P/1 – Bom, seu Luís Fernando, então vamos começar nossa entrevista. Vou pedir para o senhor falar de novo o seu nome completo, o local e a data de nascimento.R – Bom, o meu nome completo é Luís Fernando Duarte Siqueira; conhecido no banco, meu nome de guerra é Siqueira no banco. Nasci no Rio de Janeiro em 24 de dezembro.P/1 – E o nome de seus pais?R – Meu pai é José Siqueira, e minha mãe, Júlia Isabel Duarte Siqueira.P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouquinho da atividade profissional deles. O senhor falou que o seu pai ainda é vivo...R – Sim, meu pai e minha mãe são vivos. Meu pai, ele era desenhista do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, foi administrador da Santa Casa de Misericórdia durante 20 anos, e foi da Fundação Darcy Vargas. Trabalhou na Casa, administrou a Casa do Pequeno Lavrador em Jacarepaguá, e nasceu em Conselheiro Lafaiete, no estado de Minas. Foi pequeno ainda para a cidade de Barbacena estudar no Colégio Agrícola, com 12 anos de idade, interno. Trabalhava na lavoura de manhã e à tarde estudava desenho técnico. Depois foi para o Rio e começou trabalhando lá em... nessa área de desenho, ele sempre gostou muito de desenho técnico, essa parte de projeto, de desenho, quando ainda assim, trabalhava em pranchetas. Conheceu minha mãe, casaram-se, e lá foi seguindo a vida dele profissional.P/1 – E o senhor tem irmãos?R – Eu tenho uma irmã, a Maria Cristina. Ela é psicóloga, trabalhou muitos anos na Embratel e hoje é aposentada e cuida dos dois lá no Rio de Janeiro. Os dois estão vivos ainda, meu pai com 90 anos, minha mãe com 91, e minha irmã cuida dos dois lá.P/1 – Beleza. Queria que o senhor falasse um pouco da infância do senhor. A convivência com a irmã, como é que era o Rio de Janeiro...R – O Rio de Janeiro, na época, era uma cidade extremamente agradável de se morar. Eu me lembro, o que eu me lembro inicialmente na minha vida foi da...
Continuar leituraP/1 – Bom, seu Luís Fernando, então vamos começar nossa entrevista. Vou pedir para o senhor falar de novo o seu nome completo, o local e a data de nascimento.R – Bom, o meu nome completo é Luís Fernando Duarte Siqueira; conhecido no banco, meu nome de guerra é Siqueira no banco. Nasci no Rio de Janeiro em 24 de dezembro.P/1 – E o nome de seus pais?R – Meu pai é José Siqueira, e minha mãe, Júlia Isabel Duarte Siqueira.P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouquinho da atividade profissional deles. O senhor falou que o seu pai ainda é vivo...R – Sim, meu pai e minha mãe são vivos. Meu pai, ele era desenhista do Ministério do Trabalho no Rio de Janeiro, foi administrador da Santa Casa de Misericórdia durante 20 anos, e foi da Fundação Darcy Vargas. Trabalhou na Casa, administrou a Casa do Pequeno Lavrador em Jacarepaguá, e nasceu em Conselheiro Lafaiete, no estado de Minas. Foi pequeno ainda para a cidade de Barbacena estudar no Colégio Agrícola, com 12 anos de idade, interno. Trabalhava na lavoura de manhã e à tarde estudava desenho técnico. Depois foi para o Rio e começou trabalhando lá em... nessa área de desenho, ele sempre gostou muito de desenho técnico, essa parte de projeto, de desenho, quando ainda assim, trabalhava em pranchetas. Conheceu minha mãe, casaram-se, e lá foi seguindo a vida dele profissional.P/1 – E o senhor tem irmãos?R – Eu tenho uma irmã, a Maria Cristina. Ela é psicóloga, trabalhou muitos anos na Embratel e hoje é aposentada e cuida dos dois lá no Rio de Janeiro. Os dois estão vivos ainda, meu pai com 90 anos, minha mãe com 91, e minha irmã cuida dos dois lá.P/1 – Beleza. Queria que o senhor falasse um pouco da infância do senhor. A convivência com a irmã, como é que era o Rio de Janeiro...R – O Rio de Janeiro, na época, era uma cidade extremamente agradável de se morar. Eu me lembro, o que eu me lembro inicialmente na minha vida foi da vila que nós morávamos na Tijuca, na rua Pinto Figueiredo, número 22, casa sete. Eu morei ali até o sete anos nesta vila, até fazer o meu primeiro ano do colégio primário. Era uma casa pequena de sala e dois quartos. Vivíamos ali eu, minha mãe, meu pai e minha irmã. E brincava na vila, como toda criança, meu pai me levava freqüentemente ao futebol, teve a ótima iniciativa de me fazer botafoguense, e fui várias e várias vezes ao Maracanã, né, assistir jogos do Botafogo. Uma vez, inclusive, ele achou que o estádio ia ficar muito cheio, foi assistir a um jogo Botafogo e Fluminense e, lá chegando, ele disse que se arrependeu de não ter me levado, voltou em casa para me pegar e voltar ao estádio para me levar. São coisas que a gente não esquece nunca, né? E da Tijuca morei... bom, passei pro Grajaú, morei no Grajaú muito tempo, estudei no colégio, no Externato São José durante oito anos, desde a admissão até o terceiro científico. E era com dificuldade que eu estudava ali, porque os recursos de meu pai não eram muitos; eu sei, tenho certeza que estudei ali com grande dificuldade do meu pai. Depois eu fiz vestibular, fiz faculdade de engenharia, a Faculdade de Engenharia do Rio de Janeiro. E nessa época, para me manter, eu dava aula em cursos preparatórios e cursos pré-vestibulares. Dei aula bastante tempo em vários cursinhos...P/1 – Agora...R – ... de desenho geométrico, descritiva, matemática, que dizia... tudo o que dizia respeito a esse tipo de matérias.P/1 – O que que levou senhor a fazer engenharia? Tinha algum incentivo da família, tinha alguma paixão do senhor, o que que o levou?R – É... o meu tio era engenheiro, o meu pai sempre trabalhou nessa área, assim, ligada à engenharia através dos projetos dele. Ele, como projetista... eu estava, assim, pequeno, sempre estava vendo o meu pai na prancheta fazendo projetos, desenhando plantas de prédio, de casas, fazendo levantamentos de prédios, tudo isso me fez ficar muito perto da profissão. Um engenheiro, um tio meu engenheiro civil, também – e depois ele veio a ser presidente da Estacas Franki, uma empresa de fundações – também teve bastante influência nessa minha formação.P/1 – E o senhor já adolescente, que lugares que as pessoas que o senhor conhecia costumavam ir, quem fazia parte do seu grupo de amigos?R – É, na época, o que se fazia muito no Rio de Janeiro, morava... eu, quando adolescente, morava no Grajaú. Tinha aqueles grupinhos, aquelas turmas de bairro, de prédio, e nós ficávamos conversando ali ao final da tarde, e fazíamos alguns esportes; jogávamos futebol, tênis de mesa, o pingue-pongue, né? Íamos muito à praça Saens Peña assistir filmes, ali na época tinham vários cinemas, o Metro, o Olinda, o Tijuca, vários e vários cinemas ali e íamos ao cinema à tarde lanchar no café palheta, que ficava... pra tudo, tudo muito tranqüilo, a movimentação muito serena. No início, fui muitas vezes de bonde, usávamos muito o bonde, o bonde Aldeia Campista, o bonde Méier, íamos e voltávamos de bonde. E a vida se resumia a isso aí, né, uma convivência em casa com os amigos, assim, na vizinhança, uma ida ou outra ao cinema na praça Saens Pena, né, um namoro na calçada passeando com mãos dadas, que era o máximo que se podia fazer na época, né, o namoro era assim, e um jogo de futebol no Maracanã ou em algum outro estádio ali do Rio de Janeiro.P/1 – Que era sagrado...?R – Ah, sem dúvida, isso aí era sagrado.P/1 – Ainda falando desse período de adolescência e faculdade. O senhor tem alguma lembrança marcante da faculdade, um professor que influenciou o senhor, que o senhor gostava muito?R – Não, da faculdade, de uma forma geral, foi uma época muito corrida na minha vida, porque ao mesmo tempo que eu estudava, ia à faculdade, e trabalhava também, na faculdade eu comecei já a fazer estágio. Então, minha ligação com os professores foi uma ligação, assim, muito superficial. Não tive assim uma... algum destaque, assim, com professor de faculdade, não.P/1 – E o estágio do senhor, onde o senhor fez, e que época foi isso, mais ou menos?R – Eu não entendi. Como?P/1 – O estágio que o senhor fez, qual a instituição que o senhor estagiou e em que época, mais ou menos?R – Eu comecei a estagiar em engenharia em 1968. Foi na Cooperativa Habitacional do Estado da Guanabara. Foi um projeto muito interessante feito no Rio de Janeiro, que as pessoas se cadastravam em cooperativa, e essa cooperativa executava conjuntos habitacionais, construía conjuntos habitacionais no Rio e distribuía por essas pessoas. Foram feitas milhares de habitações dessa forma. E eu, como estagiário, auxiliava o engenheiro titular, o engenheiro fiscal, titular, no acompanhamento da obra, na verificação da etapa executada com relação à qualidade, aprendi a verificar a precisão da aplicação dos materiais, a qualidade dos materiais, de tal forma que se garantisse a boa qualidade do empreendimento e também propiciasse a liberação das parcelas das obras. As obras eram liberadas de acordo com o cronograma físico-financeiro. E eu fazia esse auxílio ao engenheiro e ali aprendi muita coisa da profissão.P/2 – O senhor lembra de algum desses conjuntos habitacionais, mas que hoje são bairros, ou são alguma cidade importantes do Rio? R – Não, eles eram assim, tipo, tipo... quadras grandes, sabe, dez blocos, 12 blocos. Eu me lembro, assim, bem de um na rua Uruguai em frente à Casa Sendas, ali na Tijuca; tinha um na rua Conselheiro Galvão; na Estrada Intendente Magalhães também tinha outro; e vários outros assim pingados. Eram blocos de seis andares, quatro apartamentos por andar, alguns apartamentos de três quartos, outros de dois, outros de três. E sempre assim, reunidos os apartamentos, agrupados em bloco, os conjuntos habitacionais em blocos reunidos de seis, sete, nove, dez, assim, dessa forma.P/2 – E depois desse período de estágio, da faculdade, qual foi o primeiro passo profissional