P/1 – Sr. Roberto, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigado por ter aceitado o nosso convite inicialmente. Eu gostaria de pedir pro senhor falar o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – É Roberto Souza de Oliveira. Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 4 de janeiro de 52.
P/1 – O senhor podia registrar o nome dos seus pais?
R – O meu pai é Arnaldo de Oliveira e minha mãe Maria Cândida Souza de Oliveira.
P/1 – Qual a atividade profissional deles?
R – Meu pai é comerciante, e como um bom mineiro, fábrica de queijo. E minha mãe cuidou dos sete filhos, trabalhou mais que o pai.
P/1 – Sempre em casa, né? Qual é a origem da sua família? Ela sempre foi de Minas ou ela tem alguma origem de imigração? Vocês vieram de outro estado ou sempre foi daquela região?
R – Não, sempre foi de Minas. Minha mãe nasceu em Bocaiúva, Norte de Minas, e meu pai no Sul de Minas, em Boa Esperança. Se conheceram no centro, em Belo Horizonte.
P/1 – E lá ficaram.
R – E formou essa família enorme.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Sete.
P/1 – Sete? O senhor falou, um número grande, né? O senhor podia falar sobre cada um deles pra gente, um pouquinho assim, o quê que está fazendo, por onde anda?
R – Nós somos sete, seis homens e uma menina. E ela conseguiu casar, heim?
P/1 – Mas ela era a mais nova?
R – Com tanto irmão assim.
R – Se fosse mais nova...
R – Tem quatro mais velhos do que ela e dois abaixo. Ela estava bem guardada. O mais velho atualmente é diretor do Itaú, trabalha em banco. Depois sou eu, em segundo, que venho aí tendo atividade dirigindo uma ONG que eu mesmo criei, a ABECAL [Associação Beneficente Caminho da Luz] . Depois vem o Ricardo. O Ricardo é arquiteto e cenógrafo, profissionalmente. Depois vem o Rogério, que trabalhou junto à diretoria de...
Continuar leituraP/1 – Sr. Roberto, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigado por ter aceitado o nosso convite inicialmente. Eu gostaria de pedir pro senhor falar o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – É Roberto Souza de Oliveira. Nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 4 de janeiro de 52.
P/1 – O senhor podia registrar o nome dos seus pais?
R – O meu pai é Arnaldo de Oliveira e minha mãe Maria Cândida Souza de Oliveira.
P/1 – Qual a atividade profissional deles?
R – Meu pai é comerciante, e como um bom mineiro, fábrica de queijo. E minha mãe cuidou dos sete filhos, trabalhou mais que o pai.
P/1 – Sempre em casa, né? Qual é a origem da sua família? Ela sempre foi de Minas ou ela tem alguma origem de imigração? Vocês vieram de outro estado ou sempre foi daquela região?
R – Não, sempre foi de Minas. Minha mãe nasceu em Bocaiúva, Norte de Minas, e meu pai no Sul de Minas, em Boa Esperança. Se conheceram no centro, em Belo Horizonte.
P/1 – E lá ficaram.
R – E formou essa família enorme.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Sete.
P/1 – Sete? O senhor falou, um número grande, né? O senhor podia falar sobre cada um deles pra gente, um pouquinho assim, o quê que está fazendo, por onde anda?
R – Nós somos sete, seis homens e uma menina. E ela conseguiu casar, heim?
P/1 – Mas ela era a mais nova?
R – Com tanto irmão assim.
R – Se fosse mais nova...
R – Tem quatro mais velhos do que ela e dois abaixo. Ela estava bem guardada. O mais velho atualmente é diretor do Itaú, trabalha em banco. Depois sou eu, em segundo, que venho aí tendo atividade dirigindo uma ONG que eu mesmo criei, a ABECAL [Associação Beneficente Caminho da Luz] . Depois vem o Ricardo. O Ricardo é arquiteto e cenógrafo, profissionalmente. Depois vem o Rogério, que trabalhou junto à diretoria de Marketing do Banco do Brasil. Depois vem a menina, Rossana, atualmente casada, tem a família, dois filhos. Depois vem o Rubens. O Rubens mexe com editoração de texto, trabalha nesse segmento, e foi protético também. Você vê que é bem variado. E o mais novo, o caçula, que é o Ronaldo, funcionário do Banco do Brasil, e músico, ele é flautista.
P/2 – Roberto, por que que o seu pai sai da cidade dele originalmente? Você tem conhecimento disso?
R – O porquê dele ter saído?
P/2 – Ido pra Belo Horizonte.
R – Não, o meu pai, pelo que eu saiba, viajava muito. Ele, como comerciante desde jovem... Pra você ter uma ideia, ele chegou a vender até espora, na época que se usava espora. Então ele viajava muito, ia a Belo Horizonte, porque é do interior de Minas. E naquela época Boa Esperança, hoje é pequena, na época, né? Então ele viajava muito pra trabalhar com o comércio. Então ele não parava, e numa dessas viagens aí que acabou conhecendo a minha mãe.
P/2 – E ele mantinha uma fábrica de queijo em Belo Horizonte, como é que era isso?
R – É, a fábrica de queijo não era lá, mas era no Sul de Minas. Teve uma época em que cresceu muito o negócio dele. Ele tinha quatro, cinco fábricas de queijo, ele vendia muito queijo em Minas e depois de um tempo começou a vender também em São Paulo. Foi aí que, com o tempo, veio essa coisa de mudar para São Paulo. Encerrou em Minas e nós iniciamos vida em São Paulo com sete filhos. Recomeçaram aqui, que o mercado é maior, dá mais possibilidade.
P/2 – E como é que é a infância lá em Minas? Você morava em qual bairro, onde é que você estudou?
R – Nós pequenininhos morávamos na Santa Ifigênia, Bairro de Santa Ifigênia. Muitos anos moramos lá, depois a gente mudou pro Bairro dos Funcionários, ali perto da Praça da Savassi, que hoje virou bairro, né? Nós moramos na Rua Tomé de Souza muitos anos. Depois dali a gente veio pra São Paulo, só que nós não viemos direto pra São Paulo. Dali nós mudamos pra Minas, em Boa Esperança, terra do meu pai. Ficamos um ano lá e depois é que viemos pra São Paulo. Por quê? Porque nesse um ano ele se acertou inclusive com uma fábrica de queijos muito grande lá. Foi criada uma cooperativa e ele veio representar essa cooperativa em São Paulo, e veio com a família.
P/2 – Bom, então você fica em Belo Horizonte até qual idade?
R – Até os 18 anos, 17, 18 anos.
P/2 – Onde você estudava lá?
R – Instituto de Educação, perto do Parque Municipal. Muito conhecida essa escola, Instituto de Educação lá, ____ com esse nome assim, né?
P/2 – Até hoje tem esse mesmo nome?
R – Tem esse mesmo nome. Eu lembro, eu estudei lá, depois estudei no Padre Machado, depois eu fui pro Colégio Estadual da Serra e terminei lá.
P/2 – Como que era a juventude em Minas? O quê que vocês faziam, onde é que vocês gostavam de ir?
R – Era muito boa, né, porque absurdamente viemos a trabalhar muito tarde, o que não é bom, mas a gente tinha uma vida que permitia isso. Então era assim interessante porque, por exemplo, na Rua Tomé de Souza nós éramos em sete, e em frente tinha uma casa que eram 21 irmãos. Então você via assim um mundo de gente jogando bola na rua e eram duas famílias, com direito a reserva, com direito a torcida.
P/1 – Juiz.
R – E eram duas famílias só. Então a gente cresceu assim, foi a minha infância invejável. Eu lamento não poder ter dado aos meus filhos hoje a infância que eu tive porque naquela época era mais saudável, era menos violência, a gente podia ficar na rua à vontade. Hoje se você ficar na rua, por exemplo, em São Paulo, é um problema, (muito novo?) é sequestrado, se não é atropelado. Enfim, não tem, não dá, né? Lá não, a gente tomava conta, brincava. Chegava as férias de fim de ano a gente ia pra Minas, pra Boa Esperança, terra dos meus avós. Nossa, passava semanas e semanas em fazenda. Enfim, foi maravilhosa a nossa infância, realmente inesquecível.
P/1 – Vocês jogavam bola, se divertiam bastante, matinê, cinema, como é que era isso aí?
R – Ah, sim. Inclusive era o seguinte. Bom, em Belo Horizonte era mais estudo, e brincadeira à tarde. Mas as férias eram esperadas ansiosamente porque a gente ia pra Minas, e lá em Boa Esperança, que tinha um cinema só, eu espero que ainda tenha, a gente ia assistir a matinê. Na época assistia aqueles filmes de faroeste que eu lembro até hoje. A gente ia caçar passarinho com o estilingue, a gente ia jogar bola no campinho. Ou seja, é uma infância que qualquer jovem queria ter, né? A gente brincava de esconde-esconde, como falam, e o limite era a cidade. Então a gente tomava conta da cidade, aquele mundo de molecada. Foi muito bom.
P/2 – Roberto, na infância, apesar de você ter começado a trabalhar tarde, você em tudo isso vislumbrava uma carreira, uma profissão que você quisesse ter?
R – Não. Era tão envolvido na infância propriamente dita que a gente não pensava nada, nada. A gente vivia o presente envolvido lá com os trabalhos do meu pai, mas assim, nós meninos, era uma brincadeira atrás da outra, só estudando. Realmente nunca, pelo menos pra mim nunca passou pela cabeça ser isso ou ser aquilo. Foi mais tarde, com a família tomando, assim, envelhecendo, a gente mudando pra São Paulo – e São Paulo tem uma cara de trabalho, ali se você não trabalha você fica deslocado na cidade – e a gente já numa idade que precisava direcionar. A princípio eu ajudava o meu pai no trabalho dele, até que eu me ingressei na área de processamento de dados. Entrei na época em que computador lia cartão perfurado. Se for brincar, era computador a válvula, isso há 30 anos atrás.
P/2 – Como é que foi a mudança pra São Paulo, o fato de sair daquelas ruas calmas?
R – Foi triste demais porque a gente adorava Belo Horizonte. Depois mudamos pra Boa Esperança, antes de ir pra São Paulo, e morava no interior de Minas, que era maravilhoso, um Shangri-la pra uma criança ou pra um jovem, primeira namorada, aquela coisa toda. De repente ir pra São Paulo. O quê que nós vamos fazer em São Paulo? Longe, não tem nada a ver conosco. Mas era uma necessidade, precisava ir. E nós fomos, e nós começamos. A gente se uniu mais nesse período porque a gente veio pra cá e aqui era assim, a gente foi morar na Vila Mariana e não tinha assim, a gente não tinha amigos. Então nós éramos os amigos, até que iam formando os amigos e aí, além dos sete, tinha sempre mais três, quatro pra almoçar, pra jantar, pra estar fazendo as coisas, e a casa sempre muito cheia, sempre foi muito cheia. E aí, devagarzinho, cada um foi engrenando, tanto no estudo quanto no trabalho, e foi ficando a vida mais sem graça e mais séria. Que quando começa a entrar o trabalho pra valer você tem que se profissionalizar, você tem que pensar em futuro, ou seja, começa a vim uma responsabilidade, começa a vim uma, sabe, uma necessidade de ter uma faculdade adequada pra um trabalho específico. Tira a graça da vida.
P/1 – Essa chegada em São Paulo, uma cidade enorme... Você chega com 18 anos, que você falou, né?
R – Isso.
P/1 – Como é que é a sua vida a partir daí? Já tinha encerrado os estudos _____.
R – Olha, eu vim a fazer faculdade em São Paulo. Mas quando veio pra cá foi difícil no começo, adaptação, adaptar em São Paulo. A vida que a gente levava, inclusive antes de chegar aqui, estava inclusive no interior de Minas, era bom demais. Então quando a gente chegou aqui a fase de adaptação foi muito difícil porque a gente achava assim a cidade muito fria, sabe, não é uma cidade tão acolhedora. Pelo menos na época o pessoal que sai, que trabalha, que volta, que estuda, que, sabe, chega fim de semana você está tão cansado que você passa o fim de semana em casa. Quer dizer, é uma outra vida, é um outro esquema. Não tem aquela coisa de brincar na rua, ou pelo menos onde eu morava não tinha.
