P/1 – Boa tarde João, você poderia começar dizendo seu nome, data e local de nascimento, por favor.
R – Eu sou o João, tenho 21 anos, nasci em Belém do Pará.
P/1 – Seus pais, o nome dos seus pais?
R – Meus pais, João Sampaio Viana e Maria Ondina Viana.
P/1 – Eles também são de Belém?
R – São do Pará.
P/2 – De onde é que eles são, você sabe?
R – Meu pai é de Garapemirim, minha mãe é de Tingoteu.
P/2 – Onde fica isso?
R – Tingoteu fica, eu acho, no nordeste do estado.
P/2 – Eles se conheceram onde?
R – Eles se conheceram, uma história assim, porque o meu pai, aliás, a minha tia se casou primeiro com o irmão da minha mãe, e aí depois que eles se conheceram foi que meu pai foi conhecer a minha mãe através do meu tio.
P/2 – São dois irmãos...
R – Isso.
P/1 – E eles vieram para cá, em Belém com que idade, você sabe?
R – Eles vieram para cá na década de... Tem mais de 30 anos que a gente mora lá no bairro, entre 35 a 40 anos a gente moramos lá no bairro.
P/1 – Seu pai trabalhava de quê?
R – Meu pais sempre trabalhou assim, desde de quatro anos de idade ele trabalhava na roça, trabalhava na roça até os 15 anos deles, que assim, lá em Garatumirim foi uma das primeiras pessoas a estudar, porque naquele tempo ninguém sabia ler, era uma das coisas assim que as pessoas não valorizavam, então ele aprendeu a ler, aprendeu a escrever, aí ele foi para cá em Belém tentar a sorte, então ele arrumou um emprego, trabalhou como estivador, trabalhou como garçom, trabalhou em banco, foi Office-boy, até uma profissão que deu certo mesmo para ele que foi garçom, uma profissão que ele trabalhou assim até se aposentar agora, foi disso que ele sustentava a gente, trabalhava, ele era novo, trabalhava de manhã, à tarde, a noite, as coisas eram boas, naquela época para a profissão dele eram boas,...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde João, você poderia começar dizendo seu nome, data e local de nascimento, por favor.
R – Eu sou o João, tenho 21 anos, nasci em Belém do Pará.
P/1 – Seus pais, o nome dos seus pais?
R – Meus pais, João Sampaio Viana e Maria Ondina Viana.
P/1 – Eles também são de Belém?
R – São do Pará.
P/2 – De onde é que eles são, você sabe?
R – Meu pai é de Garapemirim, minha mãe é de Tingoteu.
P/2 – Onde fica isso?
R – Tingoteu fica, eu acho, no nordeste do estado.
P/2 – Eles se conheceram onde?
R – Eles se conheceram, uma história assim, porque o meu pai, aliás, a minha tia se casou primeiro com o irmão da minha mãe, e aí depois que eles se conheceram foi que meu pai foi conhecer a minha mãe através do meu tio.
P/2 – São dois irmãos...
R – Isso.
P/1 – E eles vieram para cá, em Belém com que idade, você sabe?
R – Eles vieram para cá na década de... Tem mais de 30 anos que a gente mora lá no bairro, entre 35 a 40 anos a gente moramos lá no bairro.
P/1 – Seu pai trabalhava de quê?
R – Meu pais sempre trabalhou assim, desde de quatro anos de idade ele trabalhava na roça, trabalhava na roça até os 15 anos deles, que assim, lá em Garatumirim foi uma das primeiras pessoas a estudar, porque naquele tempo ninguém sabia ler, era uma das coisas assim que as pessoas não valorizavam, então ele aprendeu a ler, aprendeu a escrever, aí ele foi para cá em Belém tentar a sorte, então ele arrumou um emprego, trabalhou como estivador, trabalhou como garçom, trabalhou em banco, foi Office-boy, até uma profissão que deu certo mesmo para ele que foi garçom, uma profissão que ele trabalhou assim até se aposentar agora, foi disso que ele sustentava a gente, trabalhava, ele era novo, trabalhava de manhã, à tarde, a noite, as coisas eram boas, naquela época para a profissão dele eram boas, porque valorizava, recebia um dinheiro dava para sustentar a gente, foi que ele fez a nossa casa, comprou um terreno, fez a nossa casa, construiu, até a nossa casa foi uma das primeiras de alvenaria da rua, então foi assim, foi até que ele foi trabalhando mais nessa profissão ___ ele perdia muito sono, aí ele começou a ter problemas de saúde, também nós fomos crescendo, começando a estudar, tinha que pegar ônibus, então de uma certa forma a gente teve que... Ele foi parando de dar ___ como ele dava, ele deixou de trabalhar, aí foi quando meu pai perdeu o emprego, vamos dizer assim, para a gente foi... Não foi uma decepção, mas foi um tempo de entregas, porque a gente não poderia, como ele não estava trabalhando ele ficava chateado, brigava com a gente, mas a gente entende assim.
P/1 – Que idade você tinha nesse tempo, quando ele perdeu o trabalho?
R – Até os meus 14 anos, aí ele perdeu o emprego, teve que parar de trabalhar, foi que a gente começamos, criou uma venda, uma venda na feira, essa venda foi boa, que a gente começamos a trabalhar na feira, lá próximo.
P/1 – E vendia o quê?
