P/1 – Pacífico, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Eu queria começar a entrevista perguntando o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ó, eu sou, meu nome é Pacífico Mascarenhas. Eu nasci no dia 21 de maio de 1935 em Belo Horizonte.
P/1 – E Pacífico, você sempre viveu em Belo Horizonte?
R – Sempre. Eu sempre vivi ali na região da Savassi ali, que eu nasci ali no bairro dos funcionários. E ali eu convivi no bairro muito tempo.
P/1 – E como é que a música entra na sua vida? Quando que isso acontece?
R – Bom, aconteceu, que ali na Savassi nós tínhamos uma turma muito grande. Então a gente fazia serenata. A gente fazia serenata todo fim-de-semana. E nessas serenatas eu descobri que estava faltando música de coisas que a gente queria falar com as namoradas. Por exemplo, se eu tivesse coragem de dizer que te amo e tal. Então eu ia fazendo essa letra. Outras letras assim, por exemplo, explicando que não sou culpado de ter enfim apaixonado. Fui fazendo letras de acordo não só no meu caso, mas como dos diversos amigos, o que é que acontecia com eles. O que é que eles queriam dizer para as namoradas. A gente se reunia lá na Savassi, em um bar que tinha lá. O Bar do Pinto, ali na rua, ali na Praça Diogo Vasconcelos mesmo. E de noite a gente saía fazendo serenata pela rua, né? Pelo bairro todo, fazendo para as namoradas e aí que começou. Eu virei compositor nesse momento de necessidade da fazer letra. Eu já gostava de tocar piano, violão. Então daí foi um pulo só para começar a fazer isso.
P/1 – Isso nos anos, na década de 1940?
R – Não. Isso foi bem depois, foi na década de, no final de 1958. Aliás final de 1950. 1958, 1956, talvez antes. Porque nessa época... É foi antes de 1956. Foi isso mesmo, nesse período. Nessa época até, eu conheci o João Gilberto lá em Diamantina. Ele não era nem cantor ainda. Não era conhecido. Ele não tinha nem gravado disco....
Continuar leituraP/1 – Pacífico, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Eu queria começar a entrevista perguntando o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ó, eu sou, meu nome é Pacífico Mascarenhas. Eu nasci no dia 21 de maio de 1935 em Belo Horizonte.
P/1 – E Pacífico, você sempre viveu em Belo Horizonte?
R – Sempre. Eu sempre vivi ali na região da Savassi ali, que eu nasci ali no bairro dos funcionários. E ali eu convivi no bairro muito tempo.
P/1 – E como é que a música entra na sua vida? Quando que isso acontece?
R – Bom, aconteceu, que ali na Savassi nós tínhamos uma turma muito grande. Então a gente fazia serenata. A gente fazia serenata todo fim-de-semana. E nessas serenatas eu descobri que estava faltando música de coisas que a gente queria falar com as namoradas. Por exemplo, se eu tivesse coragem de dizer que te amo e tal. Então eu ia fazendo essa letra. Outras letras assim, por exemplo, explicando que não sou culpado de ter enfim apaixonado. Fui fazendo letras de acordo não só no meu caso, mas como dos diversos amigos, o que é que acontecia com eles. O que é que eles queriam dizer para as namoradas. A gente se reunia lá na Savassi, em um bar que tinha lá. O Bar do Pinto, ali na rua, ali na Praça Diogo Vasconcelos mesmo. E de noite a gente saía fazendo serenata pela rua, né? Pelo bairro todo, fazendo para as namoradas e aí que começou. Eu virei compositor nesse momento de necessidade da fazer letra. Eu já gostava de tocar piano, violão. Então daí foi um pulo só para começar a fazer isso.
P/1 – Isso nos anos, na década de 1940?
R – Não. Isso foi bem depois, foi na década de, no final de 1958. Aliás final de 1950. 1958, 1956, talvez antes. Porque nessa época... É foi antes de 1956. Foi isso mesmo, nesse período. Nessa época até, eu conheci o João Gilberto lá em Diamantina. Ele não era nem cantor ainda. Não era conhecido. Ele não tinha nem gravado disco. Ele estava morando com a cunhada dele lá em Diamantina. E nessa época eu já estava fazendo umas músicas. Fiquei conhecendo ele lá em Diamantina. Depois mais tarde eu vim reencontrá-lo lá no Rio de Janeiro.
P/1 – E a partir daí das músicas, das serenatas, como a coisa evoluiu?