P/2 – Qual era o bairro que vocês moravam?
R – Vila Mariana. Então é complicado porque, sabe, não era como era no interior, claro, não quero nem comparar, mas não era como era Belo Horizonte, por exemplo. Era uma vida bem mais solta na minha época. E em São Paulo a gente sentiu muito isso, mas isso uniu muito a família. Os irmãos se uniram muito por uma necessidade de ter companhia, de fazer as coisas, de começar, e essa união começou a trazer poucos amigos pra dentro desse grupo. E aí a gente foi crescendo, nós fomos nos adaptando a São Paulo, e pronto. Hoje eu estou muito bem enraizado lá, eu já criei raízes suficientes pra terminar os meus dias lá. Eu adoro o que eu faço, e o que eu faço vem de uma experiência de quando eu cheguei em São Paulo. São Paulo, uma vez eu falei que é uma cidade onde no meio de tanta gente você consegue ficar sozinho. São milhões de pessoas e você consegue ficar sozinho, não porque você queira, mas você acaba ficando sozinho. O pessoal trabalha, o pessoal estuda, o pessoal é mais triste, eu não sei. Por quê? Porque vem pra São Paulo pra fazer a vida, e São Paulo carrega com ele esse estigma de você ter opções de trabalho. Quer dizer, as opções que você vem ter em São Paulo é o que? É de ter um campo maior de trabalho, um campo maior de estudo. E um campo maior de amizade, e um campo maior de relacionamento, de descontração? Deveria ter também, mas isso é caro e o tempo te cobra, a falta de tempo. Então acaba sendo uma cidade mais triste por esse aspecto, e a gente teve que se adaptar. Mas a gente se adaptou formando o nosso mundo do jeito que a gente gostava. A gente criou os amigos, a gente criava as coisas, a gente fazia campeonato de pesca, a gente fazia campeonato de buraco, a gente inventava isso, fazia aquilo, mas sempre com o sentido de estar unindo, trazendo pessoas, conversando, através de música, eu tenho dois irmãos instrumentistas. Quer dizer, tudo isso sempre mexeu muito com a gente. E uma parte disso São Paulo ajudou. Por exemplo, eu fundei a ABECAL em função de que eu comecei a ver pessoas vivendo o que eu vivi quando eu cheguei e eu não me conformava de alguém não fazer alguma coisa pra mudar isso. Não é possível que só eu estava enxergando isso, que as pessoas eram tristes por extrema necessidade. Então a ideia da ABECAL foi justamente criar uma entidade que ajudasse as pessoas a voltar a sua autoestima, a cidadania, a ter uma chance mais leve de trabalhar e conseguir seu sustento e descobrir que a vida não é só trabalho, que pode ser feito outras coisas além de trabalhar, e a pessoa ter prazer e felicidade mesmo dentro de uma cidade que o nome é trabalho.
P/2 – Roberto, você tem, a família da sua mãe tem pessoas célebres pra história do Brasil, né? O quê que você se recorda deles na sua infância, na sua juventude, ________?
R – Olha, a nossa família realmente sempre teve um pé muito forte no social. Um exemplo mais marcante pra todos nós, e é evidente que nos influencia como influencia qualquer cidadão brasileiro, é o Betinho, né, da campanha da fome, da solidariedade, da cidadania, contra o prato vazio. Fundou tantas frentes de atuações aí, de ação da cidadania, enfim, uma série de coisas. O Betinho que tanto tempo ficou fora do Brasil, exilado, quando voltou, voltou com a bandeira social, é a imagem que marcou. E o Henfil, que também sempre engajado, envolvido. Cartunista, mas sempre tem um olhar muito forte pra ele. Ele tinha um olhar pra aquilo que o dinheiro não compra, ele tinha um olhar pra amizade, ele tinha um olhar pra coisas simples, ele tinha um olhar, sabe, de coisas que a pessoa, só dá quem tem, né? E ele enxergava isso. E a gente foi convivendo um pouco com isso. Uma tia minha, que pouco sabem dela, Zilá, foi minha madrinha, inclusive, irmã da minha mãe. A Zilá irmã do Betinho, ela tinha uma atividade social muito forte. Ela não teve projeção como o Betinho teve, divulgação, mas o trabalho dela foi muito bonito. Ela ajudava muito os jovens. Ela tinha uma atuação muito forte, na época, e participava de frentes de atuações. A família era muito politizada, é muito politizada. Então sempre teve envolvimento no social de alguma forma, eles não ficavam em casa vendo novela. Sempre tiveram participações as irmãs, a minha mãe sempre teve algum envolvimento. A gente, no ano que ficou em Boa Esperança, no Sul de Minas, a minha mãe naquele um ano não parou. Ela se envolveu com o trabalho voluntário lá de um pessoal que trabalhava socialmente lá e ia visitar o pessoal de periferia lá do interior pra ensinar noções de higiene, pra ensinar uma série de coisas. Ou seja, teve sete filhos e teve tempo pra olhar o social. Quer dizer, isso é uma mensagem pra todo mundo. Quer dizer, sempre tem tempo quando você quer fazer, sempre, basta querer fazer e ter um pouquinho de gosto nisso. É o que a gente faz. Por exemplo, a intenção minha com a ABECAL em São Paulo, e eu acredito estar conseguindo, mas eu gostaria de conseguir com uma força maior, é justamente mostrar o lado da vida, como as pessoas têm valores importantes, independente do estudo. O que é o ser humano como um potencial que, sabe, o Pai quando nos criou sabia o que estava fazendo, porque um dedo que você dá de ajuda, vocês não acreditam. Nós damos vários cursos de capacitação. Uma vez chegou um rapaz lá querendo fazer o curso. Nós o matriculamos. Ele tinha 42 anos de idade. Fazendo o curso, e ele resolveu fazer informática, que é uma, todo mundo quer fazer informática. E nós temos lá a estação digital em parceria com o Banco do Brasil onde oferecemos vários cursos de informática e acesso à Internet. E ele, já no terceiro dia de aula, aquela mão dura no teclado, aquela dificuldade. E quando chegou a nossa monitora e falou com ele: “Olha, você está muito duro, muito tenso. A mão responde o que a cabeça pensa, relaxa”. Ela não imaginou o quanto ela estava ajudando ele falando isso. O quê que aconteceu? Terminou aquela aula, ele foi embora. Na semana seguinte ele voltou. Sentou lá no computador dela, ela ajeitando os outros pensou: “Chegou a minha cruz”. De repente ela olha pra ele, ele já está lá desenvolto, já evoluindo de etapa no programa, ela falou: “O quê que aconteceu aqui?” Quis saber dele o quê que aconteceu, que passarinho verde foi esse que ele viu. Ele falou: “A senhora não quer saber” “Não, claro que eu quero saber, por favor”. Ele começou a explicar. É evidente que a sala de aula parou pra ouvir, né, pra ouvir e pra se emocionar. Ele falou: “A senhora tem uma vassoura?” “Tenho” “A senhora pode pegar?” Ela saiu e trouxe uma vassoura. Ele ficou de pé, pegou a vassoura e falou: “Eu sou gari, com muito orgulho”. Ela: “Claro, é uma profissão digna” “Então, eu fico com uma dessa na mão o dia inteiro no Parque Dom Pedro em São Paulo, vai lá pra senhora ver como está limpinho e bonito. Quando a senhora falou que a mão responde o que a cabeça pensa, eu pensei: ‘Tá, então eu tenho que treinar, mas eu vou treinar aonde?’ Eu pensei: ‘Eu vou treinar na vassoura’”. Olha a inteligência dele. Eu não pensaria em treinar numa vassoura, garanto que vocês também não. Ele aprendeu a sequência “asdfg”. Então ele fazia “asdfg” na vassoura, e o tab ele varria. “Asdfg”, varre. Aí o colega dele começou a se divertir e começou a fazer junto com ele, e eles faziam como se fosse um Rap, “asdfg”, varre, e depois fazia a sequência com a outra mão, varre. O quê que aconteceu com essa brincadeira? Eles se formaram duas semanas antes. Eles porque o colega acabou acompanhando ele e entrou na estação. Eles se formaram antes do grupo que iniciou com ele, depois resolveram, se animaram e resolveram fazer o curso de técnico de computador, curso de hardware, e eles entraram, e hoje eles são técnicos de computador, trabalham numa multinacional americana que eu consegui arrumar pra eles assim, me deram uma satisfação danada, ganhando quase quatro mil reais cada um. Agora, vocês não acreditam em outra maior. Eles às vezes vão até lá contar a história deles, que eles acreditam que vão impulsionar outros que acham que não têm possibilidade. Só que às vezes, no sábado, eles vão no Parque Dom Pedro rever os amigos que ficaram lá e ajudam a varrer pra lembrar o tempo que eles cuidavam de lá. Essa é a cara da ABECAL, essa é a cara da nossa entidade. É a pessoa descobrir o valor que ela tem e a gente dar só um empurrãozinho pra ela concluir o que ela tem. Nós não fizemos nada, nós só demos a condição mínima pra que a pessoa mostrasse o que ela é. É isso que a gente está fazendo lá.
P/2 – Incrível. Mas vamos retomar a sua trajetória.
P/1 – Bonita essa história. Mas, voltando um pouquinho, o senhor foi pra São Paulo e tem, vamos dizer, esse contato com São Paulo. O senhor falou que vê o mundo um pouco diferente, uma cidade triste, você pensa. Você vai pra São Paulo fazer o curso superior. Qual o curso que o senhor faz? Como é que é essa época de faculdade? É logo emendado também, como é que é isso?
R – Eu estava envolvido com computador. Se você me perguntar por que, eu não sei. Eu acho que eu nasci pra área de humanas, mas foi o que aconteceu na época. Um tio, Francisco Mário, irmão do Betinho, me influenciou. Na época ele era analista de sistema: “Olha que bacana”, computador aqui e ali, e eu acabei entrando nessa. E depois que você entra é difícil de sair. Você vai enveredando, vai crescendo ali, e aí você vai dando um jeito de gostar, né? Eu tive uma satisfação danada de começar e um prazer indescritível em parar. Por quê? Porque hoje eu trabalho dentro do meu habitat, que é o social, né? Mas essa trajetória toda me ajudou muito, muito, porque eu comecei a trabalhar com informática, na época, que programador de computador o pessoal olhava pra você como se fosse assim um ET. Programador de computador, parece que você vinha da NASA. Então, porque na época era lá atrás, no começo, não é? Se ganhava muito bem. Na época a gente ganhava mais que profissionais, advogados e tudo mais. Era muito... Olha, foi uma época glamorosa na área de informática, o que hoje já está sucateado, né? Mas naquela época eu acabei fazendo uma faculdade em função do trabalho. Não que eu falei: “Ah, eu quero fazer economia, eu quero fazer administração”. Não, eu tinha que ter um curso superior, e aí acabei optando por fazer economia e depois fiz um pedaço de administração. Quer dizer, eu tinha tanta certeza que eu fui fazendo pedaços. Acabei fazendo este tipo de faculdade em função do trabalho e não por aptidão ou por gosto, tanto que nunca exerci a faculdade que eu fiz. Eu acabei enveredando mesmo por informática e seguindo carreira, analista de sistema, e por aí fui embora.
P/1 – Como é que era esse período da faculdade? Era meio agitado, era correria, era trabalhando e estudando? Como é que foi isso aí?
R – Exatamente, eu trabalhava e estudava à noite. E logo no primeiro mês de faculdade já vou eu, começo a me envolver lá no grêmio, o Diretório Acadêmico. Vai daqui, vai de lá. Queriam me colocar pra dirigir o diretório, eu saí fora, mas acabei ficando fazendo, de alguma forma, parte. É muito bom trabalhar em Diretório Acadêmico. Você perde muita aula, sabe? Então isso me atrapalhava porque eu tinha que correr. Eu trabalhava o dia inteiro, faculdade à noite. Aí tinha esses detalhes. Mas eu acabava me envolvendo com coisas, dificuldades de alunos, e o diretório se não ajudasse a resolver não resolvia. Hoje, acredito, está melhor isso, mas na época era complicado. Ou seja, eu não sei se você percebe, mas sempre, mesmo na faculdade, já estava lá o meu pezinho no social, me envolvendo com o problema dos outros, querendo ajudar a fazer, sendo que eu tinha que ir lá especificamente fazer a minha capacitação profissional e sair fora, né? Então era muito corrida. Essa parte minha na faculdade foi uma época que foi muito difícil, muito difícil.
