IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ricardo Fontes de Souza, mas todos me conhecem pelo apelido de Rico de Souza. Não sei nem de onde que veio esse apelido, mas eu acredito que tenha sido de Ricardo. Eu tenho 54 anos, sou do dia 12 de junho de 1952, nascido no Leblon, Rio de Janeiro. INICIA&C...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Ricardo Fontes de Souza, mas todos me conhecem pelo apelido de Rico de Souza. Não sei nem de onde que veio esse apelido, mas eu acredito que tenha sido de Ricardo. Eu tenho 54 anos, sou do dia 12 de junho de 1952, nascido no Leblon, Rio de Janeiro.
INICIAÇÃO NO SURF Eu morava no Leblon, no quarteirão da praia e meus amigos todos gostavam de jogar futebol. Na época não tinha tanto trânsito. A gente viveu uma infância muito interessante, bem peralta, que é uma coisa importante. Eu sempre fui mais chegado à pescaria, ao jacaré – pra quem não sabe é aquele surf de peito, hoje não é um esporte muito difundido, mas antigamente era. No Leblon existiam várias turmas, a turma da Rua Cupertino Durão, a da Bartolomeu Mitre, e a minha era a turma da João Lira. Cada um tentava ser o mais corajoso e pegar as ondas maiores, entrando no mar maior que pudesse. Ali eu peguei a minha base pró-surf. Na primeira vez que eu vi uma revista Seleções, em 1964, uma fotografia de um surfista pegando onda em pipeline, falei: “That’s it Esse é o meu esporte, eu vou ser um surfista”. Mostrei pro meu pai, me lembro que ele estava deitado na rede, e depois disso nunca mais parei. Foi bem legal.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A minha trajetória nunca foi muito planejada. Eu sempre segui a linha do coração, do amor e do meu desejo. Em 1964, meus pais não queriam que eu surfasse, porque o surf não tinha uma imagem legal, todo mundo era cabeludo, ninguém trabalhava. Eu me orgulho muito, porque eu fui à luta; vendia garrafas pro garrafeiro, o jornal e a tampinha de leite, e também ia às construções do Leblon e Ipanema, porque tinham muitas demolições na época, e eu vendia o chumbo. Os encanamentos eram de chumbo ou de cobre e eu vendia ali na loja Ipiranga na Rua José Linhares. Eu corria atrás dos meus objetivos. Comecei a pegar onda por dois anos com prancha de madeira e mais tarde, em 1966, tive a minha primeira prancha de fibra de vidro, feita pelo Coronel Parreiras, um militar da Aeronáutica que contribuiu muito para a fabricação das pranchas de surf no Brasil. Ele foi uma pessoa que acrescentou muito para o desenvolvimento do surf, ele e o Ciro Beltrão, que também era outro fabricante. Eu comecei a trabalhar pro Coronel, consertando prancha para juntar dinheiro. O conserto de prancha tem uma grande lucratividade, você cobra vinte reais por um conserto e gasta dois ou três reais. Eu fui me estruturando, trabalhando, depois comecei a recortar as pranchas grandes para fazer pranchas pequenas, porque era época do mini model, e nunca mais parei.
PRIMEIRO CAMPEONATO A loja Magno era ali na Gomes Carneiro. O primeiro campeonato que eu ganhei foi em 1969, realizado pela Loja Magno. O que pouca gente sabe é que o Magno foi o responsável pela moda de praia, foi a primeira loja de surf do Brasil. Foi um campeonato com um palanque, que parecia de festa junina, mas tinham 5.000 pessoas na praia. Era o primeiro campeonato e existiam grandes surfistas, como o Betão, que ficou em segundo lugar. Tinha uma galera que surfava muito bem no Arpoador. Em 1972, eu ganhei o campeonato em Ubatuba, e ganhei em 1973 também.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Uma coisa que me marcou muito, em 1972, quando eu ganhei o campeonato brasileiro de Ubatuba, foi que a passagem era para o Peru e eu queria ir pro Havaí disputar o mundial. Eu escrevi uma carta para o Flávio Cavalcanti, que era um programa tipo Faustão, em rede nacional. Nesse programa, eu tive o prazer de conhecer o Pelé, que tinha feito o milésimo gol, um grande atleta. Eu estava com 39,5 º graus de febre, mas fui ao programa assim mesmo pensando que fossem me dar a passagem pro Havaí. Mas me deram um voucher.
Eu fui lá mesmo gripado e passando mal. Acabei indo pro Havaí e fui disputar o mundial na Califórnia.
TEMPORADA NA CALIFÓRNIA É incrível o que vou falar, mas quando eu cheguei na Califórnia, as pessoas não conheciam o Brasil. Não tínhamos associação e eu não falava inglês também. Então, eu tive muita dificuldade de entrar no campeonato porque a gente não tinha uma federação como tem hoje, mas acabei entrando. Eles conheciam mais, eu me lembro, a Amazônia e Buenos Aires, eles “linkavam” tudo a América do Sul, South America. Fui para lá, peguei o avião, não conhecia ninguém e parei em San Diego. Me lembro que minha prancha voou na freeway, na auto-estrada de lá. Eu não tinha onde ficar e acabei indo morar numa garagem, porque um amigo tinha me dado o endereço do Russel Coffman, um dos grandes pioneiros do surf, que era amigo dele. Fiquei morando a duas horas e meia da cidade, como fosse o Méier ou Guadalupe, foi difícil. Eu fiquei lá um mês, mas depois eu consegui chegar à praia. Lá não tem muito ônibus, porque todo mundo anda no seu próprio carro.
Cheguei ao campeonato e comecei a conhecer a galera. Participei do mundial e tive um resultado expressivo. Passei algumas baterias e depois fui morar com os australianos, o Peter Townend, que foi campeão mundial depois, o Ian Cairns e o Mark Warrel. Nessa mesma casa moravam um sul-africano e um peruano, a casa era a maior doideira, era internacional. Na Califórnia foi mais uma frustração porque eu sonhava com aquelas ondas todas, mas a água era muito fria e as ondas muito pequenas.
HAVAÍ Quando cheguei ao Havaí todo o meu sonho se realizou. No primeiro ano entrei no campeonato Sea spirit, que tinha grandes surfistas. Ganhei do Michael Hoppe, que foi campeão mundial. Pra mim aquilo era que nem ganhar a Copa do Mundo. E na final, o mar baixou e eu fiquei em quarto lugar, mas aquilo foi uma coisa muito expressiva, eu gostei muito da minha atitude de ir pra lá sozinho, sem conhecer ninguém e sem falar a língua. Quando voltei do Havaí pra Califórnia, fui passar um tempo com o Amilcar, que era cinegrafista do Hal Jepsen. Ele fez os filmes Super session 1, 2 e 3, e depois Sea for Yourself. Depois viajei do sul da Califórnia até o norte de São Francisco, in land, por dentro, e voltei pela costa, pelo big surf, passando filmes de surf. Eu era porteiro e montava o filme, e acabei aprendendo inglês. Antigamente, quando eu era mais livre, não tinha família, eu passava quatro meses viajando. Mas depois fui trabalhando mais, passou para três meses, dois meses, um mês, e agora eu passo duas semanas e está maravilhoso.