R – A gente chegamos a vender farinha, depois colocaram tomate, cebola, lanche, daí foi embora assim, foi em tempo que a gente vendia bem, se mantinha bem, mas só que a doença dele também não deixava, porque às vezes que não dava para ele trabalhar, nós íamos e nisso fomos crescendo, porque em vez de crescermos, começamos a regredir, as coisas foram, aquela velha história, pobres ___ mais pobres ainda, aí teve que trabalhar, passamos na feira só que a doença dele não deixava trabalhar mais, aí foi que a gente começou a vender em casa, passamos a vender em casa, aí a gente construiu tipo uma taberna, aí vendia lanche, vendia lanche, vendia farinha, essas coisas de comércio, fruta, a gente até revezava como a gente estudava, um ficava um período, o outro saia para estudar, era uma troca, mas era sagrado o nosso domingo era livre, domingo a gente poderia sair, era uma coisa muito boa assim para a gente, porque era o tempo que a gente se reunia realmente, íamos para a missa, saíamos, mas essa vida foi prejudicando a gente de uma certa forma, porque passou ser uma coisa constante, de segunda a domingo, foi uma coisa que começou a nos desgastar muito , porque não tínhamos mais aquela nossa família,e nem aquele tempo mais para se reunir, era só trabalho, trabalho, a gente construiu bastante coisa, compramos coisa de casa, sofá, cama, televisão, a gente tem uma casa de novo, mas a gente tinha muito desgaste, a gente tinha não tinha mais aquilo, então eu e meus irmãos a gente fomos, também a minha irmã ____ porque a minha irmã era tudo em cima dela, porque ela, vamos dizer, era nossa segunda mãe, também foi que a gente resolvemos assim, começou a falir também, começou a entrar em decadência, veio falindo aos poucos, foi que a gente resolveu vender lanche bicicleta ___ aí primeiro o meu primo vendia, aí depois meu outro primo passou a vender também, aí eu vi que era uma coisa que estava dando certo, nisso a gente ia lá e vendia lanche a noite, em casa, nesse período que vendia lanche, eu estava com 17 anos, eu participei do projeto pela comunidade solidária, e era muito perigoso, porque a violência começou a crescer, e surgiu uma gangue próxima que aterrorizava, inclusive a gente ficava meio em dúvida se a gente vendia ou ficava na frente de casa, porque era um tiroteio, inclusive a minha irmã pegou uma bala perdida na perna, então pelo motivo da violência também, afastou a gente a parar de vender na frente de casa, aí a gente começamos a procurar emprego, entregar currículos, e meu irmãos saíamos, mas nada apareceu, então falei olha vamos ter que vender lanche não tem outra coisa para mim fazer, não posso também ficar muito parado, então comecei a vender lanche, saía, acordava meu pai, acordava cedo, fazia o lanche preparava, aí eu saía e vendia, vinha para cá pra o centro da cidade, Nazaré, inclusive vendia lá no Cesupa também, para os guardas de lá, então esse foi dois que eu continuei vendendo lanche, mas até que eu dia eu tive que, parei assim, será que eu ainda vou entrar numa faculdade, será que vou participar de uma reunião assim, com várias pessoas, será que minha vida ficou resumida nisso, trabalhei, estudei, fiz um curso de informática depois acabar naquilo, então eu comecei a estudar de novo, comecei estudar, porque eu sei que no futuro vai me dar alguns frutos.
P/1 – Estudar o quê? O que é que você voltou a estudar?
R – Estudar, depois que eu terminei o segundo grau estudar normalmente.
P/1 – Em casa mesmo?
R – Isso em casa.
P/1 – Não fazendo um curso?
R – Foi, começando a estudar, aí eu resolvi, vendia lanche, então eu resolvi parar de vender lanche, comecei a estudar, porque eu sei que ia me dar bons frutos, então desde que eu tinha meus 17 anos eu... [pausa]
P/1 – Você disse que voltou a estudar depois, quer dizer, você estava vendendo lanches e voltou a estudar, e aí o que é que aconteceu depois? Você estava vendendo lanches nas ruas.
R – Mas eu falei quando eu estava com 17 anos e estava fazendo curso de informática, falei essa parte?
P/1 – Não.
[pausa]
P/1 – Então assim, uma coisa que eu queria perguntar, assim, a sua família, quantos irmãos você tinha, com foi a sua infância?
R – A minha infância eu não digo que foi uma infância perfeita, mas nós tinha tudo que a gente queria, estudava, meu pai levava a gente para fazer laser, nós somos cincos irmãos, três homens e duas mulheres.
P/1 – E onde era o laser? O que é que vocês faziam?
R – Nosso laser a gente ia aqui no bosque, no museu, íamos a praia, saíamos.
P/2 – Seus pais quando chegaram em Belém onde eles se localizavam?
R – No bairro do _____.
P/2 – E como era esse bairro naquela época?
R – Naquela época aquele bairro era muito carente, porque era um bairro que foi invasão, foi se dando por invasão, então ali estava crescendo, começando a crescer, mas a rua asfaltada era só a principal, a José Bonifácio, o resto era tudo ponte, sem saneamento básico, vala a céu aberto.
P/2 – E as pessoas que moravam lá ____
R – A pessoas que moravam lá, são pessoas que trabalhavam aqui em Belém, que vieram do interior para tentar a sorte aqui em Belém.
P/2 – Que distancia está do centro de Belém?
R – Do centro não está muito distante não, bem próximo.
P/2 – E foi nesse bairro que você passou a infância?
R – Isso.
P/2 – Como que era na sua infância, você poderia descrever para gente como é que era?
R – O bairro era assim, um bairro que não tinha violência, as crianças sempre brincavam na rua de manhã, à tarde, não tinha nenhum problema, mas como veio essa urbanização, muitas pessoas, imigrantes para cá, então ela foi assim, a violência foi crescendo, as pessoas não brincavam mais na rua, pais nenhum deixava suas crianças brincar, pegar uma bala perdida, então foi acabando isso.
P/2 – Quando começou essa violência?
R – Essa violência ela começou, aliás, ela começou assim, na década de 90 de diante, mas só que ela teve uma pausa, então a maioria dos integrantes de gangues, o que foi que acontece? Eles morrem, são presos, mas a maior parte morre, então acabou, foi que veio de novo, as crianças brincavam na rua, quando a gente, às vezes é uma coisa que a gente coloca na cabeça, porque quando as crianças estão jogando bola na rua, moradores sabiam ligar para a polícia para chamar o carro da polícia para parar a bola, e quando começou as gangues, nenhum teve coragem de ligar para chamar a polícia, na verdade, a gente que jogava as bolas que era os bandidos.
P/2 – A gente ouviu muito falar em gangues, todo mundo fala gangues aqui, exatamente o que é e o que eles fazem exatamente?
R – Uma gangue elas são formadas assim poucos jovens entre 14 a 18, 19 anos, mas eu falo que eles são uma gangue, mas eles não são uma gangue organizada de assaltar bancos, eles são uma gangue que fazem pequenos assaltos, porque nessa parte de lojas, comércio pequenos, ônibus, então isso que é uma gangue.