P/1 – O senhor já era casado?
R – Não, não, eu casei com 30 anos de idade, demorei um pouquinho a casar. Mas a gente brinca, a mulher espera a gente cansar pra pegar a gente, que aí é mais fácil, você está cansado. Então eu demorei um pouco, mas estou casado há 24 anos.
P/1 – O senhor conhece a sua esposa aonde?
R – Eu a conheci em São Paulo quando eu trabalhei numa empresa chamada NORDON, indústria metalúrgica ali na Brigadeiro Luís Antônio. Eu a conheci perto da Federação Paulista de Futebol, um lugar conhecido. Ela era secretária lá de um diretor. E foi interessante que alguém manipulou pra gente ter casado. Sabe por que que eu falo isso? Aconteceu uma pane uma vez nos telefones da empresa e pra qualquer número que eu discava caía no dela, qualquer ramal que eu ligava caía no dela. E ela foi gostando da ideia e começou a conversar, e não parecia que... A hora que eu ligava ela: “Roberto”. Eu falava: “Jacira”. Eu já ficava sem graça porque só caía com ela. E aí foi assim, numa linha cruzada, que cruzou pra sempre.
P/2 – Bom, mas você tem uma trajetória por empresas de informática, ligado na área de sistema.
R – Isto.
P/2 – Uma trajetória grande.
R – É, eu comecei, você vê, na UNIEX, hoje eu acho que nem existe mais, fazia detergente, essas coisas. Eu iniciei lá como programador de computador, uma equipe bacana na época, a gente trabalhou lá alguns anos. Foi lá que eu me iniciei na área. Apanhei muito. Ali eu tinha certeza absoluta que eu não era da área, mas eu fui insistindo, e mineiramente fui ficando. E era o que eu tinha, então eu tinha que dar um jeito de me virar naquilo. Mas eu tive grandes amigos nessa época, amigos que eu tenho até hoje, estão comigo até hoje. Todos os amigos que eu fiz, em toda a minha trajetória em São Paulo, estão comigo até hoje, e a maioria na minha ONG. Ou seja, não ficou ninguém pra trás. O que ficou, ficou porque não era amigo. Os amigos vieram. Então eu trabalhei um tempão lá e de lá eu saí pra ir pra NORDON Indústria Metalúrgica, na Brigadeiro. Fiquei alguns anos lá. Eu fui lá porque o gerente da UNIEX foi pra lá, acabou chamando alguns, eu fui junto. Me desenvolvi lá, cresci lá mais, e depois de alguns anos fui pra OLIVETTI, na Avenida Paulista. Lá já fui como analista de sistema, e lá fiquei muitos anos, 12 a 13 anos.
P/2 – Nesse período você tinha alguma atuação junto ao social ou isso ficou adormecido?
R – A minha atuação mesmo como social, que a minha vida sempre teve um pezinho lá do meu jeito de ser, sempre do meu jeito de ser. Mas há 11 anos que a gente vem desenvolvendo alguma coisa pra ajudar o próximo. Quem? Eu, alguns amigos. A gente bolava alguma coisa, pessoas querendo aprender e a gente bolava uma forma de ensinar. A pessoa queria comer alguma coisa, a gente tentava ensinar uma forma dela não só pedir, mas de conseguir aquilo pra não depender de ninguém. Enfim, a gente sempre teve uma preocupação com o social informalmente. Aquilo foi desenvolvendo, foram chegando mais amigos, a coisa foi ficando mais forte. E se passaram alguns anos, a gente viu que, puxa, dava pra fazer coisa mais séria, dava pra fazer a coisa de uma forma mais intensa. Pra isso precisava existir legalmente, quer dizer, quem é quem, o que. Foi onde a gente criou a ABECAL, foi a ideia de falar: “Não, peraí, precisa de CNPJ, precisa de, enfim...”
P/2 – Isso foi um grupo de amigos, Roberto?
R – Isto, foi um grupo de amigos, todos envolvidos com informática. Eu acho que é por isso que a cara da ONG, 80% é analista de sistema. Então a gente resolveu fazer efetivamente. Então uma amiga minha, advogada, e o pessoal, analistas, que são até hoje. Poucos têm um bote salva-vidas como eu tive, os outros ainda estão na área, todos envolvidos. E a gente acabou criando, há quatro anos atrás, oficialmente a coisa. Mas a gente, extraoficialmente, vem trabalhando há algum tempo, assim, em atitudes solidárias de ensinamento, de ajuda com alimento, participando, sempre interessado, sabe, seja alguém que vai prestar serviço em casa, seja no prédio, seja no trabalho. Uma dificuldade de um porteiro, por exemplo, que perdeu o trabalho e ele ia na porta da empresa olhar os colegas e esperar que de repente alguém o deixasse voltar, e a gente foi fazendo a cabeça dele pra mostrar que tem vida fora de lá e que podia ser melhor. E a coisa foi sendo trabalhada. A gente sente que a pessoa tem que ser trabalhada a nível de cabeça pra mudar, pra quebrar aquilo ali, porque senão a pessoa fica presa, porque São Paulo é cheio de feudos, né? Então pra quebrar isso a pessoa tem que enxergar como um macro, uma coisa maior, não pode ficar preso aqui porque acha que se sair daqui não arruma mais. Eu tenho uma mensagem muito bonita. Um amigo meu, de 76 anos, conseguiu arrumar um emprego registrado em carteira. É uma coisa maravilhosa. Tinha que ser São Paulo pra ter isso, né? Então eu falo isso porque sempre tem esperança, sempre dá. Não só de trabalhar, mas de trabalhar até registrado. Então a gente tinha essa coisa, e esse outro acabou se ajeitando, arrumando. Ou seja, então essa ótica nós sempre tivemos, até que quando a gente foi criar oficialmente a gente já criou tendo um trabalho informal em volta. Tanto que quando nós criamos a ONG, claro, uma ONG de capacitação profissional, foi a primeira coisa que pensamos. Qual o primeiro curso? Claro, informática, não podia ser outro. Arrumamos doações de micros e tudo, começamos num porão. Eu lembro, na época, que eu comentei com os meus amigos: “Está certinho o lugar que nós estamos nascendo. A semente pra germinar e ficar forte tem que estar abaixo do solo. Então nós estamos aqui num porão, é aqui que nós temos que nascer”. E foi lá que nascemos, num porão embaixo de um dentista, sabe? Lá em cima gemia de dor, lá embaixo de satisfação de estar aprendendo. Então lá a gente dava o curso de informática e depois o curso de corte e costura, uma amiga resolveu dar. Começou a diversificar, né? A gente achou esquisito, curso de corte e costura, porque é cheio de analista, né? Curso de corte e costura. Mas teve uma procura boa, o pessoal gostava. No começo eram só esses dois cursos. E a coisa foi, foi, foi, até que chegou uma hora que uma assistente social ligada à Secretaria de Assistência Social, amiga, nos encontrou e falou: “Roberto, vocês não pensam em dirigir um albergue?” Eu nem conhecia albergue, eu nem imaginava o quê que era isso. Eu falei: “Não, não penso não” “Pensa, vocês têm tudo no jeito pra isso”. Ela não imagina o vírus que ela jogou ali quando ela falou isso. Ela jogou um vírus, que eu falei: “Puxa, albergue. Mas como é que é albergue?” Acabei indo conhecer e hoje dirigimos um albergue. Culpa dela. A gente primeiro dá a culpa e depois agradece, porque a gente começou a descobrir um outro lado da vida, né, um outro lado. Quando você começa a trabalhar com as pessoas que não sabem se vão almoçar ou jantar, ou se têm onde dormir, e encontra felicidade nisso, você modifica a tua forma de viver. Você modifica, você fica com vergonha de falar que você não está bem. Porque a pessoa almoça e vem te cumprimentar agradecendo que comeu uma comida ótima. E quando vem dormir alguns têm dificuldade porque primeiro ele para de chorar porque ele não vai sentir frio aquela noite, ele vai dormir, ele vai ganhar um cobertor, um cobertor descartável. Mas a felicidade dele é enorme, sabe? Então você começa a ver aquelas coisas, você fala: “Peraí, eu tenho muita coisa. Eu tenho que começar a passar parte disso, eu tenho muita coisa que está parada”. Você fica sem graça de ter roupa guardada no teu armário sem uso, sabe? Então a melhor coisa do mundo foi ter entrado o albergue na nossa vida, e isso mexeu com a gente definitivamente porque o albergue entrou o lado humano, vamos dizer, na nossa vida. Aqueles técnicos de computadores, né, as exatas, virou humanas do pé à cabeça. Por isso que na ONG a gente dá o curso de capacitação preocupado com a autoestima de cada um. Eu não quero que seja uma escola, entra lá, estuda, sai com o diploma. Tem que ter uma atividade social, tem que ter o envolvimento, sabe, tem que participar das coisas. A gente faz, por exemplo, a gente está fazendo teatro. Então nós temos 14 pessoas envolvidas no curso de teatro. Dessas 14 tem sete, oito pessoas que são do albergue. São os melhores atores do grupo, são os melhores. Nenhum deles são alfabetizados, e são os melhores atores. O que eles fazem eles fazem mesmo. Quando eles interpretam e choram, eles choram mesmo. Eles se envolvem com o que estão falando. Eles não fingem que estão chorando. E haja coração pra gente que está ali, né, porque você chora junto. Então é um trabalho que eu tenho que pagar muito pra estar fazendo ele. Eu acho que tem que merecer muito pra estar envolvido com isso aí. A gente não faz pra falar: “Puxa, que bonito que você faz, parabéns”. Não. Eu tenho que pagar pra estar lá. É uma lição de vida hora a hora, dia a dia. Às vezes eu encontro amigos que falam: “Poxa, a minha vida está assim, assim, assado”, eu falo: “Eu vou dar um pulinho no albergue, você não quer ir comigo?” “Ah, o albergue...” “Não, é rapidinho”. E às vezes eu faço de propósito. Levei um amigo lá, coitadinho dele. Ganha aí seus nove mil por mês, trabalha com... Ele é DBA, todo... A vida dele é tão difícil, tão triste.
P/1 – Cheia de problemas.
R – E eu levei ele no albergue e eu falei: “Olha, você me espera só um minutinho? Eu vou falar com o gerente, assim, assado, já volto. Só um minutinho”. Deixei ele dez minutos no salão. Quando eu voltei ele estava assim calado e tal: “Vamos embora, vamos embora?” “Vamos”. Saímos, fomos embora. Dentro do carro ele falou: “Sujeira o que você fez comigo, heim?” Eu falei: “Porque?”. Ele falou: “Puxa vida, rapaz, eu vim reclamando e você fazendo”. Eu falei: “Mas não estou entendendo”. Eu estou entendendo mas falando pra ele que não estava. “Porque?” Ele falou: “Não, Roberto, eu fiquei ali. Você sabe que chegou um senhor pra mim e falou assim: ‘Você está triste’. Eu fiquei parado, olhando pra ele. ‘Não fica triste não. Você sabe que eu era triste, mas depois que eu descobri essa casa, eu tenho amigos, ó’. Apontou alguns amigos”. Ele sabia que ele ia almoçar. Ele estava satisfeito porque ele ia fazer um curso de alfabetização, e aquilo pra ele, ele estava maravilhoso. Mas incomodava a ele ver aquela pessoa ali triste, e veio convidar se ele não quer fazer o curso de alfabetização com ele. Ele agradeceu, segurou a alma na mão e foi confidenciar comigo no carro, emocionado, sem graça. Hoje é um voluntário da entidade, claro. Hoje é um voluntário da entidade, e nunca mais... Quem me agradece não é ele, é a esposa dele. Ela fala: “Roberto, mudou a vida dele, mudou. Esse cara, quando fala em reclamar alguma coisa ele não reclama, ele se emociona”. Por quê? Porque ele se dá conta de que ele ia reclamar de alguma coisa e ele não pode reclamar. Então quando uma pessoa fala que conhece a vida, só conhece a vida quem lida com ela. E pra lidar com ela, não é pra ser médico não, é lidar com o lado humano, porque o Pai quando fez a gente sabia exatamente o que estava colocando. É que ninguém enxerga a pessoa como humano. Enxerga como técnico, enxerga como, sabe, é com outros olhos.
