P/1- Bom, agora a gente vai começar pra valer, gravando mesmo. Então, pra gente estar registrando eu vou pedir pra senhora repetir seu nome completo, o local e data de nascimento.
R/1- Isso é que é o problema, né? Maria da Conceição Nogueira. Que que você... Rio de Janeiro, não o endereço, só Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1931.
P/1- (risos) E qual o nome do seu pai?
R/1-Francisco Nogueira de Lucena.
P/1- E da sua mãe?
R/1-Lindalva Reis Nogueira.
P/1- E que que eles faziam, qual era a profissão deles?
R/1- Olha, meu pai era comerciante, depois ele ficou doente, ficou anos internado e veio a falecer posteriormente.E a minha mãe dona de casa, está com 92 anos, não fala, não anda, está sendo assistida por acompanhantes.
P/1- Mas, descreve um pouco como eram as atividades comerciais da sua casa, a senhora lembra?
R/1- Não, porque eu era muito pequena. Eu sei o que a mamãe sempre falava, porque eu não me recordo da atividade dele porque eu era muito garota quando ele ficou doente. Então não dá pra, só dá pra repetir o que a mamãe contava.
P/1- O que que a senhora lembra do que ela contava?
R/1- Não sei, ele foi... tinha uma casa onde eram vendidos instrumentos musicais e aí ele teve um revés, aí, enfim com sócios e tudo e acabou ficando doente. E se aposentou, não mais trabalhou.
P/1- E a senhora tem irmãos, irmãs?
R/1- Tenho. Um irmão e uma irmã.
P/1- E como era o cotidiano da sua casa? Onde vocês moravam?
R/1- Bom, quando morávamos no Nordeste, em Mossoró, onde nós éramos... nós nascemos, era tudo muito tranquilo, né? Morávamos... quando meu pai já estava doente, depois que ele ficou doente passamos a morar com meus avós. Mamãe e nós três. Depois nos transferimos. Não tem, assim, muita muita coisa, não. Uma cidade pequena que você não tinha muita coisa pra fazer. Eu me lembro que eu pedi pra ser interna no colégio, morava pertinho do colégio. Mas eu pedi e fui. Minha mãe me...
Continuar leituraP/1- Bom, agora a gente vai começar pra valer, gravando mesmo. Então, pra gente estar registrando eu vou pedir pra senhora repetir seu nome completo, o local e data de nascimento.
R/1- Isso é que é o problema, né? Maria da Conceição Nogueira. Que que você... Rio de Janeiro, não o endereço, só Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1931.
P/1- (risos) E qual o nome do seu pai?
R/1-Francisco Nogueira de Lucena.
P/1- E da sua mãe?
R/1-Lindalva Reis Nogueira.
P/1- E que que eles faziam, qual era a profissão deles?
R/1- Olha, meu pai era comerciante, depois ele ficou doente, ficou anos internado e veio a falecer posteriormente.E a minha mãe dona de casa, está com 92 anos, não fala, não anda, está sendo assistida por acompanhantes.
P/1- Mas, descreve um pouco como eram as atividades comerciais da sua casa, a senhora lembra?
R/1- Não, porque eu era muito pequena. Eu sei o que a mamãe sempre falava, porque eu não me recordo da atividade dele porque eu era muito garota quando ele ficou doente. Então não dá pra, só dá pra repetir o que a mamãe contava.
P/1- O que que a senhora lembra do que ela contava?
R/1- Não sei, ele foi... tinha uma casa onde eram vendidos instrumentos musicais e aí ele teve um revés, aí, enfim com sócios e tudo e acabou ficando doente. E se aposentou, não mais trabalhou.
P/1- E a senhora tem irmãos, irmãs?
R/1- Tenho. Um irmão e uma irmã.
P/1- E como era o cotidiano da sua casa? Onde vocês moravam?
R/1- Bom, quando morávamos no Nordeste, em Mossoró, onde nós éramos... nós nascemos, era tudo muito tranquilo, né? Morávamos... quando meu pai já estava doente, depois que ele ficou doente passamos a morar com meus avós. Mamãe e nós três. Depois nos transferimos. Não tem, assim, muita muita coisa, não. Uma cidade pequena que você não tinha muita coisa pra fazer. Eu me lembro que eu pedi pra ser interna no colégio, morava pertinho do colégio. Mas eu pedi e fui. Minha mãe me colocou no colégio interno que eu gostava daquele ambiente, não sei se isso teve alguma influência na minha vida, mas gostava. E depois, eu brincava aquelas brincadeiras sempre, nada muito especial, coisa de interior mesmo. Me lembro minha avó, não sei, (risos) tão engraçado. A minha avó, quando chovia, botava uma combinação, assim, com uma alcinha, ia tomar banho de chuva (risos). E no quintal da nossa casa tinha um pé de cajarana e eu subia muito, um dia quebrei os dentes. Então tem assim, o que eu me lembro da minha infância lá. Depois, acho que é 10,11 anos, fui pra Campina Grande, morar lá, estudei lá, fiz científico lá, estudei também pianos lá. Comecei minha vida com piano dessa época, que o professor (Gabizo?) vinha de João Pessoa pra dar aula em Campina Grande. E a minha aula era às 5 e meia da manhã. Uma vez por semana ele entrava pra dar aula 5 e meia, mas como era casa não perturbava vizinho, né? Depois, depois que eu terminei o ginásio, naquela época, ginásio. Mudamos para o Rio. Porque o meu tio que ficou como chefe da família, né, se transferiu, que ele era do Banco do Brasil, se transferiu para o Rio e nos trouxe. E aqui estudei, fiz o científico, continuei o piano. Até que, posteriormente, por ingerências tais, que depois eu falo, eu tive que trancar o piano.
P/1- (risos) Agora, me fala uma coisa, a senhora veio pro Rio a senhora tinha quantos anos?
R/1- 15 anos.
P/1- E como é que foi essa viagem? O que que a senhora lembra?
R/1- O que eu lembro? A gente pegou um Ita no norte. Foi exatamente isso. No Almirante Jaceguai. Em Recife nós pegamos o navio e viemos para o Rio. Eu me diverti demais, apesar do enjôo.
P/1- O que que se fazia, assim, a criançada no...?
R/1- Eu namorava, né, porque eu era muito namoradeira. (risos) No navio... Eu já tinha deixado um quase noivo lá em Campina Grande. No navio, eu já comecei a namorar.
P/1- Olha.
R/1- Levada, né?
P/1- (risos) E quanto tempo durou essa viagem? Quantos dias?
R/1- Eu não me lembro quantos dias, mas aquilo era muito lento, né, naquela época era lento. Mas foi interessante, foi uma experiência boa.
P/1- E a senhora lembra da chegada aqui no Rio?
R/1- Lembro.
P/1- Descreve pra gente.
R/1- Todo mundo foi pro convés para ver a vista, aquela coisa toda. Muito interessante. Todo mundo admiradissimo, né? Todos que não conheciam o Rio, né? E a nossa família, então, os que estavam conseguindo ficar em pé, não estavam enjoando, foi toda ela olhar a chegada ao Rio. E a expectativa,né, também, pela nova vida.
P/1- Com certeza. Quem que veio? Veio esse tio...
R/1- Esse tio.
P/1- Ele era casado? Qual o nome dele?
R/1- Antônio Reis. Esse tio, a mãe dele, a minha avó, né? Minha avó, que ela já faleceu aqui no Rio, ela tinha 92 quando faleceu. E nós e uma tia, também, solteira. E já tínhamos dois tios morando no Rio. Então, viemos pra cá e foi uma experiência ótima. No início, quando nós chegamos, eles só conseguiam apartamento lá no Engenho Novo. Aí nós fomos estudar, ele não queria. Olha só, não queria que eu partici... eu queria estudar no Pedro II. Ele não queria porque eu tinha que vir pra cidade, naquela época não tinha Pedro II em outro lugar, né? E ele não queria que eu viesse porque tinha que enfrentar condução e tudo. Então estudei lá, no Colégio Independência, que era... depois ele ficou Pedro II. Enfim, fiz um científico. Minha vida foi toda essa, estudar, estudar piano e dirigir o coro da igreja (risos) porque a minha professora era, era principal. Ela me levou pra lá pra contar e tocar, e tal. Depois ela saiu e me deixou lá dirigindo o coro, eu garota nova, assim, dirigindo o coro da igreja. Tocava casamento, cantava. Enfim, foi assim bastante movimentada minha adolescência aqui.