P/2 – E como que era a sua casa João? Na sua infância, você poderia descrever para a gente?
R – Minha casa não era assim, eu lembro que minha casa era de alvenaria, já era de alvenaria, como eu falei para ela no começo, que era uma das primeiras casas de alvenaria que surgiu, porque o meu pai trabalhava, ganhava bem, e era uma casa boa de se morar.
P/1 – Uma coisa, você contando a sua história dá para ver, sentir assim que a sua família é muito unida, vocês sempre foram muito unidos, né? Quer dizer, que lembranças você traz disso, que histórias você tem para contar dessa união entre vocês?
R – Como a gente era unido, porque nesse período meu pai trabalhava, de repente ele parou de trabalhar, a gente era bastante unido, porque nós vendíamos já, vendíamos na feira, então tinha aquela união de ir para trabalhar para trazer o ganha para a família, para comprar as coisas, comprar roupa.
P/1 – Em torno do trabalho.
P/2 – Quando você trabalhava, você estudava também?
R- Trabalhava e estudava.
P/2 – Como é que era, você podia contar um pouco da escola, como que foi esse período da escola, algum professor, algum fato marcante, que marcou, o que é que você gostava mais na escola?
[pausa]
R – Esse período da escola foi um período muito bom, porque a gente apenas estudava, inclusive estudava dois horários, estudava a tarde e estudava de manhã, então eu tive bastante professora, eu tive uma professora na primeira série e quando foi na quarta série ela me reconheceu no meio de um monte de garotos, ela falou “vem cá João” ela disse assim: “lembra de mim?” “Eu me lembro a senhora era a professora da escolinha” então assim ficou uma coisa marcante, no meio de todas as crianças ela me reconheceu quando estudou comigo na primeira série.
P/1 – O que é que você queria, você tinha planos de faze o quê? Se formar em quê? O objetivo era fazer o quê?
R – Meu objetivo era se formar e trabalhar na parte de educação, professor, ou então biólogo, veterinário.
P/2 – E aí você continuou conciliando estudo com trabalho?
R – Conciliava estudo com trabalho.
P/2 – E o trabalho, você poderia retomar ao ponto, o que é que você fez como atividade nesse período?
R – Esse trabalho, eu acordava cedo pegava o carro de mão e levava as mercadorias, ia receber quando meu pai vinha da Ceasa, ia pegar e levava lá para o ponto, para vender e vendia também, arrumava as coisas, amarrava os tomates, cebolas, essas coisas, amarrava e vendia, vendia assim num período, eu tinha um tempo, porque como eu estudava, eu ia para lá umas oitos horas e vinha umas 11 horas, porque eu tinha que trazer também o feijão para colocar no fogo.
P/2 – Você trabalhava na venda?
R – Na venda.
P/2 – Como que era a venda, João?
R – A venda era na feira, na feira as pessoas vende várias coisas, ervas medicinais, o que mais? Carne.
P/2 – A feira ficava em que lugar?
R – A feira ficava próximo, bem próximo.
P/2 – E você ia falar de um curso de informática que você fez? Como foi que você fez?
R – Porque até então nesse período que eu trabalhava na feira eu tinha 14 anos, comecei, terminei os meus estudos, quando foi nos meus 17 anos meu pai resolveu, porque antes no primeiro grau eu tinha várias chances de fazer o curso, mas como o meu pai estava meio assim, não tinha condições de pagar, então sempre não dava condições de pagar, até que quando foi, eu estava com meus 17 anos quando eu entrei no meu segundo grau, que eu estava com 15, meu pai deu uma chance de fazer o curso, aí eu agarrei com unhas e dentes, aquela oportunidade ali, porque eu sabia que dali eu teria assim uma chance, uma chance em relação ao meu pai, porque meu pai não teve uma chance teria que trabalhar, então tinha uma chance de realmente ser um espelho entre meus irmãos e também minha família, fazer que qualquer um deles pode alcançar um objetivo, então eu ia para escola, assim, eu tinha um período, de manhã eu ia para o curso, do curso não ia para casa, ia para a escola, da escola ia trabalhar na venda, a gente vendia até meia noite, uma hora, duas horas, depois dormir, depois ia de novo para o curso, então estava com 15 anos, estava com todo o pique, então eu comecei a trabalhar e as pessoas lá na escola gostaram de mim, passei um dois anos lá, então era só como a minha aparência era assim muito jovem também, as pessoas não me deram uma credibilidade também, então fiquei como monitor, depois fiquei como instrutor, mas eles chegaram a me dispensar, aí me dispensaram, aí eu fiquei assim um pouco meio triste, continuei na escola, na escola terminei o segundo grau, não consegui entrar no vestibular o curso que eu estava fazendo profissionalizante é o curso de projeto social os jovens não formaram uma cooperativa, então eu fiquei totalmente assim decepcionado.
P/1 – Que curso você fez?
R – Esse curso trabalhava com doces do Pará, compotas, licores.
P/2 – E onde que era curso, João?
R – Era lá de frente da minha casa.
P/1 – Quer dizer, tinha um curso profissionalizante e a ideia era vocês montarem uma cooperativa para vocês trabalharem com isso.
R – Mas só como os jovens também, ele era assim, esses jovens, vamos dizer assim, não estavam não vou dizer que estavam no perfil, mas a ideia era essa, mas uns esperava pelos outros e não aconteceu, então foi assim, foi uma decepção para todo mundo, porque não saiu a cooperativa, depois da gente ter o espaço, ter o local, e aí a cooperativa não aconteceu.
P/1 – E que outro curso você fez além desses doces?
R – Fiz um curso de informática e um curso de doces.
P/1 – Informática foi aonde?
R – Cni, aqui próximo.
P/1 – E era pago o curso?
R – Era pago, meu pai pagava o curso tudo direitinho.
P/2 – Por que o seu interesse na informática, João, qual o contato que você tinha antes do curso com a informática? Você lembra da primeira vez que você viu um computador?