P/1 – Classifica, né?
R – E quem enxerga assim tem ódio, tem inveja. Quem enxerga assim, sabe, passa um por cima do outro, fazem coisas incríveis. Se você começar a ter a ótica de ver o ser humano pelo que ele é e pela beleza que é, acaba a corrupção no país, acaba.
P/2 – Roberto, a ABECAL surge com quantos voluntários?
R – Milagrosamente... Nós começamos, quando nós começamos nós éramos em seis, depois foi pra nove, hoje nós somos 32. Desses 32, olha só, nós temos quatro atuantes. Quando eu falo atuante é, vai pra ABECAL e fica lá e atua direto. Como que vivem? Eu não sei, eu preciso fazer essa pergunta pra eles. Cada um se vira de um jeito, porque na ONG ninguém ganha pra fazer o que faz, porque a gente ainda está achando que tem que pagar pra fazer o que nós fazemos. Então todo mundo é muito bem envolvido, se dedica e faz aquilo andar. Nós precisamos dessas pessoas lá dentro. E tem os outros satélites que ajudam, ajudam nas coisas. Vai escrever um projeto...
P/1 – Dá uma força.
R – Ajuda, dá apoio. Tem a tesoureira que trabalha, não pode ficar direto lá, mas ela fecha as contas, ela cuida. Ou seja, tem o pessoal de retaguarda que ajuda a vida a caminhar. Mas os que estão lá dentro têm isso do grupo. Hoje nós estamos, tem mais 11 professores e esses quatro combatentes, onde eu me incluo, num desses quatro, não é? Aí você vai pegar quem são. Você pega assim, tem eu, tem minha esposa, tem a minha irmã, e depois tem, que vivem, Deus ajuda. E tem mais duas pessoas, Maria Inês, que ficam lá direto com a gente. Essa Maria, que é Maria Oshida, ela é japonesa, também está com a gente no começo lá, se desdobra. Ela ajuda lá, monitora a estação digital. É fantástica, né? Todo mundo, tudo curso superior completo, um pessoal que podia estar, com esse tempo, desenvolvendo e fazendo uma coisa de ganhar muito, e não sai de lá. Se envolveu, se emociona e quer fazer a coisa cada vez melhor e maior. E a gente sabe o que tem que fazer pelo que a gente vê e pelo que está vindo. A gente não inventa uma coisa, a gente faz a necessidade que está vindo. Então tem esse pessoal que atua e tem os voluntários. Volta e meia tem um curso, tem um voluntário que vem, dá aquele curso, faz e tal. E é interessante que o voluntário vem, dá o curso e às vezes trás até o material pra dar o curso. É complicado pra trabalhar com a gente porque você acaba gastando. A gente está numa batalha muito grande, como toda ONG que eu acho que existe está, que é a autos sustentação. É muito difícil. A gente está batalhando, vamos ver o quê que a gente consegue. Mas a gente se vira bem, se vira bem.
P/2 – Bom, a ABECAL surge como... Tem que parar?
P/2 – Continuando. No que consiste exatamente, hoje em dia, o trabalho da ABECAL? Começou com um curso de informática, corte e costura, e aí...
R – Ok. Hoje o que aconteceu? Primeiro a gente, do porão nós saímos pra onde estamos. Mas como que a gente saiu? Nós não decidimos assim de repente sair. Foi uma época que a gente estava conhecendo o albergue, vendo se ia pegar, vendo o tamanho da encrenca, são 400 pessoas de rua por dia, entendendo o trabalho, vendo o desafio que vinha.
P/1 – Entendendo o mundo deles também, né, que é diferente.
R – Sabe, eu olhei, mas quando eu fui visitar e eu fiquei vendo, eu me apaixonei pelo projeto. Eu cheguei ali e falei: “Eu já estive aqui, eu tenho que ficar aqui. Isso tem que fazer parte do nosso trabalho pra gente amanhã dizer que faz alguma coisa direita, dentro daquilo que a gente se propõe. Eu tenho que viver isso aqui”. Então a gente pegou o albergue. Mas quando a gente estava ali na fase, estudando, nós fomos assaltados. Entraram gente no nosso porão e roubaram quase tudo que a gente tinha. Nós chegamos lá, encontramos semiaberto, um teclado na escada. Foi um negócio assim da gente sentar. Nós fomos em três, a gente sentou, ficou olhando. Ninguém falou nada com ninguém. Nós ficamos assim absorvendo aquela violência. Eu falei: “Puxa, mas pra que isso, porque isso?” Damos tudo de graça e mesmo assim teve esse fato. Mais tarde eu entendi que eles estavam nos ajudando. Ali na hora foi só aquela emoção, aquela coisa. Alí, por causa desse problema, a gente parou. Nós paramos ali e a minha energia todinha foi pro albergue, foi absolver e ficar com o albergue. Então a gente participou da concorrência pública, ganhamos, porque parece que aquilo estava destinado pra vir pra gente, e nós assumimos a direção do albergue. Assumimos, e nos primeiros dois, três meses a gente não só aprendeu, mas precisamos estar muito internados lá pra conhecer, ver o mecanismo como é que é. São 23 funcionários CLT na ABECAL, entendeu? Que a parceria com a prefeitura é assim, eles ajudam com uma verba, que não é toda, mas a gente é que dirige, os funcionários são nossos. Ou seja, tem toda uma estrutura, e a gente aprendendo naquela de aprender e melhorar, não basta aprender e tocar. Colocar a cara da ABECAL lá dentro. Então isso, parece que a gente não tinha que ter realmente o que estava fazendo, que a gente não conseguiria dividir a atenção, porque os que atuavam efetivamente não eram muitos. Então a atenção voltou toda pra essa. Quer dizer, parece que falaram: “Chega por enquanto”, e a gente atuou no albergue. Aí, depois de um certo tempo, a gente falou: “Não, peraí, agora não pode ser só isso aqui. A gente tem que voltar às raízes, nós temos que dar a capacitação, nós temos que ensinar a pescar”, porque eu considero que o albergue dá o peixe. A pessoa chega lá, é assim extrema necessidade. Ele precisa comer, dormir, passar por um médico, assistente social, psicólogo. Sabe, é básico, é... Agora, pra capacitar, pra dar o peixe, faltou, nós perdemos. Foi aí que a gente montou, lá perto, porque já que vamos montar, vamos montar por aqui, né? Apareceu um empresário que nos deu força e banca o aluguel pra gente. É um empresário que está com a gente desde o começo, o Senhor Quitami, que eu tiro o chapéu pra ele, é uma pessoa incrível. E a gente está lá, e foi voltando com os cursos. Claro, começamos com o curso de informática novamente. Cada um tinha um micro em casa velho, uma coisa e outra, a gente foi formando. Aí a gente teve a visita de uma pessoa da Fundação Banco do Brasil que olhou o nosso esforço, olhou o nosso trabalho, morreu de dó dos micros que a gente tinha, que eram péssimos. A gente fazia...
P/2 – Você recorda quem foi lá, na ocasião?
R – Almir Paraca, Almir Paraca. Ele esteve lá e conheceu o trabalho, viu o nosso propósito, viu a seriedade do trabalho, morreu de dó da nossa situação física precária e falou: “Não, não, vocês precisam ter uma estação digital, é esse tipo de parceria que o banco precisa”. Eu lembro que ele falou isso. E eles, eu fui levar ele ao aeroporto meio dia e meia. Às quatro e meia da tarde me ligam da fundação pedindo alguns dados e algumas coisas, que a gente estava inserido no plano de estação digital e eu tinha que separar três pessoas pra vim fazer capacitação aqui em Brasília. Eu até assustei, falei: “Mas foi rápido demais, rápido demais, foi no mesmo dia”. Aí eu tive que arrumar três pessoas correndo. Teve briga porque era só três, né, se falasse dez seria mais fácil. E pronto, a gente fez e um mês depois estava a estação digital montada, Pentium IV. A gente falou: “Puxa vida, nem em casa eu tenho um micro desse”. E uma maravilha. A gente tem um orgulho enorme da nossa estação porque o banco é muito esmerado. A qualidade das coisas, a preocupação com o visual, tem toda aquela decoração da sala, aquele visual todo.
P/1 – Não é porque é social que tem que ser ruim ou de baixa qualidade, né?
R – Exatamente. Quer dizer, você pode fazer a coisa social, e deve fazer de forma bonita, que é pra dar a imagem bonita. Social é uma coisa bonita, então não pode realmente ser feita uma coisa feia. E um dos ingredientes maiores que a gente tem é amor, mas faltava o capital, faltava a injeção. O banco chegou e falou: “Nós estamos aqui, ó”. E aí montou a estação, tudo, mesas novas, tudo.
P/2 – Antes disso vocês já tinham algum contato? Você já tinha ouvido falar da Fundação Banco do Brasil em algum momento, você já tinha algum conhecimento?
R – Sinceramente não. O quê que aconteceu na época? Eu, naquela de procurar amigos que pudessem doar micros, e falando com o meu irmão Rogério, que na época trabalhava ainda, ele aposentou, trabalhava no Banco do Brasil, eu liguei pra ele e falei: “Rogério, você está aí trabalhando em Brasília e eu me dei conta de que você é meu irmão e trabalha aí. Puxa, será que o Banco do Brasil não doaria pra gente computadores assim, assado e tal?” “Olha, Roberto, não sei, não sei. Mas olha, o Almir Paraca está na fundação, trabalha, tem também lá, eu sei, estação digital. Eu vou entrar em contato com ele e vocês conversam”. Eu falei: “Ah, por favor”. Quer dizer, foi ele que fez o primeiro contato. Aí, por telefone a gente conversou e tudo mais. Então ele falou: “Roberto, eu devo ir a São Paulo, vou aproveitar pra conhecer vocês”. Eu achei que fosse uma conversa de político, mas não foi não. Na semana seguinte ele veio a São Paulo, me procurou. Nossa, a gente rapidamente levou lá. Foi onde ele deu a visita, conheceu o nosso trabalho todo, não só a nossa precariedade de computador, né? E a violência, que ele atuou de uma forma assim. Ele veio e no mesmo dia ligaram, e hoje nós estamos lá com a estação digital. A gente hoje, pra você ter uma ideia, a importância da estação digital na ABECAL não é só o curso de informática não. A coisa tomou um caminho maior, que é o seguinte. Todo mundo quer fazer informática, todo mundo quer. Então a procura ficou tamanha, que hoje nós temos 15 micros lá. Se tivesse 80 estariam todos ocupados, todos. E é de hora em hora, de hora em hora, de hora em hora, não para. Entra 15 alunos, uma hora de aula, sai, entra 15. A gente tem que fazer assim pra dar chance pra mais pessoas. E de hora em hora, de hora em hora. A gente tem que parar pra almoçar porque senão não para, não é? Então aquilo é direto. Só que a procura ficou tão grande, tão grande, que a gente agora faz o seguinte: “Você vai fazer capacitação sim, mas eu quero que você participe de um projeto social qualquer”. Ou seja, a gente hoje utiliza até a estação digital como um pré-requisito, que pra fazer você tem que estar engajado em um projeto social. Você tem que ser voluntário de alguma coisa, ajudar de alguma forma, contribuir de alguma forma, ou ajudando a disseminar o que a gente faz dentro de onde a pessoa está. Enfim, porque nós só trabalhamos de dia. Por que isso? Porque o foco da ABECAL é o jovem que está buscando o primeiro emprego e o adulto que está desempregado precisando de uma reciclagem pra voltar pro mercado de trabalho. Então esse pessoal tem tempo de dia. Então a gente não trabalhando à noite a gente evita aquele empregado que pode pagar e, portanto, pode fazer curso em outro lugar. A gente atua com quem não tem dinheiro. Então esse pessoal tem tempo, e se tem tempo não precisa fazer só uma hora de aula, pode fazer uma hora de aula e pode fazer uma hora de voluntariado, pode participar de alguma forma. Eu quero contaminar o pessoal que vai lá com o social. Eu não quero que vá lá fazer um curso de informática, eu quero ele envolvido com o social, preocupado que um outro não tem chance menor que a dele, preocupado em que: “Poxa, olha, eu sei bordar” “Então dá um curso de bordado”. Por quê? Porque a esposa de um outro lá faz, por exemplo, pintura em tecido. Pode parecer uma coisa boba, né? Mas eu tenho mães que pagam a faculdade da filha com pintura em tecido, do que eles fazem e vendem, e a gente inclusive disponibiliza lugar até para que o pessoal possa expor um produto e venderem. Então, assim, a gente tem atividades incríveis que ajudam no sustento de uma casa, né? Mas a pessoa chegou aqui através da estação digital, o que chamou foi a estação digital. Ele fez. Mas, por exemplo, hoje o professor de espanhol. Tem um professor de espanhol excelente. Ele veio fazer o curso de informática, vocês não acreditam. Ele ainda não conseguiu terminar o curso de informática, mas ele está com a gente há um ano e meio dando espanhol. O curso é infinitamente menor o tempo, mas ele não consegue ir à aula porque ele não consegue parar de dar o espanhol pelo interesse dos que estão fazendo com ele, e ele vai se envolvendo. Eu acredito que devagarzinho ele vai concluir o curso. Mas pra você ter uma ideia da importância da estação, ela deixou de ser só a porta de entrada. A pessoa, pra participar, se envolve de outra forma, que é a forma que a gente quer.
