Meu nome é José Wladimir Klein, (Mik para os íntimos, apelido que ganhei quando garoto não sabendo pronunciar o meu nome quando o fazia só saía a última sílaba de Wladimir e a primeira letra de Klein); nasci no dia 06 de Novembro de 1928 no, então, município de Santo Amaro, que em 1935 ser...Continuar leitura
Meu nome é José Wladimir Klein, (Mik para os íntimos, apelido que ganhei quando garoto não sabendo pronunciar o meu nome quando o fazia só saía a última sílaba de Wladimir e a primeira letra de Klein); nasci no dia 06 de Novembro de 1928 no, então, município de Santo Amaro, que em 1935 seria anexado ao município da capital mantendo a mesma denominação, hoje bairro de Santo Amaro, na zona sul. Quando nasci aquele bairro era o final da civilização, ponto terminal da linha de bondes que trafegavam em leito próprio, como se fosse uma via férrea.
Meu pai, Jacob Klein era filho de uma índia, Vicência Alves, natural do lugarejo de nome Cipó, muito além do bairro de Santo Amaro, sendo seu pai, Pedro Klein, imigrante de origem alemã. Minha mãe, Maria de Lourdes Moura, era filha "natural" de Honorata de Moura, tendo sido reconhecida, posteriormente pelo pai que era um comerciante santista, cujo nome não me recordo. Minha avó, Honorata, era filha de Justina, uma ex-escrava alforriada antes da lei libertadora por benesse de seu senhor Tenente Coronel Adolpho Pinheiro cuja memória é reverenciada pela principal avenida que corta o bairro. Meu pai foi militar pelo período de quatro anos tendo dado baixa da "Força Pública" porque a profissão o mantinha muito afastado da família; com a dificuldade de emprego, passou a fazer jogo do bicho para um neto do Adolpho Pinheiro, (Waldomiro), e posteriormente trabalhou em vários ofícios.
Tanto minha mãe como minha avó materna, e talvez até a sua própria mãe, Justina, nasceram no casarão da Av. Adoplpho Pinheiro, nº01 que pertencera ao patrono da avenida e foi ocupado por uma de suas filhas, Maria José Pinheiro (Mariquinha) , até a sua demolição para alargamento da avenida. Meu irmão, Waldemar Conceição Klein e eu também nascemos naquele solar onde meus pais passaram a residir depois do casamento, que aconteceu por volta de 1926.
Ao tempo em que meu irmão e eu éramos criança, Santo Amaro era um núcleo de poucas ruas, onde as famílias todas se conheciam e geralmente consorciavam-se entre si. O casarão da família Pinheiro que situava-se na esquina da hoje denominada Rua Voluntário Delmiro Sampaio era um centro onde juntavam-se as crianças de todo o bairro, visto que ali, no amplo quintal realizávamos inúmeras brincadeiras como quermesses (onde o dinheiro que circulava eram tampinhas de garrafas, o que obrigava as crianças a colherem todas as que encontravam pelo bairro); jogos de futebol, brincadeiras de "bota" "garafão" "esconde esconde", réplicas dos heróis do momento nos cinemas como o "Aranha Negra", chegamos a organizar um grupo de teatro, apenas com as crianças que, foi um sucesso extraordinário; participavam, além de nós, Célia filha de um Juiz (Dr. Oscar Fernandes Martins que era casado com uma neta de Adolpho Pinheiro, Da. Zizinha); o filho do dono da casa de carnes "Rex" que participava equilibrando-se em um velocípede de apenas duas rodas; o filho de um sapateiro (Atílio); o filho de um dos proprietários da Agência Ford (Luizinho) e muitos outros que no momento não me recordo os nomes. Os ingressos eram palitos de fósforos e, por incrível que pareça, os freqüentadores eram, na maioria, adultos. O dono da Agência Ford, Raphael Navarro, ficou tão entusiasmado que pensou em desalojar um clube de futebol (Cica) que ocupava um seu terreno, para ali montar um circo para que se fizessem as apresentações para toda a cidade, visto que as mesmas eram feitas na varanda do casarão. Só não foi avante essa idéia porque pessoas mais ponderadas fizeram ver àquele empresário a temeridade da realização que colocaria uma enorme responsabilidade nas mãos de crianças ainda em formação.