R – Computador eu já tinha visto várias vezes, mas assim a chance de ter, porque assim não vou dizer assim que a informática ela é uma informação rápida, que a gente pode ter apenas através de alguns clickes e acessar, aí foi quando eu conheci informática assim um mundo diferente, e também um mundo de oportunidades, porque até então eram poucas escolas que tinham então eu sabia que eu ia conseguir algo em relação à informática, foi aí que eu agarrei com unhas e dentes e fui.
P/1 – Quanto tempo durou o curso?
R – Esse curso eu fiz, eu comecei em 98 e terminei em 2000.
P/2 – E depois desses cursos, João?
R – Aí depois desses cursos a escola me dispensou, não tive a oportunidade de fazer outros cursos, aí foi que eu voltei a trabalhara novamente.
P/2 – Você voltou a trabalhar aonde?
R – Trabalhar em casa e também comecei a vender lanche, comecei a vender lanche no centro da cidade, nas periferias.
P/2 – E como estava a situação na sua casa? Nessa época que você voltou?
R – Como assim?
P/2 – Como é que estava, estava na mesma situação, teve alguma mudança? Seus irmãos estavam ajudando?
R – Teve uma mudança boa, porque a gente começou a pagar as dívidas que tinham e conseguimos novas coisas, mas era uma coisa que não traria um futuro para a gente, traria um conforto alguma coisa assim, mas assim futuro mesmo com certeza não teria, se tivesse continuado até hoje estaria lá vendendo.
P/1 – Aconteceu algum fato nesse tempo que você vendia lanche na rua, que lhe marcou alguma coisa assim que você se lembre?
R – Esse tempo que eu vendia lanche na rua houve uma coisa que ficou marcante, porque eu graças a Deus não sou uma pessoa egoísta que quer passar a perna nas pessoas, uma senhoria um dia eu estava vendendo lanche e o carro dela estava parado, estava sem gasolina, aí ela passou e me chamou: “Vem cá garoto, você pode comprar gasolina para mim?” Eu olhei assim para ela, tinha lanche para vender, “não, mas eu vou ajudar a senhora” aí eu peguei ela me deu o dinheiro, um dinheiro grande, ela: “Vai lá” confiou me mim, eu peguei prontamente fui, comprei a gasolina e devolvi para ela, então ela falou: “Gostei de ti, tu foi honesto, eu ti dei o dinheiro ___ não passou a perna, eu gostei de ti” eu ajudei a colocar a gasolina dela no carro, porque ela não tinha como colocar no saco, então ela me deu até uma recompensa, uma gratificação, o dinheiro que eu ia receber, me deu o dobro que eu recebia, foi uma história assim.
P/2 – Você chegou a ser instrutor do Cni?
R – Cheguei a ser instrutor do Cni.
P/2 – Você poderia contar como foi sua experiência, como era o curso lá no Cni? Como você trabalhava?
R – Como era uma escola particular a gente via assim, era um querendo destruir o outro, até então, mas tinham professores bastante competentes, dois professores que me deram maior força, me ensinava às coisas viam mesmo que se eu não tivesse aquela chance ali, naquele momento, eu não teria outra, então eles me ajudavam com tudo que pudesse, que eles pudessem me ajudar.
P/1 – E você recebia?
R – Recebia alguma coisa, um valor e recebia o transporte.
P/2 – E o contato com Cdi [Comitê para democratização da informática], como é que foi?
R – Contato com o Cni [Cadastro Nacional da Indústria] eu...
P/2 – Com o Cdi?
R – O padre sempre falava que ia ter uma escola de informática na comunidade, que ia trazer, eu sempre cheguei a acreditar também, mas o que é que aconteceu? Parei de vender lanche, comecei a estudar e nesse período foi criada a Eic na comunidade, então eu ficava, será que vou na aula, mas eu estou vendendo lanche, como é que eu vou na aula? Eu tinha um preconceito comigo mesmo, falei não vou parar de vender lanche, vou lá na escola, vou começar trabalhar nessa escola, então meu pai comentou com a Irmã Rose que eu tinha feito curso de informática tudo mais no Cni, e ela falou para mim vem para
cá, participa da minha reunião para te conhecer melhor, a organização, então eu pensei vai ser agora, então fui para reunião, desde aquela noite o Bruno Brasil chega lá e falar, chegou a falar de escolas de informáticas, Eic, Cdi, aí falou várias coisas em relação ao projeto tudo mais, mas só que eu não entendia o que significa Eic, o que significa Cdi, aí até que ele explicou para a gente, não, Cdi é Comitê para a Democratização da Informática, Eic’s são as escolas de informática, assim podemos conversar, então foi o assim cara que eu vi assim, esse cara vai me ajudar muito assim, ele foi uma das pessoas que me incentivou mais a estar na escola, no começo ele me olhava meio de banda, será que ele vai dar conta? Será que, mas eu continuei, pelo menos naquela noite eu senti uma esperança, então minha vida começou a mudar, parei de vender lanche, passei a dar aulas de informática, e também comecei a dar aulas de particular, então não queria ser apenas um professor nem um instrutor de informática, queria ser um algo a mais para a minha pessoa, ser um educador, então no começo eu peguei a minha primeira turma eu formei seis alunos, mas dos seis alunos apenas um veio pegar o certificado, então fiquei um pouco triste, mas não me deixei abater, continuei atuando na escola, bastante vontade, entusiasmo, então foi que eu peguei duas turmas, aí dessas duas turmas foram muito importante, porque através deles nós conseguimos realizar projetos da escola, e todos os módulos a gente fazia avaliação para ver como é que estavam indo o desempenho dos alunos, e foi que no final do curso uma aula me chamou a atenção, que ela é uma pessoa assim no começo era uma pessoa muito diferente, queria só apenas sentar enfrente ao computador e não ver mais ninguém, não queria que ninguém sentasse do lado dela, eu falei não Silmara tem que ser assim, e aí aos poucos ela foi, aí eu vi que do começo do curso para o final já era outra pessoa, quando chegou no final do curso, ela falou, a avaliação dela, todos fizeram a avaliação que foi muito bom, mas ela falou que ela não imagina que no curso ia aprender apenas informática, ela saiu dali e aprendeu vários conhecimentos que serão dados para toda a vida dela, então realmente nesse período eu fui reconhecer que eu não era mais um instrutor, mas sim um educador do Cdi Pará.