P/2 - ________ (um labirinto?) na verdade então.
R – Exatamente.
P/1 – Você diria que essa estação gerou impacto na região ali, na área que ela foi instalada?
R – Ah, com certeza. Na época foi divulgado em todos os jornais da região: “Estação digital, parceria com o Banco do Brasil”, Jabaquara e tudo mais. Foi uma agitação tremenda. E o impacto foi grande por quê? Eu já tive visita até de outros bancos interessados em formar alguma coisa a nível de informática, mas nós já temos parceiro, nós já estamos situados, sabe? Não temos interesse assim, o brilho do ouro nós temos. Então a gente só quer fazer isso de forma melhor. Então, assim, o pessoal viu, porque a gente incomodou muita gente na região por causa exatamente disso. Não veio: “Olha, mais um curso de informática na região”. Não, mas um curso de resgate na região em que, como diz o outro, o ouro que brilha é o computador. Por quê? Todos os voluntários que nós temos, todo o pessoal envolvido em todos os outros projetos, seja no albergue, seja na ABECAL entraram pela estação digital. Foram lá pra fazer um curso de informática e foram visceralmente contaminados pelo vírus do social. Então a gente tem histórias maravilhosas. Quer dizer, então é o que a gente fala, era claro. Se a gente tivesse duas, três vezes o tamanho que é a nossa estação hoje, estaria completa, estaria cheio e teria gente esperando. O pessoal não imagina, sabe, quando você fala São Paulo o pessoal fala: “Imagina, a cidade mais rica do Brasil”. Mais rica para alguns, mas é a cidade onde tem o maior número de excluídos digitalmente. É pesquisa feita por aí, eu não tenho números aqui pra dar. Mas é assim, por exemplo, vocês não avaliam o tamanho, a quantidade de gente. Por exemplo, albergue. Nós estamos falando de um público de 13 mil albergados cadastrados, registrados, fora os que não são. Treze mil é a população de muita cidade por aí. Quando se cogitou de fazer uma estação digital num albergue pra albergado ter acesso à Internet, pra albergado aprender alguma coisa de informática, eu tive telefonemas de vários outros albergues interessados em mandar gente. Eu falei: “Não, gente, nós temos só a ideia, nós não temos isso no albergue. Por enquanto é só uma ideia”. Mas porque excluí-los? A ideia não é acabar com a exclusão? A ABECAL está tentando acabar com a exclusão, e inclusive povo de rua. Não vamos deixar ninguém excluído de uma tecnologia dessa. A gente está se preparando para, à partir do ano que vem, dar aula pra surdo-mudo. Surdo-mudo vai ter aula de informática na ABECAL cadeirante também, a gente está preparando até fisicamente pra isso. E povo de rua, por que não? Porque parece que é uma deficiência, surdo-mudo, povo de rua. O pessoal tem ideia de povo de rua errada porque tem gente muito boa na rua, que está na rua porque não tem jeito. Então a gente quer inverter isso, modificar isso, e a estação digital é uma porta maravilhosa pra isso.
P/2 – Vamos registrar o que significa a ABECAL que a gente não falou ainda.
R – Olha, tem um slogan que identifica a ABECAL, é: “A ABECAL reciclando vidas”. A gente recicla vidas.
P/2 – Mas a sigla quer dizer o que?
R – Associação Beneficente Caminho de Luz. Quando a gente fala caminho de luz, de luz, de conhecimento, de sabedoria, que eu duvido até que a morte tire. Você aprende uma coisa, aquilo é seu. Então a fome vem, se você tem uma coisa que vende, não tem pra vender mais. Conhecimento, se você trabalha em cima do conhecimento acabou a fome. Acabou, você está capacitado pra desenvolver alguma coisa. Você pode não viver como marajá, que eu questiono se é tão bom, mas você vai viver bem, com dignidade, com o seu esforço, e ninguém tira isso mais de você. E dependendo do que você aprende, quanto mais velho melhor, né? Quer dizer, então é uma coisa que você vê com os olhos, que você se incomoda se não fizer parte. É uma coisa muito bonita, muito. Os que não fazem parte ainda estão se preparando pra dizer que um dia é um cidadão. A pessoa que se diz cidadão tem que estar engajada socialmente, senão não faz sentido. Quer dizer, assim a gente questiona o quê que é a vida, né? Se for só respirar... Eu acredito que não seja. Quer dizer, então é isso. A gente, a estação hoje está aberta pra todas as pessoas. Sexta-feira, por exemplo, é um dia para a terceira idade. Nós temos cursos de informática pra terceira idade. A semana retrasada fez inscrição uma senhora, que aliás foi levando um salgadinho pra mim, uma gracinha, como se aquilo fosse facilitar a inscrição dela. Não precisava nada disso. Ela tem 81 anos de idade. Ela chegou lá mostrando o que fez, que queria fazer ficha, se podia fazer. Eu falei assim: “Se podia não, a senhora vai fazer. A senhora não sai daqui sem fazer”. E na semana seguinte ela começou a aula. No primeiro dia ela teve dificuldade, porque ela se emocionava tanto que ela tinha dificuldade. Até a gente se emociona porque é muito bonito isso, é uma lição de vida. Ela chegou ali, ela está lá aprendendo, fazendo as coisas. Ela não vai procurar emprego. Você sabe pra quê que ela quis aprender? Ela quer falar com os netos, e ela sente que se não usar a tecnologia ela não fala. Eles não saem do computador, não dão atenção pra ela. Ela falou: “Então eu vou entrar no computador e falo com eles”. Olha a inteligência dela. Me fez lembrar o gari. Então eu pensei: “Ela tem que fazer o curso de informática”. Ela está lá, ganhando um pouco mais de agilidade. Esse curso pra terceira idade que a gente dá é pra pessoas de 60 anos pra cima, os voluntários são mais atuantes, tem mais voluntários na sala porque tem que dar uma atenção maior. É um voluntário para cada dois. E eles querem aprender, querem ganhar. Eles querem, por exemplo, pegar uma receita de bolo no Word, fazer alguma coisa, preparar um documento que depois vai mandar uma cartinha pra neta. Depois quer entrar na Internet pra saber como é que manipula, como é que faz, como é que não faz. Quer dizer, o conceito deles de informática é diferente. Eles não vão trabalhar na área. Não é o público que eu tenho de segunda a quinta, que a intenção é saber pra arrumar trabalho, pra trabalhar, pra fazer teste em empresa. É outro foco. Essa da terceira idade é pra estar fazendo parte, é pra estar interagindo com o jovem, e isso pra gente é dez, você sabe. Então é o que eu falo, você humaniza a área de exata, né, humaniza a área de exata, que é uma área fria normalmente. É exata porque informática é classificada como exata, né, aquela coisa. Não, você consegue por muito sentimento nisso. Então esse dia de sexta-feira é um dia complicado pra quem tem grandes emoções aí, é um dia complicado de participar, né, porque os exemplos são maravilhosos.
P/2 – Você falou de uma parceria nova que está surgindo agora com o Banco do Brasil, né?
R – É. Você sabe que é assim, não pode cutucar a gente que a gente fica mal-acostumado. Acreditaram na gente, que a gente é eternamente grato. A estação digital está lá.
P/2 – Tem quantos anos, desculpe, a estação digital? É a partir de que ano?
R – Tem, vai fazer dois anos. Porque, diga-se de passagem, a ABECAL existe, se for falar no papel, quatro anos. Então tem dois anos. E a gente sempre acompanhando e vendo outros projetos, outras coisas acontecendo com o banco, eu falei: “Opa, peraí, quero mais”. Cutucou a gente, deixou mal-acostumado. Então eu vinha já desenvolvendo outros projetos e nós estamos agora em fase final pra montar uma escola de cabeleireiro. Então a gente tem atuado junto ao Banco do Brasil lá em São Paulo. A agência onde nós temos conta, o rapaz, o Edmilson, o gerente lá tem nos dado força e a gente está montando todo o processo pra conseguir do banco essa escola de cabeleireiro porque a gente já tem tudo preparado, já tem as professoras. Eu tenho tudo, tudo que precisa, tudo, tudo, tudo. Tudo levantado, tudo que precisa, o gasto, como é que é, porque um dos nossos voluntários tem, um dos nossos colaboradores tem um salão de beleza, né? Então a gente tem tudo pronto. Por quê? Porque o aluno vai ser ali capacitado, e é uma capacitação, é o que eu falo. A mulher é, vamos dizer, a segunda renda do casal, se não for a primeira, e aprendendo ela trabalha até em casa. Ela se profissionaliza numa coisa que ela trabalha em casa, vai atender na casa dos outros até um dia ter um salão. Ou seja, então é uma coisa que sempre vai existir mercado. Onde existe mulher existe a preocupação com a beleza, graças a Deus. Então sempre um salão de beleza vai ter espaço. Então a gente tem isso aí, que me parece vai concluir bem aí com o Banco do Brasil, e outros projetos que a gente está à caça aí, né, no sentido, por exemplo, essa nossa experiência na área de informática é muito forte, muitos anos, uma equipe muito grande envolvida nisso. Quando a gente tomou conhecimento de um projeto chamado CRC, que era Centro de Recuperação de Computadores, eu falei: “Puxa vida, se a gente pudesse ter uma parceria dessa aqui a gente ia fazer um barulhão em São Paulo, né?” E em São Paulo tem um alto-falante alto, forte, a gente pode cantar em prosa e verso isso aí. E eu até estou me inteirando agora, voltei aos contatos e tudo, porque se existir a possibilidade e a gente conseguir dirigir um CRC em São Paulo, que a gente estaria o que? São micros que são enviados pra lá pra ser recuperados. A gente vai estar recuperando e preparando esses micros pra amanhã serem doados pra escolas, pra ONGs, pra, enfim, pra trabalhos específicos e idôneos, né? Mas com isso não é só consertar, a gente vai estar consertando dando aula. Seria uma fábrica-escola, né? A gente estaria formando novos técnicos jovens que estariam sendo encaminhados lá pra fazer o curso de hardware, aquele que a gente dá na ABECAL pra seis alunos, forma-se seis mais seis, de uma forma muito improvisada. Nossa, a gente passaria a fazer de uma forma melhor. Se ali eu tenho cinco técnicos eu poria dez alunos com cada técnico. Nós estamos falando de 50 jovens que têm possibilidade de entrar no mercado de trabalho como técnico de computador ou pra trabalhar em alguma empresa ligado à área que mexa com hardware. Ou seja, então nós estamos namorando aí a possibilidade de poder ter esse tipo de parceria. O Banco do Brasil é um banco que tem esses olhos pro social e a gente agora está descobrindo mais forte isso, os nossos contatos em São Paulo, pra atuar em vários outros projetos que a gente pretende atuar, né? Vamos ver se dá tudo certo.