pós-faculdade?R – É, depois da faculdade, eu fui para a Copeg, Companhia Progresso do Estado da Guanabara, trabalhar na área de avaliações de imóveis. Trabalhei ali como avaliador, me formei nesse período, comecei a aprender as técnicas de avaliação, dali passei para um setor, o setor chamado Setor de Crédito Hipotecário que tratava dos financiamentos individuais. Porque essa companhia, Copeg, Companhia Progresso do Estado da Guanabara, era uma... como é que seria hoje a classificação dela?P/1 – Só um minutinho, seu Luís Fernando ... Você retoma pergunta, Aurélio?R – Depois da Copeg, depois da Copeg, qual foi a atividade...P/2 – Exatamente.R – Copeg é onde eu estava, depois a Copeg.P/2 - E qual foi o período?R – A Copeg, eu estive lá até 1970, mais ou menos, e logo após eu fui para a Copeg, Companhia de Crédito Imobiliário, Copeg, Cicopeg.P/2 – E ficou lá até...R – Fiquei lá até 74, por aí, 75. Lá eu trabalhava na área de avaliação, na área de crédito individual, na área de crédito a empresários, e chefiei... passei praticamente em todos os setores lá, e chefiei o Departamento de Crédito Imobiliário. Um período bastante longo, bastante jovem ainda, chefiei esse departamento quando foram feitos vários empreendimentos grandes no Rio, muitos empreendimentos grandes, ali em frente do Rio-Sul tem um empreendimento, Morada do Sol, um empreendimento muito grande. E, na época, a Companhia de Crédito Imobiliário era a número um do país, a que mais financiava imóveis no Rio de Janeiro, tanto para pessoa física quanto financiando empresários; e os empresários faziam empreendimentos, vendiam com financiamento da própria empresa. E ali, realmente, nessa empresa eu criei uma solidez muito grande profissional, porque eu passei a conhecer profundamente o sistema financeiro da habitação, conheci muito bem a parte de fiscalização, porque uma das partes que estava subordinadas a mim era a parte de fiscalização de obras, a parte de engenharia, era uma das divisões, tinha uma equipe muito boa. Ela funcionava no prédio da Associação Comercial no Rio de Janeiro, engenheiros muito bons, engenheiros muito experientes, e vários mais antigos do que eu, né? E, ao mesmo tempo que eu os chefiava, aprendi muito com eles também, porque eu, já desde aquela época, eu sempre procurei ter uma administração extremamente participativa com todos aqueles que trabalhavam comigo. Então isso, além de fazer com que a empresa funcionasse de uma forma bastante leve, bastante fácil de atuar, fazia com que todos aprendêssemos uns com os outros, né? Essa forma de administrar, eu acho que... que hoje em dia se fala muito de administração participativa, trabalhando em colegiados, em grupos, uma coisa que depois eu vim a adotar no Banco do Brasil, fui um dos primeiros diretores a adotar isso no Banco do Brasil com absoluta certeza.P/1 – Agora, o senhor era muito novo nessa época?R – Muito novo.P/1 – Como é que era lidar com essa situação toda com essa jovialidade de quem está saindo da faculdade e começando uma vida profissional?R – Olha, eu acho que as coisas aconteceram muito rápido na minha vida, né? E essa rapidez, e a própria necessidade de ter sido professor, né, trabalhar com aula, com classes muito grandes em curso pré-vestibular, e trabalhar como fiscal de obra também, conhecendo o canteiro de obras, conhecendo as empresas que estavam trabalhando ali, isso me deu uma facilidade de relacionamento muito boa, né? E isso aí não criava dificuldade, eu sempre tratei muito bem, me relacionei muito bem com as pessoas, tive muita facilidade em interagir com as pessoas, tanto aquelas mais novas como as mais, digamos, com mais idade que eu.P/1 – E aí, 74 pra frente, o senhor vai trabalhar...R – Aí de 74 pra frente, eu cheguei a passar um período em empresas privadas, mas pouco tempo, estive pouco tempo em empresas privadas, como a RJ Aquino (?), uma empresa pequena, conduzi um canteiro de obras na praia do Pinto, uns três blocos residenciais, eu era engenheiro chefe da obra. Isso aí durante algum tempo. Tive uma empresa, uma empresa, Segmento, Serviços de Engenharia e Planejamento, com um sócio amigo, Milton Peixoto. Construímos vários depósitos pra Shell, galpões que a Shell guardava tonéis, aqueles tonéis dela na Ilha do Governador, fizemos vários, e fizemos vários galpões para pessoas físicas, empresários que investiam naquilo, né? E assim fui indo ali nessa empresa, Segmento, Serviços de Engenharia e Planejamento.P/1 – E aí, em 79...R – Foi aí que chegamos ao ano de 79. O presidente Colin, que ia assumir a diretoria do Banco do Brasil logo depois do presidente Rischbieter, ele estava formando a equipe dele de diretores, e ele queria colocar um diretor nessa área de materiais, de compra, de serviços, uma pessoa que não fosse do banco, ele queria trazer um diretor de fora. Como todos nós sabemos, o diretor do Banco do Brasil tem diretores eleitos pelo conselho, uns que são funcionários e outros que não são funcionários, né? E ele, na época, ele foi... ele socorreu o doutor Márcio Fortes, que na época era secretário, secretário executivo do Ministério da Fazenda. O doutor Márcio Fortes, ele foi trabalhar com o doutor Rischbieter no Ministério da Fazenda. Então o Rischbieter era o ministro, o doutor Márcio fortes foi convidado por ele para ser secretário executivo. E o doutor Márcio Fortes me conhecia do Rio de Janeiro porque eu era uma pessoa conhecida no mercado imobiliário por esse passado que eu citei, tanto na Copab(?), como na Copeg, especialmente pela Copeg. Porque na Copeg... a Copeg, na época, financiava quase todos os empreendedores imobiliários no Rio de Janeiro. E eu era, por ser o chefe do Departamento de Crédito Imobiliário, eu era uma pessoa muito conhecida. E a empresa vinha realmente apresentando resultados excelentes sob todos os aspectos, a qualidade dos empreendimentos, a quantidade deles, era uma empresa... era a empresa número um, na época, de crédito imobiliário no país. E o doutor Márcio me indicou, deu meu nome ao presidente Colin. Eu vim a Brasília conversar com o presidente, conversei bastante sobre o que eu fazia, um pouco até do que eu falei aqui, né, contei a ele, ele me perguntou, fez uma entrevista longa comigo, né, e eu voltei para o Rio. O Márcio me disse: "Olha, o presidente conversou contigo, tal, mas ele está vendo outros nomes." "Não, tudo bem, isso aí para mim, realmente, seria uma honra trabalhar no Banco do Brasil." Inclusive, eu fiz uma... eu fiz na época, na época eu conhecia muito pouco a área de engenharia do Banco do Brasil. E sempre o pessoal de empresa, que não está em empresa pública, tem uma certa preocupação com relação a trabalhar em órgão público, né, quem quer fazer trabalho sério. Aí eu procurei me informar no Rio junto às empresas que eu conhecia também, qual era o conceito que a área... e eu fui ver também se a empresa merecia também que eu fosse trabalhar nela. Estava me convidando, eu queria saber onde é que eu ia trabalhar. Em todos os lugares, eu tive a melhor informação possível sobre área de engenharia do Banco do Brasil. Inclusive, tinha um empresário que ele trabalhava... hoje seria chamado de lobista, né, ele freqüentava lá o Crédito Imobiliário Copeg, acompanhando alguns empresários. E eu, em um momento, assim, particular, perguntei a ele se ele conhecia a área de engenharia do Banco do Brasil. Ele disse que não somente conhecia como sabia que era das mais sérias em termos de honestidade de comportamento, de honestidade de lidar com recurso público, de lidar com fiscalização. Aquilo me deixou muito satisfeito, muito tranqüilo, né, porque nós sabemos que tem muitas áreas que não são assim, né? Passados alguns dias, o presidente Colin me ligou, dizendo que ele gostaria que eu fosse diretor do banco. Então, num dia, acho que foi em maio, ou março de 79, março de 79, estava eu aqui no Sede-2, ali no... tinha uma grande área ali, tomando posse, presidente Colin, vários diretores, o diretor Calhares (?), que fiquei muito amigo, que depois foi presidente do banco, e vários outros, vários outros, doutor Giganti (?), Aléssio Vaz Primo, Nilson Miranda Motta, Ednar Giganti... Giganti eu já falei, vários outros. Tomamos posse ali, e comecei a trabalhar no banco, na Diretoria de Recursos Materiais.P/2 – O senhor saiu do Rio de Janeiro para vir para Brasília, tenho duas questões: o senhor veio já com a família, se veio ou não, e como é que foi essa transferência, sair do Rio de Janeiro, a cidade que o senhor passou a sua infância, passou a vida, que o senhor falou com muito carinho, e de repente vir para esta cidade diferente?R1 – É verdade, eu nunca... eu sempre trabalhei, vivi no Rio, a minha viagem de longa distância, era o máximo ali... era Cabo Frio, em Itaipava, Saquarema, era o máximo que eu fazia. E o presidente Colin me disse o seguinte, que ele queria que a diretoria começasse a trabalhar ali no Rio de Janeiro – realmente nós começamos lá na rua Primeiro de Março – mas ele queria que um ano depois a diretoria estivesse aqui em Brasília, porque... e naquela época, o banco não tinha se mudado todo para Brasília, a diretoria funcionava muito ainda ali na rua Primeiro de Março, onde hoje tem ali o centro cultural, no primeiro andar tinha os gabinetes dos diretores. Realmente aquela suntuosidade para um iniciante de fora, assim, era um negócio que assustava muito. Aquela era uma pompa ainda da época do Dom João VI, aquilo lá, aqueles lustres, aquele ritual todo ali era muito... inclusive tem algumas passagens curiosíssimas, né?P/1 – Pode contar umas dessas passagens?R – Ah, sim. Eu queria ver se eu não estou sendo um pouco detalhista demais.P/1 – Não, a gente está adorando.R – É, eu me lembro de duas delas, uma delas, o telefone