P1 – Regina, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento. R - Eu sou Regina Célia da Silva Freitas, eu nasci em São Paulo, na Freguesia do Ó, em 16 de dezembro de 1957. P1 – Que curso que você fez, Regina? R - Serviço Social....Continuar leitura
P1 – Regina, para começar eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Eu sou Regina Célia da Silva Freitas, eu nasci em São Paulo, na Freguesia do Ó, em 16 de dezembro de 1957.
P1 – Que curso que você fez, Regina?
R - Serviço Social. Eu sou assistente social, graduada pela Faculdade Paulista de Serviço Social. Atualmente estou fazendo curso de Terapia, Pós-graduação em Terapia familiar e de casais.
P1 – Quando é que você se formou?
R - No ano passado, 2001.
P1 – E quando é que você entrou no Aché?
R - Agosto de 2002, ingressei como estagiária...
P1 – Agosto de 2000 e...?
R - 2001.
P1 – 2001?
R - 2001.
P1 – Tá
R - 2001. Ingressei como estagiária... Não, 2001 nada O que é isso? Olha... 2000. O que é isso? Foi em agosto de 2000, como estagiária, eu estava no terceiro ano, e numa evolução e um crescimento do Serviço Social, ele se desmembrou em duas partes, e a parte de Serviço Social e Projetos Sociais Internos ficou sob minha coordenação, e eu efetivada esse ano.
P1 – Como é que foi essa tua entrada no Aché?
R - Bastante conturbada, tinham muitas candidatas. Na primeira dinâmica e primeira entrevista eu não passei, uma outra pessoa foi admitida. Passei por algumas gozações na faculdade, porque, nenhum preconceito, é claro, porque a gente ficou muito amigo, era um portador de deficiência visual, aliás uma pessoa assim muito batalhadora, muito competente. Ficou uma vaga de estagiário, ele entrou em abril, foi quando eu vim com ele. E eu só fui chamada mesmo em julho do mesmo ano. E nós trabalhamos juntos, então quando eu perdi a primeira vaga, na primeira entrevista, o pessoal tirou um sarro da minha cara, que eu não tinha competência, essas coisas. Mas depois eu fui chamada, abriu uma outra vaga, que a outra estagiária passou num concurso público, e aí eu vim para o Aché.
P1 – Você lembra do teu começo no Aché? Como é que foi o teu primeiro dia de trabalho?
R - Foi bastante complicado, porque foi numa época de muita transição, né? A gerência mudou, a coordenação do Serviço Social foi para uma outra empresa, a assistente social que ficou foi a Sueli e ela ficou praticamente só. Ela perdeu duas pessoas ao mesmo tempo, a coordenadora e a estagiária que estava com ela. Então, eu entrei numa época assim de muita correria. E éramos dois, eu e o Antonio, que era deficiente visual, então a gente tinha que dar conta do que eles faziam praticamente em quatro.
P1 – Como é que estava organizada essa área do Serviço Social quando você chegou?
R - Muita coisa continua como hoje, são projetos que já existiam e que a gente está tocando. Algumas inovações foram surgindo, mesmo porque um crescimento dos projetos sociais externos é que causou essa divisão de Serviço Social em duas partes, o interno e o externo.
P1 – Quais são os principais projetos internos?
R - Os internos, a gente tem o quê? Semana da Solidariedade, são programas que a gente chama: Jantar do Estudante, o Grupo Gestante, como vocês tiveram a oportunidade de conhecer. Há algumas outras ações isoladas dentro de um programa que a gente quer implementar melhor, de qualidade de vida, entendeu? Que seriam programas de preparação de aposentadoria, terapia breve e apoio psicológico, que a gente está precisando ultimamente em decorrência desses problemas sócio-econômicos que geram os conflitos familiares e que, naquele efeito em cadeia, gera na conduta, no comportamento do funcionário. E outros projetos que estão surgindo por aí. Em implantação agora, o Ouvidoria Social.
P1 – O que é o Ouvidoria Social?
R - O Ouvidoria Social, na verdade, é um canal de... É um canal aberto entre o funcionário e a diretoria. Então, qualquer manifestação que ele tenha, insatisfação, crítica, sugestão, elogio, o que ele quiser falar e quiser ser ouvido, é um comprometimento de confiabilidade, confidencialidade, entendeu? E, nessa proposta, o objetivo maior é monitorar o clima organizacional, porque aí você está percebendo onde tem um foco, onde tem um conflito, o quê precisa ser feito, ações preventivas, e não corretivas, de bombeiro, que é o que a gente costuma, infelizmente, atuar.
