P1 – Boa tarde, doutor. Primeiramente, seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é comprido, é João Eduardo Oliveira Irion. Eu nasci em 14 de novembro de 1929, na cidade de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul.
P1 – Qual sua atividade e função atual na Unimed?
R – Eu sou ex-presidente. Eu já fui ex-presidente de muitas coisas e eu costumo ser ex-presidente da seguinte maneira: eu não interfiro com o que os meus sucessores estão fazendo. Então, atualmente lá em Santa Maria, eu sou um médico cooperado, que atende os usuários da Unimed, só isso.
P1 – E o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava José Irion Filho, e minha mãe se chamava Eulália Oliveira Irion.
P1 – Qual a atividade profissional deles?
R – Meu pai era “bolicheiro”. É uma profissão do Rio Grande do Sul de quem tem um armazém desses do interior. E minha mãe era professora.
P1 – E a origem da sua família?
R – A mãe era de origem acho que portuguesa. Mas meu pai era neto de imigrante alemão. Não era bem alemão, era mais de imigrante austríaco. Vieram da Áustria.
P1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho seis irmãs e dois irmãos, um é médico o outro farmacêutico. Minhas irmãs têm diversas profissões.
P1 – Poderia contar um pouco da sua infância? Como era a casa em que o senhor morava?
R – Bom, eu me criei num lugar que eu considero como se fosse minha cidade natal, chamado Cacequi, que é um entroncamento ferroviário no Rio Grande do Sul e que vivia da ferrovia. Como minha mãe era professora ali, eu estudava, fiz até o quarto ano primário, como se dizia naquela época. Em Cacequi não tinha ginásio, fui fazer em Alegrete que é uma cidade perto. Depois em Alegrete não tinha científico, fui para Santa Maria fazer o científico. Aí fiz vestibular em Curitiba e me formei na Universidade Federal do Paraná, que por...
Continuar leituraP1 – Boa tarde, doutor. Primeiramente, seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é comprido, é João Eduardo Oliveira Irion. Eu nasci em 14 de novembro de 1929, na cidade de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul.
P1 – Qual sua atividade e função atual na Unimed?
R – Eu sou ex-presidente. Eu já fui ex-presidente de muitas coisas e eu costumo ser ex-presidente da seguinte maneira: eu não interfiro com o que os meus sucessores estão fazendo. Então, atualmente lá em Santa Maria, eu sou um médico cooperado, que atende os usuários da Unimed, só isso.
P1 – E o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chamava José Irion Filho, e minha mãe se chamava Eulália Oliveira Irion.
P1 – Qual a atividade profissional deles?
R – Meu pai era “bolicheiro”. É uma profissão do Rio Grande do Sul de quem tem um armazém desses do interior. E minha mãe era professora.
P1 – E a origem da sua família?
R – A mãe era de origem acho que portuguesa. Mas meu pai era neto de imigrante alemão. Não era bem alemão, era mais de imigrante austríaco. Vieram da Áustria.
P1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho seis irmãs e dois irmãos, um é médico o outro farmacêutico. Minhas irmãs têm diversas profissões.
P1 – Poderia contar um pouco da sua infância? Como era a casa em que o senhor morava?
R – Bom, eu me criei num lugar que eu considero como se fosse minha cidade natal, chamado Cacequi, que é um entroncamento ferroviário no Rio Grande do Sul e que vivia da ferrovia. Como minha mãe era professora ali, eu estudava, fiz até o quarto ano primário, como se dizia naquela época. Em Cacequi não tinha ginásio, fui fazer em Alegrete que é uma cidade perto. Depois em Alegrete não tinha científico, fui para Santa Maria fazer o científico. Aí fiz vestibular em Curitiba e me formei na Universidade Federal do Paraná, que por sinal é a universidade mais antiga do Brasil.
P1 – Qual a lembrança mais marcante da época da sua infância?
R – Olha, acho que a coisa mais marcante foi um dia em que eu ia junto com minha mãe para o colégio – ela não era minha professora, nunca quis ser minha professora – e ela me disse que eu devia ir pra Alegrete para seguir os estudos, porque em Cacequi não tinha como continuar. Então, com onze anos de idade, eu fui para Alegrete, parar numa pensão. E fui dono de mim a partir daí. Aquele momento em que ela me disse que eu devia ir pra lá é uma coisa que marca minha memória.
P1 – Como era o cotidiano da sua casa? Como era o dia a dia com a família?
R – Naquela época as famílias eram muito chegadas. Então, a casa de negócios do meu pai era junto com nossa casa e minha mãe estava constantemente ali. As pessoas estavam sempre juntas, os irmãos muito chegados, muito unidos. E a gente lá em Cacequi não tinha muito o que fazer. Era uma vila que não tinha praticamente nada. Eram aquelas brincadeiras de moleque, jogar a “bolita”, como a gente chama no Rio Grande do Sul, que são as bolas de gude daqui. Brincar de mocinho, essas coisas.
P1 – Me fala um pouco da sua adolescência. Como foi esse período?
R – Bem, um fato importante que eu acho do meu período de adolescência foi o fato de ter sido escoteiro. Isso pra mim foi importante. Foi difícil conseguir ser escoteiro, porque meu pai não queria que eu fosse. Toda vez que escrevia uma carta para eles, terminava sempre com o mesmo negócio: “Quero ser escoteiro”. Acabei sendo escoteiro, e acabei virando chefe de tropa. Foi uma coisa muito importante, acho. É um tipo de filosofia transmitida que ajuda bastante a formação das pessoas.
P1 – Tem muita gente ainda no escotismo?
R – Eu não sei como está o movimento escotismo hoje. A época de ouro foi naquela, e não agora.
P1 – Fale um pouco dos seus estudos, da sua formação educacional, da escola.
R – Bom, como eu disse fiz os primeiros anos lá em Cacequi e depois fui pra Alegrete e pra Santa Maria. Me formei médico com 24 anos. Na época era uma idade muito precoce. Eu sempre, sempre gostei de estudar. Eu sou um estudante compulsivo. Eu vivo estudando, continuo estudando! Passo minhas noites estudando, atualmente, como fazia anteriormente. Eu hoje lamento não ter os meios naquela época que a gente tem agora. Eu não tinha biblioteca pra consultar. A não ser lá no ginásio em Alegrete, onde tinha uma biblioteca muito boa, mas livros de aventura, história, essas coisas. Mas não tinha meios melhores, ambiente pra gente se tornar mais cientista do que podia ser. Não existia.
P1 – Que matéria o senhor mais gostava?
R – Rapaz, eu saí de Santa Maria para fazer vestibular para ser radiologista. Na época, quando eu dizia para meus colegas que eu queria ser radiologista, os caras achavam que eu era maluco, porque era uma profissão de fotógrafo. Ninguém entendia de radiologia. E parecia um absurdo uma pessoa ir pra faculdade para ser radiologista. O meu passado, as minhas brincadeiras de infância estavam sempre relacionadas com raio. Eu montei uma máquina de cinema lá em casa. Eu inventei de fazer uns filmes e a minha companhia cinematográfica se chamava Fulgur Filmes. Fulgur, como você sabe, é raio em latim. Então, eu sempre me enfiava nessa história. Acabei indo pra faculdade e saí de lá radiologista. Fui fazer radiologia em Santa Maria. E quando cheguei em Santa Maria fui convidado para ser professor na Universidade. Aliás, não era nem na Universidade, era num curso para médicos que estava se formando em Porto Alegre. Vim ao Rio e fiz alguns cursos de Física, porque sempre estive meio envolvido com a Física, e tomei conhecimento dessa coisa de uso de átomos na medicina e acabei fazendo uma segunda especialidade. Hoje eu sou médico nuclear, só faço isso.
P1 – E o que influenciou a escolher a carreira de medicina?
R – Em boa parte, acho que foi pressão da família. Meu padrinho era médico militar. E era aquela história: “O João tem que ser médico, tem que ser médico”. Na hora de fazer o vestibular, eu fiquei entre várias coisas, porque achava que eu devia, que tinha uma boa vocação para ser engenheiro. Hoje eu vejo que minha mania pela Matemática ajuda na especialidade que eu estou fazendo. A medicina não prescinde da Matemática, precisa dela também.
P1 – E o período da faculdade, os colegas a vivência, como foi esse período?
