P/1 – O senhor pode começar falando o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Meu nome é Alexandre Takara, sou natural de Promissão, uma cidade do interior do estado de São Paulo, entre Bauru e Araçatuba. Nasci em 04 de julho de 1931. Portanto, vou fazer 82 anos. Garotão, hein?! .
P/1 – Seus pais são de Promissão?
R – Não. Eles são japoneses, da província de Okinawa, a mais meridional das províncias japonesas. Eles vieram para o Brasil em 1917 e é bom a gente fazer essa correlação: o Japão estava em uma crise econômica muito grande, particularmente Okinawa. Não havia alimentos suficientes para abastecer aquelas famílias todas. Então a saída era a emigração para outro pais. Naquela época, o Brasil se apresentava como uma alternativa mais interessante. Então vieram japoneses para cá, onde o primeiro navio que chegou foi o Kasato Maru, em 1908. A maior parte dos viajantes, cerca de 40 por cento eram de Okinawa.
P/1 – Seus pais já vieram casados do Japão?
R – Sim. Eles casaram-se lá e quatro dias depois do casamento, vieram para o Brasil. Ficaram e lua de mel até a morte. .
P/1 – Seus avós paternos e maternos são de Okinawa?
R – São.
P/1 – Você sabe o que eles faziam?
R – Os dois lados da família eram agricultores. O meu avô materno era um homem bastante rico. Ele tinha meio alqueire de terra que, pelo padrão de lá, era uma fortuna! Então tinha uma riqueza imensa. Porém havia uma desvantagem: as terras de lá são pobres, muitas vezes não se prestam para a agricultura. Isso da família Uehara, sobrenome da minha mãe. E meu pai, Takara, era de uma família mais pobre. Agora, é bom a gente considerar o seguinte, Rosana: os Okinawanos tinham alto sentido de território. As famílias que moram lá na região, moram lá por séculos! A família Uehara, da minha mãe, morava lá naquela mesma rua, por mais de cem anos. Hoje, por mais de duzentos anos. A família Takara a mesma coisa. Eles eram vizinhos.
P/1 – Como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – Eles cresceram juntos, desde a infância. Meu pai nasceu em 1898 e minha mãe em 1900, portanto dois anos de idade (diferença). Quando nascia uma mulher, existia aquele casamento por combinação familiar. A família do meu pai pediu a minha mãe, ainda criança de berço, para casar-se com meu pai. Então vínculos familiares permanecem até hoje. A grande característica da cultura Okinawana é essa: eles têm apego muito grande ao território e a comunidade. Existe uma outra, que para entender é preciso associar família e religião: a comunidade tem o habito de fazer o culto aos mortos. Eles tem alguns ritos que revelam isso. Aqui no Brasil, existem alguns cemitérios coletivos, que são da cidade. Lá não. No passado, os cemitérios eram familiares, construídos no fundo do terreiro, ou nas regiões mais distantes, no meio do mato. É uma sepultura clãnica. Todos os descendentes takara, por exemplo, estão em uma sepultura clãnica. É onde são sepultados todos os familiares da mesma linhagem. Além de cultuar os mortos, os Okinawanos consideram que mesmo após a morte, há uma relação entre os vivos e os mortos. A cultura grega antiga também era assim. No dia dos mortos no Japão, não me lembro se é em março ou abril, há uma grande cerimônia aos mortos. Eles acreditam que os espíritos dos familiares vão para lá e fazem uma festa, no encontro de ambos. Aqui no Brasil existem religiões hierarquizadas. A religião é exterior a nós. A hierarquia é exterior a nós. Na igreja católica, por exemplo há papas, cardeais, arcebispos, bispos, e assim sucessivamente, onde deve-se obediência a esta hierarquia. Lá não. Temos este culto aos antepassados reconhecendo que os mortos, após um tempo, são tidos como deuses. Os deuses então estão vinculados a nossa subjetividade, e o respeito é muito grande. As famílias japonesas fazem o culto aos antepassados e possuem um vinculo muito grande com a religião. E como lá a religião é comunitária, todas as famílias se conhecem.
P/1 – E foi assim que seus pais se conheceram?
R – Foi assim.
P/1 – Você sabe como foi o casamento deles lá?
R – Eu só sei que foi uma festa maravilhosa. Os Okinawanos tem uma característica básica: a festa. A festa faz parte do DNA deles. Qualquer motivo, é motivo de festa. O nosso interesse é comensalidade. Isso é, nos reunimos sempre para comemorar, tudo regado a comida, bebida, etc, etc. Quando meus pais se casaram foi uma festa comunitária bastante grande. Quatro dias depois eles pegaram o navio e vieram para o Brasil.
P/1 – Eles já tinham algum parente aqui no Brasil?
R – Não, foram os primeiros a chegar. Naquele tempo vinha o casal e um partente, como acompanhante – cliente, como a gente fala na tradição brasileira. Meu pai trouxe a irmã dele. A antropóloga Ruth Cardoso chamou isso de “a terceira enxada”, porque eles sabiam que seriam destinados às fazendas de café aqui no Brasil.
P/1 – Ai eles chegaram aqui e foram para qual lugar?
R – Eles chegaram em 1917 ao porto de Santos. Pegaram o trem e chegaram na hospedaria dos imigrantes, que hoje é o museu do imigrante. Eles ficaram lá uma semana para regularizar os documentos e depois foram colocados com outras famílias Okinawanas. Meus pais ficaram na fazenda e aprenderam como amanhar a terra, como plantar e colher café. Assim familiarizados com a cafeicultura, meu pai, mesmo com dificuldades, conseguiu um dinheirinho.
P/1 – Eles vieram com dinheiro do Japão.
R – Não vieram não, foi uma dificuldade muito grande. Então eles aprenderam o amanho da terra, a plantação do café,conseguiram um dinheiro e se mudaram para Promissão.
P/1 – Porque Promissão?
R – Naquela época, da região noroeste do Brasil até Mato Grosso e Bolívia, era considerado a nova fronteira agrícola. Haviam florestas imensas, há perder de vista. Meus pais quando chegaram lá, em 1921, 1922, mais ou menos, eles tiveram que derrubar a floresta e plantaram café e tudo mais. É importante eu dizer para vocês que naquela época a região noroeste do Brasil, Bauru, Araçatuba, Campo Grande, era uma nova fronteira agrícola e estava toda para ser derrubada e se plantar café. Como era uma nova fronteira, haviam também tribos indígenas, chamada Kaingang. Eles moravam de Bauru, que era o limite da plantação, até as barrancas do rio Paraná. Meus pais compraram o sítio lá em promissão e tiveram que conviver com os índios.
P/1 – E no sítio morava seu pai, sua mãe e sua tia?
R – Isso. Nisso já tinha nascido a minha irmã mais velha, a Amélia. Mas como é a irmã mais velha, nós chamamos de nessan. Então, e eles conviveram com os índios Kaingang. E vejam vocês, os primeiros japoneses ao chegarem no Brasil vieram com um espírito pioneiro mesmo. E eu admiro todos os pioneiros! Que constroem civilizações, nos estados unidos, na áfrica e assim por diante. E os meu pais levaram a civilização para lá. E também naquela época os índios Kaingang, os índios estavam sendo domesticados, por influência do Marechal Candido Rondon. Ele é quem pacificou os índios na década de 1970, mas houve conflitos extremamente grandes.