P/1- Que Igreja que era?
R/1- Era Coração de Maria, lá no Engenho Novo mesmo.
P/1- Beleza. E saía, tinha saídas assim, como que era? Vocês tinham bailinho, essas coisas?
R/1- Ah, tinha. Tinha, dançava muito, sempre gostei muito de dançar. Dancei muito, mesmo. Dançava bem, também.
P/1- É. E onde que a senhora aprendeu a dançar?
R/1- Praticando, nada especial. Mas sempre tem alguma influência. Porque eu fiz um pouco de balé com Juliana (Nakeva?), mas em clube, né? Balé de clube não era um balé, assim, muito, muito forte. Uma coisa quase profissional não era. Uma coisa mais pra recreação.
P/1- E a senhora, nessa época, tinha alguma profissão que a senhora queria seguir, trabalhar em algum...?
R/1- Tinha, tinha pianista, concertista. No fim, eu estava contando pro rapaz lá fora, que no fim não deixa de ser, tem influência, né? Porque eu passei a ser, a usar máquina de escrever, manual no início, depois elétrica, depois computador. Inclusive o LER que eu tenho, (risos) isso tudo é o que ficou do meu sonho. (risos)
P/2- Voltando um pouquinho. A senhora falou da dança, juventude da senhora no Rio de Janeiro. A senhora poderia descrever pra gente como era a moda na época, como a senhora se vestia?
R/1- Olha. Era realmente as saias bem rodadas, uma cinturinha, porque eu tinha uma cinturinha desse tamanho, cinturinha bem marcada. E, também, coisas assim de decotes. Decotes que eu usava. Outras pessoas não usavam tanto. Mas eu usava o decote nas costas, porque eu tinha que explorar o que era melhor. (risos) Usava decote nas costas. E dançava muito, nós tínhamos um grupo, assim, de pessoas que dançavam, que a gente todo... Na época, em que eu, antes do grupo Gas, eu trabalhei na Texaco, foi o meu primeiro emprego. Fiquei pouco tempo lá. E naquela época a Shell dava uns bailes toda a sexta-feira. Então nós saíamos do escritório já íamos dançar. Então trabalhava já mais ou menos pronta pra festas. Ficava dançando, foi bem movimentada essa época pra mim. Eu fazia muito o que eu gostava, agora também estudava bem, né?
P/1- E como... a senhora já trabalhava quando estudava, não?
R/1- Não, o que... eu estudei, o científico não, não trabalhava. Depois eu fiz um curso de taquigrafia com Pitman, no sistema Pitman que a base, o sistema é inglês. E depois a adaptação pro português meu professor fez. Eu me preparei assim pra trabalhar como taquigrafia inglês/português. Comecei assim lá na Texaco. Aí saí da Texaco logo no... em 1952 entrei na Texaco, em 1955 fui pra Gasbras que é o grupo do Sr. Lorentzen.
P/1- Como que a senhora conseguiu esse emprego lá na Gasbras?
R/1- Porque um amigo meu que trabalhava na Texaco saiu da Texaco e foi pra lá. E ele me ligou disse: “olha, vem pra cá porque tem um lugar pra você aqui.” Eu fui e estou no grupo até hoje.
P/1- (risos) A senhora não parou, né? (risos)
R/1- Não parei, nem me aposentei totalmente, porque a minha aposentadoria é um pouco relativa, né, porque eu continuo trabalhando pro Seu Lorentzen em casa, faço... toda manhã ele me manda um tape pra eu fazer a transcrição, faço o lado, a parte financeira dele sou eu que faço, e faço as viagens internacionais, são as minhas três tarefas.
P/1- (risos)Toda logística, compra de passagem...
R/1- É. Reserva, reserva de hotel, reserva de vôos, faço a programação detalhada pra ele.
P/1- Depois a gente vai explorar mais essas (risos) suas atividades atuais. Mas eu queria voltar um pouco nessa época que a senhora conheceu o senhor Lorentzen lá. Contar, começando lá atrás, onde ficava a empresa, o que que a senhora tinha que fazer exatamente?
R/1- Ficava, eu comecei, ela antes ela estava na... estava num local lá, parece que era Rua da Quitanda. Mas eu já comecei na Rua São José 90, no 17o andar.
P/1- Era o escritório?
R/1- Era, era o escritório dele. Fui trabalhar lá, comecei trabalhando como gerente de vendas e depois fui trabalhar com ele.
P/1- Direto?
R/1- Com ele.
P/1- É?A senhora lembra assim do primeiro dia de trabalho com Sr. Erling?
R/1- Eu acho que sim. Porque eu já conhecia, né? Quando eu comecei a trabalhar no setor de venda, ele foi fazer uma visita lá (risos). Aí já o conhecia, quando ele teve que fazer... tinha sempre duas secretárias, uma norueguesa e uma brasileira.
P/1- Ah é?
R/1- Naquela época. Porque o pai dele era vivo e bem atuante, então ele tinha que fazer correspondência em norueguês. Então eu trabalhava com ele na parte de português inglês, e a outra secretária com norueguês e eventualmente, inglês também. Então ficamos assim trabalhando. Você quer mais dessa época?
P/1- Pode, pode... é à vontade.
R/1- Eu acho que sempre foi uma experiência muito rica trabalhar com ele. Porque um homem empreendedor, então pra mim foi sempre positivo.
P/1- Quantos anos ele tinha mais ou menos nessa época, o Sr. Lorentzen? Só pra gente situar, assim.
R/1- Espera aí. Ele tinha... deixa eu ver. Era um homem bonito, muito bonito, viu? Isso não vai gravar não, né? (risos) isso você faz a edição, tira isso. As meninas quando subiam no elevador com ele, era um drama. Só faltavam desmaiar. Era o Paul Newman.
P/1- É mesmo?
R/1- Era. Mas isso faz favor de tirar da edição.
P/1- (risos)
R/1- Não fala isso não.
P/1- Interessante.
R/1- Mas a gente trabalhava no 17o e no 18o tinha... como era o nome? Era uma companhia de petróleo, não me lembro bem qual delas. E as meninas subiam no elevador ficavam assim ó, de boca aberta.
P/1- (risos)
R/1- ... quando ele entrava também. Mas isso, sempre foi um trabalho muito tranquilo, ele é uma pessoa educada, eu tive muita sorte porque não era uma pessoa grosseira, pelo contrário, bem educado. Até mesmo quando não gostava de alguma coisa, não era muito de se expandir, sempre... não reclamava, reclamava em termos. Sempre foi muito agradável trabalhar.
P/1- Era exigente?
R/1- Muito.
P/1- Porque... Vou fazer um comentário, queria que a senhora... Porque deve ter uma diferença cultural, né, de cultura mesmo...
R/1- Ah, de cultura sem dúvida tem.
P/1- De uma criação norueguesa pra estar vindo pro Brasil
R/1- Tem, tem, sem dúvida, sem dúvida. É. Mas sempre existe uma... Até hoje, né? Eu tenho amigos noruegueses, eu tenho amicíssima norueguesa. É uma diferença cultural muito grande, mas a gente se dava bem (risos).
P/2- Como era o relacionamento da senhora com a outra secretária dele, norueguesa?
