Platibandas
Por Angelo Brás Fernandes Callou
Quando tive contato com o livro de Anna Mariani, Pinturas e Platibandas (Mundo Cultural, 1987), fiquei impactado. Disse pra mim mesmo: um dia pintarei essas molduras coloridas.
A singeleza do trabalho fotográfico das platibandas capturaras pela autora no Nordeste tinha tudo a ver comigo, pois, desde criança, tenho intimidade com elas. São lindas as de Triunfo, em Pernambuco, as de Princesa e de Areia, na Paraíba, as de Marechal Deodoro, em Alagoas... Em Pesqueira, minha cidade natal, há diversas delas. Na casa onde literalmente nasci, formava um conjunto de quatro exemplares iguais, num estilo meio art-déco. Atualmente, restou apenas um exemplar, onde mora até hoje uma amiga querida. Ela teima em não modificar a fachada. O que é um alívio, considerando que Pesqueira vem desfigurando e, muitas vezes, demolindo, a riqueza arquitetônica das platibandas e do casario antigo da cidade.
As 11 aquarelas-pinturas na série na série Platibandas foram espelhadas, despretensiosamente, nas fotografias de Anna Mariani e na memória das minhas andanças pelo Nordeste. Os pinheiros (de Roma), que aparecem na maioria delas, são a minha reverência diante da dor dos outros, como um dia se referiu Susan Sontag.
As pinturas fazem parte do meu treinamento para uma vida mais simples, pós-pandemia.