Meu irmão e eu freqüentamos, talvez nos primeiros dois anos, a escola particular São Francisco da Profa. Da. Carmelina Alvim. Posteriormente passamos a freqüentar uma outra escola, cuja professora era uma neta de Adolpho Pinheiro, Umbelina Pinheiro Foster (Lolinha) que iniciou as suas atividades na mesma rua que havíamos passado a residir (Delmiro Sampaio), até o falecimento de nosso pai em 1939, quando passamos a estudar, os dois últimos anos, no Grupo Escolar Paulo Eiró, de onde recebemos o único diploma que nos foi possível, do curso primário (hoje 4ª série do primeiro grau). Órfãos de pai, sem nenhuma pensão, nossa mãe passou a trabalhar como cozinheira da neta do Adolpho Peinheiro, com quem havia sido criada; nós saímos do curso primário e já começamos a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Trabalhei em um escritório de despachante, em uma casa de móveis, em uma oficina mecânica em uma Cia. de produtos alimentícios (Reisa), até ingressar na "Ligth", de onde passaria para a Cia. Municipal de Transportes Coletivos.
A partir daí os nossos castelos desmoronaram-se, pois tudo aquilo com que sonhávamos passava a constituírem-se como metas inatingíveis. Aquele desejo de nos prepararmos para sermos alguém e vivermos uma vida que nos oferecesse perspectivas de sucesso morreram, dando lugar à vivência do momento, da luta diurna para a sobrevivência. E as ferramentas que possuíamos eram muito rudimentares para acalentarmos sonhos e fantasias. Mas mesmo assim nunca deixamos de sonhar porque sentíamos que as pessoas não são unicamente forjadas nas universidades e sim, também, nas adversidades E de certa maneira fomos vencedores, visto que com parcos recursos alcançamos condições para as quais a nossa desdita não apontava; meu irmão passou a trabalhar em uma farmácia habilitando-se na profissão e eu tive a oportunidade de ingressar em uma grande empresa, como mensageiro, tendo galgado posição pelo trabalho, chegando a chefe da seção na qual iniciei o meu aprendizado.
O meu trabalho foi desenvolvido na seção de tesouraria da São Paulo Ligth, tendo sido transferido posteriormente para a mesma seção da Cia. Municipal de Transportes Coletivos onde completei trinta e dois anos e quatro meses para aposentar-me. Paralelamente, pelo espaço de vinte e dois anos, desenvolvi as funções de secretário e diretor administrativo no colégio em que minha mãe trabalhou (Instituto Educacional Infantil), escola para menores excepcionais. Ligado ao trabalho participei do Sindicato da categoria, como representante no meu bairro, e na comissão paritária para levantamento e elaboração do "Quadro de Carreira" da empresa.
Não tivemos tempo para aprendermos muitas coisas com nosso pai, pois por ocasião de seu passamento meu irmão contava 12 anos e eu 10, mas uma semente preciosa foi plantada em nosso intelecto e em nossa alma, foram retalhos da "Palavra de Deus" quando ele nos levava para assistirmos aos cultos na Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Santo Amaro.
Não seguimos a religião depois que ele faleceu, visto que nossa mãe era de formação católica e nos influenciou, também, mas essa semente viria a frutificar no tempo certo para que tomássemos conhecimento das verdadeiras doutrinas que encaminham o ser humano para apropriar-se das promessas de salvação e de vida eterna através de Jesus Cristo. Isso constituiu-se em uma plataforma segura para que conduzíssemos os nossos filhos.
