Todo Lugar tem uma História para Contar – Xambioá
Depoimento de Sebastião Gomes da Silva
Entrevistada por Santana de Souza Barreto da Silva e Marcia Trezza
Xambioá, 31/08/2016
Realização Museu da Pessoa
XMB_HV003_Sebastião Gomes da Silva
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
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Todo Lugar tem uma História para Contar – Xambioá
Depoimento de Sebastião Gomes da Silva
Entrevistada por Santana de Souza Barreto da Silva e Marcia Trezza
Xambioá, 31/08/2016
Realização Museu da Pessoa
XMB_HV003_Sebastião Gomes da Silva
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Seu Sebastião, a gente vai começar essa entrevista da história da sua vida, o senhor fala o seu nome completo de novo, por favor?
R – Sebastião Gomes da Silva.
P/1 – Quando que o senhor nasceu, Seu Sebastião, que data?
R – Dia 14 de dezembro de 1923.
P/1 – Em que lugar?
R – Lugar denominado Mata do Nascimento, município de Codó, no estado do Maranhão.
P/1 – Seu Sebastião, o senhor tem lembranças do seu pai, da sua mãe, como eles eram?
R – Tenho.
P/1 – Como que eles eram? Assim, o jeito deles.
R – Eles eram assim, meu pai e minha mãe sempre foram… eles não tiveram a opção de estudar, vou dizer logo, analfabeto, todos os dois, mas trabalhadores na expressão máxima. Eu tinha dois irmãos, a nossa casa era sempre farta, tinha de tudo e foram uns bons pais, meu pai e minha mãe.
P/1 – Eles trabalhavam com o quê?
R – Cana, plantio de cana. Meu pai fez plantio de cana, ele produzia cachaça, açúcar moreno e rapadura.
P/1 – E vendia?
R – Vendia tudo que ia produzindo, ele ia vendendo. Quando sobrava, ele guardava num vasilhame próprio pra depositar aguardente, quer dizer, a cachaça grande, dentro do quarto assim, uma vasilha daquela pegava dois mil litros e produzia que dava para vender e quando chegava eles iam tirar daquela dona, chamava dona, era cheiroso, eu achava cheiroso, não dava vontade de beber não, mas eu achava muito cheirosa.
P/1 – Quando o senhor era pequeno, alguma vez o senhor experimentou?
R – Experimentei, achei ruim demais, queimou minha boca toda (risos).
P/1 – Ele tinha… trabalhava na roça… na plantação de cana com mais pessoas?
R – Trabalhava com mais gente, tinha que ter gente, ele tinha outros tipos de plantio, plantava algodão… muito algodão meu pai plantava no estado do Maranhão.
P/1 – Tinha empregados?
R – Tinha, ele pagava o pessoal tudo direitinho. Nós levamos uma vida regular, graças a Deus, minha vida de criança foi muito boa.
P/1 – O senhor fazia o que quando criança?
R – Assim, ajudava o meu pai, depois, meu pai achou por bem mudar para o estado de Goiás, então eu tinha 12 anos de idade, para ver como são as coisas, nós viemos morar a uma distância de 150 no máximo quilômetros de Palmas, para aquele lado ali.
P/1 – Olha só. Hoje capital, né?
R – Então, meus dois irmãos, meu pai pagava professor para ensinar em casa e eu fui ficando pra trás. Mudamos para essa região de Palmas, minha mãe começou a se preocupar, já com 12 anos de idade: “Como é? Miguel e Cicero já sabem ler e escrever e tudo, não é muito, mas já sabem, e Sebastião não sabe ler nada, é para ele ficar assim?”, aí foi que meu pai tomou a resolução de vender a fazenda, que ele chegou a possuir uma fazenda lá, vendeu e viemos morar em Tocantínia, perto de Miracema que foi capital aqui do estado e aí, tinha um colégio muito bom de evangélico, a dona desse colégio era uma moça velha do Rio de Janeiro, ela organizou um colégio e ensinava muita gente. Meu pai me matriculou lá, foi uma maravilha pra mim esse colégio, devo tudo a esse colégio. Não estudei muito, mas fiz segundo ano, terceiro, cheguei ao quinto e aí, já tava na idade de 15 anos, meu pai saiu para garimpo, foi quando surgiu os garimpos de cristal aí perto de Porto Nacional, parei, só alcancei o quinto ano, mas me serviu demais aquele quinto ano. Muito, muito mesmo. Depois, eu fui mexer com garimpo…
P/1 – Seu Sebastião, antes do senhor falar do garimpo, na fazenda antes ainda do senhor vir para perto de Palmas, o senhor trabalhou na roça com seu pai, não?
R – Trabalhei, ajudando na roça, capinando, ajudando a colher, cheguei a trabalhar.
P/1 – Vocês são três irmãos.
R – Só três.
P/1 – Tem meninas?
R – Há?
P/1 – Tem mulheres irmãs, também?
R – Não.
P/1 – E todos ajudavam?
R – Todos ajudavam.
P/1 – E aí, quando o senhor entrou nessa escola, já quando o senhor começou a estudar… quando o senhor tava na escola, teve algum professor, professora que marcou muito você que até hoje, o senhor lembra?
R – Tem, mas é que eu lembro mais mesmo é a professora, ela era muito boa com todos nós e principalmente comigo, foi uma educadora sem defeitos, me dediquei à matemática, estudei a tabuada toda, decorei… tanto que depois, quando não tive mais a oportunidade de estudar, fui trabalhar em garimpo, aí que eu quero falar em garimpo.
P/1 – O seu pai vendeu a fazenda?
R – Vendeu.
P/1 – Não teve mais fazenda nenhuma?
R – Não, ele fez uma ainda aí no município de Miracema, Miracema, você sabe, foi capital aqui do Tocantins, né, eu ainda trabalhei nessa roça, fez plantio de cana, depois mudamos para garimpo.
P/1 – Então conta, seu Sebastião do garimpo.
R – Garimpo de cristal. Surgiu garimpo rico de cristal de rocha. Sabe o que é cristal de rocha?
P/1 – É bonito.
R – Sabe? Já viu?
P/1 – Acho que sim.
R – São pedras, blocos, limpas, aquilo… eu fui comprador, aqui em Xambioá, eu entrei para cá, comecei a comprar e o dinheiro aumentou um pouco, eu passei a vender no Rio de Janeiro, passei um período que todo mês eu ia para o Rio de Janeiro, duas viagens. Avião pequeno até Carolina, já levando cristal, lá despachava que tinha coletoria para tirar a guia e tinha vez, que eu viajava no mesmo avião que levava o meu cristal para o Rio de Janeiro, eu já ia indo também.
P/1 – Que tamanho que o senhor pegava?
R – Tinham pedras grandes.
P/1 – Assim? Assim?
R – Cem quilos num bloco só… Xambioá produziu o maior bloco de cristal do mundo! Do mundo! Vocês já andaram por aí? Chapada? Já andou lá?
P/1 – Chapada?
R – Povoado de Chapada?
P/1 – Não, eu não fui. Eu passei por lá, só.
R – Ali, tinha uma região que chamava Sarampo, trabalhava uns garimpeiros lá e a região rica, onde deu uma pedra de cristal, menina, uma coisa de admirar o mundo!
P/1 – E nessa época que o senhor trabalhou com o garimpo, o senhor só comprava ou ficava lá com os garimpeiros?
R – Eu ficava… o meu irmão olhava essa parte, tocando serviço com o garimpeiro e na hora de beneficiar o cristal era comigo mesmo, eu é que era o especialista. Então, quero falar nessa pedra…
P/1 – Fala seu Sebastião.