R/1- É, algumas melhores, outras não tão boas. Mas... Até hoje, essa minha amiga, grande amiga norueguesa foi secretária dele também, da parte norueguês. Até hoje nós nos correspondemos, ela me liga, eu ligo. Enfim, uma amizade muito grande. Foi a melhor, melhor companheira estrangeira que eu tive lá.
P/1- Como que... eu fiquei pensando nas coisas que a senhora tinha passado pro Edvaldo, né, primeiro começa com Øivind.
R/1- Øivind?
P/1- Øivind Lorentzen e depois passa para Lorentzen. Empreendimentos o que que mudou na empresa?
R/1- Mudou, não mudou na empresa. Ela foi crescendo e eles chegaram à conclusão que era melhor trocar a razão social. Só foi uma mudança de razão social. Como por exemplo, na Gasbras, quando eu comecei era Gasbras, depois com a fusão com a Superbrás ficou Supergasbrás. Foi uma questão de razão social e também acompanhar, também, o desenvolvimento do grupo
P/1- Com certeza. E aí dentro desse desenvolvimento está o projeto da Aracruz?
R/1- É. Depois que ele deixou o Grupo Gás, ele já vinha, com alguns amigos, plantando eucalipto, depois ele ficaram imaginando o que fazer com aquilo. Pensaram em exportar, depois... foram idealizando até que surgiu a ideia de Aracruz, né? Ele começou a trabalhar com essa ideia. Ele e os amigos, os companheiros de plantação.
P/1- (risos) A senhora lembra quem eram essas pessoas?
R/1- Olha, um deles era Olivar Antoneli Araújo, o outro Leopoldo Brandão, Antônio Dias Leite, não sei se tinha mais alguém, esse é que eu me lembro. Depois, então, eles começaram a imaginar e começou uma via crucis pra conseguir financiamento, e... enfim, conseguiram. Me lembro que a s firmas que fizeram o estudo de viabilidade, ________ não tanto, mas o IFC, que é International Financial Corporation, não achou que fosse viável o produto. Anos depois eles mostrou que era possível fazer. E foram feitos vários estudos e depois na hora de conseguir, como é que eles fazer pra conseguir financiamento. Foi um drama. Até que o BNDES entrou, financiou, uma... Entrou com o financiamento e, também, passou a ser um dos grandes acionistas, né, um dos três.
P/1- Pra implantação da fábrica mesmo?
R/1- Pra implantação da fábrica.
P/1- Por quê que essa firma disse que não era viável o empreendimento?
R/1- Eu não sei, porque é uma firma de finanças, né, talvez não achou que fosse viável, que fosse rentável. Eu não sei bem. Mas eles deram por escrito o testemunho de que não era viável.
P/1- E a reação do Seu Lorentzen
R/1- Não, mas ele não desanimou. Porque ele não desanima mesmo, quando ele sonha, quando ele quer uma coisa, ele vai. Se por aquele caminho não ficar bem, ele vai pelo outro caminho. Quando ele trabalhou na guerra como maqui, né, então você já viu como ele é. Então ele foi, tentando, tentando aquilo, até que chegou o BNDES.
P/1- Daí quando veio o financiamento do BNDES deu construção a fábrica?
R/1- Deu construção a fábrica. Em 1974 eu até tinha uma foto que eu acho que eu não trouxe, na época da pedra fundamental. Esqueci, acho que eu não trouxe, não.
P/1- Mas aí vocês foram pra lá, conta como foi esse dia.
R/1- Na pedra fundamental?
P/1- É, é.
R/1- Ah, foi, foi um grupo grande. Porque na época o Dr. Artur ________ Santos era o governador lá. E fomo pra lá e houve uma solenidade, posteriormente essa pedra eles não achavam de jeito nenhum, tiveram que procurar. (risos). Mas foi muito interessante porque foi muita gente, houve uma solenidade do encerramento da placa etc. E depois uma, uma... uns brindes, umas coisas assim, nada assim muito grande. Mas foi um primeiro passo, né?
P/1- Qual era, vamos dizer assim, o cenário dessa época, assim? Tinha as florestas...
R/1- Tinha floresta só, nada mais.
P/1- Foi a primeira vez que a senhora foi pra lá? Descreve pra gente.
R/1- Foi a floresta... Mas é muito interessante porque primeiro a gente chegava lá não tinha estrada, a gente atravessava uma balsa, uma balsa num barco, remado por índios, por um índio. E ia pra lá, quer dizer, não tinha... Na época da construção da fábrica, também, nós fomos muito lá, porque eu sempre que o conselho ia lá eu ia, né? E a gente atolava porque não tinha estrada. A Aracruz é que fez as estradas lá. Não tinha estrada, tinha um caminho. Quando chovia ficava cheio de lama, a gente atolava. Eu lembro que eu estava num carro com a Amélia e ela estava atolando e ela: “moço, moço, pisa no freio.” Eu digo: “Amélia, pelo amor de Deus, não diga besteira, porque senão, senão nós vamos rodar aqui.” Ela: “pisa no freio, moço, freio.” Eu digo: “não, fica quietinha, aí, porque ele sabe o que fazer.” Nós atolávamos lá, era uma coisa. E, no início da construção da fábrica, eu me lembro que eu não tinha muita prática disso, pra subir aqueles andares todos, ia com um salto assim. (risos) Aí Dr. Leopoldo disse pra mim assim: “como é que a senhora vem pra cá com salto?” “ah, Dr. Leopoldo, não me lembrei, estou habituada a ficar produzida o dia inteiro, não me lembrei.” Mas tem passagens interessantes, viu? Mas uma grande emoção mesmo, é no dia da inauguração da fábrica.
P/1- Quando começou a funcionar.
R/1- Ai quando começou a funcionar, porque aquilo ali foi um trabalho de anos, né? E a gente acompanhar aquilo, ver aquilo crescer, foi uma emoção muito grande. E a gente subia, quando estava na construção da fábrica, subia andares e andares. E dizia: “olha, vocês estão aqui numa altura de 10 andares.” E de lá você descortina aquela floresta fantástica. Tudo muito bem plantado, tudo muito bem alinhado e de repente tem um clareira, assim, é a construção da fábrica. Era realmente uma visão fantástica, espetacular.
P/1- E que que as pessoas falavam na época? Vamos dizer assim, essas pessoas que já eram ali da região, que que eles achavam que ia acontecer, eles tinham ideia, será?
R/1- Não, porque eu acho que eles ficaram satisfeitos, eu não me lembro, mas foram criados 10 mil empregos diretos e indiretos, naquela ocasião foi uma prosperidade pra região. Eu acho. Pra cidade de Aracruz, né, e mesmo pro Espírito Santo como um todo porque aquilo ali gerou muito emprego e impostos, né?
P/1- A senhora lembra da cidade dessa época, como que era a cidade?
R/1- Uma cidade muito pequenininha, não era grande coisa, não. Ela cresceu muito com Aracruz. Mas era bem pequena.
P/1- E onde que vocês ficavam hospedados?
R/1- Nós, no início, nós ficávamos na casa de hóspedes porque eles construíram uma casa de hóspedes. Mas depois, com o crescimento, abriram um hotel. Detalhe do hotel. Na inauguração do hotel, muitas pessoas, conselheiros e nós, eu não caí, mas caíram das camas. Porque dizem, dizem que um deles fez de propósito e afrouxou os parafusos. A Amélia caiu da cama. Os conselheiros, alguns caíram, né? Foi engraçado. E depois eu tinha levado quimono, a Amélia levantou usou o meu quimono e eu não podia me levantar. Eu fiquei coberta, as pessoas entrando pra consertar e eu coberta lá sem poder me levantar. Tem umas passagens, assim, interessantes.
P/1- (risos) Que delícia isso (risos) Olha só. (risos) Depois vocês comentaram que tinha caído a cama?
R/1- Ah, foi um comentário só e na reunião do conselho, também foi comentado. E eu acompanhei todas as reuniões do conselho, desde a formação do conselho, até a... Eu deixar de ir ao escritório. Eu fazia as atas, tudo.
