Projeto Memória dos Brasileiros
Depoimento de João Batista Neto
Entrevistado por Antônia Domingues
Curralinho, 03 de agosto de 2007
Realização Museu da Pessoa
MB_HV035
Transcrito por Ana Lúcia V. Queiroz.
P/1 – Aí então...
R – Eu vou pedir pro senhor falar o nome inteiro, de novo.
P/1 – João Batista Neto.
R – Local de nascimento.
P/1 – Local de nascimento, meu nascimento é Mato Grosso, Santo Antônio do Indaiá Grande. Nasci dia 21 de dezembro de 1935. Foi a época que eu nasci. O meu município é Santana do Paranaíba, Mato Grosso. O primeiro em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Porque hoje são dois Mato Grosso, um Mato Grosso do Sul e o outro é Mato Grosso, já não fala mais Mato Grosso do Norte. Eu nasci lá e por lá me formei, apareceu uma doidinha lá que quis casar comigo, eu casei com ela. Então casamos, eu vivi seis anos, seis meses, 14 dias. Depois tive que ausentar, larguei. Ela pariu três filhos. Esses filhos estão por lá. Eu tenho uma filha que mora em Birigui, é dona de um armazém lá. E tenho um filho que mora na Bolívia, perto de uma igreja de crente, e tenho uma outra que mora em Três Lagoas onde mais eu fui ambientado, né? Então essa mora em Três Lagoas. Agora, depois eu desgostei lá, porque a minha mulher, infelizmente, ela nunca prestou. Quer dizer, a gente fala que não prestou, porque prestou que eu casei com ela, vivi com ela, naturalmente que ela prestou. Mas ela não deu mais pra mim viver com ela porque danou a beber. Beber pinga mesmo, e ficava desacordada dois, três dias, deitada, bicuda. A gente fala bicuda, aqui a gente fala bêbado. Então ficava bêbada dois, três dias. Aí ela foi, mandou falar comigo que ela queria que eu voltasse pra casa. E eu não quis, falei: “Eu não vou voltar com ela porque eu já larguei dela”. Aí peguei e disse: “Eu não vou voltar”. Ela mandou falar comigo o seguinte: que se eu não quisesse ter, os filhos eram todos pequenos, eram três filhos pequenos, então ela disse: “Se ocê não voltar pra casa, tem que ir embora daqui porque senão eu vou morrer de beber. Eu vou beber até morrer e vou deixar os filhos sozinhos”. Falei: “E agora? Comigo não dá pra ficar, porque eu sou homem, então tem que ficar com ela”. Então eu prefiro sair. Aí peguei e arranquei lá do Sul pro Norte do Mato Grosso. Nesse tempo não tinha dividido ainda os dois estados. Aí pegou, fiquei, fiquei. Está com 20 anos que eu passei pra aqui, aí quando eu estava ideiando de ir lá, eles descobriram, meus filhos, estavam tudo formado, né? Aí ligaram pra mim que a mulher tinha morrido, e eu não sabia. Eu tava pelejando até pra aposentar, mas não tava tendo jeito, porque sou casado e não tinha documentação nenhuma de viúvo, não podia aposentar. Aí eu tava com os trem, com as coisas tudo no advogado, aí o advogado, um dia eu vou passando na rua, ele me chamou e falou: “Oh, rapaz, vai no escritório, quero falar contigo”. Falei: “O que será?” “Ô moço, você vai aposentar porque você é viúvo. Eu falei: “Não brinca”. Aconteceu que foi tudo bem. Aí eles descobriram, as meninas descobriram. Porque antes, eu tenho uma menina que mora em Três Lagoas, o juiz de direito de Diamantina mandou uma advogada lá em Três Lagoas, aonde eu fui registrado por lá, pra adquirir um documento para que eu pudesse aposentar. Chegou lá a mulher tinha morrido, falou: “Agora não tira mais nada”. Aí trouxe certidão de casamento, trouxe tudo, aí eu consegui aposentar. Então aposentei e aí a minha menina descobriu meu telefone, ligou pra mim. Aí nós entrou em contato, né? Aí que eu fiquei sabendo onde que tava, pra onde que os outros estavam, tudo. Já fazia 30 – eu saí de lá em 1974, 1973 que eu saí de lá – nunca mais voltei, não sabia notícia de ninguém lá. Aí então fiquei sabendo, já tava tudo formado, um foi pra Bolívia, outro foi pra Birigui, São Paulo, e a outra mora em Três Lagoas. Então, o final da minha questão de começo de trapalhada, de coisa, é isso aí. Agora tem outras coisas que a gente aí, se a gente for conversar assim, então conversa a tarde toda, né?
R – Como era o nome do seu pai? A cidade que você ____?
P/1 – O nome do meu pai é Manoel Leonório Filho e a minha mãe é Maria Badia Filha, nascido em Santana de Paranaíba, Mato Grosso. Quer dizer, o município, né, nasceu no mato porque meus pais, tudo, naquele tempo uma cidade longe da outra, era 40, 50 léguas, cem léguas, desse jeito. Hoje não, hoje o trem tá bastante gente. Então é nascido no mato. E eu também nasci no mato, criei no mato e depois de eu formado é que eu, aí a cidade já foi chegando, foi aproximando mais o povo. Eu fui conhecer cidade, eu já estava com uns 15 anos, não conhecia cidade não. Conhecia só o mato. Levantar cedo e correr atrás do cavalo, do boi e ir trabalhar. Agora hoje não, hoje a gente, hoje é tudo fácil. Então é isso, meu pai é isso aí: o nome dele Manoel Leonório filho.
R – Como era o trabalho?