P/1 – E houveram conflitos em Promissão?
R – Houve. Houveram conflitos entre os que iam para lá, chamados ‘brancos civilizados’ e o índios que resistiam. Porque a invasão dos civilizados significava perda de território dos índios. Quando houve construção da rodovia noroeste oeste do Brasil o meu pai conta que os índios mataram muitos do operários. Ao longo da rodovia haviam cruzes representado os mortos naquela região.
P/1 – E seu pai plantava o que lá em Promissão?
R – Começaram plantando café, que era o básico. Aquela região toda foi dominada por café. Eles tiveram que trabalhar, e bastante.
P/1 – Quanto tempo depois da sua irmã você nasceu?
R – Doze anos depois. A minha irmã nasceu em 1920, se não me engano.
P/1 – Depois dela veio algum outro irmão?
R – Vieram as minhas outras irmãs. Eu tenho seis irmãs.
P/1 – O senhor é o caçula?
R – Não, eu sou o quinto. Depois de mim vieram mais duas.
P/1 – O senhor nasceu na mesma casa em que seu pai morava, em Promissão?
R – Não. Ai é que está. Ai que eu gostaria de introduzir o novo caítulo da história da minha família e da colônia Okinawana. Meu pai estava satisfeito e, segundo depoimento dos amigos dele, ele foi um grande agricultor. Ele comprara o sítio e produzira café. E ai é que está a tragédia da minha família. Você sabe pela história que houve a queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O Brasil era o maior exportador de café, e os Estados Unidos o maior comprador. Com a crise, eles suspenderam a compra de café. Então houve um problema, pois a produção em São Paulo ia crescendo, a região estava cheia de cafeicultores. Em 1930, 1931, não me lembro bem, o Getúlio Vargas acabou decretando a queima de café. Era proibido plantar mais café e também não se podia mais armazenar café nas próprias fazendas. Os proprietários, entre eles o meu pai, levavam sacas e sacas para a cidade em carroças – naquele tempo não haviam muitos caminhões – e entregavam para as autoridades. O com isso o meu pai recebeu o que? Gasolina e fogo. Ele acabou colocando fogo no produto do trabalho dele. Dessa maneira ele naufragou e não conseguiu mais aprumar a vida. Nessa época nós morávamos no bairro Barreirinho, um bairro rural de Promissão. E com a perda do sítio eles mudaram para Promissão, a cidade. E foi aquele desespero. A colônia japonesa toda, aliás, todos os agricultores, perderam tudo. E então, o que os meus pais fizeram para sobreviver? Administraram uma pensão que havia na praça Primeiro de maio, no centro de Promissão. E quem eram os clientes deles? Os akinawanos. Eu tinha uns três, quatro anos nessa época.
P/1 – Então o seus pais foram os pioneiros em Promissão.
R – Na verdade não, porque o navio (Kasato Maru) chegou 1908, eles chegaram em 1917.
P/1 – E os Okinawanos vinham para cá fazer o que, já que não tinha mais café?
R – Vinham para cá para trabalhar na roça. Meus pais administraram a pensão, os clientes dele era Okinawanos e todos eles foram vitimas da queda da bolsa de Nova Iorque. Todos eles tiveram que entregar o produto do trabalho deles para o estado e, ao modo de meu pai, tiveram que atear fogo nas plantações.
P/1 – E o senhor nasceu nesta pensão?
R – Eu nasci no bairro Barreirinho. Quando o meu pai se mudou para lá, eu deveria estar com dois, três anos.
P/1 – E na pensão morava seus pais, suas irmãs, você e sua tia?
R – Isso.
P/1 – Como era a pensão? Você se lembra?
R – Lembro. Era bastante humilde. Havia um corredor, com cinco ou seis quartos assim, que voltavam para corredor. Lá no fundo havia a cozinha. Era uma situação muito precária. À vista que, eu me lembro bem que em minha casa, corria esgoto a céu aberto! . Era um problema sério.
P/1 – E você dividia o quarto com os seus irmãos?
R – Com os meus pais.
P/1 – Todos viviam em um quarto só par alugar os outros?
R – As minhas irmãs tinham um outro quarto, e eu dividia com os meus pais.
P/1 – E dos hospedes, você se lembra?
R – Eles ficavam naqueles quartos, inclusive na sala. Comiam lá, almoçavam lá, jantavam lá, e todos eles choramingando. Eu esto contando esta história da queima de café com detalhes porque eu era um garoto, com três quatro anos, que ouvia muitas dessas histórias dos Olinawanos. Muitos desses depoimentos se fixaram em minha memória.
P/1 – E do que o senhor brincava quando era pequeno?
R – Antes disso eu gostaria de falar uma coisa, se me permite. É....(pausa)...está mais ou menos vinculada essa a sua pergunta. Eric Hobsbawm, o grande historiador inglês, escreveu um livro, entre outros, chamado A Era dos Impérios, 1874 a 1914. Nesse livro, da página 14 a 19, ele introduziu um conceito muito importante chamado zona de penumbra. Zona de penumbra é aquela zona da nossa memória que se fixa na imagem mais antiga da nossa infância até uma determinada idade, que é esse período da minha infância em que eu estava na pensão. Então o que eu me lembro desse período?....
P/1 – Eu vou ajudando o senhor a perguntar, agora vamos falar um pouco sobre a vida do senhor mesmo. Vamos fazer a história da sua vida! . Do que vocês brincavam?
R – Tá bom . É que eu não sei desvincular a memória individual da memória coletiva.
P/1 – Não é pra desvincular mesmo. Está ótimo o depoimento do senhor.
R – Então, qual era a minha brincadeira? Meu pai fazia aquela ventarola, que meche quando bate o vento, o cata-vento. Outro também, meu pai era muito hábil, fazia aqueles brinquedos com duas colunas, a gente apertava e a figura acabava fazendo cambalhotas e tudo mais na frente da gente.
P/1 – Ele é quem fazia?
R – Era, trouxe isso tudo lá do Japão. E claro, jogava bolinha de gude também. Isso nos primeiros tempos. Meus pais foram muito felizes. Pena que a pensão não deu certo. Depois se mudaram para outra casa, lá na rua Lagosta, no centro. Nesse tempo eu já era crescidinho e comecei a formar a roda de amigos. E qual era o nosso brinquedo? Correr pelas ruas, soltar papagaios, pipas, futebol. E naquele tempo não existia bola como as de hoje. Os japoneses pegavam matavam porcos e nós pegávamos o estômago. Dávamos uma limpeza e deixávamos secar a luz do sol. Depois daquele dia formava aquela bola. Nossa bola era estômago de porco. . Eu era gordo, forte. Então gostava de lutar com os meus amigos. E como naquela época haviam os índios Kaingang, que também gostam de lutar, aprendi com eles a lutar.
P/1 – Vocês brincavam com os índios?