P/1- Olha, só. E a senhora lembra, assim, de alguma reunião que tenha sido importante, de algum documento que a senhora tenha taquigrafado?
R/1- Olha, me lembrar de um não tem, porque tem tantos, tem tantos documentos importantes, né? Principalmente na época da constituição da empresa e tudo, muitos são documentos importantes. Agora, de imediato eu não me lembro, assim, pra ressaltar um.
P/1- Tá. Mas, olha. (risos) Agora, sabe o que eu queria, a senhora estava falando dessas visitas aos canteiros de obras. Pra sair do Rio de Janeiro pra ir pro Espírito Santo, como é que vocês iam de viagem?
R/1- Nós íamos de avião até Vitória, né? De Vitória, então, tínhamos carros que nos pegavam.
P/1- Que de vez em quando atolava.
R/1- Ah, de vez em quando... Na época da construção da fábrica, quando Aracruz ainda não tinha construído as estradas, porque o governo se disse impotente pra construir a estrada. Então, a Aracruz, ela mesma, fez. Mas quando chovia a gente atolava mesmo. E quando chegava na casa de hóspedes já tinha as botas pra gente usar pra poder andar lá na floresta, né? E os remédios pra mosquito, tinha muito mosquito, tinha uns borrachudos tremendos.
P/1- Divertido. Eu queria que a senhora me falasse um pouco, a senhora chama de complexo Aracruz, né? A fábrica...
R/1- A fábrica, o porto
P/1- O porto e o bairro dos funcionários.
R/1- Bairro Coqueiral, com o clube. Até deixei uma foto, tem uma foto aí que é na inauguração do clube.
P/1- Eu queria que a senhora falasse um pouco, descrevesse, assim, como foi a formação desse complexo todo.
R/1- Bom. Eles fizeram o projeto, projetaram tudo isso, né? E construíram e os... havia os bairros, as casas pro pessoal mais graduado, pessoal menos graduado e um clube para todos, não era pra poucos não. Uma cooperativa, fizeram escolas lá pros filhos dos funcionários. E aquilo foi crescendo, até que depois eles, muito tempo depois eles venderam as casas pra cada ocupante, que quis comprar, né?
P/1- Que eram os funcionários?
R/1- Eram os funcionários.
P/1- Esses funcionários, esses mais graduados, eles vinham de onde? Eles eram todos do Espírito Santo, de Vitória, mesmo?
R/1- Do Rio, mais do Rio que do Espírito Santo. Tinha também do Espírito Santo, mas era mais
P/1 E aí eles se mudavam pra lá.
R/1- No início o diretor industrial era... acho que era inglês, era inglês. Que vinha o pessoal que já tinha o conhecimento de como construir uma fábrica, de como... aquilo ali é muito complexo, né?
P/1- Nossa. (risos) Sabe o que eu queria perguntar pra senhora, que senhora descrevesse um pouco, falasse um pouco do _________ porque eu não sei se a gente vai conseguir entrevistá-lo porque ele não mora aqui, né?
R/1- Não. Eu não sei, parece que ele também não anda muito bem de saúde.
P/1- Então queria que a senhora falasse, assim. Então queria que a senhora descrevesse, assim, como que ele era, nessa época, o que que ele fez exatamente.
R/1- Toda a parte de projeto foi feito por ele. E ele era uma pessoa muito acessível, muito simpática, muito simples. Vinha sempre ao Brasil. Casado com uma brasileira.
P/1- Ele também é norueguês?
R/1- É finlandês.
P/1- Finlandês.
R/1- Casado com brasileira, não sei se ela, acho que era segunda esposa dele.
P/1- Mas, assim, ele acompanhava as obras, como que era?
R/1- Acompanhava. Acompanhava e ele tinha escritório aqui também, no Rio, né? E vinha, acompanhava, visitava sempre. Ele é muito competente o (Jacques?) _________.
P/1- É, o pessoal fala muito dele. A gente achou uma planta, não é uma planta, né? É uma... é um painelzão, né?
P/3- É uma planta aumentada.
P/1- É. Bom. A senhora falou até agora da logística das viagens que a senhora faz. Quando ia o Conselho, tudo, como que era a logística? A senhora tinha que comprar passagem? Como é que...
R/1- Não, aí a gente tinha quem preparasse. Mas a Amélia, como secretária do presidente da empresa, ela preparava muito. Nós tínhamos sempre uma agência de viagem, que nos fornecia a passagem. E aí, lá a gente alugava carros. Quando ia o Conselho que tinha muita gente, tinha microônibus. Isso no início. Depois, microônibus sempre porque ia muita gente. E o Conselho ficava dois dias lá, um dia visitava a fábrica, visitava a construção, a floresta, o viveiro, que era uma coisa muito interessante o viveiro. E onde, também lá, eles tinham uma criação de formigas que eram antídoto para as pragas de lá.
P/1- Ah, é?
R/1- Era. Muito, muito, fantástico aquilo ali. Não sei como está agora, porque há muito tempo que eu não vou lá. A última vez que fui lá, foi inauguração da terceira fábrica, que eu já estava nessa condição de trabalho em casa.
P/1- E descreve como era o viveiro nessa época. Que que eles faziam no viveiro?
R/1- Olha, tinha aquelas mudas, que eles controlavam o crescimento, pra depois, então, plantar aquilo no terreno da... no terreno próprio. E aquilo ali ficava sendo estudado, cada planta daquela tinha um estudo. Eles controlavam aquilo tudo. Era muito bom. Na época era o Dr. Leopoldo Brandão que era o diretor florestal. E tinha Campinhos, tinha a Iara. Eu acho que a Iara ainda está lá, Campinhos parece que não. E o Ney Magno, que o Ney tinha sido meu colega no científico, que eu encontrei ________ depois. Mas o Ney já faleceu, eles ganharam um prêmio internacional, por causa dessa plantação de florestas, estudos que eles fizeram. Mas o Ney já, felizmente, infelizmente, o Ney já faleceu. E nem pode ir receber o prêmio, porque já tinha...
P/1- É mesmo? Mas pelo reconhecimento por essas pesquisas...
R/1- Por essas pesquisas que eles fizeram, eles são... O Campinhos também é muito bom, todos eles são ótimos
P/1- Tá. Deixa eu perguntar uma coisa, tinha alguma personalidade que ia, às vezes, ao canteiro de obras, conhecer a fábrica?
R/1- De um modo geral, quando vinha qualquer pessoa aqui. Seja ligado comercialmente ao Sr. Lorentzen ou mesmo em termos pessoais, ele levava pra visitar, todo mundo, ele ia lá levar.
P/3- Mas figuras de projeção política?
R/1- Bom, o governador de lá ia sempre, né? Ia sempre que havia alguma inauguração desde a primeira fábrica, não desde a pedra fundamental, que era o Dr. Artur que era o governador, que era convidado e as autoridades locais também. Na ocasião da inauguração da fábrica aí foram mais autoridades, inclusive o presidente. Não me lembro quem era o presidente da época, 1978, não me lembro.
P/1- Geisel.
R/1- É, não me lembro. Só sei que sempre os presidentes foram convidados.Sei que na planta química quem foi, foi o Collor, isso eu me lembro bem. Olha isso aqui, isso é feito, Sr. Lorentzen mandou fazer com eucalipto, mandou o joalheiro espanhol, que trabalha, lá do Leblon, agora não me lembro o nome. Mandou fazer com eucalipto e uma pedra aqui.
P/1- Que lindo. E aí ele presenteou?
R/1- Presenteou, presenteou várias pessoas, eu inclusive ganhei.
P/1- Ai que lindo.
P/2. Dona Conceição, a senhora falou, assim, da fábrica. Havia muita visita do Conselho ao canteiro de obras, mas a Aracruz estava sediada no Rio de Janeiro. Como era o dia-a-dia do pessoal da Aracruz aqui no Rio de Janeiro, no escritório. Descreva pra gente como era o trabalho aqui no Rio de Janeiro.