P/1 – Ah, trabalho é. Vocês não sabem, falar procês disso aí, vocês sabem porque eu to falando, mas não sabem a finalidade como que era. Era plantar arroz, plantar feijão, plantar milho. Colher, capinar de enxada. Eu tenho até uma enxada lá, ó. Aquilo lá é de limpar o mato, limpar o arroz pra poder dar o caroço, pra depois moer ele na máquina, tirar a casca pra depois cozinhar pra nós comer. Então, e o milho? Também era plantado. Então a gente vai conversando assim e contando de brincadeira, né? Mas é uma brincadeira que é verdade, é séria. Então, meu pai é do pessoal do mato. O trabalho deles não é igual o de vocês. Eu também trabalhei, não igual de vocês, com equipe formada, mas eu entendo. Hoje eu tô conversando com vocês aqui, mas eu não tô vendo ninguém de vocês. Eu não to vendo ninguém, não sei como é o rosto de vocês, de nenhum de vocês. Eu só enxergo vocês aqui, tô enxergando. Sei que estou conversando com uns profissional. É pelo canto do olho porque minha visão acabou. Eu sofro. Eu já fiz uma cirurgia de catarata uma época, tá com uns 12 anos, então eu melhorei. Mas apareceu uma mancha na minha retina, pelo fundo do olho, tampou a minha visão. Então se eu visar no seu rosto assim, eu vejo uma bola preta, não vejo nada. Agora, eu não to vendo seu rosto, agora, tô visando seu rosto. Tô visando no rosto dela, mas não tô vendo o rosto dela, tô vendo as pernas dela. Agora tô vendo o rosto, não tô vendo o rosto, mas tô vendo as pernas. Mas é uma sombra, quer dizer, não é visado, não é visuado, sabe? Porque a visão da gente é pela menina do olho. Aonde a gente foca o olho é que a gente visa. Então eu não tenho, eu não vejo, por causa dessa mancha que surgiu no fundo do meu olho. Quando apareceu a catarata, a catarata é coisa simples, então apareceu também a mancha no outro olho. Aí eu fiquei numa dúvida e falei: “Poxa, mas eu ia andar assim. Eu tô até calçado com um chinelão”. Eu não gosto de chinelo, eu gasto chinelo, dois em dois meses eu compro um par de chinelos. _______. O que eu ia dizer mesmo, gente? Ah é, a visão! Quando apareceu a catarata do olho direito, apareceu uma manchinha, que eu ia olhar assim, olhava no pé, às vezes se eu olhasse no dedão do pé eu não via o dedão do pé. Via a claridade, mas via o pé todo, mas aonde eu visava não via aquela manchinha. Eu fiquei numa dúvida. E do outro lado a catarata. Se não tem escuro, meio escuro. Parece que era uma neblina, parece que era... Mas não era uma neblina, era a catarata que tava começando. E aquilo foi aumentando, foi aumentando, até que eu não enxerguei nada desse olho. E o outro ficava enxergando com aquela mancha. E aquela mancha cresceu, e eu fiquei só com um olho. Aí, não sabia também, mas aí eu fui num oculista aqui em Diamantina, aí ele falou: “Ó, nós vamos fazer uma cirurgia, vou operar o senhor”. Mas aí eu fiquei com medo, né, eu fiquei com medo dele mexer no meu olho. Eu falei: “Ó, não, só esse, doutor”. Mas tinha um companheiro dele que vinha de Belo Horizonte pra ajudar. Aí eu não quis fazer com ele não, aí lá eu operei a catarata. Tirou a catarata e eu vim embora beleza. Mas aí, quando eu olhava assim, uma distância de 50 metros, cem metros, eu avistava aquela bola branquinha. Aquela bola grande no olho, desse olho que fez a catarata. Mas não tinha mancha escura, não. E só a mancha escura no outro. E aquilo foi, com o espaço de tempo. Agora hoje eu tô com as duas manchas iguais. Tudo escura! É como eu to dizendo: eu não viso nada, eu só enxergo pelo canto do olho. Então eu não assino mais, fui professor, hoje nem assinar o nome não assino. Assino assim, mas é pelo assim, eu assino, mas não presta, é fora de linha. Então, a minha visão acabou, né? Hoje eu vivo, como diz? Quase que pela mão dos outros, assim. Porque a gente não tendo a visão... Eu ainda vou no banco, tenho negócios no banco, eu vou e ainda resolvo. Mas é bem pertinho. Quando eu pego um papel, eu chego pertinho. Então eu tiro dinheiro do banco, eu ponho dinheiro no banco. Então isso ainda tá dando pra resolver, mas tô achando que do jeito que vai indo nem isso não vou poder fazer mais. Porque vai ter uma pessoa. E felizmente eu tenho uma senhorinha aí, eu amiguei com ela também. Ela sofria muito também, problema dela é difícil, que ela é muito inexperiente, muito coitadinha. E ela não sabe nada também. Nada, não assina nome, surda. E eu fiquei com dó dela. Então eu, como diz? Sou marido e pai. Eu zelo dela e cuido dela, sabe? Tem hora que ela fica nervosa e eu dou um tempo pra ela. Tem hora que eu fico nervoso também. Mas ela, não, é inexperiente de tudo. Então vivia sofrendo dentro de uma casinha, um barracão pequenininho. Quando chovia, o barraquinho dela minava água. Aí ela tinha uma caminha, ela punha pra ela ___. Que ela tem duas meninas, tem uma menina que está na escola, que hoje dei computação pra ela, ela está com 15 anos. E tem a mais nova que está aí, está na escola também, estou educando. Então tá levando aí bem. Mas nesse tempo ela deitava e a água ficava correndo toda assim, por baixo da cama dela também. Aí ela pegava, punha umas tábuas, uns papelão na beira da cama, e no barracão dela todo. E aquela água por baixo. E ela morou quatro anos daquele jeito. Quando eu peguei ela lá, ela não tinha nada, nada dessa vida! Tinha umas panelinhas de fazer comida, e sem saúde. Operei ela, dei muito conforto pra ela. Então ela tá aí, sadia, mas só que inexperiente. É uma mulher que não serve pra mim, pelo meu incômodo, ela não serve pra mim pra resolver os meus negócios. Porque ela não sabe nada. É tampada, como diz. A pessoa que não tem uma leitura, uma analfabeto, por exemplo, é uma pessoa cega. Então pra esse fim aí, eu enxergo aí meio sem jeito. Agora então eu tô formando a menina, a menina tem uma natureza meio boa, sabe? Ela já tá no primeiro ano. Que ela terminou o grupo e agora está estudando o primeiro ano esse ano. Então ela nunca tomou bomba. Já tá pra escola. Então eu quero ver se eu sempre dou conselho pra ela. Ela diz que não tem vontade de casar, então é o seguinte: “Vou formar ôce e nós vamos ficar bem perto, pra mô docê olhar pra mim, às vezes eu pioro”. Pra resolver meus negócios. Porque hoje em dia, ainda mais negócio de banco. Hoje não pode dar autorização ninguém mexer com negócio seu, dela, dele. Tem que ser si próprio. Então não adianta, não dá. Tem que ser uma pessoa da família, por exemplo. Ela não é da minha família, mas eu tô criando, é mesma coisa de ser uma filha. Então eu tô educando ela, tô gastando com ela. Então vamos ver o quê vai dar. Deus é que sabe. Se eu for aturar ainda uns tempos, ainda. Mas agora essa mulher aí, ela é uma coitadinha, uma coitada. Inexperiente, ela é surda, ainda tem que falar com ela ___. Então, tem que falar com ela ___, até ela ouvir. Aí ela ouve. Mas tem hora que eu até enfezo com ela, tem hora que eu fico nervoso. Sabe por quê? A gente, eu já não enxergo. Então talvez eu já tenha aquele nervoso sempre. Mesmo pela natureza, e ela também do mesmo jeito. Que o signo dela é quase igual o meu. Então ela também é nervosa. Tem hora que eu falo com ela nervoso e ela também. É só eu falar nervoso que ela fica nervosa também.
P/1 – Qual é o signo?
R – Sagitário.
P/1 – Olha só!
R – O meu signo é sagitário, o seu é o quê? Seu signo? [grita]
P/1 – Meu signo é escorpião.
R – Escorpião, é tudo pertinho.
P/1 – Seu João, deixa eu fazer uma pergunta pra você. Lá na infância. Eu queria saber quando o senhor começou a trabalhar, se começou a trabalhar com o pai. Como é que foi?