R – Que deu no Manchão do Sarampo, perto da Chapada de Chiqueirão. A pedra foi assim, era um grupo de seis garimpeiros, cavaram, cavaram, aprofundou o buraco, para baixo não deu nada e na ribanceira, assim, tinha assim uma indicação como ali podia ter algum cristal. Aí um garimpeiro falou comigo: “Sebastião, eu quero cavar ali pra ver, pode ter algum cristal naquele…”, tinha segmento, tinha forma, tinha pedra pequena de cristal, tudo. Aí, nós arranjamos uma escada, colocou e foi cavando a ribanceira assim, cavando, cavando, quando essa pedra caiu lá embaixo, foi deslocando ela todinha, não tinha ninguém lá embaixo, não, todo mundo ficou com medo, quando ela caiu, ela partiu bem no meio. A ponta dessa pedra deu um pedaço de 286 quilos limpa, pura, pura, pura. Era uma joia! E o lado do pé, eu quebrei, tirei pedaço de cinco quilos, de três, de quatro, um monte de pedaço pequeno, deu uma partidazinha.
P/1 – Seu Sebastião, o senhor estava lá na hora que aconteceu isso?
R – Não, não. Quando eu cheguei lá, a pedra já tinha caído, já tinham enrolado ela assim, com a área, os garimpeiros tudo…
P/1 – O senhor viu a pedra?
R – Vi. Fui um dos compradores dela. A pedra era muito grande, chegou muito comprador. Nós fizemos uma sociedade de mais de dez para poder comprar essa pedra. Todos nós ganhamos muito dinheiro.
P/1 – E quem achou a pedra?
R – Foi os garimpeiros…
P/1 – Eles também ganharam?
R – Ganharam. Na venda do cristal, eles receberam lá, 50% era deles.
P/1 – Era assim que funcionava, seu Sebastião?
R – Hã?
P/1 – O garimpeiro achava o cristal e ficava metade para eles e metade…
R – Para o dono, o patrão. Metade para o garimpeiro, metade para o patrão.
P/1 – Sempre era assim?
R – Sempre era assim.
P/2 – Seu Sebastião, queria lhe fazer uma pergunta que não tá me deixando calar. É porque eu sou muito curiosa em relação a isso aqui. Quando o senhor era criança, o senhor gostava de ouvir histórias e brincadeiras, o senhor gostava? E quem lhe contava?
R – Olha, eu morava num lugar muito atrasado. Muito atrasado, a gente se divertia, brincando brincadeira de criança de um lado, de correr, de botar arapuca no mato para pegar juriti, a gente trazia aquilo, minha mãe cozinhava aquela… era gostosa. Mas o lugar… a diversão que tinha era só trabalho, terra boa, produzia muito arroz, muito feijão, muita farinha de mandioca e algodão. Era Mata do Mearim o nome do lugar, fica entre dois rios, tem o Rio Grajaú e o Rio Mearim.
P/1 – E no rio, vocês brincavam no rio?
R – Não brincava porque o Rio Mearim é um perigo! Minha mãe dizia: “Olha, vocês querem banhar, pega a vasilha de água lá para fora”, porque lá tinha tanta piranha que se a pessoa tivesse com um ferimentozinho no corpo, vinha mais de cem para morder o braço daquela pessoa. Então, não tinha o negócio de brincar, nadar no Rio Mearim, não.
P/2 – O senhor tinha quantos anos quando o senhor veio para Goiás? O senhor tinha falado agora há pouco.
R – Doze anos.
P/2 – Aí, se quiser continuar contando a história do cristal, pode continuar.
P/1 – Mas antes…
P/2 – Dentro delas, eu gostaria de lhe perguntar depois, porque você tinha 12 anos, né, quem foi a sua primeira namorada?
R – (risos) Eu tinha uma prima que era mais velha do que eu dois anos, Maria Rosa, loira, bonita, ela tinha uma brincadeira sem fim comigo e minha mãe dizia: “Olha, tu parece que tá querendo namorar Sebastião, olha lá hein!” (risos) “Tu quer Sebastião?” “Não, não quero namorar com ninguém ,não. Deixa essa moça pra lá” (risos), assim, não tinha ambição não, naquela idade, não tinha.
P/1 – Mas gostava da brincadeira, assim?
R – Aí sim. Pois é, cheguei em Goiás com 12 anos de idade…
P/1 – Mas quando o senhor chegou aqui, teve a escola…
R – Primeiro a escola, perto de Miracema.
P/1 – E depois, o senhor disse que teve que parar de estudar porque o seu pai foi para o garimpo.
R – Meu pai mexeu ainda com plantio de cana… e minha mãe me levou, botou nesse colégio de crente, comprou canoa e eu ia todo dia, remava atravessando o Tocantins e ia para esse colégio.
P/1 – O senhor ia de canoa?
R – Ia de canoa, sou bom pra remar demais. Ia e vinha…
P/1 – Sozinho na canoa?
R – Não, tinha uns companheiros, estudavam também lá, ajudavam a remar.
P/1 – E aconteceu alguma coisa nesse rio alguma vez, quando vocês estavam remando?
R – Não, não.
Não aconteceu nada.
P/1 – Sempre foi tudo bem?
R – É, tudo bem. A gente enxergava muita arraia, como tinha arraia. Tinha uns lugar raso que a canoa passava em cima delas: “Olha lá o beijuzão”, tamanho das bichas (risos). Tinha muita arraia, pra gente matar elas, sabe como era? Porque tem gente que come a carne da arraia, né? Pega uma vara, faz uma ponta muito bem feita e ela se faz de mansa, a canoa vai bem devagar, remando de um lado do outro aqui na proa, com aquela vara apontada e chega, tá bem no meio! Perfurava e segurava e aí, era um trabalho danado, até que enfim, a gente jogava ela dentro da canoa e aquilo, a gente trazia para comer, era peixe bom. Cortava ela bem cortada. Lá tinha muito peixe, Tocantins tem muito peixe, ixi Maria…
P/1 – Era o Rio Tocantins?
R – Era. Esse rio que… era aquele ali.
P/1 – O senhor disse que não namorou com a Maria Rosa?
R – Não, não.
P/2 – E qual o nome da sua primeira namorada? A primeira namorada mesmo, de verdade, aquela que o senhor namorou mesmo, nome dela.
R – Eu esqueci o nome. Era colega lá desse colégio de crente. A gente namorou, mas não lembro mais o nome dela, não.
P/1 – Mas não deu certo?
R – Não deu certo, foi chegando 13 anos, 14, muito pequeno.
P/1 – E como que vocês se divertiam quando jovens, Seu Sebastião, o quê que os jovens faziam na cidade para se divertir?
R – Bem, Miracema tinha festa carnavalesca e tinha festa mesmo, de forrozão, tocador bom de sanfona, sempre tinha, toda semana. Aprendi a dançar foi lá.
P/1 – Foi lá?
R – Foi.
P/1 – O senhor era um bom pé de valsa?
R – Era, ih, cabra danado!
P/1 – Onde o senhor conheceu a sua esposa?
R – Quando?
P/1 – Como que o senhor conheceu a sua esposa?
R – Conheci aqui mesmo, foi no período em que eu já levava cristal daqui para vender no Rio de Janeiro. Ela era filha de uma mulher que tinha pensão aqui e internou ela no colégio de freira em Imperatriz. Eu conheci ela aqui, vinha vindo de ___00:21:25____, ela usava cabelo grande, com laço, eu me encantei quando eu vi ela (risos).
