, era uma coisa, era o contrário, quanto mais você tirar melhor, porque você vai está criando áreas para plantio, áreas para produzir comida, para gado, para o sujeito ter a vaca dele. Então, tinha a cultura da banana e a pesca, áreas que foram de plantio de banana na época, muitas áreas, eu tenho fotos aéreas, não tiradas por mim, mas de arquivos que eu comprei, áreas hoje, que eram devastadas, hoje em dia tão recuperadas, a mata atlântica voltou a nascer naqueles lugares, interessante, mas a economia era basicamente essa na época.
P/1 – Você tem um filho, quando, foi o seu primeiro casamento?
R – Foi.
P/1 – Quando que foi?
R – Eu tenho dois filhos, João Felipe e Maria Cristina, Maria Cristina tem síndrome de down, foi um desafio muito bonito que nós passamos, ela está com 23 anos, está escrevendo um livro agora, o segundo livro dela, vai ser lançado na FLIP em Paraty, faz parte da programação oficial da FLIP, e a gente lutou muito a vida inteira, eu e a minha primeira mulher, no sentido da inclusão, da inclusão de todas as minorias, e a gente viu que os deficientes são discriminados, e é uma luta que mudou muito de 20 anos para cá, é impressionante o que a sociedade conseguiu.
P/1 – Essa é a mais velha?
R – É a mais nova.
P/1 – É a mais nova, o primeiro chama como?
R – João Felipe.
P/1 – Como é que foi ser pai, assim, a primeira vez?
R – Fascinante, fascinante, é a coisa mais fascinante que aconteceu na minha vida.
P/1 – Que ano que ele nasceu?
R – Ele nasceu em 86 e hoje em dia ele formado, trabalhando do outro lado do mundo com 26 anos, conseguiu emprego sem o pai ajudar, sem o pai falar, sem nada, então por mérito próprio, pelos estudos que ele fez numa das melhores universidades do mundo, então eu fico muito orgulhoso de ver.
P/1 – E a sua filha nasceu quando?
R – Ela nasceu em 90.
P/1 – E vocês souberam que ela tinha Síndrome de Down quando nasceu?
R – É.
P/1 – Como é que foi?
R – É um baque, não é o filho que você espera, e durante muito tempo continua sendo um baque, mas depois você vai vendo que eles são felizes, a gente teria ficado muito infeliz se a Síndrome de Down fizesse com que eles não fossem felizes, por exemplo, se eles tivessem nascido com problemas que fizessem com que eles tivessem que ter uma cadeira de rodas ou a locomoção limitada, mas não, eles são as pessoas mais felizes do mundo, têm uma autoestima altíssima. E o grande desafio é cada vez incluir eles mais na sociedade, esse é o desafio, que é uma luta, porque há discriminação, há discriminação desde que o mundo é mundo, hoje em dia menos, então foi sempre uma luta da gente, não só dos que tem Down, mas de todas as minorias discriminadas, que são os deficientes de todos os tipos, os homossexuais, todas as minorias que têm direito a falar, têm direito a um lugar no mundo e são descriminadas por puro preconceito.
P/1 – Como é que é ter um filho de Síndrome de Down há 20 anos atrás, porque mudou muito para hoje, como é que era naquele momento?
R – É isso, é impressionante essa mudança, é impressionante para boa, mudou positivamente nesses 20 anos incrivelmente, hoje em dia você vê na televisão campanhas, você vê, inclusive eu tive já participei de reuniões dessas, de todas ou quase todas os discriminados, então você vê numa mesma reunião uma cadeirante, um Down, um travesti, uma Drag Queen, os homossexuais, quer dizer, você vê todos num mesmo pacote contra a discriminação e a favor da inclusão. E eu sempre digo uma coisa que é muito bonita, que mais ou menos 10% da população do mundo tem algum tipo de deficiência, ou você tem uma deficiência auditiva ou você tem uma deficiência na perna ou você tem uma deficiência mental, como são os “Downs”, autismo, mais ou menos 10%, e quem mais ganha com a inclusão dessas minorias, desses 10%, quem mais ganha não são eles, são os 90% ditos normais e perfeitos, porque eles aprendem com a inclusão, eles aprendem cidadania, eles aprendem solidariedade, eles aprendem inclusão social. Então, isso é muito interessante, você mostrar para os 90% ditos normais o quanto é normal você conviver com os deficientes, os homossexuais, que é uma coisa normal, mas sempre houve descriminação, desde que o mundo é mundo.
P/1 – Quando que ela escreveu o primeiro livro dela?
R – Tem uns oito anos já, foi na FLIP.
P/1 – Sobre o que é?
R – Era um livro, um conto que ela criou e ela escreveu esse conto com desenhos dela e foi muito interessante, desenhos e textos dela. E agora é um livro sobre meus amigos do passado e do presente, então ela lista todos os amigos, com fotografias e conta história dos amigos, então vai ser lançado na FLIP, agora na Flipinha, que é um livro para criança, mas com os desenhos dela também, então estamos ajudando ela, estamos ajudando ela nisso e vai ter depois numa livraria do Rio, vai ter na FLIP e depois logo na semana seguinte numa livraria do Rio, com assinatura e tudo.
P/1 – Que bonito!