tocava, mas eu não ouvia o telefone. O contínuo, um senhor alto, magro, entrava na sala, pegava o telefone, limpava o telefone no terno e me entregava o aparelho, né? Ele fez isso a primeira vez, a segunda vez, daí eu: "Olha, por que o senhor faz isso? Por que o senhor entra aqui e limpa o telefone?" "Não, é porque eu estou meio suado, para o senhor não ficar com meu suor." "Não, olha, vai fazer o seguinte, eu não quero o senhor trabalhar... eu não trabalho dessa forma. Primeiro que o senhor não precisa vir aqui tirar o telefone do gancho para me entregar pra eu atender, né? Me liga por interfone e eu atendo o telefone aqui. Não tem importância isso." Mas, ao mesmo tempo, eu tomando cuidado pra também... pra não tirá-lo das funções dele, de repente ele perdia o emprego dele, vai que o emprego, o trabalho dele era limpar o telefone. Eu podia tirá-lo da atividade dele, né? Mas ele também, ao final do dia, fazia o seguinte: ele me acompanhava até o elevador carregando a minha pasta. Bom, vou deixar ele carregar a minha pasta, porque de repente eu posso... tira o telefone, tira a pasta, daqui a pouco, não precisa mais dele aqui dentro. E eu chegava e pegava um elevador que tinha lá na... tem ainda lá, está lá, esse elevador, um elevador de portas pantográficas, que são aquelas portas abertas, né? Eu chegava lá e o elevador já estava parado lá. Entrava no elevador, o elevador descia, e ia direto até embaixo. E passava lá pelos andares, lá tem um meio andar, andar dois e meio, andar de três... passava por lá, um monte de gente lá, passando, e o elevador direto. Aí eu perguntei pro cara, "Vem cá, por que que você não pára nos andares?" "Não, senhor, quando o elevador... quando o diretor está no elevador, nós vamos direto ao térreo." E eu: "Ah, comigo não. Você já imaginou o que que essas pessoas ficam falando de mim cada vez que eu passo aqui? Olha lá, lá vai ele... os comentários que fazem não são bons. Então nós vamos passar, parar." "Ah, mas eles incomodam, o pessoal pede coisa, eles falam, trazem um monte de problemas, fazem um pedidos..." Eu, "Mas não tem problema não, não tem problema não. Eu prefiro, prefiro enfrentar esse problema do que a sofrer avaliação não muito honrosa dos colegas aí, ao passar nesse negócio aqui, todo mundo olhando aqui, ver aquelas perninhas sumindo ali em cima, não quero saber disso, não." Aí ele passou a parar o elevador, enchia, ficava aquele negócio. Às vezes vinha alguém, falava mesmo, perguntava alguma coisa, fazia um pedido, trazia... "Ah, vamos examinar, vamos ver se o possível, tal." E pronto, e assim, e assim foi indo ali. P/2 – E em Brasília...R – Mas aí, bom, mas o presidente Colin tinha me dado um prazo de 30 dias... de um ano para vir para Brasília, né? Precisava terminar a obra da 315, a quadra toda, a 315 Norte foi construída nesta época para trazer o pessoal de lá para cá, e foi construído realmente. Aí viemos aqui para Brasília um ano depois, em março de 80. Aí morar aqui, aí eu trouxe a família para cá, trouxe os meus filhos e vim morar aqui em março 1980.P/2 – E como é que era a cidade?R – A cidade era... olha, era boa, como eu acho que é até hoje, agradável, fácil de se viver. Eu gosto muito daqui, gosto muito de Brasília, gosto muito do Rio também. Acho que a gente pode gostar muito de coisas diferentes, né, gostar de uma coisa não elimina a outra, não.P/1 – Eu vou fazer uma pergunta que pode até ser meio óbvia, mas acho que é bom para a gente estar registrando. Qual era a demanda do Departamento de Engenharia?R – Bom, a área de engenharia cuidava dos prédios do Brasil e do exterior, né, aqui do país e do exterior, né, tudo, todos. Era o departamento dividido... era, tinha a Diretoria de Recursos Materiais, que eu era o diretor. Essa diretoria tinha alguns departamentos, quer dizer, um deles era o Departamento de Engenharia, o outro era um Departamento de Serviços, o Deser, o departamento foi famoso aqui em Brasília também. Tinha departamento, tinha a tesouraria, que também estava ligada a esse departamento, a esta diretoria. A engenharia era chefiada, o doutor Hélio Pereira, até hoje, muito meu amigo, nos falamos muito. Eu guardo até hoje amizade e relacionamento, nos falamos, assim, quer dizer, com muitos daqueles que trabalharam comigo desde aquela época. Por exemplo, da área de engenharia, o doutor Hélio e vários, e alguns chefes de departamento dele, vários funcionários da época, até hoje nos relacionamos, nos falamos, nos cumprimentamos por ocasiões festivas. Mas era assim, tinham residências espalhadas pelo país inteiro, e a parte central do departamento cuidava também das obras no exterior, fiscalizava e acompanhava as obras no exterior. Tinha uma outra diretoria, tinha uma diretoria de administração no exterior, era o doutor Fernando Batista Martins que era diretor dessa área, primo do doutor Amílcar Martins, que era o diretor de Recursos Humanos, os dois eram diretores na mesma época, os dois primos. Mas essa Diretoria de Recursos Administrativos da área internacional se valia desse departamento meu, lá da área de engenharia.P/1 – E entre 85 e 90, o senhor esteve à frente... foi cedido para a Fundação Habitacional do Exército.R – É, eu fui diretor, diretor de Recursos Materiais de 79 até 85, né?P/1 – Isso.R – De 79 a 85. Quando estava no final do meu mandato de diretor, teve a última reunião de diretoria à qual eu não pude comparecer. Foi a única reunião que eu não pude comparecer, fiquei retido no Rio de Janeiro, teve um problema, um negócio de aviação, de greve, alguma coisa assim, e eu não vim à reunião. Logo que cheguei a Brasília, fui ao presidente Colin me desculpar pela falta, né, e perguntar a ele o que que... o que tinha havido na reunião, tal. E nesta entrevista com o presidente, nesta audiência com o presidente, o presidente me perguntou o que é que eu ia fazer da minha vida profissional dali para frente, já que eu não era um funcionário do banco, né? Aí, "Ó, presidente, eu não sei ainda, porque enquanto eu estive aqui como diretor do banco, eu não estabeleci nenhum contato porque eu acho que não era apropriado, eu, como diretor aqui, estar vendo o meu futuro profissional. Eu vou pensar nisso depois disso, né?" Aí o presidente me perguntou assim: "Ô, Siqueira, você sabe que eu tenho condições de nomear engenheiros e advogados e arquitetos pro banco. O estatuto me faculta isso, e eu teria muita satisfação, muito prazer, muito orgulho, de nomear você engenheiro do banco. Como é que você veria isso?" Eu disse a ele: "Olha, presidente, eu, mesmo que eu não fique no banco, se o senhor fizesse essa nomeação, isso seria uma medalha de honra ao mérito para mim, porque eu, depois de seis anos aqui na casa, o senhor, como presidente, me nomear o engenheiro do banco, como engenheiro do banco, é sinal que o meu trabalho foi um trabalho que teve uma boa aceitação por parte do senhor, por parte da empresa." "Então, muito bem, eu vou fazer isso, vou te nomear engenheiro do banco." Aí me nomeou o engenheiro do banco, me nomeou para o que seria um posto efetivo do banco, e eu ainda como diretor ali. Aí eu estava como diretor e no posto efetivo, nomeado engenheiro do banco. Aí logo depois disso, logo depois terminou o mandato, aí teve um período em que se estava esperando os outros diretores chegarem, e tinha assumido a vice-presidência de administração o doutor, acho que, Francelino Pereira. Sim, foi o doutor Francelino Pereira. Aí o doutor Francelino Pereira o convidou para chefiar a Aspad (?), a assessoria de planejamento dele aqui em Brasília. E eu aceitei e fiquei ali trabalhando com ele. Mas eu, nessa época, eu tinha uma amizade, um entrosamento muito grande com muitos daqueles funcionários e ex-diretores que trabalharam... trabalhamos juntos ali naquele período, especialmente com o diretor Calhares, né? Por quê? Porque o diretor Calhares, ele era diretor, quando nós assumimos lá em 79, ele era diretor de Recursos Tecnológicos e eu era diretor de Recursos Materiais. E o banco estava no projeto CESEC para construir aqueles CESECs todos, não sei quantos CESECs, eram dezenas de CESECs, comprar o terreno...P/1 – Que que eram os CESECs?R – Os CESECs eram serviços... Centro de Serviços de Comunicações. A ideia era termos centralizadamente núcleos que centralizasse a parte de... toda a parte de serviços repetitivos, e deixar uma agência que seria, o ideal seria se ficasse só o balcão para atender o funcionário. A parte toda de informática, a parte toda de compras, a parte toda de serviços, o meio, seria toda feita por esses CESECs, né? E tinha CESEC 1, CESEC 2, CESEC 3, CESEC maior, menor, tal. E para fazer isso, que não tinha nada, precisava-se comprar os terrenos, e precisávamos fazer licitações, executar as obras, para os funcionários ocuparem os CESECs, né? E quando eu fui verificar como era o processo que o banco tomava para decidir qual era o terreno que ia comprar, né, quando eu vi qual era o processo, eu procurei alterá-lo, porque o processo era o seguinte: a área de engenharia analisava lá alguns terrenos e encaminhava uma lista de terrenos para o diretor decidir qual o terreno seria comprado. "Eu quero comprar o terreno ‘x’. Eu quero comprar o terreno ‘y’" Eu achava que isso, nesse processo havia muito pouca participação da área que ia usar o terreno. Eu acho que tinha, achava que tinha que ser uma decisão conjunta que envolvesse a parte de engenharia para decidir se o terreno tinha melhores condições para construir, em termos de localização, em termos de constituição do solo, mas precisava também que o órgão usuário, no caso o CESEC, mas também depois, no caso, a agência precisava participar do processo. Eu fui ao diretor Calhares à época e propus a ele que, ao invés de eu