R – Bom, eu vou fazer um depoimento aqui muito interessante, porque talvez poucas pessoas tenham a oportunidade de dizer o que eu vou dizer: o ambiente em Curitiba, quando eu fui pra lá, era um ambiente estudantil extraordinário. Não existia nada igual no Brasil e acredito que não exista nada igual hoje. Os centros acadêmicos eram entidades autônomas, com vida própria, sedes próprias e recursos próprios. Não eram aquelas salinhas dependentes da Universidade. A universidade não subsidiava nada e a gente tinha que se virar como podia. Cada centro acadêmico era importante. O de Medicina, que se chamava Diretório Acadêmico Nilo Cairo, ainda se chama, era uma sala... Não, uma casa que tinha restaurante próprio, um sistema de impressão próprio, tinha biblioteca própria, sala de baile, gabinete dentário, quadra de tênis, canil pra gente botar os cachorros que a gente usava nas aulas de técnicas cirúrgicas. Tudo sustentado pelos estudantes. A União Paranaense de Estudantes tinha um restaurante universitário que servia 3000 refeições por dia, custeado pelo estudante. Se faltasse comida, o problema era nosso. Não tinha esse negócio de chegar e pagar um real como hoje nas universidades, em que, porque o governo subsidia, o sujeito paga um real ou dois reais para comer e toma uma cerveja. Lá não tinha nada disso. Se tomava um copo de leite. Esse restaurante era abastecido por uma granja dos estudantes, que era gerida pela turma de agronomia e veterinária. Quando havia uma eleição nesses centros acadêmicos, os centros acadêmicos tinham partidos políticos dentro dos centros acadêmicos, mas não eram partidos relacionados com a política nacional. Eram partidos que tinham correntes de filosofias relacionadas com o centro acadêmico e os estudos. E esses partidos políticos faziam convenções para escolha. Era uma escola política extraordinária, uma ambiente fora de série, coisa impressionante. Eu fui diretor do jornal acadêmico, eu tirava um exemplar por mês e era custeado por nós. Eu tinha que dar um jeito de arrumar anúncio para o jornal sair. E saía regularmente. Depois fui diretor do departamento de apostilas do centro acadêmico, porque livro era muito difícil de comprar. Durante o período em que fui diretor, imprimi 600 mil páginas. Aquilo era transferido para os estudantes pelo preço de custo. Tudo isso pelo jeito morreu. Porque depois que eu saí de lá, a Universidade mudou de perfil. Por exemplo, o Mariano Castilho foi presidente do centro acadêmico lá, depois que eu saí. Eu não fui presidente, me formei antes do Castilho. Misteriosamente um dia pegou fogo no restaurante universitário e acabou-se o restaurante. A casa do estudante era gerida por nós e para um aluno entrar, passava por uma comissão de alunos para ver se realmente precisava, se ele tinha realmente necessidade de estar na casa do estudante. Aí a Universidade fez uma casa do estudante e virou essa coisa. A gente saía para as reuniões da União Nacional dos Estudantes, lá no Rio de Janeiro, era um centro acadêmico formado numa salinha igual a essa daqui, que não tinha recurso nenhum. Uma eleição lá no centro acadêmico em Curitiba era como se fosse uma eleição municipal. Era cartaz pela rua inteira. Curitiba na época era uma cidade pequena, de uns 250 mil habitantes, só.
P1 – E a relação com os professores?
R – Eu não tive nenhum relacionamento especial com meus professores, nem positivo nem negativo. Eram professores. E algumas pessoas que eu devo mais, não eram meus professores na universidade. Eram pessoas que trabalhavam no serviço de radiologia da Santa Casa, que não eram professores da universidade. Foi ali que eu aprendi a radiologia que eu sei.
P1 – O senhor se formou...
R – Me formei e fui para Santa Maria. Tinha várias vagas. Imagina, ninguém queria ser radiologista, então tinha uma porção de convites para ir para Curitiba, para Ponta Grossa, para Cascavel. Convites que eu recebi. Mas eu fui para Santa Maria, e me convidaram para ficar lá e eu sou de lá mesmo, não exatamente de Santa Maria mas do Rio Grande do Sul. Então, fiquei lá. Mas eu não estava destinado a ser professor. Não estava no projeto do curso de Medicina, que estava começando, tinha começado no ano anterior. Eu me formei em 54 e a primeira turma começou em Santa Maria em 54. Eu cheguei em 55. De repente faltou uma pessoa para ser assistente de uma cadeira e me botaram lá.
P1 – Qual foi o impacto de iniciando a carreira e já ser professor?
R – Olha, eu tenho a impressão, e desculpe a minha confiança, a minha pretensão, mas eu acho que sempre fui professor, entendeu? Eu já tinha sido... Eu, por exemplo, como acadêmico lá do serviço de radiologia da Santa Casa, ensinei muito médico que não sabia nada de radiologia. Tinha sido professor inclusive naquele programa de alfabetização de adultos. Minha mãe era professora e eu virei professor. Acho que tenho a veia do professor, uma vocação importante. E o conhecimento que não se transmite não é conhecimento. Essa é a filosofia do professor, entendeu? Tudo o que eu sei de medicina, sempre quis transmitir.
P1 – Paralelamente à carreira de professor, o senhor era radiologista?
R – Antes de tudo, minha função, me considero médico. Tenho uma cabeça de médico antigo. Porque os antigos professores das faculdades eram aqueles médicos que tinham feito a prática na clínica e depois iam ser professores. Não é como hoje que o camarada faz pós-graduação, mestrado, doutorado e não sei o quê para ser professor, mas nunca teve um consultório. Não conhece a vida prática. Para mim, ser professor era um apêndice da minha profissão.
P1 – O senhor lembra do primeiro dia de trabalho como radiologista?
R – Como radiologista, não me lembro, porque não é uma coisa que marque. Eu entrei no serviço de radiologia da Santa Casa no primeiro ano de Medicina. Como eu queira ser radiologista, dei um jeito de entrar no serviço de radiologia no primeiro ano. Fui olhando, vendo, não sei o quê, e de repente eu sou quase igual aos médicos que estão lá. Antes de me formar, eu já fazia de tudo, já fazia todos os exames, já interpretava os exames. E eles naturalmente criticavam minhas interpretações. De modo que quando eu saí e fui fazer o primeiro exame em Santa Maria, foi a mesma coisa. Não me lembro de como foi, nem quando foi.
P1 – E depois o senhor continuou a carreira de radiologista?
R – Sim, eu fiquei, fiz a radiologia, e como eu entrei na faculdade de Medicina, fui convidado para ser professor na cadeira de Biofísica, então eu fiz vários cursos de Física e Biofísica aqui em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi onde eu conheci essa questão da radioatividade e comecei a me interessar pela medicina nuclear também.
P1 – Me fala um pouco do ingresso na Unimed, como foi, que ano foi, o que te motivou a entrar na Unimed?
R – Eu não sei se a pergunta é exatamente essa, me desculpe. Porque eu não entrei na Unimed, eu fundei a Unimed. E as coisas aconteceram da seguinte maneira: eu fui um líder comunitário em Santa Maria; eu fui governador do Lions; presidente de vários clubes. Fui presidente de clubes de bolão, uma forma de boliche, fui presidente da Federação dos Clubes de Bolão de Santa Maria, fui presidente de uma Associação para construir um teatro em Santa Maria. Uma porção de coisas. E fui presidente de uma Sociedade de Medicina em Santa Maria por duas vezes. A primeira vez que eu presidi a Sociedade de Medicina, ela tinha de patrimônio um bureau, uma máquina Remington daquelas velhas de teclado, livros velhos e três cadeiras. Eu fiz uma campanha pra comprar a sede da Sociedade de Medicina de Santa Maria. Arrumei dinheiro, empréstimo e transformei a Sociedade de Medicina de Santa Maria, que era teórica, e tinha uns trinta anos de idade, num negócio palpável. Fui presidente mais uma vez dessa Sociedade de Medicina de Santa Maria. Então, eu tinha um certo grau de liderança na classe médica local, por ter sido professor de quase todos os médicos de lá e por ter um passado de serviço. Teve uma ocasião que em Santa Maria houve uma ameaça, no ano de 71, uma ameaça de se criar uma medicina de grupo em Santa Maria. Eu recebi uma comissão da Sociedade de Medicina de Santa Maria, na época não era mais presidente, recebi a comissão lá em casa e me convidaram pra fundar a Unimed. Nesse ano eu era governador do Lions. Disse: “Pessoal, estou viajando muito. Não dá”. “Então, vamos esperar terminar o mandato”. Terminado o mandato, uma outra comissão foi lá e me convidou pra fundarmos a Unimed de Santa Maria. Essa outra comissão da qual eu fiz parte - e acredito que fui uma das pessoas que mais trabalhou – tomou todas as providências para fundar a Unimed de Santa Maria. Então, a Sociedade de Medicina de Santa Maria convocou, junto com outra sociedade vizinha, convocou a Sociedade Médica local e nós criamos a Unimed e eu fui eleito presidente. A Unimed não existia e passou a existir porque...
P2 – Em que ano foi isso?
R – 1972.
P1 – Como foi o processo de crescimento da Unimed em Santa Maria?