R – Minha infância. Olha, a minha infância foi o seguinte: o meu pai também foi casado segunda vez. Ele casou com minha mãe e minha mãe me adquiriu. E adquiriu também um irmão, mas esse irmão infelizmente morreu, junto com ela. Perdi a mãe e o irmão. Fiquei só eu, filho único dele. Aí ele pegou e casou com uma outra. Mas antes ele pegou e deu eu pra minha avó. A minha avó é mãe da mulher dele, da minha mãe. E aí criei com a minha avó até a idade de oito anos. Aí ele pegou e danou pra tomar eu da minha avó. Levar na companhia dele com a outra mulher. Aí foi lá e me pegou. Eu não queria ir, chorei demais, ficava agarrando nas camas pra não sair de dentro, deitei, agarrei nas pernas da cama. E a turma me pegando, porque ele queria até brigar com meus tios, por causa de mim, pra me levar embora. Aí acabou e eu fui, não teve jeito mesmo, eu fui embora. Aí criei com ele até a idade de 20 anos. Então aí nós, era limpar a roça, trabalhar na roça. Ele pegou e me pôs na escola. Me pôs na escola, eu fiquei na escola. Muito inteligente, eu gostava de ler. E queria pegar uma formatura boa, mas não consegui, porque ele era pobre também. E naquele tempo era difícil porque eu tinha 11 anos, pensa bem, quando eu entrei na escola! Bom, aí saí, terminou isso tudo, aí veio uma lavoura de café, pegou uma lavoura de café. Aí eu ajudando ele capinar lavoura, limpar lavoura. Então até que eu emancipei. Mas quando eu emancipei, da minha mãe eu tinha herança. Mas não tinha do lado dele. Então aí quando eu emancipei fui tomar conta do que é meu. Da minha terra, fazenda da minha avó. Mas é muita coisa. Então eu tinha muito gado. Quando eu fui criado com ele, eu não conhecia quase que nem gado. Não conhecia quase, conhecia assim, conhecia porque no meio de fazenda a gente conhece o gado. Mas de meu mesmo, não conhecia nada. Então eu exibi, nessa época, ____ de tantas redes. Então aí me formei, me formei, aí já mudei o modo de ir fazendo. Então quando eu cheguei a casar, eu tinha muito gado. E a mulher também era fazendeira, filha de fazendeiro. E aí, mas é a tal coisa que eu tô contando procês: ela não prestava. O caso dela era da idade, só. Era coisa que não presta. Eu vivi com ela seis anos, foi difícil largar. Mas aí ela, do lado dela ela tinha herança e do meu lado... Não do meu pai, quer dizer, meu pai foi um coitado que só aprendeu trabalhar e não sabia mais nada. Só trabalhar em serviço grosseiro. Naquele tempo principalmente, o pessoal do mato, ninguém tinha profissão. A profissão era lavrar mato, lavrar terra. E era isso, a vida tocava desse jeito. Agora hoje que mudou. Então minha vida foi formada desse jeito, e hoje tá terminando assim. Fui muito bom da vista, enxergava longe. Hoje não tô enxergando nada.
P/1 – __________________________
R – Então, aconteceu como eu to dizendo procês. A minha mulher não prestava. Então ela, um dia, ela disse pra uma irmã dela, que ela tinha, nós estávamos o quê? Nós estávamos com uma ano e pouco de casado. Ela falou que tinha vontade de conhecer o mundo. Andar. Andar, das umas voltas no mundo. Aí eu escutei ela falando aquilo pra irmã dela, aí já fiquei meio curioso. Porque eu sempre mais vivo do que ela. Porque ela era só disposta, mas não tinha leitura nenhuma. Aí eu falei: “Se ela tem vontade de andar pelo mundo, então ela não tá a fim”. Aí fui encabulando, fiquei, e acabou, inda foi até seis anos e tanto. Seis anos, três meses e 14 dias. Adquirimos três filhos, aí ela abriu o jogo. Abriu o jogo mesmo. Eu saía de casa ela punha outro homem. Foi até que eu descobri. Quando eu descobri, eu falei: “Você vai embora”. Eu morava na minha casa e o pai tinha fazenda. Eu falei: “Vou por os três tudo dentro do caminhão e vou mandar você embora pra fazenda do seu pai”. Porque comigo você não vai morar mais nenhum dia. Aí ela não queria, e tal. Falei: “Você vai, você tem que ir”. Aí arrumei um caminhão, isso foi em Três Lagoas. Vocês conhecem Três Lagoas, né? Bem ali no Interlagos, eu morava no Interlagos. Interlagos é um bairro que tem quase fora, vem fora do centro. Eu morava lá. Aí lotei o caminhão, fiquei só minhas cobertas, e minha roupa e calçado e tudo. O resto eu dei tudo. Até meu paletó de casamento. Enrolei louça, trem pra mandar pra ela. Colchão, cama. E eu fiquei sem nada. Aí fiquei bagunçando praqui, prali. Aí o que acontece? Ela pegou. O velho pai dela morava na fazenda dela. Era 120 quilômetros longe da cidade mais próxima que nós temos lá. É Cassilândia, é vizinho da cidade da onde eu nasci. Aí meu sogro sempre ia na cidade, aí ela pegou e falou: “Eu vou com o senhor, pai”. Aí o velho pegou e veio mais ela pra cidade. Chegou cá em Cassilândia, o velho falou, agora você fica, nós já tinha morada lá também, era nossa cidade a bem dizer, quase, né, aí ela, o velho falou: “Vou à Paranaíba pagar imposto”. Porque lá tinha que sair e pagar imposto em Paranaíba, longe. Aí o velho saiu, foi pagar os impostos, ela entrou num caminhão e fugiu. Fugiu, foi embora pra Jataí, uma cidade que tem em Goiás, perto da capital, de Goiânia. Lá foi pra zona meretriz, e lá ficou. Ah, ela ficou mais de ano lá. E os filhos ficaram, tudo pequeno, com o pai, com o pai dela. Vá lá, chega o trinco naquela porta e volta cá. Aí ela foi parar lá e o Zé ficou com as crianças. Aí ela enjoou de ficar lá, aí veio, o velho fez uma casa pra ela no fundo do quintal dele. Aí os filhos foi crescendo, aí o “veio” pegou, levou ela pra Três Lagoas. Foi lá onde nós terminamos, quer dizer, eu ficava fora, mas depois eu fui pra Três Lagoas. Porque eu tinha uma menina, a mais velha tava com 14 pra 15 anos. Aí essa, os outros já estavam tudo grandinho, aí eu falei: “Agora eu sou obrigado a ir pra ajudar a mulher a criar, dar estudo pros meninos, acabar de formar as crianças”. Foi a época que ela mandou falar pra mim que se eu quisesse ver os filhos sozinhos, eu saísse de lá, que se eu não voltasse pra casa dela que eu saísse, fosse embora. Que ela não queria me ver lá. Porque se não ela ia deixar morrer de beber e largar os filhos sozinhos. Aí o quê eu achei? Achei mais fácil sair. Sair e largar ela em paz, criando os filhos. Porque senão minhas duas meninas e o menino. Como é que eu ia ficar com esses meninos? E ela morria de beber. E eu não queria ela, ela não me servia. Ela não serviu quando eu larguei, não tinha condições. Eu não queria ela de jeito nenhum, como eu não quis. Aí o que eu achei? Achei bom sair pra bestar, andar. Aí fui pra zona de garimpo, Mato Grosso do Sul, e por lá fiquei. Sem saber notícia dela. Sem mandar notícias também, não importei, larguei pra lá. De lá eu vim embora pra cá. Foi pra onde tá terminando agora. Que eu aposentei, eu ia voltar pra lá, mas aí arrumei essa “enganbelozinho”. Então parei aqui, já tinha perdido ela mesmo. Os meninos formou tudo. A minha menina mais velha casou. Pensa bem: eu saí de lá, deixei ela com 15 anos. Daí há dois anos ela casou. Ela já tem uma filha e essa filha formou advogada, hoje é advogada, e casou com um advogado também. E mora tudo em Birigui. Pensa bem. Eu não conheço nenhuma neta. Nenhuma.
P/1 – Quando o senhor chegou aqui em ____.
R – Garimpo. Garimpeiro.
P/1 – Como é esse trabalho de garimpo? Como era quando o senhor chegou?
R – Não, lá também eu trabalhava em garimpo.
P/1 – ______________
R – Também, a mesma coisa. Mesma coisa de lá é aqui. É pegar peneira, cavar chão, tirar cascalho, né, tirar o cascalho, peneirar ele, pegar o diamantinho e correr. Mas eu corria, vendia o diamante, em vez de eu fazer qualquer coisa, eu corria pro boteco: ia beber cerveja. Bebia cerveja a semana inteira. Mas isso é brincadeira. Eu não posso nem falar isso porque está entrevistando. Mas eu to falando que é uma brincadeira, porque vai sair também, porque aí já vai saber que eu tô brincando. Mas então eu vendia o diamante, como todos fazem.