R – Não, tínhamos amigos índios. Então brincávamos assim. Outra coisa, eu era pequenininho e gostava de ir com os meus colegas ao rio dos Patos. Para mim era um rio imenso, isso com o olhar de crianças. Já casado, com cinquenta anos, eu visitei o rio dos Patos e que decepção. Era um riozinho! . Eu com seis anos entrei para a escola, para o grupo escolar. Eu fui mal a escola, porque lá na minha casa, nós falávamos o japonês, e não sabíamos falar o português. A falta de domínio da língua portuguesa levou-se a reprovação por três anos consecutivos no primeiro ano da vida escolar . Eu não dominava a língua portuguesa. Eu teria sido reprovado pela quarta vez se eu não tivesse usado de um expediente escuso. Ai foi a primeira origem da minha criminalidade.! Da minha deslealdade. . Naquela época, não sei se era assim pra você também, havia o boletim, onde a professora colocava a nota e o pai era obrigado a assinar. Por fim, ao final daquele ano, em 1927, 1928, não me lembro bem, lá pelo mês de outubro, eu não entreguei o boletim. Não entreguei e a professora não reparou na ausência do meu boletim. Quando chegou o mês de janeiro, eu precisava me matricular, só que o boletim não estava escrito notas, aprovação, nem nada. Sabe o que eu fiz? Eu coloquei uma nota mínima para eu passar de ano, e falsifiquei a nota da professora e da diretora. E fui me matricular numa outra escola, em um bairro distante . Fui como aluno transferido para outra escola . A história contata hoje eu acho graça, mas na época foi um drama, viu. E como eu ia mal, eu detestava a escola. Como eu detestava os meus colegas. Eles me gozavam e eu já estava com uma baixo auto estima. E ninguém suporta baixo auto estima. Ainda no primeiro ano escolar eu saia da minha casa para o grupo escolar. Mas para chegar lá, precisava passar pela rodovia leste oeste do Brasil, onde a locomotiva parava. E eu então pulava no vagão, o trem ia no sentido de Penápolis, Araçoiaba, Araçatuba, e alguns quilômetros depois, no vale do rio dos patos e, imagine você, eu pulava do trem em movimento e ia banhar-me no rio dos patos, por todo período das aulas. No fim da tarde, lá por cinco, cinco e pouquinho, vinha o trem carregar no sentido contrário, de volta para Promissão. Eu, garoto de sete anos, pulava de voltava e retornava para a cidade. Eu fazia descompensação psicologia. Já que ia mal na escola, ia lá para fantasiar, foi uma forma de sobrevida diante daquele drama de minha infância.
P/1 – E na casa, quais hábitos de Okinawa eram presentes?
R – Tudo. Tudo era presente. A obediência, o respeito aos mais velhos. Agora eu, o único filho homem, era muito valorizado, pois era força de trabalho. Ele que sustentaria a família e cuidaria dos pais quando velhos. Acontece que naqueles tempo os pais dava muita importância e atenção aos homens. Era tanta superproteção que acabei me tornando o tirano da família. E ninguém mais me segurava, tanta era a frustração. Então eu desobedecia os meus pais, não tinha respeito por eles. Estou fazendo até uma sessão de psicoterapia para vocês, mas não tem importância, tudo isso eu já resolvi . Nesse período era uma miséria, não se tinha nem comida. Eu me recordo que na década de 30, um dia a minha mãe pediu para comprar fiado arroz, feijão e algumas outras coisas lá no empório do japonês. O patrício negou vender fiado porque a divida já era muito grande. Eu não lembro quantos anos eu tinha nisso, mas voltei para casa e falei isso para a minha mãe e ela caiu em um choro ressentido, porque não tinha comida para nos dar. Meu pai também ficou humilhado. Não havia nem emprego suficiente. Então como nós nos alimentamos, foi uma característica da colônia japonesa nesse período. Não se tinha o que comer, então se comia a comida do mato: cipó, por exemplo, raízes de plantas, algumas frutas que minhas irmãs colhiam. Nessa época morávamos no sítio e tínhamos um cachorro lindo chamado Pesso. O Pesso era a Baleia da nossa família. Como a cachorra Baleia, de Graciliano Ramos, caçava preás para levar para eles, o Pesso fazia a mesma coisa para a gente. O meu pai também caçava tatu para a gente. Mas vocês vão dizer: “o seu pai caçava animais silvestres”? Caçava sim, e eu vou dizer uma coisa: olha que eu tenho uma consciência ambiental bastante grande. Mas o que eu quero dizer a vocês: puta que pariu, você está com fome, quase morrendo! Meus pais perderam três filhos por miséria, nós precisávamos de comida. Então meu pai saia para caçar tatu-bola e lagarto para nos alimentarmos. Foi assim até chegar a minha adolescência.
P/1 – Vocês foram para esse sitio e o que ele fazia? Ele também plantava?
R – Ele plantava. Eles derrubaram a mata em Valparaiso. Valparaiso é uma cidade a uns setenta quilômetros de Araçatuba. Não sei se vocês conhecem aquela região. Eles foram plantar algodão, feijão, arroz e batata, mas também não deu certo. Não havia água em quantidade suficiente e eles perderam tudo novamente. Então a alternativa foi virmos para São Paulo, isso em 1947. Você vê, eu estou contando este drama, porque não é apenas o meu drama. É o drama da colônia Okinawana.
P/1 – A colônia se encontrava lá?
R – Sim. As famílias intimas iam para uma determinada fazenda. 10, 11, 12 famílias. Lá em Valparaiso nós arrendamos a fazenda ‘Crioula’, de um tal Aiube, comerciante de lá. E foram oito famílias Okinawanas, e nos tornamos solidários uns aos outros. Plantavam, faziam mutirões, a pessoa que ia a cidade comprava coisas para as famílias todas.
P/1 – Tinha algum culto, festa, data de Okinawa que vocês faziam aqui também
R – Como eu já disse a você, uma das características dos japoneses foram as festividades. De vez em quando fazíamos festas e convidávamos os Okinawanos das fazendas vizinhas e assim compensávamos o drama daquela pobreza toda. Éramos solidários. Como a fazenda era pequena, não dava para criar gado, então nós plantávamos e criávamos animais domésticos: porco, galinha, cabrito. E quando nós matávamos um porco, dividíamos os pedaços entre as famílias da comunidade. Quando outra família matava outro porco, também dividia conosco. Foi assim que conseguimos sobreviver à pobreza. Agora, é bom que eu lhe diga: a minha família morava lá em Valparaiso e eu era filho (homem) único, e meus pais de empenharam a me estudar. E naquele tempo não era como hoje, que haviam colégios para todos os lados. Então eu acabei me internando no instituto americano de Lins.
P/1 – Nessa época você já falava português?