R/1- O trabalho era aqui, mas com olhos lá, né? Sempre com os olhos lá, acompanhando a obra. E o diretor presidente que era o Dr. Ciro, ele que realizou o projeto, né, foi a pessoa responsável pela realização, ele estava sempre lá no Espírito Santo. Aí depois, quando a fábrica ficou pronta, já o setor, o diretor de pessoal, o diretor administrativo foi transferido pra lá. O diretor industrial sempre ficou lá, depois da fábrica inaugurada. Algumas diretorias. E os daqui iam sempre lá, estavam sempre se mudando. Sempre indo lá, ficando lá. Porque a casa de hóspedes já tinha porque tinha uma construção antiga lá, que eles reformaram então ali foi feita a casa de hóspedes.
P/3- A senhora lembra quantas pessoas trabalhavam aqui no Rio de Janeiro no período de construção da fábrica.
R/1- Olha, não me lembro, não me lembro. Eu sei que lá na fábrica, na construção, eram 10 mil funcionários diretos e indiretos, né? Agora aqui eu não sei se tinha 150, isso eu estou mais ao menos chutando, porque eu não me lembro agora, não.
P/3- Onde era a sede?
R/1- Primeiro era lá na Lapa, na Augusto Severo, onde era o Grupo Lorentzen, e é atualmente o grupo Lorentzen, ainda é. Depois mudou pro Rio Sul.
P/3- Tinha quantos andares.
R/1- Lá no Rio Sul? No Rio Sul eram dois andares, agora tem um só porque agora já não precisa de tanta gente aqui.
P/1- A senhora fala assim: “a gente ficava aqui, mas com o olho lá”, né? Como é que esse sistema de comunicações entre o escritório aqui e a fábrica lá...
R/1- É, ou era fax, na maioria das vezes fax, porque a internet ainda não era desenvolvida assim. E telefone, né? E também visitas. Os diretores estavam constantemente indo lá.
P/1- Mas aí demorava, um telefonema demorava, como é que era essa...?
R/1- Não, sempre era mais precário, né, mas usava-se muito fax... Telex...
P/1- Ah! (risos)
R/1- ...naquela época. Telex, desculpa. Porque eu estou pensando em fax, mas era telex.
P/1- Na época. Como é que funcionava o telex, descreve pra gente.
R/1- O operador, operador, você levava a mensagem pra lá, operador, passava.
P/1- E aí demorava quanto tempo pra chegar?
R/1- A demora, não era tão demorado assim, porque o telex não era. Mas o operador tinha digitar aquilo tudo outra vez. Sofria, né?
P/1- Com certeza.
R/1-Você já levava datilografado, porque não era digitado. Você já levava assim e ele ainda tinha que repassar aquilo.
P/1- Mudou muito, né?
R/1- É mudou. Como mudou, não é? Hoje com internet é tudo mais rápido, né? Fax e tudo.
P/1- Sr. Lorentzen não usa internet?
R/1- Ah, ele diz que aquilo perturba o pensamento dele, o barulho do internet. Ele tinha, eu não sei se agora ele voltou a ter, mas ele tinha um, um computador na sala dele. Depois um dia, ele disse assim: “Dona Conceição, isso está me incomodando, eu não estou conseguindo pensar, tira da minha sala.”
P/1- (risos)
R/1- Eu falei: “mas é tão interessante. “Não, mas está barulhento.” Aí eu pedi pra trocar por um que não fosse barulhento, trocaram, depois foi ficando lá.
P/1- (risos). E, me fala, a senhora conheceu a esposa dele, a Princesa Ragenhild?
R/1- Sim. Ragenhild é. Naquelas fotos dos meus 25 anos de trabalho com ele tem o retrato dela.
P/1- Quando que a senhora conheceu, a senhora lembra?
R/1- Não, ela sempre ia ao escritório, visitava, era uma pessoa muito simples.
P/1- Porque é interessante que o pessoal se refere a ela como a princesa.
R/1- É, porque ela é princesa. Ela é filha do rei, né? Que faleceu, agora o rei é o irmão dela.
P/1- Mas nunca como coisa esquisita assim, não?
R/1- Não ela é muito simples, mas muito mesmo. Ela, quando ela liga, assim, ela não diz que é a princesa, ela diz é a Senhora Lorentzen. Não faz muita questão de títulos, não.
P/1- (risos) Jóia. E me fala uma coisa, quando... a senhora falou muito do lançamento da pedra fundamental, né? Então descreve pra gente como foi a inauguração da fábrica, mesmo, da primeira unidade de... A senhora estava falando que foi uma emoção muito grande, também.
R/1- Foi uma emoção, foi uma emoção muito grande porque é como você ver um filho crescer, nascer e crescer. Foi muito, foi emoção muito grande. Autoridades. Foi preparado tudo com muito, muito cuidado. Foi realmente um espetáculo bonito. Eu acho que a emoção da inauguração da fábrica foi. Mas a minha pessoal emoção foi quando eu vi, acompanhei entrar toras de um lado e fui acompanhando até ver sair fardos do outro lado. Isso, eu acho que pra mim, foi a maior emoção. Porque você entra aquelas toras enormes e vão quebrando, vão diluindo no líquido, vão branqueando. E no final, os fardos prontos pra importar, pra exportar, aliás. Pra mim, pessoalmente, foi essa a maior emoção.
P/1- E não dava medo de andar na fábrica? Era barulhento?
R/1- Não. Não. Barulhento é.
P/1- É, né?
R/1- E no início tinha um pouco de cheiro forte. Agora ainda tem, mas tem bem menos. Isso foi motivo de muita grita lá no Espírito Santo. Aquele cheiro. Mas aí foram instalados filtros especiais e acho que agora está bem, bem razoável.
P/1-Nossa, é mesmo. E aí já tinha o porto para exportação, já estava...?
R/1- Estava ao mesmo tempo que eles estavam construindo a fábrica, eles estavam também fazendo dragagem, ajeitando o porto pra sair a carga de lá, né?
P/1- E aí já começou a, também, armazenar e já preparar pra...
R/1- Que era tudo feito ao mesmo tempo. A fábrica, o porto e o bairro, o Coqueiral.
P/1- Tinha, eu não se ... Tinha algum programa de lazer pra esses funcionários que estavam se mudando, pra esse bairro novo, alguma coisa? Tinha o clube, né, que a senhora falou.
R/1- Tinha o clube. O clube era, tinha muita, eles chamavam cantores pra ir lá, faziam festas, faziam danças. Eles tinham bastante recreação. E depois aquilo ali, você só ir à praia ali, você caminha, você faz esporte, já é um lazer bom.
P/1- É, né?
P/2- Chegou a ir à praia lá?
R/1- Não, à praia não. Caminhei por lá. Mas a gente ia com muita, uma programação tão intensa que não dava tempo pra ir à praia. Só ficava fazendo um pouco de caminhada, quando dava. Porque você acordava cedo e saia lá, ia lá pra acompanhar o Conselho nas visitas ou então acompanhar a reunião.
P/1- Me fala uma coisa, uma coisa que eu não consegui ver ainda escrito. Por quê que a fábrica tem o nome da cidade?
R/1- Eu não sei não. Não sei por quê. Mas eu acho que deve ser por causa, pra prestigiar a cidade. Eu não sei por quê que foi escolhido o mesmo nome, mas deve ser por isso. Porque está localizada na cidade, né, então eles deram o nome de Aracruz Celulose.
P/1- É porque eu não encontrei ninguém nem que falasse isso, também. (risos)
R/1- Não, eu suponho que isso. Ninguém foi, não foi assim muito claro, não. Mas deve ser para prestigiar a cidade, que acolheu a fábrica, e tudo. Se beneficiou também, mas acolheu.
P/1- Tá. A senhora lembra de mais algum causo engraçado, assim que a senhora...