P/1 – Você pode dar exemplos de projetos que vocês desenvolveram?
R – Um projeto que eu lembro que a gente desenvolveu foi desenvolvido pela Irmã Rose, que ela visitava, e como ela é indiana, a mentalidade é totalmente diferente da nossa, então ela visitava a casa dos alunos dela, só que banheiro era uma coisa meio esquisita para ela, não vou nem explicar, então até... Como ela era freira ela visitava as pessoas idosas em casa, até que um dia ela falou para uma senhora aí vou fazer um projeto para a senhora aqui, vou ajudar a senhora, pegou os alunos compraram madeira ____prego, tábua, foram na casa da senhora e construíram um banheiro para ela, foi uma coisa significativa, foi muito importante, porque não podemos ajudar várias pessoas, pelo menos essa senhora a gente conseguiu ajudar, construindo um banheiro para ela lá.
P/2 – E essa Irmã Rose está ligado a uma atividade da igreja, você poderia explicar para a gente que atividade, que associação é essa?
R – A Irmã Rose ela foi uma pessoa muito importante para mim, porque ela que me deu uma chance de dar aula na escola, então a vida dela é dividida em duas partes, ela dava aulas de informática também, ela era coordenadora, e também ela ajudava em relação à saúde, pastoral da saúde, visitava doente, consultava, então a vida dela era assim, uma vida que eu admirava muito ela, uma senhora que tem muito pique, a senhora tem muito pique, a senhora vem para a escola, à senhora vai sai, vai visitar os doentes, então atividade dela era essa.
P/2 – E ela trabalhava numa associação? Ou era por conta própria dela?
R – Ela participou de uma congregação das irmãs missionárias, Missionárias Imaculadas.
P/2 – E a Eic que você entrou em qual associação ela estava vinculada?
R – A Eic como eu falei, foi através da paróquia, então a Eic ela tem vínculo com a paróquia, mas a escola ela não é, porque tem vínculo com a paróquia ela é fechada para apenas apoiar católicos, mas sim ela é aberta para todas as pessoas tanto crente, umbanda, macumba, todas as pessoas, todas a etnias podem participar na escola.
P/1 – Você recebeu formação para ser educador da Eic? E como foi essa formação?
R – Eu recebi essa formação da Eic foi em 2003, foi uma formação muito boa, porque nós tínhamos palestras, vivências, relatos de pessoas também, relato das escolas, essa é uma formação boa que me entusiasmava cada vez que eu ia para uma avaliação eu me sentia mais forte para resolver também nos problemas da Eic.
P/1 – Que temas, por exemplo, vocês tratavam nessa sua formação?
R – Trabalhávamos mais com dinâmica de grupo e mais relatos, dinâmicas e relatos.
P/2 – Você pode contar para a gente como era o dia a dia dessa formação?
P/1 – E quanto tempo durou também?
R – Essa formação durava assim, a gente teve formação de um mês, mas a gente tinha algumas formações que era de avaliação, dois dias a gente ficava numa avaliação, dentro dessa avaliação tinha vários relatos de pessoas que dava mais, entusiasmava os novos instrutores, essa avaliação era de manhã, no período da manhã e no período da tarde, tanto na parte pedagógica, quanto na parte de informática.
P/1 – E teve novidades para você nessa coisa, você aprendeu coisas que você não sabia? O que foi mais importante para você?
R – A formação da parte de informática foi muito bom, a parte pedagógica que dá mesmo um incentivo maior, para os instrutores, para agarrar mesmo as propostas do Cdi, então a parte pedagógica que foi muito boa.
P/1 – Que diferença você viu, porque você fez dois cursos, um pelo Cdi e outro pelo Cni, que diferença você viu entre um curso do Cni do Cdi?
R – A diferença que no Cni o aluno vai vê o computador e o instrutor, mas não conhece, não conhece o colega que está do lado, não liga, só vai ali apenas para assistir a aula, e voltar para casa, se quiser conhecer alguém interessante, se não quiser não conhece, vai embora para casa, dentro do Cdi não é uma formação melhor, porque a gente conhece a realidade das pessoas, conhece um pouco da história e também nós temos a formação um pouco melhor, não fica aquele gelo.
P/2 – Você passou a ser remunerado quando virou instrutor do Cdi?
R – Pelo Cdi a nossa remuneração a gente recebe uma ajuda de custo, a quantidade de turmas que nós temos a gente recebe uma ajuda de custo, conforme o número de turmas.
P/2 – Como os seus pais e amigos viram? Mudou alguma coisa quando você entrou no Cdi?
R – Na família completamente mudou, porque as pessoas viram que, eles viram assim um espelho, na família, porque uma pessoa que estudou trabalhou, não poderia ficar vendendo lanches, mas sim ter um pouquinho a mais, então é o meu estímulo, ele sempre me incentivam: “Legal Júnior, vai continua assim,” eu também, meus primos eu incentivo eles, estudar, estudar bastante, porque um dia eles vão conseguir com certeza ter um futuro, então eles são assim, as pessoas na rua já me olharam com diferença, as meninas agora já me olham com outros olhos, foi uma coisa assim muito boa para mim.
P/1 – Quem são seus alunos?
R – Os meus alunos geralmente são jovens ou adolescente que queiram fazer um curso de informática, mas se não fosse pelo Cdi com certeza eles não teriam uma oportunidade, porque hoje o curso de informática é muito caro, então eles vão para a escola para aprender informática, para ajudar tanto profissionalmente, como na sua educação, geralmente são jovens que mesmo sendo valor significante, mesmo sendo esse valor, muitos ali acho que pagam o curso com o dinheiro que seria para comprar comida, ou pagar a luz, mas mesmo assim a gente investe no futuro deles.
P/1 – A maioria é homens, mulheres como é? Eles trabalham, não trabalham o que eles fazem?
R – A maior parte são jovens que estão estudando ainda, não estão trabalhando, mas sim procurando algo, procurando uma formação melhor para se qualificar para o mercado de trabalho.