P/2 – Você me falou que tem outros tipos de curso que são pagos, dentro da ABECAL.
R – Ah, tá. É o seguinte. Na área de informática a gente dá o básico. Tudo que é feito na ABECAL, os 30 cursos, são todos gratuitos, e a gente dá inclusive o material pro aluno. Como? Vaquinha. Lá nós não estamos no nível ainda de trabalhar de graça, a gente paga pra trabalhar, né? Então a gente compra tudo que precisa, os alunos ganham pra aprender e o que eles fazem, levam com eles, pra incentivá-los a ir fazendo. Então no curso de informática a gente dá Windows, Word, Excel, PowerPoint. A gente dá o básico, o Office, de tudo. A gente ensina também a trabalhar com o Linux, que é um software livre. Eles têm aprendizado, eles aprendem a trabalhar com a Internet, acesso, tudo. Amanhã, se quiser acessar a Internet, nós criamos uma sala maior de cursos e uma menor só pra acesso à Internet. O pessoal vai lá mandar um currículo, vai fazer alguma coisa. Ou seja, então nós temos essas duas frentes lá, né? Agora, nós temos, o nosso grupo é capacitado em 28 tipos de software, que é praticamente o que existe no mercado. Então, por exemplo, você é engenheiro, quer fazer AutoCad I, AutoCad II, nós damos o curso pra você. Você quer fazer Java, você quer fazer... O quê que você quer fazer? Nós estamos prontos pra te ajudar. Os nossos cursos todos, nós temos uma parceria com a Treinasoft e nós temos, o curso é interativo.
P/2 – Seria com quem?
R – Com a Treinasoft. Treinasoft desenvolve os softwares pro computador ser o seu professor. Tem monitores no curso e o próprio software te ensina a usar, e não esquece de ensinar nada, e só com uma pontuação alta é que vai evoluindo de fase. São cem fases. Então você aprende, por exemplo, AutoCad. O engenheiro vai lá e ele faz o curso. Agora, o engenheiro trabalhando, ele não está precisando fazer um curso numa ONG de graça, tirar o espaço e o lugar de uma pessoa que não tem como pagar. Quem não tem como pagar não quer fazer um AutoCad, ele quer fazer o básico pra tentar arrumar um trabalho qualquer, nem que seja de porteiro.
P/1 – Excel, Word, ele quer mexer no Office.
R – Ele quer mexer no básico. Ele fala assim: “Você sabe Internet, a informática?” Quando uma pessoa vai te contratar, fala: “Você sabe informática?”, ele está pensando no básico. Por exemplo, uma menina secretária tem que saber fazer as coisas, se virar ali, fazer uma carta, atender e tal. Quer dizer, então o básico tem que saber. Esse básico nosso é tudo de graça. Agora, vem essa equipe de engenheiro fazer esse curso de AutoCad, poxa, eles podem pagar. Então eles vão pagar um valor mensal infinitamente menor do que se ele for fazer o curso por aí, que é caríssimo. E essa ajuda que ele vai dar vai ajudar a manter os papéis que são gastos, as coisas que são gastas, vai ajudar a pagar a conta de luz. Ou seja, esses poucos, que infelizmente são poucos, que vai numa ONG fazer um curso pago, mas normalmente são cursos bem especializados, pra ajudar a ONG, a sustentação da ONG. Então a gente tem isso lá sim. Agora, é que o pessoal normalmente busca muito cursos com nome pra fazer, “Eu fiz curso não sei aonde”. Agora é que estão começando a descobrir, por uma questão social, que eles não precisam desse nome. Eles precisam é fazer, ter o conhecimento deles. Eles não vão precisar mostrar diploma pra ninguém dessa ferramenta. É só uma ferramenta. Se ele vai mostrar diploma, é da faculdade que ele fez, né? E ele faz ajudando a uma outra pessoa. Nós estamos começando a partir pra essa conscientização. E agora estamos formando a primeira equipe de engenheiros que vai fazer AutoCad I e II.
P/1 – Qual a sua atuação específica junto ao programa?
R – Olha, no começo eu fazia de tudo. Varria, limpava banheiro, e com um orgulho danado em fazer isso, só de saber que a casa está limpinha, bonita, esperando o pessoal que vai chegar. Eu fazia de tudo. Eu atendia na secretaria, eu ajudava a ver um curso, se estava precisando de alguma coisa. No começo você faz tudo, você ataca de frente, faz tudo. Hoje, claro, a coisa vai modificando, vai melhorando, as pessoas vão chegando, vão contribuindo, as coisas vão acontecendo. Hoje, por exemplo, pra limpar uma sala os alunos chegam e limpam. Eles recebem tanta coisa que alguns ficam sem graça de não dar nada, e faz pelo menos isso. Então isso vai acontecendo. Esses já estão contaminados, né? Alguns não, ainda vão lá, faz sujeira e vai embora. Mas tem o tempo deles. Tem uns que são mais lentos, outros que são mais rápidos. Então a coisa flui de tal forma que a coisa está assim. Agora a minha atuação lá é mais na parte administrativa, mas assim, vendo o que nós temos, o quê que não está funcionando certo, o quê que pode fazer para melhorar, que coisa nova devemos ter, qual que é o ideal, buscar parceiros, fazer a divulgação com a cara que a gente quer ter, de não ser só um curso de capacitação mas o quê que é o trabalho. Ou seja, agora eu preocupo com a imagem do que é feito lá porque eu sei que a imagem é importante pra atrair parceiros. As empresas só ajudam quem faz sucesso, eles não ajudam ninguém a começar. Eu sou prova viva disso. Exceção, o Senhor Quitami acreditou na gente. Não tinha cadeira pra sentar. Ele comprou as cadeiras e pôs pra gente. Eu não tinha nada pra mostrar pra ele, ele falou: “Mas você vai ter”, e montou, ajudou a montar. Então isso é um caso à parte, é um namoro à parte. Fora isso, as empresas, por exemplo: “Quem é você? O quê que você faz? Cadê o seu CNPJ? Nossa, você só tem dois anos?” Então existe uma burocracia que emperra. Hoje, quatro anos, pronto. A gente existe, já não tem só dois, três. Então as pessoas começam a enxergar diferente a gente. Só que agora uma parceria de um banco, depois que ele chegou mudou a cara da entidade, porque isso deu, eu senti o peso que foi. O Banco do Brasil não deu só a estação digital, ele deu o nome junto, a Fundação Banco do Brasil que está lá com a gente. Isso dá um orgulho danado pra gente e uma responsabilidade de saber o quê que é essa marca estar com a gente. Então a gente começou a trabalhar, desenvolver um projeto de não ser só mais uma estação digital, mas de mostrar pra eles que: “Olha, vai valer a pena vocês terem acreditado na gente”, e desenvolver o que nós estamos desenvolvendo, até isso mexer com outras empresas do nível pra que possam ajudar, que eu acredito que vai começar a acontecer agora.
P/2 – Roberto, existe um diálogo entre as estações digitais espalhadas no país? Vocês conversam com outras estações ou com outras ONGs?
R – Olha, eu não sei todas como são por aí, mas é claro, a pessoa quando faz a capacitação, são várias estações que são capacitadas junto, cria uma ligação que eles se falam e tal. Só que o nosso elo é um pouco diferente. Como a nossa equipe é uma equipe muito envolvida na área de informática profissionalmente, então o quê que aconteceu naturalmente? O pessoal nosso, por exemplo, quem eu mandei vim fazer o curso de capacitação em Brasília? Dois analistas e um técnico de computador. Foram os três representantes que vieram. Quer dizer, eles vieram aqui pegar o esquema do banco, eles não precisavam de aula. Mas eles vieram, adoraram, se apaixonaram com o que pegaram e voltaram trazendo um mundo de amizade. Só que você vê, a gente com esse recurso técnico, que nós temos DBA [Administrador de Banco de DADOS], nós temos tudo lá. Então o pessoal às vezes montava as estações e tinham dificuldades, dificuldades na ligação, alguma ligação errada. Às vezes o cara, sei lá, em Poconé, está com dificuldade, deu um problema lá, não sabia resolver, ou um problema com o software livre, não conseguiu usar. Por amizade começava a ligar, ligar. Conclusão, hoje a gente ajuda muitas estações assim via telefone, via e-mail, dando orientações: “Faça isso, não faça aquilo. Olha, isso aqui muda, faz assim”. Ou seja, acabou criando um elo aí entre outras estações que a gente dá, podemos chamar de assessoria técnica, onde a gente ajuda a superar as dificuldades que eles estão tendo, seja desde a instalação física, elétrica, a hardware, software, computador que de repente para, trava. O quê que faz? A gente, sabe, o pessoal liga, e a gente nunca vai dizer não pra ninguém, muito menos pra um parceiro. Então a gente acaba ajudando todo mundo, não é?
P/1 – Tem algum caso engraçado que aconteceu com o senhor aí durante esse tempo já?
R – Caso engraçado?
P/1 – Dentro da estação digital ou no albergue, alguma coisa que você pode registrar?
R – Olha, já teve tanta coisa, viu? Tanto fato interessante ou fato engraçado, já teve muita coisa. Mas tem um fato engraçado que eu estou lembrando aqui, que é interessante. Tem alguns albergados que vão fazer o curso lá, por enquanto eles estão no curso de digitação, o primeiro contato com o computador, aprendendo, ganhando agilidade. Então tem um curso de digitação que é a porta de entrada pra depois vim a fazer um software qualquer. A importância deles estarem vindo entrar nessa tecnologia, entrar na sala, pra vocês terem uma ideia do que significa pra eles isso. Olha só, não é aquele povo de rua não. Alguns que têm condição de estar envolvido com esse projeto, porque infelizmente a gente tem que ver isso. Tem uns que ainda não estão no nível de envolver num projeto desse. Mas os que estão, eles iam lá. Só pra você ter uma ideia. Tinha um que antes de entrar na sala, era sagrado, ele ia lavar as mãos porque ele considerava da mesma forma que ele aprendeu no albergue lavar a mão antes de almoçar, ele tinha que lavar a mão antes de mexer numa coisa que ia mudar a vida dele. Homem de rua. Então ele lavava a mão. Eu falava pro pessoal que estava lá. Lavava, enxugava, fazia assim, entrava pra sala como se fosse pra uma cirurgia. Aí ele entrava e ficava ali, e a maior preocupação dele também era pra que os outros vissem que ele estava ali, sentado na frente do computador, aprendendo. E aí vocês não sabem, vai, aspas, o problema que gerou no albergue, porque chegou uma hora que eu estava tendo que criar praticamente uma fila especial pra almoçar pros que frequentavam a estação digital porque eles foram ficando com tamanha importância, esse envolvimento com a era digital e tudo mais, que eles já não estavam gostando muito de entrar na mesma fila dos outros pra almoçar. Aí a gente teve que baixar a bola e falar: “Peraí, peraí, peraí, você não é melhor que ninguém”. Nós tivemos um trabalho com as psicólogas no albergue. Pra você ver o quanto isso mexeu com eles, a importância que era.
P/1 – Até a autoestima deles, né?
R – “Olha, eu estou trabalhando, eu estou aprendendo informática, eu vou trabalhar com computador”.
P/2 – Você sabe o quê que é isso?
R – Você sabe o quê que é isso? E a hora que a gente começou a ver isso nós criamos vários outros cursos, garçom, camareiro, copeiro, vários outros cursos.
P/1 – Peraí, Roberto. Qual que é o espaço que vocês dispõem lá na ABECAL?
