Projeto Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Roberto Pereira Rosa
Entrevistado por Inês Gouveia
Macaé 11 de junho de 2008.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_CB402
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 – Vou pedir para que você comesse diz...Continuar leitura
Projeto Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Roberto Pereira Rosa
Entrevistado por Inês Gouveia
Macaé 11 de junho de 2008.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº PETRO_CB402
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
P/1 – Vou pedir para que você comesse dizendo seu nome completo, a sua data de nascimento e o local onde você nasceu?
R – Meu nome todo é Roberto Pereira Rosa, eu nasci no dia 15 de dezembro de 1958 na cidade do Rio de Janeiro no bairro do Rio Comprido.
P/1 – E quando que você entrou na Petrobrás Roberto?
R – Eu entrei na Petrobrás em 15 de outubro de 1984.
P/1 – E qual era a função que você...
R – Eu entrei como mecânico após ter prestado um concurso público.
P/1 – Na época você conhecia o que da Petrobrás? Você sabia... O que te levou a fazer o concurso?
R – A Petrobrás era quase que como um sonho, né? Era uma oportunidade de desbravar alguma coisa desconhecida, né? Eu trabalhava ainda na época quando eu tive o primeiro conhecimento como profissional da Petrobrás de oportunidade de entrar na Petrobrás, eu trabalhava no arsenal de Marinha. Foi quando eu soube do primeiro concurso que eu poderia ter prestado e concorrido para entrar na empresa, eu soube, mas depois que o concurso tinha passado um colega havia sido aprovado e eu soube quando ele foi se despedir de nós, porque havia passado que estava indo... Isso em 1978 ele estava vindo para... Era o início da Bacia de Campos ele não sabia explicar muito bem, porque também era novidade pra ele e contou pra nós que estava indo para a Petrobrás e tudo. E aquilo nasceu dentro do coração da gente um grande desejo de entrar nessa empresa, uma empresa que na verdade conhecê-la eu passei a conhecer quando foi inaugurado o prédio lá chamado Edise conhecido por todos nós. Eu era garoto fazia ainda o ginásio no meu tempo ainda havia o ginásio e eu saía, morava em Bangu e saía de Bangu com os colegas e ia ao prédio da Petrobrás para pegar as revistas que hoje a gente até coleciona, porque a gente recebe como funcionário. Pegava as revistas para levar para poder fazer os trabalhos de escola e a gente ia fazendo a maior farra, era muito gostoso, muito legal, porque depois contávamos a maior vantagem simplesmente pelo fato de ter entrado no prédio, o prédio da Petrobrás. Então o sonho de conhecer a Petrobrás ele já começou quando criança, o sonho de entrar na Petrobrás, ele iniciou em 78 quando eu soube desse colega que tinha passado no concurso.
P/1 – E esse colega você o reencontrou aqui depois?
R – Não, eu não consegui encontrá-lo mais.
P/1 – Ele já foi... Você sabe se ele já foi transferido? O que aconteceu?
R – Não, porque na verdade é que pra gente ter contato com uma pessoa tem que saber o nome todo e eu não consigo lembrar o nome todo desde quando eu entrei pra Petrobrás eu já não lembrava mais o nome todo desse colega, porque se não eu até faria uma pesquisa no sistema, localizaria e entraria em contato. Depois disso quando eu entrei pra Petrobrás eu trabalhava numa outra empresa e dessa empresa que eu trabalhei alguns colegas passaram uns no mesmo concurso que eu e outros passaram num concurso logo após. Os que passaram no concurso logo após depois fizeram contato comigo até para dizer que vieram da mesma empresa e tal, estão na empresa até hoje. A gente mantém contato são amigos nossos e outros do meu tempo, do tempo de concurso infelizmente foram para outras direções. Eu quando entrei pra Petrobrás eu não entrei aqui para a Bacia de Campos, eu entrei pro Torguá, antigo Torguá na Fabor Orbel lá em Duque de Caxias, mas fiquei lá coisa de um dia e me transferiram aqui para Macaé. Vir para Macaé outro sonho, outro desbravamento, outro horizonte tudo novo. E eu aceitei o desafio fui trabalhar em Cabiúnas também, antigo Torguá em Cabiúna hoje é tudo Transpetro, né? Mudou e eu perdi o contato com muita gente lá.
P/1 – Me diga uma coisa, qual foi o seu maior desafio ao longo desses mais de 20 anos dentro da Petrobrás?
