Projeto Identidade Santander
Entrevistado por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
Depoimento de Longuinho Afonso Lamounier Filho
São Paulo, 06 de dezembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Depoimento BST_HV032
Transcrito por Ana Maria Lorza
Revisado por Ana Maria Lorza e Teresa de Carvalho Magalhã...Continuar leitura
Projeto Identidade Santander
Entrevistado por Fernanda Prado e Ana Maria Lorza
Depoimento de Longuinho Afonso Lamounier Filho
São Paulo, 06 de dezembro de 2011
Realização Museu da Pessoa
Depoimento BST_HV032
Transcrito por Ana Maria Lorza
Revisado por Ana Maria Lorza e Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Seu Longuinho, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 - Eu queria primeiro agradecer a sua presença aqui, de ter vindo até São Paulo para conceder esta entrevista e para começar eu queria que você nos falasse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Longuinho Afonso Lamounier Filho. Nasci na cidadezinha de Camacho em Minas Gerais no dia 08 de dezembro de 1948.
P/1 – Tá certo, e qual é o nome dos seus pais?
R – Longuinho Afonso Lamounier e Ninfa Lamounier.
P/1 – O senhor sabe a origem dos seus pais, da família?
R – O meu pai, os meus bisavós e tataravós pelo lado do meu pai eram franceses e pelo lado da minha mãe, os meus avós eram italianos.
P/1 – O senhor sabe como é que eles foram parar em Camacho?
R – Primeiramente eles foram para uma cidade, por parte da minha mãe, foram para uma cidade, um lugarzinho chamado Morro do Ferro perto de Oliveira, depois consequentemente o meu avô, como minha mãe contava era comerciante e foi abrir um comércio lá em Camacho, agora o meu avô já era fazendeiro lá na região de Camacho. Os bisavôs já vieram para um lugar que chama Afonso, a fazenda deles.
P/1 - E qual era a atividade dos seus pais? O que eles faziam?
R – Minha mãe era doméstica e o meu pai mexia com a terra, era fazendeiro.
P/1 – Tá certo, e o senhor têm irmãos?
R – Eu tenho dois irmãos. Um faleceu, ele foi fazer uma ponte de safena e complicou, era tabelião de registro de imóveis e minha irmã é professora, tá viva e o meu irmão faleceu em 2003.
P/1 – E o senhor está em qual nesta escadinha?
R – Eu sou o caçula.
P/1 – O caçula. Então conta pra gente então como é que foi a sua infância lá em Camacho sendo o filho mais novo?
R – Meu pai morava na roça e foi para o Camacho onde eu nasci. Fiquei lá até os quatro anos. Eu lembro pouco de lá, depois nós transferimos para Itapecerica. O meu pai mudou para lá, uma cidade aproximadamente 20 quilômetros e foi onde eu passei mais a minha infância, minha juventude. Neste período eu entrei no grupo escolar, fiz a minha primeira comunhão lá, me casei lá, fiz o ginasial e depois eu fiz o curso técnico. Naquela época era o curso técnico em Contabilidade e neste período eu também entrei para o banco.
P/1 – Antes de o senhor falar do seu período do banco eu gostaria que o senhor contasse um pouquinho mais da sua meninice, do que o senhor gostava de brincar, como é que era a cidade?
R – Minha cidade é uma cidade assim pequena, hoje deve ter uns trinta mil habitantes, uma cidade antiga, histórica, mas foi muito boa. Eu tinha um primo ao lado da minha casa e nós fomos criados como irmãos. Em frente à minha casa tinha um espaço que nós fazíamos um campinho de futebol, andava de bicicleta, lá tinha um córrego perto da minha casa e naquela época não tinha ponte, nós tínhamos a ousadia de passar na pinguela de bicicleta e às vezes um caía lá dentro, mas jogava bola, ia ao cinema, que naquela época ainda tinha na cidade e foi até a juventude, então minha vida foi ali em Itapecerica. Foi muito boa a parte de criança e passando para a juventude também foi um período muito bom lá em Itapecerica.
P/1 – Tá certo, então conta para gente como era a relação em casa? O que vocês faziam juntos? Vocês iam à roça?
R – O meu pai, como eu te falei tinha a fazenda e todo mês de dezembro e janeiro, mês escolar nós íamos para a roça. Minha mãe era filha de italianos, uma doceira e cozinheira muito prendada. Nós passávamos lá em casa na roça, eu brinco que eu não gosto muito de roça porque o período que nós passamos lá não tinha luz naquela, não tinha banheiro dentro de casa. Então o pai mexia com tirar leite, café e isso ele tinha de garra, no duro mesmo, então o café você pegava a vassoura de alecrim, varria. Meu pai, embora nós tivéssemos uma condição até boa, mas ele punha a gente para fazer, ele achava que você tinha que aprender para depois poder mandar, eu sempre medroso, então lá em casa eu era muito desconcertado, não sei se vocês sabem o que é, lá eles faziam umas cavas para você andar com o carro de boi e eu cadeava os bois e chegava na cascava, chama boi de guia, você segurava lá o carro e eu morria de medo daquilo passar por cima de mim, mas meu pai fazia carrear, fazia tirar leite. Uma vez, como eu te falei, eu era medroso, ele me mandou buscar uns bezerros em um pastinho lá e eu fui, desci do cavalo, abri a tronqueira e vi uma pessoa lá no lugar que tem muito cupim, eu juntei neste cavalinho, voltei prá trás e meu pai falou “Cadê os bezerros?”. “Ah o senhor não foi lá comigo não veio, não tem jeito não”, mas tudo era imaginação da gente. Era muito gostoso, minha mãe por não ter geladeira, o meu pai matava um garrote, matava um porco, punha as carnes na panela para não perder, a gente passava o mês inteiro comendo isso, o meu pai desnatava o leite e minha mãe fazia requeijão, tinha bolinho de milho verde, na época, dezembro é mês de milho verde, era pamonha, mingau, bolinho de milho verde na minha região, tem região que não tem, então era muito gostoso isso. Minha mãe e minha irmã também iam. Minha irmã tinha um medo danado de rato e lá em casa tinha um forro mais barulhento e eles passavam lá e ela quase morria de medo, um dia todo mundo acha que é brincadeira, meu pai dormindo, ele acordou e o rato tinha roído o ouvido dele. A gente conta às vezes acham que é brincadeira, mas não foi brincadeira não. Então era um período bom estas férias escolares que você passava lá, meu irmão já estava mais velho e não ia, ficava em Itapecerica, minha irmã também já ia casar então acabava indo só eu para a roça, mas eu tinha um primo que sempre ia comigo para a gente aproveitar lá na roça.
P/1 – E em relação à cidade, que festas tinham na cidade que marcaram?
R – A festa mais marcante que tinha lá em Itapecerica na época, o povo chama de Congado, é a festa do Congo, seria em Agosto, a semana santa, lá é uma cidade muito católica, esta semana santa vinha antes como poucas cidades têm, chama semana do centenário, antes da semana santa. Nesta época você tinha uma roupa nova, um sapato novo, então vinham as visitas e ficavam lá em casa, a mãe preparava aquelas latas de biscoito para estas festas, então em festas lá, na minha época, eram as duas que predominavam. Hoje criaram lá festival de inverno, outras coisas, mas na minha época as mais marcantes eram estas duas.
P/1 – Tá certo e o senhor falou um pouquinho da escola, o que o senhor se lembra da escola?
R – É interessante, a minha esposa hoje, nós temos 41 anos de casados, nós fomos colegas de escola e nenhum de nós dois lembra um do outro e umas colegas dela falam que ela tinha ódio mortal de mim, ela me xingava e depois falavam “um dia vocês vão casar” e nem eu acreditei. Eu tinha uns colegas bem levados, fazia muita xissa, tinham as professoras e aquela coisa, tinha um menino lá, um diretor muito bravo no ginásio, se você pensar bravo mesmo, e aí ele nos chamava, mas também foi um período bom lá na escola, fiz muita amizade com os colegas, acho que é onde você faz muita amizade, a escola é o braço seu de fazer amizade e até hoje você lembra aqueles colegas. Quando eu fiz o curso de Comércio, para nós fazermos o curso de Contabilidade custamos a achar sete alunos e nós nos formamos com sete alunos naquela época, hoje você vê as faculdades cheias, naquela época nós custamos a achar sete alunos para fazer o curso.