P/1 – Amor à primeira vista.
R – “Eu quero uma conversa séria com você, não vai dizer que não, eu já tô pensando em casamento, você continua em seu colégio lá, mas não é para esquecer de mim de jeito nenhum, eu vou escrever para você todo mês”. E até que deu certo, casamos.
P/1 – Olha! Mas já foi assim, logo, a primeira conversa foi essa?
R – Foi essa. Ela voltou para Imperatriz e foi estudar. Ela me escrevia, eu escrevia para ela, aí depois, deu casamento (risos).
P/1 – O senhor lembra do dia do casamento?
R – Foi assim, eu tirei ela daqui, a gente dançou muito numa festa aí, no outro dia, eu botei ela dentro de uma aviãozinho pequeno, fui para Conceição do Araguaia e lá tinha uns conhecidos meus: “Trouxe uma moça aí, eu vim casar aqui” “Traz aqui para casa”, aí aconteceu um casamento simples. Aconteceu, Conceição do Araguaia.
P/1 – Que bom!
R – Foi.
P/1 – Muito bom, né?
P/2 – História muito linda.
R – Terezinha foi professora aqui muito tempo, tu conheceu como professora ela?
P/2 – Sim. Ela não chegou a ser minha professora, mas boa professora.
P/1 – Sua esposa era a Terezinha?
R – Terezinha de Jesus.
P/1 – E foi professora aqui?
R – Professora muito tempo. Aposentou por tempo de serviço. Boa professora.
P/1 – Olha.
R – Dedicada.
P/1 – Seu Sebastião, então, o senhor estava falando dessa pedra, né, desse cristal enorme que acharam, que o senhor viu, né? E depois, o senhor continuou no garimpo?
R – Eu continuei ainda aqui comprando cristal e vendendo no Rio de Janeiro, muito tempo.
P/1 – O seu pai era dono de alguma área de garimpo?
R – Ele tinha… ele aqui, ainda usou plantar cana aqui, daqui uns quatro quilômetros, ele fez plantio e produziu muita cachaça, produziu aqui.
P/1 – Aí, o senhor falou que depois, ele foi para o garimpo, né? Como é que funcionava? As pessoas comprava, alguma área? Como que era?
R – Não, o garimpo era assim, surgiu dois garimpos muito grandes, um era no hoje é a cidade…
PAUSA
P/1 – Estava perguntando como é que funcionava o garimpo.
R – Escavação, fazia escavações, tinha lugar que cavava lugar fundo, outros lugares, o cristal dava no raso.
P/1 – Mas quem chegava já ia pegando a área?
R – Pegava, ia pegando. Saía aí pelo mato e onde via pedras, começava a cavar e até saia forma, pedra de cristal pequena, graúda, pirâmide e assim, muita gente pegou cristal demais.
P/1 – Onde era isso?
R – Município de Porto Nacional, hoje, já emancipou, tem duas cidades.
P/1 – É Tocantins?
R – É. Tem Pium e Cristalândia, quatro léguas de uma da outra, duas cidades boas. Eu trabalhei muito de garimpo lá. Deu muito cristal, muita gente enricou lá.
P/1 – E além dessa história que o senhor contou dessa pedra enorme, tem alguma história no garimpo engraçada ou marcante que o senhor lembra ou impressionante? Da sua época, quando o senhor convivia lá.
R – Sim, eu não tô lembrado, mas aquilo lá não tinha dono, você chegava, fazia escavações nos lugares que bem queria, cavava, arrancava, beneficiava, vendia, enchia o bolso de dinheiro, ia pra festa dançar um forró, a vida era essa do garimpeiro. Eu fiquei lá muito tempo.
P/1 – A maioria não tinha família?
R – Maioria não tinha família, não. Mas mulher tinha muita. (risos), mulher bonita tinha demais! Ixi Maria! Elas vinham nos garimpos que elas queria dinheiro, né? Tinha mulher demais.
P/1 – Seu Sebastião, depois do garimpo, o senhor foi trabalhar… conta um pouco a história do senhor depois… pode ir contando, depois que o senhor veio do garimpo.
R – Depois que eu deixei o garimpo, aí a gente já ia viver de outro jeito. Eu tive que… criei gado ainda aqui, fazenda, criei gado, hoje não tenho mais gado, não, vendi. Mas os garimpos não eram para ter acabado, pois acabou os garimpo.
P/1 – Por que que não era para ter acabado?
R – Assim, porque era uma renda boa para aquele povo garimpeiro, depois, aquilo mudou demais, mudou muito, mudou muito. O cristal que vendia quando a gente chegasse no Rio de Janeiro com cristal, vendia. Depois, o cristal foi desativando, os compradores do Rio de Janeiro foram fechando as casas de garimpo e hoje não tem mais.
P/1 – Eles deixaram de comprar ou acabou o cristal aqui?
R – Desativou, sabe como é desativar?
P/1 – Não.
R – É que alguns países começaram a fabricar o cristal, Estados Unidos, Inglaterra, o Japão, sabe como é fabricar? É fabricar como se fabrica vidro, fazer garrafa…
P/1 – Não era verdadeiro.
R – Não era verdadeiro, não.
P/1 – Era sintético?
R – Era sintético, mas tinha muita utilidade. Utilidade ao ponto de desativar o cristal especial bom da terra que a gente…
P/1 – O verdadeiro.
R – O verdadeiro. Aí foi enfraquecendo, foi enfraquecendo…
P/1 – Que época era essa? O senhor lembra mais ou menos a época, Seu Sebastião?
R – Aquilo foi 1900 e…
P/1 – Já tinha Brasília?
R – Não, depois é que criou Brasília.
P/1 – Foi por volta de 60, assim?
R – Antes.
P/1 – Antes?
R – É. Quarenta e dois, 43, 50. Aí, funcionou muitos garimpos, na Bahia, Minas Gerais… muita gente vivia de cristal, comprar e vender. E eu aprendi beneficiar, como eu sabia quebrar bem quebrado. Tinha pedra que tinha defeito no meio, tinha que serrar, partir bem no meio para tirar aquele defeito.
P/1 – E o senhor que fazia?
R – Era. Ihhh, mas eu me especializei demais naquilo. Pedra grande de 50 quilos, metia o martelo pra cima, serrar ela, abrir, tirava pedaço de cinco quilos para um lado, três para outro, dois pra outro. Esse era o cristal especial. Mas isso foi…
P/1 – Depois que cortava, fazia mais alguma coisa nele pra ficar bonito?
R – Só…
P/1 – Lapidava?
R – Lapidar, tirava os defeitos, abrindo janelas, ficava bonito. Eita, quero beber!
P/2 – Como foi a sua decisão para vir para cá, para Xambioá?
R – Eu vim pra cá à procura de garimpo, foi quando foi descoberto o Chiqueirão aqui.
PAUSA
P/2 – Então, Seu Sebastião, o que foi assim, que fez com que o senhor viesse pra cá, para Xambioá?