decidir isso sozinho, nós decidíssemos isso juntos, que as nossas equipes decidissem e isso juntos, né, através de um grupo, seria um grupinho formado por um engenheiro, um representante do Deorg (?) ______, e um representante lá local, para através dos três, aí vinha uma proposta encaminhada por essa comissão. O pessoal da minha área da engenharia ficou aborrecido comigo, na época, achava que eu estava entregando poder para outra área, né? Eu: "Não, gente, isso não é entregar o poder, isso é uma maneira de nós fazermos melhor o nosso trabalho, melhor o nosso serviço. O nosso serviço não é escolher, área de engenharia não deve se preocupar em estar escolhendo o terreno. Ela tem que fazer um prévio o mais econômico possível e sólido, com boa manutenção, manutenção barata, e isso aí, é essa que é nossa praia. Nós devemos fazer dessa forma." E assim passamos a fazer, mas isso nos aproximou muito, passamos a fazer reuniões conjuntas de chefes de departamento da minha área com chefes de departamento da área do diretor Calhares. Ficava, assim, cinco chefes de departamento de uma área, cinco chefes de departamento do outro, aquilo ia... foi aproximando muito. Passei a fazer reuniões periódicas, o diretor e o chefe de departamento, o que não era usual até então. O diretor despachava isoladamente e não tinha essa democracia de reunir os funcionários e se decidir. E nisso aí conseguimos várias soluções em que uma pessoa dava uma, uma... opinião sobre um assunto de outra área, e se resolvia... por exemplo, vou citar um fato: na tesouraria lá do Rio de Janeiro, que fica ali no Andaraí, do lado do antigo campo do América, na rua Barão de São Francisco, toda vez que o carro forte ia entrar, arrastava um carro, porque a entrada é pequenininha, o carro forte enorme, todo de ferro, aquele negócio fortíssimo, arrastava, pegava o carro pelo lado, arrastava. E não adiantava de botar placa "Proibido o estacionamento" porque o pessoal parava. E o chefe da tesouraria trouxe esse problema numa dessas reuniões. O outro participante da reunião sugeriu que se usasse aqueles cones de borracha, que naquela época eram novidade, esse cone vermelho e branco, colocasse aquilo ali. Foi Marcelo Graça Couto que sugeriu isso, colocasse aqueles cones, porque com aqueles cones ali, ninguém entendia porquê, os carros respeitam aquilo, e respeitam mesmo. É um negócio de borracha, você passa com a roda, buzina, mas ninguém passa naquele cone, né? É um negócio que é incrível, o fator psicológico daquele cone. Depois, olha, botamos o cone lá, acabou, nunca mais tivemos problema nenhum. Quer dizer, um dando opinião na área de outro e começamos ali a trabalhar em conjunto.P/1 – Esse período na Companhia de Habitação do Exército...R – Ah, sim!P/1 – Aí o senhor...R – Aí eu estava chefiando a Aspad, e o banco estava ainda no processo, iniciando, já estava com uns poucos anos fazendo um trabalho junto com o exército, que era a Fundação Habitacional do Exército e a Poupex e a APE. A APE é a Assistência de Poupança e Empréstimos. Captava recursos através de cadernetas de poupança para construir imóveis. O banco se interessou por aquilo, porque o banco não tinha à época uma caderneta de poupança. O banco só veio a ter recentemente. Então a Poupex captava o dinheiro da poupança através da APE dela, ele depositava no banco, quer dizer, o banco, indiretamente, passou a ter uma caderneta de poupança como um produto dele. E o exército ia fazendo, essa Fundação Habitacional do Exército ia fazendo empreendimentos para atender com moradias o pessoal do exército e, numa escala menor, funcionários do Banco do Brasil. E a diretoria ficou vaga lá, a Diretoria de Administração e Finanças, o titular lá na época se afastou. E era diretor lá na Poupex e Fundação Habitacional do Exército o doutor Sílvio Bulhões. O doutor Sílvio Bulhões tinha sido o meu diretor lá atrás na Copeg, na Companhia Progresso do Estado da Guanabara, na Companhia Progresso... na Cicopeg, Crédito Imobiliário Copeg. Copeg era a Companhia Progresso do Estado da Guanabara, isso sim, está certo. E tinha sido o meu diretor lá, eu era chefe de departamento, ele era diretor. E ele sabendo que eu estava aqui em Brasília, que eu estava aqui na direção geral do banco, sugeriu ao General Rosa, que era o presidente da Fundação, que pedisse ao presidente do banco que me indicasse para ser diretor lá. E aí o presidente... o General Rosa veio ao presidente Camilo Calazans e pediu que me indicassem diretor lá da... diretor lá da Poupex e diretor da Fundação Habitacional do Exército, que ali era a mesma coisa, o salário era até o mesmo, dois cargos num salário só. Aí fui membro do Conselho de Administração da Poupex, membro do Conselho de Administração da Copeg. E lá fiquei, assim, cerca de cinco anos como diretor lá.P/1 – Lá em 85, quando tem esse fato com o doutor Camilo Calazans, o senhor conhecia pessoalmente ele?R – Não, eu conhecia... conhecia pouco, numa reunião ou outra. Naquele período, logo que ele assumiu, alguns meses que ele ficou como presidente e eu como diretor, chegamos a ter bastante contato.P/1 – Como que ele era naquela época? Descreve pra gente.R – Ele era uma figura assim... era bonachão, uma figura encantadora, né, em termos de contato. E tem um fato, junto com o presidente Camilo, muito curioso, que é como surgiu esse centro aqui, esse centro aqui de formação, esse Cefor aqui que hoje ali está todo... Como é que surgiu aquele centro? Aquele centro surgiu de uma gripe na filha do presidente Camilo, na Camila. As coisas grandiosas, às vezes, têm uma razão pequena, né? A filha dele pegou um resfriado, uma gripe, e a mulher dele, do presidente Camilo, resolveu levá-la ao centro médico do banco de fica aqui no final da Asa Sul. E, quando ela levou lá, ela achou o centro muito pequenininho, muito modesto, e achou que o centro que o Camilo tinha construído quando foi presidente do Banco do Estado do Ceará... foi Banco do Estado do Ceará que ele foi... foi? Não foi, ou não?P/1 – Se não me engano, foi sim.R – Ou Banco do Nordeste... foi um desses dois. É que eu entrei... Fora do banco, ele foi presidente de um banco, agora não estou bem certo o nome desse banco, lá no nordeste, e lá eles construíram um centro, um centro administrativo, com clínica, companhia de cultura, com um monte de coisas, e ela disse a ele que ele devia fazer a mesma coisa no Banco do Brasil, que devia construir um centro daqueles, um centro integrado, a mesma coisa, devia construir... Aí o Camilo, o que é que ele fez? O Camilo respeitava muito a mulher dele, tinha muitas razões para isso. Aí ele, ele... fez uma reunião com vários executivos do banco para discutir sobre a execução do centro, aproveitando o terreno que o banco tinha ali em frente do clube de golfe. Houve uma unanimidade contra, porque ele queria fazer um centro integrado, queria fazer creche, queria fazer centro de treinamento, queria fazer um monte de coisas ali juntas, né, e cada um tinha uma razão pela qual ele não deveria fazer. Primeiro, a primeira, que já inviabilizaria tudo é que o local não permitiria aquilo ali, era um local de clubes; o máximo que a gente poderia fazer é o que o Banco Central fez, que é um clube misturado com centro de treinamento meio escondido, né, porque aquela região é de clubes. O pessoal da área de Recursos Humanos achava que creche ali era um negócio que não ia funcionar, porque a maioria dos funcionários morava na 315, e como é que ia trazer filho até naquele local para depois ir trabalhar lá no Sede 1, 2, 3, ou então no CESEC, não ia funcionar aquilo; a mulher, a mãe, de manhã, sair de casa para levar o filho lá e levar depois... não dava certo. Outros achavam que os funcionários em Brasília já tinham vantagens exageradas, inclusive ônibus para levar, trazer, levar na hora do almoço, trazer de novo, levar... enquanto no país inteiro aí estava todo mundo passando um aperto enorme, né? Muitos já tinham moradia aqui em Brasília, subsidiadas pelo banco, então um monte de vantagens e mais uma seria essa, né? O Camilo olhou, viu todo mundo, ouviu todo mundo depois que todo mundo falou, "Tá, então muito bem, eu quero saber quando é que a gente vai começar a fazer o centro?" Não deu bola pra nenhum daqueles, aquelas inúmeras argumentações, né? E daquilo ali, começaram a fazer um projeto. Para aprovar o projeto, o governador na época, o governador Aparecido, fez duas exigências fundamentais: primeiro, que o projeto fosse do Oscar Niemeyer, primeiro; e segundo, que o banco comprasse e cedesse em comodato ao governo do DF um helicóptero. O banco fez isso também; até alguns anos atrás, o governo ainda tinha esse helicóptero, ainda que cedido aqui pelo banco.P/1 – E, seu Luís Fernando, esse pequeno período que o senhor conviveu com o doutor Camilo, o senhor teve alguma discussão em relação à estruturação da Fundação Banco do Brasil, teve alguma conversa com o senhor?R – Não, não, nunca, nunca conversamos sobre isso, não. P/1 – O senhor falou ainda...R – Nunca conversamos sobre isso, não. Ele fez isso aí... quando ele criou a Fundação, tinha até uma pessoa muito ligada a ele, que acompanhou isso de perto, de cabelo branco, alto, não estou lembrando o nome dele agora, era um assessor dele de perto. Mas isso foi, ele fez, e a Fundação, e isso nasceu, tal, nesse período que eu estava afastado, que eu estava lá na Poupex.P/1 – E, então, vamos voltar. Como é que surge o convite para o senhor ir para a Fundação?R – Eu estou lá na Poupex, na Fundação Habitacional do Exército, muito satisfeito lá com o General Rosa, o banco, a gente fazia muito trabalho muito bom, e crescendo muito os depósitos do banco, a Poupex, né? O General Rosa sempre prestigiou muito o funcionário do banco, né, uma