R – Ah, foi indo que, aí eu fui aumentando o número de músicas que eu fazia. E mostrava para a turma lá: “Pô, mais que bonito. Essa aí está boa.” E fui selecionando as músicas até que um dia eu resolvi fazer um long play com essas músicas que eu tinha feito. E isso foi em 1958. Fui para o Rio de Janeiro e levei um ótimo cantor que tinha aqui em Belo Horizonte, chamava Gilberto Santana. Chama, aliás Gilberto Santana. E o outro, Paulo Modesto, que era o pianista que tocava no Minas, no Automóvel Clube, que tinha um conjunto. Aí nós fomos para o Rio de Janeiro gravar, na Companhia Brasileira de Discos. Eu reservei o estúdio lá e fomos de trem. E ficamos hospedados lá no Hotel Regente, que era de músico, que era da orquestra do Delê aqui em Belo Horizonte. Na década de 1950, ele foi para o Rio e casou com a proprietária deste hotel. Ele nem nos cobrou nada para fazer a gravação. Nós gravamos o disco. Eu lembro também que nessa época – o disco já estava pronto – o cantor, que era o Gilberto Santana, ele estava estudando Odontologia. Ele ficou com vergonha de pôr o nome dele no disco. Falou, inventou lá Marcos Vinicius. O Paulo Modesto que era um cantor que, aliás, que era o músico que tocava no Minas, no Automóvel Clube inventou também: Paulinho e Seu Conjunto. O único que assumiu mesmo foi eu, músicas de Pacífico Mascarenhas e pronto. Foi o primeiro disco independente feito no Brasil. E depois aí nós fizemos mil discos, que na realidade saíram só 900. E chegando aqui em Belo Horizonte, eu entreguei no Sérgio Luiz Discos, que era uma loja que tinha ali na Rua Goitacazes. E ele vendeu os discos todos em menos de um mês.
P/1 – Ah, é?
R – É, vendeu, porque aqui em Belo Horizonte antigamente você chegava em uma rádio, ou chegava por exemplo, em uma rádio com disco às nove horas da manhã. A pessoa lá da rádio, o entrevistador ele tocava o disco todo. Onze horas já tinha outro. Outro programador. Eu ia lá no programa dele ele tocava o disco todo. E assim ia, então todas as rádios. Eu ainda consegui uma coisa inédita que depois de, depois de sete horas – que era a Hora do Brasil – todas as rádios tocassem ao mesmo tempo esse disco que eu tinha gravado.
P/1 – Ué?
R – Então num, ao mesmo tempo. Eu...
P/1 – Como foi isso?
R - ...combinei, eu fui lá na Rádio Itatiaia, vamos ver se depois da hora do Brasil vocês tocam esse long play. Ele disse: “Tudo bem.” Fui na Rádio Cultura, Rádio Guarani, Rádio Mineira. Combinei com todo mundo e logo em um determinado dia eles tocaram ao mesmo tempo esse disco. Eu acho que até uma coisa inédita, que hoje seria impossível. Hoje eu, por exemplo, quando eu gravo disco eu nem levo mais para rádio porque eles não tocam mais, você está entendendo? Então já não tem nem interesse de levar disco para rádio. Porque hoje eles pensam só em quem está em primeiro lugar. Porque dizem lá que se põe uma música que ninguém conhece que o ouvinte já muda a estação na mesma hora. Então para não ficar chateado, eu ainda continuo apesar desses anos todos, ainda fazendo música, né? Eu não levo mais para rádio porque eu sei que eles não vão tocar. E para não ficar chateado eu não levo mais.
P/1 – Ô, Pacífico, nessa época quais eram as grandes rádios de Belo Horizonte?
R – As grandes rádios aqui era a Rádio Inconfidência, que tinha até auditório. Tinha orquestra contratada, tinha um cast de cantores. Eram vários cantores, cantores masculinos e femininos, orquestra. Tinha a Rádio Guarani que tinha no auditório o Aldair Pinto, aqueles programas de auditório que dava volta até no quarteirão, por exemplo, quando vinha um Cauby Peixoto. Era a rua, aquela rua lá da, onde era a Guarani, que era na Rua São Paulo com Afonso Pena. Dava volta no quarteirão de gente para entrar no auditório. Então essas é que eram as grandes rádios. Mineira, Guarani. Mineira mais por ser música que tocava, músicas boas. A Rádio Mineira, e as outras por causa dessa programação. E depois tivemos também a TV Itacolomi que surgiu aí em uma determinada época e depois acabou.
P/1 – E qual foi a repercussão do disco, tocando tanto na rádio?
R – O disco foi a maior repercussão que podia ter, eu sei que todo mundo tomou conhecimento do disco na época, porque tocava demais na rádio. Aí todo mundo: “Pô, mas só toca, estão tocando as músicas suas o tempo todo.” E a música ficou... as minhas músicas ficaram muito conhecidas, eu fiquei conhecido também por causa disso. Nessa época, em 1958, 1959, nesse período, que a gente estava lançando o disco aí. Então, aí eu fiquei conhecido por causa disso.
P/1 – E, Pacífico, como é que você encontra com esse pessoal aí do que viria a fundar o Clube da Esquina?
R – Ah, o Clube da Esquina? Bom, aí eu gravei esse disco em 1958 e em 1964 eu inventei um processo para acompanhamento de violão, para ficar na contracapa do disco e tirei a patente. Era uma tabela de acordes, com as letras, com números em cima das letras. Aí eu fui lá na Gravadora Odeon, procurei o Zé Ribamar, o Milton Miranda, que era um dos diretores artísticos da Odeon. Falei: “Olha, inventei essa idéia aqui.” Aí gravei, eles falaram: “Você quer vender essa idéia para a Odeon?” Eu falei: “Não, eu quero é lançar um disco com todas as músicas minhas.” Ele falou: “Mas todas as músicas suas?” Eu falei: “É.” Então, (riso) dei as músicas para eles ouvirem, eles gostaram. Aí falaram: “Então, tudo bem. Você quer gravar com quem?” Eu peguei, estava lá no Rio de Janeiro com o Roberto Menescal, o Eumir Deodato, então eu os convidei para fazer essa gravação minha. Aí o Roberto Menescal chamou aquela cantora Joyce. Em 1964 nós gravamos esse Sambacana, que era um corinho. A voz feminina e uma masculina, músicas curtas. E foi um pulo. Aí a Rádio Jornal do Brasil começou a tocar, a Rádio Tamoio. E fez sucesso essa música. Um sucesso relativo por estar tocando nessas rádios, está entendendo?