P/1 – Você vendia pra quem?
R – Ah, tem o comprador, tem o capangueiro. Toda cidade. Em Diamantina tinha uns 30 compradores.
P/1 – Até hoje?
R – Até hoje. Você pode levar uma pedra desse tamanho lá, que eles compram. Uma pedra desse tamanho assim, ó, precisa dinheiro. Mas pode lá que eles tem dinheiro pra pagar.
P/1 – Qual o melhor lugar pra vender?
R – Qual é melhor?
P/1 – É.
R – Não, toda região de água, toda vertente tem cascalho. Agora que não tem mais, acabou. O povo revirou tudo. Já a pessoa que vai tirando só o diamante e largando a canjica pra trás, vai largando. Como hoje mesmo, vai fazer uma casa aí, ó. Pega aquela canjica que já peneirou pra pegar diamante, pra misturar no cimento, fazer o concreto. Fazer massa pra ter casa. Então o garimpo é isso, é lavando cascalho. Mas vocês, como diz, querem que eu converse isso. Vocês não entendem, então tô explicando. Então é isso: lavar cascalho e levantar cedo e ir pra lá e cavoucar. Faz aquela montoeira, pega peneira, vai lá, peneira ele.
P/1 – É perigoso?
R – Tem garimpo que é perigoso. Mas têm muitos que não. Como a gente que garimpa manual, como aqui, que é um lugar plano. Que não tem serra. Então não tem perigo nenhum. Agora tem perigo na serra, né? Às vezes cair, vai cavando por baixo. O cascalho entra. Então o garimpeiro tem esse negócio, ele entrou, ele fica doido: “Aqui tem diamante”. Então, às vezes, num lugar que já começa a pegar. Então o cascalho entrou debaixo de uma pedra, às vezes uma pedra alta. Então ele fica naquela, e ela não cai, e ela não cai, e vai entrando, né? De repente a pedra, vummm, cai em cima dele e pronto. Como tem acontecido, não muito, né? Mas sempre acontece.
P/1 – Esse é o garimpo manual, né? Você já trabalhou com draga?
R – Manual. Com draga, com trator, com tudo quanto é trem. Já trabalhei com tudo.
P/1 – E como é?
R – É a mesma coisa, é tirando com o maquinário. Então aí é mais difícil, né? Porque aí já tem o trator, tem retroescavadeira. Tem mais outros tipos de coisa, de tirar cascalho. Agora, a draga é como uma bomba. Porque a draga é uma coisa e bomba é outra, assim, no modo de ___. Porque a draga é um maquinário grande, grandão. Aqui tem dela, no Jequitinhonha, né? Então essa draga, ela mesmo entra dentro do rio, e ela sai trabalhando dentro do rio. Porque o rio Jequitinhonha é grande, é um riacho bom. Ela entra dentro, e vai trabalhando, e o cascalho vai caindo dentro dos maquinários. Então acontece que só sobra, só fica o cascalhozinho já. Com as pedra grandes já joga tudo fora. Então ali só sobra aquele cascalhozinho de lavar na peneira, pra pegar o diamante. Então ali agora tira aquele cascalho dali e leva pra peneirar. E a draga fica trabalhando e fazendo aquilo, né? Mas aí é um serviço também mais fácil, né? Agora tem o garimpo perigoso na serra, com o trator, por exemplo. Ou manual, manual também dá na serra. Porque na serra não tem jeito de entrar um maquinário, uma bomba, não tem jeito. Agora, tem um trator, por exemplo, vai lá, quebra. Mas tem outros tipos que não tem jeito. É como eu to dizendo, tem que tirar no manual. Tira num (carindezinho?), um tachinho. E vai tirando ele pra fora, vai amontoando. Então nessa hora que é perigoso uma pedra. Uma beira de serra. Vai trabalhando e de repente aquela serra. Aqui mesmo, aqui mesmo em Jequitinhonha já morreu, de uns três anos pra cá já morreram umas quatro pessoas com isso. Com pedra, pedra cai em cima. Aí cai em cima e chateia. Às vezes fura aquele buracão. Aí vai comendo, vai comendo. De repente aquilo que é meio mole, de repente aquilo junta. Outra hora cai um pedaço de terra. Aterra o garimpeiro lá dentro que o garimpeiro, pra gente tirar ele demora dois, três dias pra tirar aquele barrancão. Pra tirar pra enterrar, né? Então tem isso. Isso aí não é, isso é raridade, mas acontece. Agora hoje eu nem vejo isso, porque eu nem lá vou mais.
P/1 – Quando você tava no Mato Grosso o pessoal falou pra você que no Jequitinhonha estava bom de garimpar?
R – Não, não. Foi o seguinte: quando eu tava lá, eu trabalhava com garimpo. Porque o garimpo lá, também tem garimpo igual aqui. Só que lá não tem serra, e aqui tem muita serra. Aí veio, tinha um homem de lá, ele gostava de andar, um sujeito trabalhador, né? Então ele veio aqui, aqui não, ele veio na região de... Como é que chama, gente? É um tal de Três, Dois Córregos, é pra lá do Jequitinhonha, é pra lá de Belo Horizonte, pra lá uns 600 quilômetros. Então lá arrumou lá um negócio de trabalhar com bomba, e aí eles não conheciam bomba de trabalhar garimpo. Aí foi lá em mato Grosso, e contou isso lá, e trouxe uma bomba por conta dele. E aí vieram mais oito bombas dessa época. Cada bomba com oito garimpeiros. Aí foi quando eu vim junto, né? Falei: ah, vou dar uma volta pra lá, né? Aí vim, fiquei lá. Trabalhei lá um ano. Aí de lá surgiu essa notícia daqui de Diamantina. Aí eu vim pra cá pra Diamantina, mais quatro companheiros. Aí desses quatro sobraram dois. Desses dois ficou só eu. Aí eu fiquei sozinho aí. Os outros foram todos embora pra trás, voltou tudo. Voltou tudo pra lá. Eu fiquei. Aí continuei trabalhando aí, mais um tempo. Agora, depois que eu perdi a vista eu parei. Agora eu não trabalho mais.
P/1 – ________________?
R – ___ meu. Aí ele ficava firmando. Aí ele firmou muito assunto. Muito, quase uma meia hora de eu contar minhas histórias assim, sabe? De problema de começo de vida. Então ele firmou. Pode perguntar. Vocês vão lá amanhã?
P/1 – Eu vou hoje.
R – Vocês podem ir lá procurar por mim, que vocês esteve aqui. Porque vocês soube que eu?
P/1 – _____________________
R – Lembra de mim, né?
P/1 – ______________
R – Ah, pois é.
P/1 – _______ lá em São Paulo, _______.
R – É, né?
P/1 – ____________
R – Pois é, isso mesmo.
P/1 – O senhor foi, tirou foto.
R – Ih, gente. Ó!