P1 – Você sabe como é que nasceu essa idéia do ouvidor?
R - Olha, ouvidor, ouvidor, o que a gente ouve falar assim, aí fora, é uma coisa mais voltada a cliente, consumidor, tal. Ambiente interno não são muitas empresas que estão adotando isso, não. É uma política bastante, não vou falar que o Aché é pioneiro, não é, já tem essa política em algumas empresas. Aqui no Aché é novo, já teve alguns outros projetos parecidos, mas não é a mesma coisa, e a gente tem a esperança que isso realmente deslanche, que funcione conforme ele foi proposto, conforme ele foi traçado.
P1 – E como é que surgiu essa idéia aqui dentro, de fazer uma Ouvidoria?
R - Monitorar o clima organizacional, mesmo.
P1 – Dos outros projetos que você citou, Regina, tem algum que você gosta de forma especial, que você podia contar mais um pouquinho?
R - O Grupo Gestante eu acho muito legal.
P1 – Como que é esse Grupo?
R - Bom, o Grupo Gestante são as reuniões que a gente coordena, são mensais, a gente divide em dois módulos, então: quatro reuniões no primeiro módulo, quatro reuniões no segundo, durante o ano. Então a gente tenta implementar informações, consciência corporal, informações de saúde, ecologia, obstetrícia, cuidados com o bebê, desenvolvimento infantil, pediatria mesmo. Agora estamos colocando uma nova abordagem sobre psicologia da gestante, que é um projeto que a gente tinha já anteriormente para estar conversando com eles, embora seja diferente, a gente queria envolver família, o pai, mas ainda não foi possível. Mas é legal, tem bons resultados, muita gente pode falar: “Nossa, mas são informações que todo mundo tem acesso.” Não é. A gente pensa que tem. “Ah, mas todo mundo sabe.” Mas não tem.
P1 – Tem algum momento, alguma história relacionada ao grupo que te marcou de forma especial assim, que você podia contar para a gente?
R - Ai, teve um caso de uma gestante que participava do grupo, e o marido ligava... (risos) Para saber o que estava sendo abordado, ele queria saber e eu o convidei para vir participar, mas ele ficou com vergonha, não quis vir. Mas ele era muito participativo, ela participava do grupo, levava a apostila para ele ler, porque a gente distribuía material, e ele ligava para tirar dúvida, ele parecia mais empolgado, interessado até, do que ela.
P1 – E você sente assim um impacto na vida dessas mulheres? Que tipo de resultado que provoca esse grupo?
R - Olha, eu acho assim, resultados: eu acho muito bom, satisfatórios, eu só tenho recebido elogios por todo o trabalho que a gente desenvolve. Mesmo porque, assim: a mãe do Aché, a colaboradora do Aché, ela tem a facilidade de ter um CDI interno. Então ela já começa, a partir da gestação, ela sabe que vai ter um caminho tranqüilo a percorrer, ela não tem aquela coisa assim: “Depois que o nenê nascer e eu voltar a trabalhar, o que eu vou fazer? Com quem vou deixar o meu filho?” Então, ela já vai se preparando, é uma forma mais tranqüila, muito diferente de outras empresas que a gente vê, que têm essa preocupação.
P1 – Antes de a gente falar do CDI, eu queria ainda saber um pouquinho das gestantes. Além do grupo, desse encontro mensal, tem todo um programa pensado para as gestantes, que inclui alimentação, não é? Como que é isso?
R - Dentro dessas palestras que eu falei, é que eu não falei de todos os temas, tem nutrição também, alimentação da gestante, alimentação do bebê.
P1 – Mas elas, por exemplo, elas têm um reforço, não? Elas têm uma refeição extra?
R - Sim, sim. Nós temos assim: no programa Grupo Gestante, além do café da manhã que é para todos os colaboradores, às 9:00 da manhã tem o lanche da gestante, às 15:00 horas mais um. Então elas têm 15 minutos de manhã, 15 minutos da tarde, para estar repondo essa carência que elas têm de alimentação. E, mesmo depois, quando ela estiver em fase de amamentação também, ela vai fazer o período de amamentação com o bebê, e ela toma um lanche lá. Normalmente líquidos, porque desidrata um pouco, então é uma atenção que a gente, você vê, desde o começo até o final.