P/1 – Só voltar um pouquinho. Você podia contar um pouco mais desse método aí de cifra?
R – Ah, do violão? É o seguinte: eu fiz uma tabela de acordes na contra capa, eu até tirei a patente. Tirei, quer dizer, eu registrei a patente no DNPI, que é no Departamento Nacional de Propriedade Industrial. Eu punha as letras das músicas e números. E fiz uma tabela de acordes na contra capa do long play. Uma tabela de acordes. Então as pessoas olhavam o número, por exemplo, esta canção tinha um determinado número, olhavam a tabela do lado, então acorde três. Ele olhava, ia vendo a letra e no final ele aprendia as músicas vendo. Agora isso foi pena que não foi divulgado. Nós lançamos o disco e eles não fizeram força nenhuma lá na Odeon. Não divulgaram. Se tivessem mostrado na televisão, por exemplo, teria sido até sucesso. Acredito que teria sido. Porque aí estava mostrando: “Aprenda a tocar violão ouvindo o LP Sambacana.” Eles fizeram até um cartaz para pôr nas lojas de disco, mas não foi o suficiente para pegar. Mas foi uma coisa que aqui foi, teve uma repercussão aqui em Belo Horizonte, porque eu morava aqui, e todo programa que eu ia eu falava nisso. E as rádios também comentavam. As lojas de disco punham a contra capa para mostrar esse disco do Sambacana.
P/1 – Hum, hum.
R – Onde eu gravei, estou te dizendo que foi o que eu te falei que quando eu fui lá no Rio mostrar essa idéia lá, que eles toparam fazer esse disco com as minhas músicas. Então eu nessa época, então aí que se você, aí então é que eu já estava ficando conhecido aqui em Belo Horizonte. Foi nessa época então, que a minha participação do Clube da Esquina foi mais por causa do Milton Nascimento e do Wagner Tiso. Quando um dia em 1964 eles me procuraram lá em casa. Vieram uma turma lá de Três Pontas, o Gileno, o Wagner, uma porção de gente lá, o Gileno é irmão do Wagner, me procurar lá em casa. Aí eu vi eles tocando lá fiquei impressionado. Vi que eles cantavam muito bem, que o Bituca cantava muito bem, o Wagner tocava muito bem piano. Eles apresentaram umas músicas deles, lá. Uma que chamava: Amor Escrito no Céu, que eu ainda sei a letra até hoje. E cantou, assim: E a Gente Sonhando. Eram umas músicas que eles tinham feito. Aí eu... Eles demonstraram um desejo de ficar aqui em Belo Horizonte.
P/1 – Vocês poderiam descrever como eles eram fisicamente? Você lembra?
R – Lembro, era assim, assim miúdos para te falar a verdade. O Bituca com... ele andava muito com um puloverzinho de lã, que eu ainda lembro até hoje assim. Não sei se era época de frio que ele apareceu lá em casa, feito de, não sei se era crochê, uma coisa lá. O Wagner assim avacalhado, tá entendendo?
P/1 – (riso)
R – Ele andava todo assim barbado, todo. Quem olhasse ele assim você não dava fé para ele, por causa do jeitão dele. Ele, essa turma que apareceu lá em casa nesse dia. Eles eram assim, meio displicentes, está entendendo?
P/1 – (risos)
R – Aí fui lá, recebi eles.
P/1 – E tocavam bem?
R – Tocavam bem. Aí, como eles queriam ficar aqui em Belo Horizonte, eu peguei e pensei assim: “Bom, o que é que eu posso fazer por eles?” Aí lembrei do Célio Balona, pus todos eles dentro do carro e fui lá na casa do Célio Balona. Depois na tardinha, depois que eles tinham, estavam lá em casa, né? Levei eles na casa do Balona e falei: “Ô, Balona, aqui tem um pessoal lá de Três Pontas, que chegou aí e está aqui, de Belo Horizonte, e tal. Esse é excelente músico. Esse aqui toca muito bem piano, esse aqui toca pistão”, que era o irmão do Wagner. O Balona virou e falou assim: “Olha, então eles já estão… Vamos fazer o seguinte: hoje já tem até uma festa para eles.” Falou com eles para eles arrumarem uma roupa escura e: “Encontra comigo lá no ponto dos músicos”, que era na Avenida Afonso Pena com Tupinambás. Aqui em Belo Horizonte tinha um ponto de músicos e garçons que se reunia para arrumar serviço.
P/1 – E garçons?