R – Já te conto. Meus pais me colocaram lá como interno. E você deve se perguntar: “se eles eram pobres, como eles pagavam”? Isso eu vim a saber depois, mas meus pais pagavam com arroz e feijão que eles plantavam. Era uma vida muito pobre. Agora, você me pergunta sobre a língua portuguesa. O meu português já tinha melhorado, depois daquela história do boletim, tinha que melhorar! . Mas não era como o dos brasileiros. Fui melhorando, mas não o suficiente para passar de ano. O meu português era ruim. Na terceira série do ginásio eu precisava passar de ano. Tive um professor muito bom, a quem eu faço homenagens a todo momento, o professor Acir Rodrigues. Ele era diretor do internato. Na terceira série ele disse: “Takara, você não tem condições de passar de ano. Você está precisando de 9,5 para passar. Você não tem domínio sobre a língua portuguesa. Vamos fazer o seguinte, quando terminar o expediente, após as 22 horas, vamos fazer aulas particulares”. Quando terminava o expediente dele, ele me dava aulas particulares. Aquelas 15 ou 20 aulas foram suficientes para eu ter o domínio mínimo da língua portuguesa. Eu aprendi o núcleo fundamental da língua e acabei passando de ano. Esse professor me pedia para escrever redação. O professor me pedia para escrever redação e eu escrevia. Ele dizia: “Takara, você tem brilhantes ideias, mas como escreve mal!” . Então ele me pedia para escrever a mesma redação uma, duas, dez vezes. E ele dizia que sempre podia melhorar. E foi através da minha insistência e estimulo dele que eu fui aprendendo a língua portuguesa. Haja vista que aprendi a língua e linguagem oral muito bem. Naquela época ainda falava melhor do que falo hoje. Fazia até discursos. Hoje o meu português, comparado com o da época, é muito ruim. Mas me expresso bem. Eu era um fulano petulante.
P/1 – Quem exercia autoridade na sua casa, seu pai ou sua mãe?
R – Minha mãe. Nossa, ela dava cada berro. Meu pai foi muito cordial, ele tolerava. Minha mãe não, ela me dava cada grampo. Um dia eu fiz não sei o que, uma traquinada, e ela veio para me bater. Para a minha sorte, o portão estava aberto e eu fugi. Ela correu atrás de mim jogando pedras e tudo mais. O ultimo tiro dela, foi com o tamanco, para jogar em mim. A minha mãe foi muito dura. Nossa! Mas eu aprendi muito com ela.
P/1 – E formação religiosa?
R – A minha formação religiosa foi a seguinte: os meus pais eram budistas. Eu quando criança também tinha um apego ao budismo, mas naquela época, os japoneses recém chegados, queriam se acomodar frente à cultura japonesa. Então houve serviços de catequese para as colônias japonesas e eles frequentavam igrejas e tudo mais. Acabaram se convertendo ao cristianismo. Mesmo eu, eu me converti ao catolicismo. Interessante que aquela tradição da cultura Okinawana se manteve viva em mim até a presente data. Mesmo eu sendo católico.
P/1 – Isso tudo já era na adolescência, não é?
R – Isso. Você vê que aqui não está tudo no ponto de vista temporal, mas é por conta da memória, não é?! Então eu sai de lá e vim para São Paulo, em 1947, e moramos na periferia de Santo André.
P/1 – Mas vamos voltar para esse período do colégio de línguas. Como foi o período de internato?
R – Em 1947 nós viemos para São Paulo, morava na periferia, perto do Jabaquara, Bosque da Saúde.
P/1 – E vocês vieram para arrumar trabalho?
R – Para arrumar trabalho. Nessa época ai nós fizemos o seguinte: nós não tínhamos dinheiro. Eu fui reprovado na quarta série, no colégio da Vila Mariana. E eu me comunicava com o professor Acir Rodrigues por correspondência. Em uma delas eu disse: “professor, estamos muito pobres, passando fome e eu vou desistir do estudo”. Então Acir Rodrigues disse o seguinte: “Takara, não desista não. Volte para o Instituto americano de Lins, mas como os seus pais não podem pagar, você vai trabalhar aqui na chácara do colégio e pagar a sua hospedagem”. E era um sítio grande, onde se plantava tudo que era usado no internato. Verduras, porcos, galinhas, leite, tudo isso nós produzíamos no sítio para os internos.
P/1 – Você se correspondeu muito tempo com esse professor por carta?
R – Inúmeras vezes. É uma pena que naquela época eu não conhecia o valor de carta, então eu perdi muitas, Mas o que eu queria dizer era o seguinte: o Acir Rodrigues dava muito apoio a todos nós.
P/1 – E você precisou convencer o seu pai? Como ele te liberou para o internato?
R – Falei com o meu pai que o Acir Rodrigues havia me chamado para estudar em Lins. Ele mesmo queria que eu estudasse e me autorizou a ir. Estudei e estudei bastante. Eu não gostava muito de exatas. A minha tendência era para as humanidades. Ainda hoje eu me dedico a filosofia, história, sociologia.
P/1 – E você ficava lá a semana inteira? Quando você visitava o seus pais?
R – Só nas férias, porque eu não tinha dinheiro para viajar. Agora, o seguinte foi: o Acir Rodrigues me deu, além do suporte e aulas particulares, uma formação cultural e de vida. Hoje, se eu sou um senhor ético e me preocupo com a estética da existência, é por conta dele. Ele me deu os primeiros caminhos.
P/1 – Como era lá no internato? Vocês dividiam quartos?
R – Ah sim! Nós tínhamos quartos grandes, onde cabiam 30, 40 pessoas. O refeitório também, era aonde a gente trocava os nossos alimentos. Eu mesmo lavava as minhas roupas, haviam lavadeiras, mas eu não tinha como pagar. Fiz um ano lá em Lins para concluir o ginásio e retornei para São Paulo, porque lá (em Lins) não tinha segundo grau ainda. Me matriculei no primeiro ano do colégio Roosevelt, que havia no parque Dom Pedro II. Eu fiz o concurso e fui aprovado, e muito bem! Eu estudava a noite. Estudar era um luxo para mim e para a minha família. Eu não tinha emprego definido naquela época, e esse é um ponto importante da minha adolescência.
P/1 – E seus pais continuavam morando na Saúde, perto do Jabaquara?
R – Continuavam morando na Saúde.
P/1 – Qual foi a sua impressão quando você voltou a São Paulo?
R – Ah! Eu imaginava uma cidade grande, como de fato era naquela época, com um transito incrível. Mas eu gostaria de dizer para vocês que eu vim em janeiro de 1947 e, não sei se você sabe, a estrada de ferro de São Paulo era dos ingleses. Em 1946 acabou o convênio, de quase cem anos de instalação da rodovia. Os brasileiros queriam receber a ferrovia mas o que é que houve? O incêndio da estação da Luz. Eu não sei se vocês sabem disso. Foi queimado, incendiado mesmo. Isso foi em dezembro de 1946, e em 1947 nós chegamos, com a estação da luz fumegando.
P/1 – Quando você chegou a estação estava pegando fogo?
R – É. Isso é uma passagem que ninguém se lembra. Pouquíssimas pessoas se lembram. Pois é, existem muitas histórias para se contar. Eu sou um grande leitor. Sabia que eu leio e escrevo uma média de dez horas por dia? De dez a doze horas! . E ai eu fui morar no Jabaquara.
P/1 – Como era o Jabaquara naquela época?