R – Foi muito fácil. A notícia… aqui começou a produzir cristal, o primeiro cristal foi aqui na beira rio, por baixo da cachoeira de São Miguel, aí. Tinha um garimpeiro de nome de Zé Grande, fez roça aí e ele limpando lá a mata, tudo, ele ciscou numa pedra e a pedra trincou e ele foi cavar direito, deu uma pedra de dez quilos, quase toda limpa. Esse tempo tinha barco aí, sempre viajando e ele pegou um barco… acima de Marabá já tinha um garimpo, Apinajé, que tava produzindo. O rapaz foi vender a pedra lá nos garimpos de Apinajé, vendeu bem vendida a pedra, aí os garimpeiros espalharam a notícia para tudo quanto é lugar. Foi dessa vez que a gente ficou sabendo que eu morava em Cristalândia, lá era garimpo, mas o garimpo lá tava fraco, aí a gente ficou sabendo, eu vim para cá atrás de garimpo. A gente ia de avião para Conceição do Araguaia, de Conceição, nós viemos de barco até aqui. Aqui saímos na cachoeira de São Miguel e fomos trabalhar no garimpo.
P/1 – Quem que veio, Seu Sebastião?
R – Veio eu, veio o meu irmão, veio o meu pai para esse garimpo aí do Chiqueirão que é perto do Cimento aqui, pertinho, pertinho, mesmo. Isso aí foi rico, chegou até aqui oito firmas exportadoras de cristal para o Rio de Janeiro daqui da região. Elas beneficiavam, levavam para Carolina, despachava para o Rio de Janeiro, essas oito firmas, uma era nossa, eu com o meu irmão, nós formamos uma firmazinha aí, todo mês a gente ia vender no Rio de Janeiro, chegamos a levar pastinha de tonelada!
P/1 – Daqui de Xambioá?
R – Da região.
P/1 – Perto ali da Tocantins, da Cimento?
R – Cimento era rodeado de garimpo e aqui foi para todo lado, pro outro lado, aí no Pará, serras que tem aí, apareceu garimpeiro em tudo quanto é lugar. Muita gente. Veio gente com a notícia do garimpo. Foi aí que começou o povoado de Xambioá.
P/1 – O quê que tinha aqui quando o senhor chegou aqui?
R – Olha, Chambioazinho … aí que eu queria chegar que eu queria explicar sobre Xambioá e sobre Chambioazinho …
P/1 – Explica.
R – Isso aqui começou assim. Deixa eu lembrar… antes de começar a sede, os garimpos aqui foi sede na Chapada, perto do Cimento e depois, aqui morou um pioneiro… por isso é que tem problema de nome de lugar, Chambioazinho e Xambioá. Então, um canoeiro andando por aqui, ele se agradou muito por um terreno aí perto da Igreja Matriz, ele andando, viu a terra roxa, tava muito boa, ele foi para casa, que ele morava na Santa Cruz, num povoado ali do outro lado. Chegou lá, falou pra mulher dele: “Eu vi um lugar aí que eu tô com vontade de fazer roça, fazer plantio, mas depende de você, porque você é minha mulher, você que sabe se você quer ir para lá, lá é isolado”, aí ela disse: “Vou para onde você me levar, não sou sua?” (risos) “Então arruma ai”, arrumou, vieram de canoa, fizeram a roça atrás da igreja, sabe quantos anos ele morou aí?
P/1 – Quantos?
R – Vinte. Fez plantio, foi ele que colocou o nome Chambioazinho porque aqui tem um ribeirão daqui quatro quilômetros, que vai daqui para Araguanã, aquele é o Chambioazinho por causa desse rio aí foi que ele colocou o nome do lugar: “Então, o nome do lugar que eu vou morar aqui é Chambioazinho”.
P/1 – Ele que colocou.
R – Ele que colocou.
P/1 – O nome dele, o senhor lembra?
R – Chamava de Zé Toco porque ele era baixotinho, mas o nome dele era João Batista Gomes.
P/1 – E o apelido José Toco?
R – Zé Toco. Tinha mulher, tinha filhos e moraram 20 anos.
P/1 – E ele chamou o lugar de Chambioazinho?
R – Chambioazinho, ele colocou por causa do ribeirão. É nome indígena, antigo, mas depois surgiu outro ribeirão do lado só Pará, Xambió Grande. Então, isso aqui passou a estreito, depois elevado a categoria de cidade e o nome Chambioazinho. O fundador, depois comprou o sitio de cana desse Zé Toco, disse que ia embora, que o garimpeiro já queria cavar dentro da roça dele, vendeu, Francisco Oliveira foi o fundador disso aqui.
P/1 – Mas Seu Sebastião, na época do Zé Toco, só tinha garimpo?
R – Não tinha garimpo nenhum…
P/1 – Não na terra dele.
R – Na terra dele…
P/1 – Por volta ali do Cimento ali, só tinha garimpo?
R – Garimpo.
P/1 – Pra cá não existia nada?
R – Não, era tudo garimpo.
P/1 – Aqui também?
R – Tudo. Aqui ao redor da cidade, para todo lado onde tem buraco…
P/1 – Tudo garimpo?
R – Era. O negócio era garimpo, mesmo. E aí, ele colocou esse nome por causa do nome indígena. Aí, passou distrito, primeiro passou à vila, depois foi elevada a categoria de cidade com o nome Xambiozinho.
P/1 – E só tinha ele aqui que plantava ou tinha mais…
R – Só ele. Morou 20 anos ali atrás da igreja, plantava de tudo, ele plantava café, cana, muita mandioca, muita coisa de comida, a casa dele… muito trabalhador, mas esse nome quem colocou no lugar foi ele, Zé Toco.
P/1 – E depois? O que aconteceu?
R – Depois, o que comprou dele aí, disse: “Esse nome, eu não quero Xambiozinho, não”, aí ele fez uma placa e colocou lá no ponto da Avoadeira, ali, fincaram lá um pau escrito Porto Oliveira.
P/1 – Como é que era?
R – Porto Oliveira. Irmão do fundador.
P/1 – Porto Oliveira?
R – Porto Oliveira. Aí: “Por que que o senhor coloca esse nome de Porto Oliveira?” “Porque tinha o meu nome de Oliveira, isso aqui futuramente vai passar a cidade, isso aqui vai desenvolver muito, tal”, mas os garimpeiros não chamavam Oliveira não, todo mundo só chamava Xambiozinho, até que um dia ele ficou com raiva, foi lá, cortou de facão os paus que tinha, cortou a placa que ele colocou: “Esse povo não quer chamar Porto Oliveira, né, não quer me valorizar, deixa chamar Xambiozinho”. E assim foi, passou à cidade Xambiozinho, eu fui nomeado primeiro prefeito do município novo de Xambiozinho…
P/2 – Seu Sebastião, deixa eu lhe perguntar aqui, por que o povo lhe escolheu para ser nomeado prefeito daqui da cidade?
R – Veja bem, eu não era da área de política, de jeito nenhum. Meu negócio era Rio de Janeiro, partir com cristal… o campinho é bem ali onde é o Cristo, que o aviãozinho saía com o cristal da gente e saía levando a gente também para Carolina e lá, a gente despachava em avião grande. Carolina tinha avião para o Rio de Janeiro todo dia, virou uma base aérea. Carolina só caiu depois da Belém-Brasília, aí ela caiu, hoje é uma cidade fraca.
P/1 – Mas era lá que vocês pegavam o avião para o Rio?
R – Para o Rio de Janeiro. Tinha vez que eu ia levando cristal no meio do avião, lá eu despachava…
P/1 – E o avião que o senhor ia até Carolina é pequenininho, né?
R – Pequeno, mas levava 300 quilos.
P/1 – Não dava medo, não, desse avião cair com tanto cristal?
R – Dava não.
P/1 – Nunca o senhor ficou com medo?