R – Nós temos salas-beliche, a gente até brinca. Porque é o seguinte, a sala que não dá pra dividir com outra coisa é a sala de informática, a instalação, computadores. Aquilo é só aquilo, e olha que mal dá praquilo porque é direto. Agora, as outras salas todas, a gente só não ocupa banheiro. As outras salas todas têm atividades, independe do dia e da hora. Nós temos uma, duas, três, quatro, cinco. Eram três, construímos duas lá no fundo maiores. Cinco salas. São poucas, se eu tivesse 20 estariam todas cheias. A gente vai ter, logo, logo a gente vai ter, mas enquanto não temos vamos falar do que a gente faz. Você entra na sala. Na primeira sala que você entrou você entra, tem a recepção, essa sala é comprida. Nós pusemos uma cortina que separa você de entrar, de algum curso que está tendo. Dependendo do dia e da hora é um curso de espanhol, ou é um curso de bijuteria, ou é um curso de pintura em tecido, ou é um curso de... Enfim, vários tipos de curso. Aí você entra pra cozinha. Na cozinha tem curso pra padeiro, confeiteiro, tem curso de culinária e alguns cursos esporádicos. Vai vim época da páscoa, então ensina a fazer ovo de páscoa, ensina a fazer. Ou seja, a gente está sempre andando com o tempo, não é? Aí você chega numa sala do lado de uma sala menor, com certeza. E assim, esse curso vai da uma às três, tem um outro que vai das três a quatro e meia, outro pega das quatro e meia às seis, entendeu? Quer dizer, então é dinâmico, é rápido. Lá embaixo as duas salas maiores então, é assim. Por exemplo, curso de inglês. Quem não quer fazer um curso de inglês hoje? E de graça, né? Então tem 35 alunos. Então todo mundo chega, o professor chega, ensina, uma didática incrível, duas horas de aula e tal. Terminou o curso de inglês. Aí, terminou o curso de inglês, parte dos alunos saem, vão embora, parte já está no curso seguinte. Você pode fazer dois cursos ao mesmo tempo lá, não deixamos fazer mais pra dar chance pra mais pessoas, senão tem gente que ficaria o dia inteiro lá fazendo curso. E já fica, por exemplo, pra fazer o curso de espanhol ou fica pra fazer o curso de operador de telemarketing. Então é assim, ou seja, cada hora o espaço é aproveitado de um jeito, e aquilo não para, não para. E tem curso que é de terça e quinta, outro é de segunda e quarta, outro é de sexta, o outro é de terça e sexta, o outro, e assim vai. E a gente vai fazendo uma maravilha no calendário pra que a coisa dê certo. Aí, quando a gente quis aproveitar o espaço do albergue. Por quê? Ao invés de alguns virem, e nem todos se sentem à vontade vindo, misturando com esse público de cá, a gente começou a criar alguns cursos pra eles lá no albergue mesmo. Mas não foi questão de separar não, foi de aproveitar o espaço do albergue porque nós não temos, só se ocupar a praça que nós estamos, né, em frente. Só não a gente ocupa, na praça nós damos curso. Pra você ter uma ideia, nós temos fisioterapia pra terceira idade. Às vezes é dado na praça em frente. A professora vai lá e ensina a pessoa de mais idade a fazer exercício pra melhorar o corpo, a circulação, postura, uma série de coisa, e às vezes é dado na praça em frente. Pra fazer você tem que estar lá, basta ir e ter força de vontade. Não está lá pra fazer divulgação não, que a gente não está precisando disso. Está lá porquê não, pra você ter uma ideia. Então a gente é assim, quer dizer...
P/2 – (Vocês vão poder?) responder na verdade.
P/1 – Quais são os maiores desafios da ABECAL hoje?
R – Olha, o maior desafio da ABECAL sempre vai ser tirar o máximo de cada um, sempre, pra que a pessoa ponha pra fora o máximo que ela pode dar pra gente poder estar encaminhando da melhor forma possível. Esse é um desafio, que não é fácil tirar o máximo de cada um. Agora, aliado a isso, conseguir recursos e espaço pra aquilo que eu estou fazendo pra dez eu poder fazer pra 50 porque eu vou ter o mesmo professor, o mesmo material, e eu podia estar atingindo mais gente, muito mais. Curso de informática, nós temos catalogados, registrados, eu posso dar a lista com nome, RG, nós temos de 13 a 14 mil albergados loucos pra fazer isso, só que eu não posso nem sonhar em oferecer. Só de pensar em ter a ideia no albergue, tiveram outros albergues ligando pra mim. Quer dizer, a informação chegou lá, alguém passou essa informação, que eu não sei quem foi. Então a gente tem que ter cuidado porque hoje a nossa maior preocupação é essa, é espaço, que a gente está multiplicado dentro do que nós temos, e condições pra estar tocando tudo que a gente já faz. Nós não precisamos inventar muito mais não, é fazer crescer o que tem, fazer crescer.
P/2 – Alberto, você me falou de uma nova parceria agora com a Prefeitura de São Paulo a respeito do lixo, né? Você podia falar um pouquinho sobre isso pra gente?
R – Posso sim. É o seguinte. Bom, nós temos uma parceria com o SAS-Secretaria de Assistência Social no Jabaquara, porque o albergue precisa da sustentabilidade financeira, não é? Então eles contribuem muito fortemente nisso aí, e a gente faz o milagre da multiplicação dos pães, que é um milagre. Mas sem essa ajuda deles seria impossível. Então existe essa parceria, em todos os albergues existe essa parceria com a prefeitura. A gente administra, faz tudo e tudo mais, mas é um trabalho supervisionado por eles, o que nos ajuda, uma espécie de auditoria que nos ajuda a estar sempre buscando o melhor, desenvolver melhor, e essa parte de sustentabilidade. Agora, o que a gente quer fazer é o seguinte. Eu, em contato com outra subprefeitura, ele tem um projeto. Foi assim a fome com a vontade de comer, esse encontro, porque eu encontrei com ele mostrando os projetos da entidade e que eu estaria buscando espaço pra gente desenvolver, maior. Mas quando eu falei o que eu fazia, e detalhadamente, ele falou: “Roberto, você é a perna que me faltava”. Eu de cara agradeci a Deus. Depois eu quis saber por quê. Ele falou: “Olha, porque eu tenho um projeto pra tirar o carrinheiro da rua, só que eu não posso só tirar da rua, eu tenho que dar uma alternativa pra eles. Pô, você está chegando com a alternativa. E se a gente pegasse assim, vamos fazer uma experiência. Pega 50 carrinheiros, que é o catador de papel, pega 50 desses, eu mando pra ABECAL, eles passam um dia lá, comem lá, são preparados lá, são capacitados lá, tudo mais e tal. A gente cria uma forma qualquer de sustentabilidade pra eles, pra manter eles lá. No final eles vão ser capacitados em alguma coisa e a gente ajuda depois a recolocá-los no mercado. Aí sim, a gente faz com 50, amanhã se tiver condição faz pra cem, e vai, vai, vai. Uma hora a gente zera ou quase zera esse problema social e esse problema que pra prefeitura é grande porque eles acabam fazendo muita sujeira também, que eles vão nas coisas pra pegar o que eles querem e o que eles não querem fica jogado. Quer dizer, é uma dificuldade. Então a gente tem que dar alternativa, e eu estou vendo que você pode ajudar a gente com alternativa”.
P/2 – Então continuando.
R – Onde eu parei? Desculpe.
P/1 – Sobre a sustentabilidade dos catadores. Aí você comentou que eles iam passar o dia todo lá.
R – É, esse projeto que a gente já tem descrito e que está dependendo só de uma área que está sendo disponibilizada pra gente, essa subprefeitura de Vila Mariana rapidamente interessou e vai estar disponibilizando uma área pra ABECAL porque a gente precisa instalar um galpão. Ou seja, tem aí. A gente precisa do espaço e a forma de ocupar esse espaço pra esse projeto. Esse projeto é o que? Nós vamos fazer, vai ser uma oficina de papel reciclado e restauração de móveis e estofados. O que significa isso? Oficina de papel reciclado. “Poxa, pra montar, você tem o pessoal técnico pra isso?” “Tenho”. Sempre a parte que precisa de conhecimento nós temos, e se não temos a gente dá um jeito de arrumar, né? Quer dizer, nunca vai ser problema isso pra nós, nunca. O problema nosso é sustentabilidade nos projetos e montar o projeto, o resto a gente faz. Então vai ser montada essa oficina de papel reciclado onde eles vão aprender a fazer um produto e eles vão aprender o quê que é transformação, pegar aquilo que é chamado de lixo e faze virar um produto, pegar um papel que vai pulverizar, vai virar um monte de coisas e no final sai uma agenda, sai uma folhinha, sai um caderno, enfim, uma série de outras coisas. Os cadernos que saírem dali depois vão pra crianças e quem faz, ajuda a fazer, vai ver o que ele fez, crianças sendo alfabetizadas lá naquele caderno. Ou seja, ele vai ver o trabalho dele, a importância que é. A gente tem que envolver ele na importância do trabalho dele e não só ser um cara que sabe fazer caderno. Ele vai fazer sabendo que tem criança que vai usar aquilo que ele está fazendo e que não vai ter a vida que ele teve. Talvez tenha um filho dele. Então a gente vai ter essa oficina e vai ter oficina de móveis e estofados, recuperação de móveis e estofados, que muita gente joga fora. Enfim, até empresas que doam. Então a gente vai estar recuperando, e dentro dessa recuperação a gente vai estar capacitando os envolvidos pra ser amanhã um serralheiro, um marceneiro, um artesão, um pintor, ou seja, eles vão aprender funções que está dentro do nível deles, que dá pra eles serem capacitados aí. E alguns artesões que vão gerar produtos a partir do papel reciclado, essa coisa toda. A sustentabilidade disso também foi pensada, por que esse projeto prevê o que? Eles vão entrar nesse projeto, vão se alimentar, vão aprender uma profissão e vão produzir produtos que vão ser vendidos. Esses produtos vendidos vai gerar uma receita pra sustentabilidade desse projeto, mas parte dessa receita vai ser distribuída em quem participar, ajudar a fazer o produto. Agora, eles só vão participar da receita se fizer uma hora de capacitação. Lá no comecinho, quando eles chegam, eles tomam o café e tem uma hora de capacitação. Se ele não é alfabetizado, vai ser. Se ele for, vai ter um reforço de matemática, português, ou seja, ele tem que sair do projeto melhor do que entrou, ele não pode sair igual. Ele tem que sair com alguma coisa mudada pra melhor na vida dele, e ele vai ganhar pra fazer isso, ele vai ter um respaldo de dinheiro pra que ele se prepare pra amanhã a gente ajudar a colocá-lo no mercado de trabalho. Esse é um projeto maravilhoso e que a subprefeitura de Vila Mariana topou. E a gente está agora vendo o espaço, que é uma coisa burocrática, um pouco demorado, mas assim que definir esse espaço a gente vai estar desenvolvendo esse projeto onde eles vão ser nossos parceiros. E a meta desse projeto é resgatar e recuperar pessoas que hoje vivem de pegar lixo na rua.
P/1 – Que legal.
P/2 – E alguma proposta de parceria também com o Banco do Brasil.
R – Sim. O Banco do Brasil, aliás é até um apelo que eu faço, o Banco do Brasil é o seguinte. A agência onde nós temos conta, na Aclimação lá em São Paulo, o gerente da agência, todas as aparas de papéis, o que seria lixo lá, ele já deixa a gente pegar. Hoje a gente pegou uma vez, naquela de vender pra quem trabalha com isso, porque nós não estamos prontos ainda pra receber e usar. Mas uma vez a gente usando, a gente gostaria que várias outras agências entrassem nisso aí. Em que sentido? Todas as aparas de papéis e tudo mais e tal permitisse que fosse pra nós, que a gente pegasse pra ser a matéria prima pra essas oficinas, pra ser matéria prima da recuperação de vida daquelas pessoas. Ou seja, nós vamos tirar o povo considerado lixo com o lixo. Nós vamos tirar, com o lixo nós vamos tirar eles da rua.
P/1 – E reciclando vidas, né?
R – Reciclando vidas, exatamente.
P/1 – Caminhando já para o final do nosso bate-papo aqui, a gente percebe que a estação digital mudou a cara da ABECAL De alguma maneira ela trouxe um novo impulso, ela deu uma visibilidade, ela mudou assim até a autoestima da ABECAL
R – Eu vou usar a linguagem de uma colaboradora nossa. A ABECAL, com a estação digital, entrou no primeiro mundo.