R – A cidade terminava na praça da árvore. Era o fim da estação. Pra lá, havia somente a avenida Jabaquara, que era de paralelepípedos. Além disso não havia nada nada nada. As travessas ainda nem existiam. Quando chovia, tínhamos que pisar na lama, até. E então, no Roosevelt, eu estudava até onze horas da noite e, ao invés de voltar para casa, o que eu fazia? Ia direto ao mercado municipal (de São Paulo), o varejista na rua Cantareira. Em frente, havia o mercado atacadista, onde se vendia arroz, feijão, milho, sei lá o que, tudo em atacado. Então o que eu fazia? Saia da aula a noite, ia até o mercado municipal e esperava abrir. Quem me ajudou muito nesse período foi um amigo de infância, chamado Pedro Kimora. Ele era gerente de um Box que vendia por atacado tomate, batatinha, etc. E eu ia lá, chegava as onze e meia, mais ou menos e ficava sentado no chão lendo. Eu lia vorazmente até as duas horas. Se chovesse, fisesse frio, eu estava lá. Essa região, já naquela época, estava em decadência. Haviam meliantes e eu vivia ao lado deles, ao lado dos que viviam de favores. Ficava lá até as duas horas, hora que o mercado abria. Ia para o box do Pedro Kiomora e ele aguardava a vinda dos feirantes, quitandeiros, donos de restaurantes. E qual era a minha função, já que eu não tinha emprego? Pegar caixa de tomate, por nos ombros e leva-las até o caminhão. Era assim a minha vida.
P/1 – Quantos anos você tinha?
R – Nessa época eu tinha 17 anos. Nessa época esse meu amigo já tinha me emprestou algum dinheirinho, o suficiente para comprar aquele carrinho de duas rodas, o que me permitia carregar oito caixas de tomate de uma vez só. E sabe o que eu passei a fazer com o carrinho? Ia entregar nos restaurantes que haviam no centro, na praça da Sé, João Mendes. Existe aquela rua íngreme, como é? Carneiro Leão?
P/1 – General Carneiro.
R – Isso. Eu puxava o carrinho e ia entregar lá naqueles restaurantes da praça da Sé, rua Direta, João Mendes, Patriarca. Eu vivia de gorgetas. As dez horas terminava o meu expediente. Eu voltava para casa, tomava um banho, almoçava, dormia e às dezessete horas eu voltava para o Américo Brasiliense. Então, o meu itinerário era esse: residência, colégio do estado, mercado municipal e de volta para a minha casa.
P/1 – Tinha algum dia de descanso?
R – Não. Não havia. Mas a gente tirava um domingo para o descanso. Ninguém é de ferro.
P/1 – E o que você fazia?
R – Lia desesperadamente. Como eu lia! Nossa! Haja vista nesse período, Rosana, e até antes, pra você ver como eu era um leitor: aos quatorze anos de idade eu tinha lido Os Miseráveis, de Jean Valjean, famoso do romantismo Francês. Eu lia desesperadamente.
P/1 – Você pegava esses livros em bibliotecas?
R – Eu pegava na biblioteca e tinha uma outra coisa que eu fazia também: eu roubava livros de livraria. . Eu roubava livros. Até que um dia um vendedor me pegou em flagrante e falou assim: “devolva o livro”. . E ai eu fui a biblioteca de São Paulo.
P/1 – A biblioteca Mario de Andrade?
R – Isso. E também pegava livros no colégio.
P/1 – E você saía com jovens, ia a festas, tinha esse tipo de diversão?
R – Não tinha muito. Eu era e continuo sendo meio solitário. A minha vida toda foi voltada para a reflexão. Claro que eu tinha amigos, claro que eu brincava, claro que eu ia ao baile, mas não era o meu forte. O meu forte era a leitura.
P/1 – E paixão, o senhor já tinha tido alguma paixão?
R – Tive. Mas antes da paixão eu (pausa). Como assim paixão? Eu (pausa) lia, mas o que eu desejava mesmo era escrever, por influencia do professor Acir. Ele dizia: “Takara, você pode escrever sempre melhor e mais”. Eu tentava, fazia o mesmo texto várias vezes, até melhorar. Fui aprendendo e cá entre nós, já n colégio começava a escrever bem. E daí para o fato de escrever os primeiros artigos publicados no jornal de Santo André foi um pulo. Em 1974 eu já escrevia artigos em grandes quantidades lá. O bom é que eu tive um ótimo revisor, se não eu ia ter vergonha! . Esse foi o meu início. Até que eu comecei a escrever o primeiro, segundo, terceiro, os cinco primeiros livros meus foram publicados. Depois eu fui ser secretário adjunto de cultura, da prefeitura de Santo André, e não tive mais tempo, então parei. Só depois, nos momentos de folga, eu garatujava alguns livros. Hoje tenho dez livros escritos, apenas cinco publicados, cinco ainda são inéditos.
P/1 – Vamos voltar a pergunta: Ai você já tinha tido alguma namorada? Já tinha se apaixonado?
R – Ah namorada! Na verdade eu queria me dar bem com todas as meninas, mas nenhuma delas me dava pelota. No plano de relacionamento eu era um fulano inseguro, baixo auto estima. Eu tentava, mas elas me rejeitavam porque eu era pobre. Havia muito naquela época aquela Alpargatas, ninguém me dava bola. Mesmo assim eu conquistei uma japonesinha, uma nissei, e pensei: “até que enfim eu sai do atoleiro”, não é?! Mas acontece o seguinte, eu era um pobre de espírito nessa época. Ela deu preferência para um amigo meu, e eu fiquei mais um vez viúvo, não é?! . Outras vezes eu tentei, mas não tive muitos namorados, não. Digo, namoradas. Agora, você vai me perguntar: e como que se começou a namorar com aquela que futuramente será a sua noiva?
P/1 – Em quantos anos você conheceu ela?
R – Nessa época eu já tinha 27 anos.
P/1 – Você fez faculdade?
R – Ah sim! É verdade! Com muita dificuldade eu fazia o meu curso, fui reprovado mais um vez no colégio Roosevelt, depois, no ano seguinte, me mudei para Santo André.
P/1 – Porque vocês foram para Santo Andre?
R – Fomos porque éramos pobres. O meu pai tinha um amigo Okinawano que tinha diversas propriedades lá, um açougue, um bar. Nos mudamos para tocar o bar, depois o açougue, e depois acabamos arrendando. E assim ficamos por quatro anos. Nisso eu estudava no Américo Brasiliense, e consegui me formar.
P/1 – As suas irmãs estudaram?