Apesar da dificuldade que sempre vivemos, tanto meu irmão como eu assumimos compromisso familiar muito cedo, com dezenove anos. Nessa ocasião nossa mãe já havia deixado o trabalho de cozinheira e iniciado o trabalho em um colégio, onde alcançou a aposentadoria anos depois, deixando-nos livres para assumirmos os nossos compromissos. Meu irmão era um tanto namorador e acabou casando-se com uma jovem do bairro, de família conhecida, Edith Borba. Eu, muito tímido, não conseguia relacionar-me com as garotas, ficando unicamente nos olhares trocados, o que me apontava como um futuro solteirão. Apenas sonhava, e no meu sonho construía a musa ideal com quem algum dia estaria me unindo.
Estava escrito nas estrelas Na primavera de 1947, uma jovem (Jandira Ramalho, filha de Francisco Ramalho e Victória Perassole), saiu da cidade de Mocóca, interior de São Paulo, e viajou para São Paulo, em visita a parentes que residiam no bairro do Belém; no dia 31 de Agosto foi obrigada a visitar outra parente no bairro de Santo Amaro, propiciando-nos o encontro que nos levaria a estarmos casando no dia 31 de Julho de 1948, exatamente onze meses depois de nos conhecermos. Jandira veio para visitar parentes mas a sua intenção era ficar em São Paulo; os primos dela arranjaram-lhe um emprego e ela, com receio de que eu não aprovasse disse-me que o emprego era nas Lojas Três Irmãos, na Rua Direita. Várias vezes postei-me nas proximidades para tentar encontrá-la e não me foi possível, em um dos dias quando percebi ela estava perto de mim, mas vindo de outro lugar; daí ela não teve outra alternativa senão me falar a verdade, o emprego era em um bar na Rua da Quitanda (era justamente um bar que eu costumava ir tomar café com os colegas quando íamos fazer depósitos ou saques no Banco do Estado que era próximo); não gostei, não tanto pelo local e mais por ela ter mentido. Como já estava gostando de fato dela e previa que consolidaríamos o nosso relacionamento, aconselhei-a a voltar para a sua cidade, ela aceitou o meu conselho e voltou para a casa dos pais em Mocóca, que, soube depois, aprovaram a minha conduta. Ficamos nos relacionando por cartas até um dia, um mês e pouco depois quando recebi uma das cartas fiz um suspense para abri-la. Um colega, Moacir Fowler me convidou para irmos a Campinas e aceitei, íamos no sábado e voltaríamos no domingo. Tomamos o trem às 20:00 horas na Estação da Luz; no trem abri a carta e a saudade bateu fundo; o meu colega que era tanto ou mais louco do que eu, disse: "- Por que não vamos até Mocóca?". A sugestão era o que eu desejava e imediatamente saímos à procura do guarda trem para sabermos das possibilidades. Ele nos encorajou orientando que deveríamos descer em Campinas onde faríamos conexão com o horário da Mogiana que nos levaria até Casa Branca, de lá poderíamos tomar um táxi que nos levaria até Mocóca. Tomamos esse trem e sacolejamos na Mogiana (bitola estreita) até Casa Branca. Descemos na estação e o único táxi que havia estava a serviço de um fazendeiro pelo falecimento de um parente. O funcionário da estação nos orientou e tomamos, às carreiras, um trem que ia para Passos/MG, para descermos em São José do Rio Pardo, para conseguirmos um táxi. Em São José uma família desceu na nossa frente e tomou o único táxi para levá-los a uma fazenda; falamos com o motorista e ficamos esperando a sua volta para que nos levasse à Mocóca. Até que enfim Nós nunca havíamos saído de São Paulo e para mim deveria ser como aqui que os bares amanheciam abertos; o motorista nos dizia, para aplacar a nossa fome: "-Vou deixá-los em frente de um bar que faz o melhor café de Mocóca". Quando chegamos lá o bar estava fechado e não adiantou nada ficarmos em frente, eram cinco horas da manhã. Ficamos próximos à praça principal, e quando as famílias começaram a abrir as portas fomos alvo de curiosidade. Sentamos em uma soleira de porta e esperamos. Quando eram seis e meia e passava um senhor e o meu colega