Nascido em Conchas (SP), filho de João Rodrigues de Camargo (in memoriam), funcionário público municipal da Prefeitura Municipal de Conchas e de Emília Antonelli de Camargo, funcionária pública estadual da Nossa Caixa, aposentada.
A origem do meu pai é de escravos e negros. Meu avô era negro e minha avó era escrava negra. A origem da minha mãe é de italianos, imigrantes que para cá vieram trabalhar no início dos anos 1900.
A casa da minha infância foi simples e sem nenhum luxo. Tínhamos uma vida pacata e humilde. No início somente meu pai é que trabalhava e quando eu tinha 10 anos minha mãe começou a trabalhar na Caixa Econômica Estadual do Estado de São Paulo, em Conchas. Meu tio Benedito, que na época era Assessor do Governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros, é que arrumou este emprego para minha mãe poder ajudar nas despesas do lar, já que o salário do meu pai era insuficiente, como funcionário público municipal em Conchas.
Tenho apenas uma irmã de nome Luzia Rodrigues de Camargo, que sempre gostou da área de artes plásticas e hoje em dia ainda estuda pintura e artes plásticas. A mana formou-se Professora Primária e depois estudou e passou a ser Professora Secundária, em Desenho e Educação Artística. Depois de 25 anos no magistério conseguiu aposentar-se e hoje vive com minha mãe, cuidando dela, em Conchas. Minha mãe é de 1915 e já esta idosa e carece de cuidados por ser diabética, sofrer de osteoporose e ter sido operada da perna direita, na qual foi colocada um pino metálico, na ligação entre a perna e a bacia. Anda hoje com muita dificuldade.
Meu pai era de 1910 e faleceu de CA na garganta e pulmão, por ter sido um fumante inveterado. Depois de ter sido operado do órgão da fala há uns 12 anos atrás, se restabeleceu e conseguiu viver até que a doença voltasse e o levasse em fevereiro de 1998. Não cheguei a conhecer meus avós maternos, nem meu avô paterno. A única que conheci quando...
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Nascido em Conchas (SP), filho de João Rodrigues de Camargo (in memoriam), funcionário público municipal da Prefeitura Municipal de Conchas e de Emília Antonelli de Camargo, funcionária pública estadual da Nossa Caixa, aposentada.
A origem do meu pai é de escravos e negros. Meu avô era negro e minha avó era escrava negra. A origem da minha mãe é de italianos, imigrantes que para cá vieram trabalhar no início dos anos 1900.
A casa da minha infância foi simples e sem nenhum luxo. Tínhamos uma vida pacata e humilde. No início somente meu pai é que trabalhava e quando eu tinha 10 anos minha mãe começou a trabalhar na Caixa Econômica Estadual do Estado de São Paulo, em Conchas. Meu tio Benedito, que na época era Assessor do Governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros, é que arrumou este emprego para minha mãe poder ajudar nas despesas do lar, já que o salário do meu pai era insuficiente, como funcionário público municipal em Conchas.
Tenho apenas uma irmã de nome Luzia Rodrigues de Camargo, que sempre gostou da área de artes plásticas e hoje em dia ainda estuda pintura e artes plásticas. A mana formou-se Professora Primária e depois estudou e passou a ser Professora Secundária, em Desenho e Educação Artística. Depois de 25 anos no magistério conseguiu aposentar-se e hoje vive com minha mãe, cuidando dela, em Conchas. Minha mãe é de 1915 e já esta idosa e carece de cuidados por ser diabética, sofrer de osteoporose e ter sido operada da perna direita, na qual foi colocada um pino metálico, na ligação entre a perna e a bacia. Anda hoje com muita dificuldade.
Meu pai era de 1910 e faleceu de CA na garganta e pulmão, por ter sido um fumante inveterado. Depois de ter sido operado do órgão da fala há uns 12 anos atrás, se restabeleceu e conseguiu viver até que a doença voltasse e o levasse em fevereiro de 1998. Não cheguei a conhecer meus avós maternos, nem meu avô paterno. A única que conheci quando menino foi a avó paterna, chamada Honorata, que era ex-escrava e muito religiosa, pois tinha em seu quintal um Igreja de São Benedito, na qual existia uma imagem deste santo. Ela fazia anualmente festa para homenagear o santo de sua devoção e gostava muito de ajudar a todas as pessoas que a ela recorriam para obter benção. Ela benzia com um rosário muito comprido, que dava para dar a vota sobre as pessoas com o mesmo. Eu mesmo fui diversas vezes benzido por ela com o seu rosário. Uma coisa interessante na avó Honorata era sua longevidade, pois faleceu, segundo o meu pai, com 107 anos de vida, embora fosse difícil comprovar. Lembro-me de uma reportagem que a Revista Cruzeiro fez da nossa família, onde aparecia numa foto minha avó e toda a sua família. Não sei ao certo de que data era a revista, mas poderia ser de 1962 ou próximo deste ano.