[pausa]
P/2 – Qual o tamanho das suas turmas?
R – A turmas elas são de 10 alunos, cada aluno divide o computador com o colega, são dois por cada computador, nós temos seis computadores, é dividido, não é individual, mas sim cada computador duas pessoas.
P/2 – E os alunos são da sua vizinhança?
R – A maior parte dos alunos, vamos dizer assim, como está localizado próximo ali, não fica numa avenida, fica numa rua, então por incrível que pareça a maior parte dos alunos eles nem moram próximo da escola, sempre eles moram em bairros vizinhos, muitos vêm de bairros vizinhos, ou até mesmo muito distante, as pessoas da comunidade mesmo muitas delas desconhece que ali tem uma escola de informática, porque é uma escola que fica numa comunidade ela é ligada a igreja Católica que muitos tem preconceito de estarem ali, de estar na escola.
P/1 – Por ser da Igreja Católica?
R – Por ser da Igreja Católica.
P/2 – Você sabe, por acaso, como esses alunos de outras comunidades mais distantes eles sabendo? Como é que é?
R – Um fato curioso que quando eu comecei a trabalhar na escola, sempre que aparecem jovens para poder fazer trabalho, currículo, eu sempre falo olha aqui tem uma escola, se quiser vir as portas estão abertas, eles alunos eu falo para eles porque eu procuro dar uma estrutura boa para ele, para ele vim na escola, mas se sentir em casa, não se sentir num lugar que eu mando, tu tem que fazer isso, não, vem para cá, vem para a escola, vem estudar, se quiser fazer trabalho, incrível que a maior parte dos alunos quando vêm, eles vêm para a escola, a maior parte dos meus alunos eles sempre escutam falar, vai com o Júnior, porque ele é muito legal, a aula dele é bem explicada e dá para a gente aprender, então eles vêm sempre com um objetivo, vim para minha turma ou com a turma de outro instrutor.
P/2 – Você chegou a dar aulas para algum colega seu? Vizinho seu? Pessoas que você conhecia antes?
R – Fato curioso, porque eu comecei a dar aula, a minha irmã ela tinha feito curso de informática, mas ela não tinha terminado, porque a escola fechou e ela não conseguiu o certificado, então ela teve que fazer curso comigo, então quando eu falei como é que vai ser, ela nem falou em que turma ia ficar, quando eu vi ela ficou na minha turma, como é que ____ eu a minha irmã mais velha, eu estou dando aula para ela aqui, num monte de jovem, ela também é jovem ainda, mas quando eu vi ela ficou meio surpresa, ela ficava assim, ela sempre falava o meu irmão estudou informática, fazendo um curso aqui, falava para os outros colegas delas para vir fazer o curso também, e uma história curiosa é que a maior parte das pessoas pensam que o curso de informática, ou então um curso é sempre com jovens, com adolescente, e aquelas pessoas de mais idade elas se prendem de não participar, porque elas tem preconceitos com elas mesmas, então eu tive uma aula que ela tinha 60 anos, que era a Dona Vanda, ela foi a pessoa que foi um anjo que caiu do céu para a gente, porque ela era assim muito legal, ela chegava com a turma falava com todo mundo, inclusive ela estava estudando também, inclusive ela falou comigo que me dava uma força para ela, e no final ela gostou muito, porque ela não esperava que um dia ela fosse fazer um curso de informática, e sim ela fez um curso de informática, fez, terminou e gostou, e um detalhe ainda incentivou trazer novas pessoas para a escola, que a comunidade dela era distante, geralmente sempre vem gente da comunidade dela para vir estudar na escola.
P/2 – E eles pagam uma mensalidade, como é que é?
R – A mensalidade dos alunos a gente faz assim, não vamos dizer que todas as pessoas tem condições de pagar, mas alguma parte delas tem condições de pagar um curso, mas muitos não tem condições de pagar, então essa pessoas recebem padrinhos, que pagam para elas, para elas poder ir para a aula, porque a escola ela não é assim auto-sustentável, ela trabalha através da mensalidade dos alunos, ela não tem nenhum parceiro, ela que paga, assim então a gente consegue algumas bolsas, para esses jovens também poder fazer o curso, para não excluir ninguém.
P/1 – Quando é a mensalidade?
R – Mensalidade é R$ 15,00.
P/1 – E tem algum aluno seu que já passou, que conseguiu algum trabalho a partir do curso?
R – Teve um aluno, que ele não foi meu aluno, mas ele foi monitor na minha turma, ele foi assim um jovem, vamos dizer assim, no período daqueles tempos de gangue, vamos dizer que ele estaria envolvido, mas ele ia para festa e tudo mais, vamos dizer assim, ele é jovem que estava assim sem oportunidade, então o que ele fez? Entrou num curso de informática, fez, terminou aí a Irmã Rose viu que ele era um rapaz muito, vamos dizer assim, ele é bastante desenvoltura para falar com as pessoas, então a Irmã deu uma chance para ele para ele começar trabalhar na paróquia como secretário, vice-secretário, porque tem secretário então ele era como se fosse um vice, então ele trabalhava na paróquia, da paróquia o padre gostou do trabalho dele na paróquia e conseguiu um trabalho para ele na Sol, aí hoje ele trabalha na Sol.
P/1 – A Sol é o quê?
R – A Sol é uma escola de informática não, ela trabalha com equipamento de informática, é uma loja de informática.
P/1 – Uma loja de informática, certo. [pausa] Vocês produziram, assim, algum material dessas aulas, a partir dos projetos, vocês tem algum material? Produziram alguma coisa?
R – A gente produziu bastante em relação __ reciclagem, a gente fizemos bastante produtos em relação a reciclagem, garrafa, jornal, produtos que em geral você jogava no lixo, a gente fez um pedido para as pessoas, para as pessoas deixarem na comunidade produtos, deixaram jornal, tudo para a gente fazer objetivos, a gente começamos a fazer, a turma da Irmã Rose, a minha turma, e a outra turma da instrutora começamos fazer bastante objetos, cesta de jornais, bonecas, o que mais? Várias produtos, quadro, capa de caderno, então todos esses produtos foram produtos as pessoas que fizeram o curso viram que era uma alternativa de trabalho, uma fonte de renda, tapetes de plásticos, então foi uma coisa bastante produtiva, foi para os pais dos alunos e para as pessoas da comunidade ver que é possível eles terem um trabalho, ter oportunidade tirar uma renda, de algo que geralmente é jogado no lixo, foi tirado como renda, e o dinheiro do que foi vendido foi colocado na escola para realizar novos projetos.
