(...) Eu vinha para aqui [Salvador], trabalhava, me empregava, dormia nos hoteizinhos, na Calçada tinha os pensionatos. Era aquelas pensão popular, era barato, eu mesmo fiquei na Barão de Itapagipe. No Castro Alves tinha uma pensãozinha de uma mulher que era parente do meu pai, do hotel Finlândia. Eu encontrei essa mulher, foi uma alegria ela disse: “- Ah você está aqui, e coisa e tal”. E eu fiquei na casa dela. Quando eu saí do quartel, eu fiquei também aí. No meio da noite passava um bonde que era um barulho danado e você não podia nem dormir, então eu estava dormindo nessa pensão (...) (...) Em Araci eu comecei a trabalhar com construção, fazendo construção. Me tornei pedreiro sem querer. Comecei a fazer brita, comecei a fazer obra.. E ai um parente meu que morava aqui, ele era Procurador Geral do Estado, ele era parente do meu pai. Eu ia pra casa dele, ele morava ali na Lapa (...) Um dia ele disse: “- Oh rapaz, você veio embora de Salvador?” Eu disse: “-Não!”. [Ele] “- Eu vou lhe levar de volta, eu tenho um trabalho para você!” Eu falei: “- tá bom”. Esse emprego era no Estado. Era da Secretaria da Saúde, ele disse: “- O secretário da Saúde é muito meu amigo”. Eu fui dormir no hotel e no outro dia cedo, ele me levou pra Secretaria da Saúde (...) (...) Bom ai ele me levou, chegou até o secretário, me apresentou. Ele olhou para mim disse: “E o que é que você sabe fazer?” (risos). “- Eu faço de tudo, trabalho de pedreiro, de roça, de tudo.” Ai ele disse: “- Pois agora você vai mudar, você sabe alguma coisa de saúde?” Eu disse: “- Sei, sei aplicar injeção, fazer curativo, essas coisinhas todas.” “- Ah está certo. Você vai fazer logo as coisas, você fique treinando e tal”. Dia 12 de março de 56 eu entrei...12 de março de 56. Aí, depois do meu primeiro salário, me dispensaram. Aí...
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(...) Eu vinha para aqui [Salvador], trabalhava, me empregava, dormia nos hoteizinhos, na Calçada tinha os pensionatos. Era aquelas pensão popular, era barato, eu mesmo fiquei na Barão de Itapagipe. No Castro Alves tinha uma pensãozinha de uma mulher que era parente do meu pai, do hotel Finlândia. Eu encontrei essa mulher, foi uma alegria ela disse: “- Ah você está aqui, e coisa e tal”. E eu fiquei na casa dela. Quando eu saí do quartel, eu fiquei também aí. No meio da noite passava um bonde que era um barulho danado e você não podia nem dormir, então eu estava dormindo nessa pensão (...) (...) Em Araci eu comecei a trabalhar com construção, fazendo construção. Me tornei pedreiro sem querer. Comecei a fazer brita, comecei a fazer obra.. E ai um parente meu que morava aqui, ele era Procurador Geral do Estado, ele era parente do meu pai. Eu ia pra casa dele, ele morava ali na Lapa (...) Um dia ele disse: “- Oh rapaz, você veio embora de Salvador?” Eu disse: “-Não!”. [Ele] “- Eu vou lhe levar de volta, eu tenho um trabalho para você!” Eu falei: “- tá bom”. Esse emprego era no Estado. Era da Secretaria da Saúde, ele disse: “- O secretário da Saúde é muito meu amigo”. Eu fui dormir no hotel e no outro dia cedo, ele me levou pra Secretaria da Saúde (...) (...) Bom ai ele me levou, chegou até o secretário, me apresentou. Ele olhou para mim disse: “E o que é que você sabe fazer?” (risos). “- Eu faço de tudo, trabalho de pedreiro, de roça, de tudo.” Ai ele disse: “- Pois agora você vai mudar, você sabe alguma coisa de saúde?” Eu disse: “- Sei, sei aplicar injeção, fazer curativo, essas coisinhas todas.” “- Ah está certo. Você vai fazer logo as coisas, você fique treinando e tal”. Dia 12 de março de 56 eu entrei...12 de março de 56. Aí, depois do meu primeiro salário, me dispensaram. Aí surgiu na própria Secretaria, criaram um grupo de fiscais do órgão sanitário, para fiscalizar alimentos. Ai me chamou, fiz um treinamento. Ai eles gostaram de mim e eu passei. Me botaram como guarda sanitário, e a minha área foi a Calçada, Liberdade (...) E negociava muito espanhol, que explorava o povo. Outros criavam animal, porco nos quintais das casas, e ai negociavam nos armazéns. Aquelas prateleiras de madeira onde punha as coisas. E o povo, naquele tempo não usava comer conservas, e eles já vendiam aquelas conservas em latas, de sardinha, muita coisa em lata em conserva. Aí o nosso serviço era fiscalizar isso, se estavam vendendo comida alterada. Ai a gente saia, o nosso chefe, ele falava: “- Hoje você vai pra Liberdade, o Zé vai pra Ribeira!” Lá tinha esses armazéns e a gente ia para lá. Quando o dono nos via, ele sumia, mandava o empregado mostrar aquelas mercadorias tudo embalado. A gente batia o martelinho assim, o líquido escorria da lata. Isso dizia que estava alterado. Assim a gente era chamado “a turma da grosseria”. Aí quando estava alterada a gente furava na hora com o martelinho de ponta. Eles falava: “- Não!” Eu dizia:”- Não pode rapaz!” Era pra vender comida podre aos outros. Aí a gente falava: “- Olhe, essa aqui tá melhor, tem 15 dias de prazo, o senhor venda mais barato.” Quando chegava, estava no ponto e a gente apreendia a mercadoria e levava embora. Tinha um caminhão, um caminhão bonitinho do Estado que ia atrás da gente parando para pegar a mercadoria para incinerar. Ai o povo dava queixa. Pegava mercadoria podre, carne de charque podre, a criação de porco no quintal. Tinha uma padaria, e o dono da padaria tinha um bocado de porco, pocilga, e o quintal da padaria era cercado de muro e criavam porco. E os vizinhos moradores se queixavam no nosso posto (...) Era a vida. A história da vida da gente é enorme!
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