R – É, e garçons também. Ficavam os músicos de um lado e os garçons do outro porque ali então é que aparecia uma pessoa com um baile, ou uma festa e contratava os garçons na hora. E músicos também, esperando para pegar serviço em algum bar, em alguma coisa que aparecesse, né? Então era o ponto. O Balona falou: “Então vocês vão lá, às 8 horas, eu já estou às 7 e não sei quantas eu já estou esperando vocês lá. Vocês ponham uma roupa escura e eu estou esperando vocês lá no ponto dos músicos. Porque já tem uma festa hoje para vocês tocarem.” E eles foram. Devem ter tocado nesse lugar que o Balona levou. Já essa parte eu não lembro aonde que foi, nem nada.
P/1 – Hum, hum. Não tem problema.
R – Eu sei que o Balona aproveitou eles lá para fazer isso. Então daí nesse tempo eu vi que, eu falei: “Pô, esse cara canta muito bem.” E comecei a chamar o Bituca para fazer serenata com a gente também. Levava ele, ele cantava para as moças no bairro dos funcionários. E ele gostava de cantar muito uma música chamada Misty. Música americana, toda serenata: (canta) “Look at me.” Cantava e todo mundo adorava a voz dele. Eu fui convivendo com ele e vi que ele era um grande cantor, e cheguei até a gravar com ele uma fita para mandar. Porque eu tinha gravado esse disco na Odeon, e tinha conhecimento danado lá no Rio de Janeiro. Eu era amigo de todo mundo, eu era bem entrosado. E uma fita que eu gravei com ele lá em casa, o Bituca cantando umas vinte músicas. Eu comecei a mandar, mandei lá para diversas pessoas no Rio. Mandei para o Humberto Reis, lá da, ele era programador da Rádio Tamoio, muito ligado a uma gravadora do Osvaldo Cadaxo que chamava Equipe. O Eumir Deodato até gravou uns discos nessa gravadora dele. Aí o Humberto Reis adorou a voz dele e tal. Falou que ia falar com esse Osvaldo Cadaxo para contratá-lo. Mandei para o João Melo na gravadora Philips. O João Melo era o, é o produtor da gravadora Philips. Ele foi mostrar ao João Araújo, que é o pai desse, do Cazuza.
P/1 – Cazuza.
R – E ele não gostou da voz do Milton. Ah, não gostou e não contratou. Aí o João Melo falou: “Ah, Pacífico, eu levei para o João Melo lá e ele não gostou, nem nada,” está entendendo?
P/1 – Ô, Pacífico...
R – Ahn?
P/1 - ...você falou que você gravou uma fita com vinte músicas? Você lembra que músicas eram essas?
R – O Milton Nascimento cantando músicas dele e músicas de outros compositores.
P/1 – Sei, você lembra de alguma, o nome?
R – Lembro. Essas, eu lembro que eu, quando eu lembrei que eu ia lá no João Melo eu falei: “Ó, Milton, você canta aí, você canta essa música do João Melo que chama Jogado Fora.” E ele pegou cantou. E talvez por isso o João Melo tenha ficado muito mais entusiasmado. Ele viu aquela voz, uma voz diferente. Mas esse João Araújo não gostou, aí não quis fazer. Eu mandei também depois para o Luis Cláudio, que ia também muito cantor lá na casa dele. Mandei para várias outras pessoas. E nessa ocasião eu mandei e depois eles ficaram assim sem falar nada, o que é que ia fazer, o que é que não ia. Os que gostaram também não se manifestaram. Falei com o Milton Miranda que era lá da Odeon também, quando ele veio aqui em Belo Horizonte. Eu tenho até um retrato desse dia. Está o Bituca, o Wagner, aí eu apresentei o Milton Miranda. O Milton Miranda também não fez manifestação nenhuma. A não ser anos depois, quando o Milton ganhou o festival, que aí ele contratou ele. Quando ele já tinha ganho o festival com as músicas, no festival internacional, né? E nessa época então. a gente morava e uma das coisas que eu peguei… O Milton Nascimento e o Wagner estavam precisando morar em um lugar aqui perto. Aí então já foi me surgindo a idéia de gravar em 1965 o próximo disco e convidar o Bituca e o Wagner para gravar esse disco, que eu tinha sido contratado na Odeon para gravar dois long plays. O primeiro foi aquele que eu gravei lá com o Menescau, e o segundo eu convidei o Bituca e o Wagner para participarem do coro. Desse coro do Quarteto Sambacana, que chamava. E aí começamos a ensaiar em casa, e o Marcos de Castro que fez os arranjos. Era um maestro aqui que morava, meu vizinho. E nessa época até coloquei o Bituca morando lá na Rua Antônio de Albuquerque, entre Rua Sergipe e Alagoas. Ele e o Wagner ficaram morando lá. Em uma temporada, e aí facilitava até da gente ensaiar. Ele ia lá para ensaiar, ele ficou algum tempo nessa pensão, a Dona Maria. Ele ia ensaiar e tal, o Wagner também. Ensaiamos até que um dia nós fomos, eu marquei o dia no Rio de Janeiro para gravar e fomos para o Rio. Aí eu fui em um carro, um Simca Chambord que eu tinha, acho que o carro era 1960. Um Simca Chambord cinza, eu fui com o Bituca e o Wagner no carro. E o carro ia enguiçando o tempo todo. Tinha de dar sangria na roda do carro, o óleo. Aí o Bituca descia lá soltava, eu batia o pé no acelerador ele espirrava o óleo. Eu levava óleo e ia pondo. Ele parava, eu não sei o quê é que acontecia que ele, o carro gripava, ele não ia nem para a frente, nem para trás. Aí eu descobri que fazendo essa sangria que, aí fizemos isso umas quatro vezes. Inclusive dentro até de um túnel lá. Que chegando em Niterói o Bituca desceu lá embaixo para soltar a roda, para espirrar o óleo para o carro andar mais aí uns 100 quilômetros.