P/2 – Como você trabalha a questão da cidadania com os alunos, você poderia dar exemplos de quais projetos vocês desenvolveram nessa área?
R – A questão da cidadania, porque geralmente a pessoas, os jovens vá lá eles escutam essa palavra, o que é cidadania? Geralmente as pessoas pensam que cidadania ter o seu título de eleito, identidade, sua carteira de trabalho, na verdade cidadania não é isso, eu falo para eles desde o início, que cidadania é as pessoas agirem coletividade em prol de um objetivo, individual e coletivo, então várias coisas da cidadania, a gente fazemos pequenos gestos, ação, então essa parte da cidadania o aluno geralmente, desde da primeira aula ____ motivar que tem um mundo lá fora, e tem um mundo lá fora que ele pode se incluir, e algo que ele queria fazer, então geralmente abre a porta, a janela, para eles verem que realmente tem um mundo lá fora, que todas as pessoas, que ela vai conseguir algo para ela, e tanto para ela como para a comunidade também, então a gente fazemos pesquisas, fazemos pesquisa de campo, fazemos avaliação, geralmente na terceira aula com tem pesquisa o aluno sai para fora para fazer pesquisa, de acordo com o seu tema, para ele ver que realmente não só, vamos dizer, prefeitura, governo, tem que trabalhar fazer algo pelo cidadão, mas sim todos unidos podem fazer algo pela sociedade.
P/2 – Nessas pesquisas, que vocês fazem com os alunos, que tipo de preocupação aparece mais? Que tipo de preocupação os alunos trazem para você? O que é que eles têm com problema?
R – Um problema que sempre é visto, é problema da droga, a droga porque geralmente as pessoas entram como se fosse uma brincadeira, então sempre a gente fala o jovem ele pega esse tema da droga, que é um tema assim que é difícil de acabar, sempre eles pegam esse tema da droga, para procurar saber informações, porque realmente eles são jovens, eles não conhecem, inclusive a gente está trabalhando com esse tema agora também, geralmente a gente fala, vivências, as pessoas vão dar o seu relato ali, como uma pessoa que passou por uma situação envolvendo em droga e dá o seu relato ali, então o aluno vê que realmente o mundo da droga ele não procure, vamos dizer assim, nem a experimentar, mas sim evitar o máximo que ele puder, porque geralmente uma pessoa que entra no mundo das drogas ela fica difícil para sair, muitas conseguem, mas muita continuam, ou então morrem.
P/2 – E esse problema das drogas lá no lugar onde está a Eic é um problema sério? Tem tráfico, como que é isso?
R – É um problema sério, porque tem muita gente, não vou dizer que é o Rio de Janeiro que tem muitas bocas de fumo, mas existe pontos de vendas de drogas e geralmente as pessoas, os jovens já sabem aquele fulano é traficante, aquele ali vende droga, por isso que eles se preocupam, tem uma preocupação.
P/1 – E as mulheres elas trazem algum outro assunto, as jovens?
R – As jovens?
P/1 – Mulheres é diferente ou a mesma preocupação?
R – Geralmente as mulheres têm mais preocupação ainda, as mulheres sempre têm preocupação em relação à saúde, alimentação, então geralmente são projetos desenvolvidos nessa área saúde e alimentação, inclusive teve uma jovem que eu me surpreendi, porque ela foi uma pessoa que sempre queria fazer o curso, mas nunca teve uma chance, então quando ela passou a morar aqui no bairro, próximo a comunidade, foi que ela teve a chance de fazer, então ela fez o curso, e ela foi uma pessoa que discutia mesmo, eu falava daqui, ela falava de lá também, os outros alunos já ficavam calados, não se metiam mais na briga, porque era uma confusão, só que eu gostei dela, porque ela era uma pessoa que tinha personalidade, então até que ela, eu não vou dizer que nem eu fiz o projeto, foi ela mesmo que fez um projeto, ela trabalha também na parte da saúde, então ela fez, eu falei não, vem para cá, fazer uma exposição, fizemos uma exposição de Dsts, preservação, ela distribuiu camisinhas para os jovens lá, conscientizou das doenças, ela foi muito importante.
P/2 – E teve outros projetos que você poderia colocar para a gente, outros casos?
R – Um projeto que foi desenvolvido pelos alunos em 2003, agora no começo de 2004 que, eles fizeram um projeto, mas sempre um projeto tem que ter um custo, então como é que vai fazer esse custo? A gente vai lá no padre, que o padre vai ter que, ele não vai só assinar o nome dele no certificado, ele vai ter que dar uma força para a gente, fizemos o orçamento tudo direitinho e levamos para o padre: “Olha padre estamos precisando disso, o material está aqui!” “Legal, gostei do trabalho de vocês, eu vou ajudar vocês.” Aí no outro dia a gente fomos lá receber um valor que depois a gente comprar os produtos, foi que a gente compramos tudinho, o projeto já tinha os produtos, já tinha sido criado, então a gente foi, geralmente esse produto já tinha enfoque, era as crianças ficavam na rua ali próximo a escola, então eu via que eles ficavam toda a tarde ali sem fazer nada, então vai ser vocês mesmo, pegamos eles, pegamos outras crianças, deu mais ou menos umas 20 crianças, jovens, mulheres e senhoras tinha nesse curso, então elas vinham, já não vinham para a rua, já ficavam em casa, quando era a tarde se mandava lá para a igreja, e ficavam lá, fizemos brincadeiras com elas também, porque criança tem que brincar, porque se não elas começam a brincar com a gente, então a gente fizemos lá, elas fizeram os produtos, fizemos exposição, aí um dia eu fui, eu gostei dessa ideia porque eu fui fazer a minha prova do vestibular e não tinha ninguém para fazer a exposição, fui para casa, eu falei e agora não vai ter exposição vão brigar comigo, quando eu cheguei em casa tinha a notícia, elas vieram em casa, pegaram os materiais tudinho, levaram para a frente da igreja, fizeram a exposição, venderam [RISOS] e ainda comparam mais produtos para continuar o projeto, então foi uma coisa assim muito importante, foi uma coisa, assim, que realmente e vale a pena mesmo.