R – Bom, a Unimed de Santa Maria nasceu, foi a maior assembléia da classe médica até então realizada na cidade. O pessoal estava muito interessado em ter uma solução para a preservação da condição de profissão liberal. E a chamada motivou. Foram 70 médicos na assembléia. E esses médicos subscreveram uma cota que na época era de 2000 cruzeiros, cada um. Comecei a Unimed de Santa Maria com um capital de 140 mil. Contratei uma empresa de planejamento, a mesma que planejou a Unimed de Santos. Essa empresa fez o planejamento e me custou 50 mil. Quando eu estava no processo de formação da Unimed, aliás no dia da fundação, quando saio da assembléia, encontro um empresário amigo meu e ele: “O que está fazendo por aí?” “Olha, eu estou fundando um negócio chamado Unimed que vai funcionar assim...”. Foi o primeiro cliente. A empresa dele contratou a Unimed para 40 pessoas, antes de eu ter o funcionamento. [risos] E nesse meio tempo, existia no Rio Grande do Sul Unimed em Porto Alegre, Unimed em Ijuí, Unimed em Lajeado, Unimed em Erechim e Santa Rosa, Santo Ângelo, Passo Fundo. Tinham umas seis Unimeds só no Rio Grande do Sul. Ninguém conhecia bem aquela história. Aí, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul resolveu fazer um plano de saúde para os funcionários do Estado: o Instituto de Previdência do Estado. O doutor que dirigia esse Instituto, ele pensou como ia levar aquilo para o interior do Rio Grande do Sul, já que o Estado só tinha um hospital em Porto Alegre, que atendia os funcionários que residiam em Porto Alegre. Ele teve a ideia de contratar as Unimeds. E contratou a Unimed de Lajeado, a de Santa Maria, de Ijuí, de Santa Rosa, de Santo Ângelo e de Passo Fundo. E a Unimed de Santa Maria que tinha 40 usuários, no dia seguinte tinha 32 mil! Porque a minha área de abrangência abrangia 32 municípios e entre funcionários e dependentes, inclusive o pessoal da brigada militar também fazia parte disso aí, então no dia seguinte estava com 32 mil usuários. O negócio foi tão impactante que eu nem botei no jornal que tinha feito contrato, porque os doutores não tinham instruções de como atender aquela gente. Tinha que ser aos pouquinhos, o pessoal tinha que ir descobrindo aos poucos. Inclusive, nem carteira de identidade ainda tinha. Mas isso foi um negócio que... Nessas alturas eu tinha comprado a sede em dinheiro. E cheguei um dia na Associação Comercial de Santa Maria, pedi um almoço lá, e fiz o seguinte discurso: “Acabei de fundar um negócio que se chama Unimed, que é uma cooperativa de trabalhos médicos. Muita gente pensa que eu estou fazendo uma cooperativa de consumo, que é normal. Muita gente chega perguntando onde vou botar o armazém. Mas quero dizer que a cooperativa é assim, assim... Fiz um contrato com o IPE [Sistema de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul/Instituto de Previdência do Estado], meu capital é de 140 mil. Encerrando o primeiro mês de atendimento eu acabei de faturar 140 mil. Porque o pessoal não sabe disso. E eu quero dizer para vocês o seguinte: esse dinheiro que saía de Santa Maria e ia pra Porto Alegre, está ficando aqui, porque o Estado está injetando de volta em Santa Maria. Esse pessoal que saía de Livramento, de São Borja, do resto do Estado do Rio Grande do Sul – Santa Maria é um pólo médico - vão chegar aqui, se hospedar num hotel, vão comprar sapato. Eu quero saber que apoio a Associação Comercial vai dar para a empresa que está fazendo isso?”.
P1 – Quantos cooperados tinha a Unimed de Santa Maria?
R – Na fundação, tinha 70. Na época as cooperativas tinham diretorias tipo essa coisa de clube, então na época eu e o secretário começamos a percorrer os municípios vizinhos e dizíamos pros médicos: “Olha, aqui tem 600 usuários do IPE que precisam ser atendidos pela Unimed. Vocês topam entrar na Unimed? Tem que comprar uma cota de capital. Mas vocês pagam a cota de capital com a produção. Vocês topam?” Então, botei todo mundo. Em Santa Maria, dali a pouco tinha 400 médicos cooperados, dali a pouco 600, hoje tem quase 1000. Chegou um momento em que tinha 99% dos médicos na Unimed. Porque eu tinha o que oferecer para eles. No auge do atendimento ao IPE, eu tinha 550 hospitalizações por mês. Não sei quantas mil consultas, não me lembro mais. Era um número espantoso.
P1 - O senhor ficou como presidente da Unimed de Santa Maria até quando?
R – Isso foi em 1972, nesse meio tempo, a Federação do Rio Grande do Sul, o primeiro presidente da Federação era o Doutor (Reinamar Ciário?) que eu não tive o prazer de trabalhar com ele, porque ele, antes da fundação da Unimed, quer dizer, antes não, ele esteve na fundação da Unimed, mas logo depois adoeceu e morreu. O vice-presidente assumiu, chama-se Guinter________, da cidade de Lajeado. Eu cheguei pro Guinter e falei: “A situação é a seguinte: primeiro, grande parte dos médicos do Rio Grande do Sul foram meus alunos, me conhecem; segundo, eu estou acostumado a andar por aí viajando, porque fui governador do Lions e tenho experiência nisso; terceiro, como fui governador do Lions, tenho uma experiência muito grande de transmitir mensagens do tipo coisas meio dogmáticas. E depois tenho jeito de professor. Então, quem sabe eu saio pelo Rio Grande do Sul para vender a ideia da Unimed. E vamos fazer a seguinte proposta pro Doutor: Ao invés de gastar 50 mil pelo planejamento como eu gastei, a federação se encarrega de fazer todo planejamento das cooperativas”. Peguei o carro e saí rodando pelo Rio Grande do Sul afora. Cheguei em Livramento, por exemplo, e falei pra eles: “Olha, essa Unimed está na área de atuação da Unimed de Santa Maria, se vocês quiserem a gente monta uma Unimed aqui. A gente dá todo apoio nos custos de montagem, porque a gente tem experiência agora. Vocês vão ter que passar pelo processo de formação, até chegar no número de equilíbrio. Partir de usuário zero e chegar naquele número. O que vocês querem? Fazer uma Unimed aqui ou ficar na de Santa Maria?” “Queremos ficar na de Santa Maria”. Então, fiz uma coordenadoria com a Unimed de Santa Maria em Livramento. Tinham os médicos de lá que dirigiam, mas tudo estava ligado à cooperativa. De fato foi a primeira coordenadoria que apareceu na Unimed. Anos mais tarde, aquela coordenadoria chegou e disse: “Agora eu quero ser independente”. Independente seja! E a Unimed de Livramento nasceu com 10 mil usuários. Toda aquela fase de uma empresa nova, que passa pelas crises, não houve. E assim eu fiz pelo interior todo. Cheguei em Bagé e a turma de lá disse: “Nós queremos a Unimed nossa”. Fizemos. Tive em São Borja, em Cruz Alta, em Novo Hamburgo, em Guaíba, em Bagé, em Livramento e em São Miguel do Oeste. Em todos esses lugares eu fundei Unimed.
P2 – Em geral era boa a receptividade?
R – Ah, sim, sempre foi boa. Teve alguns lugares onde houve uma indecisão e uma resistência. Mas anos depois a turma depois resolveu assumir. Por exemplo, em Vacaria. Meu discurso lá não deu resultado como em Bagé ou em Cruz Alta, que naquele dia mesmo a gente tomou providências pra fundar a cooperativa. Teve outros lugares que não saíram porque é difícil às vezes o sujeito diferenciar negócios de política. Por exemplo, tinham duas cidades no Rio Grande do Sul que disputavam a liderança médica local. Então, a disputa era tal que eles fizeram a Associação Médica e num ano a sede era numa cidade e no outro, na outra cidade. Aí eles me convidaram para ir lá, pra falar, fundar uma Unimed. Eu fiz aquele enorme discurso e tal, quando estava todo mundo entusiasmado, falei: “Vamos fundar a Unimed aqui. Onde vai ser a sede?”. Aí quebrou o pau. [risos]
P1 – Retomando a questão da receptividade.
R – A receptividade foi boa, em alguns locais, por políticas locais, houve alguma demora em aceitar a mensagem. Mas, mesmo esses locais depois se incorporaram às cooperativas existentes, ou então se criou mais tarde uma cooperativa lá. Uma coisa que eu acho importante nessa história toda é o seguinte: a ideia de uma cooperativa de trabalho era uma ideia inédita. Inédita, não, porque já existiam algumas. Mas pouco conhecida. Por exemplo, existia a cooperativa de trabalho de ascensoristas em Santos, como eu conto naquele livro que eu escrevi. Então, era muito difícil passar pro médico que ele era o dono da cooperativa, que não era um credenciado. Eu achei que a gente devia ensinar para os médicos a filosofia cooperativista. Um dia, eu estive numa reunião de cooperativas em Santa Maria, aliás Santa Maria é uma cidade extraordinariamente cooperativa, porque tem cooperativa de tudo que é jeito, de trabalho, de crédito, de folclore, de arroz, de soja, de consumo, de táxi; chegou, em Santa Maria, a ter uma cooperativa de ferroviários que foi a maior da América do Sul. Chegou uma época em Santa Maria em que um em cada três habitantes era cooperado de alguma cooperativa. Mas eu estava numa reunião de cooperativa, e estava se discutindo essa história de ensino de cooperativismo. Eu fui para casa pensando que tinha que escrever alguma coisa sobre essa história de cooperativa. Me sentei e comecei a escrever o que eu pensei que seria um livro sobre doutrina cooperativista. Era um esboço muito repetitivo. Era o que tinha por aí. Não estava escrevendo nada de novo, nem de diferente. De repente me deu um estalo e pensei: “Em vez de estar escrevendo um negócio que é óbvio, uma teoria chata de ler, por que não escrevo uma história?” Então, resolvi escrever uma história de algumas pessoas que um dia vão caminhando, se encontram e um pergunta para o outro: “Aonde tu vais?” “Vou na feira comprar laranja”. “Eu também vou”. “Eu também”. “Então, quem sabe um vai e compra para todos”. Esses caras, todos os dias se encontram para comprar laranjas e vão discutindo e acabam descobrindo os princípios do cooperativismo. Uma história fácil de ler. E peguei os personagens daquele tempo de estudante: o cara que queria reformar o mundo, o que não acreditava em nada, o que levava tudo na gozação. Essas pessoas, eu transformei em personagens. Um personagem, por exemplo, que nunca abriu a boca. Só no final do livro. Enquanto eu estava escrevendo, o personagem chegava pra mim e dizia: “E eu, não vou falar?” Porque os personagens tomam conta do autor. Não tem coisa mais excitante, sei lá, é uma experiência muito grande o cara escrever uma história. Esse livro, eu batizei com o nome de As laranjas e o Arco Íris. Eu fiz cinco edições no Brasil, 40 mil exemplares. E uma edição em Portugal. O livro foi transformado em peça teatral e foi publicado em quadrinhos. Esse foi o primeiro livro que saiu pelo cooperativismo de médicos para ensinar os princípios. Aí resolvi fazer um outro livro onde eu ensinava como é que o cara tinha que se comportar na Unimed. Esse livro se chamou O Sistema Médico Unimed. Dele, que tinha umas 30 páginas, eu fiz um outro mais ampliado que passou a se chamar Fale com o Dono. Esses livros ajudaram a sedimentar o cooperativismo no Brasil.