R – A gente tinha medo sabe por quê? Porque daqui pra lá era uma mata só, a gente não sabia se tinha água lá embaixo, se tinha lugar feio aí, perigoso. Se o avião caísse, eu acho que nessa mata daqui pra sair em Araguaína, acho que o povo não achava nem o avião depois. Ia achar com muito tempo, era perigoso. Não era no garimpo que o avião podia descer, não, era na mata que a gente olhava pra vista dava. A gente ia, despachava, tinha vez que embarcava o cristal e eu comprava passagem, viajava junto, aí chegava no Rio de Janeiro, dez, onze horas da… é muito ruim viajar de avião à noite, a gente enxerga alguma cidade, alguma claridadezinha, mas é sem graça viajar de avião à noite, escuridão medonha, virgem Maria.
P/1 – De Carolina lá levava quantas horas, seu Sebastião, muito tempo?
R – Oito horas.
P/1 – De avião?
R – De avião. Oito horas de voo.
P/1 – Seu Sebastiao, o senhor falou que o Oliveira que fez a placa, mas tinha fundado a cidade?
R – Ainda não.
P/1 – Ele pôs a placa da cabeça dele?
R – Foi, mas depois desse desgosto que ele teve, ele sofreu muito desagrado e o certo é que ele não fez nada que agradasse a pessoa dele, inclusive, o nome dessa rua principal, ele queria o nome daquela rua, Rua Vinte e Seis de Janeiro, foi o dia que ele fundou o povoado, o Xambiozinho. Foi ele que fundou, mas ninguém dava confiança.
P/1 – Como é que era fundar uma cidade?
R – Fundar é tomar a frente, loteando e dando lugar para o povo fazer casa: “Gente, vamos construir, vamos construir”. Isso aqui, comerciante chegou, começou a fazer casa de alvenaria já na rua principal e foi indo.
P/1 – Ah tá. Mas não tem nada assim, no cartório, nada?
R – Não.
P/1 – Daí a Santana perguntou como é que… o quê que você perguntou?
P/2 – Como é que as pessoas chegaram a conclusão que o senhor seria o prefeito da cidade? O senhor já ia contando pra nós, então, conte aí pra nós.
R – Isso foi… parece incrível, mas eu era um caboclo ajeitado, desenvolvido, viajando para o Rio de janeiro todo mês, tratando o negócio com aquele povão rico do Rio de janeiro, comprador de cristal, eu era desenvolvido, mas eu não era politico, não. Mas aí, o meu irmão Miguel Gomes era um caboclo trabalhador e preparado, então, João Saraiva era o chefe, o maior chefe político daqui e tinha gente que queria assumir esse cargo de prefeito, mas vê como foi, ele tinha amizade com o meu irmão, comigo não era muita, mas ele me escolheu porque a gente tinha influência. Meu irmão tinha influência com os garimpeiros, influência política, então João Saraiva trouxe… quando ele veio, já veio trazendo a nomeação sem me dizer nada e eu cuidando do meu negócio de cristal para o Rio de Janeiro. Quando foi para instalar município como amanhã, hoje que eu fiquei sabendo que eu que ia assumir o cargo de prefeito.
P/1 – Olha!
R – Meu irmão foi quem me deu a notícia, o João Saraiva: “Aqui a nomeação do Sebastião para assumir a prefeitura” “E o Sebastião já sabe?” “Não, não sabe não” “Ih, então vou dizer pra ele” (risos). Aí, eu tava em casa ali no barraco: “Sebastião, tenho uma novidade aqui pra ti, te prepara!” “O quê que é rapaz?” “Olha aqui, nomeação pra prefeito da cidade Xambiozinho” “Sou eu mesmo?” “É você mesmo” “Rapaz, por que que João Saraiva não se comunicou comigo?” “Não, ele diz que aqui tinha que ser do jeito dele e ele nomeou Sebastião para assumir a prefeitura e disse para tu se preparar”, ainda ia andar a cavalo que eu tava começando uma chácara ali pro lado do Cristo, aí eu fui me trancar e escrever, fui fazer um discurso (risos). Eu tive que falar na hora da posse do prefeito. O pessoal de Araguatins veio pra encaminhar tudo aí e aí, assumi e não tinha porque esperar, aluguei aquele prediozinho ali perto da Câmara, aluguei aquilo ali para funcionar a Prefeitura e tocamos de qualquer jeito, o jeito que dava na cabeça, viu? Mas traquejo em política eu não tinha nenhum, não. (risos) Não tinha traquejo político nenhum. “Rapaz, tu tá ficando doido? Tem tanta gente aí danado” “Não, mas eu quero é você” Nesse dia eu assumi, todo de paletó (risos), vesti terno.
P/1 – Agora, o senhor que viajava pra cá, viajava pra lá, ia para o garimpo, como é que o senhor acostumou com essa vida?
R – Eu gostava, viu, eu gostava de viajar.
P/1 – Então…
R – Mas depois eu fui cansando, a viagem de avião é cansativa. A pessoa sai de Carolina quatro horas de voo direto pra Anápolis, ali perto de Goiânia e dali, sai para Belho Horizonte, duas horas, depois uma hora e meia para o Rio de Janeiro. É cansativo, né?
P/1 – Agora, Seu Sebastião, fundou a cidade e o João Saraiva nomeou o senhor?
R – Foi.
P/1 – E esse João Saraiva, ele era o quê?
R – Ele era chefe político, tinha influência com o governo, que o governo daquele tempo era Pedro Ludovico Teixeira, depois, saiu e entrou José Ludovico primo dele, eram os políticos de Goiás, o dono de Goiânia era esse Ludovico e o João Saraiva era entrosado lá com eles, tinha prestígio, tinha prestígio mesmo (risos).
P/1 – E o senhor tinha prestígio com ele, né?
R – É. Com o Saraiva, né, que ele indicou o meu nome.
P/2 – E a prefeitura, conta um pouquinho aí da sua estadia na prefeitura, como foi, quais as dificuldades que o senhor encontrou: não entendo nada de política… então, qual a dificuldade que o senhor encontrou dentro da prefeitura e as facilidades, conte aí.
R – Bom, a gente… pra funcionar, começar tudo do zero, nada é fácil, né? Então, eu ficava ali dentro, os funcionários e o prefeito, Antônia Respaldi, tu conhece, né? Era tesoureira. Não sei pra que, dinheiro não tinha (risos) e tinha o Joaquim José de Carvalho, era o secretário da prefeitura, foi esse que me desanimou muito quando eu falei pra ele que ia mudar o nome da cidade: “Joaquim, vamos mudar o nome dessa cidade, Xambiozinho, que troço enjoado, Xambiozinho, diminutivo. Eu quero que você a partir de hoje, não mande nenhuma correspondência para Goiânia e nem para lugar nenhum desta prefeitura com o nome de Xambiozinho, você põe Xambioá e é com x”.
P/1 – O senhor falou para?
R – Para o meu secretário. “Eu vou fazer isso porque você tá me mandando, mas eu não tô achando bom isso, não. Será que vai dar certo?” “Se não der, não deu, mas faça do jeito que eu quero”, aí começou correspondência para qualquer lugar da prefeitura. Daqui a pouco, eles começaram a escrever de lá para cá para nós já chamando Xambioá e foi assim que mudou de Chambioazinho para Xambioá. Mas o nome mesmo definitivo é Chambioazinho e é escrito com CH. Eu mudei na marra assim, mas esse nome Xambioá não é o nosso nome, não, se houvesse uma questão, Chambioazinho ganhava.
P/1 – Será?
R – Acho que ganhava. É que ninguém vai mexer com isso, deixa pra lá.