resmungou: "-Oh Cidade miserável, estamos morrendo de fome". O senhor aproximou-se: "-Vocês são de fora, porque não foram ao Hotel Terraço?" E nos informou e fomos tomar o melhor café que havíamos tomado até aquela data. No hotel as pessoas também estavam curiosas, querendo saber se estávamos tratando assuntos políticos, deixamos tudo em suspense e depois das oito horas fomos procurar o endereço da Jandira. Quando subíamos a Rua José Bonifácio (o número era 993) o meu colega dizia: "-Mik, você não conhece o pai da moça, e se ele aparece com uma espingarda e passa fogo na gente?" Mas a determinação e a boa intenção fizeram com que fôssemos bem recebidos. Eu estava meio constrangido, mas meu colega logo ficou a vontade, eu soube depois que havia sido porque vira a minha fotografia, em um porta retrato, em cima do rádio (eu já havia sido aceito, como declarou depois). Saímos passear pela cidade, e quando voltamos almoçamos e um táxi já estava nos esperando para levar-nos de volta a Casa Branca, onde deveríamos tomar o trem que ali passava ao meio dia e meia. Fizemos a viagem de volta e às oito horas da noite do domingo desembarcávamos novamente na Estação da Luz, em vinte e quatro horas havíamos realizado essa façanha. Dois meses depois saí de férias e fui para lá e fiquei quase as férias todas. Voltei com o coração partido porque apegado profundamente àquela que seria a minha companheira. Passaram-se mais dois meses e a Jandira conseguiu convencer os pais de virem para São Paulo; alugaram a sua casa lá e vieram residir próximo a parentes no bairro do Belém, mais exatamente na "Mãe do Céu". O nosso namoro consolidou-se, embora no meio tivéssemos um desentendimento que quase acabou com tudo, mas fizemos as pazes e em 31 de Julho de l.947 realizamos o nosso sonho que tem durado até agora.
Fomos morar no quintal da casa onde já residia, onde construí um cômodo. Neste ano de 1998, em 3l de Julho estaremos completando 50 anos de união. Já aperfeiçoamos o nosso relacionamento? Ainda não Como poderíamos construir algo perfeito sendo seres imperfeitos? Mas a persistência a compreensão de ambos os lados fizeram com que fossemos, através dos anos, superando as nossas diferenças, transpondo obstáculos para chegarmos a poder olhar para o nosso passado, contemplar os nossos filhos e netos e concluirmos que construímos algo bom e sólido. Assumindo a nossa responsabilidade criamos, também, uma responsabilidade para os nossos descendentes, qual seja a do dever de constituírem famílias que consolidem a sociedade para que possa haver segurança para os filhos, e através deles para toda a humanidade.
Quando casamos, antes fizemos uma análise da situação que deveríamos enfrentar, contando com o pequeno salário que eu recebia; entramos em acordo que a Jandira não mais trabalharia fora, dedicando-se exclusivamente ao lar. Isso talvez por insegurança minha que pode até ter impedido a ela uma ascensão profissional. Como os afazeres eram poucos ela matriculou-se juntamente com minha mãe e minha cunhada em um curso de pintura tendo demonstrado o seu talento. Pena que não deu continuidade ( mais tarde ela voltaria a pintar) preferindo na ocasião, fazer um curso de corte e costura que na verdade foi muito útil, pois passou a costurar para ela, para mim e para as crianças, ajudando significativamente no orçamento doméstico. Grande parte do patrimônio que conseguimos formar devemos à disposição para o trabalho de minha esposa que sempre conservou o nosso lar agradável e acolhedor, além de sua capacidade de organização e economia, aproveitando tudo de tal forma que o salário parecia multiplicar. Não digo que não passamos por dificuldades, mas dentro de uma organização, gastando com proficiência os recursos, alcançamos todos os nossos objetivos. Hoje ainda tentamos passar esses princípios aos netos, para que eles saibam administrar as suas vidas com a finalidade de caminharem para as realizações de suas aspirações.