Nosso relacionamento com os nossos parentes era aparentemente normal, na minha infância. Já quando fui crescendo parecia algo meio frio o contato com parentes.
Os parentes visitavam nossa casa e nós também visitávamos a deles, de vez em quando.
Eu estudei na Grupo Escolar João Batista de Camargo Barros de Conchas, iniciando em 1961 o primeiro ano de escola. Nunca fui ao pré e nem ao jardim de infância antes de entrar no 1º ano. Repeti o 1º ano. Cursei até o 4º ano e depois prestei o exame de admissão para entrar no ginásio obtendo a nota 5,5, tendo conseguido superar por 0,5 ponto a nota mínima necessária. Cursei o ginásio no Instituto de Educação Estadual Profº Anizio Ferraz Godinho de Conchas, onde recebi as primeiras aulas de religião e de política, embora aos a partir dos nove anos de idade, tenha pedido e obtido de minha mãe, que assinasse o jornal O Estado de São Paulo, para eu poder ler, pois adorava ler sobre esportes. Fui pegando o gosto pela leitura com o Estadão. Aos domingos lia o Estadão inteirinho, todas as notícias do começo ao fim. Costumava freqüentar a Biblioteca Pública Municipal de Conchas para ler livros e fazer trabalhos escolares. Fiquei contente quando meu pai comprou uma enciclopédia para eu estudar em casa. Lembro-me de uma estória engraçada: chorei muito para meu pai concordar em comprar um carrinho, tipo fusquinha, colorido, com rodas e tudo. Depois de muito pedir, consegui que o dito carrinho fosse comprado. Foi só comprar e de tanta alegria ver o carrinho quebrado por eu ter descido uma ladeira, que antecedia a entrada de minha casa, em disparada e ter caído com o carrinho na mão, provocando sua quebra, no primeiro dia.
A minha personalidade foi influenciada pela leitura que gostava e gosto de fazer, e pela simplicidade de meu pai, que era homem totalmente desapegado a bens materiais, até demais, no meu modo de pensar. Também tenho que relatar a influência da honestidade e correção da minha mãe, que sempre deu bons exemplos de vida, de trabalho e de dedicação. A ser destacada também a influência para a leitura do senhor Renê, que era o chefe da Biblioteca Municipal, nascido em Nova Yorque, filho do meu padrinho chamado Salim, que era natural do Líbano. O senhor Renê sempre foi o incentivador para me mostrar os bons livros que deveria ler. Gostava muito de futebol a ponto de chorar quando meu time perdia, não pela derrota em si, mas pelas gozações dos colegas torcedores de outros clubes. Meu time era e é o Palmeiras. Meu pai era são paulino e depois virou palmeirense só por minha causa.
Sempre brincava próximo da minha casa, indo com muita freqüência na casa dos vizinhos para brincar. Brincava muito com armas de fogo de brincadeira, com os colegas. Jogava quase todo dia futebol de campo. Às vezes também de quadra, no ginásio onde estudava. Cheguei a jogar pela time da Associação Atlética Conchense, no time juvenil, embora eu mesmo reconhecesse ser um jogador médio, sem nenhuma expressão, somente esforçado. Pensava que queria ser médico, quando em tinha 8 a 12 anos. Tinha um sentimento de inferioridade em relação aos meus colegas. Sofri muito para superar este sentimento, advindo do fato de ser meu pai um doente, dependente do álcool e do fumo. Tivemos muitos problemas com meu pai por causa do álcool, que prefiro esquecer.