P1 – Aonde é o espaço de amamentação?
R - No próprio CDI.
P1 – No próprio CDI?
R - No CDI.
P1 – O que é o CDI, Regina?
R - O CDI é o Centro de Desenvolvimento Infantil. Não é considerado uma creche, porque lá existe todo um trabalho de educação, educacional, uma proposta construtivista. Então o bebê ingressa no CDI, ele já tem atividade educativa, aulas de movimento, música. Então quem pensa que bebê come, bebe e dorme, se engana. No CDI ele tem atividade, tem toda uma rotina de atividades, para cada faixa etária, é claro, mas tem. Então nós temos hoje lá 77 crianças, na idade de 4 meses a 3 anos e meio, mais ou menos, e são divididos em faixas, até Infantil 2, que é quando eles saem.
P1 – E qual você acha que é o significado do CDI para essas mães, para essas famílias?
R - Olha, em âmbito geral é qualidade de vida. A mãe tem toda a tranqüilidade de deixar o seu filho de manhã, vir trabalhar sossegada, qualquer ocorrência ela pode ir até lá, que ocorra uma questão de doença, alimentação, roupa, tudo, a mãe não tem que se preocupar com nada. Se tiver um problema, até de medicação, é dado lá mesmo, contactar no setor: “Olha, está febril, não está...” Vai no pediatra, nós temos um pediatra que atende também lá três vezes na semana. Tem uma técnica de enfermagem, as coordenadoras, a gente está sempre no suporte entre CDI e a mãe.
P1 – E para as crianças o que você acha que representa, elas terem o CDI?
R - Olha, é um crescimento, é um desenvolvimento ali. A criança que passa pelo CDI sai muito mais esperta, mais com expressão corporal, mais desenvolvida, porque tudo ali é muito estimulado. A gente já fez esse comparativo com crianças que não freqüentaram nenhuma creche, ou que freqüentaram creche, essas que a gente, ditas creches mesmo, então eles têm um desenvolvimento muito grande. Motor mesmo, e psicológico, cultural, sabe? É perfeito o trabalho que é desenvolvido lá.
P1 – Teve algum momento, alguma festinha, alguma história ligada ao CDI que você gostaria de registrar?
R - História ligada ao CDI... Bom, a gente tem uma história não muito alegre ligada ao CDI, não sei se convém falar. Mas assim, o CDI na verdade abrangia uma faixa etária maior de crianças, então tinham 174 crianças até dezembro de 2000. Então a criança saía daqui no Pré, e já ia para o Ensino Fundamental. Mas, por questões várias, foi mantido só a parte de Mini Maternal e Jardim. E essa cessão de benefício, essa redução causou um impacto muito grande nas mães, porque perderam esse benefício. Porque podiam ficar tranqüilas até seis anos, agora só até três. Então esse foi um impacto muito grande que nós tivemos que absorver, contornar, administrar, até hoje ainda sobra ali uns restinhos de dissabor do que foi que aconteceu, mas...
P1 – E olhando para o futuro desses projetos, pensando no CDI ou da qualidade de vida, qual que é o teu sonho? Qual deles que você sonha que cresça, que se desenvolva, qual o projeto que você...
R - É, o que eu quero é que esse projeto de qualidade de vida que a gente, que aquilo seja mais abrangente mesmo, que ele realmente funcione, que ele traga o que a gente espera, que é a qualidade de vida para a mãe e para a família.
(INTERRUPÇÃO)
P1 – Retomando, mas o que é hoje esse projeto de qualidade de vida? Hoje como é que ele está, em que pé ele está?
R - É o que nós temos assim: qualidade de vida, a gente tem algumas ações voltadas à manutenção da saúde, temos o Grêmio que precisa ser mais explorado e ter uma participação maior, uma conscientização maior dos colaboradores, para estar participando dessas ações de lazer, condicionamento físico, entendeu, essas ações. Manutenção da saúde, mesmo. A gente já tem aqui uma parte de Grupo Cardápio que cuida muito bem da parte de alimentação e tudo. Nos projetos sociais o que a gente quer é que ele cresça e que abranja mais as famílias, porque está voltado muito a funcionário. Mas tudo o que envolve funcionário, envolve a família, e o reflexo vem de lá.
P1 – Como que é essa relação do Aché com as famílias?