P/1 – _____ de fotografias. ______
R – O primeiro _____? Eu comprei um ____. E aquilo era uma influência louca, né? Eu fui batendo, batendo, batendo. Nunca mais acabava aquele ____. Nunca mais acabava. Eu digo: mas não é possível, eu vou tirar esse filme! Aí peguei, tão trouxa que a gente é, bobo no começo do serviço, da profissão, por exemplo, eu não dei fé que aquele filme tinha que enrolar lá dentro da máquina, e desenrolando de uma parte passar pra outra, porque o filme natural. O ____. Vocês não entendem disso, não, né? Então é uma maquininha, né? Então eu bati o foto, então ele vem enrolado aquele filme, porque vem um filme. Porque tudo é de um jeito só, né? Então tirava ele, colocava na máquina e passava ele na frente, pra mó de ele poder, vai batendo e vai rodando a rodinha, aí ele vai enrolando. E vai passando pra outra roda. Pra outra rodinha. Vai fazendo outro filme. Porque ele desenrola todo. Ele desenrola de cá e enrola na frente. Mas de cá não tem nada. Porque ele não pode pegar claridade. Aí vai enrolando. Batia uma fotografia, aí tem a rodinha, aí roda a rodinha. Aquele tantinho só de bater foto. Então aquilo é separado. Quando eu enchia o filme, aí a rodinha não rodava mais. Aí não tinha mais filme. Aí tem uma pecinha na máquina, sai com aquela pecinha e enrola ele pra trás. Enrola o filme todinho pra trás. Então, quando termina, aí tira. Aí leva ele. Igual esse daí, igual esse. Então levava pra câmara escura, entrava lá e tirava ele e punha dentro do tanque. Eu fazia isso. Depois eu mesmo revelava. Eu revelava o filme, né? Depois que eu batia dele, eu entrava debaixo de uma... Se era de dia, ou qualquer hora, de noite lá pro mato, porque lá não tem câmara escura, então eu ia na festa, por exemplo, batia, enchia um filme. Vai lá pra fazenda, eu enchia um filme de 80, 80 e poucas poses, né? Então aí eu entrava debaixo de uma coberta e tirava ele todo do tubozinho, passava ele pra dentro da coisa de, do revelador, sabe? Então, dentro do revelador ele tinha que passar sete, ___. Aquelas sete químicas, duas passam de câmara escura, com o tampo fechado. Agora, depois que abre, depois que passa duas, agora tem que tirar o filme todo de dentro. Aí pra dar exposição, pra exposição de luz. Como me aconteceu. Um dia eu fui numa festa, aí eu esqueci de levar uma lanterna, porque tinha que ter uma lanterna, mas eu esqueci dentro do quarto. Com pressa e entrei na condução e fui embora com a mala, com a pasta de ter, mas esqueci a lanterna. Aí cheguei lá enchi o filme, aí deu de revelar. Eu falei: pega a minha blusa lá. Não, agora não adianta. Aí eu cheguei lá e falei, outra coisa.
P/1 – ________
R – Chegou lá na beira do córrego e eu levei, peguei uma lanterna emprestado. Tirei uma lanterna emprestado e agora? Tudo é de minuto, minuto terminado. Cada uma química tem um total de minuto, de trocar aquela química por outra. Aí chegou o menino, eu tirei uma lanterna emprestada, chegou o moleque: “O dono da lanterna tá pedindo a lanterna de volta”. Eu falei: “Ah, mas como é que eu vou revelar meu filme, não tem claridade nenhuma, numa escuridão dessas”. “Ah, não, mas o homem tá pedindo a lanterna”. De certo com medo da gente. Eu entreguei a lanterna e falei: “Pronto, agora como é que eu vou fazer?” Porque o filme tem que dar exposição de luz, e tem que ser uma luz boa. Porque senão não presta a fotografia. Aí eu falei: “Não tem problema”. Aí passei as duas químicas, aí pode tirar o filme. Aí pode tirar o filme de dentro do tanque, né? Aí tirei, agora aquela correiona desse tamanho, assim. Aí eu falei: “Pra dar exposição de luz, agora tem que dar contraste”. Aí peguei e, pegava o ____, pendurava o filme no fio e disparava o ___. Esses ____. Aí batia lá em cima, batia, até sair embaixo. E batia bastante. Então dava exposição de luz. Dei exposição de luz e revelei. Quando eu cheguei lá, demora uma hora pra revelar, quando eu cheguei lá na claridade da luz, que eu olhei assim. Parece que foi o melhor filme que eu bati. Não perdi uma fotografia. Aquilo saía boa demais. O pessoal gostava, a freguesia gostava de chamar eu pra bater um foto. Eu, além de saber fazer a pose na pessoa, a localidade, por exemplo, pra sair uma fotografia, com um bom fundo, um fundo mais bonito. Porque muitos às vezes, batem uma fotografia de qualquer jeito, com a pessoa em qualquer lugar. Então a fotografia sem fundo ela não apresenta, né? Então quanto mais o fundo melhor, um fundo mais bonito. O fundo que a gente fala, vocês sabem o que é? É o negócio de tampar por de trás. Então, a pessoa tirar uma fotografia, por exemplo, é virar ele aqui pra cima assim, bater a fotografia, ela não presta. Porque ali não tem fundo, o fundo é o infinito. Então não tem jeito, né? Então tem que ser no fundo de uma casa, encostado em uma mangueira, num trem qualquer. Então numa serra, que a gente sabe o que, vocês sabem o que é também. Agora eu sempre caprichava com o freguês, escolhia o fundo pra dar uma vista bonita na fotografia. Umas flores, uma paisagem mais bonita. Então eu caprichava com a pessoa, às vezes a pessoa, ele ____ veio aqui, ____ arrumou a minha blusa. Quer dizer, se a pessoa tá descomposta, por exemplo, o fotógrafo tem que ir lá, corrigir, por a pessoa numa pose mais arrumada pra sair uma fotografia que ele mesmo vai ficar satisfeito com aquele serviço. Por exemplo: se manda tirar uma foto sua. E eu sou fotógrafo, você não entende nada, por exemplo, eu sou fotógrafo, também não procuro fazer uma pose bonitinha em você pra tirar aquela fotografia. Você vai olhar a pose, e falar: isso não é eu, não! Se dá esse fato também, porque é fato de capricho no profissional, por exemplo. Então é isso. Eu trabalhei 15 anos. Eu trabalhava com a Polaroid, com a Polaroid eu tirava fotografia e revelava. Então, quando eu aparecia naquela região, que ninguém conhecia, aí eu falava assim, a pessoa falava: “Eu queria tirar um foto, eu queria tirar uma fotografia, mas o senhor tem que encher um filme”. Por todo mundo, muita gente sabe que tem que encher um filme pra poder revelar. E eu tanto fazia de ___, se eu batesse três fotografias de monóculo, eu cortava, eu perdia duas fotografias, no filme. Naquele tempo era cinco cruzeiros cada um monóculo. Então eu falava assim: eu vou perder duas fotos no filme, mas eu aproveito três, pego 15 contos com mais duas fotos eu compro filme. Que era 25 contos um filme. Agora, a Polaroid, aí o cara falava: “Olha, eu queria uma fotografia, mas o senhor demora pra entregar?”. Eu digo: “Eu entrego agora mesmo”. Ele falava: “Mas como o senhor entrega agora mesmo?”. Eu digo, “Uai, vamos bater”. Só que a fotografia é mais cara. Naquele tempo eu cobrava 20 contos, 20 cruzeiros numa fotografia com a Polaroid. “Mas o senhor entrega, como assim?”. Eu falei assim: “Da hora que eu bater eu entrego ela em um minuto”. Eles ficavam admirados: “Ah, mas não é possível!”