P/1 – E o que levou o senhor a fazer este curso técnico de Contabilidade?
R – Eu acho mais é que foi, não sei se foi falta de opção porque era o que tinha lá em Itapecerica, tinha o curso de normalista e o curso de Comércio. Você fazia e quem optava ia pra fora fazer outros cursos, mas era o que tinha assim para homem lá na cidade no momento era o curso de Comércio.
P/1 – E como é que foi fazer este curso de Comércio? O que o senhor aprendeu lá de interessante?
R – A parte de Contabilidade a gente aprende um pouco, a parte de Contabilidade Pública, que eram as coisas que eu achei mais chato e Inglês eu fui muito mal também em Inglês, na minha época tinha Francês que eu gostava mais, mas Inglês eu sempre fui ruim e este curso de Francês até tinha um professor lá que um dia eu sabia que ele ia dar um ditado que eu decorei e a hora que ele deu o ditado eu copiei, mas ele só deu a metade e depois ele falou “vou te dar zero, você colou”, “ não colei não professor”, mas prevaleceu o zero, porque ele achou que eu tinha colado, porque eu tinha decorado o ditado em Francês, mas aí formamos os sete alunos, depois com isso eu era a pessoa de mais responsabilidade, já estava trabalhando porque lá era um curso à noite, não era mais a fase porque o garoto estuda só e não trabalha aí me formei em Contabilidade, aprendi um pouco mas não segui a profissão nem de contador nem de nada desta parte.
P/1 – E o senhor falou então que trabalhou durante o curso e qual foi então o seu primeiro trabalho?
R – Meu primeiro trabalho eu tive um armazém, fiquei um ano no armazém e na época eu vendi porque eu fui convocado para fazer o Exército em São João Del Rei e aí eu larguei o armazém. Perdoa. Eu com 11 anos, meu irmão tinha comprado uma fábrica de ladrilhos e eu me punha lá e cumpria o horário. Eu lembro uma vez que eu comprei um pano lá para minha mãe fazer um vestido para o dia das mães e no final meu irmão teve que pagar porque o salário não estava dando para pagar o pano que eu comprei para fazer o vestido, este foi o meu primeiro trabalho. Depois é que eu comprei este armazém e tinha um senhor de sociedade, mas depois eu tive que vender a parte porque eu tive que fazer o exército.
P/1 – Como é que foi a experiência de trabalho maiorzinho, com este armazém, quais eram suas atividades, como era o armazém onde ele estava na cidade?
R – Era praticamente no centro da cidade sabe. Eu brincava que eu tinha uns dois clientes lá e o estoque era muito pouco sabe, o capital não era lá estas coisas, e tinha um cliente meu que chegava lá e comprava “me dá seis vidros de palmito” e quando ele saía e eu tinha que sair correndo para repor porque nós não tínhamos estoque para repor, mas foi bom, você aprende a lidar com o povo, atender, aprender a fazer o caixa da entrada e da saída, a experiência foi marcante.
P/1 – E conta pra gente então como é que foi servir no Exército? Como é que foi isso?
R – Eu estava com 18 anos quando eu fui convocado para fazer o exército em São João Del Rei, uma cidade histórica que fica mais distante de Itapecerica, na época meu pai e minha mãe eles achavam que minha mãe ia sentir muito a minha ida, mas quem sentiu mais foi meu pai e teve uma parte triste nesta história. Eu estava lá há oito meses e o meu pai sentiu demais, sabe, aí ele acabou se suicidando quando eu estava lá no exército e eu até dei baixa antes da época. Isso aí marcou muito a minha vida, foi um período ruim que eu tive que vencer os obstáculos, foi muito ruim este período que eu passei. O meu pai era muito ligado a mim, o meu irmão mais velho ele era mais… Ele fazia as coisas mais fácil, o meu pai era muito correto e desde novo eu já criei mais responsabilidade, então meu pai agarrou demais em mim, sabe? E com aquela falta e tal esta foi uma fase ruim da minha vida, mas passou e eu tive de vencer este obstáculo sozinho.
P/1 – E como é que foi então voltar depois deste período do Exército e se restabelecer?
R – Eu voltei, era para eu sair em março, mas eu dei baixa em novembro porque minha mãe ficou sozinha e eu consegui sair, eu voltei fiquei uns dois meses sem fazer nada e depois que eu entrei para o banco, isso foi em novembro, em março eu entrei para o banco, março de 1968 e aí comecei a minha vida de bancário.
P/1 - E conta para gente então o que fez o senhor procurar o banco, como é que foi começar o trabalho lá?
R – O meu irmão tinha muito relacionamento com o gerente lá, certo? Então nós um dia conversamos com ele e tudo, eu não tinha arrumado nada ainda e veio uma época da política, o doutor Gilberto era candidato a deputado e ele foi lá para o meu irmão trabalhar política para ele, porque o meu irmão era prefeito. “O meu irmão tá aí precisando de emprego”, “ não, pode deixar que eu coloco ele”, o passo foi este, na época quem me colocou era prefeito e doutor Gilberto era deputado e estava fazendo campanha para o interior de Minas.
P/1 – E o senhor se lembra do seu primeiro dia de trabalho?
R – Lembro, eu tinha um gerente que eu trabalhava que ele era muito... Com ele naquela época, eu brinco com ele, e no primeiro dia de trabalho você fica assim meio perdido, eu estava em um canto sem saber o que fazer e ele falou assim “Ô Longuinho, você está incomodando, encosta mais para lá, você está atrapalhando aí.”. Me deu uma vontade de voltar para casa e chutar o serviço e não voltar mais lá, mas era o jeito dele. Eu conto que esse gerente quando você entrava para o banco, qualquer que fosse o cargo, ele mandava você varrer o banco e ele deixava um pacote de dinheiro caído perto da mesa dele, aí chegava “Olha seu Manoel eu achei o dinheiro ali” e eu falava, eu era contador na época, pode contratar que esse é dos nossos é honesto ___ Silveira era da minha cidade, foi passando mas era o jeito dele, ele até se sobressaia com o jeitão dele, daqueles que mandavam. Aí começou a carreira de bancário.
P/1 – E quais foram as suas primeiras atividades?
R – Eu entrei como escriturário, o banco tinha na época tinha um que chamava escriturário, era contínuo e escriturário, mas eu entrei como escriturário. Na época não tinha computador, não tinha nada, tinha uma caderneta para o cliente fazer o depósito, você anotava ali, dava um cheque, era tudo manual, hoje está tudo nas máquinas, mas era completamente diferente o nosso atendimento e eu era doido para ir para o caixa e depois teve uma oportunidade e eu fui para o caixa. Depois se chamava caixa executivo que trabalhava oito horas, um lugar que eu gostei demais, trabalhar no caixa eu adorava.
P/1 – Conta para gente porque o senhor achava bacana trabalhar no caixa? O que o senhor via lá, o que atraia este trabalho?
R – Mexer com o público, ali mais direto com a gente, e eu achava bom ali, sei lá, mexer com o dinheiro mesmo, separar, você tinha mais funções e como eu sempre fui mais atirado, como caixa eu fazia senha, não era da minha autonomia e um dia chegou um inspetor e falou “você como caixa fazendo isso”, aí o gerente enrolou ele lá, daí eu senti assim mais à vontade, o gerente me dava autonomia, eu pagava cheques, eu tinha autonomia geral para fazer, não sei aquilo me dava a sensação de poder ou de resolver as coisas sozinho.
P/1 – E como era essa agência que o senhor começou?
R – A agência lá eram 11 funcionários. Tinha o gerente, o gerente de atendimento, na época era procurador, na época lá em Itapecerica tinha uma empresa chamada Grafite, faz lápis, o escritório é aqui em São Paulo, era o melhor cliente do banco, fazia pilha também, então tinha um cara que trabalhava só com isso aí e eu no caixa, mas ali era uma agência para uma cidadezinha pequena, eram todos amigos, era como se fosse praticamente parente, era uma amizade muito grande lá.