R - Olha, é assim: a atuação do Serviço Social é dentro do que o funcionário nos traz. Então ele traz o problema e a gente tenta intervir, muito além dos recursos que a empresa nos dá. Então, enquanto profissional, o que a gente pode disponibilizar de recurso, passar orientação, e ir atrás até de recursos de fora a gente vai. Só que a gente não consegue trabalhar naquela coisa preventiva, de saber que o problema existe e, sei lá, intervir a tempo. Porque muitas vezes nos chega já muito tarde, e é uma coisa assim, de a gente estar mais junto do funcionário para detectar um desvio qualquer de comportamento, e analisar, perceber que ele está tendo um problema, que está refletindo no trabalho. Isso muitas vezes a chefia não percebe a tempo. Então é um dos projetos que a gente tem, o serviço de prevenção nas áreas, mais próximo, porque raramente o problema é o do funcionário, normalmente é da família, é um problema que a família está trazendo e ele não está sabendo lidar ou resolver.
P1 – Está certo. A gente já está chegando ao final, eu gostaria de saber o que você achou de ter contado um pouco do teu trabalho, um pouco da tua história para a gente?
R
- Eu sei que tenho muito mais coisa para contar para vocês, nossa rotina... (risos)
P1 – Se quiser contar mais alguma coisa, à vontade.
R - Nossa rotina é bastante extensa, eu trabalho, eu tenho uma estagiária comigo, a Ana Paula, então a gente divide um pouco ali as emoções, porque é realmente muita emoção. A profissão de Assistente Social, seja lá onde for que ela atue, ela é muito emoção, porque você trabalha e lida mesmo com a dor, não é coisa só festinha, o lado legal do Serviço Social, que aqui também tem festa de natal, brinquedos, tal. Mas muito com a dor. As pessoas são muito fragilizadas, a gente tem que ter assim uma personalidade bastante centrada para poder ajudar, porque senão a gente senta e chora junto. Então a gente tenta estar sempre assim, dividindo, buscando outras alternativas para poder ter um profissionalismo necessário para lidar com a dor do outro. Porque é o que nos chega quase sempre.
P1 – Nesse teu tempo de Aché teve alguma história que te marcou mais em especial?
R - Sim, tem uma história, são duas funcionárias, dois paralelos. Uma funcionária com um
problema oncológico, muito jovem, cada vez progredindo, um tratamento difícil, mas que ela tem um otimismo e uma vontade, uma coragem a toda prova. E um paralelo de uma outra, mesma faixa etária, que entrega a vida, entendeu? Não tem força de vida, não luta por ela, entrega. Então a gente vê dois paralelos: uma pessoa que luta, de todas as adversidades, de tudo o que caiu, e uma outra que está entregando a vida dela assim, de bandeja, sem fé, sem coragem, sem determinação, e tão jovens. Então isso para a gente marcou bastante, a gente não consegue entender o que move uma a ter tanta força, e a outra não ter nenhuma.
P1 – Essa experiência tua, profissional, ela significa o quê para você? Na tua vida assim, você acha que esse teu tempo, do que você está passando no Aché, já faz alguma diferença para você?
R - Sim, claro. É crescimento profissional, você lida com pessoas sempre, né? No Aché, seja lá em qualquer lugar, essa profissão nos traz um crescimento profissional bastante grande. Desgaste, sim, emocional também, mas tem um crescimento muito grande. No Aché sim, porque a gente tem esses recursos, temos autonomia para estar levando sugestão: “Olha, temos isso, precisamos disso, o que dá para ser feito?” Então a gente tem esse respaldo, todo esse respaldo, a empresa dá esse suporte. Então isso também é um fator diferencial de muitas outras empresas que a gente conhece, para a gente só contribui.
P1 – Você gostou de ter falado disso hoje aqui com a gente?
R - É legal, é diferente.
P1 – Por quê?
R - Acho que é interessante a gente falar também do nosso trabalho, da nossa vivência, claro, tem algumas pedras no caminho, mas a gente vai tentando ali ultrapassar dia a dia, que a nossa vida é assim. Eu acho interessante a gente poder falar, até parece que dá, valoriza um pouco o que a gente faz. Às vezes a gente sente que o nosso trabalho não tem valor, Serviço Social parece que não agrega valor, não dá lucro. Eu considero que dá sim, porque a pessoa estando de bem consigo mesma, estando de bem com a vida ela produz melhor, não é? E todos ganham, e é legal isso.
P1 – Está certo. A gente também gostou muito da tua participação, obrigada.
R - Obrigada. Se eu ficar famosa, depois... (risos)Recolher