pessoa encantadora, fez... faleceu. Uma pessoa extremamente amiga do Banco do Brasil. E todos os recursos sempre eram aplicados no banco, nenhum centavo aplicado fora, em nenhuma outra instituição financeira, tudo ele fazia junto com o banco. Bom, estou lá eu na Fundação Habitacional, na Poupex, mudou o governo, chegou o governo do Collor, né? Criaram o bolo de noiva, onde sempre formaram os grandes projetos. Um dia eu estou lá, minha secretária chegou: "Ah, tem aqui, está na porta aqui o doutor Policaro e o doutor Amidame (?) aqui. " O Policaro era o novo presidente do banco e o Amidame, neste caso, o Amidame, era chefe de gabinete dele. E foram lá me visitar lá na Poupex. Eu tinha um relacionamento muito bom porque no período que eu fui diretor de Recursos Materiais, na Direm, o Policaro era superintendente de operações em São Paulo, e isso nos aproximava muito profissionalmente, e pessoalmente também nos aproximou muito, porque uma época, e ele perdeu a esposa dele, na época, e um filho numa viagem de avião que faziam, perdeu... um avião pequenininho, o filho dele pilotando um avião, vinha de São Paulo para... estava de São Paulo para o Rio de Janeiro, e o avião sumiu num daqueles matos lá, desapareceu, nunca mais encontrou nem o avião.P/1 – Nossa...R – Mas fizeram buscas muito tempo e pararam de buscar. E eu tinha uns amigos no Bradesco, na diretoria do Bradesco, e o Bradesco tinha um helicóptero chamado “helicóptero bolha”, um helicóptero totalmente transparente. Eu falei com eles e eles botaram... nisso o Policaro era superintendente lá em São Paulo, e eles botaram um helicóptero lá dez dias procurando, passaram lá... isso tudo vai criando vínculo pessoal, né, profissional e pessoal. Por isso, talvez, por essa amizade pessoal que ele tenha ido lá à Fundação Habitacional do Exército me visitar. Aí chegou lá dizendo que ele... chegou lá dizendo: "Olha, eu vim aqui lhe que fazer um convite mas, ao mesmo tempo, uma intimação e tal, eu queria muito que você fosse lá para assumir lá a Fundação Banco do Brasil. Eu quero fazer uma alteração, quero fazer uma mudança lá, tal, e queria muito que você fosse pra lá, tal. E eu não tenho..." "Olha, mas eu estou bem aqui..." "Olha, mas isso aí eu não posso abrir mão, não posso abrir mão, eu quero, eu quero, eu quero... eu quero a sua presença lá, tal." E falamos com o General Rosa, eu levei o General Rosa, e acabou que eu me desliguei lá da Fundação Habitacional do Exército e vim para o banco. Quando, logo eu chego aqui a primeira vez, primeiro dia, eu senti que havia um forte clima político envolvendo interesses junto à Fundação Banco do Brasil. Primeiro que havia interesses de parte da diretoria, um segmento específico, em administrar a Fundação Banco do Brasil, não queria que a Fundação se mantivesse dentro da estrutura que estava. Essa área queria que tivesse o poder de administrar a Fundação. Essa área era diretoria de Recursos Humanos...P/1 – ... do Banco do Brasil?R – ... do Banco do Brasil. É, o diretor era o diretor Celso, o diretor Celso, muito ligado ao presidente Collor. A idéia deles era que a Fundação ficasse ligada à diretoria de Recursos Humanos, porque naquela época a Fundação tinha como presidente o presidente do banco, o diretor era o mesmo chefe da Cotec, que no caso era o Camargo, João Batista Camargo, e o secretário executivo estava vago o cargo, né? A idéia do presidente Policaro era terminar com essa diretoria e secretaria executiva e fazer uma diretoria só, ligada a ele, presidente, que seria o diretor da Fundação.P/1 – E que estaria no comando mesmo da Fundação direcionando os projetos?R – Sim, direcionando os projetos nessa linha hierárquica.P/2 – Você tem como explicar para a gente qual a diferença operacional do diretor executivo e do secretário executivo nessa época? Quer dizer, qual a diferença de ação dentro da Fundação? O diretor, o senhor comentou que estava vinculado à Cotec...R – O diretor era o chefe da Cotec.P/2 – Era o chefe da Cotec.R – O dia-a-dia dele executivo era na Cotec. Ele exercia um cargo de diretor da Fundação mais em nível de alçadas, alguns processos de valor maior iam até ele, mas a parte toda administrativa, o dia-a-dia da empresa, tal, era feito pelo secretário executivo, né?P/1 – Que era esse cargo que estava vago nesse momento?R – Era o cargo que estava vago nesse momento, e que o presidente Policaro queria unir os dois num só e que eu ocupasse cargo, esse cargo a ser criado. Mas a diretoria de Recursos Humanos tinha outro pensamento. Ela queria o quê? Que fossem unidos os cargos, sim, mas que o diretor executivo fosse... não, não, aliás, não. Ela queria... aqui estou cometendo um equívoco. Ela queria que o diretor executivo fosse o diretor de Recursos Humanos, e que o secretário executivo ficasse subordinado ao diretor de Recursos Humanos. Voltando aqui, resumindo bem: o presidente Policaro queria fundir os dois cargos, diretor executivo e secretário executivo, num só ligado a ele; e o diretor Celso queria que... permanecer a mesma situação, sendo ele como diretor de Recursos Humanos, ele iria ocupar o cargo de diretor executivo, e o secretário executivo iria se subordinar a ele.P/1 – Entendi.R – Aí isso criou uma, uma... eu já estava aqui para assumir o cargo, e ele logo que me encontrou, junto com assessor dele, o chefe de gabinete Orígenes, me disse que... O Orígenes já me conhecia do banco, me disse: "Ah, vai ser muito bom, o Siqueira que vai trabalhar agora ligado ao diretor Celso Cavalcante." Eu: "Como assim?" "Não, porque o diretor, Celso Cavalcante, conheceu o diretor executivo da Fundação." E aí eu senti logo que havia uma divisão séria ali. Mas tinha um problema: esse desejo do diretor Celso esbarrava na seguinte dificuldade, é que o estatuto da Fundação dizia que só podia ser dirigente da Fundação e pertencer à Fundação funcionário do Banco do Brasil. Tinha que ser... e ele não era funcionário do Banco do Brasil, e como tal, ele não poderia ser dirigente. Ao que eles disseram que não tem problema nenhum, inclusive vindo essa interpretação de fora do banco. Mude-se o estatuto do banco, para que ele seja o diretor... muda esse estatuto aí para que ele possa ser o diretor. E nisso aí, com esse negócio de mudar o estatuto, criou-se isso aí um desconforto generalizado, né? A Fundação ainda operando da forma assim que... o presidente Policaro; Camargo, o diretor; eu, secretário executivo; e a área de Recursos Humanos querendo exercer poder de fato, não de direito, né, em cima das atividades da Fundação, em cima dos interesses, da eleição dos projetos a serem assistidos pela Fundação, né? E isso aí criou uma dificuldade enorme, foi um embate assim de uns dois meses, em que entrou no meio do processo o Ministério Público, curador de fundações entrou dentro do processo, porque existe um dispositivo, uma cláusula, que é imutável, uma cláusula de constituição da Fundação. Depois que se constitui uma Fundação não pode se alterar determinadas cláusulas, e essa era uma das cláusulas que não se podia mudar. E esse embate foi indo de um lado, indo pro outro, indo para um lado, indo pro outro, acabando, terminando com a, com a definição, um parecer conclusivo, não sei em que instância foi, não sei em que lugar foi, foi dizendo que não podia se alterar essa... a exigência de que fosse a pessoa funcionário do Banco do Brasil. E isso aí afastou os desejos do diretor Celso da Fundação. Foi uma... uma disputa gravíssima, política, porque se envolvia, envolvia a Presidência da República, envolvia o Ministério da Fazenda, eles consideravam estratégico essa ocupação de espaço pelo doutor Celso Cavalcante.P/2 – Dentre essas dificuldades todas enfrentadas no início, o Conselho Curador da Fundação Banco do Brasil, que se não me engano, na época, era formada pelos ministros de estado...R – É, tinha alguns, sim.P/2 – Como é que atuou o Conselho Curador diante desta situação, se atuou? E também nós pesquisamos, nós descobrimos que existiu uma entrada, antigamente era a presidente da LBA [Legião Brasileira de Assistência], a vice-presidente da LBA, que fazia parte do Conselho da Fundação (?), de repente fizeram uma mudança no estatuto pra colocar a presidente da LBA, que era a esposa do presidente Fernando Collor, diretamente como membro do Conselho Curador da Fundação Banco do Brasil. Como é que o senhor viveu essa situação, o senhor observou alguma coisa nesse sentido em relação ao Conselho Curador?R – Havia uma pressão política muito forte em cima dos membros do conselho curador para atender esse tipo de interesse: primeiro, a alteração das pessoas, e também para que se desse aos recursos da Fundação os destinos aos recursos, não aqueles destinos que a administração da Fundação achava mais corretos, mas que destinos de interesses políticos norteariam.P/1 – Teve essa...P/2 – Vou fazer uma questão nesse sentido...R – Não sei se eu me fiz claro.P/2 – Sim...P/1 – Super. (risos)P2 - O senhor sai da Fundação Habitacional do Exército e também já tinha vindo à diretoria do Banco do Brasil, onde tinha feito um trabalho muito bom, muito sério sempre, estava satisfeito na Poupex ali, trabalhando com o general, e de repente entra na Fundação Banco do Brasil e encara a situação. Não deu vontade de voltar atrás? Como é que foi? Em termos de sentimento, como é que foi encarar essa situação?R – Olha, tem passos que a gente vai dando na vida que a gente não pode dar passo para trás, a gente só pode ir caminhando para adiante, nós só temos uma opção, é seguir em frente, não tem outra opção. E desde o meu primeiro momento no Banco do Brasil, sempre foi muito fácil para mim trabalhar no banco, mesmo nos momentos mais difíceis, e mesmo junto aos maiores desafios porque eu