. Aí eu batia e revelava. Eu pegava, tirava ela depressa, punha num ___, deixava uns dez segundos, dez ou 30 segundos. Quando eu tirava já abria ela. Chegava a pingar a gelatina. A gelatina dela chegava a pingar. Porque, debaixo do braço da gente é quente, né, então aquilo chegava a derreter, aí tirava ela. O cara olhava, falava: ó. Já tava pronta, era só enxugar. O cara olhava e falava: “Poxa vida, mas isso aí é bacana! Um filme de Polaroid era quatro poses. Então eu entregava a fotografia na hora, lá pro meio das fazendas, pros matos pra lá. Trabalhei, eu ganhava muito dinheiro. Só que a gente não tinha afirmativa, eu gostava mais de andar. Trabalhar. Acontece que foi ficando muito explorado demais, a gente ganha, mas gasta muito. Com negócio de pensão, dormindo em pensão, gastava muito. Eu não cheguei a juntar grande coisa, não. Mas se eu fosse uma pessoa que tivesse uma afirmativa mais parado. Uma cidade boa, eu enricava também. Porque isso aí dá muito dinheiro. Fotografia dá dinheiro, fotografia dá 40%, 50. Ó, um filme de monóculo, eu comprava um filme de monóculo por 25 cruzeiros, o revelador valia 40. um revelador, com um revelador eu revelava três filmes. Agora cada um filme eu fazia 400 contos. Então, quer dizer, eu tirava bem dizer só o dinheiro do filme, que era 25 contos, o resto tudo era lucro. Tudo é lucro porque o fotógrafo não vai falar isso pra freguesia, por exemplo, né: “Eu ganho tanto”. Mas quem tá lá, o freguês que vai ser fotografado, que pede uma dúzia de foto, ou pede uma dúzia, que sempre ele precisa. Ele não sabe se aquele trem tá dando tanto lucro pro fotógrafo. Mas tá. Quer dizer, entre nós, por exemplo, eu que já fui fotógrafo e vocês que são. Vocês sabem que o trem dá lucro. Agora a gente não vai falar, vai trabalhar pra ganhar dinheiro. Um freguês, por exemplo, fotografar um freguês pra tirar uma meia dúzia de fotos dele pra cobrar na base de oito reais. De um foto pra cima, ou de uma dúzia pra baixo, sempre é oito reais. Assim, pra lá tirar uma dúzia de fotografias cobra oito reais. Então, quer dizer, mas aquilo dá 50% para ele, dá até mais talvez. Mas é uma coisa que mais, é uma profissão muito boa e que quase que mais dá dinheiro. Dinheiro, assim, é uma profissão grosseira, por exemplo, de um começo pouco, que às vezes não tem uma condição boa de começar uma vida com mais dinheiro. Que às vezes não tem dinheiro pra começar nada. Então isso aí é uma coisa. Então começa de nada. E então a pessoa sendo inteligente, caprichando, aí logo ele é um profissional. Aí dele ser profissional, ele sempre começa a ganhar um dinheiro bom. Ganha fácil. Começa do nada e chega lá. Agora, como muitas coisas às vezes a pessoa tendo um dinheiro bom não vai começar, não quer uma fotografia pra começar, de pouco, né? Começar com pouquinho dinheiro, sem recurso, né? Que ele tem o dinheiro que ele pode começar que já vai ganhar muito. Então isso é uma profissão que eu segui ela, e você está seguindo, mas é uma profissão que começa assim de nada e chega lá aonde quer. Então é isso aí.
P/1 – O senhor aprendeu a fotografar com alguém?
R – Ah, claro que a gente aprende com os outros, com uma boa instrução, né? Porque sozinho, sozinho assim, eu aprendi. Por quê? Eu te digo. O cara, eu até tava trabalhando no mato. Aí ele andando ambulante, ele tirava fotografia, ele trabalhava mais com reprodução. E eu trabalhei com aquele negócio também, mas eu não gostei. Porque naquele tempo era muito difícil. Então tinha que tirar fotografia da pessoa, e levar lá em São Paulo, mandar pra São Paulo pra reproduzir o quadro. Reproduzir a fotografia e depois punha no quadro pra entregar. Aquilo demorava um ano! Depois que tirava a fotografia da pessoa. Porque tinha que tirar ao menos 50 fotografias pra mandar pra São Paulo pra poder compensar a despesa pra reproduzir e por no quadro aquelas fotografias pra entregar o quadro. Agora quando chegava na fazenda, eu punha aquilo dentro de uma ___ ou um trem. Tinha que ser grande pra ir entregar nas fazendas. Às vezes tinha pessoas que sempre gostava de fotografar e por a família toda num quadro, às vezes cinco, seis, até 12 pessoas eu punha. Mandava fazer. Agora, tinha que ser um quadro maior, né? E aquilo dava um trabalho danado. Aquilo eu não gostei, não. Eu fui pouco tempo lá dele, não gostei de trabalhar com aquilo, dá trabalho danado. Aquilo eu não gostei. Mas entender eu entendia tudo. Entendia de tudo. Hoje é que eu não faço nada porque não enxergo nada, mas entender tudo eu entendo. Então a minha vida foi até, nisso aí foi boa, eu vou dizer pra você. A gente aprende, mas a gente não aprende nada sozinho, a gente aprende com instrução. É sozinho como diz, mas tem que ter instrução, tem que ter instrução de uma pessoa que sabe. Um profissional, né? Porque uma pessoa que nunca viu uma máquina, por exemplo, ele não sabe ajeitar um filme nela. Então tem que ter uma pessoa pra ensinar a gente como é que é. (pausa) Eu usava Olympus, esses “Kodaquizinho” eu não gostava. Sempre usava Olympus, marca de ___ e sintonizar o freguês pelo vidro aqui. Aqui sintonizando. Você conhece a Olympus ou não? Então, eu trabalhava com aquela máquina pra fotografia de preto e branco. Agora monóculo não, monóculo é diferente. Vocês chegaram a trabalhar com monóculo? Não?
P/1 – Não.
R – Mas conhece a máquina?
P/1 – Não, só a fotinha.
R – A fotinha só. Quer dizer, agora o monóculo é mais fácil. Com o flash, ligava o flash na máquina, o flash pendurado aqui, e a maquinazinha também pendurada. Apareceu o foco, já pegava a máquina, sintonizava, já ligava no flash, então no bater, disparar a máquina pra fotografar a pessoa o flash disparava junto, saía tudo junto. Eu gostava de pegar aquela coisinha de disparar a luz do flash, eu gostava de pegar ela, alto aqui com a mão, então eu sintonizava a pessoa com uma mão só e punha o flash lá em cima, assim, pra chegar mais perto da pessoa. Aí disparava e a pessoa saía mais clara. Eu fui um profissional que sabia trabalhar, sabia ganhar o dinheiro. Só que era meio sem jeito porque naquele tempo era difícil, não era igual hoje. Se eu morasse numa cidade boa, isso aí, talvez a gente melhorava mais. Mas eu trabalhava era com dificuldade, né? Era difícil pra trabalhar. Agora vocês quer mais, pode falar.
P/1 – O que te atraiu na fotografia pra trabalhar com fotos?
R – O que me atraiu? Olha, tudo isso, ainda mais fotografia. Isso é uma coisa que atrai todo mundo. Não é só o fotógrafo. Isso atrai todo mundo. Porque uma fotografia todo mundo gosta. Como diz a gente, a gente fala que atrai por isso. Porque todo mundo gosta de uma fotografia. De fotografar ele, de ser fotografado. Ou se ele, por exemplo, interessa trabalhar. Já aí interessa pra ganhar dinheiro. Então ele vai fotografar a pessoa não é por gostar. Dizer: “Eu gosto disso, tô fazendo porque gosto. Ele já tá fazendo porque, pra ele ganhar dinheiro. Sair um dinheiro pra ele comer, pra ele beber. É isso aí. Mas que todo mundo gosta é. A fotografia atrai todo mundo, todo mundo é atraído nesse negócio da fotografia porque gosta da fotografia. É um trem que tira a fotografia de uma pessoa, a pessoa tem que atrair com aquilo porque sai a fisionomia dele, sai tudo, rosto, tudo ali. A pessoa, idêntico na fotografia. Por isso é que atrai. Atrai todo mundo. Não é só um nem dois. Todo mundo é atraído pela fotografia.