P/1 – Quanto tempo durou essa viagem?
R – Essa viagem nós, bom, demorou aí umas, antigamente eram umas oito horas mais ou menos, oito ou nove horas. E durante a viagem o Bituca e o Wagner ia cantando minhas músicas. Ele conhecia tudo em plural. Por exemplo: “Estas canções terão poucas durações.” E outra, por exemplo: “O vento soprou.” Ele fala: “Os ventos que sopraram.” Ia cantando assim um tempo, a viagem toda no plural, sabe como é que é? (riso) E aí foi divertido. Nós fomos viajando e chegamos no Rio de Janeiro. Fomos para o apartamento que o meu irmão tinha lá na Avenida Nossa Senhora de Copacabana 1182. Entre Sá Ferreira, quase esquina com Sá Ferreira. Nós ficamos lá no Rio, e preparando. E nesse período que a gente estava lá eu cheguei a levar o Bituca lá na casa do Eumir Deodato que eu conhecia. Apresentei: “Ô, Eumir, esse aqui é o Bituca. É um grande cantor lá de Belo Horizonte.” O Eumir gostou demais da voz dele e fez algumas promessas até para, fez algumas promessas até para...
P/1 – Pacífico, você podia contar então o encontro de vocês com o Eumir Deodato no Rio?
R – Nessa época que a gente estava no Rio a gente tinha muito tempo. Porque depois das gravações ou antes, nós ficamos lá no Rio, ficamos lá então aí eu pensei de apresentar o Bituca à essas personalidades que eu conhecia. Que eram conhecidos, amigos meus. Então um dia eu levei ele lá na casa do Eumir Deodato, que tinha participado do primeiro disco meu, tocando piano. Aí fui com o Bituca lá, o Bituca cantou. Ele acompanhou no piano e achou a voz dele muito boa, as composições excelentes. E fez uma porção de promessas para ele, que ia fazer isso, que ia fazer aquilo. Várias promessas na carreira dele. Depois Eumir até eu... aí depois não sei o que é que aconteceu sobre isso. Nessa ocasião também foi na casa do Tito Madi. Eu levei ele na casa do Tito Madi. Ele cantou uma música dessas que ele tinha feito aqui em Belo Horizonte. Aquele: “A Gente Sonhando.” Tito Madi falou: “Vou gravar.” Aí pediu para o Wagner deixar, arrumar uma partitura, a letra e tudo, e eles não levaram. Até hoje o Tito Madi fala: “Ó, o senhor podia ter lançado eles como os primeiros, lançar eles como compositores e eles não mandaram nada.” Ficou até muito chateado, apesar deles terem chegado lá e não terem tomado conhecimento. O Tito adorou a voz. O Tito era até um cantor muito conhecido. E eu também levei o Milton lá na casa do, uma festa em Copacabana que estava tendo de música. E lá eu apresentei ele à Elis Regina.
P/1 – Ah.
R – Foi eu que apresentei ele à Elis Regina. Ele até quando fez um show lá em Minas, ele falou: “Pô. Uma das coisas que eu gosto que o Pacífico fez, foi me ter apresentado a Elis Regina, não sei o quê.”
P/1 – Como é que foi esse encontro?
R – Foi uma festa lá em Copacabana. A Elis Regina era já conhecida. Ela gostava do disco que a gente tinha gravado: Coral de Ouro Preto. O Ubirajara tinha feito os arranjos. Era um vocal lá de Ouro Preto. Ubirajara era um dos maiores pianistas que existe. Tanto é, ele até participou nesse disco nosso, Sambacana, tocando piano. E então esse coral de Ouro Preto era um coral que foi considerado o melhor coral do ano lá do Rio de Janeiro. Ele foi considerado lá o melhor coral. E aí então esse contato que eu tive era, sabe, estava lá nessa festa e eu apresentei a ele. Foi só assim uma apresentação que eu fiz. Depois eu acho que ele também cantou umas músicas lá ela adorou. Aí trocaram endereço, telefone, sei lá, qualquer coisa assim. Foi nesse dia aconteceu isso. Depois eu vim embora para Belo Horizonte, eu nem soube que algumas dessas coisas o que é que aconteceu. Por exemplo, no caso do Wagner também de eu ter levado ele na casa do Laércio Vaz de Melo, que era um pianista que tocava no Copacabana Palace, tocava no Drink e fomos lá para ver se ele arrumava um lugar para o Wagner tocar. O Wagner queria, a intenção dele era ficar lá no Rio, não voltar para Belo Horizonte mais. Então ele queria ficar no Rio, aí o Laércio Vaz de Melo parece que deu uma força para ele. Ele começou depois então tocar em um bar lá na barra. Ficou lá pelo Rio de Janeiro. O Wagner não voltou mais. Lembrar do Wagner também, eu lembro que a gente estava na praia, a gente ia para a praia porque o apartamento do meu irmão era a um quarteirão da praia. Ele ia lá com o Bituca com o violão. Ficava esgoelando lá na praia, cantando música. Assim com a mão toda suja de areia. E cantando lá, os dois sentados na areia e cantando música. Praticamente só ninguém ouvia, porque aquela, aquele barulho da praia ninguém toma conhecimento. Sem microfone, sem nada. E o Wagner até fez uma coisa interessante. Ele queria trazer para a namorada dele, ele arrumou um vidrinho que ele já tinha levado para lá para trazer para a namorada dele, que ele tinha aqui em Belo Horizonte, água do mar.