Três anos depois de nosso casamento transferimos nossa residência para imóvel próprio no bairro de Interlagos onde residimos por vinte anos; durante esse tempo, mesmo trabalhando em dois empregos efetivamente além de outros trabalhos eventuais que desenvolvia, encontrei tempo para participar do trabalho comunitário através da S A I - Sociedade Amigos de Interlagos onde fui Secretário, Conselheiro, Presidente do Conselho Deliberativo, Diretor de Relações Públicas e Secretário Geral, tendo o privilégio de colaborar para que muitos nomes de qualidade passassem a participar da Sociedade dando-lhe um dinamismo que a colocaria em destaque no cenário comunitário. Ali convivi com companheiros muito caros estabelecendo amizades sólidas que o tempo jamais poderá desgastar. Não gostaria de citá-los nominalmente com receio de esquecer-me de alguns, mas terei de citar: Calixto José da Silva, Antônio Fávaro, Luiz Rattis, Norberto Ramos, Aristóteles Costa Pinto, João Tappis Simão, Luiz Maruyama, Ivo Lima Neto, Walter Salvador Intelizano, Adécio do Valle, Domingos Claro da Silva, Guerreiro, Martins, Antenor, Heleno e outros que a memória não alcança no momento.
No dia 28 de Setembro de 1972, exatamente e coincidentemente quando fazia vinte anos que havia chegado ao bairro de Interlagos, dele me despedi para ir residir em um imóvel alugado na Rua Augusta, e posteriormente, em 1974, para um apartamento próprio na cidade de São Bernardo do Campo.
Quando mudei para São Bernardo do Campo, para um Conjunto Residencial Samuel Gompers, em conversa com minha esposa lhe disse, agora vou aposentar-me definitivamente, de todas essas participações de sindicais, políticas e comunitárias Na primeira reunião do condomínio, que participei, sai de lá com o compromisso de elaborar uma previsão orçamentária, para que fosse aquilatada a necessidade do condomínio que estava com dívidas acumuladas. Haviam feito a proposta de um aumento de 10% nas taxas e mais uma taxa de fundo de reserva de 10% das taxas mensais e a mesma não foi aceita pela assembléia. Naquela ocasião apenas trinta por cento dos condôminos estavam pagando suas taxas.
Assumindo aquilo como um desafio elaborei uma previsão realista e propus um aumento de cento e vinte por cento, que mediante a minha exposição foi aprovada. O custo disso, fui obrigado a assumir a administração do condomínio sendo eleito síndico. Uma campanha foi iniciada contra o aumento, liderada por uma professora, moradora no conjunto, que mandou me chamar em seu apartamento e me deu um ultimato para que não realizasse o aumento porque ela estaria fazendo uma campanha contra. Eu lhe respondi que o aumento seria efetivado e que quem não pagasse as suas taxas até o dia estipulado estaria pagando uma multa de 20%, de acordo com a lei e a convenção de condomínio. No dia 15 de maio daquele ano, setenta por cento dos condôminos pagaram as suas taxas e no dia seguinte o restante correu ao meu apartamento para que eu não cobrasse a multa; tiveram de pagá-la para que as suas despesas não acrescessem ainda mais pelos juros e correção monetária, além de honorários advogado. Em nove meses trabalhando, abrindo mão do direito de pró-labore conseguimos sanear as contas do condomínio, regularizando diversas deficiências, além de deixarmos saldo em caixa para que fosse cumprida a exigência de colocação de extintores de incêndio em todos os prédios.