Fiz o colegial de manhã e o curso de contabilidade à noite, no mesmo período. No final destes cursos prestei exame e passei para trabalhar no Banco Mercantil de São Paulo, em Conchas, e pude com o trabalho pagar um cursinho pré-vestibular, na cidade de Sorocaba, onde tinha que viajar de trem, todo final de semana para estudar. Viajava no sábado bem cedinho para estar lá às 8 horas, pernoitava em Sorocaba, numa pensão e voltava no domingo à tarde para trabalhar na segunda-feira. Prestei o vestibular na Fatec Sorocaba, para área de Produção/Oficinas e passei em 14º lugar entre 40 vagas, para o período diurno. Mudei-me para Sorocaba para estudar na Faculdade. Fui morar em república com amigos da minha própria cidade, que já estudavam lá, antes de mim. Fiz o curso em dois anos e meio, iniciando-o em 1974, segundo semestre e terminando-o no final de 1976. Mudei minha personalidade em muito visto que era introvertido e deixei de ser, superando muitas coisas ruins da infância. Conheci a novas pessoas e novos caminhos. Minha primeira namoradinha foi a minha professora de catecismo, embora ela nunca soubesse disso. Depois tive uma única namorada levada a sério que se chamava Rute e foi com ela o meu primeiro beijo. Namorei por um bom tempo, até que ao mudar de cidade, a relação acabou. Em Sorocaba conheci a segunda namorada levada a sério, chamada Doris, que me tocou o coração, pela primeira vez. Namoramos bons anos até que acabou um dia.
Meu segundo trabalho, já formada em Tecnologia Mecânica, foi o de Supervisor de Cetenco Engenharia, grande construtora, que tinha uma sede suntuosa na Rua Maria Paula, em São Paulo. Fui trabalhar na Vila dos Remédios onde ficava a Oficina e de lá fui transferido para a obra em Jundiaí, da Rodovia Norte, chamada agora de Bandeirantes. Fiquei lá 1 ano e meio trabalhando na obra da construção da Rodovia dos Bandeirantes, até que tendo feito testes consegui entrar na empresa Máquinas de Costura Vigorelli, em Jundiaí. Que decepção ter saído da Cetenco para ir para a Vigorelli. Encontrei um clima hostil e com muitas greves provocadas pelos sindicatos, que deixavam as pessoas em situação difícil. Quero esquecer esta passagem. Felizmente fui convidado por um amigo chamado Odir Camargo, para trabalhar em uma empresa de Sorocaba, chamada Engrenasa Máquinas Operatrizes, na qual já trabalha este amigo. Lá fui muito feliz e pude me realizar profissionalmente, ocupando cargo de Técnico em
Processos e mais tarde, Supervisor de Suprimentos. Permaneci lá por 12 anos e meio. Uma vida dedicada a Engrenasa, que me deu a possibilidade de poder ser o que sou hoje, pois foi lá que pude aprender tudo o que precisava para ser hoje dono do meu próprio negócio.
Demitido fui da Engrenas logo depois do Plano Color 1, ainda consegui ser contratado um mês depois para trabalhar no CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo), onde fiz treinamento na cidade de Campinas e depois assumi a Gerência da Inspetoria Regional do Crea-SP na cidade de Bauru, onde permaneci 1 ano e meio. Fui transferido para a Inapetoria de Campinas, onde permaneci 1 ano. Tive uma breve passagem pela Inspetoria de Piracicaba, para depois ser demitido pelo novo presidente do Crea-SP.
Depois de sair do Crea sofremos muito com a doença da minha irmã que contrairá CA no seio. Tive que enfrentar duas batalhas ao mesmo tempo, e com fé em Deus, venci as duas: a doença da mana e o desemprego. Consegui trabalhar durante um ano na empresa de um amigo em São Paulo, amigo chamado Luiz Mitsuo. Trabalhei na área de vendas e assistência técnica, para software de CAD e CAM.
Depois de ter saído desta última empresa, fiz a compra de uma escola de informática, na cidade de Piracicaba-SP onde me estabeleci como dono do meu próprio nariz. Depois de ter montado uma outra escola de computação na cidade de Iracemápolis, acabei vendendo a de Piracicaba e ficando só com a de Iracemápolis, onde dedico-me agora integralmente.
Moro atualmente em Piracicaba e trabalho em Iracemápolis. Minha relação com minha família é muito boa, pois somos uma família pequena.
Gosto muito de fazer e amo o que faço. Só peço a Deus que me dê saúde e trabalho para poder continuar esta missão de educar, que acredito ser a minha missão neste planeta Terra, nesta geração.
A minha expectativa de vida é de muitos anos ainda com muito trabalho pela frente. Sou otimista quanto à vida.
(Wladimir Rodrigues de Camargo enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 18 de dezembro de 2000 pela página na internet)
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