P/1 – O que o senhor mais gostava de fotografar?
R – O que eu gostava de fotografar? Gostava de fotografar mulher bonita. As mais bonitas é que eu gostava de fotografar. Agora as feias eu fotografava pra ganhar dinheiro. [risos]
P/1 – Tirando gente, assim?
R – Tudo é brincadeira. O que eu gostava, é porque é um trem que todo mundo gosta. É, fotografar é um trem bom, a gente gosta de fotografar. Não é dizer o que eu gostava de fotografia, não. Eu gostava de fotografar, como diz, exercer aquela profissão, aquele pedido, aquela hora. Aquele freguês ia me pagar, né? Então a gente gosta de fotografar é por isso. Então tem aquele gosto. Aprende e tem aquele gosto de fotografar a pessoa. Aí já é pra ganhar dinheiro. Você me pergunta: o que eu gostava de fazer? Tirar fotografia de uma mulher bonita. Falei assim. Aí brincando, quer dizer, vai sair também aí mais a pessoa vai saber que a gente tava brincando. Então é isso aí.
P/1 – Tirando gente, pessoas assim. Quando o senhor andava, passeava, ia pro rio assim. E tava com a máquina, o senhor já tirou foto de árvore?
R – Ah, já, uai. Eu tirava duma serra, duma criação. Qualquer criação também, eu tirava, às vezes. Porque às vezes eu achava bonito um tipo de coisa, ou mesmo pra ganhar dinheiro. Porque eu ganhava dinheiro, eu não tinha escrúpulo de certas coisas, sabe? E eu às vezes tirava fotografia de uma pessoa, que era só eu mesmo e aquela pessoa que sabia daquilo, porque procurava, se eu tirava aquela fotografia, quer dizer, uma pessoa nua. Então, aquilo é uma fotografia que não é pra todo mundo ver. Mas eu tirava porque a pessoa pedia. Se eu tinha coragem de tirar fotografia da pessoa nua, daquele freguês nu. “Tenho, ué, porque não? A máquina é minha. Eu tenho coragem de tirar.” “Então você tira, bate.” Às vezes eu cobrava mais caro. “Você paga mais caro, mas eu tiro.” Uma vez eu tirei um, enchi. Agora pensa bem na minha. Isso aí não é brincadeira, não. Foi verdade mesmo. De uma mulher. Eu bati fotografia, enchi o filme de monóculo dessa mulher. Ela nua. E bati também de um casal de goianos, eles moravam em Goiânia, então tem, Caldas Novas é um lugar de águas quentes. Você já viu falar ou conhece lá? Vocês precisavam ir lá, gente. Vocês precisavam ir a Caldas Novas, Morrinhos, aquela região ali. Águas Quentes, que tudo fica pertinho. Pra vocês ver, gente! É ônibus chegando de hora em hora lotado de gente de toda parte do estado e vem até de outros estados mais longe. E eu ia pra lá e lá apareceu um casal goiano, eles eram casal de doutor, médico: a médica e o médico. Aí pegou e vestiu o uniforme de tomar o banho, porque a água lá é quente. Porque lá tem água de até 40 graus de caloria. E eles então, eu aí com a máquina de monóculo. “Ah, vai bater o monóculo aqui”. E ele sabia que ele era, que o cara era. Quando a gente vê ali, daquele jeito, a gente já sabe que não é, pessoa que tem dinheiro. Aí ele falou: “Bate assim”. Ele pegava a mulher, levava a mulher, a mulher só com aquele vesitidozinho assim, só pra não ficar nua de tudo, né. Então eu enchi um filme, menina! Enchi um filme de monóculo, com 80 e tantas poses, falei: “Gente, mas será possível! Será que esse homem vai me pagar direitinho?”. Falei: “400 e tantos reais”. Conto, naquele tempo era mil, 400 e tantos mil que eu vou apurar nesse monóculo. Aí ele, quando eu enchi o filme ele falou. Falei: “Oh, bom, acabou o filme, vou trocar”. Ele falou: “Não, não, tá bom, aí já tá bom”. Aí falou comigo assim: “Que hora você me entrega?”. Eu falei: “Agora mesmo, daqui há uma hora e meia eu lhe entrego”. Porque demorava uma hora pra revelar, né? Aí então daqui a uma hora e meia. Ele falou: “Eu tô, na hora que eu sair daqui, nós vamos lá pra o hotel ____”. Que era um hotel de um japonês. Eu falei: “Tá”. Aí: “Meu nome é Fulano de tal e ela é Fulana de tal”. Aí eu fui pro hotel, né, cheguei lá, tirei o filme, revelei o filme, beleza. Pus tudo no monóculo, arrumei tudo e levei lá. Falei: “E agora?” A gente vai com o coração na mão. Cheguei lá, menina, a mulher tava passando roupa, e ele deitado. Aí eu falei com a dona: “Ó dona – ela já tava bem vestida, falei – a senhora que tirou a fotografia lá comigo, na piscina, no banquete?”. Falou: “É eu mesmo”. Falei: “Cadê o esposo?” “Tá deitado”. Foi lá, chamou ele, e aí foi mais uma hora até ele me pagar. Porque ficava olhando, olhava. Fazia farra com ela, né? Ó como essa saiu boa! Até que ele olhou as fotografias tudo já tinha passado quase uma hora. Aí ele falou: “Ó, ficou muito ótimo o seu trabalho. O senhor trabalha muito bem”. Aí foi lá dentro, pegou. E falou: “Quanto dá?” Falei: dá tanto. Falou: “Ah, não tem problema”. Foi lá, pegou o dinheiro, contou tudo assim e pagou tudo na hora. Só dois fregueses me encheram um filme e me deu 400 e tanto de lucro! Aquilo dava dinheiro. Eu gostava muito de trabalhar por causa disso, então. Porque é animação, né?
P/1 – O que aconteceu com essas fotos nus? Você tem alguma guardada?
R – Não, o monóculo não atura porque ele vai indo e quatro, cinco anos ele não presta mais. Vai desaparecendo, né? Eu guardei muito. Eu enchia. Às vezes eu enchia um filme. Batia de um, batia de outro. Quando eu ia entregar, às vezes muito tinha sumido. Porque sempre, depois é que eu comecei a exigir receber adiantada. Mas muito não gosta de pagar adiantado. Então eu perdia muito foto. Muito monóculo. O monóculo bacana, mas o dono não pegava. E eu pegava e guardava. Ia guardando pra ver se achava, uma hora ele pegava. Quando não pegava mesmo, eu tirava. Às vezes eu revelava um filme aí eu precisava de um monóculo. Então eu tirava, desocupava aquele monóculo que tava com aquela fotografia e punha a película dentro de um vidro, um vidro grande assim. Qualquer tamanho, né? Aí então ia. Tinha vez que eu enchia o vidro de película, de fotografia. Era só tirar do monóculo. Tirava ela dali, o quadrinho, pra desocupar o monóculo pra por de outro freguês que ia me pagar na hora. Isso eu guardei muito tempo, e ainda ela ia “descorando”, pintando, sabe, assim. Peguei… O quê? Deixa eu ver, mais ou menos quando eu parei? Ah, já tá com 25 anos. Então ela não é um trem que, por exemplo, um quadro, uma reprodução de quadro, uma fotografia bem tirada. Ela mesma tem uma fotografia que ela tirou no tempo de moça. Hoje tá difícil de ela olhar, pegar pra vocês ver. Então, isso ainda atura. O monóculo não atura muito. Porque senão eu tinha pra mostrar pra vocês. Não tenho nada pra mostrar, não.