P1 – E a sua participação como presidente da Federação do Rio Grande do Sul? Como foi esse período?
R – Olha, a Federação do Rio Grande do Sul, quando eu fui presidente, tinha por missão expandir o cooperativismo no estado. O nosso objetivo, que nós alcançamos, foi não ter nenhum município sem médicos cooperados. O Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado que conseguiu isso. Então, minha missão como presidente, a missão da Federação, era a missão de vender uma ideia. Foi aí que a gente conseguiu consolidar o sistema. Mas aconteceram algumas coisas importantes na minha gestão. Por exemplo, antes de eu ser presidente da Federação, um grupo de dirigentes formados pelo Arnaldo Mauro, por mim, pelo Bruno Vaz, que era o presidente da Unimed de Ijuí, e pelo Wilson Davis, que era presidente da Unimed do Vale do Taquari, do Rio Pardo, que é a Unimed de Lajeado, nós inventamos de fazer um plano familiar. A assistência médica familiar que era uma coisa ousada para a época. A gente fez aquele plano e fizemos uma estratégia que era a seguinte: as Unimeds tinham medo de vender aquele plano, por que, se uma adoece, como pagar assistência médica? Então, nós fizemos na Federação um fundo em que, durante o período de carência, as Unimeds colocavam dinheiro lá, de modo que aquele fundo sustentava eventual demanda numa cooperativa pequena. Hoje, eu tenho nome para isso, porque acabei virando presidente de uma companhia de seguro: pela primeira vez a gente trabalhou com reserva técnica. E esse fundo ficava contabilizado em nome da Unimed, de modo que se ela quisesse desistir daquilo lá podia pegar o dinheiro. Nesse momento começou a se desenvolver um negócio chamado intercâmbio, quer dizer, o usuário da Unimed de Santa Maria vai a Porto Alegre e é atendido lá. A Unimed de Porto Alegre manda a fatura. De repente, um outro de Porto Alegre é atendido em Santa Maria, e manda a fatura para Porto Alegre. Então, era fatura pra lá, pra cá, vai e volta.
P2 – Isso em que ano?
R – 1973, 1974. Um dia chamei o povo da Federação e disse: “Escuta, vamos parar com esse negócio de eu te faturo, você me fatura. Vamos pegar e fazer que nem banco. Manda tudo aqui para Federação e vamos fazer uma câmera de compensação. Quem tiver crédito, recebe. Quem tiver débito, paga. E se o devedor estiver mal da vida, nós usamos o dinheiro do fundo pra injetar”. Criamos a primeira câmara de compensação do Brasil. Um sucesso!
P1 – E dentro desse processo teve a criação da Confederação, em 1975. Como foi esse processo?
R – Interessante. Hoje estava conversando com uns colegas da Unimed Seguradora, sobre a história do Rio Grande do Sul. Você sabe que Buenos Aires foi fundada duas vezes e a Unimed do Brasil foi fundada duas vezes. Compreendeu? Esse detalhe, nenhum, a não ser o Mauro, nenhum dos outros sabe. Porque a primeira fundação da Unimed, da Confederação, ocorreu no Rio de Janeiro, quando havia uma disputa política entre o Castilho e o presidente da AMB, a Associação Médica Brasileira. Ele, o presidente da Associação Médica queria dirigir o sistema Unimed. Então, pretendia fundar uma Federação. Para evitar isso, o Castilho acelerou o processo e fundou a Federação, mas não fez os devidos registros.
P1 – Isso antes de 1975?
R – Antes de 1975. Em 1973, eu acho. Tenho a data lá no meu livro. Aí, quando de repente a gente quis de fato estruturar a Confederação, não tinha ata, registro, coisa nenhuma da fundação anterior. Então tivemos que fazer uma segunda fundação. Essa devidamente registrada. Essa Confederação foi fundada pela Unimed, pela Federação de São Paulo, pela Federação do Rio de Janeiro, pela Federação do Rio Grande do Sul. Nessa época eu era o presidente da Federação do Rio Grande do Sul.
P1 – Então, essa fundação de 1975 nada mais é do que uma formalização da fundação de 1973?
R – Não seria uma formalização, mas a fundação de fato, porque essa é que teve registro. Eu me considero fundador da Unimed do Brasil. Porque na época em que fizeram essa fundação assim, o presidente não era eu, era o Marcário, o que morreu.
P1 – E quem era o presidente da AMB na época?
R – Pedro Kassab.
P1 – E como resolveu a disputa?
R – Assim que surgiu a notícia de que tinha sido criada a Confederação, que ele soube, pronto. Morreu a ideia e a competição. Porque a AMB também teve seu papel no desenvolvimento do cooperativismo. Ela fundou várias cooperativas. Na verdade, a palavra Unimed foi criada pelo Castilho. E outras cooperativas, que não foram criadas pelo Castilho, tinham outros nomes. Em Minas Gerais, por exemplo, se chamava MedMinas; no Rio de Janeiro se chamava Comeg, por causa da Guanabara; em Santa Catarina, MedSan; no Paraná, MedPar. Essas que não tinham, que foram fundadas ou através de uma ligação com a AMB ou nasceram de forma espontânea no local – no Rio Grande do Sul, por exemplo, a cooperativa de Lajeado chamava-se, esqueci o nome – mas depois a gente teve uma luta pra mudarem o nome, ter um nome único, e não foi fácil isso aí. Teve uma resistência. Inclusive eu, no Rio Grande do Sul, resisti um pouco. Embora a Federação de Santa Maria se chamasse Unimed, a federação do Rio Grande do Sul se chamava Fecomed. Porque todas as federações do Rio Grande do Sul têm, a sigla Feco: Fecotrigo, FecoMilho, FecoVinho e por aí. Quando a turma chegou falando que tinha que mudar o nome, eu disse: “Negativo!”. Mas depois acabei descobrindo, ou melhor, entendendo que devia ter uma imagem única. Eu acho que ainda existe, por exemplo, uma certa cicatriz, porque tenho a impressão que a Federação de Santa Catarina chama-se Federação de Santa Catarina Fecomed. Chama-se Unimed mas tem na ponta do nome a palavra Feco.
P1- Doutor, a Confederação começou a se expandir. Como foi essa questão da integração da Confederação e das singulares, aí incluindo essa questão da câmara de compensação e o intercâmbio? Houve resistência das singulares em se integrar ao sistema?
R – Olha, uma coisa interessante nessa história é o seguinte: nós estávamos criando uma proposta nova de cooperativa, porque não tinha tecnologia – se você fundasse uma cooperativa de consumo, você tinha uma porção de pessoas que sabiam como funcionava, mas uma cooperativa médica, ninguém sabia como que era. Então, como que nós nos desenvolvemos? Começamos a reunir, uma cooperativa com a outra para trocar experiência. Então, logo no início do sistema as cooperativas começaram a ter reuniões informais, que passaram a ser chamadas de convenção. Só que não tinham a estrutura de uma convenção, com todo aquele regimento interno, plenária, resultados e não sei o quê. A primeira convenção que se estruturou realmente como convenção foi a de Gramado, no Rio Grande do Sul, quando eu era presidente, porque eu tinha a tecnologia da convenção do Lions. Fiz igual. Mas dessas reuniões é que nasceu a união. Pra trocar experiência e trocar uns com os outros. Existia nas nossas reuniões uma sessãozinha chamada “Como eu faço”, onde a Unimed “X” de não sei onde falava o que fez, como tinha inventado. Então a Confederação, ela foi um produto dessa união. Não foi a Confederação que produziu a união, foi o contrário. Aliás, o sistema Unimed, também é interessante, tem uma história centrípeta, começou do interior pro centro. E não do centro pro interior. Por exemplo, aqui em São Paulo, a primeira Unimed está em Santos; no Paraná, a primeira está em Londrina; no Rio Grande do Sul, em Erechim; no Rio de Janeiro, a primeira Unimed está em Niterói. Entendeu? Essas coisinhas, eu abordo no livro. Esses fatos, essas observações que passam desapercebidas. Então, a Unimed do Brasil é resultado da união. E mais o seguinte: é o resultado de um número pequeno de cooperativas e que podiam se reunir. De repente chegou, quando nós tínhamos 40 ou 50 cooperativas, os dirigentes, o Castilho, por exemplo, podia visitar essas cooperativas. De repente, temos 300 cooperativas, não tem mais como. Entendeu? Aí distancia. A integração reside nesse fato e num outro fato. De repente, a Unimed lá de Manaus tem que atender a um usuário de Santa Maria. Criou-se um negócio chamado intercâmbio. Tem que juntar pra ver como esse troço vai funcionar. E aí a câmara de compensação do Rio Grande do Sul. Chego lá na Convenção e digo: “Olha, fiz um negócio assim...” Conto minha história, como eu faço. Os outros: “Boa ideia, vamos fazer igual.” É assim que surgiu essa coisa.
P1 – E o plano de extensão assistencial também foi implantado no Rio Grande do Sul também?