OPÇÃO PROFISSIONAL Eu nunca tive um planejamento nessa parte. Interessante, porque quando eu comecei a surfar, a família toda dos meus pais era ligada ao Direito. O meu tio, irmão do meu pai, tio Antônio, foi presidente da Caixa Econômica por dois mandatos, meu pai era advogado, o outro juiz. Eu estudei direito. Quando eu fui ao Havaí pela primeira vez, eu falei: “Não vou ser mais advogado, vou ser surfista profissional”. Isso chocou um pouco a minha família, porque ninguém estava esperando que eu tomasse essa decisão. Como eu vi o surf lá fora, profissional, com grandes empresas, pra mim era muito claro o que ia acontecer na costa do Brasil. Eu tive essa visão e corri atrás dos meus trabalhos. Eu estava começando a trabalhar, ninguém vivia do surf aqui. Essa decisão foi muito forte na minha vida. Eu sempre soube o que eu queria e o que não queria. Todo mundo pegava onda, depois largava pra ir trabalhar com os pais e fazer faculdade. Eu cheguei a cursar até o sexto ano de Direito e acabei abandonando. Comecei consertando prancha nos anos 60.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Depois, nos anos 70, comecei a fabricar prancha, na época do Píer, porque eu era campeão brasileiro, viajava pro exterior e tinha as informações de ponta, as novidades. Tive oportunidade de ganhar lucratividade na prancha que era boa. Nos anos 70 e 80 foi legal, eu me orgulho muito, peguei um empréstimo no Bradesco, consegui construir minha casa. Eu gostava de morar em Vargem Grande. Mas em 1976, há trinta anos atrás, ninguém pensava em morar em Vargem Grande. Eu fui morar lá, num sítio, porque eu vi que no Havaí todo mundo morava assim, tendo suas oficinas no the country side, no lado mais rural. Eu vivi lá nos anos 70 e 80 fazendo pranchas.
Nos anos 80 e 90 entrei em confecção e passei a industrializar. Quando veio o plano Collor foi muito complicado, eu tinha 60 funcionários e nunca me considerei um bom administrador, sempre viajava e as coisas iam acontecendo. Encerrei a parte de confecção e comecei a terceirizar, o que era uma tendência mundial nos anos 90. Comecei a verificar que a prestação de serviço era legal. Comecei a fazer a Copa Rio Coca-Cola, um evento que eu fiz com a Coca-Cola. Ela queria associar o meu nome ao produto e eu fiquei muito orgulhoso. Depois fiz o mundial de body board pra Nestlé, junto com um amigo de São Paulo, o Valdir. Aprendi muito sobre eventos trabalhando com ele e com o Douglas.
PRIMEIRA ESCOLA DE SURF Em 1982, 1983, eu abri a primeira escola de surf no Brasil, plantei essa semente. Eu trabalhava na Riotur e fiz pra devolver ao esporte todas as oportunidades e todos os países que eu viajei pelos quatro cantos do mundo. Eu acho que o que a gente recebe, temos que devolver. Aquela escola foi uma experiência muito legal, a mídia toda deu uma força tremenda, teve uma repercussão legal e eu quis dar continuidade, mas tinha sido planejado pra um mês. Mas depois eu a abri a escola na Barra e até hoje nunca mais parou, a Escola de Surf Rico/Oi, junto ao Hotel Sheraton. Eu guardo as pranchas lá, eles dão um apoio também. Eu tenho uma na praia da Macumba, no Rico Point, e tenho uma pra crianças carentes, que é um projeto novo meu. Apesar desses 25 anos, desde o início atendemos crianças de comunidades carentes.
Eu fiz o primeiro trabalho de preservação das praias no Rio de Janeiro, fiz na escola de surf da Barra e da Macumba, junto com a Associação de Surf. Foi uma forma de preservar as praias e a vegetação nativa. Patrocinei e hoje já existem várias localidades no Rio de Janeiro e no Brasil com essa mesma função de cercar a praia e preservar. A escola de surf foi uma semente que eu plantei; hoje só no Brasil devem ter de 150 a 200 escolas. Acho legal de ter plantado essa idéia. Muita gente até me criticou: “Você quer ensinar em escola de surf a pegar onda? Todo mundo tem que aprender sozinho”. Mas acho que tudo que é novo tem que estar aberto pra críticas construtivas, eu entendo isso bem. Hoje a escola é muito sólida, em todo o Brasil muita gente vive disso. Eu quero dar um passo maior, dar uma estruturada em todas as escolas de surf do Rio de Janeiro e se possível do Brasil, num projeto que eu tenho guardado e que futuramente vou apresentar na hora oportuna. As escolas no Brasil já estão maduras pra dar uma organizada e fazer uma coisa legal.
PATROCÍNIOS Nesse lado empresarial, o que me ajudou muito, voltando da África do Sul, em 1976. foi ter sido o primeiro brasileiro a competir lá. Era patrocinado pela TV Globo. Cheguei lá e tinha uma campanha com uma foto minha com o escudo da Globo. Quem me ajudou a conseguir esse patrocínio foi o Ibrahim Suede, um grande jornalista. Ele mandou procurar o Armando Nogueira, mas eu procurei, na época, o Boni. Fiz uma relação e fui patrocinado durante 16 anos, e me orgulho muito de ter sido um atleta patrocinado por uma tv. Talvez tenha sido o único, mas o legal nesse patrocínio foi o lado profissional que adquiri. Eu ia competir, filmava e entregava para o esporte espetacular, onde o Léo Batista fazia as narrações. Acho que o Luciano do Valle também era da Globo, antes dele ir pra Bandeirantes. Fui fazendo amizades e comecei a ganhar credibilidade. Uma vez o Nelson Gomes, um diretor da Globo, falou: “Rico, você vai ver como esse patrocínio da Globo vai ser importante no futuro pra sua vida”. E eu, cabeludão, não entendi nada: “Futuro?”. O jovem vive só o presente. Fui fazendo muitas amizades e isso me serviu como base, como uma faculdade, eu aprendi a lidar profissionalmente. É só falar o que você pode cumprir na hora certa, ser gentil, estar sempre disponível. Isso me trouxe um benefício, hoje eu trabalho para empresas como a Petrobras, Telemar, que agora é Oi, para a Coca-cola, Barra Shopping. Então, essa base que a Globo me deu foi importante na minha vida.