P/1 – E onde é que ficava a agência na cidade?
R – No centro da cidade em Itapecerica. Tinha um lugar pior, depois o banco alugou um lugar melhor, depois alugou outra loja, mas era em frente a pracinha, muito bem localizado.
P/1 – E era o Banco da Lavoura?
R – Banco da Lavoura de Minas Gerais.
P/1 – E como é que era a atividade no caixa sem todas essas máquinas que tem hoje, como é que o senhor fazia para compensar os cheques ou então para registrar o débito ou uma transação?
R – Não tinha compensação. Eu brinco que, um dia eu estava combinando com um amigo meu, tinham os bancos locais e chegava três horas você trocava os cheques entre si, era aquela coisa mais manual e tinham os clientes que davam cheque sem saldo e chegava três horas e não dava conta de cobrir aquilo, aí ele te dava um cheque para outro dia, aí me desculpe a palavra mas era aquela chacrinha né, o gerente tinha vale no caixa, então hoje totalmente fora dos padrões do banco hoje. Este gerente achava que o banco era dele então ele chegava lá, sexta-feira e falava “vamos acertar o caixa aí, quanto está faltando Longuinho”, “falta tanto...”. Ele mandava fazer hora extra, o trabalho era de oito horas e um dia chegou o cara do Ministério do Trabalho e logo que ele chegou nós entramos lá para lavrar a multa e ele pagou do bolso dele. Ele não admitia você viajar pelo banco e fazer despesa, com ele era tudo era... ele falava “vocês querem quebrar o banco e ficar sem emprego?” Então era uma coisa interessante assim, às vezes até acham que é meio folclórico, mas é verdade, é o jeitão dele de trabalhar, ele não tinha filho, tinha até um sobrinho dele que trabalhava no banco, era funcionário, ele fez uma casa para cada um e falou vocês me pagam do jeito que vocês quiserem e você não vê isso nos dias de hoje.
P/1 – Conta então como é que suas funções foram aumentando? De caixa como o senhor foi aumentando?
R – Eu fiquei… Depois me chamaram, em 1982 parece, não, foi antes, eu não me lembro agora, me convidaram para uma promoção para uma cidade lá perto, Oliveira, eu vou. Fui falar com minha esposa que eu queria seguir carreira, minha mãe já estava de idade, minha irmã falou “minha mãe falou que se você for ela não aguenta não, ela morre” e não só por isso, mas acabei desistindo, isso foi em fevereiro, aí chegou em junho ele teve câncer no fígado e veio a falecer, então se eu tivesse ido naquela época aquilo ia ficar na minha cabeça, que foi a minha transferência que acabou com ela. Depois o banco fechou lá e eu fui transferido para uma cidade e eu cresci no banco.
P/1 – E como é que foi para o senhor mudar de cidade e ver o banco fechado ali?
R – Foi ruim, você está ali na sua cidade, pequena, acostumado com aquilo ali como eu estava comentando, eu fui para uma cidade chamada Divinópolis lá perto, uma cidade bem maior, então eu estava lá como procurador, eu morava em uma casa e foi onde eu tive a primeira menina, a menina dava um gritinho e minha mãe ia lá buscar, minha mulher ficava tiririca, mas aí eu fui para Divinópolis com minha mulher sozinha, morei em um apartamento, nunca tinha morado, aquilo parece que foi uma prisão. Fiquei lá, minha mulher falou eu vou embora, eu não aguento isso aqui, ela tinha um irmão que morava lá e o irmão dizia “não, você tem que acompanhar o seu marido”, depois eu comprei uma casa em Divinópolis e as coisas melhoraram.
P/1 – E quais eram as suas funções lá em Divinópolis? Como é que foi se adaptar a nova cidade, a um banco diferente?
R – Então, igual eu te falei, era uma totalmente diferente da minha. Minha mulher estava em Itapecerica, eu saia e depois que ela chegava da escola que ela dava aula ela ia para a casa da mãe dela, minha menina saia lá e depois eu fui para Divinópolis ela ficou presa, saia do apartamento e só ia à escola, voltava, minha menina ficava presa na escola, depois que ela foi para o jardim, eu saía e já ia lá pra casa porque ela já ficava sozinha o dia inteiro, mas com o irmão dela eu chamava ele de final de semana. Eu ia todos os finais de semana, de domingo, por ser perto, ia lá para a minha terra e lá no banco eu tinha uma função de procurador, que eu fiquei lá mais como tesoureiro para 12 caixas, eu tomava conta de 12 caixas, era uma agência pesada de serviço, eles falam que hoje trabalha, mas trabalhava mesmo naquela época. Eu fiquei ali e o rapaz me reconheceu muito e me pôs substituindo o procurador chefe e depois disso eu já fui direto a gerente.
P/1 – E o que fazia um procurador, como é que tomava conta desses caixas?
R – Era uma tesouraria igual eu falava, Divinópolis por ser maior então você tinha a compensação, já tinha a compensação da praça, compensação lá de Belo Horizonte, tinham muitas empresas que recolhiam tributo lá, nós ficávamos até às 11 horas da noite no último dia do mês autenticando, os caras trabalhavam mesmo, nesse cargo de procurador éramos em 11, cada um com uma seção, porque a agência muito grande. Você tinha folha de pagamento que fazia na agência, você tinha as folhas do setor, folha dos funcionários, da seguradora, da financeira, mas eram vários procuradores cada um com sua função.
P/1 – E como é que foi então passar de chefe, de procurador para gerente?
R – Eu tinha um gerente chamado Orlando, eu pegava umas aplicações lá em Itapecerica nos finais de semana, eu estava sempre fazendo alguma coisa, depois quando eu ia no final de semana, ou se ficava em Divinópolis mesmo e ele viu aquele meu interesse e falou com um chefe de setor na época o Saturnino e falou “Saturnino, este menino merece ser gerente” aí ele mandou para o banco, na época chamava trainee também, “eu preciso de gerente agora, não vai fazer trainee não” , na época o setor tinha até mais força neste sentido e eu virei gerente para a cidade, no princípio eu ia para lá como procurador e depois gerente de Oliveira, da agência de Oliveira.
P/1 – E como foi chegar lá como gerente, quais foram os maiores desafios desta nova função?
R – Eu cheguei lá e tinha um gerente que tinha 34 anos de banco, 34 anos de Oliveira, então eu chegava ia fazer cadastro eu via que ele não fazia, os clientes por ele ser de lá procuravam mais ele então eu pensei estou ficando é a toa aqui, um dia eu chamei “Antônio vamos resolver isso aqui, sô, porque pra mim tá difícil”. “Longuinho, não esquenta a cabeça não, vai fazer o negócio lá, se eu não apontar o dedo para você pode fazer, manda brasa aí igual eu faço que nós resolvemos”. Aí eu entrei na dele também e acabamos fazendo, e o que me impressionava é que todas as agências tinham o que o banco chamava de título vencido, eu cheguei “mas cadê os títulos vencidos”? ”Aqui não tem não porque quando vence o Antônio manda debitar na conta dele, o banco paga e credita para ele”. Isso aqui é uma maravilha danada. Naquela época ele tinha um irmão que trabalhava no banco, em Minas aceitava trabalhar irmão, então tinham umas particularidades em Oliveira diferente totalmente do que eu tinha trabalhado, aí depois eu fiz muita amizade lá na cidade, tive um menino que nasceu lá, então foi muito bom, eu fui muito bem aceito lá pela comunidade, pelos colegas.
P/1 – E como era o trabalho de gerente? Você já tinha contato com o público?
R – Naquela época era mais resumido e você não tinha a gama de produtos que se tem hoje, era praticamente emprestar, abrir conta, então eu agarrei lá a parte mais rural sabe, lá é café e leite e também saia lá para as roças atrás dos fazendeiros, aquela coisa e acabei fazendo amizade, depois nós compramos até um fusquinha para andar na roça, que nós apelidamos de Suruana, que ia para as roças. E um dia saí e este gerente que eu te falei foi rebaixado porque o banco, o doutor Aloísio [de Faria] na época não aceitou que os caras ficassem mais no banco, tinha que ser transferido e ele não quis e aí veio um gerente lá e tal e eu mais o Antônia íamos para as roças e deixamos ele lá porque nós tínhamos um relacionamento muito grande eu um dia “ eu que vou”, “não Danilo, calma, sou eu mesmo” aí chegou na roça, o cara da fazenda “você mudou o companheiro de jogar truco e beber leite?”, “ah então vocês querem é fazer isso, então a partir de agora é uma semana você e a outra eu” (risos). Acabou minha boquinha de caçar, de ficar saindo… Ele também quis entrar na jogada, mas foi muito bom, eu me senti muito bem lá em Oliveira.