R – Desafio no sentido de carreira? Ou desafio no sentido de trabalho realizado?
P/1 – Me diga os dois?
R – Acho que no sentido da carreira, acho que o grande desafio foi o fato de eu ter passado nos concursos internos, hoje eu tenho... Hoje eu sou técnico, técnico de manutenção sênior e essas barreiras foram vencidas, né? Antigamente nós tínhamos os concursos internos da Petrobrás e eu fiz concurso para contra mestre e depois fui para mestre e depois fui para assistente de técnico, tirei o CREA passei técnico e com a mudança dos planos de cargo e salário da empresa hoje acabei me tornando um técnico sênior dentro da empresa. Então acho que pra mim esse foi o maior desafio ter chegado assim no limite da carreira de técnico para... Entrei como mecânico dentro da empresa num concurso que pra mim foi de muita importância eu competi com pessoas que tinham formação muito superior a minha e eu entrei na empresa ainda como terceiro colocado naquele concurso. Então eu tenho dois grandes desafios, primeiro foi de ter entrado e o segundo foi de ter galgado uma carreira. E em termos de trabalho realizado acho que o grande desafio foi que a empresa me impôs uma mudança eu saindo do Torguá aqui em Cabiúnas, né? Em Macaé eu fui trabalhar embarcado na plataforma, trabalhei embarcado durante três anos e quando saí de plataforma foi num momento em que a Petrobrás estava se preparando para uma nova realidade onde ela deixava de ser executante de muitos trabalhos e passava a terceirizar esses trabalhos. E ela pegou então muita gente que tinha experiência no mar e tirou esse pessoal experiente porque ela precisava de experiência em terra. Eu fui uma dessas pessoas e vim trabalhar com contratos, então a adaptação dessa nova realidade pra mim com contrato ela foi assim muito sofrida, porque você saía de uma realidade operacional onde você realmente metia a mão na massa, fazia acontecer e agora você à distância tinha que fazer as coisas acontecerem dentro da casa dos outros, né? Você contratava e enviava o serviço pra fora e tinha que fazer isso acontecer dentro da casa dos outros. Então isso pra mim... Eu tive um processo de adaptação muito difícil, muito duro, então eu creio que em termos de carreira, em tempos de trabalho dentro da empresa acho que o grande desafio foi essa adaptação. Hoje a gente trabalha especificamente com contratos dentro da empresa, trabalha gerenciando, fiscalizando outros contratos e supervisionando atividades dentro do nosso setor de operação especificamente de trabalho, atividade de contratos hoje na coordenadoria de contratos. Do EQCB da coordenadoria de operações do EQCB essa atividade de contrato ela está sobre minha supervisão. Então esses desafios que a gente foi vencendo e Deus tem nos ajudado a gente glorifica muito a Deus, porque se não fosse Deus também conduzindo isso aí com certeza eu ainda estava parado lá onde eu comecei.
P/1 – Eu podia entender então um pouquinho Roberto que você gostava bastante da época de trabalho embarcado, né? Foi uma coisa que... Já que houve uma dificuldade de adaptação para... De mudança de trabalho obviamente, mas é de fato isso? Você gostava?
R – Embarcado especificamente não, mas do trabalho na oficina realmente eu gostava muito mesmo. E se não fosse por chave de galão ou se não fosse mesmo por força da empresa ou pela própria força do trabalho mesmo a necessidade de ter alguém fazendo esse tipo de serviço eu hoje ainda estaria trabalhando dentro de uma oficina que realmente é prazeroso, é gostoso e eu sinto saudade sim.
P/1 – Que fase da Bacia de Campos Roberto você acha que foi mais marcante se a gente pensar na produção da Bacia?
R – Eu creio que o período que a gente tinha por desafio os 500 mil barris, eu acho que foi um período mais marcante à minha vista, né? Isso porque a gente tinha muitos desafios, eram muito grandes a gente perfurava poços e batia recordes e não tínhamos a tecnologia que a gente tem hoje. A gente não tinha o respeito às regras do que hoje a gente chama de SMS, não tinha o SMS, não tinha essa estrutura toda em volta do ser humano não. A gente tinha simplesmente que bater os recordes, tinha que vencer, havia metas a empresa precisava ser projetada, o Brasil precisava dessa auto-suficiência e que demorou muitos anos, mas graças a Deus a gente conseguiu. Hoje é um grande orgulho para nós que vestimos essa camisa que a gente se emociona até de falar dessa empresa e nosso grande orgulho é saber que conseguimos isso eu vivi isso. A gente chegou tinha esse desafio (emocionado) e eu cheguei lá junto com a equipe.