Depois da aposentadoria, quando nosso filho mais velho, Antônio Paulo, já estava residindo fora de casa, tendo a nossa filha, Maria Teresa, abandonado o curso de letras que estava realizando para casar-se, o caçula, José Carlos, encontrava-se estudando em Mocóca, adquirimos uma chácara na cidade de Suzano e passamos a fazer uma higiene mental, plantando árvores e trabalhando nos afazeres agrícolas.
Como nosso filho encontrava-se em Mocóca, adquirimos ali uma pequena casa e nos transferimos para lá. Aliás esse era um sonho que alimentávamos desde 1947, quando a visitamos pela primeira vez. Realizamos várias idas e vindas, no total de cinco vezes.
O último período que passamos lá foi mais prolongado, dez anos, quando tivemos a oportunidade de realizarmos várias coisas com que sonhávamos. Uma delas foi colaborar em todos os jornais locais como articulista e redator. Nessa função levantamos a idéia de a cidade eleger um de seus filhos para o cargo de Deputado Estadual, o que encontrou enorme ressonância culminando com a indicação do médico Dr. Antônio Naufel, cuja campanha coordenamos e que recebeu uma votação maciça na cidade, mas que infelizmente não bastou para elegê-lo. Outra foi a fundação de uma associação literária, a ALIM - Associação Literária Mocoquense que também editou um jornal literário "A Cigarra" que alcançou projeção nacional e até chegou a ser distribuído em outros países. Fundamos ali, também, o " Conselho de Ação Comunitária" com a finalidade de coordenar as ações em benefício da comunidade, no qual participei como Secretário Geral. Viríamos a participar, ainda, da fundação da Associação dos Aposentados de Mocóca onde ocupamos o cargo de Vice-Presidente. Naquela cidade iniciamos, em 1989, um trabalho evangelístico voltado aos médicos (MINOEVAM - Ministério de Oração e Evangelização aos Médicos) que consiste no envio de mensagens à categoria profissional e que teve prosseguimento quando nos transferimos novamente para São Bernardo do Campo. Participei, ainda , em Mocóca, do Primeiro Congresso de Saúde, como representante da ALIM; participei de oficina de Curadoria de Exposições e outra sobre Literatura Brasileira; integrei a Comissão de Bibliotecas do Município.
Depois da aposentadoria realizei outro de meus sonhos que foi escrever, sob o pseudônimo de Bruder Klein (Irmão Pequeno) , constituindo-se a minha produção, até o momento, nos livros "Mensagens e Reflexões", "Contos Para Ler a Dois na Cama", "Devaneios", "Minhas Incursões pelo Jornalismo", "Proversando", " Nova Dimensão", "Contos Pontos e Contatos", "Cartas Vivas", "Serões em Família"; estando outros em gestação. Todos eles já estiveram disponíveis em um site na Internet de onde foram retiradas inúmeras cópias, havendo nós recebido muita correspondência elogiosa. Aguardamos, agora, a oportunidade de publicar essas obras, não possuído pelo desejo de sucesso literário ou financeiro e sim, unicamente, para compartilhar com outras pessoas os pensamentos e experiências.
De nossos filhos nos chegaram um patrimônio extraordinário que são os netos, no total de sete: Paloma, do Antônio Paulo; Dirceu, Timóteo, Silas e Priscila, da Maria Teresa e Thais e Nathália, do José Carlos, com quem temos um relacionamento maravilhoso e que são, perante nossa corujisse, jovens que nos dão muito orgulho.
Hoje residimos em nosso apartamento em São Bernardo do Campo, realizados, mas ainda sonhando com o futuro, pois embora o passado nos alimente pelas lembranças e o presente possa ser rico em realizações, ainda divisamos o futuro que temos a certeza nos trará muitas alegrias, pelo que poderemos viver nas realizações tanto nossas, ainda, como na de nossos descendentes. Ainda recentemente deixamos a máquina de escrever e aderimos à informática, onde a cada dia estamos aprendendo mais alguma coisa. Cremos que assim deverá ser a vida; vivida a cada dia e sempre nos renovando e iniciando novas coisas. Vivendo assim jamais nos sentiremos velhos porque o nosso intelecto e o nosso espírito estarão sempre projetando novas investidas para o futuro.