P/1 – E qual foi a diferença da mudança que o senhor sentiu? Como era a cidade?
R – Aí já era uma cidade menor que Divinópolis, já no estilo da minha terra. Tinham uns conterrâneos meus que moravam lá e foi mais fácil a adaptação e aí eu já tinha dois meninos e foi mais fácil a adaptação porque a cidade já era mais ou menos do porte de Itapecerica, já não era igual Divinópolis.
P/1 – E onde ficava a agência?
R – Também lá no centro da cidade, muito bem localizada. Na época o banco comprou o Banco de Minas, a agência do Banco de Minas era melhor e nós fomos ficar nas acomodações do Banco de Minas.
P/1 – E como é que o senhor sentiu esta primeira compra? Que o Banco da Lavoura comprou o Banco de Minas, essa mudança?
R – Você sentiu que o banco estava crescendo, comprando outros bancos, na época tinha um tal de Comind, o banco também comprou, tinha outro que eu não me lembro o nome, então você via que o banco estava crescendo, então você se sentia mais amparado, mais segurança em uma empresa que estava querendo crescer.
P/1 – E como é que foi seguindo então sua carreira de gerente?
R – Eu fiquei lá em Oliveira e quando eu estava lá faltaram uns gerentes lá no Nordeste e o banco andou levando uns gerentes, aí um dia me chamaram aqui na Paulista, cheguei aqui e tinha um tal de Cléber da divisão de pessoal, “você pode escolher, Belém, Recife ou Manaus”, “Eu não quero não, minha mulher é professora, minha mulher ganha tanto”, “nós incorporamos no seu salário, nós pagamos duas viagens por ano para você vir ver sua família”. Tudo que ele falava eu falava “não, não quero não”, aí eu voltei e pensei “ou vão me demitir ou vai chegar a carta me transferindo”. Neste intermédio tinha um chefe de setor perto de Oliveira, uma cidade que chama Perdões, ele saiu e entrou um tal de seu Bolívar que era mais maleável e nele mudar, o outro tinha outro pensamento e esqueceu disso. Eu tenho até um colega que foi lá para Campina Verde, passou um mês ou dois e eu fui promovido para Gerente Geral, “você não vai e ainda é promovido?” (risos). Eu brinco que se existe milagre, minha mãe era muito devota de Santo Antônio e passou isso para a gente, na família não come carne, aquela coisa. E aí eu cheguei em São Paulo, não sei se na Praça da Sé, aquela tristeza de ir lá porque eu já sabia que ia acontecer, entrei na igrejinha e falei “Santo Antônio você me ajuda que a barra tá pesada, tá enfezado pro meu lado, passou e eles esqueceram de mim”, então eu acho que se tem milagre foi um milagre então, não sei, a fé, mas eu tinha um pé lá no Nordeste.
P/1 – E como é que foi ser promovido a Gerente Geral e cuidar de toda agência, de que agência você cuidava?
R – Foi uma responsabilidade a mais, eu falo quanto mais cargo você tem, mais responsabilidade você tem. Eu fui promovido a minha primeira gerência geral foi em uma cidade chamada Campo Belo, no Sul de Minas, cheguei lá tinha o gerente que eu já conhecia, foi o meu gerente, mas entre você ser comandado e você comandar as coisas mudam, mas eu me adaptei bem, outra vez eu fui muito bem recebido pelos colegas, sempre com aquela missão de não ser o dono da verdade, sempre entrar em conselho, a agência também mais de agropecuária, café e leite e partimos a primeira agência de gerência geral ela cresceu e eu fui reconhecido por isso e foi um período bom que eu passei também em Campo Belo. Lá tem uma história, eu quando cheguei, eu tenho até hoje um amigo muito grande lá e lá eles tem a represa de Furnas e tem muito nego que chama ela de rancho e tinha um amigo meu que chegava de tarde e dizia “vamos lá para o Rancho?” Ele tinha uma empregada muito boa que fazia um franguinho com quiabo e ele gostava de jogar truco, então segunda a segunda ele me chamava, aí um dia eu cheguei em casa e tinha um bilhete assim na minha cama.
“Uai o que é isso”?” “Era minha mulher”.” “Se você não mudar de vida eu estou voltando para Itapecerica com os meninos”. “Calma mulher (risos), vamos reverter isso” (risos). Até hoje nós temos amizade, ele fez cinquenta anos de casado e me chamou para ir lá, então independente de ser cliente, nós fizemos uma amizade muito grande também. Nós saíamos, ele chamava para viajar, eu falo que em cidade menor se você ficar na agência o dia inteiro você não faz nada, então você sai, visita, vai nas roças e foi muito boa esta trajetória. (interrupção) ...fatos verídicos. Eu estava contando eu tinha um gerente quando eu cheguei em Oliveira e tinha um cara lá que não gostava de cliente “eu tenho ódio de cliente”, o cara chegava meio dia e meia, “Ó lá Longuinho o cara tá entrando no banco”, “ pó Renê é meio dia e meia”, “o que é isso! O cara tem que entrar meio dia e quinze” aí um dia o chefe do setor: “Você tem ódio de banco Renê?”, “Tenho”. “Então a partir de hoje você não vai ter mais não, você está demitido” (risos). Eu brinco que naquela época a compensação ela não vinha lançada, o Pedro Coutinho, eu era Gerente Geral em Oliveira e ele era caixa, hoje em dia e é diretor executivo, eu pedia lá “bate os carimbos da compensação para facilitar aqui” às vezes tinha saldo as vezes não tinha, isso tá meio complicado, manda alguém lá fazer um carimbo e aí eu cheguei tinha um funcionário do Pedro fazendo “Que vocês estão fazendo aí com o carimbo do banco?” “Esquece, está errado!”, mas foi a história do banco que hoje você nem sabe, não tem nem como fazer um trem desses, não tem nem imaginação, então foram coisas muito boas que eu brinco, a gente em Campo Belo, Oliveira mesmo você passava e muita história aconteceu lá com clientes e tudo, as vezes acham que é mentira, mas foi dentro do banco mesmo. Se você for ponto no ponto mesmo é muita coisa que tem que fazer...
P/1 – E ser Gerente Geral de agência bancária em uma cidade pequena é um cargo super importante, a cidade toda conhece, então qual era esta responsabilidade em relação àquelas cidades, grupo de pessoas?
R – Eu brinco até às vezes, hoje eu não sei, mas antigamente ser gerente tinha um certo valor. Eu tinha um gerente que trabalhou comigo chamado Tadeu, ele chegava ali meio dia e quinze e tinha um cara esse tal de Nenê Valério, uns quatro ou cinco que chegavam na minha mesa, só iam ali naquele horário, falavam uma meia hora e iam embora e um dia eu tinha faltado ou estava de férias chegou lá o Tadeu “Cadê o Longuinho?”, “Tá de férias ou tá de folga”, “ah, então eu vou embora” e ele ficou tiririca porque só o Longuinho então que ele conversa? Mas é aquele relacionamento, o cara ia lá simplesmente, sentava lá uns quinze a vinte minutos, então você trocava uma conversa fiada depois eles iam embora, chegava à noite e você ia jogar um truco com eles, buraco, então era como se fosse uma família mesmo, entre uma grande e uma pequena é uma diferença muito grande, são dois tipos de agência, o modo de viver e tratar os clientes é completamente diferente.
P/1 – E qual era a parte mais difícil de ser um Gerente Geral, de cuidar da agência, qual é o maior desafio?