P/1 – (riso)
R – Então ele pôs a água no vidrinho e tal, para trazer para a namorada dele lá no Rio de Janeiro. E esses lugares que eu te falei que o Bituca, apesar dele ser carioca, ele queria conhecer o Rio através de letras de música, né? Que eu já falei. Então a gente rodava, ia para Ipanema, esses lugares todos para ele conhecer.
P/1 – Como é? O Rio através das letras das músicas?
R – Das letras das músicas. Ele queria conhecer o Rio. Ele falava: “Vejo o Corcovado...” aquela música que tinha do Jobim, “Pô, onde é que é o Corcovado? Onde é que é isso? Balanço Zona Sul, Posto Seis, onde é que é?” Ele queria conhecer o Rio apesar dele ter nascido no Rio. Mas eu acho que ele veio muito pequeno lá para Três Pontas, então ele não conhecia. Foi nessa época que nós fomos para o Rio é que ele conheceu o Rio de Janeiro, está entendendo?
P/1 – Ih, o roteiro bacana. Qual que era? Corcovado...
R – Corcovado, Posto Seis, Ipanema. Essas coisas assim que falava no Rio, né? Que ele conhecia das letras lá de Três Pontas, ele e o Wagner estavam antenados na Bossa Nova. E as músicas, que eles faziam também com o Wagner, eram tudo Bossa Nova. Foi a época que surgiu o João Gilberto, na época que nós, 1958, quando eu lancei esse disco meu. 1958 era mais assim tipo samba canção. Aquelas músicas do Lúcio Alves, Dick Farney que estavam em evidência na época. Então a Bossa Nova era a maioria das músicas do Bituca e do Wagner, só isso. Bossa Nova era o que estava em evidência. Esse tipo de música que ele faz hoje, depois ele parou com a Bossa Nova. A hora que ele entrou no festival já entrou com outro estilo de música, né?
P/1 – E o festival? Você podia contar aí? Você teve uma participação nisso também?
R – Não, o festival eu até que, eu tive, nós ainda não contamos como é que foi as gravações lá no Rio, né?
P/1 – Ah, desculpa, desculpa.
R – Não, aí nós fomos para o Rio de Janeiro já com a data marcada na Odeon. Fomos à Odeon gravar o disco. O maestro lá, eles puseram à disposição mais de uma orquestra imensa lá, que o Marcos fez arranjo usando mais de quarenta músicos. E o Milton cantou aquelas músicas todas. Ele era o solista do disco. E fazia também a parte vocal. Gravamos primeiro a parte vocal. E são quatro vozes fazendo os acordes e cantando o tempo todo. E ele então era o solista. A hora que parava o acompanhamento das músicas então, ele solava as músicas cantando. Em um determinado momento o técnico da gravadora, da Odeon, ele gostou tanto da voz do Bituca que a hora que acabou a gravação ele virou para o Bituca falou: “Você fica aí.” E chamou ele para por, aproveitou aqueles play back lá do Simonal. Aí pôs o Bituca cantando para ver como é que ficava a voz dele com o grande, com aquela grande orquestra. E esse cara, então o Bituca ficou lá depois da gravação e ele começava a por aqueles play backs do Simonal. O Simonal estava estourado na época, né? E o Bituca então começou a cantar aquelas músicas que o Simonal cantava com aquele som, aquela coisa. O cara ficou entusiasmado com a voz dele e foi só uma passagem só, que ficou só naquilo. Eu acho até que o técnico não podia nem fazer isso. Esse detalhe que ele fez, você está entendendo? Isso foi uma coisa que ele fez mais de curiosidade de ver como seria o Bituca cantando sozinho, cantando com uma orquestra e cantando uma música conhecida. Essas músicas que eu gravei com o Bituca lá eram músicas minhas que não eram conhecidas. Nessa época depois que o disco veio aqui para Belo Horizonte, aí surgiu a Jovem Guarda, e o disco, e foi o ano também que eu casei. Eu então não fiz a divulgação que eu tinha feito no primeiro disco. Não fiz divulgação nenhuma do disco. E a Jovem Guarda estourando. Aí, foi no mesmo ano: 1965, eles surgiram arrasando. A rádio só queria negócio de Jovem Guarda. Então eu gravei esse disco, agora no final do ano de 2003. A Odeon lançou no centenário deles, eles escolheram lá uns quarenta discos e puseram. Lançou esse disco, por incrível que pareça, eu acho que aquele do RPM, que foi o produtor. Parece que ele descobriu essa fita lá na Odeon e relançou o disco agora no final de 2003. Chama Quarteto Sambacana, que o Milton está cantando, esse disco meu. Eles fizeram só uma, pouca quantidade, que era só para, em homenagem ao centenário da Odeon. Então o disco foi relançado aí. Agora tem pouco tempo que fez.