R – Não estudaram não. Naquela época, os pais privilegiavam o filho. Eu fui privilegiado desde a infância. As minhas irmãs, uma só fez até o curso clássico comigo, as demais não, só fizeram grupo escolar. Bom, eu terminei o colégio em 1953, mas mesmo com as minhas leituras, eu era inseguro, pois eu ainda não havia me submetido a um teste de conhecimento mesmo, um teste de auto afirmação. Em 1954, um colega meu que morava no mesmo bairro de Santo André, chamado Camilopolis, convidou-me a ir à escola de sociologia e política de São Paulo, então complementar a USP (Universidade de São Paulo), nisso eu já tinha terminado o colégio. E o que você vai fazer lá, perguntei. Eu vou me inscrever para uma bolsa de estudo, para fazer o curso de iniciação cientifica, vamos? Eu estava meio folgado e fui com ele. Pegamos o trem, chegamos no largo São Francisco, onde estava a escola de sociologia e política, ao lado do prédio do direito. Ele se inscreveu e falou, já que você está aqui, porque não se inscreve? Falei não, já tinha passado por tantas frustrações na minha vida, mais outra? Não! É uma auto defesa. E o secretário da escola falou: “se inscreva! Já que você está aqui, se inscreva!”. Aceitei, mas na certa que eu seria desclassificado. Para aquele concurso inscreveram-se 500 candidatos, a maioria universitários, alguns já formados: administração de empresas, direito, ciências sociais, etc. Eu era o recém saído do colégio, eu ia enfrentar aquelas pessoas? Pensei: “não tenho competência para isso”. No dia do concurso havia 500 candidatos para cinquenta vagas. Muitos candidatos vieram do interior, e eu vim de Santo André. Fizemos o concurso. A redação, eu tinha conhecimento. Já fazia inclusões pela filosofia, pela sociologia eu fui bem. Depois houve a prova oral, onde fizeram perguntas sobre história e sociologia. Fizeram perguntas a respeito do direito de trabalho, da previdência social. Ai eu não soube responder e fui mal, não sabia nada. No dia seguinte saiu o resultado da prova. Para minha surpresa, eu fui classificado entre os cinquenta primeiros. Olha que eu tive como concorrente pessoas formadas, estudantes universitários. Eu consegui a última vaga, mas era a minha vaga!
P/1 – O seu amigo passou?
R – Não passou, e eu senti por ele. Esse momento, da conquista da bolsa de estudos, foi um momento importante na minha vida. Foi o antes e o depois do concurso. O antes, aquela insegurança toda que eu falei. O depois, pensei: “porra, eu não sou qualquer porcaria! Consegui uma bolsa de estudos em nível nacional”. E então aquilo foi me auto afirmando, fui estudando cada vez mais, fiz iniciação cientifica.
P/1 – Isso na faculdade de sociologia e política?
R – Isso. Mas eu queria mais. No ano seguinte prestei o concurso para bolsa de estudos. Eu tinha entrado na faculdade de direito no largo São Francisco, mas optei pela sociologia e política, embora a profissão de cientista social não fosse reconhecida. E porque optei por ciências sociais? Porque eu vivia um drama desde o meu nascimento. Daquela miséria toda, dos preconceitos que fui vitima, da violência que me prejudicou durante toda infância e adolescência, porque Brasil e Japão se declararam em guerra. Então o meu drama era terrível, e eu queria conhecer as suas raízes e fui fazer ciências sociais e me revelei. Me dei bem em sociologia, em antropologia, psicologia também.
P/1 – Você continuava trabalhando?
R – Terminado o curso de iniciação cientifica, eu fui trabalhar no Sesi, porque foi o Sesi quem desenvolveu aquela bolsa. Eu fui aprovado e admitido como educador social. Essa bolsa de estudos foi a minha auto afirmação. Ai foi a minha epifania. Eu me descobri, sepultei todos aqueles meus dramas e comecei me auto afirmar. Fui ser professor de colégio, fundei o colégio Singular Anglo vestibulares de Santo André, que hoje é no ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano) inteiro. Me afastei porque depois de um tempo a gente repete a mesma aula e é um saco! Ai eu soube que havia uma vaga de professor de antropologia cultural na universidade metodista de Santo André e lá fui me inscrever. Havia quatro candidatos e eu fui aprovado para dar aulas para o curso de psicologia e pedagogia, onde eu permaneci por mais de 25 anos. Só este fato já foi um sinal de reconhecimento. Só em 2010 eu sai de lá por causa da idade, além do mais, porque eu queria escrever livros.
P/1 – Nesse período da sociologia e política, você se envolveu no movimento estudantil?
R – Ah sim! Eu fui da JOC (movimento juventude operária católica), primeiramente. Quando eu ingressei na faculdade, eu fui da Juventude Universitária Católica (JUC). Eu participava das reuniões. Eu tinha uma admiração muito grande pelos frades dominicanos, eu frequentava o convento deles. Havia as famosas noites dominicanas, uma vez por mês, aos sábados. Lá, nós universitários católicos ouvíamos palestras, fazíamos cursos. Eu aprendi muito nessa época. Eu ainda morava ainda em Santo André, pegava o trem Santos-Jundiai, descíamos na Barra Funda, subíamos à Perdizes até chegar no convento, e lá nós fazíamos grandes missões. Nós tínhamos também alguns encontros em Itanhaem. Eu cheguei inclusive a pernoitar no convento, eu era muito conhecido naquela época. Tive uma vida bastante atuante. Você vai me perguntar se esse catolicismo ainda existe dentro de mim. Vou te responder que sim, mas um pouco alterado. Naquela época eu frequentava a igreja todos os domingos, hoje não, porque sei que a igreja é uma instituição humana, sujeita as injustiças e a pecados também. Você vê, essa questão ai, dos padres com a pedofilia. Nessa época eu era muito próximo do frei Leonardo Boff, um grande teólogo. Ele fundou a comunidade eclesial de base. Eu frequentava as reuniões dessa comunidade, que eram vitimas das desigualdades sociais. Eu tive uma atuação muito grande. Estive próximo a Dom Jorge Marcos de Oliveira, então bispo do ABC. Depois ele vai se aposentar e ser substituído por Dom Cláudio Hommes, que participou da aprovação do atual papa Francisco. Eu era muito próximo do Dom Jorge. Hoje não frequento mais a igreja porque sei que ela está carcomida por muitos erros. Mas o que eu não perdi foi o sentido da sacralidade, essa relação com o sobrenatural. Por exemplo, eu falando para você sobre a minha vida, estou falando sobre a sagrada da minha vida, não é?! Por exemplo, eu acho que duas preposições defendem bem a minha vida: da fome para a saciedade. Da pobreza para uma vida relativamente rica. Da desgraça, par a graça. Esse foi o etinerário durante toda a minha vida. E hoje, falando para você, posso dizer que dentro dessas duas preposições, de e para, também estabeleceu-se em mim a noção do sagrado. Toda minha vida está voltada para o sagrado. E quando eu falo do sagrado, digo do diabólico e do simbólico. O diabólico e tudo que separa, desune, gera conflitos. É a minha fase anterior, da bolsa de estudos, não é?! Hoje, que eu cumpri com tudo isso, com a ética e a estética da existência, eu voltei tudo para o sagrado, o simbólico, que é tudo que liga, aproxima, une. Hoje, Rosana, eu estou em um estado permanente de renegação, comigo mesmo, com a natureza e com os outros, com a comunidade.
P/1 – Aos 27 anos o senhor conheceu a sua esposa.
R – Ah, como eu a conheci?
P/1 – É.