R/1- (risos)
P/1- Tem muitos.
R/1- Tem muitos, assim, às vezes não me ocorre tanto.
P/1- Mas tem um assim pitoresco
R/1- Não, pitoresco, às vezes, a gente tinha que tratar aqueles conselheiros como bebês, né? Fazia as coisas pra eles. Uns ficavam na casa de hóspedes, outros ficavam lá no hotel, no bendito hotel. Depois foi construído outro hotel, aquele foi só o início. E nada assim não, às vezes, eles parecem crianças, viu? Dependem, assim, da gente de tudo. Ou dependiam, não sei como estão agora. (risos)
P/1- (risos) Mas a senhora tem assim uma coisa pitoresca que aconteceu, que a senhora contou da canoa, de chegar lá de canoa...
R/1- É. Aquilo ali foi muito interessante. E a gente, às vezes, ia comer em Nova Almeida pra comer lagosta e aqueles pratos lá do Espírito Santo, muito bons. E às vezes, também... não isso eu não vou contar.
P/1- (risos) Fique à vontade.
R/1- Não, não, não. Às vezes, vamos dizer assim, ocorriam algumas paqueras. (risos)
P/1- (risos)
R/1- Mas eu era casada _______. Depois eu me separei, mas mesmo assim não, as paqueras não aconteciam, não. Aconteciam, mas não eram recebidas não.
P/1- Porque era mais a senhora e a Dona Amélia de mulher.
R/1- Eu ia como assistente do presidente do Conselho, ia atendendo ao Conselho e a Amélia como secretária do presidente da empresa. Que ele é que organizava as visitas, ele que explicava tudo, o andamento das obras, e mesmo depois da obra feita, como estava indo a fábrica. Ele que fazia e as reuniões do conselho ele que fazia toda a explicação da situação. Tanto que as atas iniciais não eram atas, eram relatórios de 20 páginas, porque tinha que falar tudo o que ele dizia. Depois é que a gente foi reduzindo até o ponto de ser ata.
P/1- E esse material está onde? Está aqui ou está lá no Espírito Santo?
R/1- Não, eu acho que agora já está no Espírito Santo. Estava aqui, no setor jurídico da empresa. E estava mesmo no setor da Presidência do Conselho, até pouco antes de eu mudar a minha situação, mas eles fizeram cedoc lá na fábrica e essa documentação está toda lá. E o que é, vamos dizer o que é lavrado em ata, está com jurídico, né?
P/1- É um documento importantíssimo, né?
R/1-É.
P/1- Quer perguntar?
P/2- E esse material que a senhora testemunhou aí, nessas reuniões do Conselho, na opinião da senhora, o que que a senhora acha que deu certo? A maior parte das coisas que foram decididas ali chegaram, realmente, a se concretizar ou não? Muita coisa parou no meio do caminho ou não, a maior parte...
R/1- Não, eu acho que a maior parte foi realizada. Era muito difícil alguma coisa que estivesse sendo planejada e que o Conselho achasse viável, é muito difícil alguma coisa não ser realizada. De um modo geral era.
P/3- E desse material que a senhora estava lá documentando o que foi mais estranho, pra senhora, ver ao vivo? Do papel e encontrar frente a frente, assim.
R/1- Olha, eu acho que tudo ali é fantástico. Mas aquela fábrica e depois você olhar lá de cima e ver aquele complexo fantástico. Eu sou fã da fábrica, pode se perceber, né? Mas eu acho que tudo ali é muito bonito. Depois disso, olha, você veja, já teve a planta de químico, depois a segunda unidade e agora já tem a terceira unidade. Porque quando inaugura uma unidade o Sr. Lorentzen já fica imaginando uma segunda e uma terceira. E ele quando foi feita uma... a primeira fábrica, ele com os diretores fizeram uma aposta em quanto tempo seria inaugurada a segunda. Eu não me lembro quem ganhou da aposta. Eu fiquei com ele algum tempo, alguém ganhou, não foi o Sr. Lorentzen não. Foi um outro diretor que ganhou, no palpite de quantos anos levaria pra construção da segunda.
P/3- Havia muito esse tipo de brincadeira entre os diretores?
R/1- Ah, havia.
P/3- Tem outro exemplo que a senhora lembre, assim de... ?
R/1- Não, não me lembro agora assim, especialmente, não. Me lembro da aposta.
P/1- (risos) E que que a pessoa levou na aposta?
R/1- Não, não levou nada, foi só pra saber quem que estaria acertando na data.
P/1- Interessante.
R/1- Ele escreveu, ele botou fulano, tantos anos, fulano, sicrano tantos anos. E um deles ganhou, que eu não ,e lembro agora quem.
P/1- Mas a precisão do Sr. Lorentzen era otimista, assim?
R/1- Era otimista.Sempre ele é bem otimista, sempre.
P/1- (risos) Deixa eu ver aqui. É, a senhora falou assim: “quando a gente via lá de cima.” Lá em cima da onde, assim?
R/1- Lá de cima, por exemplo, na construção da fábrica, a gente via lá de cima dos andares da fábrica. E depois, quando a gente vem de avião, agora é de helicóptero, por exemplo, na inauguração da terceira unidade, nós fomos de avião e o avião pousou lá. Então você vê aquilo, é fantástico! Vocês foram lá e vocês viram, né, eu não estou exagerando
P/1- (risos) Mas acho que a visão que a senhora tem de cima, realmente...
R/1- É, nós vimos por quê? O avião sobrevoou e pousou lá, eles puseram agora... naquela época o aeroporto era um projeto. Esse não se materializou naquela época. Não sei por quê, eles desistiram. Esse foi um projeto, agora me lembrei. Foi um projeto que tinha desde o início para que mão tivesse o trabalho de saltar em Vitória e ir pra lá. Mas acabou não dando certo, não sei por quê, eles desistiram. E nessa inauguração da terceira unidade, já tinha um pouso lá.
P/1- E aí dá pra vislumbrar a fábrica. Chegando de avião, como que a senhora percebe que está chegando perto ali, o que que a senhora vê primeiro, as florestas?
R/1- As florestas.
P/1- O mar perto, descreve como é que é, descreve.
R/1- Ah sim, você vem contornando a costa, e você vê o mar. Depois você vê a floresta, depois mais, anda um pouquinho,né, sobrevoa um pouco e vem a fábrica. Vocês foram pra lá como? Vocês pararam onde?
P/1- De carro. A gente desceu em Vitória e fomos de carro.
R/1- Param em Vitória, né? Na inauguração tinha o pouso, agora não sei se aquilo vai ser uma constante ou se só foi pra inauguração.
P/3- O aeródromo... está funcionando.
R/1- Aeródromo, né? Na minha época ainda não tinha, não.
P/1- Bom, e assim, dentro do trabalho da senhora, o que que a senhora colocaria como sendo importante, assim, pra estar, vamos dizer, fazendo parte desse crescimento, dessa implantação e crescimento da Aracruz, dentro da carreira da senhora?
R/1- Olha, eu acompanhei esse crescimento todo, isso pra mim foi muito importante. Me senti também realizando alguma coisa. Acompanhar isso tudo desde a floresta, até crescimento, que eu estive, até enquanto estive lá, pra mim foi muito enriquecedor.
P/1- E a... desculpa.
P/3- A senhora se sente mãe da Aracruz?
R/1- A eu acho, sinto um pouco mãe. (risos)
P/1- (risos) Então vamos voltar um pouco, como que a senhora conseguiu conciliar vida pessoal e...
R/1- Não foi fácil, não foi fácil porque havia dias da gente sair muito tarde. Eu conheci meu ex-marido lá na Gasbras. Eu entrei em 1955 na Gasbras e na festa de Natal daquele ano, eu entrei em novembro, 1o de novembro. Na festa de Natal daquele ano, eu fui à festa na filial e conheci meu ex-marido. Ali já foi namoro, noivado, casamento. E os meus filhos nasceram, depois, eu já estava trabalhando lá.