P/1 – Tá registrado como Chambioazinho?
R – Tá.
P/1 – Mas em qualquer placa, em qualquer lugar é Xambioá.
R – É tudo, tudo!
P/1 – E como prefeito, Seu Sebastião, qual que foi a maior dificuldade, maior desafio que o senhor teve?
R – Bom, eu fiquei assim, sem fazer nada e com vontade de fazer qualquer coisa, eu queria fazer qualquer coisa, então um dia, chegou um grupo de professoras lá na prefeitura, não, aqui em casa, umas dez, tinha uma mulher treinada, professora boa, aí abri a porta: “Oi gente, bom dia! Que novidade vocês por aqui” “Nós não estamos passeando, não. Termine aí pra poder escutar o que que nós estamos querendo”, tinha duas salinhas de aula que estavam funcionando ali, uma coisinha, tudo ruim, hoje é o grande colégio José Bonifácio. Ela disse: “Nós estamos querendo sala de aula” “Sala de aula? Como é que essa prefeitura vai construir sala de aula sem ter dinheiro, meninas? Vocês são otimistas demais, o prefeito não tem como construir salas de aula, não.” “Mas nós estamos querendo, nós não estamos querendo continuar naquelas duas salinhas, não”. Cheguei em casa, arrumei a boroca e chutei pra Goiânia. No outro dia, eu fui no Palácio do Governo, de terno, fui de terno. Muita gente, o governo despachando, quando chegou a minha vez, ele disse: “E você?” “Eu sou prefeito lá dessa cidade nova que foi criada agora”. Foi criado 38 vilas, passou a cidade, um projeto só emancipou 38.
P/1 – Mas a de vocês, não?
R – A nossa foi emancipada também.
P/1 – Ah é?
R – Foi essa que eu assumi. Mas não foi só essa, não. O governador que era José Ludovico de Almeida tomou uma decisão de construir novas vilas, novas cidades.
P/1 – Quem que fez isso?
R – José Ludovico, o Juscelino tava mudando o Distrito Federal, a capital, tava construindo já, mas o governo com vergonha, porque Estado tão grande, só tinha 140 municípios no Estado de Goiás. E aí, José Ludovico entendeu de construir novas cidades e sabe o que que ele fez? José Freire era deputado estadual e era presidente da Assembleia Legislativa, chamou o José Freire lá no palácio e disse: “Olha, vamos aumentar o número de cidades no Estado de Goiás, que Juscelino tá mudando o Distrito Federal e já tá vindo material de Brasília, já, para construir a nova capital. Você aluga um jipe aí, um carro pequeno, alguma coisa e vai percorrer todo o Estado de Goiás e escolher os distritos mais desenvolvidos, anote direitinho e traga aqui para nós emancipar”. José Freire escutou, foi por Goiás todo, Bico do Papagaio, tudo… e aí, chegou lá e prestou conta: “Tá aqui” e Chambioazinho era um desses distritos que ele anotou, né? Emancipou.
P/1 – Que seria o nosso antes da mudança de nome?
R – É.
P/1 – O daqui antes da mudança.
R – Então, dessa vez, o governador criou 38 cidades, 38 municípios, José Freire deu entrada lá, ele aprovou que era isso que ele queria aumentar o número de municípios em todo o Estado, o governador ficou satisfeito demais porque só tinha 140 municípios, com mais 38 foi para 178. Então com isso, foi assim que se emancipou.
P/1 – E foi nessa época que ele entrou, né, como prefeito?
P/2 – Foi na época que ele já tava sendo prefeito. Foi nessa época que o senhor estava sendo prefeito?
R – Não, aí é outra coisa.
P/2 – Foi antes?
R – Foi antes.
P/1 – É, porque aí, quando ele emancipou Chambioazinho, que o senhor virou prefeito.
R – Foi!
P/1 – Que ele veio com a nomeação e você levou um susto.
R – Foi.
P/2 – Foi nessa época que o senhor foi ser prefeito quando…
P/1 – Emancipou.
P/2 – Dividiram as cidadezinhas que não eram emancipadas, né?
R – É. Mas ele emancipou 38.
P/1 – Aí que entrou Chambioazinho, aí o senhor resolveu chamar de Xambioá, mas no papel tá Chambioazinho, né?
R – Não aguentei, Chambioazinho, Chambioazinho, aí quando não aguentei mais, fiz essa aventura de mudar para Xambioá e até hoje…
P/2 – Aí, o senhor ficou quantos anos sendo prefeito?
R – Fiquei só dois anos e um mês. Eu construí um campo de avião.
P/1 – O senhor que construiu?
R – Foi eu que construí.
P/1 – Que beleza!
R – Eita! Isso aí foi um sacrifício. Atendendo um pedido. Tinha um gringo…
P/2 – O senhor lembra o ano? O ano que foi?
R – Isso foi eu já como prefeito, um dia chegou lá Jorge Galego, Galego era um gringo, sabe o que é gringo?
P/1 – Sei.
R – É o sujeito que é descendente de estrangeiro e mora em outro país. Tinha um gringo que mexia com garimpo e um dia, ele chegou lá em frente à prefeitura, aí falou: “Cadê o prefeito?” “Tá lá em cima”, tinha um gabinetezinho lá em cima: “Quero falar com ele” “Suba Jorge”, chegou lá, ele disse: “Olha, vim só fazer um pedido aqui prefeito, eu quero que faça um campo de avião para Xambioá”, nosso transporte era mais aqui pelo rio, via fluvial e aviãozinho pequeno. Isso tinha…
P/1 – Já tinha?
R – Já tinha. E aí, eu disse: “Como é que eu faço esse campo de avião sem dinheiro, Jorge?” “Não sei não, vim só dar o meu recado”. Quando ele saiu, Joaquim Carvalho era meu secretário: “Sebastião, eu vou lhe dar uma notícia, não sei se vai servir, mas vamos dar uma notícia, Chambioazinho tem verba federal para construir um campo de avião aqui, quem criou isso foi o deputado Emival Caiado” “E por que não construíram?”, ele disse: “Nós éramos distrito, o prefeito era de Araguatins, aqui era município de lá e disseram que não iam mexer com isso, não. Já requereu a verba, mas não mexeu com isso, não. Tirar dinheiro para construir campo em Chambioazinho”, assim que ele fez e eu fui atrás. Cheguei em Araguatins, fui lá com ele: “Rapaz, eu assumi a prefeitura lá de Chambioazinho, eu queria construir o campo, você tem alguma notícia para me dar?”, ele diz: “Olha, o Emival Caiado criou uma verba de um milhão de cruzeiros destinado a um campo de avião na vila de Chambioazinho” “E o senhor não construiu por quê?” “Não quis mexer com isso”, aí: “E agora? Eu já tô com gente lá no ___01:04:16____” “Se você quiser ir em Belém…”, a SPVEA funcionava em Belém, um órgão de Goiás. Tinha duas representações e uma outra representação do governo do estado, qualquer coisa que seja de interesse de Goiás, é aqui na SPVEA. Eu fui lá. Cheguei lá, falei com o Doutor Valdir Boide, gordão: “O quê que você manda?” “Eu tô construindo um campo nesse município novo, que foi criado agora no Tocantins, em Goiás, quer dizer e eu tô construindo um campo e eu vim pedir ajuda. Eu fui informado que tem uma verba aqui destinada ao campo” “De quanto foi?” “Não sei”, aí deu uma busca, era mil e só tinha 400: “Achei um dinheirinho para você, só que não é mil, só tem 400, se você quiser isso aí, a gente pode lhe dar. Não é agora não, tem que mexer numa papelada ai”, e aí, eu fiquei, todo dia eu ia lá na SPVEA, todo dia. Daqui a pouco, chegou um representante do governo de Goiás, começou a me ajudar e tinha um representante do estado, tudo lá na SPVEA, hoje é SUDAM, mas naquele tempo era SPVEA. E foi como eu recebi esses 400.