R – São as pessoas, você lida com quase todos os tipos de pessoas. Fora isso passamos um período aí do Plano Bresser, Plano Collor, Funaro, em que o banco demitiu muita gente, você chegava à tarde e os caras até passavam longe de você “hoje será que sou eu?”. O banco chegava a tirar 10% do quadro. Um dia tinha um menino lá e eu não sabia nem que se admitia mais e ele falou “hoje é meu aniversário”, deu uma vontade de sumir na hora que ele falou aquilo, demitiram no dia do aniversário dele, então este foi um período pesado também que nós passamos, porque hoje praticamente não tem mais isso aí, o banco fica segurando ao invés de… Um caso ou outro, mas não tem mais esta situação, mas pessoas são a coisa mais ________ depois tem o prédio que você tem que definir muito bem os negócios.
P/1 – Tá certo. O senhor falou destes planos econômicos todos, como é que o senhor e a sua agência foram lidando com todas estas mudanças, primeiro esta parte da inflação, depois tentar resolver os problemas, toda a mudança de dinheiro como é que acontecia?
R – Quer queira quer não foi dramático. Quando o Collor bloqueou o dinheiro e nós ficamos acho que dois ou três dias sem abrir. Depois podia sacar 25%, foi muito confuso. Os caras não tinham dinheiro, com os clientes você tinha que ter um jogo de cintura muito grande e também estas demissões eu lembro, eu estava em Campo Belo e na época eu tinha dois contínuos, um que era filho de pai rico e outro de pai pobre, um dia eu falei assim “eles não vão me deixar com dois, eles vão mandar demitir um” e eu só esperando aquilo. Um dia eu cheguei no banco às oito horas para trabalhar e a administrativo estava lá conversando com o chefe de setor, não fala com ele que eu cheguei aqui agora
e eu achei que fosse eu que estaria demitido e depois que acabaram de conversar eu falei “é Pedro, chegou a minha vez né?” “não Longuinho, você tem que demitir um contínuo”, então vamos lá e aí eu fui lá na casa do que tinha o pai rico e falei “olha fulano, o seu neto tá lá, mas ele é fraco de serviço, vai ficar só um” ele entendeu e foi melhor do que eu esperava se não eu tinha dado uma… Era um cliente muito grande, tinha um curtume de couro, uma conta muito boa “agora o bicho vai pegar”, mas graças a Deus, então foi uma fase muito ruim que nós passamos aí neste período de demissão.
P/1 – E como é que era o processo de mudar a moeda do banco? Então a gente passou...
R – Não deu muita, assim, repercussão sabe, o que deu mais foi aquela do Collor quando bloqueou e acabou com os títulos ao portador, mas estas das moedas até que… Tinha uma tabela, a tablita, por exemplo você tinha uns títulos que iam vencer daqui a seis meses, o cara tinha tanto para receber e você jogava a conversão e recebia, foi difícil também o cara entender e também quando veio o Sarney tinha juros parece que de meio por cento e eu tinha um cliente que não era de Campo Belo não e ele vivia de ilusão, porque todo mês ele ia lá sacar os juros, era aquela inflação de 50% então com aquilo o dinheiro dele ia acabar, aí veio o juro de meio por cento e o homem chegou lá para receber e “ahh mas não dá para a minha despesa”
e entrou em um estado de depressão danado e eu tenho certeza que acabou falecendo preocupado porque não tinha como viver, mas era uma ilusão dele que na inflação o dinheiro dele ia durar pouco porque ele gastava os juros e a inflação comendo 50%
e ele não pensou nesse detalhe. Hoje o juros de meio por cento
para quem viveu com inflação de 60% de um dia para o outro, este também foi um período conturbado do banco.
P/1 – Então como é que o senhor passou desta cidade para Brumadinho, passou por mais alguma?
R – De Campo Belo eu fui para uma cidade chamada Pará de Minas, bem maior a cidade e muito boa também, a economia lá é frango, é a única cidade do Brasil que o frango sai em pé, ele sai morto, eles mandam para a Bahia, lá tem muito granjeiro, então foi outro tipo que eu tive que conviver, mas uma cidade muito boa, minha família adorou morar lá, cidade católica, o povo muito unido, tinha muita amizade lá com o prefeito, o povo chamava a gente, os meus meninos estavam na pré-adolescência e fizeram muita amizade, então foi uma cidade, na época eu sempre que chegava na cidade, comprava uma cota de um clube para os meus filhos se adaptarem, minha mulher dava aula e já chegava para o grupo, a única coisa que foi de ruim nisso é que eu fui transferido achando que minha mulher ia ser transferida porque ela é professora do Estado, mas ela demorou um ano para ser transferida, ficando sozinha lá e com os meninos e uma empregada que a gente tinha, isso foi ruim e eles sentiram demais quando eu mudei para Betim que é uma cidade tipo dormitório, o povo vai para dormir, porque é muito agarradinho com Belo Horizonte, o meu menino mais velho está hoje no Banco, eu achei que eu tinha que levar isso para trás, estar independente e esquecer lá de Pará de Minas, é uma cidade e tanto para você morar.
P/1 – E como é que você encarou todas estas mudanças de cidades por mais que seja na mesma região?
R – Quando você tem os meninos pequenos é fácil, você é transferido, põe os meninos dentro do carro, mas quando eles já têm amizade com os coleguinhas é complicado, muito complicado. A prova disso é quando eu fui para Betim, fui para o Barreiro, não mudei, depois eu fui para Mateus Leme também não mudei lá de Betim e agora estou em Brumadinho há cinco anos e também não mudei, eles se adaptaram lá e ficou mais fácil, mas enquanto os meninos estão pequenininhos é uma beleza, mas ficou adolescente e fez amizades… A minha menina quando eu mudei de Divinópolis para Oliveira, no período que eu saí de Itapecerica em um ano ela frequentou três escolas, se a minha mulher não fosse professora e segurasse ela perdia até o ano, então o ideal para mudar é quando os meninos são pequenos, aí tudo é mais fácil.
P/1 – E o senhor está contando pra gente um pouco da sua trajetória e nesses anos todos de banco o senhor passou por várias momentos dele, então começou como Banco da Lavoura que comprou o Banco de Minas, como é que foi...
R – Primeiro o Banco da Lavoura, depois passou o Real, depois o ABN e depois o Santander. Naquela época que eu te falei que demitia você passou por muita insegurança achando que ia ser demitido, os gerentes gerais ficavam achando que iam ser demitidos então foi um período de muita insegurança, aí passou aquele período você ficou, mas foi um período… Tinha um gerente geral lá que era considerado o melhor gerente e ele não esperava nunca ser demitido e foi demitido e levou um baque violento, então a gente chegava achando que ia ser demitido, eles tem lá o que eles chamam de rádio peão “hoje vai sair tanto, não sei o que tem”, passou, mas deixou trauma porque “será que eu vou hoje, será que eu não vou”.
P/1 – E como é que o senhor foi vendo o banco crescer? Quando virou Real, o que mudou para as suas atividades?
R – Quando saiu do Real para o ABN nós não sentimos muito não porque o serviço, a operação dos serviços era praticamente a do Real, houve muito poucas mudanças, agora para o Santander já foi mais traumático. Praticamente nós tivemos que aprender tudo de novo, o banco deu cursos em vários lugares, mas aquilo, fora eu e outros funcionários, desculpe a palavra, passou, mas até adequar ao sistema do Santander, porque mudou tudo, você largou um sistema que já estava acostumado e veio para outro aqui totalmente diferente, esse foi bem traumático. Ainda tem muita dificuldade em algumas coisas para aprender, igual eu te falei do Real você não teve porque praticamente ficou o serviço do… O Santander uma coisa que eu acho que ele fez de legal, estender, quando o banco comprou eles criaram, eles colocaram aquele Holandaprevi para nós, no meu caso eles pagaram o atrasado para mim, então você tem esta segurança para aposentar, coisa que o Banco Real não teve. Eu brinco que eu admiro demais o doutor Aloísio, tiro o chapéu para ele, mas é uma coisa que ele falhou e não deixou este… Isso nós recebemos com o ABN e agora os funcionários do Santander foram beneficiados com isso, o seguro o Real também nos dava e se estendeu para o ABN, o doutor Aloísio na época quando ele vendeu o banco, nós chegamos no banco de manhã cedo, ele deu para cada gerente geral quinze mil reais naquela época, seria hoje uns sessenta mil, ele deu para cada gerente geral e na época até deu confusão porque ele só deu para os gerentes gerais, mas os outros não receberam e eu brinco que o doutor Aloísio, tinha que tirar o chapéu para ele, a única coisa que faltou foi este fundo de aposentadoria que se ele tivesse acho que muita gente hoje, no meu caso mesmo, já estava aposentado.