R – O Plano de Extensão Assistencial foi criado pela Federação do Estado de São Paulo. Também caminha na mesma história. A Federação do Estado de São Paulo, quando se reuniu, disse: “Como nós vamos sustentar a Federação?” Aí chamou as companhias de seguros e perguntou como podia atender a família dos usuários que morrem. As companhias fizeram uma proposta para a Federação de São Paulo. A Federação de São Paulo pensou: “Em vez de estar pagando para esses caras, vamos fazer nós esse negócio. Correr o risco”. E ao invés de contratar um seguro, resolveram fazer um plano de extensão assistencial. E quando se estruturou a Unimed Brasil - porque a Unimed de São Paulo, a Federação de São Paulo a precedeu, obviamente, porque é um dos fundadores da Unimed Brasil – passaram para a Unimed do Brasil isso. E esse plano tinha que vender a ideia, tinha que convencer as cooperativas a embutir nos planos de saúde esse custo. Não foi fácil. Nem todas as cooperativas aderiram, no início. Algumas se entusiasmaram, como a cooperativa de Joinville que botou todos os usuários de uma paulada só. Uma coisa que o doutor Ivo Januário, que era o presidente da Unimed de lá, achou importante e fez. De modo que aquilo foi um convencimento gradual. Lá no Rio Grande do Sul, teve muita resistência. Porque a turma dizia que se é um seguro nós não podemos fazer, a resistência... Eu também entendia que era um seguro e achei que tinha que fazer uma reserva técnica disso aí. Mas não saiu a reserva. Lá pelas tantas, eu acabei colocando pros usuários de Santa Maria isso aí. Foi a primeira cooperativa lá do Rio Grande. Foi uma ideia que teve que ser vendida.
P1 – A Confederação cresceu e foram criadas algumas empresas: a Unimed Corretora, a Unimed Seguros. Explica um pouco esse crescimento e sua ida pra Unimed Seguros.
R – Bom, a ideia de ter uma corretora de seguros nasceu pelo fato de que quando se tem um seguro coletivo, a empresa que contrata tem um pró-labore pra isso, que é a remuneração do estipulante. Teoricamente, a empresa tem uma remuneração para que arrecade o dinheiro desses segurados para repassar para a seguradora. E o seguro é vendido por uma corretora que também tem o seu pró-labore nessa história toda. Então, a Unimed Brasil muitos anos antes pensou em ter uma companhia de seguros, mas naquela época era impossível. O sistema não estava estruturado devidamente, não tinha tamanho suficiente e a legislação não permitia montar uma seguradora no Brasil. Você só podia ter uma seguradora se comprasse a carta patente de outra. Era meio fechado o seguro. Como a Unimed Brasil não podia ter uma seguradora, pensou em ter uma corretora de seguros pra ficar com as comissões do corretor. Nesse meio tempo a Unimed do Brasil também quis criar uma holding para ser dona de eventuais empresas e com outros objetivos. Criou um negócio chamado SNU, Sistema Nacional Unimed, que não deu certo. E o Sistema Nacional Unimed era o dono da corretora. No ano de 1988, fim do ano de 1988, o Castilho quis trazer aqui pra Unimed do Brasil mais dois diretores: um do Norte-Nordeste e outro do Sul. Esse do Sul, eu fui convidado pra vir pra cá e minha missão era criar um sistema de previdência para os médicos. Ao mesmo tempo, como não tinha muito o que fazer, recebi também a missão de editar a revista Unimed. Já viu uma coleção dela? Eu mandei fazer três exemplares da coleção. Editei essa revista por vários anos e depois passei para o doutor Reinaldo Monteiro, que era o diretor de marketing da Unimed. A Revista Unimed é um negócio interessante, nós chegamos a publicar 40 mil exemplares para distribuição gratuita entre os médicos. Espero que tenham guardado a coleção. Depois que nós saímos daqui, a diretoria seguinte resolveu parar com a revista. Eu lamento muito, porque aquela revista foi fonte de consulta para aquele meu trabalho também. Mas eu fui editor da revista e nessa questão de previdência, eu chamei uma empresa de consultoria e pedi uns conselhos, não contratei. Chamei para uma conversa para perguntar como se fazia aquilo. Os caras me disseram: “Olha, tem três caminhos: primeiro é criar um sistema de previdência próprio. Só que previdência privada no Brasil é um sistema em que os empregados têm vínculos empregatícios como instituidor, e a Unimed não tem vínculos empregatícios, os médicos não têm; o segundo caminho é contratar um montepio para fazer a previdência dos doutores; o terceiro caminho é criar um sistema de previdência da própria Unimed, partir do zero, criar um sistema de previdência próprio.” Nós chegamos à conclusão que o primeiro era impossível, o segundo não era vantajoso, porque significava entregar cadastros e receitas para terceiros, e o terceiro era o caminho que a gente ia procurar. Nessa época, muitos montepios no Brasil passavam por dificuldades, porque não conseguiam dinheiro para atender as exigências da Susep [Superintendência de Seguros Privados] para sobreviver. Um desses montepios era o Montepio Cooperativista do Brasil. Um dos diretores desses montepios procuraram o Castilho e disse pra ele - o Doutor Piza, que era o presidente do Montepio, e um dos seus diretores, chamado Clóvis Porjete, pessoas com espírito cooperativista importante, o Piza foi líder cooperativista aqui no estado de São Paulo - disseram pro Castilho: “Olha, nós estamos dirigindo o Montepio Cooperativista do Brasil, que foi criado pelo sistema cooperativo, e não tem mais fonte sólida de sobreviver. Nós já oferecemos para a OCB [Organização das Cooperativas Brasileiras], mas eles não têm condições de assumir. Nós estamos oferecendo pra vocês. Nós entregamos pra isso sem custo, vocês têm só que assumir o passivo”. Discutimos esse assunto na Unimed do Brasil e chegamos à conclusão que o caminho era esse. Eu fui encarregado de estudar o passivo do Montepio e monitorar dele. Eu fiz isso com o auxílio da doutora Henriqueta, que me ajudou bastante. Depois de seis meses de acompanhamento, nós chegamos à conclusão que podíamos assumir o Montepio. E começamos a injetar dinheiro no Montepio para pagar funcionários, salários atrasados, pagar tudo que o Montepio devia. Diga-se de passagem, para notar o espírito do doutor Piza, eu recebi a proposta de um outro montepio que chegou e disse: “Olha, nós entregamos o montepio pra vocês por 50 mil dólares”. Não eram os donos do montepio, porque não tinha dono, mas queriam uma comissão por fora. Pra ver como é que nós... O Montepio Cooperativista do Brasil foi transferido sem que seus diretores tivessem qualquer tipo de benefícios. Eles simplesmente se demitiram e elegeram uma diretoria formada por membros da Unimed. Essa diretoria era formada pelo Doutor Plácido Miranda, eleito presidente, por mim, diretor técnico administrativo e pelo doutor Clóvis Porjete, que foi o único da antiga diretoria que permaneceu porque precisava ter uma ligação com o processo anterior. Nós nos reunimos e mudamos o nome, transformou-se em Unimed Previdência Privada, que ainda era sem fins lucrativos. Mas a Susep não admite seguradora sem fins lucrativos. Nós precisamos transformar essa previdência privada em sociedade anônima. Todo o dinheiro que nós tínhamos adiantado ao Montepio para pagar seus funcionários entrou como capital para essa empresa. E algumas Unimeds – eu saí pelo Brasil para vender a ideia– eu tive uma receptividade boa, em outras quase apanhei, porque estava querendo fazer um troço que a turma achava que era loucura, besteira. Algumas Unimeds mais entusiasmadas entraram com dinheiro, colocaram a sua sede no capital. Depois nós vendemos de volta. A Federação de Minas Gerais e a Unimed de Joinville botaram a sede aqui e depois recompraram. Aí nós fizemos uma assembléia geral para converter aquela sociedade sem fins lucrativos numa entidade, numa sociedade anônima. Mas para isso eu precisei fazer uma convocação dos antigos participantes do Montepio. Tinha uns 2000 só. Com a maior parte deles, eu negociei a saída dessa gente. Porque o montepio chegou num ponto em que os direitos que essas pessoas tinham eram tão pequenos, e as mensalidades eram tão pequenas, que não existia expressão monetária para cobrar. Era zero, zero zero zero cruzeiros. Eu chamei e negociei a saída da maior parte deles. Dizia: “Toma, recebe ‘X’. Nós estamos... Ou você vai ficar com esse plano maluco ou leva a reserva”. A maior parte aceitou levar a reserva. Mas mesmo assim nós fizemos a convocação para essa assembleia dos remanescentes, mas não apareceu ninguém.
P1 – Isso foi no ano de...?