P/1 – Nesse sentido, como é que você avalia o trabalho da Fundação Banco do Brasil pro nosso país?
R – Olha, medindo a importância que está sendo pra ABECAL, que está ali em São Paulo, que ninguém imagina que São Paulo precisasse disso assim, né? Tanto que na formação dos nossos, chegou a vez de São Paulo falar, todos os outros lá pararam pra ouvir porque São Paulo, estação digital em São Paulo? Quer dizer, parece que está falando do que, Nova York, né? Sei lá o que eles estão pensando. A importância foi enorme. Enorme pelo seguinte. Você vê, o banco, pelo que faz com a ABECAL a importância disso pra envolvimento até em outros projetos. Praticamente todos os voluntários hoje na ABECAL, a porta de entrada foi pela estação digital. Eles não viriam na ABECAL pra fazer pintura em tecido, não viriam na ABECAL pra... Não, eles foram lá fazer informática, e hoje são professores de ___, de biscuit de não sei o que, sabe? Então o que acontece? A importância nossa foi, realmente existe a ABECAL antes da estação e depois da estação, realmente existe. É bem, a separação das águas aí pra nós é bem evidente. Eu acredito que isso seja em todos os lugares onde a estação foi implantada, deve existir a época antes e depois. Por quê? Porque isso faz com que as pessoas se envolvam. E se o pessoal que lida em todas as outras estações souber usar, do verbo usar, a estação, os envolvidos na estação, pra envolvê-los em projetos sociais, é só fazer. Está aqui o nosso laboratório, deu certo. Pode fazer em qualquer lugar que dá certo. A porta de entrada lá dentro dissemina, envolve e faz ser um voluntário social.
P/1 – Desde o momento que o senhor ligou para o seu irmão pedindo um contato com o banco, até o momento que o Paraca vai lá, que dá aquele apoio, até agora, o quê que vocês aprenderam com a Fundação Banco do Brasil?
R – Olha, nós aprendemos que, você vê, o quê que é uma estação com 15 micros na ABECAL lá em São Paulo? Pra uma fundação eu acredito que não seja muito, mas o maior que a gente aprendeu com eles foi o que? Que com pouco se faz muito. Então isso que eles colocaram na ABECAL não foi só uma estação digital, eles colocaram esperança na ABECAL eles colocaram tecnologia na ABECAL Então o que eu sinto que o banco faz em todos os lugares em que põe a estação é colocando o pessoal dentro do mundo. Você faz parte da ação global, você entra na Internet, você entrou no mundo. Você vai no Museu do Louvre sem sair de Poconé, você vai aonde você quer. Quer dizer, então o que o banco está fazendo com as estações digitais é colocando o pessoal em contato com o mundo. Ou seja, não é só uma estação digital, é muito mais que isso. Ele está colocando, ele não está deixando ninguém ficar ilhado, sabe? Ele está ensinando o pessoal que com isso aqui você faz parte de tudo, você acompanha tudo.
P/2 – A ABECAL ainda é um bebê de quatro anos, né?
R – Isto.
P/2 – Como é que você imagina a ABECAL daqui, sei lá...
R – Dez anos?
P/2 – Pode ser.
R – Daqui a dez anos eu imagino a gente sentado aqui, eu falando assim: “Olha, a nossa estação digital, que tem cem micros, hoje nós estamos capacitando, por essa porta, mil pessoas por mês, sendo que desses mil pelo menos 10% vai ter envolvimento social fantástico, e desses dez vão gerar projetos sociais de envolver centenas de outras pessoas”. Então, daqui dez anos essa semente já germinou, já cresceu, já é árvore, você está colhendo o fruto. Daqui a dez anos eles não vão, eles vão ver o barulho que eles vão fazer só com as que existem, é só com as que existem. Aí eles vão ver que com isso aí eles vão mexer com o social, não só com a tecnologia, mas com o social de uma forma maior, né?
P/1 – Você podia traduzir pra gente a Fundação Banco do Brasil em algumas poucas palavras?
R – Olha, eu não sei a experiência de cada um, mas eu vou falar da minha. Eles acreditaram em nós. Quando eu falei, num telefonema, falou que depois ia nos conhecer, eu pensei: “Ah, tá bom”. Não, realmente foi nos conhecer. E eu gostei disso, ele quis ver primeiro: “Deixa eu ver o quê que vocês estão fazendo, deixa eu conhecer o trabalho de perto”. Não é porque ‘A’ ou ‘B’ falou, vieram ver. Viu o nosso trabalho, acreditou, viu que a gente estava sem eles e estava fazendo, mal e porcamente mas estava fazendo. A gente não ia morrer não, mas ia ser mais difícil. De repente o banco chegou, possibilitou, mudou a cara da gente com esse acreditar. E eu acho muito simples, eu acho que o banco não tem como errar, porque ele acredita e faz. Quem não honrar o compromisso, passa pra outro. Passou pra gente. A gente fez bobagem, não está fazendo o que devia fazer, tira, dá pra uma outra entidade que trabalha sério. Ou seja, então não tem medo de errar, quem tem medo de errar não faz. Você tem que fazer. Errou, você arruma. Só não pode é deixar de fazer pra não errar. Eu vejo que o banco não tem medo de errar. Claro que eles fazem de forma a errar o menos possível, tanto que vai olhar, eles veem, eles... Mas pode existir algum lugar que de repente aquilo não foi pra frente. Ok, pega, passa pra outro que vai pra frente. Sempre vai ter quem dá valor. A hora que toda organização entender a importância do que é ter esse projeto com o Banco do Brasil ele vai entender que o menor deles é o computador, o maior é como aquilo vai ativar o lado social daquela entidade, se é uma entidade séria.
P/2 – Roberto, você é bom, tem uma experiência na sua família de atuação social, já atuava antes informalmente. Como que você vê hoje o panorama da ação social no Brasil? Você acha que está melhorando, você acha que pode melhorar mais? É otimista?
R – Olha, tem muita, a gente tem que ser otimista, sempre. Eu prefiro me decepcionar por ser otimista do que ser pessimista, né? Então eu sou sempre assim, eu sempre acredito pra depois ver o que faz. Eu acho que a vida da gente é melhor assim, né? Então esse lado social, que hoje virou epidemia, graças a Deus, mas a gente sabe que atrás disso tem muita coisa de interesse, outras e tal, quer dizer, tem que separar o joio do trigo. E separar é muito fácil, é só acompanhar o trabalho, é só ver, é só ir, é só acompanhar, não tem como errar, né? Então esse lado social é uma coisa que está mexendo, mexeu e eu acho que ele tem a ver com a cara do brasileiro. O brasileiro, eu acho que o social cresceu tanto no Brasil que tem países que já têm o social há muito mais tempo e já estão ficando pra trás, as ideias, as coisas, multiplicações. Hoje você tem entidade social pra o assunto que você imaginar, pra forma que você quiser. “Ah, eu tenho um filho que tem hanseníase”. Tem uma entidade que cuida disso. Você pode procurar, pode ir atrás que tem. Ou seja, é impressionante como a coisa abriu e como as pessoas têm essa coisa do cuidar. E você pode ver que a maioria delas, extrema dificuldade de estar atuando. Chega uma hora que a dificuldade, a dificuldade é do tamanho que você quer que ela seja, né? Pelo seu esforço ela diminui. E quando pintam esses parceiros, como o Banco do Brasil, aí a coisa fica menor. Fica menor por quê? Porque a gente consegue. Você vê, o banco tudo bem. Foi lá, implantou e foi embora, ele não está dando a sustentabilidade. Mas a gente consegue, através disso, capitalizar pessoas que vão acabar ajudando na sustentabilidade. Ou seja, indiretamente então sempre tem, sempre envolve, sempre ajuda. Então ter parceiro desse nome já tem uma coisa muito importante que é você poder falar: “O Banco do Brasil está dando força pra gente”. Isto tem peso, isso tem uma força, isso tem uma palavra atrás disso que se chama credibilidade. Alguém, pra ser parceiro, e continuar sendo parceiro de um banco desses, tem que ter credibilidade, senão dança.
P/2 – A fundação está fazendo um trabalho de recuperação aí da memória desses 20 anos de atuação, né? Como é que você está vendo esse projeto, o quê que você acha disso?
R – Olha, primeiro que eu acho maravilhoso. A memória é uma coisa que não pode ser perdida nunca, nunca, e o brasileiro peca por não ter memória. Então, por exemplo, isso, 20 anos. Imagina, 20 anos de trabalho social. Você pega alguns bancos aí que fala que atua socialmente há alguns anos e tudo mais, a gente tem que ter um certo esforço pra ver a atuação deles, porque eu não sei onde deve ser, né? Agora, o banco há 20 anos trabalha com isso, é um banco que leva o nome do país, Banco do Brasil. Quer dizer, eu acho que é um banco que tem obrigação de fazer isso pelo próprio nome dele e pelo que ele representa. Ele representa a nossa nação, né? Então ele não podia ficar de fora disso, e ele tem que dar o exemplo pra amanhã poder falar pra outro banco: “Poxa, vocês não vão atuar mais forte na área social?” Então a gente tem que fazer antes de cobrar. O Banco do Brasil faz e faz muito bem, ele atua muito. Agora eu estou tomando mais conhecimento com projetos do banco no Brasil todo, coisa que a gente não sabe porque é da fundação, porque eu não sei se é bem divulgado ou o quê que acontece, mas tem coisas maravilhosas aí, Norte e Nordeste, que a gente, não sei, a gente não sabe. Eu, pelo menos, não sabia. E é um trabalho muito sério, muito importante. Por exemplo, vamos focar, estação digital. É uma coisa, eu não sei quantos anos que tem isso, mas não é muito velha na fundação, e a importância disso, é uma coisa que veio pra ficar. Não pode se mexer mais nisso. Que se mantenha, que não cresça. Mas vai crescer naturalmente, né? Agora, outros projetos envolvidos que fazem, isso é de extrema importância. Por quê? É o banco que tem a cara do Brasil e que ajuda o Brasil da forma que tem que ser, no social, a contribuição. Ou seja, então o que a fundação faz, essa comemoração dos 20 anos eles têm muito o que comemorar, muito, porque foi muito trabalho feito. Vinte anos é uma vida, uma vida. E a gente tem um orgulho danado de um pedacinho da ABECAL poder fazer parte e falar: “Eu estou dentro desses 20 anos e estou colaborando um pouquinho”. Quer dizer, pra gente é um motivo de orgulho estar fazendo parte de 20 anos de uma instituição séria como a Fundação Banco do Brasil e de uma fundação que fez uma coisa muito importante para a ABECAL. Ela acreditou na ABECAL e está apoiando a gente. Pra mim bastou, eles arrumaram um casamento para o resto da vida.
P/1 – O quê que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Olha, é uma oportunidade ímpar, porque quem é a ABECAL O quê que a ABECAL pensa, o quê que faz, onde é que vocês estão? De repente participar disso aqui é falar: “Olha, nós estamos aqui, nós estamos lá, a gente faz isso”. Isso é maravilhoso. Por quê? Porque quando se faz uma coisa com amor, com vontade, que você vê o resultado, você cria amor por aquilo. E você fica contando pra todo mundo. Você já viu uma pessoa apaixonada? Ele conta pra todo mundo que está apaixonado. Homem então é uma desgraça pra isso aí, né? Homem fica com aquelas caras, vê uma criança, brinca com a criança. Sintomas, né? E a gente, nós estamos apaixonados com o social e apaixonados com o banco por ter acreditado nesse social da ABECAL. E participar desse projeto, de poder estar aqui contando um pouquinho da nossa história, é uma coisa pra ser guardada na ABECAL é um motivo de orgulho nosso pra ser registrado lá. Pra nós isso é como se fechasse um segundo projeto com o banco.
P/1 – Roberto, muito obrigado pela sua participação. Em nome da Fundação Banco do Brasil e do Museu da Pessoa a gente agradece.
R – Obrigado. Eu que tenho a agradecer a vocês, e parabéns pelo trabalho.
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