P/1 – E como é que era para o senhor ver a mudança de configuração das agências, então uma agência que era primeiro do Banco da Lavoura em termos de configuração, de cor e tal, depois mudar para ser uma agência do Real?
R – Eu brinco, teve um dia que nós tivemos uma reunião aqui, dois anos atrás em um encontro, porque eu já passei, na época do Real era marrom, ABN era verde, agora vermelho, então aquele impacto você sente com a mudança. Igual quando a agência de Itapecerica foi fechada, o dia que fechou a porta lá você se emociona, fica com aquela história “será que com este banco eu vou dar certo?”, “O que vai ser?”, “Será que eles vão pensar de forma diferente, cultura diferente?” Então a gente vinha sempre com esta preocupação, mas no geral acabou dando tudo certo. Do Lavoura para o Real praticamente não houve mudança, ficou o mesmo banco, depois com o ABN também aproveitaram o serviço praticamente, não sei em São Paulo, mas em Minas o Real era muito forte, o nome do Real lá era muito forte, vinha esta preocupação, agora vai passar para o Santander, o que os clientes vão achar? Os caras chegam lá, “mudou, mas as pessoas aqui são as mesmas”, mas nós tivemos um certo… Porque o Santander lá em Minas não era tão conhecido como aqui em São Paulo e nós tivemos uma certa dificuldade nisso.
P/1 – Certo, e falando do relacionamento com os clientes, como é atender os públicos diferentes como sendo o responsável pela agência? Qual é a importância de se atender o cliente?
R – O cliente é a nossa receita do banco, agora você pega uma agência em uma cidade do interior como eu te falei, aí eu crio caso com ela e vou ver ela é sua parente na cidade de interior pequena, aí eu estou me indispondo com ela, com você e com mais outro então você tem que ter o trato neste sentido muito diferente no interior de onde eu estou hoje. Eu já trabalhei em Betim, então você mexe lá, em uma cidade grande é completamente diferente, às vezes é mais profissional na cidade maior, ele é mais profissional e na cidade pequena ele tem que ser mais amigo, mais aberto para não dar o atrito, se você for lidar na cidade pequena com a mesma teoria da cidade grande, desculpe a palavra, mas você se dá mal.
P/1 – E o que é mais importante no atendimento ao cliente, o que precisa?
R – Acho que você gostar de mexer com pessoas, você estar ali, resolver os anseios da pessoa, entender bem a pessoa, eu falo que todo mundo na vida quer ser bem atendido. Você vai a um supermercado, você quer ser bem atendido, então se a pessoa sai de lá e você resolveu o problema dela, igual você pega lá no interior eu vejo um menino que atende os velhinhos do INSS, eles levam mandioca, laranja, biscoito de polvilho, na cidade grande você não vê isso, então é gostoso, prazeroso, a pessoa te chama para almoçar na casa dele, faz um biscoito lá e leva para você e acho que o prazeroso é isso de mexer com pessoas.
P/1 – E como é que o senhor foi vendo a chegada e a implantação da tecnologia? Porque o senhor falou que começou lá trás e tinha que escrever os valores na hora do atendimento, como é que o senhor vendo a chegada dos computadores, as primeiras máquinas de ATM?
R – Para a gente que tem menos estudo é mais difícil, eu brinco lá em casa mesmo que eu tenho dois netos de 11 anos que às vezes fazem mais que eu, entendem mais que eu, no meu caso que sou mais velho, você tem mais dificuldade para se adaptar àquilo, mas foi uma evolução, precisava, não podia ficar sem ela, tem que aceitar estas mudanças. Eu lembro quando o banco foi vendido para o ABN, tinha um vice-presidente lá que considerava que ele tinha um ano de banco, você tem que aceitar as mudanças porque quem não aceitar as mudanças está fora do mercado, às vezes com as suas próprias dificuldades, próprias fragilidades, mas você tem que aceitar as mudanças e a máquina é um trem muito importante, você pega nego lá que tem diploma
e vai lá na máquina e tem medo de mexer, não é só nego que não tem curso superior, você pega gente boa que quando vai mexer na máquina assusta.
P/1 – E neste contexto assim, com todas essas máquinas e todas essas vantagens, toda esta rapidez, como é que fica a preferência do cliente? Você acha ainda que eles procuram as agências para fazer o atendimento mais pessoalmente ou se eles preferem ir nas máquinas?
R – Hoje já vai diminuindo muito, o cara vai na internet, na máquina, tem cliente que você não vem nem dentro da agência, somente no interior, lá na capital, um dia eu vi uma reportagem de um cara americano que os bancos estavam voltando a função de caixa para o cara lidar mais com pessoas porque você pega lá no computador, faz isso, você não vê aquele cliente, vira uma máquina e vai chegar ao ponto que não precisa de vocês aqui não, eu venho aqui e a máquina resolve tudo para mim, então tem as suas virtudes e as seus defeitos porque tira você de lá mas também te isola do relacionamento, das pessoas.
P/1 – E como é a sua relação com esta maquininha, com o computador e essas...
R – Hoje até estou bem, eu acho até que pelo que eu vejo, tem gente mais nova que eu, eu até me adaptei bem, tem umas coisas mais complexas que não, mas no geral, você domina bem.
P/1 – Tá certo, e o que você acha importante para uma marca de banco? O que precisa ter o banco ou no nome do banco para atrair os clientes, para fazer eles irem até as agências, fazer eles abrirem uma conta?
R – Na máquina?
P/1 – Não, na agência.
R – Eu acho que é o relacionamento das pessoas. Eu tenho que no mínimo ligar para o cliente, sentir a voz dele, fazer a visita porque outro dia eu ainda estava sentando com a minha gerente, nós fomos lá, o cliente estava em dúvida, nós fomos lá e ele ficou totalmente satisfeito, então se deixa só para a máquina como eu falei, nós perdemos cliente, então você tem que ter este relacionamento ainda, ligar no aniversário, alguma coisa importante daquele cliente para você ligar para ele, fazer uma visita, eu acho que isso não acaba não, isso nunca vai acabar.
P/1 – Tá certo e como o senhor pode perceber o cliente de quando o senhor começou a trabalhar no banco do cliente hoje, o que ele procura, o que ele quer do banco?
R – O que o cliente quer mesmo é ser bem atendido. Ele quer o bom atendimento, desde que eu comecei até agora o cliente quer ser bem atendido, então não adianta ele ir lá e eu tratar ele mal. Eu acho que o importante é o relacionamento e o atendimento nisso tudo porque eu brinco, você pega o Itaú, o Bradesco, eles podem ter uma taxinha diferente da minha hoje, uma tarifa a menos, mas no geral o que vale é o atendimento, não adianta querer aquele cliente porque se ele for bem atendido ele vai ficar ali. O Bradesco pode até amanhã fazer uma taxa diferente para ele, mas depois ele volta para mim, não é aquilo que vai prender não.
P/1 – E pensando assim, nas agências, nas cidades pequenas e para ela ser a realização do banco naquele espaço porque são importantes as agências? O que elas têm de significativas?
R – O que eu acho, que eu te falei da agência pequena, você chega ali, eu sempre falo para os caixas chamarem a pessoa pelo nome, ali ele vê que encontra um conhecido, tipo se fosse um relacionamento de família, eu considero o banco como se fosse um relacionamento de família. Chega lá, conhece o cara, se sente bem, esse sentir bem que faz ele estar ali dentro. Uma vez tinha até um projeto que eles queriam tirar o nome de agência e colocar loja e eu achava aquilo ideal, tirar aquele nome “Ah, você mexe só com dinheiro, agência”. Às vezes você pega o banqueiro e ele é meio antipatizado por mexer com dinheiro, acham que ganha muito dinheiro que isso e aquilo e às vezes não é isso.