sempre contei, admirei muito a capacidade e a competência e a seriedade do funcionário do Banco do Brasil. Isso é um grande segredo que o banco sempre teve; pelo menos isso sempre foi muito defendido até uma determinada época, depois deixou-se um pouco de ter essa mística dentro do banco. Mas o funcionário do banco sempre teve uma, uma... eu vou voltar a essa observação que eu fiz. É que deixou-se de ter porque o banco passou a ser tratado uma época um pouco mais à frente como se fosse uma empresa igual às outras, né? Tentou-se até, num passado não muito distante, até a equiparar o relacionamento do banco com seus funcionários a ter o tipo de relacionamento que as empresas privadas têm com seus funcionários, achando que não era boa a mística do banco em relação a "vestir a camisa da empresa", tal, que tinha que ser uma relação mais profissional. "Vocês lá, nós aqui, vocês fazem, e nós pagamos, e vocês trabalham." Sabe? Mas até um tempo atrás, a pessoa, no Banco do Brasil, entrava no banco e aquilo ali era a vida dele. A pessoa tinha que ser honesto e competente, até mesmo não somente por formação, mas até por interesse, porque ia terminar um período de vida, depois ia ter uma aposentadoria que ia assisti-lo o resto da sua vida e aos seus herdeiros. Na época, a sua esposa, em caso de falecimento dele, então a pessoa estava ali construindo um futuro bastante valioso, né? Não ia... um administrador do banco zelava sempre muito por isso aí como um bem precioso que ele tinha, então juntava-se isso: a boa formação, o ótimo treinamento, a mística que o funcionário já encontrava ali dentro da casa. Isso tudo fazia um caldo extremamente favorável. E quando eu cheguei na Fundação, eu encontrei ali um corpo sólido de defesa à Fundação muito grande, né? Tinha ali funcionários experientes, antigos, conhecedores profundos do processo da Fundação, pessoas extremamente sérias, e muito dedicadas às causas da Fundação, à estrutura de que a Fundação funcionasse realmente, um negócio, uma instituição voltada para o bem público, para atender melhor às necessidades, interagindo com as agências do banco, com a comunidade, num processo eletivo das atividades muito saudável, muito limpo. Os chefes de divisão que trabalhavam comigo, o Reinaldo, o Honório...P/1 – ... o Jacques Teonas.R – ... o Jacques Teonas, pessoas de uma vivência, de uma competência extraordinária. O meu chefe de gabinete era o Francisco de Assis, conhecido nacionalmente como Chicão, também botafoguense como eu – eu não ia deixar de fazer esse registro, não, viu? – e que até hoje estão na Fundação, até hoje é o secretário executivo da Fundação, talvez seja a maior memória viva da Fundação, que trabalhava na Fundação desde datilógrafo, exímio datilógrafo, uma rapidez monstruosa em redação, até na elaboração dos projetos da empresa. Então, esse receio que se tem quando se começa um trabalho novo, enfrentando percalços dessa natureza, fica muito... muito respaldado, muito fácil de ser enfrentado quando você tem uma equipe dessa que você encontra no banco. Foi a mesma coisa que eu encontrei na área de engenharia, engenheiros corretos, engenheiros que trabalhavam com seriedade no exame dos projetos, exame das propostas. Um pequeno desvio que acontecesse de um lado ou de outro realmente eram pequenos desvios, e eram imediatamente... o próprio meio tratava de sanear aquilo ali.P/1 – Já aproveitando esse gancho, eu gostaria que o senhor falasse um pouquinho mais do Reinaldo Abreu e Jacques Teonas. Eram a equipe mais próxima do senhor?R – O Reinaldo Abreu, o Jacques Teonas e o Honório.P/1 – O Honório.R – O Honório. Eram os três, eram os três chefes de divisão. Através deles, de cada uma das divisões, é que os processos eram analisados, os projetos eram... Nós trabalhávamos da mesma maneira que eu fazia como diretor, em equipes, sempre permanentemente fazendo reuniões, debatendo os projetos de um com todos ali, como se falava na época, "em comitê", esse nome não se usava, né, mas eu usava a figura do comitê; sempre trabalhei com eles ali, com o Chicão junto ali participando, o funcionário ali que fez o projeto vinha também para participar, para discutir. Sempre o objetivo era fazer o melhor projeto, assistir da melhor maneira, e assim foram feitos projetos muito interessantes. Um dos projetos que nos deu mais trabalho, mais trabalho, foi um projeto chamado Hospital Locomotor Norte, feito em São Luís, no Maranhão, com a Fundação Pioneiras Sociais. E foi um projeto que foi trabalhado muito no governo anterior do presidente Sarney em termos políticos, e que esse projeto começou e foi indo numa forma assim meio torta. Torta que eu digo na seguinte maneira: já tinha mais valor, mais percentual financeiro liberado do que patrimônio incorporado ao terreno; o percentual "x" de patrimônio incorporado e "y" de patrimônio liberado. Tivemos que fazer uma reorganização do cronograma físico-financeiro para poder terminar o empreendimento, como acabou sendo concluído, né? E nessa ocasião, e isso ocorrido dentro do Departamento de Engenharia. Na época, o chefe do Departamento de Engenharia era o doutor Leopoldo, e fiz uma espécie de convênio com ele de tal maneira que ele desse assistência à Fundação em todos os projetos que envolvessem obras, analisando inicialmente toda a documentação apresentada, isto é, o terreno, o memorial descritivo, especificações, cronograma físico-financeiro da obra, o material inicial do empreendimento. E depois a Fundação, e depois a área de engenharia do banco acompanharia a fiscalização das etapas, autorizaria a liberação das parcelas até a aceitação definitiva da obra. E esse procedimento, a Fundação passou a adotar dali para frente, né? Dali para frente aquele convênio passou a ser e foi muito útil, esse procedimento, nos períodos que vieram a seguir na administração do presidente Lafaiete Coutinho. P/1 – E teve a restauração do palácio Antônio Lemos, também.R – Sim, também foi um empreendimento também bastante significativo feito nessa época. Mas essa, essa... assessoria prestada pela Fundação, pela área de engenharia do banco passou a ser muito útil. Essa assessoria também da área de engenharia e arquitetura do banco, ela, também no período em que eu estive na diretoria de Recursos Materiais, foi prestada à diretoria de Recursos Humanos do diretor Amílcar Martins na execução dos prédios das ABBs, que até então não eram acompanhadas nem fiscalizadas pela área de engenharia do banco. Eu propus à época ao diretor Amílcar que fizéssemos esse trabalho: examinássemos o projeto, fiscalizássemos e liberássemos, já que em cada local nós tínhamos uma residência. E ele aceitou e também passamos a trabalhar como já fazíamos com o diretor Calhares em conjunto com ele, o diretor Amílcar, nos projetos das ABBs.P/1 – Agora, tem uma coisa, que esse período... tem um período anterior que é uma época de grande inflação, né?R – Sim.P/1 – Como é que fazia o acompanhamento financeiro nesse período de grande inflação? Era o comecinho... a gente teve o plano Collor que congelou... teve alguma retenção de verba, por conta daquelas poupanças, daquele confisco das poupanças, teve a retenção de verbas...?R – Teve, mas isso foi, mas isso não foi o maior problema, não.P/1 – Não?R – Não, não, isso aí foi administrado de uma forma natural. Tivemos alguns problemas, algumas dificuldades, mas nada assim merecedor de registro, né? Em termos assim de registros maiores, eu acredito que sejam essas realizações do Hospital Locomotor Norte, a do... a realização do teatro, e o que eu acho também que deve-se creditar como realização do administrador coisas que ele não deixou... que ele não deixou, que ele tenha deixado de fazer e que seriam prejudiciais à instituição. Uma delas foi a urbanização da Barra de São Miguel, em Alagoas, que era uma praia em que havia um interesse muito forte político na época pelos políticos de Alagoas, e que se queria que a Fundação fizesse a urbanização da praia, com iluminação, quadra de esportes e quadras de tênis, enfim, fizessem ali o Aterro do Flamengo do Rio de Janeiro na praia de São Miguel, Barra de São Miguel, lá em Maceió.P/1 – E isso não...R – Não prosperou porque aí nós contávamos com o exame técnico da área de engenharia do banco já, e quando o pessoal da engenharia pediu a... aí nós passamos a usar o fundamento técnico para negar, porque eles teriam de apresentar antes os projetos completos, um memorial descritivo de especificações, o cronograma físico-financeiro, enfim, todo o material que norteia o empreendimento imobiliário construtivo, né? E eles não tinham isso. O que eles na verdade queriam é que nós liberássemos logo uma verba...P/1 – ... uma verba....R –... para que dessem início às obras, né? Quer dizer, dinheiro antes e obras depois, e nós não queríamos funcionar assim. Obra primeiro e dinheiro depois. E isso aí estancou. Foi uma, uma grande... no mesmo, empreendimentos desse mesmo tipo também foram bloqueados em reformas de muitas igrejas também pretendendo que o banco, que a Fundação Banco do Brasil, adiantassem dinheiros para as pessoas irem lá restaurar, restaurar igrejas e monumentos históricos sem haver um projeto, um orçamento, enfim, estar perfeitamente definido tudo o que apresentava na época. Colocar dinheiro na frente para a obra fosse feita depois, e isso nós conseguimos brecar.P/1 – Fantástico. Você tem uma questão?P/2 – Tenho. O senhor comentou sobre a construção do Hospital Locomotor Norte, em São Luís, que é considerado até hoje na Fundação um dos marcos iniciais em termos de atuação direta de Fundação, e que é realmente um símbolo, e que hoje consegue salvar muitas vidas, e que ajuda muitas pessoas. A gente sabe que faz parte agora da rede Sarah, que é um centro