P/1- E como era conciliar?
R/1- Conciliar, não, conciliar foi difícil, foi difícil porque... Inclusive eu trabalhava com sr. Lorentzen e tinha a parte de navegação que os irmãos participavam. Naquela época, transportes de café, existiam as terceiras bandeiras, que no caso eram as dele, porque não eram bandeiras nem brasileiras, nem americanas, eram norueguesas. Então existiam aquelas crises todas, aí os irmãos vinham, a gente ficava reunido até tarde. Saía do escritório, às vezes, 10 horas, os meninos estavam dormindo. De manhã, quando eu acordava pra ir trabalhar eu conseguia vê-los um pouquinho. Mas eu tive a ajuda da minha mãe, porque senão não teria sido possível.
P/1- Ela morava com a senhora?
R/1- Não, mas é... Eu morava em Copacabana, ela morava em Laranjeiras. Quando a minha segunda filha, quer dizer, eu tenho dois, um casal. Quando minha segunda filha nasceu, então eu tinha que mudar, o apartamento já estava pequeno. Então, eu disse pra ela: “é melhor a senhora arranjar um apartamento aí próximo pra mim.” Porque ela tinha a incumbência de todo dia ir lá em casa ficar com o mais velho, né, que ele tinha nascido. Aí depois quando nasceu o segundo filho não deu. Eu mudei pra perto dela e ela ficou olhando os meninos pra mim.
P/1- Quantos filhos a senhora tem?
R/1- Dois, um casal.
P/1- Um casal. Como que eles chamam?
R/1- Carlos Roberto e Leila.
P/1- O Carlos estudou o quê? No que ele trabalha?
R/1- O meu filho é químico, é engenheiro químico e químico. Tem doutorado, tem mestrado, tem doutorado e trabalha na Universidade de Princeton nos Estados Unidos. E a minha filha, ela ficou mais acompanhando a mãe, como... secretariando e trabalha numa ONG, Instituto Bioatlântica.
P/1- Essa ONG é voltada pra quê?
R/1- É para conservação da Mata Atlântica.
P/1- Agora, fazer uma pergunta, a senhora gostaria que eles tivessem trabalhado ou que trabalhassem na Aracruz?
R/1- Não, porque o meu filho sempre trabalhou, antes de ir pra lá, na Petrobrás. No Cenpes, o Centro de Pesquisa.
P/1- No Centro?
R/1- É. Depois, ele fez doutorado lá, voltou, ficou três anos aqui, aí surgiu uma oferta pra ele ir pra lá pra Universidade de Princeton. Ele foi pra lá, está lá. Quer dizer, eu não vejo... A minha filha trabalhou comigo um pouco. Porque ela era bailarina e professora de balé. Aí casou, engravidou, não podia continuar e se sentia infeliz por ficar em casa, fazendo nada. Quer dizer, fazendo nada, tomando conta da casa. Aí eu consegui com Sr. Lorentzen que ela fosse pra lá pra me ajudar e aprender. Mas não pensei que ela fosse continuar. Aí depois ela disse assim: “ah, não; professora de balé não dá dinheiro não, e bailarina também não dá dinheiro, quero continuar.” E continuou.
P/3- Eles visitavam a Aracruz, quando eram crianças?
R/1- Não. Não. Eu sempre ia a serviço, né? A Leila visitou, mas não assim. Foi num grupo, que foi realizado um grupo pras pessoas visitarem, conhecerem, aí ela foi. Mas não... Quando eu ia não dava, era trabalho o tempo todo.
P/1- Chegando mais um pouquinho na parte mais atual, a senhora tem conhecimento de alguns dos projetos sociais que a Aracruz desenvolve? A recuperação do mosteiro, a senhora acompanhou um pouco isso?
R/1- Isso não acompanhei, não. Isso não. Isso é uma coisa mais recente, né?
P/1- É, é. É bem recente. Então, vamos lá, como foi o processo de aposentadoria. A senhora ia se aposentar...
R/1- Não, eu primeiro me aposentei e continuei trabalhando. Eu saí da empresa um dia e entrei no outro. Porque naquela época você não podia permanecer no trabalho. Então saí de manhã e voltei de tarde, foi um negócio assim, _________ pelo outro. E não podia, então eu fiz isso, me aposentei e fiquei, nas duas empresas. Porque eu era funcionária das duas empresas, do Grupo Lorentzen e da Aracruz. Comecei no Grupo Lorentzen, depois entrei, também na Aracruz e fiquei fazendo as duas coisas. Houve uma época...
P/1- Ah, eram as duas ao mesmo tempo?
R/1- Eram as duas. Houve uma época, quando a Aracruz mudou pra Rio Sul, aí Seu Lorentzen assim: “e como é que nós vamos fazer?” Aí ele falou: “o jeito é a senhora vir pra cá e daqui, quando eu for pra lá, vai pra lá.” Eu acompanhava, fiquei muito tempo assim, mas não era muito produtivo.
P/1- Tinha que pegar carro, sair...
R/1- Ah, é. Tinha que ir pra lá. Quando você estava esquentando aí tinha que fechar tudo pra ir pra lá. Aí, foi, chegou a conclusão que realmente, eu concordei plenamente, estava me cansando aquilo. Você uma hora, meio dia num, meio dia no outro. Aí ele modificou as coisas, embora eu tenha continuado como funcionário do Grupo Lorentzen, mas fiquei baseada mais na Aracruz.
P/1- Ah, agora que eu entendi.
R/1- E entrou uma secretária, que fica no Grupo Lorentzen.
P/1- Ah, tá. Agora que eu entendi. (risos). E, vamos lá...
P/3- Quando é que a senhora começou a trabalhar em casa?
R/1- Em 1996.
P/3- Como foi essa experiência? A senhora sempre na luta, na rua e agora...
R/1- Não, é porque, também antes, fazendo parte da fundação, eu tinha direito a um complemento, mas quando chegou uma época em que a companhia já não depositava mais a parte dela pra mim, porque a idade chegou, também, aqui pra mim. Então eu vi que o meu saldo era muito alto. Eu já estava aposentada. Isso foi, você diz aposentadoria definitiva, né? Mas aposentadoria pelo INSS eu já tinha. Então eu vi que o meu saldo era alto e se me acontecesse alguma coisa, os meus filhos não teriam direito. Aí, eu falei com o Sr. Lorentzen: “o que que eu faço? Se eu tirar esse dinheiro, quando eu me aposentar eu não tenho rendimento, quer dizer parar do escritório, eu não tenho rendimento, como é que eu vou fazer.” Ele disse: “não, pode fazer porque depois a gente dá um jeito.” Vamos ver, tudo bem. Aí eu tirei aquele fundo todo. Primeiro eu falei com o diretor responsável, ele me aconselhou a passar pra um segundo plano, que era desses que você podia sacar o dinheiro. Eu saquei e usei o dinheiro e continuei trabalhando, já, ainda no escritório, mas trabalhando como prestadora, na Aracruz. Na outra eu continuei como funcionária, lá na Lorentzen eu só parei, quando realmente eu parei de ir ao escritório. Aí sim, eu continuo como prestadora de serviço.
P/1- Mas agora direto com Lorentzen
R/1- Direto como o Grupo Lorentzen, com a Aracruz foi até 2001.
P/1- 2001. E a senhora falou que ele tem um ritmo de trabalho, toda manhã ele manda um tape...
R/1- Tem, ele manda um tape. Ele mora no Leblon, eu moro em Ipanema. Então ele manda o motorista da princesa, vai e me leva o tape, aquele tape é sagrado eu fazer de manhã.
P/1- Mas que que tem nesse tape? São cartas?
R/1- Carta. E é tudo assim, eu quero fazer isso, eu quero telefonar pra fulano, eu quero comprar não sei o quê, sabe como é? E manda recado para uma _____ outra secretária. E também correspondência. Aí eu faço aquilo e separo o que tem que separar, mando lá pro escritório.