RICO DISK SURF Desde a época da “maldita”, a Rádio Fluminense, sempre dei gratuitamente as condições do mar, diariamente. Eu vi que tinha surgido o disk igreja, o disk sexo, entre outros. Procurei a Telemar, que se chamava Telerj, e peguei uma plataforma. Foi super legal, passei a dar as condições do mar e podia cobrar R$ 2,95. Comecei a ganhar dinheiro dando as condições do mar. Na rádio era gratuito, comecei na Rádio Fluminense, depois ela acabou e fui para a Transamérica, depois para Rádio Cidade. Hoje eu estou na rádio Oi-FM, que adquiriu a Rádio Cidade. Há mais de 30 anos eu faço isso, na vida a gente planta quando é jovem, adolescente. Quando você está mais maduro, dos 20 aos 30 anos, você tem toda essa base que eu falei da experiência, de trabalhar legal e de ter credibilidade.
INTERNET Muitos anos depois, com essa boa relação com a Globo, veio à era da internet, e ela me chamou pra fazer um site. Estava com um projeto de condições do mar pra internet, uma coisa nova com um amigo meu, o Mano Ziul, que faz pra Sportv a parte de internet. Ele me ajudou, conheci boas pessoas, formei uma equipe e hoje 400 mil pessoas visitam mensalmente o nosso site. Isso nos proporcionou muita visibilidade. Hoje é uma ferramenta indispensável para os meus negócios, para as promoções e os eventos que eu faço, inclusive, pro Petrobras Long Board Classic, que já está no sexto ano. Antigamente o surf era mais romântico, íamos pegar onda e piscavamos o farol para o carro que estava subindo, indo pra Barra, para perguntar como estavam as ondas. Havia mais de amizade, não tinha dinheiro envolvido. Mas esse impacto, não só da internet, foi o crescimento do surf.
Quando eu comecei a surfar, devia ter de 150 a 200 surfistas no Brasil, hoje já são cerca de dois a dois milhões e meio. Não estou dizendo se são profissionais ou amadores, são os caras que tem uma prancha na garagem, os que já surfaram e os simpatizantes. Logicamente, com esse crescimento, a internet foi fundamental, porque hoje “Time is money”, os americanos já diziam isso há muito tempo. O cara trabalha em vendas, não pode sair da Tijuca pra ir pegar onda se o mar está ruim. Então, nós fazemos a previsão no site www.ricosurf.com.br, que fica dentro da Globo.com. Todo mundo acessa, porque temos credibilidade, damos a informação correta, temos bons jornalistas e bons informantes. Nós temos condições do mar de todo o litoral brasileiro, a previsão das ondas de todo o litoral brasileiro e de mais alguns lugares do mundo também.
Temos um bom jornalismo, as famosas Beach Girls, que são meninas bonitas que aparecem de uma forma bacana, tendo sensualidade, mas sem ser vulgar. Está andando bem legal, com o crescimento da internet todo mundo usa. E também através da internet nós promovemos os eventos que eu faço, está sendo uma ferramenta muito importante. É difícil de equilibrar, porque nós temos excelentes profissionais trabalhando e viver de venda de banner é difícil, mas com os eventos que faço vamos tentando equilibrar. No início, a Globo foi espetacular, ela viabilizou todo o projeto, fez grandes investimentos e depois eu podia largar aquilo ou ficar com aquilo pra mim. Durante quatro anos, nos primeiros dois anos ela viabilizou, depois eu tive que correr atrás. Me orgulho muito de ter conseguido manter, com muita dificuldade, e hoje estou conseguindo equilibrar, porque grandes empresas estão se associando a gente e está sendo legal.
Quando eu entrei na internet, uns seis ou sete anos atrás, o Mano Ziul, que foi o cara cabeça disso tudo, me ajudou muito. Ele faz todo o circuito mundial da ASP, todos os campeonatos profissionais no Brasil e no mundo. Ele tem uma equipe que viaja e faz a parte da computação das notas. Ele sempre teve essa visão e eu entrei com ele, que me deu o suporte técnico da idéia. Eu vi que não podia parar, com o apoio da Globo.com, nós tivemos a oportunidade de fazermos uma coisa sólida bem no começo. A gente se estruturou legal e continuamos. No início, eu não imaginava que ia ser esse boom. Hoje eu acho que é indispensável, o mundo não acontece mais sem internet.
ESCOLA DE SURF A razão principal da escola é porque o surf sempre me deu inúmeras oportunidades. Como eu falei, fui pro Havaí inúmeras vezes, fui pra Europa, fui o primeiro brasileiro a ir pra Bali, o primeiro a ir pra Austrália, pra África do Sul, um dos primeiros a ir pro Havaí para competir pela América do Sul, pelo nosso país. Antes de viajar pro exterior eu fiz questão de conhecer toda a costa brasileira, porque nós temos que conhecer nossa cultura, nosso litoral, nossa terra. Aqui é um país espetacular, é o país do futuro. Então, eu quis devolver pro surf isso tudo através do esporte, era uma forma de ensinar as crianças a pegar onda. Eu trabalhava na Riotur e nunca gostei muito de carnaval, gozado, porque todo mundo não queria trabalhar no carnaval. Comecei a fazer eventos de surf, os campeonatos de remada e a escola de surf. A escola foi programada para um mês e marcou muito. Eu aproveito aqui e agradeço ao Picuruta Salazar, que em 1982 e 1983 foi um dos professores. Ele é o surfista que tem mais títulos no Brasil, seu irmão, o Almir Salazar, o Ismael Miranda, que foi vice-campeão mundial do Waymea 2000, o Pepê, não é o nosso Pepê, é um outro que é cinegrafista que já fez vários filmes, o Rodrigo Osborne. Então, nós fizemos isso no Arpoador, mais tarde fomos pra Barra e a Town & Country patrocinou. Fui a várias empresas e ninguém queria patrocinar nada, me lembro que fui numa grande empresa e ela não apoiou a idéia. Eu falei: “Vou fazer assim mesmo”. Fiz dez pranchas, peguei as cordinhas, aí quando eu abri, a Town & Country ajudou e depois a Redley
também.
Sempre trabalhamos com muita segurança, porque trabalhamos com crianças. Nós fizemos uma apostila e estudamos como é a forma mais inteligente de se dar aula com segurança. Visitei várias escolas na América do Sul, no Havaí, na Austrália. Fiz um curso numa associação Australiana que permite dar aula de surf em qualquer lugar do mundo e também formar instrutor num segundo curso, mais a experiência da prática de 25 anos dando aula. Depois veio a escola de vôlei, de futebol, mas nós muito anteriores a isso. Importante não é quem fez primeiro, o importante é o conceito e hoje muita gente vive disso. Vários instrutores que foram meus alunos abriram outras escolas ali na Barra e o Picuruta abriu em outros Estados. Eu acho muito legal, porque proporciona uma oportunidade da pessoa ganhar dinheiro. Através da escola, você pode trazer muitos benefícios para as pessoas: aprender surf com mais segurança e de uma forma mais rápida. Inclusive, fiz há dois anos e acabei agora, um filme.