de referência muito grande. E eu gostaria de perguntar, nesse sentido, sabendo que essa obra tem tanta importância, como é que você vê o papel da Fundação Banco do Brasil no desenvolvimento social do país?R – É, olha, eu acho que, que... no país, nós temos recursos fartos, nós temos dificuldade em alocá-los corretamente. De uma forma geral, o governo tem recursos muito fartos e várias instituições têm recursos fartos. A dificuldade é colocá-los na forma correta, numa maneira fiscalizada, numa maneira... dentro de projetos completos, com princípio, meio e fim. Esse próprio projeto do Hospital Locomotor Norte, se não fosse a ação tempestiva da Fundação junto com Departamento de Engenharia do Banco do Brasil, teria sido mais um esqueleto que estaria sendo administrado e não tendo hoje o aproveitamento que está se dando aí. A diferença entre o que está realizado de obra e o dinheiro liberado era muito grande na época, né? Não sei quais as razões que levaram a esse tipo de defasagem, mas a verdade era essa. Agora, eu acho que a Fundação, ela tem um papel preponderante no país em termos de saber colocar corretamente os recursos no local certo. Por quê? Porque a interação dela com as agências, que são os braços e os olhos do banco pelo país todo, essa parceria faz com que os recursos sejam otimizados... quantas vezes nós vemos pequenas melhorias, benfeitorias numa propriedade, numa comunidade, ali a colocação de um abatedouro, de uma pequena creche, uma ação qualquer num daqueles programas da Fundação, que criaram juntos com a agência do banco participando, quer dizer, a comunidade, a agência, a Fundação, né? E isso tudo dava uma limpeza muito grande e sempre deu, tenho certeza que até hoje há uma limpeza muito grande na alocação desses recursos da Fundação. Eu acho que isso devia ser mais... eu acho que nós ficamos, no país, muito esperando que o governo vai fazer, que o governo vai dar, que o governo... que que vai cair lá de cima? E temos que fazer muitas coisas na direção do fazer bem, inclusive fiscalizarmos o dinheiro que nós pagamos de impostos, que não são poucos, né? As pessoas às vezes vão trabalhar num local, num determinado... Outro dia eu estava conversando com um sobrinho meu que ia trabalhar numa empresa. "Ah, vou ganhar lá cinco mil reais." "Não, você não vai ganhar cinco mil reais. Você tem que descontar aí o imposto de renda e o INSS que você paga todo mês." Quando fiz a conta para ele, ele ficou triste, que vai ficar mais de um terço do ano trabalhando para pagar imposto. Um terço, mas a pessoa não pensa nisso. Esse dinheiro é um dinheiro nosso que está lá, "não, é governo, é o governo que vai pagar... " Não, não tem governo, o governo não paga nada. Quem paga tudo somos nós, que transferimos o recurso, o dinheiro para o governo, para o governo aplicar, e nós devíamos ser mais fiscais disso, e não somos. Parece que tem uma entidade qualquer que gira a manivela que gera dinheiro, que é só um cara lá que mexe essa manivela. E não é isso. Essa manivela não existe. É um saco que nós todos estamos todo dia tirando dinheiro do bolso e jogando pra lá, não somente este que nós pagamos do salário, mas cada coisa que nós compramos. Pegue uma conta qualquer de concessionária, de qualquer coisa, analisem lá o que é que tem lá na conta. Nem isso nós fazemos. Eu fiz isso outro dia, há muito tempo que eu não fazia isso, fiquei estarrecido; a quantidade de imposto disso, de imposto daquilo, de imposto não-sei-o-quê, taxa de não-sei-o-quê... é um negócio assustador. É um negócio assustador, e nós não observamos, nós passamos batido. O dinheiro que sobra, assim, líquido é para eu lhe pagar alguma coisa em função de um objeto, ou de um serviço que você me presta. O dinheiro líquido nessa transação é pequeno; o gordo dele, o gordo, fica de impostos, de taxas, e nós não acompanhamos. E como nós não acompanhamos, como ninguém verifica, é feito o que se quer aí dos recursos sem a nossa participação.P/1 – Agora, dentro desse tripé que o senhor falou: Fundação, agências do Banco do Brasil e comunidade. O senhor chegou a acompanhar in loco em alguma comunidade os projetos, o senhor chegou a fazer alguma visita, ir verificar pessoalmente como é que estava a condição do Hospital Locomotor, o senhor chegou a visitar?R – Olha, visitei, visitei, eu estive, estive lá uma vez, mas olha... eu nunca dei muita importância a esse tipo de viagem, não. Vou dizer porquê: eu acho que uma empresa com tantos braços, tanto os olhos como tem a Fundação, que são... no caso lá do Locomotor Norte, tem lá a área de engenharia acompanhando, tem a agência acompanhando, eu acho que é muito... eu acho que é mais do que suficiente. Eu acho também que se viaja muito desnecessariamente no país hoje. Se você for medir as viagens, as viagens públicas, não só... nas empresas públicas, no governo, a maioria, eu posso lhe garantir que são desnecessárias. A maioria das viagens são desnecessárias.P/1 – Ainda mais com as tecnologias.R – Hoje em dia, então, com Telex... com Telex, não, pelo amor de Deus! Telex está na época já da pedra. Com e-mail, e-mail... máquina fotográfica digital que manda fotografia na mesma hora, todos os meios ali, celular, a pessoa está... filma, vê no mesmo lugar, não é verdade aquilo? Não há necessidade dessas viagens. Eu viajei pouco, aliás, eu sempre gostei de viajar pouco, nunca fui de viajar muito, não. Viajava o mínimo necessário.P/1 – Certo. Quanto tempo o senhor ficou no comando da Fundação?R – Eu fiquei no comando da Fundação uns quatro meses. Fiquei pouco tempo. Parece que é muita coisa o que nós estamos contando aqui, mas tudo foi de junho a outubro de 1990.P/1 – Foi muito intenso, né?R – Foi muito intenso. Foi muito intenso.P/1 – E a sede, onde é que era nessa época?R – A sede da Fundação era no Edifício Sede 3, ali nos primeiros andares, 2º ou 3º andar.P/1 – Fantástico. E como é que se deu a saída do senhor da Fundação?R – Bom, esse clima estava muito tenso, essa situação jurídica, essa situação jurídica, esse impasse, né, área de recursos, e todo esse impasse que eu já contei, que estava muito... E eu fiquei muito desgastado nesse processo porque havia interesses de não se dar cumprimento àquele... havia interesses do banco, da Fundação, de não permitir que área de Recursos Humanos assumisse da forma que queria assumir, para fazer o uso que queria fazer da Fundação. E eu ali fiquei numa situação quase de pára-choque da situação. Muitas vezes, a área de Recursos Humanos tentava, por vias transversas, defender projetos dela dentro da área da Fundação e eu neguei vários projetos deles, né? Então, eu estava muito desgastado com isso aí.P/1 – É, foi uma época muito tensa, né?R – Muito tensa. E no momento, no banco, naquela época, o banco estava enfrentando uma outra dificuldade séria. O diretor, o diretor Cláudio Dantas, que é o diretor de finanças do banco, estava acompanhando com muita preocupação uma... a dificuldade do INSS de manter os recursos deles no Banco do Brasil. Havia uma pressão muito grande para que o... o INSS depositasse os recursos não somente no banco, mas nos bancos da rede privadatambém. E ficou vaga área de liberação de recursos, exatamente essa área no INSS, ficou vaga essa área. E quem estava na época fora do banco, fora do serviço público, prestando uma assessoria ao INSS, era o diretor Calhares, o futuro presidente Calhares. Aí os dois imaginaram que uma boa solução para tentar brigar com os bancos privados e manter os recursos dentro do Banco do Brasil seria a minha ida lá, seria que eu novamente...P/1 – (risos)R – São aquelas grandes ___________...P/1 – O grande desafio...R –... algumas mensagens, aquelas, o personagem do Jô Soares, o Gardelon, né? Não sei se você conhece esse personagem...P/1 – Conta pra gente.R – O Gardelon é um personagem que o Jô Soares, o Jô Soares encarava, encarnava esse personagem, em que ele recebia várias encomendas do tipo assim: ir lá no Iraque e conversar com Saddam Hussein, no meio da guerra, então, uma proposta de emprego dessa natureza, e para ganhar mil dólares por mês, um negócio assim, dessa proporção. Aí ele: "Não, então você quer dizer que você quer eu vá lá, conversar com Saddam Hussein, propor a ele... para quanto? Mil dólares por mês? Oh, muy amigo! Muy amigo!" E aí ele arrumava uma tarefa monstruosa com um salário pequenininho. E aí que o pessoal brincava na época que eram as missões do tipo de Gardelon... muita tarefa, muita dificuldade, e um salário pequenininho.P/1 – E aí o senhor recebeu...R – E aí, o Cláudio Dantas novamente, e falaram comigo. "Olha lá, o Siqueira está lá, e aquele negócio lá, desgastou-se muito com aquilo. O diretor Celso Cavalcante não está nem um pouco satisfeito com ele, ele está muito desgastado com aquele negócio lá, tal... que tal...?" E aí eu fui para lá... (fim do CD 1/2)R –... fui para lá. E aí eu só vim tomar conhecimento mais direto da Fundação, aí com muita satisfação para mim, alguns anos depois. Aí tive algumas outras atividades, fiquei lá no INSS, depois outras atividades. Aí vim a tomar conhecimento da Fundação novamente quando eu, já de volta ao banco, estava na equipe do presidente Calhares, porque eu... o presidente Calhares definindo cargos, e eu, muito ligado a ele, fui chefe de gabinete dele, e precisava-se escolher o diretor executivo da Fundação, que aí já era um cargo só.P/1 – Aí teve mesmo a fusão...R – Já tinha ocorrido, não sei em que época, já tinha ocorrido essa fusão aí... Eu tive muita satisfação de participar... de participar, quer dizer, fui um dos que estavam presentes na decisão, no convite ao diretor Maurício Teixeira da Costa, que vai estar aqui amanhã, pelo que ele me disse...P/1 – Isso.R – ... no convite a ele para ser