P/1 – Recebeu?
R – Recebi. Recebi parcelado, me deu 200, eu fiz uma procuração lá para o representante do Estado, recebi, mandou. Fiz o campo, uma beleza de campo, 1.600 metros, nós era para ter linha de avião de passageiro aqui para Xambioá. Eu que fiz. E aí, fizemos uma ponte de madeira no Chambioazinho, as duas salas de aula a gente fez, muito boas, as melhores que tem aí.
P/1 – Quando as professoras foram lá, o senhor atendeu elas?
R – É.
P/1 – E fez a escola?
R – É. Foi.
P/1 – Como chama a escola?
R – José Bonifácio. Já tinha o nome, as duas salinhas velhas já tinham o nome.
P/1 – Entendi. Só aumentou?
R – Aumentou.
P/1 – Em dois anos, o senhor fez bastante coisa, hein?
R – A gente viajava… mas esse dinheiro que eu fui pedir em Goiânia, quando eu falei com o governo que precisava construir quatro salas, que precisava quatro salas de aula, já comecei lá. Sabe o quê que o governo me disse? Que não podia: “Ora, é um município novo, tá criando agora, tudo, mas aí senhor prefeito, o senhor não vai levar esse dinheiro, não, não vou poder despachar isso, não” “Mas eu vim para isso”, e aí, à noite eu fui lá no Palácio, à noite, o governador recebia muita visita no Palácio, aí visita de cortesia, prefeitos, né, quando chegou minha vez, eu já muito desanimado, com vontade de vir embora sem trazer nada. Quando chegou a minha vez, ele me chamou de Chambiozinho: ‘E você, Chambiozinho, o quê que manda?” “Nada, seu governador, eu vou embora, eu tô com a minha mala pronta, amanhã
eu vou embora, chegar lá, vou despachar o pessoal que esta construindo as salas de aula, não vou ter dinheiro para pagar, por que eu quero construir sala? Vou dizer que o governo não deu e acabou a historia”, aí, pensou, pensou… pois é, aí deixa eu ver quantas salas que eu queria, era quatro ou era seis? Era seis salas de aula. Ele disse que só podia me dar ajuda para duas, 300 mil. Esses 300 eu recebi e construiu. São as melhores salas que tem na José Bonifácio, muito bom. E a minha vida foi assim, não fiquei parado, não.
P/1 – Não mesmo.
P/2 – Quando o senhor comprou aquela chacarazinha ali, na beira rio, aqui, foi nessa época, na mesma época que o senhor construiu o campo de avião, era seu ali a…?
R – Não era meu ainda não. Aquilo ali foi construído antes. Ali, as terras aqui eram tudo devoluta. Você se agradava de um lugar, metia o facão e fazia a roça. Aquilo ali eu levei um pessoal de foice, machado, fizemos uma roça grande, ali não foi comprado, não.
P/2 – Foi não, né? Chegou e apossou e pronto.
R – Não tinha dono. Era tudo devoluta.
P/2 – Seu Sebastião, como foi a sua vida ali?
R – Onde?
P/2 – Lá na chacarazinha, ou o senhor não chegou a morar lá?
R – Não cheguei a morar, não. Criei gado e funcionou bem, vendia leite aqui na rua.
P/1 – O senhor não morou lá?
R – Morei lá, não. Morava aqui na cidade.
P/2 – Quem morava lá?
R – Eu tinha vaqueiro.
P/2 – Era só o vaqueiro que morava lá?
R – Era.
P/2 – E naquele tempo da guerrilha, como que foi lá, assim? O senhor poderia contar alguma coisa pra nós?
R – Posso. Porque o pessoal da guerrilha foi assim, eles chegaram e não foram observar quem era dono e quem não era, não. Eles fizeram foi tomar conta. Chegaram e foram fazer o barracão sem falar nada pra ninguém. E aí, não deram satisfação nenhuma. Fizeram três acampamentos grandes, um do Exército, outro da Marinha e outro da Aeronáutica.
P/1 – Então, eram os militares?
R – Era.
P/1 – Não eram os guerrilheiros?
R – Sem combinar com o dono. Eu já com o título definitivo daquela terra.
P/1 – Como?
R – Eu era dono, eu tinha o título definitivo. Aí, o quê que aconteceu? Ficou por isso mesmo. Eles acamparam num lugar, na melhor parte que tinha e aí, foram dois anos que eu não pude zelar aquilo lá, não podia nem arroçar o mato, o gado não podia pisar naquela érea porque eles faziam muito treinamento de tiros e mais tiros. A gente tinha medo de olhar até, o gado ficou parado. Agora foi que no ano passado, eu pedi, tive coragem e pedi uma indenização. Expliquei que aquilo ia ser… eram, invasores, chegaram, invadiram a fazenda e eu tive muito prejuízo, até hoje, tô tendo.
P/1 – Por que até hoje, seu Sebastião?
R – Porque quando eles foram embora, ficaram calados, que eu devia ter pedido logo uma indenização. Eu vim pedir indenização agora.
P/2 – Lá na sua chacarazinha, lá, tem marcas de balas nas paredes?
R – Não.
P/2 – Tem não?
R – Eles faziam treinamento lá na…
P/2 – Mas eles nunca deram tiro nas paredes lá?
R – Não, não. Nunca deram.
P/1 – Seu Sebastião, chegou o Exército, Marinha e Aeronáutica nas suas terras?
R – Foi.
P/1 – E antes deles chegarem, o senhor tinha notícias do movimento, da guerrilha?
R – Tinha. Eu ia lá, ia a cavalo. Forneci leite lá para eles, mandava vaqueiro levar. Um dia, achei muito engraçado, que chegou uma turma de soldado do Exército lá e tinha uns pés de jenipapo, não, de mamão grande com muito mamão maduro e soldado muito saliente: “Vou subir e tirar uns mamão aqui” (risos), mas mamão é fraco demais e o cabra subiu, um lado assim, os cachos era tudo maduro. Ele foi meter a mão pra tirar os mamão e o cacho despencou tudo em cima dele (risos), os soldados começaram a rir e ele: “Não é caso de graça, eu tô machucado”, levaram… trouxeram ele para tomar injeção.
P/1 – Mas esse que caiu era do Exército?
R – Era do Exército.
P/1 – O senhor levava leite, tudo, para quem, Seu Sebastião?
R – Tinha o chefe lá de movimento de comida.
P/1 – Mas ainda do Exército ou da guerrilha?
R – Do Exército, da Aeronáutica e da Marinha. Tinha que vender em três acampamentos, o leite.
P/1 – Ah, era para vender?
R – Vender.
P/1 – Agora, eles vieram atrás dos guerrilheiros?
R – Foi.
P/1 – E o senhor chegou a conhecer, a conversar com alguns dos guerrilheiros?
R – Acho que a gente conversava, mas esse povo chegou aqui na cidade, tinha uns grupinhos, conversa pra aqui, pra acolá, uns segredos. O segredo deles eles não contavam para ninguém. Eles ficaram aí entre nós como fosse gente importante que estava chegando e tirando terra para fazer o plantio, para fazer fazenda. Aí ninguém ia pensar que aquilo ali era gente descontente com o governo como eles eram. Era gente descontente, não era? Com o governo. Eu recebi um aviso que eu vou receber uma indenização agora.