APRENDA SURF COM O RICO Estou com um filme prontinho, o “Aprenda surf com Rico 2”. Demorou muito tempo, mas acho que está legal, porque está com animação em computação. É uma vídeo-aula. Eu fiz um primeiro que foi legal, mas que não fui eu que dirigi, foi o Rico Bonavita. O segundo eu dirigi, não teve uma direção espetacular, mas eu conduzi. Eu coloquei tudo que eu queria colocar. Nós filmamos no Havaí por dois anos, na Indonésia, em Mentawai, no Brasil e no México. Inclusive, um aluno meu foi campeão mundial, o Phil Rajzman, filho do Bernard do vôlei, aparece no filme. Tem uma coisa didática, ensinando a pegar onda, mas de uma forma moderna. Você pega um cara pegando em pipeline, mostra o que é um tubo, o que é backside – quando você surfa de costas pra onda –, o que é frontside – quando se surfa de frente pra onda. Pergunta para o Phil: “Phil, como você se prepara para pegar um tubo?”. É muito dinâmico, não é aquele negócio chato. Tanto um surfista bom, quanto um surfista que está aprendendo, vai gostar de usar isso. É um DVD que acabei de aprontar. Eu gostei muito desse vídeo e resolvi finaliza-lo dedicando a todos os pioneiros do esporte e às pessoas que contribuíram de alguma forma com a cultura do surf brasileiro. Dediquei a essa galera, à nova geração. Agora, quando eu voltar do Havaí, vou ver como vou lançá-lo. Eu vou lançar de uma forma inteligente, não quero lançar pra ser lançado, quero um momento em que ele possa ter maior visibilidade.
GESTÃO DE NEGÓCIOS Eu trabalho pra TV Globo, pra Petrobras, já dei palestras pra Transpetro sobre motivação e de empreendedorismo. Eu fico muito orgulhoso. Mas não mexe com meu ego, acho que com todo esse crescimento, temos que ter mais humildade, tem que ser sempre prestativo, querendo melhorar e pensando numa visão mais ampla, não só na primeira pessoa – eu –, mas pensando nos outros, no esporte, numa forma de ver o país melhor, de ver a sociedade brasileira e o mundo divino melhor. É aquele slogan: “think local, act global”. Eu acho que é legal o que vem acontecendo, surgiu uma oportunidade através da Estácio, em relação aos negócios do surf. A Universidade Estácio de Sá me propôs um curso de gestão em negócios que o surf proporciona. Já existe isso na Austrália, então, quando ela me fez esse convite eu já conhecia esse trabalho lá fora. Eu fiquei muito preocupado, porque essa parte não é muito a minha praia. Eu faço isso pessoalmente, mas ensinar isso dentro de uma universidade, fiquei muito preocupado, não tinha segurança. Fui lá conversar, nós fizemos um programa, estudamos durante alguns meses e, depois, eu fiz várias modificações. Depois, com esse papel na mão, eu peguei pessoas muito capacitadas em cada área que íamos formar. Parte de comércio e varejo, nós trabalhamos junto com o pessoal, com as minhas idéias e com a minha equipe, e depois, quando o projeto estava todo pronto, chamei o Guy Sodré, que administrava 90 lojas da Mesbla. Hoje ele é uma pessoa que presta serviço pra 30 empresas, é uma pessoa que conhece a fundo, ele gostou e achou muito adequado. Temos também a história do surf, convidei alguns especialistas, como o Rosaldo Cavalcanti, um grande jornalista e um grande estudioso. Em cada área, além de conversar com a Estácio e de fazer uma pauta inteligente com a minha equipe, depois, pegamos pessoas de cada área específica. Eu comecei a me sentir mais seguro. O curso deve começar agora em abril, nós já temos cerca de vinte pessoas matriculadas, e no início de abril nós devemos começar com isso. Quando eu abraço uma idéia, não é só pelo lado financeiro. Vou te dar um exemplo, outro dia eu estava num mar grandão, pegando onda, tomando na cabeça no mar, aí chegou alguém: “Pô, Rico. Aprendi a pegar onda na sua escolinha”. Não tem nada mais legal do que isso, no mar grande, ele demonstrou segurança, reconhecimento e orgulho de ter aprendido surf comigo. O cara estava seguro no mar grande, eu digo, bem grande esse mar. Eu espero que um dia, um cara fale comigo: “Pô, Rico, que legal aquele curso que fiz com você. Eu não queria fazer universidade, pós-graduação. Eu ia demorar de seis a oito anos pra fazer isso e fiz em dois anos e meio. Me deu uma noção básica e hoje eu tenho a minha lojinha de surf. Hoje eu administro um jornal de surf. Eu trabalho no comércio, mas aquilo me serviu de base para eu abrir uma escola de surf”. É uma forma também de você se preocupar com os outros. Eu procurei reunir pessoas como o Daniel Fridman pra ser instrutor, o Rosaldo Cavalcanti na história do surf, peguei uma pessoa de São Paulo formada na USP, em Pós-graduação em Esporte, que é uma pessoa que fala com o MEC. Eu vou ter o prazer – não vou ser professor pela falta de tempo – de participar em várias palestras e de levar pessoas. Vai ter o Marcello Póvoa, que foi o diretor da MPP Solution, da Globo.com, pra falar da força da internet no surf. Ele é espetacular, conhece a fundo. Vou levar o Blanco, que era vice-presidente da Oi internet. São pessoas de amizade que vão prestigiar, passar suas experiências e que normalmente são pessoas que não iriam pra lá, vão sempre pelo fator da amizade. Esse é o meu recado, vamos ver onde isso vai chegar. Tudo isso que eu faço, lógico, penso no lado financeiro, no lado administrativo, mas a minha motivação é realizar. Eu penso de forma que quando você faz algo com amor, dedicação e carinho, sempre dá um bom resultado e, posteriormente, o sucesso. O que eu acho que não posso fazer, não faço. Hoje eu estou um pouco mais seletivo. O lado mais difícil de tudo isso é o tempo. Hoje eu estou viajando, mas fiz questão de vir pra essa entrevista pro Memória Petrobras, porque essa é uma empresa brilhante.