P/1 – Que beleza.
R – É, relançaram o disco em CD, porque até então eu tinha em long play só. Então foi isso que aconteceu lá no Rio. Depois também o Bituca ficou no Rio de Janeiro. Algum tempo depois que eu vim para Belo Horizonte, nós saímos do apartamento do meu irmão, o Bituca pegou uma mala dele, duas malas e deixou lá na casa do cantor Luis Cláudio, na Rua Sá Ferreira que era perto desse apartamento que eu estava. Aí passou uma semana, quinze dias, o Luis Cláudio morava em um apartamento de um quarto só, sala e quarto. Aí ele já: “Ô, Pacífico, é que seu amigo aqui deixou a mala aqui, falou que vinha pegar aqui e não veio. Já tem mais de vinte dias que ele não vem pegar essa mala aqui. O apartamento aqui é pequeno. Ele não vem, não vem, não sei o quê.” Aí ficou chateado lá dele, um belo dia ele foi lá e conseguimos falar com ele. Depois o Wagner ficou no Rio de Janeiro, o Luis Cláudio (riso) esse mesmo cantor foi até avalista do Wagner para ele alugar um apartamentinho lá no Rio. E o Luis Cláudio é que arrumou isso para ele lá. Depois ele foi lá e pegou essa mala e pronto. Ele ficou chateado que ele não ia lá buscar, e o apartamento lá ficava aquela mala na salinha dele. Depois ele buscou. Ele ficou no Rio também, o Bituca não veio mais. Quando ele estava aqui em Belo Horizonte, nessa época eu até esqueci de te contar, ele cantava muito bem, nessa época das serenatas. Aí eu arrumei até para ele tocar em um bar ali, chamava El Rancho, na Rua da Bahia com Álvares Cabral. Ele ia lá toda noite, ficava cantando lá. Era um bar, chamava El Rancho, que eu já falei e o proprietário chamava Razuk. Aí eu falei com ele, o Razuk pegou contratou ele para ajudar. Toda noite ele ia lá cantar. Ele fez uma temporada nesse bar lá da Rua da Bahia, né? Então lá depois, voltando ao… Esse foi um lembrete que eu tive, e ele ficou lá no Rio de Janeiro e de lá ele, eu sei lá o que é que ele aprontou. Foi para São Paulo, na época do festival também. Aí só vim a ter notícias dele quando ele já tinha ganho esse festival internacional. Internacional? Festival Nacional, né, de composições. Ele tirou entre os três primeiros lugares, não foi isso?
P/1 – Hum, hum.
R – Ele tirou, e aí então ele surgiu. Agora uma outra passagem interessante que eu tive também foi quando eles estavam fazendo o filme do tostão. Eu fui convidado aqui pelo produtor do filme, eu não estou lembrado mais o nome dele, desse produtor do filme mas eu vou ver se eu já lembro. Ele me convidou para fazer os filmes da trilha do tostão. E eu tinha feito uma música que o tostão já conhecia, que eu falava: “Vem já vem vindo, meu time atacando, jogada surgindo.” Aí eu peguei falei com ele assim: “Você chama o Milton Nascimento aí. Ele que é bom para cantar, para fazer isso. As músicas dele também são maravilhosas. Ele pode fazer música aí para o filme.” Então o Bituca gravou esse disco, fez a trilha sonora desse filme: Tostão - A Fera de Ouro. E gravou essa música minha nesse disco que é da trilha sonora do filme.
P/1 – Canta mais um pedacinho dela aí.
R – (Canta) “Já vem vindo meu time atacando, jogada surgindo com a bola rolando em passos ligeiros, no campo contrário do adversário. Cruzaram a pelota da intermediária num chute certeiro para a grande área. Eis que surge então o lance genial do craque Tostão. Que toma a bola, entra na área, passa o primeiro, segundo e terceiro. Vai mais a frente, finta o goleiro e chuta para o gol. A bola vai entrando no fundo da rede, o juiz apita gol. A torcida levanta solta foguete e pede mais um. Recomeça o jogo a charanga tocando, bandeiras acenando na comemoração da vitória do povo que tanto esperou ser campeão.” Então isso aí era a música que eu tinha feito, que o Milton Nascimento gravou. Até com o Luis Eça lá no piano e tal. Eles fizeram um coro lá. E eles fizeram quatro músicas e saiu em um compacto da trilha sonora do filme do Tostão, né? Então eu praticamente então ajudei ele a, o primeiro filme que ele fez...
P/1 – Hum, hum.
R – (riso) ...foi sugestão minha também.
P/2 – Ô Pacífico, e do pessoal da turma do Levi, do Clube da Esquina, como é que essa...
R – Aí, pois é, o contato...
P/2 - ...o seu contato com eles?