Hoje, quando olhamos para trás e já nem reconhecemos aquele jovenzinho orfão, que era falho de esperança, percebemos que por mais que seja desalentadora a nossa situação, se formos perseverantes, se soubermos colher em nossas atividades os ensinos que a vida poderá nos fornecer, poderemos vencer, mesmo sem as ferramentas mais apropriadas. Aqui terei de incluir uma frase que li em um livro, tendo mudado o meu nome de pensar, que lamentavelmente não lembro mais o nome da autora: "Não existe situação desesperadora, existem pessoas que se desesperam em determinadas situações". A sabedoria da humanidade está acumulada nos livros (dentre os quais está a Bíblia que é a Palavra de Deus, e é o mais importante porque orienta, principalmente, a nossa vida espiritual), de onde poderemos colher tudo o que precisarmos para sermos eficientes em quaisquer circunstâncias. A realidade está a nos provar isso, enquanto muitos não conseguem vencer em que pesem todas as oportunidades que tiveram, outros conseguem superar as suas deficiências e realizarem acima de suas possibilidades.
Duas coisas deveremos ter bem presente em nossa trajetória, são a consciência de nossas limitações e a capacidade de contentarmo-nos com apenas as coisas que sejam fundamentais para a nossa vida. Uma filosofia que aplicamos em nossa vida e que tentamos transferir para os nossos filhos é que: "Não importa o quanto ganhemos como fruto de nosso trabalho, o fundamental será gastarmos menos do que ganhamos".
Este é um esboço geral ao qual pretendemos ir acrescentando detalhes interessantes de nossa vivência e que desejamos ir reproduzindo à medida que eles aflorem à memória. Todos sabem que a memória dos velhos é mais voltada para os acontecimentos que ficaram no passado, embora não retenhamos os fatos mais atuais. E à medida que eles se apresentem os anotaremos, desde que possa apresentar algum interesse.
Nessa pesquisa que visa recompor o nosso passado iremos desvendando os acontecimentos que de uma maneira ou outra influenciaram as pessoas que deles participaram. De suma importância são aqueles fatos ocorridos no relacionamento com os filhos, netos e com cada pessoa que cruzou o nosso caminho, que poderão ter sido recalcados e passado a influir no comportamento posterior. Através da sondagem interior iremos recompondo os fatos para desvendar os segredos da alma. Eu costumo brincar com os meus filhos que minha esposa e eu, assim como todos os de nossa idade, estamos vivendo na prorrogação e, de acordo com o regulamento da copa do mundo de futebol, a decisão se dá por morte súbita. Eu só posso fazer um apelo aos vinte e dois jogadores que eventualmente componham a minha história, para que nenhum deles marque gol, para me darem tempo de narrar as coisas que tenho para contar que, sendo experiências de vida, poderão ser úteis a quem delas possam tomar conhecimento.
MINHAS PAQUERAS ABORTADAS
COMO QUASE PERDI A VIRGINDADE
DA FRUSTAÇÃO À TENACIDADE
CONTATO COM O SOBRENATURAL
ANIVERSÁRIOS
MINHA MÃE
UM ACONTECIMENTO MARCANTE
MEUS AVÓS PATERNOS
MINHA AVÓ MATERNA
MEUS TIOS
UM EVENTO QUE ME TRAZ RECORDAÇÕES
OS INTOCÁVEIS
MORRE UMA ESPERANÇA
RELIGIÃO
ERROS E ACERTOS
OS PERSONAGENS QUE ME RODEAVAM
MEU RAMO FAMILIAR MATERNO
O NASCIMENTO DE MEUS FILHOS
PESSOAS QUERIDAS
FOTO
(José Wladimir Klein enviou seu depoimento para o Museu da Pessoa em 06 de julho de 1998 pela página na internet, atualizada em 30 de agosto de 1999.)Recolher