R – Então, foi mais uma vez no ambiente do sagrado. Eu frequentava a igreja Santa Maria Goretti, em um bairro de Utinga. Um dia eu fui a reza em um domingo a noite. Eu estava ajoelhado em um banco e ao meu lado estava um moça, relando com toda a fragilidade, vertendo lagrimas. E eu fiquei fragilizado. E foi assim, meio que de qualquer maneira. E dessa maneira, esse encontro ficou marcado até a presente data. Marcada com afeto, com uma emoção muito forte. Eu era presidente da ACATU, Associação católica dos trabalhadores de Utinga, e nós tínhamos a nossa associação. Fazíamos diversas ações lá. Eu estava com um roupa assim...nós estávamos pintando lá , e ela nem deu pelota para mim, eu estava com roupa de operário mesmo, né. Algumas semanas depois nós no vimos depois. Ai disseram: “Está vendo aquele japonês? Ele é estudante universitário”. Ai eu vi nos olhos dela: “Ah, então ele não é porcaria, é muita porcaria”, não é?! . Então fomos nos aproximando e começamos a nos encontrar e ir ao baile juntos. Isso foi em junho, não, julho de 1959. Ela morava em Socorro, e eu escrevia muito para ela, e ela me respondia. Na época, ela era professora universitária. Ai eu percebi que a amizade estava se tornando mais forte. Ela voltou e no dia 02 de agosto de 1959 eu a pedi em namoro. Ela aceitou e, enfim, me desencalhou.
P/1 – Ela é japonesa?
R – Não, é filha de italianos. Loira, de olhos verdes, muito bonita. Eu acho que ela também estava encalhada para aceitar um japonês feio, pobre, encalhado como eu. Não repare não, eu sou muito bem humorado. E em janeiro de 1961 nós nos casamos e veio o meu primeiro filho, o Enzo. Em 20 meses nós tivemos três filhos, sendo os últimos dois gêmeos. Eu comprava meia dúzia de leite diariamente para sustentar aqueles bezerros. Naquela época a minha casa parecia favela, não haviam fraldas descartáveis, era pano mesmo. Minha casa ficava cheia de panos brancos pendurados.
P/1 – E seus pais, continuam em Santo André?
R – Continuavam em Santo André.
P/1 – Você ajudava a eles financeiramente?
R – Eles eram feirantes. E eu ajudava na feira também, mas eu detestava. Nunca gostei de trabalho manual. A minha esposa sabendo da minha incompetência manual, me proibiu de consertar qualquer coisa. Qual era o meu destino? O magistério, a vida intelectual. 25 anos depois, em 1985 nós nos separamos. Separamos e continuamos amigos até a presente data. Ela mora na casa dela e eu na minha. E você vai me perguntar: “você divorciado, namorou?” Sim, eu namorei, mas eu andava muito de tico-tico. Hora uma, hora outra. Hoje eu sou um solitário, divorciado e feliz.
P/1 – O senhor continua morando em Santo André?
R – Continuo.
P/1 – O senhor já chegou a ir a Okinawa?
R – Não. Nem meus pais retornaram a Okinawa. Desde a adolescência e infância, da puberdade, eu me afastei da minha família. Não sei se eu disse para você, mas eu fui um péssimo filho. Um péssimo irmão e um péssimo sobrinho. Isso me levou a me desvincular da minha família e da comunidade Okinawana. Ao fazer essa confissão, eu falo isso abertamente, pois já estou curado daqueles problemas. Eu me desidentifiquei da família e da comunidade por mais de 60 anos. Então não tinha mais identificação, raiz nenhuma com a comunidade Okinawana. Por esse motivo eu nunca fui. Eu tinha alguns bons amigos Okinawanos, o Harashiro, por exemplo, dono do restaurante. Eu gosto muito de comida japonesa e ia lá, batíamos bons papos. Ele falava sobre a cultura olinawana, as tradições, as artes, as danças, a música, cerâmica, etc. E fui cada vez mais me convencendo que eu precisava voltar para a comunidade. Fiz isso em 2004. Voltei e fui muito bem recebido.
P/1 – O que é voltar a comunidade? Voltar a algum centro, algum lugar?
R – Os Okinawanos são muito solidários e tem um alto sentido de comunidade, e nós frequentamos Shibus. Shibus são sedes da comunidade Okinawana, como há em Santo André,Mauá, São Caetano do Sul, e pelo resto das cidades importantes. Em São Paulo existem 25 shibus. E nós frequentamos o de Santo André. Eu fui me aproximando cada vez mais deles e fui me familiarizando, e todo aquele preconceito que eu tinha contra a colônia também foi destruída pouco a pouco. Esse Harashiro, dono do restaurante, falava sobre. Em 2005 eu já era sócio de lá, aliás, eu já era membro da sociedade Okinawana e propus a realização de uma exposição a que dei o título de “Universo Cultural de Okinawa: uma experiência em Santo André”. Mas aonde realizar isso? Eu já tinha deixado a secretaria de cultura. A melhor coisa é realizarmos essa exposição no museu da cidade de Santo André, porque lá nós vamos recebr o apoio técnico. Todos eles foram meus subalternos, e nos tornamos amigos. Mas para realizar uma exposição, nós precisávamos e dinheiro. Como eu tinha sido secretário adjunto de cultura de Santo André, eu sabia o caminho para se chegar ao dinheiro, ao tesouro. Ai consegui a verba da prefeitura e montamos esta exposição que fez grande sucesso. Ainda hoje, esta exposição, que realizamos em 2005, é a única exposição realizada pela colônia japonesa no Brasil.
P/1 – Ela está montada ainda?
R – Nâo, ficou montada por meio ano. Mas o material ainda está lá. Quando o museu quiser recuperar, eles recuperam.
P/1 – Como você foi trabalhar na secretaria de cultura?
R – É o seguinte, eu já era conhecido como animador cultural na região do ABC. Isso na década de 80, meados de 90. Além do mais, eu já era muito conhecido como professor, Mais do que animador cultural, eu era conhecido como agitador cultural. Então houve a eleição de 1988 para prefeitura e câmara dos vereadores. Quem foi eleito a prefeitura, depois da segunda tentativa? O Celso Daniel, aquele que foi assassinado. Ele já me conhecia como agitador social e me respeitava como professor e conferencista. O PT (partido dos trabalhadores) perdeu a eleição e depois, em 1987 ele foi reeleito. Ele já me conhecia e tinha a minha ficha. Então ao assumir a prefeitura, convidou-me a compor o governo dele como coordenador de programas culturais de Santo André. Quatro anos depois ele foi reeleito, assumiu em 1991, e me convidou para ficar como secretário adjunto, ao lado de um amigo em comum, chamado Acelino. Acelino tinha uma competência política muito grande, e ficou com a parte burocrática da secretaria. A parte técnica ficou comigo. Desenvolvi muitos projetos de sucesso e assim conseguimos levar a cultura de Santo André para frente. Tive uma vida muito rica na área de cultura e magistério. Haja vista que há uns quatro, cinco anos atrás, acho que nem isso, eu escrevi um livro, ainda não publicado, chamado “Santo André a caminho da modernidade cultural”. Onde eu falo das manifestações culturais do ABC, particularmente de Santo André, onde eu falo das minhas atividades, das do Acelino e de outros espaços culturais da cidade. Com a ajuda da prefeitura, eu espero publicar no ano que vem. Tudo isso, graças ao Celso Daniel. Você vai ser na fotografia que eu coloquei, um fulano com uma tapeçaria. Então, foi na minha gestão que fizemos aquilo. Como a gente fala? Nós fizemos a limpeza, tudo aquilo. E como secretário adjunto de cultura, consegui uma verba de um milhão e quinhentos mil reais do ministério da cultura a fundo perdido. Apenas para fazer a reforma do teatro municipal e ao redor. Então eu tenho uma historia no local. Agora, sobre Okinawa, você me perguntou se eu não quero conhecer, quero sim. De cinco em cinco anos o governo de Okinawa organiza um encontro dos moradores e seus descendentes. Vai gente do Brasil, Argentina, Peru, Equador, Estados Unidos, China, do sudeste asiático. Nós nos concentramos lá durante uma semana para fazer a confraternização. Na próxima eu quero ir.