R - ...que eu fui tendo, eu estando com o Milton Nascimento, tive muito contato com o Marilton Borges, o Marcinho Borges. E a gente, onde o Bituca ia, levava o Marcinho, levava o Marilton. E a turma também, alguns outros lá que eu não, eu era um rapaz assim que eu não sei hoje, eu até conheço eles e não sou capaz de identificar quem eram eles àquela época, com eles hoje, está entendendo? Eu sei que eu lembrava do Marcinho que todo lugar quando ia lá nos bares que tinha lá no Maleta, está entendendo? Eles participavam também. Eles eram amigo dele. E todo lugar que ia igual eu, a gente ensaiava em um sítio, esse disco que a gente estava fazendo e eles participavam também. O Marilton, o pessoal, alguns deles lá do Clube da Esquina. Então, a participação que eu tive foi por causa do Milton e do Wagner, e do Marilton, e do Marcinho que eu tive mais contato. Eles também que eram mais velhos até do Clube da Esquina.e eu ia de vez em quando pegar o Milton lá na rua da casa do Marcinho, ia de vez em quando na casa dele buscava. E então eu ficava lá um pouquinho, via eles. Paralelamente funcionava o grupo do Clube da Esquina e o nosso lá da Bossa Nova, lá na Savassi. E o contato que a gente tinha era quando eu ia lá buscar o Milton, quando eu vinha para cá chamava o Marilton, vinha para cá. A gente era aquele vai e vem de, (riso) que a gente fazia, né?
P/2 – Você lembra de alguma história daquela época, alguma coisa que você gostaria de contar?
R – Olha, assim no momento eu sei, eu posso lembrar mas no momento uma história assim... Eram tantas histórias e casos que eu lembro mas esses fatos que aconteceram, que eu sou capaz de falar o dobro que eu falei ainda. Lembrando assim, de novo eu sou capaz de falar de novo. Mas no momento aqui, em outra ocasião...
P/1 - ____________
R - ...eu prometo falar essas outras coisas que eu não lembrei hoje de dizer, viu?
P/1 – Está ótimo, tudo bem. E então, olha, a gente está chegando ao fim dessa primeira rodada, desse primeiro tempo, ô Pacífico, e você tem alguma recordação ligada ao disco Clube da Esquina nº 1?
R – Tenho, porque nesse dia que eles estavam preparando disco, o Bituca foi lá em casa com um fotógrafo e uma turma grande, tirou um retrato meu que está nesse disco do Clube da Esquina. Eu acho que é o nº 1. Eu não sei se é o nº 1 ou o n º 2 que tem uma quantidade de retratos.
P/1 – Hum, hum.
R – É esse mesmo, né?
P/1 – É o nº 1.
R – Então tem um retrato meu lá que o Bituca fez questão de ir lá em casa, que eu saísse nesse, um retrato meu nesse disco. Então eu fui lá, eles tiraram um retrato meu, tal, e saiu na capa desse disco aí.
P/1 – E Pacífico, você imaginava que o Milton que você conheceu naquela época ia fazer esse barulho todo, ia ter essa projeção mundial toda?
R – Eu sabia que ele ia ser um grande cantor, disso eu tinha certeza, porque ele tinha uma voz maravilhosa mesmo. Que ele chegava ______ assim, né? Todo mundo adorava a voz dele. Eu não sabia que ia ser tão depressa igual aconteceu com ele, a sorte dele ter, o Silvio Santos ter posto a música dele escondido para concorrer ao Festival da Canção. E a sorte que ele teve, e que também foi um impulso violento que ele teve, aí foi um pulo só. Na mesma hora já todo mundo tomou conhecimento. É uma coisa que acontece. Igual por exemplo o Jobim, a sorte que ele teve também do Frank Sinatra ter gravado as músicas dele. São coisas que acontecem assim, uma em mil e a gente nem sabe com quem é que vai acontecer. É gente que merece e que teve a oportunidade, igual muitos merecem mas nunca vão ter chance de nada. E eles tiveram essa chance de, merecidamente, ficaram então esses astros que a gente conhece hoje aí, né?
P/1 – Pacífico, o que é que você está achando dessa iniciativa de se criar um museu do Clube da Esquina?
R – Eu acho muito interessante que nós temos que preservar a história nossa aqui de Belo Horizonte, principalmente, do Clube da Esquina. Praticamente é um movimento que ficou aqui. Eu não conheço, nunca ouvi falar um outro movimento de música que não seja esse aqui em Minas Gerais. Tudo o que aconteceu aqui passou, não ficou, ninguém lembra de mais nada. E esse movimento é um movimento interessante, eu acho que vai dar certo. E vai ser uma coisa que vai ficar para o resto da minha vida aqui, todo mundo vai respeitar, vai admirar esse clube. Porque tem as lembranças de um fato que aconteceu aqui em Belo Horizonte e vai ficar para sempre aqui, todo mundo que gostar de música vai ter que seguir, ver o que é que aconteceu nessa história tão bonita que eles fizeram aí no Clube da Esquina. Que foram fazendo cantores, compositores e uma infinidade de gente. E foi muito bom o movimento também participativo de todo mundo, e todo mundo está entusiasmado hoje. Com isso só pode dar certo. Então isso é o que eu acho, viu?
P/1 – Está bom Pacífico, muito obrigado pela sua entrevista.
R – Obrigado também de ter participado dessa entrevista e depois eu vou lembrar outras coisas. Igual essas, eu te falei já anteriormente e vamos falar mais sobre isso, viu? Então está bom.
P/1 – Está ótimo.
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