P/1- E o filho dele? Trabalha com ele?
R/1- Trabalha. Trabalha no Grupo Lorentzen, é o vice-presidente.
P/1- É o vice-presidente. E a senhora continua cuidando da agenda do Sr. Lorentzen?
R/1- Não, a agenda do dia-a-dia, não.
P/1- Não.
R/1-Não. Eu faço a programação de viagem ao exterior.
P/1- E aí inclui o quê? Visita a museu, inclui tudo isso, não?
R/1- Ele tem os compromissos lá fora. Reservo os hotéis onde ele vai e os compromissos que ele tem lá fora, eu boto na agenda, boto na programação dele toda. A programação é bem detalhada.
P/1- É. Inclui o que assim?
R/1- Inclui, quando ele tem refeição, vamos dizer assim, almoço ou jantar de negócios e quando ele tem entrevistas, também.
P/1- Pra jornais, revistas?
R/1- Reuniões e tudo, tudo isso eu tenho que agendar.
P/1- São principalmente viagens de negócios, de trabalho.
R/1- De negócios, de negócios. Porque quando ele vai, por exemplo, de férias, eu só boto férias e ponho o vôo de ida e o de volta.
P/1- (risos) Você acha que está... Você quer fazer alguma pergunta?
R/1- Vocês já tiraram de mim mais do que eu pretendia falar.
P/1- (risos).
P/3- ___________ aqui só faltam 15 minutos
P/1- Bom. Então a gente vai encaminhar pro final. Tem alguma coisa sobre a Aracruz que a senhora acha ficou faltando, assim pra complementar, que é importante estar registrando pra história da Aracruz?
R/1- Não, acho que não. Acho que não, tanto quanto eu posso lembrar e que a mente ainda não apagou. Muita coisa já apagou.
P/1- Então, vamos lá, pra gente encaminhar pro final, Dona Conceição. Se a senhora fosse mudar alguma coisa, ter um sonho diferente, qu que a senhora faria, a senhora mudaria alguma coisa?
R/1- Você diz se eu seguiria a mesma carreira?
P/1- É, se a senhora faria alguma coisa diferente.
R/1- Não, a única coisa que eu tenho, assim, um pontinho de frustração é de não ter continuado com o meu piano. A isso aí pra mim foi uma frustração.
P/1- A senhora toca hoje?
R/1- Não, eu fechei o piano porque eu fiquei com raiva da maestrina da escola de música, que eu fui pedir a ela pra ela me facilitar. Que eu tinha todos os cursos que eu pude fazer antes, eu fiz antes de trabalhar fora. Eu fiz, fui nota máxima em tudo. Tanto coral, acompanhamento, história da música, acústica aplicada à música, enfim, todos. Mas eu tinha que fazer o terceiro de harmonia e primeiro ano de composição junto com o sétimo de piano. Acontece que o sétimo de piano eu já fiz trabalhando, eu não tinha uma aula que fosse no meu horário, que coubesse dentro do meu horário. Um dia eu tinha uma pessoa que marcou hora 5 e meia, vamos dizer. Eu trabalhava na rua, na Texaco, que era Rua do Passeio, pertinho da escola de música. Aí eu disse: “ótimo.” Quando cheguei lá, no primeiro dia, cheguei lá: “mas não é aula do professor tal.”. “Ah, o professor tal faleceu.” Eu digo: “ah, meu Deus do céu, então não tem mesmo que continuar.” Aí eu falava com a minha professora e ela dizia: “não, você faz o seguinte: continua, mas não presta o exame, chega no final você não aparece pra fazer o exame.” E assim eu fiz dois anos, no terceiro ano eu fui pedir à maestrina pra ela me liberar da frequência e eu só iria uma vez por mês pras provas. Aí, ela olhou pra mim, disse: “ó minha filha, quem não pode estudar piano, não estuda.”Falei: “Está, bom.” Aí eu fiquei tão frustrada, falei com a minha professora: “vou parar, vou parar.” Naquela época a gente não sabia nem se existia trancamento de matrícula, não sabia, eu acho que nem existia isso. Eu simplesmente abandonei 7 anos de piano.
P/1- Nossa.
R/1- Esse aí, se eu tivesse um pouco mais de experiência, eu poderia tentar fazer as duas coisas. Porque trabalhar eu precisava, né? Mas naquela época eu fiquei frustrada e acabei fechando o piano.
P/1- É difícil conciliar tudo, né?
R/1- É muito difícil. Mesmo porque no estágio em que eu estava, eu tinha que estudar umas 8 horas por dia. Eu não tinha condições de estudar, eu estudava de noite. Ou, então, de manhã cedo, botava o piano na surdina e estudava, mas não é a mesma coisa, né?
P/1- A senhora estudava em casa?
R/1- Em casa.
P/1- Pra não acordar a casa inteira.
R/1- É pra... e os vizinhos, também, morando em apartamento. Então eu botava o piano na surdina, sempre abafa bastante. Essa é a única coisa que eu mudaria, se eu pudesse voltar atrás e ter continuado num ritmo menor, talvez, não sei.
P/1- E, dentro do trabalho da senhora na Aracruz ,que que a senhora coloca como sendo uma lição importante que a senhora tenha tirado desse tempo todo na Aracruz, que a senhora tem pra sua vida?
R/1- Eu vou dizer uma coisa, meu desenvolvimento profissional foi todo lá. Porque eu tive pouco mais de 2 anos num outro emprego, depois fui pra lá. Eu digo dentro do Grupo Lorentzen e depois Aracruz, né? Então tudo pra mim foi aprendizado. Eu estava muito, vamos dizer, eu tinha teoria, mas eu não tinha prática. Foi lá que eu adquiri prática e vivência.
P/1- Com certeza. E a última pergunta agora, pra gente finalizar. Que que a senhora acha da Aracruz estar fazendo o Projeto Memória, né? E da senhora ter sido chamada pra dar essa entrevista, falar da senhora, da experiência da senhora?
R/1- Olha, eu me senti muito honrada. Porque sempre eu falava com ele, com o Seu Lorentzen: “Seu Lorentzen, pelo amor de Deus, ninguém está sabendo o sacrifício que o senhor fez, no futuro ninguém vai saber o que que o senhor fez aí, porquê que Aracruz existe.” Eu sempre falava com ele. Ele até sempre escrevia umas coisas, assim, fazia uns resumos, e dizia assim: “põe na pasta do meu livro.” Que um dia ele pretendia escrever um livro. Eu falei, mas é preciso que as pessoas saibam como a Aracruz nasceu e cresceu. Aí foi agora, isso aí está fazendo falta. Eu, Amélia e outras pessoas sempre nos batíamos com isso. Porque isso é super importante, ter o registro da memória da empresa. E pra isso me senti honrada de ter sido chamada pra contribuir um pouquinho.
P/1- (risos) Está jóia. Tem alguma pergunta?
R/1- Obrigada a vocês.
P/1-Também queria agradecer a senhora, a colaboração foi importantíssima. Assim, uma visão completamente diferente pra gente
R/1- Vocês já devem ter notado que eu tenho uma admiração muito grande pelo Seu Lorentzen porque eu trabalhando assim tão perto, eu aprendi a conhecê-lo bem, né?
P/1- E daquela época, quando a senhora falava, ele já tinha a ideia de escrever um livro de memórias?
R/1- Já, já tinha, mas aí foi passando o tempo e... Uma vez eu falei com o Zé Antônio lá da fábrica, que eu conheço, também, desde garoto. Eu disse: “mas Zé Antônio não vai fazer um livro?” Aí ele começou a trabalhar, também lá na fábrica pra fazer alguma coisa.
P/1- Agora.
R/1- Agora está andando, né?
P/1- (risos) Está jóia. Obrigada, Dona Conceição.
R/1- Obrigada, hein. Obrigada a vocês.
[Fim da Entrevista]
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