PETROBRAS Desde que eu passei a trabalhar pra Petrobras fazendo campeonatos de surf, eu me orgulho muito. Acho que muitos brasileiros não sabem o que é a Petrobras, o que ela faz para o meio-ambiente, o que ela faz de trabalho social, porque ela não divulga tanto isso, ela faz, ela realiza. Hoje eu posso dizer, sem dúvida, de que a Petrobras é o melhor patrocínio que o brasileiro já teve, porque ela não pensa num retorno imediato, ela pensa no crescimento do esporte, no desenvolvimento do esporte, vê o esporte nas áreas do nordeste, sul e sudeste. Ela pensa de uma maneira macro, ela quer ver a estabilidade e o crescimento do esporte. Ela não quer ver a venda de mais gasolina, ela não está associada a isso. Ali ela realiza um trabalho pré-evento, realiza o pós-evento. Para esse departamento que cuida disso, eu tiro o meu chapéu. Por isso que eu não poderia deixar de estar aqui hoje com vocês, mesmo tendo que viajar. Eu tive que me programar nessa loucura. Acordei cedão, dei o informe diário, fui lá e peguei meia hora de onda pra poder ter esse equilíbrio dos negócios e, também, de me manter jovem, porque eu vou fazer 55 anos. Vou pro Havaí, vou pegar ondas grandes, se Deus quiser, com muito respeito ao mar. Mas esse equilíbrio do surf e dos negócios é o que me faz sentir tesão e amor pela vida, é o que me dá uma vida colorida.
PATROCÍNIO PETROBRAS Há seis anos atrás saiu num jornal que a Petrobras ia fazer uma concorrência. Você mandava pelo correio as suas idéias para um grupo analisar. Não é uma concorrência. Tem um nome específico que não me veio. Eu não conhecia ninguém na Petrobras e queria participar desse documento, mas era só para associações e federações. Eu peguei o telefone, liguei e falei: “Talvez vocês não me conheçam, meu nome é Rico de Souza, sei que vocês estão lançando esse projeto de eventos que trabalha com praias e escolas de surf, entre outras coisas. Eu queria entrar, mas é só pra associações e federações”. E eles liberaram pra eu participar da coletiva de imprensa. Quando cheguei à coletiva, tinha as autoridades com quem eu me relacionava, porque eu faço parte da Comissão Nacional de Atletas, represento os atletas olímpicos, o que me abre a cabeça para ver o esporte como um todo. A minha idéia era fazer uma escola de surf, mas na época a Federação estava disposta a fazer um projeto de uma super escola de surf em diversos estados no Brasil. Fiquei preocupado, porque é difícil administrar uma escola, ainda mais pelo Brasil todo. Abri mão desse projeto e resolvi falar dos velhinhos. Os velhinhos são do longboard, que produzem pranchões. Eu achei que podia vender a imagem do longboard. Foram muitos projetos, uns 50 ou 60, e só 16 seriam escolhidos. Um dia eu estava entrando na minha garagem, nem me lembrava mais que tinha mandado o projeto. Peguei o projeto com um amigo meu, o Guido, que é uma pessoa que conhece grandes empresas, sentei, tracei objetivos, fiz dentro do modelo, fiz da forma correta, deixei bem claro os custos do trabalho, custos abertos, que não é o valor do evento, são as camisetas, as pranchas, tudo determinado. Então, alguém me ligou da Petrobras dizendo que o meu projeto havia sido escolhido. Eu nem acreditei O projeto foi escolhido e eles até convidaram a escola de surf que tenho na Barra para lançar todos os projetos na praia. Ao invés de fazer em um hotel ou de um lugar mais convencional, onde normalmente se faz, escolheram a praia, fizeram um buffet e lançaram lá os 16 projetos selecionados.
Passou um ano, me dediquei muito ao projeto, fiz questão de fazer bem feito, bem organizado, vendendo a imagem do longboard, o comportamento. Tem o surf profissional, que são as grandes estrelas, o Picuruta Salazar, o Marcelo Freitas, que são da nova geração do longboard; tem os amadores, com garotos de 15 anos, e competidores que são pais de 40 a 50 anos. A mídia se interessa por esse comportamento. Fiz também um trabalho de preservação do meio-ambiente, um trabalho social, ensinando crianças e arrecadando alimentos. Fiz com amor e, logicamente, deu certo, foi um sucesso. Catorze empresas foram cortadas, dentro dessa seleção só ficaram duas. Eu me orgulhei de estar entre as duas, porque eu batalhei pra isso A Petrobras patrocinava o longboard, que eu faço, e o surf feminino. Um dia eles me perguntaram: “Rico, o que você acha de patrocinarmos o surf profissional?”. A equipe perguntou e eu falei: “Pô, eu acho fantástico, porque vocês patrocinam dois segmentos, o longboard e o surf feminino, e o principal vocês não patrocinam”. Então, fecharam o circuito profissional. As pessoas que trabalham para a Petrobras têm realizado um trabalho muito bom. Não adianta só patrocinar um segmento, tem que ser o todo, de forma que todos os brasileiros, de norte a sul, possam usufruir o longboard, o surf feminino, o surf profissional, assim como, de alguma forma, os amadores também. Eu queria parabenizar a forma como a Petrobras patrocina o surf, não só no surf. Onde a Petrobras faz alguma coisa, ela faz de uma maneira inteligente, estruturada, programada e com segurança. Eu acho muito legal, trabalhando pra vocês eu estou cada vez aprendendo mais também.
CAMPEONATOS O campeonato era no Rio e em São Paulo, em duas etapas, a primeira etapa foi em Santos e a segunda foi no Rio de Janeiro. A Petrobras, conversando comigo, disse: “Rico, precisamos desenvolver o surf no nordeste. Qual o estado do nordeste você acha que vai ter mais visibilidade?”. Eu procurei uns amigos que entendem mais da mídia e me apontaram a Bahia. O objetivo era crescer no nordeste, mas não tinha quase nenhum surfista competindo no nordeste de pranchão. Procurei as associações do nordeste e eles passaram a competir no mesmo modelo de competição de amadores, que é até 19 anos, de 19 a 29 anos, de 29 a 39 anos, de 39 a 49 anos e de 50 anos em diante. Hoje, depois de vários anos, num campeonato local tem 120 atletas competindo nesse modelo, o Rio de Janeiro não tem isso. Os baianos fizeram a integração do nordeste. Na época, tinha poucos eventos, hoje existem campeonatos brasileiros, campeonatos em Recife, campeonatos internacionais, campeonatos na Bahia, o profissional mundial feminino, grandes eventos. A Petrobras fez o objetivo dela, crescendo no nordeste. Agora está focando em Vitória, uma cidade cheia de petróleo, que está crescendo muito. Ela tem interesse lá, e o surf não está bem desenvolvido. Eu cheguei lá, eu patrocinava o Nelsinho Ferreira, campeão brasileiro, e sempre tive boas amizades. Eles me ajudaram, e consegui botar a nova com a velha geração da Federação trabalhando em conjunto. A Federação vai desenvolver um bom trabalho lá. O Nelson era amigo do vice-governador de lá, o Ricardo, que é surfista. Ele está abrindo as portas pra mim. A gente vai galgando e todo mundo sai ganhando.