P/1 – Como é que o senhor vê o banco funcionando no futuro? Como é que o senhor imagina que vai estar o banco?
R – Eu acho que vai ter mais avanço das máquinas ainda, mas vai ter ainda muita necessidade do ser humano. O ser humano ainda vai ser muito importante nisso tudo, isso não vai acabar não.
P/1 – E como gerente e responsável pela agência, como o senhor vê a questão da ampliação e a expansão do crédito? Porque isso é importante? Conceder crédito aos pequenos...
R – O período que eu entrei no banco, são dois períodos, na época que tinha o open, o over o banco ele tirava uma receita daquilo ali sem precisar emprestar, sem precisar cobrar tarifa, agora hoje não, o banco tem que emprestar, tem que cobrar tarifa para sobreviver, é completamente diferente da época que eu comecei lá, hoje o banco é uma prestação de serviço, eu nunca fui a um país lá fora, mas lá é tudo caro, se você tiver um cartão, tiver um talão de cheques, não é como no Brasil porque aqui os caras querem ter um talão de cheques, querem ter um cartão e não paga nada por isso, as coisas mudaram e mudaram muito porque hoje está apertando mais o cerco.
P/1 – Nós então vamos voltar agora para suas questões pessoais, o senhor falou um pouco da sua esposa, que tinha estudado com ela, mas que só casou um pouco mais para frente, como é que o senhor a reconheceu e chegou a este casamento? Como é que foram...
R – A mãe do meu concunhado hoje ela gostava de unir as pessoas, então a minha família, o meu irmão tinha muita amizade com o meu sogro lá, “O Longuinho tem que casar com a Cleusa e tal” e começaram com aquilo e depois começamos a namorar, acabamos até brigando muito (risos), mas depois firmamos e casamos, mas começou por aí este negócio, como é que chama? Esqueci a palavra, uma pessoa que ajuda o casal se unir, hoje vai fazer 41 anos, destes 41 anos tive quatro filhos, o menino está no banco hoje como gerente de atendimento, eu tinha uma menina que estava, mas saiu porque estava apertado pra ela, hoje ela é supervisora da prefeitura na escola, tem um filho que é farmacêutico e outro que é engenheiro ambiental e trabalha em uma empresa e mexe com no-breaks, esses negócios aí.
P/1 – Tá certo e como é para o senhor ver um filho trabalhando no banco, seguindo os mesmos passos que o senhor?
R – Você fica preocupado, porque às vezes você vê, fica pensando na segurança porque no banco você fica sem saber se aquilo vai ter uma garantia ou não, eu sinceramente não acho que ninguém vai chegar no banco como eu cheguei nos dias de hoje, igual minha filha quando pediu para sair, eu falei sai do banco porque a prefeitura não demite ninguém, ela não tem tanta cobrança como o banco tem, o salário é mais ou menos igual, então eu brinco com as meninas do banco, estuda, eu falo que a melhor coisa hoje é trabalhar para o governo porque o governo tem salários bons, mas às vezes acaba acomodando, não estuda, a preocupação é para quando você estiver com uma certa idade e perder o emprego, como é que fica? Você não pode garantir que a empresa privada, não estou falando do Santander, no geral, você pega outros bancos aí e eu não vejo ninguém com o meu tempo de banco, Bradesco, Itaú, pelo o que eu tenho visto eu não vejo ninguém neste porte.
P/1 – Tá certo. O senhor falou que tem netos também, conta um pouquinho deles?
R – Tenho três netos, um netinho e duas netas, dois com 11 anos, tem outro, uma menina com oito, Giovana, Gabriela e o Gustavo. O Gustavo é peralta, puxou o pai que trabalha no banco, levado até mandar parar, a neta mais nova é mais geniosa, a outra também está querendo ser pré mocinha, mas é muito bom, você vai lá curtir, outro dia eu cheguei lá e deixei uma bala
minha mulher falou “você está deseducando este menino”, não, educar é a mãe dele e o pai dele, avô não tem nada de educar não, problema do pai e da mãe.
P/1 – Tá certo. E pra gente ir para uma parte mais de avaliação depois que o senhor contou toda esta sua história no banco, como é que você define o que é o banco? O que é um banco?
R – O banco eu falo que é hoje, o que eu tenho eu devo ao banco, também dei a minha vida pelo banco, é uma história bonita do banco, fiz muita amizade, nunca criei caso com ninguém, com nenhum superior meu, eu punha minhas palavras, mas ponderava, fui reconhecido pelo banco, várias vezes tive vários aumentos, então se fosse para eu começar tudo de novo eu começaria.
P/1 – Tá certo. E o que o banco precisa para continuar existindo? Quais são as coisas principais que um banco precisa ter para existir por mais...
R – Tem que ser mais ágil, mais relacionamento, qualificação dos funcionários em atendimento, valorização do funcionário, o cara tem que valorizar, ser mais assim, os gestores e tudo dar mais feedback para eles, porque esses meninos de hoje se você não pegar pesado como o banco quer, você não vai para frente não, você tem que medir as coisas, é uma juventude que a princípio eles acham que podem tudo, que querem tudo, então é igual casamento hoje, você vai me desculpar, mas as vezes o cara casa já pensando que vai descasar, não tem uma base para casar, aí casa e fica dois, três meses. Eu tinha uma menina, duas funcionárias que com oito meses de casamento separaram porque não teve uma base, eu acho que os caras também de banco é isso, o gestor tem que saber levar bem porque são uns meninos muito bons, mas se você não souber levar eles, a pressão de querer isso e aquilo e xingar, isso tem que mudar. A época que eu te falei do gerente que eu trabalhei quando eu entrei é completamente diferente, hoje você tem que ser o líder, não o mandão que é a sua palavra que manda.
P/1 – Qual a diferença entre ser o mandão e ser o líder?
R – O líder orienta, ele pega a opinião de várias pessoas, discute esta opinião o que é certo, o que é bom, o que não é e o mandão fala “eu quero que faça isso”, ele determina, se é certo ou errado ele quer que a palavra dele tenha vez, que tem que prevalecer e o líder não é isso.
P/1 – Tá certo, e quais foram os seus maiores aprendizados nesta sua carreira no banco?
R – Honestidade na vida, para qualquer coisa, mas no banco principalmente fui honesto, gostar do que eu faço, experiência, no banco você acaba tendo muita experiência e eu brinco que no final de carreira, tem uma passagem lá de Santo Agostinho que quando ele chegou lá Jesus perguntou, ele fala que quando você chegar perante a Deus ou qualquer pessoa, você põe na balança, o que você fez de bem e de mal, se o que você fez de bem pesar mais do que a de mal, você é um cara realizado e feliz e eu acho que graças a Deus, o que eu fiz de bom, neste tempo meu, foi melhor do que eu fiz de ruim.
P/1 – Tá certo. E em termos de realização, qual foi uma realização sua?
R – No banco?
P/1 – É.
R – Eu cheguei a gerente geral que com o curso de técnico de Contabilidade que eu tive, eu achava até que não chegaria e fui valorizado, então é um cargo que eu acho que por todos os méritos… Eu para mim eu acho que um dos melhores cargos que tem no banco é o de gerente geral, é o mais reconhecido, você pode pegar que é o gerente geral, e eu acho que eu cheguei ao topo que eu queria.
P/1 – E o que tem na função de gerente geral que faz você achar ser o mais bacana para se trabalhar no banco, além do reconhecimento?
R – Eu não entendi o… Fora o reconhecimento, a coisa melhor é a amizade que você faz nesta trajetória sua, então você deixa muitos amigos, até hoje, pessoas que trabalharem comigo e talvez não estejam no banco, o cara liga, eu estava ali chegando, passaram dois colegas ali e eu acho que a amizade é a coisa mais essencial que tem, aquela amizade sincera, eu fiz sempre muita amizade, tenho muitos amigos e isso é muito importante.
P/1 – E em relação a história com clientes, o senhor contou algumas, mas tem alguma que ficou marcada, que o senhor acha engraçada ou diferente que aconteceu?