R – 1989, acho que foi 1990. Nessas alturas, a SNU não tinha dinheiro e nós tivemos que criar a Unimed Participações para ser a acionista majoritária. Porque para ter uma companhia de seguros a Susep quer saber quem é o acionista majoritário, tem que ter o acionista conhecido. Aí, quando nós transformamos o Montepio em Unimed Previdência Privada, nós criamos um pecúlio que é uma forma de seguro feito pela previdência – o seguro de vida é do sistema de seguro e o pecúlio é a mesma coisa só que executado por uma entidade de previdência. Fizemos a mesma coisa que tinha feito em Pompéia: começamos a propor para as Unimeds que embutissem nos planos de saúde um plano de previdência para os usuários. Algumas Unimeds entraram logo. A Unimed São Paulo botou todos os usuários, a do Rio de Janeiro também. A consequência, por exemplo, um dia uma senhora foi na Unimed do Rio e disse: “Olha, o meu padrinho tem feito um plano de saúde aqui, faz dois ou três meses, e ele morreu. E eu queria meu dinheiro de volta”. Não existe isso de devolver dinheiro. A turma explicou que não existe isso de devolver dinheiro, “Só que tem um negócio aqui chamado pecúlio, e a senhora tem o direito de receber”. O pecúlio era cinco vezes o valor. A mulher saiu de lá maravilhada, foi até um jornal do Rio, escreveu uma carta, contando sua história. “Estou encantada com a Unimed do Rio. Fui até lá pensando que iam me dar trabalho para receber alguma coisa que eu pensei que tinha direito. Mas cheguei lá e recebi muito mais que eu esperava”. Botou isso no jornal. E a Unimed de São Paulo fez outra coisa interessante, que eu também acho que precisa ficar registrado, está registrado no livro lá. A Unimed de São Paulo mandou uma carta para as empresas dizendo mais ou menos o seguinte: “Senhor empresário, cada vez que lhe mandamos uma carta, estamos pedindo aumento. Dessa vez, não estamos pedindo aumento, estamos incluindo benefício sem custo”. Repercutiu muito bem. Foi assim que a Unimed Seguradora começou. Pra te dar uma ideia e para as pessoas que vão me ouvir no futuro: quando eu peguei o Montepio Seguros, a receita dele era menor do que o aluguel da sede que ele tinha aqui, naquela rua perpendicular à Praça da República. Para sobreviver, além do auxílio da mulher, acabei vendendo condicionador de ar, divisórias, cadeiras, vendi o diabo para sair do buraco. E com esse plano de pecúlio nós conseguimos dar receita na Unimed Seguradora. Logo em seguida, a gente transformou em Companhia de Seguro. Pra operar Companhia de Seguro no Brasil, precisa dinheiro proporcional à área em que ela vai atuar e ao tipo de seguro que vai fazer. Nós íamos fazer só seguro de vida e previdência, e com o dinheiro que conseguimos arrecadar não poderíamos atuar no Brasil inteiro. Nossa área de atuação era São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, porque o capital não era suficiente. O diabo é que começamos a vender seguro lá em Livramento, Rio Grande do Sul [risos]. Uma pressão pra levantar, imagine? Depois a gente conseguiu capitalizar para operar no Brasil inteiro. E depois conseguimos dinheiro pra operar também em seguro de ramos elementares, de bens. Hoje a seguradora é um troço completamente diferente. Aquela coisa que quando eu comecei, os diretores da Unimed Brasil começaram, e que parecia uma ideia maluca, hoje é uma realidade. Mas custou trabalho. Saí por esse Brasil a vender essa ideia por muito tempo. Eu dizia ao pessoal: “Olha, a nossa situação é mais ou menos a de um saci jogando futebol, temos que chutar e cabecear com uma perna só”.
P1 – O senhor continuou nesse cargo até que ano?
R – Continuei como presidente da Unimed Seguradora sei lá por quantos anos. Mas aí houve uma mudança na política da Unimed Brasil, trocaram os diretores. E nessa troca, houve uma proposta de troca na diretoria da Unimed Seguradora. E eu me considerava, não ofereci nenhuma resistência. Quando a pessoa chegou lá e disse: “Olha, nós queremos o cargo”. Eu disse: “Bom, então você fica aqui que eu vou...” Porque numa companhia de seguros o cara não assume de um dia para o outro. Só assume depois que o governo reconhece que tem condições para isso. Tem que fazer um processo de habilitação. “Bom, enquanto não sai o processo, vem aqui e fica comigo para aprender”. Porque eu achei que a Unimed Seguradora era um instrumento da Unimed Brasil e que a direção dela tinha que ter a confiança da Unimed Brasil. Eu não fazia parte do grupo, então...
P1 – Esse fato é o mesmo que a divisão aqui da Unimed Brasil? Do processo de ruptura?
R – O processo de ruptura é completamente diferente. O processo de ruptura foi uma questão política. Um grupo queria a direção da Unimed Brasil, liderados pela Federação São Paulo e Federação Norte e Nordeste. E o outro grupo queria que o Castilho continuasse. E a eleição foi uma eleição tumultuada. Foi uma eleição cheia de mandados de segurança para qualificar e desqualificar delegados na assembleia. Foi uma coisa chocante. O grupo do Castilho venceu e o outro grupo resolveu sair fora e fundar uma Federação nova. Nessa altura dos acontecimentos a Unimed Seguradora não tem nada que ver com isso. A Unimed Seguradora é uma empresa de capital, com acionista, e inclusive um dos acionistas é a Unimed Brasil, mas não tem nada que ver.
P1 – O senhor continuava como...
R – Eu, durante o processo de divisão, continuei aqui. A sucessão do Castilho não se deu na divisão, veio depois. A própria Unimed Brasil, a Federação Unimed Brasil, ainda insistia nisso. Ocorreu uma eleição em que o Castilho foi sucedido pelo doutor Celso sem nenhum tipo de encrenca política nenhuma. Mas como o grupo que veio com o Celso era diferente do grupo do Castilho, achei que devia ir embora mesmo. Primeiro porque já tinha cumprido minha missão. Já tinha ficado aqui, 12 anos em São Paulo, fazendo ponte aérea pra lá e pra cá. Uma saudade danada.
P1 – Quais foram os principais desafios que o senhor enfrentou na Unimed, que o senhor considera marcantes?
R – O principal desafio mesmo foi a luta para convencer o sistema que precisava ter um grupo de empresas auxiliares. Não foi fácil! A mentalidade do presidente de uma cooperativa é diferente da mentalidade de um empresário da área econômica. O presidente de uma cooperativa é uma pessoa que tem um viés político e ele inclusive não tem uma rubrica especial para o investimento na cooperativa. Então, dizer pro cara: “Olha, tira aí do teu giro ‘X’% e investe em ações de uma companhia de seguro” é difícil. O camarada pensa que gastou e não que investiu.
P1 – O que o senhor considera como sua principal realização na Unimed?
R – A Unimed Seguradora é uma realização importante. Mas eu acho que a que mais me toca e me orgulha é ter contribuído de forma muito marcante, ou que eu reputo marcante, para criar esse sistema. Teve coisas assim, por exemplo: um dia chegou aqui um paraguaio e disse: “Escuta, nós ouvimos falar desse negócio. Como a gente faz uma Unimed no Paraguai?”, uma repercussão lá fora; ou de repente vem um cara da Colômbia e chega pro doutor ______: “Eu sou presidente da Federação de médicos da Colômbia e lá mudaram a constituição e a assistência médica vai ser toda privatizada. Eu queria uma solução igual a de vocês. Quem sabe se a Unimed vai pra lá?”. Eu e o Castilho fomos pra Colômbia umas quatro vezes. Na primeira vez fomos patrocinados por um laboratório da Colômbia. Fizemos conferência em Santa Fé de Bogotá - eles não chamam de Bogotá, tem que ser Santa Fé de Bogotá – Cali, Medellín, Cúcuta, Cartagena das Índias, mais uma outra cidade lá. Em Santa Fé de Bogotá, 400 médicos esperavam por nós para ouvir o que tínhamos a dizer sobre a Unimed. E criamos uma cooperativa lá. Existe um trabalho da ONU sobre o cooperativismo médico mundial. O cooperativismo médico mundial era conhecido pelo cooperativismo de usuário. Cooperativismo de trabalho, dos profissionais de saúde não era conhecido quase no mundo. A ONU faz um trabalho, eu tenho a cópia desse trabalho, num trabalho de 200 páginas, dedica 20 ou mais páginas pra tratar do fenômeno Unimed. Eu reputo aqui o cooperativismo da Unimed como era o cooperativismo do século passado com dois locais em que o cooperativismo teve atuação marcante: Uma é o cooperativismo na Espanha e a outra, aqui no Brasil na Unimed. São os dois fenômenos mais importantes do fim do século em cooperativismo. E eu tive uma atuação bastante importante nisso. No criar a companhia do Rio Grande do Sul, no escrever livros ou artigos, e no sair por aí para vender a idéia. É mais do que criar a companhia de seguros.
P1 – E o que mais mudou na Unimed durante sua trajetória?
R – A mudança foi muito radical, imposta pelo exterior. Porque o sistema Unimed era absolutamente livre para criar cooperativa, para eleger gente, para fazer o plano de saúde que quisesse. De repente, vem uma tal regulamentação e amarra isso. Hoje você só pode fazer o que a Agência Nacional quer. Só pode eleger quem ela permite. Isso mudou nosso perfil. Aliás, no ano de 1993, por aí, eu escrevi um trabalho propondo que a Unimed fosse até o governo e dissesse: “Olha, nos regulamente. Nós temos um modelo de regulamentação para oferecer ao governo”. Mas a minha ideia foi recusada. O pessoal dizia que cooperativa era livre para se formar. Qualquer empresa é livre para se formar, mas para operar, tem regras. O sujeito pode fazer a loja que quiser, mas tem uma regra comercial para obedecer. Mas, não deu certo. No meu computador eu tenho esse trabalho guardado. Está num arquivo chamado “Profecia” [risos]. Acho que o que mudou realmente foi o tipo de controle, que não existia e passou a existir.
P1 – E a sua relação com os funcionários durante a sua passagem como dirigente na Unimed, como foi?
R – Eu não sei. Acho que é uma pergunta pra fazer para os funcionários. Eu sempre tratei as pessoas como pessoas. Nunca tratei como meus subalternos, o que é diferente. Eu penso que pelo menos tentei delegar. Embora eu tenha certas coisas que eu sou meio centralizador. Tem algumas coisas que eu gosto eu de fazer, mas as tarefas rotineiras, eu sempre tentei delegar.
P1 – Dos seus colegas de trabalho, alguém especial que o senhor gostaria de citar?