Quando eu realizo um campeonato para a Petrobras, eu não tenho como objetivo chegar lá e realizar o campeonato. Isso é muito fácil, qualquer um faz campeonato. Meu objetivo é ver o crescimento do esporte, ver o crescimento da Federação, ver o esporte como um todo, juntar as alianças empresarias. Todo evento que faço, há um coquetel, um jantar, chamo os líderes das Federações, chamo os grandes surfistas, procuro os artistas, procuro pessoas que possam de alguma forma contribuir. Procuro os políticos que estejam ligados em preservar o meio-ambiente, pessoas do bem. Independente de partido, não é o meu objetivo, eu procuro unir as pessoas que se preocupam com o meio-ambiente e com o crescimento do surf no estado. O campeonato dá mais visibilidade, o atleta passa a competir com regularidade. Se não fosse a Petrobras, o longboard no Brasil não existiria. Os brasileiros hoje estão motivados, competem com mais regularidade, fazem o crescimento do esporte. Todo mundo sai ganhando, não é uma coisa que só um sai ganhando. Eu tenho essa responsabilidade, agora em Vitória, toda semana eu vou pra lá.
Agora que eu estou indo pro exterior, a minha equipe vai pra lá, porque é muito mais difícil abrir num lugar novo, você tem que fazer uma coisa legal, chegar com humildade, chegar mostrando que você vê o crescimento do todo. Não é só chegar lá, usufruir e fazer o campeonato, tem que deixar as praias limpas, tem que fazer um trabalho social, tem que estar interado com as lideranças, tem que ser simpático com a mídia, ter visibilidade. No nosso evento do ano retrasado, eu quebrei o recorde colocando 42 surfistas em uma mesma onda. Eu planejo isso para trazer mais visibilidade pro campeonato, não é porque eu quero bater o recorde mundial, é um projeto que planejo e faço. Porque ter idéia, qualquer um tem, agora, realiza-la é um pouco mais difícil. Quando você fala em reunir – isso é até tema de palestra – numa equipe você tem que ver o lado da segurança de todas as pessoas, tem que chamar as pessoas, você não pode chamar 100 atletas, tem que usar aquela equipe que está lá, eu uso a mídia, uso o palanque. É um momento sério. É uma estratégia que tenho, a gente otimiza serviço, para conseguir fazer aquilo de uma forma correta.
A MAIOR PRANCHA DO MUNDO Bati o recorde, saiu no Guiness de 2007. Em 2006, eu fiz a maior prancha do mundo. É por isso que eu estou indo pro Havaí. Vou receber uma homenagem de um governador, o Fred Hemmings, campeão do mundo em 1966. Quando eu bati o recorde aqui, saiu no Brasil, em Nova York, no Kuwait, em Portugal e em vários lugares da Europa. No Havaí saiu numa página inteira, o senador me mandou um cartão dando os parabéns pelo feito, pela página do jornal e uma carta com o selo do Duke Kahanamoku. Pra quem não sabe, o Duke foi um campeão olímpico em 1910, 1912. Isso é cultura. Ele era nadador e quando ele ia pra Europa e pra Austrália competir, ele apresentou o surf. O surf começou dessa forma, o Duke Kahanamoku é uma lenda viva, ele levou o surf pra Europa e pra Austrália. Hoje as principais vias no Havaí têm o nome do Duke, tem um museu e um bar. Quando veio o selo do Duke eu imprimi tudo. Contando essa história pro pessoal do Guiness, eles acharam interessante o senador me entregar o diploma do novo recorde. Ele aceitou e estou indo pra lá. E é legal, porque eu quero visitar o Museu do Surf, os outros museus, também vou fazer matérias com o pessoal da nova geração, resgatar histórias antigas. Estou me preocupando com esse lado cultural do surf, trabalhando nessa linha também.
RICO POINT Tem uma história muito legal, da qual eu me orgulho muito. Há 13 anos atrás, conversando com um amigo, ele falou: “Eu queria que você fosse um líder dos quiosqueiros. Eu acho que essa idéia seria legal”. Eu fiz um projeto pra Prefeitura dizendo que queria ter o ponto daquele quiosque, que eu ia cuidar das crianças carentes e do meio ambiente. Durante cinco anos isso ficou sendo aprovado no Instituto Pereira Passos e em várias áreas da Prefeitura. Eu fiquei até surpreso com a forma como eles questionaram o meu trabalho, demorou cinco anos, mas quando saiu, saiu uma coisa legal, que faz sentido. O meu objetivo era ser uma pessoa representativa dos quiosqueiros e ter uma escola de 10% pra crianças carentes.
Hoje eu tenho uma escola com 100% de crianças carentes e cuidei da preservação daquela praia junto com a Associação de Surf do Recreio. Saiu no Diário Oficial o contrato com a Prefeitura e eu pensava que era só fazer o quiosque. Mas para ter o quiosque eu tinha que pagar todo mês. Quando assinei o contrato, eu já tinha que pagar todo mês o aluguel. E o quiosque não saía. Paguei durante três anos, sem ter o negócio. É muito difícil você ter o negócio sem ter a licença. É como ter uma loja no shopping, ter o ponto, e não poder vender. Eu deixei de pagar pra ver se eles continuavam cobrando, mas como estava em contrato não pode. Eles apontaram meu nome para a dívida ativa, eu paguei antes que meu nome fosse pra dívida ativa, procurei ter uma audiência com o secretário de fazenda, ele me recebeu muito bem, eu expliquei pra ele e nada pôde ser feito. Depois de seis meses, mandei outro e-mail, fui mandando cartas pra ele. Depois de um ano, procurei-o de novo, persistente, e falei: “Vou parar com isso. Eu não posso pagar por uma coisa...”. Eles também não me liberaram, continuei pagando aquele negócio e, depois de muito tempo, por causa do Projeto Eco-orla, um projeto de preservação das praias e da vegetação, a Praia da Macumba estava sendo urbanizada, e eu pude ter o quiosque, porque senão ia demorar mais ainda pra sair. Eu fico orgulhoso de ter esperado ao invés de brigar. Eu tentei negociar, fiz muitas amizades nisso. Hoje o Rico Point está lá, um lugar onde se preserva a natureza, fazemos um trabalho legal, atendemos de uma forma limpa e com bons produtos. Eu acho muito legal o que estou fazendo lá. Só vai uma rapaziada maneira.