diretor executivo da Fundação Banco do Brasil. Isso aí algum tempo depois, né, dessa minha saída, que nesse período aconteceram coisas incríveis na Fundação, tudo aconteceu, e segundo diz um amigo, ele diz o seguinte: que o diretor Maurício conseguiu a tirar a Fundação das páginas policiais e voltar para parte econômica e de assistência social, né? Ele conseguiu isso. Que a Fundação só saía na parte policial.P/1 – É, teve uma grande...R – Foi um período difícil.P/1 –... reestruturação. Apesar desse período pequeno, mas intenso, muito intenso, de realmente começar a colocar nos trilhos a Fundação, como que o senhor avalia a gestão do senhor?R – Olho, eu acho que eu me sinto realizado por essa gestão pela forma de... por ter introduzido uma administração participativa; acho que tenho certeza que aquilo continuou ali, foi os próprios gerentes de divisão, os chefes de divisão à época passaram a adotar aquele mesmo sistema junto aos seus funcionários. Acho que isso aí foi uma mudança de postura gerencial muito importante. Eu acho que o convênio com a área de engenharia, o acordo com a área de engenharia e arquitetura do Banco do Brasil para participarem dos projetos de engenharia, de construção da Fundação como se fosse um empreendimento do banco foi um ganho muito grande para a Fundação, não somente para aquele período, mas pelos aqueles períodos, pelo aquele período difícil que se enfrentou um pouco mais à frente, não é? E inclusive eu estou aqui me recordando o seguinte: o Barra de São Miguel, ele foi, voltou várias vezes com uma proposta de fazer o tal projeto urbanístico da praia. E eu estava, depois desse período que eu administrei a Fundação, eu voltei a chefiar o Departamento de Engenharia do banco. Estava chefiando Departamento de Engenharia do banco. E num final de tarde de quinta-feira, me liga o superintendente executivo da Fundação, que estava sendo muito pressionado pela... muito pressionado para que fosse feito esse empreendimento de Barra de São João. E que mais do que isso: queria que fosse liberado imediatamente uma quantia vultosa para a empresa que ia fazer a construção, mas que ele, pelo regulamento da Fundação, ele só podia fazer isso com a autorização da área de engenharia do banco, e que ele me pedia uma ajuda, e que eu autorizasse isso, que eu autorizasse essa liberação, missão para Gardelon atuar...P/1 – (risos)R – Bom, como é que eu vou fazer isso? A pressão violentíssima para que fosse liberado esse recurso. Eu estava despachando no momento com o gerente de divisão meu, o Tomar (?) Augusto Lucena. "E, olha, Lucena, nós estamos com esse problema aqui. Não tem projeto... ah, pedi que ele me mandasse o que ele tinha lá. Ele me mandou um fax num papelzinho com uns rabiscos, uns rabiscos assim, qualquer criança faria aquele negócio. Como é que nós vamos fazer isso, Lucena? Aí... como é que nós vamos liberar esse valor, né? Não tem jeito. Eu não vou liberar isso. Eu não vou liberar. Vamos ver como é que nós vamos sair... eu não vou autorizar a Fundação liberar." Aí o Lucena foi inspirado, deu a seguinte idéia: "Então, a gente pode fazer o seguinte. Eles não têm projeto nenhum, eles não têm especificações, não têm um memorial descritivo. Por que a gente não autoriza uma pequena verba para eles fazerem isso, para eles fazerem a documentação que nós precisamos que eles façam?" Aí, eu: "E quanto é isto, Lucena?" Aí ele me deu um valor lá que era 20 mil alguma coisa, em moeda da época, que seria hoje, não sei... uma quantia irrisória perante o que eles queriam, né? Seriam valores, assim, que se nós fizéssemos a proporção, seria assim comparado 20 mil reais com 2 milhões, assim, alguma coisa nessa ordem de grandeza. Aí eu liguei para o superintendente, "Ah, já tenho a solução!" "Ah, que bom, mande-me aqui para liberar o dinheiro..." Eu disse: "Não, não, mas nós não vamos liberar o dinheiro todo não. Ele não tem a documentação para fazer a obra; ninguém pode fazer a obra sem ter projeto, sem ter memorial descritivo, sem ter... como é que ele vai fazer obra? Ele tem que fazer isso. Então vamos fazer o seguinte, a gente libera o dinheiro para ele para fazer isso." Aí ele: "Ah, e quanto é isso, doutor Siqueira?" "Aí, olha, ao invés dos 2 milhões, você vai receber 20, autorizamos a liberar 20 mil reais." "Não, você não vai fazer..." "Vou fazer, sim. Eu vou fazer uma notinha justificando, tal." E fiz uma nota para eles naquela mesma hora, já tinha o BB-mail, na época já tinha o BB-mail, já. Passando no BB-mail para ele, dizendo que como a empresa... o interesse demonstrado, e como ele, o interessado, não tinha projeto, não atendia às especificações, não tinha cronograma físico-financeiro, não tinha, enfim, a documentação necessária para que nós analisássemos, em caráter de absoluta excepcionalidade, nós autorizávamos que a Fundação liberasse 20 mil reais para eles, para eles fazerem isso, né? E assim foi feito. E aí foi feito, e eles foram fazer o trabalho deles. Uns poucos dias, umas poucas semanas depois – você vê daí a sorte, né? – mudou a presidência do banco, alterou, saiu o presidente Collor, e...P/1 – ... tudo mudou.R – ... a Fundação perdeu aqueles vinte mil reais lá, eles ficaram fazendo o projeto. Até hoje estão fazendo o projeto lá.P/1 – (risos)R – Nunca apresentaram o projeto, não. Que eu saiba, não, não sei se apresentaram recentemente.P/2 – Tempo curto, mas a gente já sabe que algumas amizades longas.R – Ah, sem dúvida.P/2 – Você poderia falar um pouquinho sobre as pessoas que conviveram com você na Fundação?R – Olha, bem de perto, assim, no dia-a-dia, são esses que eu citei: o Honório, o Jacques Teonas, o Reinaldo, o Chicão, nosso secretário executivo, tem o Manuelzinho, trabalhou comigo muitos anos também, o Didi, a Rita, o... ah, meu Deus do céu... o Batistinha. Muitos, muitos, muitos funcionários. Tem o Siqueira, que trabalhou comigo, ele dizia que ele era o "Siqueira pobre", então ao dizia: "Então você é paupérrimo, porque se você for se fazer por essas dimensões assim, não sei como é que..." O Siqueira... olha, você me pegou, assim, porque você lembrar de muitos nomes, assim, né, depois de tantos anos. Tem muitos que eu me lembro assim do rosto, mas não me lembro o nome, sabe?P/1 – Não tem problema.R – Certamente aqui eu estou cometendo gravíssimas omissões.P/1 – Não tem problema. Se o senhor fosse traduzir a Fundação em algumas palavras, ou uma palavra, qual palavra seria essa?R – Olha, eu acho que a Fundação, da forma que ela foi concebida pelo presidente Camilo, ela veio se aperfeiçoando em cada vez ser mais o braço, o corpo e a face social do Banco do Brasil, né? Ela é a melhor imagem que o banco vai deixando nas comunidades, eu acho que tem um efeito muito melhor do que qualquer propaganda dessas empacotadas que a gente faz aí na Globo, caríssimas, um absurdo. Eu acho que o dia-a-dia da Fundação na comunidade, com a presença dela, auxiliando ali a alavancagem do brasileiro, a alavancagem do pequeno empreendedor brasileiro, da pequena comunidade, eu acho que isso tem um efeito excepcional. Tanto isso é bom que os bancos todos têm copiado isso, né? Inclusive os bancos privados, está saindo, todos fazendo isso na frente da Fundação... quer dizer, na frente, não, posterior à Fundação.P/1 – Se inspirando, né?R – Se inspirando na Fundação.P/1 – Se o senhor fosse deixar uma mensagem para os funcionários da Fundação, para os funcionários das agências do Banco do Brasil que acompanham os projetos lá nas comunidades, o que que o senhor falaria para eles?R – Que eles vejam sempre, com muito orgulho, o fato de estarem participando da aplicação dos recursos da Fundação, porque esse tipo de participação melhora muito o nosso país, é uma pequena semente que pode gerar grandes frutos no futuro para o país, e ao mesmo tempo vez, dar ao nosso Banco do Brasil a necessária face social, a empatia com a população, muito importante para que ele mais, cada vez mais fundamente no país como empresa séria, sólida e indispensável ao crescimento no nosso país.P/1 – O que o senhor achou de ter passado esse tempo com a gente, ter registrado a trajetória do senhor e parte da história da Fundação?R – Olha, eu acho que esse é um trabalho excepcional que vocês estão fazendo, porque muitas dessas coisas que eu venho aqui e conto, acaba que a gente conta alguma coisa, outras a gente já não se lembra mais. Pelo menos, se resgata alguma parte, e outros colegas vão estar aqui fazendo a mesma coisa, né? E isso deixa, perpetua o que se viveu na empresa, as histórias, os casos curiosos, as dificuldades, as aflições, as angústias, para que os que forem chegando na empresa no futuro tenham uma história perfeita da instituição, da empresa, que eles recebam com muita responsabilidade o encargo de administrar, de gerir ou mesmo trabalhar no dia-a-dia numa empresa, já que todos são importantes, cada um em seu nível.P/1 – E do senhor ter revisto a sua trajetória profissional e a sua atuação na Fundação?R – É sempre muito emocionante e muito gratificante.P/1 – É, né? Você tem mais alguma pergunta?P/2 – Não, não.P/1 – O senhor acha que ficou faltando mais alguma coisa?R – Não, acho que...P/1 – ___________, você ficou com uma dúvida?P/3 – Não... alguma curiosidade de nomes, mas que eu pergunto depois.P/1 – Então, seu Luís Fernando, em nome da Fundação Banco do Brasil e do Museu da Pessoa, eu agradeço imensamente o senhor ter aceitado o convite, ter dado a entrevista e ter esclarecido muitas coisas que para nós ainda eram muito nebulosas. Então agradeço imensamente a disponibilidade do senhor.R – Muito obrigado, e vocês estão de parabéns por esse belíssimo trabalho que estão fazendo. Eu que agradeço a vocês
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