P/1 – Você pode me contar algum momento que tenha te marcado muito, alguma história que seja pra você muito representativa desses 24 anos?
R – História? Eu creio que os fatos mais marcantes... O que mais nos marca são os fatos tristes, né? O incêndio de Enchova marcou muito, na época eu estava embarcado no (P61?) e de lá você via a chama (choro) e a gente sabia que tinham amigos nossos lá P-36 marcou mais.
P/1 – Roberto, o que mudou na Bacia de Campos desde a sua entrada se a gente pensar em tudo, em termos do cotidiano de trabalho do aparato técnico, dos prédios, conta um pouco isso pra gente?
R – Eu acho que a nossa cultura mudou a gente... Nós os petroleiros da Petrobrás, houve um período que a gente foi muito massacrado pela mídia. Eu creio que na época do Collor de Melo, ele criou a figura dos marajás do Brasil e colocou os petroleiros como marajás do Brasil, acho que ele não tinha conhecimento da grandeza dessa empresa e do sacrifício que as pessoas faziam para manter essa empresa na grandeza que ela já era desde o tempo dele. E isso nos fez mudar muito, porque a mídia e mais a sociedade que absorveu o que a mídia assim dizia que dentro da empresa havia marajás, ou seja, pessoas que ganhavam dinheiro fácil que ganhavam muito dinheiro o que não era verdade. Isso nos levou a mudar, eu creio que o petroleiro ao longo do tempo, o funcionário da Petrobrás ele teve que mudar na sua maneira... Isso é uma opinião apenas, né? Eu acho que ele teve que mudar na sua maneira de encarar a sociedade, na sua maneira de encarar o próprio trabalho a gente teve que buscar um profissionalismo que a gente... Eu não vou dizer que não tinha, mas que a gente encarava de uma maneira diferente. A gente tinha uma coisa, a gente vestia a camisa da Petrobrás, porque a gente achava que a camisa era tudo e com o advento da terceirização a coisa nos levou a... Sabe tudo isso, todo esse movimento nos impôs mudanças, eu não consigo descrever para você sem fazer um estudo mais profundo em que nós mudamos, mas o fato é que nós mudamos. Hoje a sociedade quando olha para o petroleiro já não olha como a dez ou quinze anos atrás, olha diferente. Hoje quando a sociedade olha pra Petrobrás encara diferente, houve um tempo em que algumas pessoas, eu diria algumas tolas pessoas elas não se interessavam em fazer um concurso pra Petrobrás, porque olhava o salário e o salário não era aquilo que o Collor anunciava. Quando começou a pintar os concursos públicos as pessoas começaram a ver a realidade do que é ser um empregado da Petrobrás, o salário não era aquele salário de marajá, outros concursos aí ofereciam salários melhores. Mas nós chegamos a um ponto de mudar a ponto de tornar a empresa atrativa até mesmo para um mercado de trabalho, não só para um mercado acionista, as ações da Petrobrás hoje é um atrativo no mundo inteiro. Mas também para um mercado de mão de obra, de trabalho, nós tínhamos um concurso recente que nos jornais anunciavam em torno de 450 mil candidatos. Eu creio que isso coloca a Petrobrás hoje em termos de concurso público como um dos maiores ou o maior concurso se não no país até mesmo no mundo. Eu nunca vi um concurso com tamanha disputa, com tamanho interesse. Eu creio que tudo isso faz parte da mudança, ou seja, se nós mudamos as pessoas mudam também na maneira de olhar pra nós, se nós mudamos a empresa muda, o interesse das pessoas pela empresa também muda o fato é que nós mudamos.
P/1 – Certo. Para concluir o que você achou Roberto de participar da entrevista, e sobre tudo do projeto?
R – Achei legal. Eu acho que não só eu os colegas que passaram também por esse momento que tiveram sua oportunidade devem ter ficado nervosos também de início, mas eu acho que o mais marcante é que você vê hoje nós já estamos passando por processo, o próximo passo da nossa vida da nossa carreira, é a aposentadoria aparentemente... Olha pra mim e fala: “tão novo”, mas é o próximo passo e a gente olha pra trás e quando a gente vai responder as perguntas conforme você colocou e a gente lembra de alguns momentos e emociona a gente (choro) foi legal.
P/1 – Obrigada.Recolher