R – Com o cliente eu tenho até várias, quando eu trabalhava em Campo Belo tinha uma menina lá da financeira, dona de um frigorífico e era assim mais distraída e eu também sempre fui meio distraído, aí já ligou para mim e falou “Longuinho o que foi?”, “Não, você que me ligou Maria Amélia”, “Não, foi você”, “Não foi você”, então quer saber de uma coisa, vamos desligar, na hora que nós lembrarmos um dos dois liga. Depois eu estava acho que em Mateus Leme, tinha uma mulher lá que tinha dado um cheque sem fundo, “Vem cá” e chegou lá no banco e tinha um gerente meu lá, “ Seu Longuinho, eu nunca dei cheque sem fundo”, “Não deu o quê”. Peguei a conta e na hora que eu fui mostrar para ela, os colegas falaram, “Longuinho, está daí não é quem você está pensando não, essa aí é outra”, falei “nossa, me desculpe”, mais um bocadinho que eu mostro para ela o que não… Esse cliente também que eu te falei que fui no casamento dele, uma vez eu fiz um passeio com ele em Camboriú, um dos melhores passeios que eu já fiz, estava de férias e ele “Oh Longuinho vamos lá em Camboriú”, eu, ele e um cunhado dele também, foi uma passagem boa. Eu tenho um cliente lá em Mateus Leme, eu gosto muito de macarrão com carne moída, ele tem uns filhos e sempre me chama e joga um truco, então eu acho que isso é fazer com o cliente, você sente, o cliente é muito importante pra gente fazer amizade com eles, então tem muito caso no banco aí que a gente viveu que só trouxe alegria.
P/1 - E agora com 44 anos de banco ou quase 44 o que o senhor espera? Quais são os seus planos?
R – Em tese, se fosse depender de mim, eu ficaria aí mais uns seis meses, mas parece que o banco quer me desligar a semana que vem, acham que já chegou a hora, que eu preciso aproveitar, de fato tem um ciclo aí fechando,
então partir e juntar lá com a “véinha” como diz o outro e viver o resto da vida que Deus nos permitir.
P/1 – Tá certo, e o que o senhor espera assim, deste tempo com ela, em casa, mais com os netos?
R – A única preocupação que eu tenho é porque você vai ter que se adequar a uma nova vida, eu tenho um salário X, eu vou passar a ter um salário X e vou ter que me adequar, o meu menino com esta farmácia que eu te falei, ele ainda não está 100%, então a minha preocupação é financeiramente, de passar algum aperto, o padrão de vida que eu tive até hoje eu não vou poder ter, não é um padrão de vida ruim, mas eu vou ter que me adequar à nova realidade hoje na minha vida, a única preocupação é essa.
P/2 – Tem algum plano, algum sonho para realizar neste tempo livre, alguma coisa que você goste de fazer que agora vai dar tempo e nessa carreira toda não deu?
R – Eu brinco que eu moro em Betim e minha cidade fica a uns 150 quilômetros, eu tenho até uma casa lá que fica fechada, eu brinco com minha mulher que eu não vou ter o dia marcado para ir e para voltar. Eu só posso ir de sexta-feira de tarde. Eu tinha um colega meu que trabalhou no Barreiro e dizia quando ouvia a musiquinha do Fantástico, “ah segunda-feira eu tenho que começar de novo”, agora eu vou segunda, terça, quarta, ahh eu quero ficar lá dois dias, um dia, então não tem compromisso nem de ir e nem de voltar, porque você não pode ficar quando você está empregado, você tem que sair e dançar de acordo com o que o banco quer, então se amanhã eu quero dar um passeio, eu saio lá com a dona Cleusa, vai no passeio e volta e tentar ver o meu menino, que tem esta farmácia, já que não tenho compromisso. Ir umas duas vezes por semana lá e dar uma ajuda a ele, oriento ele, mas acho que, eu brinco que eu não, tem uns caras que aprenderam a pescar, eu não aprendi a pescar, eu gosto muito de as vezes jogar um baralho, tem uns compadres meus que gostam também de jogar um buraco e outro dia eu estava brincando que tinha um amigo meu que falou “Longuinho, não aposenta não que os outros vão te chamar de já”, Já? Que é isso João, ele chama João, “A sua mulher vai dizer, já que você tá aqui, vai na farmácia pra mim, já que você tá aqui vai no supermercado, já que você tá aqui vai na padaria (risos)”. Eu tinha um colega que eu trabalhei também lá em Mateus Leme, não, em Pará de Minas, ele trabalhava em Pará de Minas e a mulher dele morava em uma cidade a 60 quilômetros e dizia “No dia que eu sair do banco eu separo da minha mulher, eu não aguento nós dois ficarmos juntos”, “Que é isso!”. “Você vai ver”. Fernanda, eu não sei se é coincidência ou não, ele saiu do banco, não ficou três meses casado e se separou. Gente, vamos dizer a verdade mesmo, eu acho que relacionamento você tem que conviver, casamento não é só um mar de rosas, você tem que ponderar, cada um aceitar o outro, seus defeitos, as suas qualidades porque graças a Deus eu estou casado este tempo todo e fruto desse casamento tive belos filhos e belos netos então eu acho que foi muito bom eu não posso me queixar da vida não.
P/1 – Tá certo. E o que você acha desta iniciativa, desta ideia do banco de contar a sua história através da trajetória destas pessoas que estão aqui todo dia e que fazem parte do banco?
R – Eu acho muito bonito e muito bacana. Sabe Fernanda, como eu estava te falando, outro dia o chefe fez a gente contar a vida da gente e eu achei muito interessante e acho que o banco, tem uns anos atrás, vocês não eram nem nascidas, o doutor Aloísio fez um cofre lá na Praça Sete em Belo Horizonte e pôs as coisas lá dentro, depois destes 150 anos abriram o cofre porque tinha posto lá uma carta, igual vocês fizeram este documentário aqui e depois abriram lá, então eu acho que fica na história, então eu acho que cada empresa tem que ter a sua história. Igual eu estava te falando que eu achei muito bacana o livro que você estava me mostrando do Raí, da Votorantim, eu acho que é gente que já viveu e pega a experiência dos mais velhos, dos novos, para não esquecer, igual você fala na sua cidade, as coisas, o folclore que se tem para não deixar acabar nos dias de hoje. Minas têm as cidades históricas, Ouro Preto, Diamantina, você não deixa acabarem estas coisas para ficar só o modernismo, tem que ter o modernismo, mas tem que ter o... Eu acho que vocês estão de parabéns com isso.
P/1 – Se você pudesse deixar um recado para a meninada que está entrando no banco, nas agências, o que você falaria para elas, como conselho, como dica para este trabalho com cliente, para este trabalho na agência?
R – Acho que primeiro tem que gostar do que faz, acho importante gostar, acreditar nesta empresa, uma empresa grande e não ficar estagnado, ter sempre por onde crescer. Eu quero ser o quê? “Ah, eu quero ser o presidente do banco”. Se eu vou ser ou não vou ser... Mas você tem que ter aquilo que vai crescer e não vai parar ali, agora a primeira coisa é ter o amor e gostar, se eu estou aqui, mas eu queria ser médico isso não vai levar a nada, se você acreditar nesta empresa e gostar do seu serviço, você faz a sua parte.
P/1 – E para terminar, o que o senhor achou de ter participado desta entrevista? De ter vindo até aqui hoje para contar um pouquinho da sua história para gente?
R – Eu acho até que foi um presente de Deus que eu ganhei sabe, meu aniversário é depois de amanhã e eu acho que foi um presente que eu ganhei de aniversário, por estar encerrando a minha carreira, o meu ciclo no banco, eu acho que foi uma oportunidade de eu deixar o meu depoimento, amanhã se eu não estiver aí, mas alguém que for ler “ô passou esse cara aqui pelo banco, fez isso” , alguém saber da minha… Sinceramente foi um presente que eu ganhei.
P/1 - Obrigada. Então em nome do Santander e do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista.
R – Em meu nome, eu agradeço vocês duas, a empresa de vocês e espero que eu tenha contribuído para o que vocês estão fazendo.
P/1 – Contribuiu sim. Obrigada.
Fim da entrevistaRecolher