O quiosque tem um toldo enorme, porque nessa época a legislação das praias permitia isso. Hoje em dia já não permite, se eu quiser ter outro quiosque naquele modelo, eu não poderia ter, não só a tenda que cobre o quiosque, como o quiosque da forma que foi projetado, porque ia ser caro e eu sei que a rentabilidade é pequena. O quiosque é mais pra você estar com os amigos, estar na praia. Eu fiz o quiosque padrão, ganhei da Prefeitura, igual a todos os quiosqueiros também, e mantive a cobertura, porque é caro para manter aquilo ali. Uma coisa muito legal é que eu era um cara diferente no meio dos quiosqueiros, outro dia eu estava indo pegar onda e um quiosqueiro me chamou, um senhor de cabelos brancos, que fica do meu lado: “Rico, eu queria falar que é um prazer ter você aqui com a gente como quiosqueiro. Você é um cara que tem acrescentado, que tem feito um trabalho legal. Está ganhando com isso, traz negócios pra todo mundo”. Vindo de uma pessoa do meio, uma pessoa humilde, uma pessoa do coração, eu fico muito orgulhoso, representa muito.
O Rico Point e administrado pela minha esposa, é um pouco trabalhoso no final de semana, mas estamos lá, dando um gás, está sendo legal. Eu faço campeonatos lá. Outras pessoas organizam campeonatos lá. Eu já faço esse trabalho social há muito tempo na escola da Barra. Quando eu fiz esse projeto na escola da Barra, pegando várias crianças carentes de institutos, mas elas acabavam faltando. Tipo assim, seis meses eu trabalhava com o grupo, um ano, um ano e meio, aí as crianças perdiam o transporte, porque mudava o governo e os garotos iam todos embora. Eu pagava a passagem, mas a vida deles é tão difícil, que mesmo pagando a passagem eles acabavam não indo. Resolvi abrir na Macumba, porque é em frente à comunidade deles. Tem até um garoto que eu peguei de lá, o Deca, todo mundo o conhece. Hoje ele é um dos principais do ranking brasileiro. Há alguns anos atrás, ele foi apontado como um dos melhores atletas profissionais do mundo. Ele foi patrocinado pelo restaurante Spoleto e por uma empresa de São Paulo para disputar a etapa final do mundial, de 80.000 mil dólares, na Nova Zelândia. Tiramos o passaporte dele, compramos a passagem, mas ele perdeu o avião, a mulher dele acabou não o deixando ir, sei lá, ou ele ficou com medo porque não falava a língua, mas foram vários brasileiros.
OFICINA DE PRANCHAS Eu acho que plantei uma semente legal, o Deca é um garoto que tem dez irmãos, assistente de pedreiro e que hoje está no ranking brasileiro, dá aula de surf e foi reconhecido como um atleta de ponta. É um benefício que acho que estou trazendo e aprendi muito também com ele. Hoje eu tenho dez crianças que ensino a pegar onda, tenho mais 15 ou 20 crianças que ensino a consertar prancha. Sempre fico nisso e não consigo sair do lugar. Então, este ano eu estou viajando, assinei contrato com uma casa simples onde vou dar um lugar pra eles consertarem pranchas, onde eles vão ter uma salinha que eu vou fazer um mini-museu do surf, onde eu vou poder botar mais crianças pra aprender a trabalhar com computador. Eu vou botar uns computadores, mesmo que sejam velhos. Estou fazendo isso. Arrumei o Kastrup, que é um amigo meu, ele tem uma empresa imobiliária e é construtor também, ele está fazendo a obra pra mim e fez umas pranchas pras crianças. Estou fazendo uma coisa sem compromisso com ninguém, sou eu mesmo e o Kastrup, é uma coisa legal. Se eu conseguir, nesse próximo ano, quero ter uma pessoa que me assessore a cadastrar os garotos, pra falar com a assistente social e conseguir alguém que dê aula de computação. Imagine um campeonato da Petrobras que a criação dos garotos seja feita através desse trabalho social? Já coloquei uma logomarca, coloquei Escola de Surf, botei os bonequinhos, vamos fazer umas camisas de lycra pra eles, vamos fazer tudo barato, nada caro, mas tomara que esse trabalho evolua. Quando eles estão consertando pranchas, damos um lanche pra eles. Os garotos são tão pobres, que às vezes eles iam mais pelo lanche do que pra aprender a consertar prancha. Quem sabe daqui a um ano, porque eu acho que tem várias empresas que querem apoiar esse trabalho. Mas eu preciso fazer o dever de casa primeiro pra ver se eu estou apto a receber esse tipo de apoio. Aos pouquinhos eu vou, da minha forma. Se passar um ano e eu não conseguir me organizar, continuo o que estou fazendo da mesma maneira e está tudo legal. Se eu evoluir, estiver organizado, e aceitar um apoio, poderemos crescer, ir pra um outro lugar, porque está escondido numa casa simples, na casa de um instrutor nosso. Antes era uma igrejinha pequenininha. Vai ser legal, é sempre mais uma experiência, mais uma batalha buscando algo novo. Eu gosto muito de buscar oportunidades. O Deca ficou 15 anos comigo. Agora ele já bateu as asas, está no caminho dele. Depois que eu fui pro Recreio, tenho menos entradas e saídas. Hoje eu tenho garotos que estão a três ou quatro anos. Eu quero ver se melhoro. Eu vou às escolas, falo que os garotos têm estudando e a diretora da escola manda os garotos pra gente. Mas tudo é muito difícil, da maneira que eu estou falando aqui parece muito fácil, mas agora cadastrando alguns garotos, que falam comigo como falo com você, alguns não sabem a idade que tem, não sabem o endereço, o nome do pai. Estão na nossa cara, convivem conosco. Eu falei: “Cara, se vocês não se agarrarem a uma oportunidade pra ter uma melhor educação, ter um emprego ou abrirem uma fabriquinha de conserto de prancha, vocês estão roubados, porque a dificuldade é grande”.
POR UM BRASIL MELHOR Todo mundo fala em como resolver o problema da violência e tudo isso, mas um grande problema que ninguém fala é a falta de controle da natalidade. É a primeira vez que eu estou falando isso na minha vida, não estou querendo mexer com a igreja, com o preservativo, não estou tratando disso. Mas se educarem as pessoas a não terem filhos, só os que elas podem sustentar, a coisa melhora. Um garoto tem dez irmãos, eles não têm oportunidades. Ter de seis ou oito filhos, esses seis ou oito filhos vão se multiplicar e por aí vai a necessidade, a violência, a falta de estrutura, a dificuldade. Eu acho que é preciso uma ação de controle de natalidade através de educação, junto com um trabalho educacional e social, fazer um trabalho para uma polícia melhor.
Não adianta agir só num ponto, do jeito que o mundo está sendo conduzido, com tanta gente nascendo, a competitividade, as dificuldades aumentam a cada dia. Esse é o meu ponto de vista, talvez eu tenha a opinião diferente de outros, mas eu não vejo nenhum político falando desse controle de natalidade. Você não precisa mexer com a igreja e com preservativo. Eu tenho dois filhos, um de 19 e um de oito. Eu não posso ter mais filhos, se eu tiver mais dois ou três filhos vou ficar mais maluco. Não vou poder dar atenção, carinho, parte financeira e escola. A pessoa tem que dar o passo do tamanho da sua perna. Eles têm uma diferença de 11 anos de idade, mas foram planejados, porque eu não podia ter outro filho. Só de uns anos pra cá que as coisas começaram a correr mais legais profissionalmente.