P/1 – Por causa disso, né?
R – É. Já recebi aviso.
PAUSA
P/1 – Seu Sebastião, então, a gente tava dizendo que o pessoal, os guerrilheiros, mesmo, vocês não conseguiam identificar quem eram, não sabiam quem eram?
R – Não sabia. Só de nome, depois quando eles chegaram aí, eles foram citando o nome. A Doutora Dina morava em São Geraldo, tinha farmácia lá, ela era uma chefe, ela dava assistência para o povo aí da roça, mulher grávida, questão de parto, podia chamar ela qualquer hora do dia e da noite, que ela ia atender.
P/1 – Quem era a Dina?
R – Dina era a dona de uma farmácia em São Geraldo.
P/1 – Mas o quê que ela fazia? Parte do quê?
R – Da guerrilha. Ela era Doutora Dina, médica. Era uma base de 80 elementos, tudo doutores, tudo! Esse povo, morreu metade, outros foram presos. Gente sofreu, gente foi… mas parece que eu vou receber uma indenização, não é muito grande, mas vou.
P/1 – Seu Sebastião, só voltando um pouquinho, porque essa história pouca gente viu e pouca gente sabe contar. A Doutora Dina, ela tinha uma farmácia, e ela atendia as pessoas?
R – É.
P/1 – E era da guerrilha?
R – É.
P/1 – O senhor disse que tinham muitos médicos.
R – Médicos, isso.
P/1 – O senhor chegou a conversar com alguns desses médicos?
R – Não, se conversei, mas… podia até conversar que era gente que tava chegando, fazendo abertura na mata aí, caçando lugar para fazer fazenda.
P/1 – Seu Sebastião, o senhor disse que depois, muita gente sofreu. Aqui na cidade, vocês viram alguma coisa?
R – Não fazia isso assim, abertamente, não. O que foi muito abertamente foi o pai do Rui, tem um Rui aí que até foi indenizado depois, prenderam o pai dele, chamava Lourival Moura, prenderam aí, torturaram, o Lourival Moura suicidou-se lá na cadeia, suicidou, o Rui, tu conhece? Um branco? Forte?
P/2 – Sim, a gente conhece. É o Rui, né?
R – O Rui.
P/2 – Ruiderval. Ele mesmo, a gente conhece.
R – O Rui recebeu…
P/1 – Além dessa situação, o senhor viu alguma outra assim, triste?
R – Não, só assim, gente que falava que a gente não sabia quem era, nós não conhecia ninguém, não.
P/1 – O senhor não viu nada aqui na cidade, né?
R – Não.
P/1 – O senhor era prefeito nessa época?
R – Não, não.
P/1 – Já tinha sido?
R – Já.
P/1 – E depois que o senhor ficou dois anos de prefeito, fez tudo isso que o senhor fez, aí o quê que o senhor passou a fazer?
R – Eu já tinha começado a fazenda, fui criar gado. Cristal não tinha mais, eu fui levando a vida, aí.
P/1 – O senhor foi prefeito só essa vez, seu Sebastião?
R – Só, porque eu tive oportunidade de ser candidato… ser prefeito duas vezes, mas na oportunidade, eu tive problema de saúde, não aceitei a candidatura. João Saraiva era o chefe, chegou a época de eleição, ele disse: “Sebastião, é você ou Tarcísio Lima”, que tinha uma loja na Beirario, “Vocês são os meus candidatos, qual é de vocês dois que querem ser prefeito?”, e eu já me sentindo doente, falei: “Não vou arriscar, não”, aí Tarcísio não quis, também, disse que não nasceu para ser homem público. Aí, foi a vez de Tacilinho se candidatar.
P/1 – Muito bom, Seu Sebastião, você quer perguntar mais alguma coisa, que a gente já tá terminado, Santana?
P/1 – O senhor tem quantos filhos, seu Sebastião?
R – Quatro.
P/1 – Quantos meninos e quantas meninas?
R – Homens são três e uma mulher.
P/1 – E netos?
R – Não sei nem quantos netos tem mais, tem muito.
P/1 – E bisneto também, né?
R – Bisneto também.
P/2 – O que o senhor faz hoje?
R – Nada. Só saio daqui para o mercado, sentar por lá (risos).
P/1 – E a fazenda com gado? Continua lá?
R – Eu vendi, na verdade, ainda tem uma área de terra, até vender também. Não sou mais criador de gado, não. Aposentado. Vou usando a aposentadoriazinha para ir quebrando o galho.
P/1 – Mas com gado, plantação, não tem acontecendo, não, né?
R – Não.
P/1 – Porque às vezes, fica para os filhos, para os netos…
R – Eu tenho uma aposentadoria como ex-prefeito, eu tenho dois salários. E tem um que a gente tem direito como empregador. E tenho outra da minha mulher que morreu, fiquei…
P/1 – O senhor tava falando dela, né, aquela hora?
R – É. Pra viver, eu tenho isso.
P/1 – O senhor falou da sua esposa que faleceu, né, há dez anos?
R – Dez anos.
P/1 – Qual o nome dela?
R – Terezinha.
P/1 – De Jesus? Essa é aquela esposa ainda que o senhor gostou logo que viu?
R – Foi (risos).
P/1 – Foi a única paixão?
R – Foi.
P/1 – Seu Sebastião, a última pergunta aqui que a Santana vai fazer.
P/2 – Qual o seu sonho? Conta aí pra nós.
R – Agora?
P/2 – Sim. Seu sonho de agora pra frente. Conta pra nós, aí.
R – Bom, se eu receber essa indenização como eu tô prevendo, eu vou aplicar quase tudo na Caixa Econômica e o resto, fica quieto, mesmo.
P/1 – O resto o quê?
P/2 – Fica quieto.
R – Não vou fazer nada.
P/2 – Seu Sebastião, responde pra nós aqui, como foi contar a sua história? O que o senhor sentiu, assim, de estar contando a sua história, a história da sua vida, da sua intimidade? Como foi contar pra nós?
R – Bom, aí já precisa saber… aí embaraçou, viu?
P/2 – O quê que os senhor sentiu contando pra nós a sua história?
P/1 – O senhor gostou, não gostou?
R – Sim, eu sou grato a vocês terem vindo aqui hoje, me deu conforto, me deu… foi ótimo para mim, foi bom até pra minha saúde, viu?
P/1 – É?
R – Foi bom.
P/1 – Por que que foi bom para a sua saúde?
R – Bom, porque eu me senti bem de falar essas coisas que eu nem me lembrava mais, relembrei. Foi bom, foi bom lembrar.
P/1 – Mas o senhor falou que queria saber o quê?
R – Eu falei?
P/1 – Falou assim: “Mas eu precisava saber…”?
R – Não.
P/1 – Se o senhor quer saber, eu vou falar, então, o que eu quero falar, mesmo que o senhor não queira saber. Foi ótimo pra gente ouvir a sua história também.
R – Obrigado.
P/1 – Muito bom, muitas coisas assim, que só o senhor podia contar pra gente. Agora que o senhor contou, a sua história vai ficar gravada pra sempre…
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
Eu conheci ela aqui, vinha vindo de ___00:21:25____, ela usava cabelo grande, com laço, eu me encantei quando eu vi ela (risos). – Página 06.
[…] “E agora? Eu já tô com gente lá no ___01:04:16____” […] – Página 17.Recolher