R – Olha, desses aqui na Unimed Seguradora, eu gostaria de citar os meus diretores, porque a Unimed Seguradora chegou aonde chegou por causa dos meus diretores: Doutor Júlio Viola, doutor Ronaldo Monteiro Costa e Doutor Marcelo Rocha. E ainda acho que merece uma citação especial o senhor Clóvis Porjete, que foi meu diretor administrativo no início da Unimed Seguradora. E pessoas que ainda trabalham na Unimed, como é o caso da Terezinha, secretária que veio do Montepio, ainda era funcionária do Montepio. E o ______, que está lá também e era funcionário do Montepio, quando nós assumimos o Montepio. Em Santa Maria, eu teria que prestar uma homenagem ao meu primeiro gerente na Unimed e ao primeiro advogado da Unimed lá. Foram as pessoas que saímos a vender o peixe. O primeiro gerente chamava-se Irani Machado. Era um ferroviário, contador. Estava aposentado e eu convidei pra ser gerente da Unimed quando estava naquela ideiade fazer uma cooperativa. E o advogado é o Darci do Couto. Um advogado que conhecia muito - morreu, infelizmente, num acidente – mas conhecia muito de cooperativismo e me ajudou muito na estrutura disso aí.
P1 – O senhor poderia contar um fato pitoresco que aconteceu ao longo desses anos?
R – O fato mais engraçado que eu poderia contar foi o seguinte, que aconteceu lá na Unimed de Santa Maria: A Unimed Santa Maria fez - quando foi fundado o exército não tinha plano de saúde, hoje ele tem. De repente, eu sou convidado a ir a uma unidade do exército lá de Santa Maria dizer como funcionava a Unimed. Contei como funcionava. Os caras: “Como a gente entra nisso?” Porque o exército não podia fazer contrato conosco. Não é legal. Eu disse: “Podia formar um grupo aqui, fica um responsável para recolher o dinheiro ou para levar o relacionamento operacional, carteira, essas coisas”. Criamos um grupo nessa primeira unidade. Um dia, estou na Unimed me aparece um sargento lá meio se descabelando: “E agora, o que eu faço? Eu fui transferido da unidade”. A unidade em que eu tinha feito contato era a unidade industrial do exército, que recupera tanques, canhões e tal. “Eu fui transferido para o paiol de munições. E agora?”. Digo: “É muito simples. Faz um grupo lá” [risos]. E aí foram se formando grupos nas unidades do exército lá em Santa Maria. Um dia, eu estou na minha sala da presidência, uma sede pequenininha, chega a secretária e diz: “Doutor, estou com um problema”. “Qual é o problema?” “O problema é que tem um capitão aí, inscrevendo um dos filhos dele. Ele, a mulher e um dos filhos. Só que os filhos são gêmeos e o cara não quer inscrever o segundo. O que eu faço?” “Pede pro capitão vir conversar comigo”. O capitão foi lá e eu disse: “Que beleza o senhor vir até aqui. Estamos muito honrados, toma um cafezinho?”. Aquela coisa toda... Depois de um tempo disse: “Olha capitão, o senhor está inscrevendo um dos meninos e por que não está inscrevendo o outro?” Dei um soco no baixo ventre [risos]. Ele: “É doutor, o senhor vê, o nosso soldo não tem reajuste...” Eu disse: “Olha capitão, se eu fosse o senhor, dava uma de pai. Ficava fora e inscrevia os dois.”
P1 – Quais os fatos mais marcantes na sua carreira de medicina?
R – Eu não sei. Você sabe que cada vez que eu consigo fazer um diagnóstico na medicina nuclear é um fato marcante pra mim. Outro dia disse lá em casa que eu acho que estou começando a merecer o diploma de médico. Estou começando a conhecer de tal jeito aquilo que eu faço que acho que agora que mereço…[risos] Não sei responder essa sua pergunta.
P1 – Durante todo esse tempo o senhor conseguia compatibilizar com o exercício da medicina?
R – Enquanto eu estive em Santa Maria conseguia fazer isso. Depois que vim pra São Paulo, eu tentei fazer. Porque o Castilho quando foi me convidar para vir pra cá, eu resisti ao convite, não queria vir. Um dia ele estava enchendo tanto minha paciência para eu vir pra cá que meu argumento final foi o seguinte: “Castilho, o dia que eu morrer em Santa Maria, eu fui isso, aquilo, meu enterro vai ser um sucesso. Agora se eu morrer em São Paulo, meu enterro vai ser um fracasso. Ninguém me conhece”. Mas acabei vindo pra cá com a condição de ficar uma semana aqui, outra lá, para trabalhar. Vim e ficava uma semana aqui e uma lá. De repente comecei a ficar duas semanas aqui, uma lá. Três semanas aqui, uma lá. Um mês aqui, dois dias lá. E perdi o relacionamento com a minha clínica. Mas eu tenho um sócio. O meu serviço de medicina nuclear em Santa Maria não parou. Eu disse pra ele: “Vou ganhar uma parte pelo capital que eu investi aí e o resto é teu”. Então, quando eu voltei pra Santa Maria, ainda tinha uma clínica lá. Só que tive que passar a mão nos livros e estudar de novo. Tive que me reciclar, porque quando eu saí de lá os equipamentos eram um, hoje são outros. Tive que estudar muito. Por um período fiquei fora da atividade médica, porque não era possível mais.
P1 – Retomando um pouco a questão dos livros que o senhor publicou e ligando com a questão da educação. Como o senhor vê a questão da educação no cooperativismo, na Unimed? Como se desenvolveu nesse período e qual sua contribuição?
R – Olha, no início, o sistema Unimed não estava muito preocupado com essa história de educação cooperativista. Quando eu fiz aquele meu livro foi uma tentativa de achar um caminho, mas evidentemente aquele caminho não era o ideal. De repente, fizeram um comitê educativo lá. Esse comitê deu origem a todos os comitês educativos. E aí as coisas ficaram mais sistemáticas, né? Isso ficou mais institucional quando se criou essa fundação, que tem entre seus objetivos, além de muitos outros, de fazer o ensino da cooperativa. Mas eu acho que isso precisava ser melhorado muito, porque a impressão que eu tenho é que não chega no cooperado, não chega na massa dos cooperados. Precisava fazer alguma coisa. Porque o pessoal continua entrando na cooperativa para atender, como se fosse um credenciado.
P1 – Quantos livros o senhor publicou?
R – Tenho que contar. Publiquei A Laranja e o Arco Íris, publiquei Sistema Médico - Unimed, depois publiquei _______ e Comodoro, depois publiquei um livro sobre cooperativismo, que se chama Cooperativismo e Economia Social – esse é de cooperativismo, não só de Unimed. Depois escrevi uns dois ou três livrinhos pra vender a ideia da Unimed Seguradora. São sete. E acabei escrevendo um oitavo agora que foi editado há uns dois anos, sobre planos de saúde e seguros saúde.
P1 – Teve um fato numa convenção da Unimed Brasil, que teve uma premiação ________. Indicaram que o trabalho do senhor deveria ter sido premiado. Fale um pouco desse trabalho.
R – O trabalho que você está falando é A Laranja e o Arco Íris. Eu não concorri nesse prêmio. Não. Foi Cooperativismo Médico e Unimed. Eu não pretendia entrar nesse prêmio, e por isso nunca recebi esse prêmio. Só que na época alguém ganhou porque se candidatou formalmente a isso. Mas na época aquele meu livro teve um impacto tão grande que me deram uma menção especial.
P1 – Qual sua visão de futuro do sistema Unimed?
R – Essa é uma pergunta difícil para uma pessoa que está fora da administração responder. O que eu posso te dizer é que há uma tendência no sistema Unimed de ter hospitais e recursos próprios. E isso tem às vezes uma resistência grande no corpo médico. Em Santa Maria, atualmente tem o hospital dia e arrendou o hospital local. Mas muito médicos resistem a isso. Não entendem essa história de investir. Eu acho que se o sistema Unimed não desenvolvesse serviços próprios, ele está condenado a passar muito trabalho. Precisa ter seu hospital e seu laboratório.
P1 – Antes de entrar na parte final da entrevista, umas perguntas sobre a família. Seu estado civil?
R – Sou casado. Normalmente casado.
P1 – O nome da esposa?
R – Ela se chama Márcia.
P1 – Como vocês dois se conheceram?
R – Ah, eu estudei em Curitiba e ela é de uma cidade perto de Curitiba, chamada Mafra. Um dia eu fui num baile lá em Mafra. Em Curitiba é muito difícil para os estudantes, porque tinha muito estudante e poucas moças. Então, num dia fomos a um baile, eu e outros colegas. Conheci a Márcia em Mafra e acabamos casados, depois que ela se formou e eu me formei.
P1 – O senhor tem filhos? Quantos?
R – Tenho três filhas e um filho. Uma das filhas casada com um médico. Estava fazendo jornalismo, casou e deixou o jornalismo. A outra fez Belas Artes. Ela é artista. A primeira mora numa cidade perto de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Chama-se Miriam. A Débora, essa que fez Belas Artes, está em Gramado, casada com um arquiteto. A Miriam tem dois filhos, tinha dois filhos. Uma menina que está fazendo odonto e um rapaz que morreu. [choro] Estava fazendo medicina e morreu num acidente de automóvel, ano passado. A Débora tem dois filhos. Um faz Direito, aliás é interessante, fez cinco vestibulares e passou em todos. O outro está fazendo cursinho pré vestibular. A terceira filha é a Cíntia, uma pianista. Ela se formou na Universidade Federal de Santa Maria e também se formou numa Universidade nos Estados Unidos. Inclusive ganhou um curso de piano nos Estados Unidos e hoje é professora de piano. Tem só uma filha. E o meu rapaz, se formou também em Comunicação, mas não exerce a profissão. Tem uma vídeo locadora em Florianópolis, lugar que ele gosta muito.