Antigamente, há 30 anos atrás, quando se tinha dois, três, quatro filhos, era mais fácil. A família de classe média, uma pessoa que tem uma condição legal coloca um monte de empregada, mesmo assim é difícil. Por exemplo, numa mesma educação, você vê uma criança bem educada e o outro filho mais rebelde. Eu acho que temos que pensar bem. Acho que não precisamos ser tão radical como em alguns países, como na China, que tem uma forma diferenciada de tratar o assunto. Mas temos que começar de alguma forma a mostrar as pessoas que não adianta ir pras ruas e deixar os filhos pegando dinheiro na rua pra ajudar a mãe, que não é uma forma inteligente. Estou querendo ver um Brasil melhor, que se preocupe com o meio-ambiente, um Brasil com mais oportunidades, um Brasil crescendo. Estou torcendo.
Cada um plantando a sua sementinha, muito pequena, talvez não tenha um resultado expressivo, mas é uma semente que eu planto, é uma semente onde outras pessoas podem seguir a minha idéia sem muito esforço. Não adianta você sair da sua vida pra cuidar só dos carentes, é importante fazer algo que possa ter continuidade pra que tenha resultado. Essa é a forma como eu vejo, humildemente. Se um cara não tem grana, é um pintor e a escola está ruim, ele vai lá no final de semana e faz uma pintura. A moça é costureira, não tem grana, mas sabe escrever bem, é bem alfabetizada, vai lá e ensina o garoto a ler e escrever. Não podemos esperar por todo mundo, pelo Governo Federal, pelo Governo Estadual e pelas prefeituras no Brasil darem um recado. Eu acho que cada cidadão, da sua forma, pode dar sua contribuição. Se todo mundo der uma grande contribuição pode dar um grande resultado. Só que ninguém fala nisso. É uma doideira. Eu queria mudar isso. Nós vamos demorar, mas vamos chegar lá.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Na vida acho que temos que saber o que queremos. Eu contei um pouco da minha história pra vocês e acho que aquela vez que eu fui competir no Peru, em 1969, 1970, foi marcante. Fui lá pela primeira vez, cheguei lá, minha prancha quebrou ao meio, a minha prancha estava toda errada pra competição. O Peru, antigamente, pra quem não sabe, era o centro do surf mundial. O Eduardo Arena era o presidente. Quando eu cheguei lá conheci o Jeff Hackman, Gerry Lopes, Brad Macall, Joey Cabell, Gordo Barreda, grandes surfistas. É como se hoje eu falasse no Kelly Slater e Andy Iron, os caras de ponta. Eu me afundei na competição. Aprendi a fazer uma prancha boa e no ano seguinte fui pra final. Eu achei um contraste legal um ano me afundar e no outro chegar à final com surfistas de ponta do mundo. Depois fui pro Havaí, já falei daquela história da frustração da Califórnia, que eu achava que era mais legal. Tem ondas boas, mas no momento em que fui tive dificuldades. Depois fui pro Havaí, onde surgiram nova oportunidades, morei com o campeão mundial, o surf começou a abrir. Foram momentos muito legais. Mas hoje eu estou aqui com 54 anos, indo pra 55, e as pessoas às vezes acham que tudo acontece rapidamente.
Outro dia eu estava dando uma palestra numa universidade e uma moça disse: “Rico, tudo que você faz dá certo, é legal. Por que você não faz isso e aquilo...”. Eu vi que a moça estava querendo pegar no meu pé, aí falei um pouco das dificuldades que eu tive, que hoje é mais tranqüilo, mas que pra chegar aonde cheguei tive que ir contra a minha família, largar universidade... Nos anos 70 ninguém ganhava dinheiro pegando onda e consertando prancha. Minha grande contribuição é mostrar que quando você ganha dinheiro, depois que o surf começou a se profissionalizar, no final dos anos 70, no início dos anos 80, o esporte passou a ter um respeito diferente pela sociedade. Antigamente, o surfista pegava dinheiro: “Papai, mesada. Compra isso. Me dá um carro”. Quando você vai lá e ganha um campeonato é diferente. Estou feliz, meu filho acabou de voltar do Peru e ganhou a primeira etapa do Pró-júnior profissional e amador, em janeiro. Voltou agora e ganhou a segunda etapa também. É legal quando ele ganha o dinheiro do patrocínio dele, quando ganha o dinheiro dos campeonatos ou vai buscar novos patrocinadores. Ele passa a ter um respeito diferente. Quando é o pai que dá, nada tem valor. Não é que não tenha valor, mas quando buscamos, compra a nossa prancha vendendo jornal, tampa de leite, quando compra a prancha ou o seu primeiro carro – pode ser aquele fusquinha, eu tive vários fusquinhas – é diferente. Eu acho que temos que valorizar isso.
MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho muito legal. Hoje eu sou uma pessoa mais preocupada com o surf de uma forma cultural também. Depois que eu passei a trabalhar com a Petrobras, vejo que sempre existe uma preocupação cultural e ambiental. Eu vejo que temos que preservar a cultura do nosso esporte. Estou pegando alguns jornalistas para fazer “O baú do Rico”, como apelidamos, e vou resgatar aquelas fotos. Tenho uma “Super 8” dos anos 70. Vai ser um trabalho em longo prazo. Peguei o Rosaldo e o Gerson pra me ajudarem nisso, e vamos resgatar. Vocês estão de parabéns, me sinto orgulhoso e valeu a pena ter me organizado antes pra fazer essa entrevista, porque hoje é o dia da minha viagem. Estou muito otimista, acho que o Brasil e os surfistas se encontram num momento mais maduro, de forma que já existe essa preocupação, não só da minha parte. Ela começou com os mergulhadores, com os pioneiros, com o Charuto, o dono da loja Richards, com o Arduíno Colasanti, que foi um grande artista de cinema, o Badué, o Barriga, o Ciro Beltrão, coronel Parreiras, Russel Coffman, Paulete, e muitos outros. Foi muito legal. Eu queria dedicar essa entrevista, como eu fiz no meu vídeo, aos pioneiros do surf brasileiro, à nova geração e a todos que contribuíram com o crescimento do nosso esporte: Aloha, boas ondas Rico de Souza. E obrigado pela Petrobras ter me dado essa oportunidade, por me dar oportunidade de realizar um bom trabalho com o surf brasileiro. Não só eu, mas a Márcia, que também trabalha fazendo surf profissional, a Layla que faz o surf feminino. É uma oportunidade única que nós temos, e nós temos que lutar pra fazer o melhor pra que o esporte possa crescer como um todo. Parabéns a nova geração e alohaRecolher