P/2 – O projeto era exatamente do quê?
R – Trabalhava com artesanato de jornal, a gente fazia umas cestas, bicicleta, inclusive essas bicicletinhas quem fez foi a Irmã Rose, a bicletinha fizemos, aí fazemos cestas, quadros.
P/1 – A partir de jornal?
R – A partir de jornal.
P/2 – Vocês coletaram como o jornal?
R – A gente coletamos, a gente coletamos assim, ia nas comunidades, pessoas conhecidas, jovens que participaram do curso e pedimos coleta, eles vir e doar, quem poderia doar material, inclusive no dia da exposição, na semana da exposição que a gente fez, uma senhora que fez o curso, ela simplesmente ela foi, foi na exposição, comprou os produtos...
P/1 – Que ela fez?
R – Não, ela não fez, ela comprou os produtos da gente e depois ela devolveu para a gente de volta, que era para a gente vender, ela falou eu sei que realmente vocês precisam, vocês precisam desse dinheiro, colocou de novo a cesta para a gente vender, foi legal.
P/1 – Escuta, quais são as dificuldades maior que os alunos enfrentam no curso? De aprendizado.
R – Também passou uma senhora que ela tinha um problema de saúde, e ela queria fazer o curso, falaram para ela que estava tendo um curso de artesanato com jornal aí ela veio, daí então ela chegou lá com a gente ensinamos ela no mesmo dia, ela ficou muito alegre, aprendeu no mesmo dia a fazer canudinho, depois aprendeu a fazer as cestas, quando eu via ela trazia as cestas prontas da casa dela, então ela foi uma pessoa que... A maioria do idoso pensa que só ficar em casa esperando o pior, esperando a morte, mas ela não ia para a escola, fazia então ela foi um exemplo para a gente ali, que depois de tanto tempo, mas ela continua aprendendo, aprender mais ainda, foi que ela fazia as cestas dela, com certeza ela consegui fazer um negócio para ela, que ela fazia cestas grandes, enormes, cestas de bebê.
P/1 – Quais são as dificuldades que os alunos enfrentam para aprender mesmo na escola?
R – As dificuldades que os alunos têm, a gente vê um foco que muitos já vêm com uma deficiência da escola pública, o aprendizado de ler, escrever, falar, descrever, então essa é a nossa dificuldade também, porque o computador tem muitas informações rápidas que a gente tem que ler rápido para a gente poder acessar, e eles tendo dificuldade no aprendizado da escola fica um pouco difícil, mas a gente procura sempre mostrar para eles, mas não só, mas a dificuldade deles não ter um computador, de fazer o curso, aprender o curso aqui e terminar o curso, mas não mais acessar um computador e não ter um computador, uma das dificuldades são essas.
P/2 – O que é que mudou na sua vida pessoal, João? Depois que você começou a trabalhar com Eic? Trabalhar como educador da Eic?
R – Minha vida mudou assim de 10 a zero, porque eu era uma pessoa assim muito calada, tímida, não conversa, quando falava me tremia tudinho, então foi uma coisa muito ____, porque tanto pessoal, quanto profissional, porque hoje eu estou na escola, as pessoas falam comigo na rua, “Oi Júnior, tudo bom?” A pessoas já falam porque no início quando a gente conhece muitas pessoas fica difícil aquele contato, então eu peguei mais contato em relação as pessoas mesmo, assim, conversar, falar um pouco com as pessoas, ir na casa, visitar, então foi uma coisa, assim, que mudou tanto pessoal, quanto profissionalmente.
P/1 – Quais são os seus sonhos, qual o seu desejo pela frente agora?
R – Meus sonhos, acho que seria abrir uma escola de informática, abrir uma escola de informática, dar oportunidade para novos instrutores, meu sonho é esse, ter uma escola de informática, para mim poder também ajudar, tanto ajudar pessoal, quanto ajudar várias pessoas.
P/2 – Que contribuição, na sua opinião, a Eic trouxe para a comunidade? Para a sua vizinhança?
R – A contribuição que a Eic trouxe para a comunidade, que os jovens geralmente termina o segundo grau, não tem nenhuma oportunidade, então lá surgindo esse curso, o jovem tem o algo a mais para ele, porque a porta fica aberta, porque ele vai para a escola então ele conhece quem tem o curso de informática, procurar novos objetivos, tanto nas áreas de emprego, então essa que foi a vantagem, dá um algo a mais para o jovem que geralmente não teria uma oportunidade.
P/1 – Tem alguma coisa, assim, que você queria falar que nós não perguntamos, que você gostaria de dizer? Contar alguma coisa, algum fato.
R – Eu queria falar que durante estar na escola surgiu várias oportunidades de eu mudar de emprego, mas eu realmente não mudei de emprego, continuo, estou na escola, porque eu sei que um dia vou ver essa escola ainda melhora do que ela é, e contribuir com a comunidade.
P/2 – O que é que você achou de dar esse depoimento, João?
R – Achei que foi muito importante, porque quem daria que eu há dois anos atrás, se o Severino não tivesse entrado na minha vida, quem daria que eu estava aqui hoje, então eu fico a pensar, que a vida, a vida não pára, só pára quem quer, quem quer parar.
P/1 – E o que é que você acha da idéia do Cdi de fazer um livro, assim, contar a história através da história das pessoas que compõe o Cdi?
R – Eu acho que, às vezes eu fico pensando assim, que o Cdi começou a crescer, e eu comecei a crescer, então eu acho que é uma história que se mistura, tanto a vida da pessoa, como saber que na verdade é uma história só, uma história de vida, que tem que ser contatada para todas as pessoas.
P/1 – Então está, em nome do Cdi, do Museu da Pessoa a gente agradece seu depoimento aqui, muito obrigada, muito bom.
P/2 – Obrigado João.
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