P/1 – Qual é o número de Okinawanos aqui no Brasil?
R –Olha, segundo do Senji , ele sabe melhor do que eu, são 150 mil pessoas só da colônia Okinawana dispersas no Brasil, principalmente na metrópole de São Paulo e norte do Paraná. Outra colônia muito grande é em Campo Grande. Porque Campo Grande? Os japoneses vieram de Okinawa e eram explorados nas fazendas de café, então eles fugiam para trabalhar na construção de ferrovias. Eles ajudaram na construção, passaram por Mato Grosso e chegaram em Campo Grande. Por isso que eu fiz aquela exposição e escrevi esse livro, para divulgar a memória e história do comunidade no Brasil.
P/1 – Seu Alexandre, olhando a sua trajetória, se você tivesse que mudar alguma coisa, você mudaria?
R – Olha, por exemplo. Eu tenho um sentimento de culpa, de ter abandonado os meus pais, de não reconhecer o sacrifício deles e de não conhecer o esforço da comunidade Okinawana. Hoje, como me considero Okinawano legítimo, que luta pela preservação da história e memória, se eu pudesse voltar para traz, eu corrigiria esses erros meus, sabe?! De abandono dos meus pais e comunidade. Se você quiser concluir a minha vida, Rosana, eu digo: “Ahh se eu tivesse duas vidas: uma para ensaiar e uma para viver”. Na verdade, a vida como um ensaio foi um verdadeiro rascunho, pelo tanto de erros que eu cometi até a fase da bolsa de estudos. Ai sim eu comecei a viver. Viver e dar lições por ai. O meu magistério é muito influenciado pela cultura Okinawana, onde organizei a exposição, convidei meus alunos, meus professores também foram para ver como organizamos a exposição. E foi uma coisa linda! Foi além do estimulo a inteligência, foi também um estimulo a emoção e ao afeto. Além da exposição, nós organizamos atividades complementares, como danças, músicas Okinawanas, então eles ficaram maravilhados.
P/1 – Na sua infância você ouvia músicas Okinawanas?
R – Ah eu escutava! Também porque vivíamos em festa. Pegava-se o Shamishen, que lá eles chamam de shamisen. Eles tocavam aquilo e eu gostava de ver. Tenho assim, uma memória musical e de dança muito boa. Depois eu esqueci o japonês. O que eu gostaria de dizer a vocês é que eu tenho nostalgia a língua Okinawana, que é diferente da japonesa. Quando eu era pequeno e ia dormir com os meus pais, eles conversavam muito em Okinawano, o Uchinaaguchi. Então a música ainda permanece nos meus ouvidos, que depois, infelizmente, fui esquecendo. A construção das frases. A minha grande frustração depois de retornar ao shibu foi que eles começaram a falar em japonês, japonês lá de Tóquio, mas eu queria ouvir eles falando em Okinawano. E eles não falavam mais . Porque a lingua Okinawana tende ao desaparecimento. Lá em Okinawa já desapareceu e os linguistas que querem fazer pesquisas sobre esta língua, precisam vir ao Brasil e Argentina para ouvir esse som. Essa sonoridade da língua Okinawana permanece ainda em mim. Hoje eu ouço muita canção japonesa Okinawana. Me sinto muito envolvido pela cultura, pela arte, dança, música, cerâmica e vou retornando aos meus pais e às tradições da comunidade. Tudo isso aprendi com menos de sete anos. E tem muitas coisas, inclusive sobre a minha experiência no magistério, quando entrei para dar aula na Metodista, eu dava as minhas aulas como os professores da USP (universidade de São Paulo) que eu admirava, mas os meus alunos não me entendiam. Uma vez uma moça levantou da última cadeira e falou: “professor Takara, detesto as suas aulas” ! . Depois eu abri a discussão e começaram a fazer as criticas, com isso fui adaptando o meu sistema. Mas isso fica para uma outra oportunidade.
P/1 – Qual é o seu maior sonho hoje?
R – É dedicar-me a escrita. Hoje eu sou aposentado e vivo da minha aposentadoria, com todos os limites todos, porque nós, aposentados, ganhamos mal. E eu não quero também me dediar a um trabalho que me obrigue horários. Então decidi fazer o que, até para o meu ganha pão? Escrever livros sobre a minha experiência e a dos outros, sobre as cidades, etc. Eu já tenho livros, preciso fazer uma revisão e depois vender ai, e com o dinheiro, conseguir viver e manter aquela posição anterior. Tive um declínio muito grande, apesar de morar em um apartamento bom, conde há piscina, sauna, isso e aquilo. Eu tenho carro, mas vou vender, porque com oitenta e dois anos de idade, eu vou perdendo reflexos. Vou vender o meu carro e andar só de táxi pela cidade.
P/1 – O que o senhor achou de dar esse depoimento para o museu da pessoa?
R – Rosana, se você quiser saber, eu tenho uma emoção embutida muito grande pelo Museu Santo André. Porque o tempo que fui secretário adjunto de cultura, uu não lembro muito bem em que ano que foi, a minha equipe, falou “Takara, nós precisamos conhecer o museu da pessoa e gostaríamos de convidar alguém para pronunciar uma palestra”. Uma de vocês, não me lembro quem agora, aceitou o convite e foi lá pronunciar uma palestra sobre como vocês trabalham e lotamos o salão do oitavo andar, onde haviam mais de 400 pessoas. Essas respostas inteligentíssimas, muito emocionais, inteligentíssimas. Já dessa época eu conheci o museu da pessoa. E quando uma nissei Okinawana disse que manteve contato com vocês aqui, no ano passado pensei “estão bom, então vamos retornar lá”. E vindo aqui outro dia com o Shingi e a esposa dele, vocês foram de uma gentileza e receptividade incrível. Tanto é verdade que eu acho que posso considerar vocês como meus amigos particulares. Então vocês moram no meu coração.
P/1 – E a experiência de contar a sua história?
R – É uma experiência muito grande porque eu já escrevi sobre isso e também fiz psicanálise. Então em alguns momentos houve até uma dimensão de terapia. Ao extravazar e a contar a vocês dos meus erros, eu estava fazendo terapia. Contar que fui um péssimo filho fez com que eu me aproximasse cada vez mais de mim mesmo e da comunidade. Achei o trabalho e a metodologia de vocês. Precisamos levar a frente, não sei como, mas precisamos de algum recurso para fazer um trabalho em parceria. Sou um apaixonado por aqui que eu faço. Um louco, porém um louco sadio .
P/1 – queria agradecer a sua presença aqui no programa.
R – Eu que agradeço.
P/1 – Obrigada.
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