P1 – O que o senhor gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Quando eu era moço, gostava muito de caçar. Era caçador de perdiz. Isso não dá mais pra fazer por muitas razões. Hoje não tenho hobby especial. Na verdade, vivo mais mexendo com coisas de computação. Estou envolvido com estudar, publicar alguns trabalhos meus sobre medicina nuclear. Tenho trabalhado arduamente nisso.
P1 – E como o senhor vê hoje a atuação da Unimed do Brasil, atualmente?
R – Eu não sei te responder, porque não estou mais vivendo isso. Venho aqui, de vez em quando, como visita. Não sei o que está acontecendo.
P1 – Como o senhor vê o principal diferencial da Unimed em relação aos outros planos de saúde?
R – No início, o diferencial era muito grande. Porque o nosso rival que era a Medicina de Grupo tinha os planos de saúde para atendimento de massa. Uma empresa que contratava aquela Medicina de Grupo, tinha um ambulatório, onde a pessoa ia lá, não sabia que médico ia atender, nem coisa nenhuma. Agora com a nova regulamentação dos planos de saúde, nivelou. Então, o que a Unimed tem que se qualificar, se diferenciar é pela qualidade desse atendimento e por um negócio chamado rede. Ela tem uma rede de atendimento no Brasil inteiro que não tem igual. Não tem no país, nem na previdência tem uma rede com o tamanho dela, com distribuição em todos os lugares.
P1 – E na sua opinião, qual a importância da Unimed para o cooperativismo brasileiro?
R – Eu acho que a Unimed marcou o cooperativismo brasileiro em definitivo. Porque a Unimed conseguiu fazer algumas coisas que o cooperativismo não fez. Nos meus livros, meus escritos, minhas teorias, eu defino eficiência e eficácia da seguinte maneira: eficiência é a capacidade de você fazer bem as coisas; eficácia no cooperativismo é a capacidade de você atrair cooperados. Você ter uma cooperativa que tem mais da metade da sua população potencial associada é de uma eficácia extraordinária. Não existe isso no cooperativismo. Uma cooperativa que consegue botar, de 240 mil médicos, botar 100 mil no sistema! Isso é um marco do cooperativismo que não existe igual. Marca o cooperativismo Unimed em relação ao cooperativismo brasileiro. Outro fato importante é que a integração vertical do sistema Unimed, quer dizer, Unimed Singular, Federação e Confederação, também teve um desenvolvimento extraordinariamente rápido e acho que ainda não superado. Porque não existia, até a criação da Unimed Brasil, nenhuma Confederação de nível nacional. Uma Confederação que reunisse tudo. E o terceiro marco é o faturamento. Eu acho que se a gente pegar o faturamento do sistema Unimed e comparar com outras cooperativas, a gente vai manter parelho, ou mais. Porque acredito que o faturamento do sistema Unimed deve estar da ordem de alguns bilhões de dólares, por ano.
P1 – Quais foram os maiores aprendizados de vida que o senhor teve trabalhando na Unimed?
R – Olha, eu aprendi muitas coisas. Uma das coisas mais extraordinárias, pra te responder com uma resposta muito diferente do que talvez você ou as pessoas que estiverem ouvindo possam entender. Dirigir uma empresa, dirigir uma, imagine, por exemplo, dirigir a Petrobrás. Eu tenho que satisfazer uma pessoa na ponta que é o usuário e uma pessoa na outra ponta que é o acionista. Quando você dirige uma cooperativa, é impressionante, porque você tem que satisfazer o cara que é ao mesmo tempo usuário e dono. Esse é um conflito muito, muito grande. Numa empresa tu consegues separar o usuário do dono. Na cooperativa são as duas coisas. Então, eu tive que aprender esse negócio.
P1 – Ocorreu muita diferença entre a vida de dirigente...
R – É muito diferente. Porque o usuário eu posso captar com benesses, mas o dono eu tenho que captar com resultados. Então, o camarada que é dono da cooperativa quer as duas coisas: quer que a cooperativa produza, remunere bem ele, no caso do médico, e quer, ao mesmo tempo, que isso custe o menos possível pra ele [risos].
P1 – Como o senhor acha que o usuário vê hoje o sistema Unimed como um todo?
R – Eu acho que o usuário não está percebendo como uma coisa diferente. O que a gente ouve por aí é que é um plano de saúde.
P1 – O que o senhor acha da Unimed comemorar os seus 40 anos de vida através de um projeto de memória?
R – Acredito que isso é extraordinariamente importante, porque as pessoas, com o passar do tempo, a figura da pessoa vai se aplainando dos vieses que fizeram com que ela tivesse na época dela visões de outros, qualidades da pessoa. Não gosto desse, gosto daquele. De repente, com o passar do tempo, as pessoas vão existindo pelo que fizeram. Eu vejo o seguinte: o sistema cooperativo é um sistema ingrato com os que o formaram, porque ele é um sistema que tem uma alta rotação nos dirigentes. E consequentemente uma alta capacidade de perder a memória. A maior parte dos doutores que estão dirigindo as cooperativas nem sabem quem foi que criou a cooperativa. Eu vejo lá em Santa Maria que os médicos não sabem que eu fui quem criou a cooperativa. De repente um chega e diz: “O senhor foi um dos criadores da cooperativa?” Eu não fui um dos criadores, eu fui “o”. E outra coisa é que como tem um certo viés político nisso e os cargos se sucedem, cada vez que há uma sucessão, o que deixou o cargo passa para o limbo. Eu tenho feito a seguinte comparação e não é a primeira vez, não estou inventando isso aqui: o cara que deixa a direção, imagine que essa pessoa está num nevoeiro, e quando deixa a direção, vai caminhando no nevoeiro e desaparecendo. E aí se perde a memória. Então, acho que é muito oportuno que a Unimed do Brasil faça isso, desde que os fatos históricos sejam reconstituídos, que as pessoas que os fizeram sejam lembradas. Porque o movimento cooperativo que produz os efeitos que eu acabei de dizer sobre o cooperativismo brasileiro, que tem uma repercussão mundial como o nosso, tem que guardar a sua experiência anterior.
P1 – Antes de encerrar, gostaria de saber, na sua opinião, quais as convenções mais importantes para a história da Unimed?
R – Eu tenho a impressão, houve uma convenção agora no Ceará, foi lá pelos anos 1970 ou 1980, em que nós convencemos a previdência social que tinha que terminar com um negócio chamado - como era o nome daquele negócio? Era um plano da previdência que dava retorno para as empresas que contratassem convênio próprio - Convênio Empresa. Era uma alavanca na Medicina de Grupo, porque era um tipo de convênio desenhado pela Medicina de Grupo e que não cabia dentro do sistema Unimed. Então, nós convencemos o ministro a desistir desse convênio. Outra convenção que aconteceu, acho, que foi em Cuiabá. A gente fez um manifesto para o Governador de Minas Gerais. Porque estava sendo construída a Aço Minas, em Minas Gerais. E por baixo, sem que ninguém soubesse, a Aço Minas tinha contratado uma empresa americana pra implantar um sistema de saúde lá, para atender os futuros usuários da empresa. E o doutor Wilson Davis, esse que digo que deve ser consultado, estava nos Estados Unidos e viu a notícia no jornal. Mandou pra cá a notícia e eu que levei pra Unimed do Brasil. Nós fizemos um manifesto de protesto, porque era ilegal e porque não convinha que o estrangeiro metesse o bedelho na assistência médica brasileira. E infelizmente o teor desse manifesto se perdeu, fui eu quem escreveu esse manifesto. Mas não foi esse pelo fato de eu ter escrito. Foi que ele provocou um dia de greve de médicos no Brasil inteiro, contra isso. E o Governador de Minas voltou atrás e desfez o convênio com a empresa americana. Chamava-se American Medical International. Outra convenção que eu acho que teve importância também foi uma convenção que aconteceu no Recife, onde a gente acertou com a receita federal alguns programas relativos ao imposto de renda. As Unimeds estavam sendo cobradas e deu origem a uma resolução, acho que a número 80 da receita federal. E acho que também a convenção do Rio de Janeiro, onde a gente aprovou a constituição da Unimed, merece um destaque especial. Porque a constituição Unimed é um documento inédito no cooperativismo mundial e põe um capítulo novo na doutrina cooperativista. Porque é um documento de uma aliança formal entre vários tipos de cooperativas de várias instituições. A aliança da cooperativa médica, cooperativa de crédito, cooperativas de usuários e da fundação. É um super, um contrato absolutamente inédito em cooperativa mundial. E ninguém presta atenção nisso, sobre a qualidade e importância. É uma página absolutamente nova na teoria cooperativista.
P1 – E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Olha, eu fico muito agradecido, porque não me esqueceram, em primeiro lugar. E acho que essas coisas contribuem muito. E você me fez uma série de perguntas muito interessantes, que foram muito interessantes de responder. Espero que isso sirva para um documento, que seja útil para o sistema.
P2 – Tem alguma coisa que a gente não perguntou e que o senhor gostaria de colocar?
R – Existem muitas e muitas coisas aí, né? Eu tentei escrever, tentei explicar coisas, por exemplo, como nossa logomarca apareceu. Tenho uma história comprida. Talvez até o Castilho possa ajudar. Mas acho que esse tipo de iniciativa da Unimed Brasil merece todo aplauso, todo apoio.
P1 – Em nome da Unimed e do Museu da Pessoa, agradecemos sua entrevista. Obrigado.
R – Obrigado.
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