R – É, foi um aprendizado para gente, foi um aprendizado, um grande aprendizado de vida, um grande aprendizado de vida.
P/1 – Quanto tempo você ficou casado?
R – Vinte e quatro anos.
P/1 – Como é que você conheceu a sua esposa?
R – Conheci num réveillon, com amigos em comum, e somos super amigos até hoje, claro, não podia deixar de ser, quem convive com a pessoa durante tantos anos, a gente é super amigo.
P/1 – E hoje como é que é o seu cotidiano?
R – O meu cotidiano eu tento, bom, eu tenho que trabalhar bastante ainda nesses meus projetos, que eu tenho um sonho inclusive de fazer coisas boas, eu sou obsecado por planejamento urbano, eu vejo a necessidade cada vez maior de se planejar para ter qualidade de vida nas ocupações, e eu vi ao longo desses meus 35 anos trabalhando nisso que quando não se planeja você proporciona uma péssima qualidade de vida para quem habita. Gastos enormes de dinheiro público que se você planeja não precisa desses gastos, e se você realmente não planeja uma comunidade o poder público vai ter que gastar dinheiro para tentar amenizar o mal feito, dinheiro público, poderia estar sendo dirigido para educação, para saúde ou para outras obras públicas importantes e vai ser e nunca vai se chegar a uma coisa realmente boa numa comunidade que foi mal planejada, mal ocupada, superdensa.
P/1 – Mas os projetos que você está desenvolvendo têm a ver com planejamento agora?
R – Ah, não, mas sempre teve, todos tiveram, porque sempre foram bairros que eu fiz, eu não construí, eu fazia o planejamento urbano dos bairros.
P/1 – Em Paraty?
R – É, ou seja, com calçadas grande, com paisagismo, com áreas públicas, que a lei manda, eu não faço nenhum favor nisso, eu digo sempre isso, os meus empreendimentos tem área pública, mas eu não faço nenhum favor porque a lei manda. O problema é o poder público não exigir dos que fazem clandestinos e não deixam nada como área pública.
P/1 – Você está construindo algum bairro agora, alguma coisa?
R – Não, não, eu estou planejando, eu não estou construindo.
P/1 – Planejando.
R – É, eu estou em planejamento.
P/1 – Em Paraty?
R – É.
P/1 – Que região? Que lado de Paraty?
R – Ali perto, não é obviamente no bairro histórico, é intocável o bairro histórico, é justamente a zona de expansão do bairro histórico, porque a cidade cresce, as pessoas têm filhos, então tem que haver oferta de moradia, de comércio e tem que ser planejado. Eu já convidei uma vez até o ex-governador Jaime Lerner para ir lá para Paraty só para falar sobre planejamento urbano e da necessidade de se planejar para se crescer bem, porque as pessoas têm filhos e as cidades crescem, só tem duas opções: crescer mal ou crescer bem. Então, eu sou muito preocupado com o fato de crescer bem, tomara que chegue o dia que a gente não precise crescer mais também, mas sempre vai ter que ter planejamento, porque sempre há mudanças, há mudanças de uma comunidade para outra, então se sai de uma essa uma vai diminuir e a outra vai crescer. Mesmo que não houver crescimento num país vai haver uma rearrumação das regiões do país, então não existe o fim do crescimento total, sempre vai haver um rearranjo.
P/1 – Eu vou caminhar para as perguntas de final, tem algum fato, quer dizer, a sua vida é super rica, tem uma trajetória bastante enriquecedora, alguma coisa que você queira deixar registrado, algum fato que a gente não tenha tocado?
R – Da minha vida?
P/1 – É, de algum momento, da infância, da adolescência, de agora, algum fato marcante que a gente não tocou aqui, não abordou.
R – Não, não, mas sempre, eu já disse e repito, sempre uma posição de muito amor ao Brasil e muito respeito ao Brasil, talvez essa tenha sido a marca da minha vida e a educação que eu tive de amor ao país, de respeito ao país, ao Brasil, sem querer nada em troca, sem ganhar nada, só puro dever cívico, mas dever não de dever porque tem que, por amor ao país, por amor ao teu país, ao país que te abriga e que é esse país sensacional que é o Brasil.
P/1 – Se você, olhando a sua vida, assim, como um túnel do tempo, se você tivesse que mudar alguma coisa na sua vida você mudaria, faria diferente?
R – Não, acho que não, talvez eu tenha que olhar um por um, mas eu acho que não, o conjunto da obra é muito bom.
P/1 – Qual é o seu maior sonho hoje?
R – O meu maior sonho hoje é ver, continuar vendo o Brasil melhorando, mas sem a corrupção e sem a roubalheira que temos hoje no país, descarada, aberta e impune.
P/1 – E um sonho pessoal, assim, seu? Quer dizer, esse é para o país, é social, mas de alguma realização pessoal sua.
R – Não, o meu país vem em primeiro lugar, talvez o meu sonho seja o sonho do meu país.
P/1 – O que você achou de contar a sua trajetória de vida para o Museu da Pessoa?
R – Eu acho interessante, principalmente, como eu disse, eu sou um antropólogo frustrado, sem diploma, eu acho que a ideia do Museu da Pessoa é muito interessante, de registro de histórias de vida e muito interessante, parabéns.
P/1 – Obrigada.
FINAL DA ENTREVISTARecolher