P/1 – Senhor João, o que o senhor achou de dar o seu depoimento pra gente? De contar sua história? O que o senhor achou disso?
R – O que eu achei?
P/1 – Dessa experiência?
R – É, porque hoje muda muito, né? É, hoje muda. Eu não sei, porque, isso aí eu tô servindo vocês. Porque na profissão de vocês, então vocês, isso aí é pra fazer qualquer coisa lá fora. Não sei se é benefício do mesmo fotógrafo, ou qualquer coisa, eu sei que pra mim eu tô fazendo um favor. Acho, sim. Ah, sim. Que eu fazendo um favor, sim, de vocês, como dizer? Me ligou, disse que vinha me entrevistar. Tá certo, eu ia. Tô contando aqui. ___ mandei sentá pra mó de ele ser entrevistado, pra mim contar pra ele.
P/1 – O senhor gosta de contar sua história?
R – Gosto. Porque é uma coisa que foi da minha profissão. Eu gostava da profissão então eu gosto de contar. Então tem coisa que eu conto e até dá vontade de rir. Porque tem coisa chata, né, e tem coisa difícil. Como hoje vocês não trabalham com dificuldade... Com dificuldade trabalhávamos nós, que aprendemos naquela época de 20 e tantos anos, 30 anos atrá, que talvez vocês nem eram nascidos, talvez. A gente já sofria. Agora hoje tem facilidade da pessoa trabalhar nessa profissão. Talvez você está aí ganhando, só agora você já vai levantar aí um dinheiro, um dinheiro bom nessa entrevista. Talvez, eu não sei. Vocês podem até me contar.
P/1 – O que a gente quer é que o Brasil saiba um pouco da sua história. Porque pra gente a sua história é importante.
R – Pois é.
P/1 – Não tem isso de dinheiro. Quem ganha é o país todo. A gente quer que as pessoas saibam da sua história.
R – Ah, sim, mas procês, por exemplo, que estão aqui. Procês também dá um dinheiro, porque é a profissão de vocês.
P/1 – Ah, sim. A gente ganha experiência também, ganha muita experiência.
R – É isso que eu quero dizer. Não, certo, pois é. É isso, porque existem essas coisas, é verdade. Agora o que eu falo, que vocês também tá, ganham o dinheiro é por causa disso. Vocês estão também ocupando o tempo de andar atrás disso aí, tá dizendo que o Brasil todo que ganha. É isso, estar fazendo isso. Tudo bem! Mas por quê? Vocês também estão correndo atrás, agora vocês estão correndo atrás do de vocês. Do de vocês que vocês querem. Dinheiro. Você está trabalhando. É a mesma coisa quando eu ia tirar a fotografia de um freguês, eu tirava a fotografia, ele me pagava, né? Agora vocês, já não é assim, vocês estão entrevistando. Tem que estar dizendo: o país! Isso tudo interessa, né? Agora pra vocês interessa ganhar o de vocês. Claro que vocês não vão trabalhar de graça, né? Você já sai. Uma equipe, por exemplo, tá aí, nós tá aqui, Duas horas que nós estamos aqui. Então à toa vocês não estão. Vocês estão ganhando qualquer coisa. O tempo de vocês. Vocês estão tirando o tempo de vocês. Que seja por mês, que seja por entrevista, que seja por qualquer coisa. Então vocês estão tirando o de vocês. Então, na janta, vocês vão jantar por conta da firma, que seja uma firma grande ou que seja uma pequena. Vocês vão jantar, almoçar, dormir. E então, quando resumir, é igual uma novela. A pessoa tá ali, fica de um jeito, conversa daqui, conversa dali. Mas acaba a novela, o país tem interesse nela, o país interessa naquele filme pra passar em todas as rádios pra todo mundo ver. Todo mundo está vendo aquela passagem que aquela pessoa passou, no filme. Então ele sai pra pessoa ver, aquele pessoal que trabalha na novela. Aí, 30, 40 pessoas, então ele tem o dinheiro; ele tem, só dele ficar na boa ali. Como aqui teve uma novela aqui: Irmãos Coragem, né? Então, essa é o quê? Tinha homem aqui, profissional de ganhar 40 mil, naquela época, cada um. Então é como vocês estão fazendo aí. Então vocês também estão ganhando dinheiro.
P/1 – _______________?
R – Nada. ___ o seu rosto, como eu tô. Mas eu não tô focando o seu rosto. Eu tô, por exemplo, eu vou focar o aparelho aqui, da máquina. Eu foquei a máquina, tô vendo o seu rosto. Foquei seu rosto eu não tô vendo seu rosto, tô vendo o rosto dela lá. Mas é pelo lado, pelo centro do olho, porque a gente tem uma menina do olho. Então essa ___ no meu olho, é por trás, porque eu já fiz todos os exames, então não tem jeito de tirar, não, porque tem que tirar o olho. Pra tirar o olho, como é que faz? Pra fazer uma cirurgia no fundo, porque na frente eu fiz. Na frente do olho eu fiz, que é catarata. Então isso aí eu fiz. Mas do fundo do olho, não. No fundo do olho não tem jeito. Agora é como eu to dizendo, eu tô enxergando o seu rosto, mas eu não estou olhando no seu rosto, não. Eu tô olhando na máquina agora. Eu tô enxergando ela agora, mas tu eu não tô enxergando. Agora pode conversar mais?
P/1 – ____________
R – Oh, agora vamos terminar logo porque senão fica frio. Pois então, agora, daqui você vai partir pra onde?
P/1 – Diamantina e Milho Verde.
R – Vocês vão pra Diamantina hoje e amanhã vai pra Milho Verde. Hum, São Gonçalo, Rio das Pedras. Eu conheço tudo isso aí. Serro, vocês vão também?
P/1 – Só de passagem.
R – Porque vocês falaram que iam descer. Vocês vão Jequitinhonha abaixo ou?
P/1 – A gente já desceu lá de cima até aqui.
R – Vocês já. Não, desceu de cima, não. Desceu de baixo.
P/1 – É, aqui é o alto, né?
R – É, aí vocês subiram, é? Vocês já vieram lá, de qual cidade?
P/1 – _____, _____.
R – Ah, vocês já estiveram lá. Então vocês estão fazendo o percurso do Jequitinhonha, como vocês falaram, fazer o levantamento em todo o Jequitinhonha. Então aqui é quase a cabeceira. Eu conheço até onde ele nasce. Não é longe, não.
P/1 – Onde que nasce?
R – Aqui perto do Serro.
P/1 – E como é lá?
R – Lá nasce no meio do mato, lá. Aquela aguinha; nasce aquela aguinha, logo chega outra entra nele, vai crescendo, vai crescendo. Até quando chega na posição da onde vocês conheceram ele, procura ele acima. Lá ele já é um rio grande. Grandão, né? É o rio mais pequeno, de vertente mais pequena, que eu conheço que dá muita água, logo, logo. Porque daqui na cabeceira dele não dá muito longe, não. E aqui já é grande, já é um riachinho bom, né? Então agora vocês estão terminando percurso?
P/1 – Terminando o percurso.
R – Agora, daqui vocês vão direto pra São Paulo?
P/1 – Não, a gente vai pra Diamantina, Milho Verde, vamos passar por Serro e Belo Horizonte. Aí de Belo Horizonte a gente vai pra São Paulo.
R – Aí vocês vão embora direto, né? Pois é. Então pode terminar, acho que tá bom, né?
P/1 – A gente gostaria de agradecer a sua entrevista.
R – Tô aqui, sempre às ordens, viu.
P/1 – Muito obrigada.
R – Então tá tudo bom, vocês sejam felizes na profissão de vocês e...
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