Meu nome é Júlio César Sanches Francisco, eu nasci dia 06 de março de 1955, em Bauru. Meus pais são José Francisco Júnior e Mariana Sanches Francisco. A minha avó por parte de meu pai, Zulmira Bechir, deu à luz o meu pai quando o navio vindo do Líbano atracou no Rio Grande do Norte. Então, meu pai é norte-rio-grandense, mas gerado no Líbano. E os outros são espanhóis, o vô Mariano e a vó Carmem. Mas na comida, eu lembro que em casa era árabe. Meu Deus do céu! Coalhada, charuto, quibe cru, quibe assado, homus. Tinha o que você imaginar.
Depois do navio, eles vieram para a Água do Paiol, um tipo de bairro rural aqui de Bauru. Tempos depois, a família veio pra cidade, quando meu pai conseguiu emprego na Noroeste, num carro-restaurante - o restaurante do trem da Noroeste era conhecido por ser um baita de um restaurante bom -, e ficou lá até entrar na Lalai, uma confeitaria muito chique na época, aqui em Bauru. E eu já nasci em Bauru, no Parque Vista Alegre. Eu chamo de Estância Balneária do Parque Vista Alegre, porque a água é muito boa. Na época, só tinha as casas onde morávamos, e o resto era tudo mato. E como era morro, se chovia, o ônibus não subia. Era tudo terra, não tinha asfalto. Tinha muita erosão, e a gente brincava nos buracos. Só havia dois acessos pra Bauru: um era a ponte ali da cadeia, e a outra era a Ponte do Silvino - só dois lugares pra você chegar ao Vista Alegre.
Aí meu pai trabalhava no vagão-restaurante do trem da Noroeste e depois foi pra Lalai, que era chiquérrimo, com prataria fina, pertinho do footing da praça Rui Barbosa. E aí, depois, ele foi pro BTC, o Bauru Tênis Clube, naquele restaurante muito concorrido. Tinha aberto uma concessão do restaurante, ele participou da concessão e ganhou. E lá permaneceu por 25 anos, como gerente do restaurante – ele e a Lalai Pompeo. Depois, muda a política, muda o presidente de clube, então ele acabou saindo. Saiu e foi...
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Meu nome é Júlio César Sanches Francisco, eu nasci dia 06 de março de 1955, em Bauru. Meus pais são José Francisco Júnior e Mariana Sanches Francisco. A minha avó por parte de meu pai, Zulmira Bechir, deu à luz o meu pai quando o navio vindo do Líbano atracou no Rio Grande do Norte. Então, meu pai é norte-rio-grandense, mas gerado no Líbano. E os outros são espanhóis, o vô Mariano e a vó Carmem. Mas na comida, eu lembro que em casa era árabe. Meu Deus do céu! Coalhada, charuto, quibe cru, quibe assado, homus. Tinha o que você imaginar.
Depois do navio, eles vieram para a Água do Paiol, um tipo de bairro rural aqui de Bauru. Tempos depois, a família veio pra cidade, quando meu pai conseguiu emprego na Noroeste, num carro-restaurante - o restaurante do trem da Noroeste era conhecido por ser um baita de um restaurante bom -, e ficou lá até entrar na Lalai, uma confeitaria muito chique na época, aqui em Bauru. E eu já nasci em Bauru, no Parque Vista Alegre. Eu chamo de Estância Balneária do Parque Vista Alegre, porque a água é muito boa. Na época, só tinha as casas onde morávamos, e o resto era tudo mato. E como era morro, se chovia, o ônibus não subia. Era tudo terra, não tinha asfalto. Tinha muita erosão, e a gente brincava nos buracos. Só havia dois acessos pra Bauru: um era a ponte ali da cadeia, e a outra era a Ponte do Silvino - só dois lugares pra você chegar ao Vista Alegre.
Aí meu pai trabalhava no vagão-restaurante do trem da Noroeste e depois foi pra Lalai, que era chiquérrimo, com prataria fina, pertinho do footing da praça Rui Barbosa. E aí, depois, ele foi pro BTC, o Bauru Tênis Clube, naquele restaurante muito concorrido. Tinha aberto uma concessão do restaurante, ele participou da concessão e ganhou. E lá permaneceu por 25 anos, como gerente do restaurante – ele e a Lalai Pompeo. Depois, muda a política, muda o presidente de clube, então ele acabou saindo. Saiu e foi pro restaurante do Posto Sem Limites, lá na rodovia. Mas ele ficou por um ano e resolveu sair pra montar um negócio próprio. E o ‘seu’ Abel, que era do Beco Armarinho, havia aberto esse Skinão na Avenida Rodrigues Alves, esquina com a Rua Gustavo Maciel. Até o nome, quem deu foi ele, o nome fantasia. Aí ele encontrou com meu pai na rua Batista Carvalho e falou: "Zé, meu negócio é vender armarinho, vender zíper, essas coisa. Não sei fazer lanche. Você não quer pegar aquilo?" Ele falou que não tinha dinheiro, mas aí o Juca, da empresa Consiste, chegou em casa, fez o cheque e disse: “Paga quando você puder”. Isso foi em agosto de 1972.
Mas antes, ele chegou a trabalhar por um tempo no restaurante da ferrovia Noroeste, que ficava dentro da estação. Era do Edgar Bicudo, e dava gosto de ver aquilo, com toalhinha tudo limpinha, prataria, louças e cristal. Pra uma ferrovia, uma estação ferroviária, aquilo era um luxo. Jânio Quadros, Ademar de Barros, presidentes de outros países, todo esse pessoal passou por ali.
Mas eu comecei a trabalhar com meu pai na hora que ele comprou o Skinão. Só que eu saía da firma em que eu trabalhava às 5:30 e ia para o Skinão; ficava até fechar, não tinha hora. Abria às seis, sete horas da manhã, ficava o dia todo e tinha almoço, marmita, ficava lá à noite, até duas horas da manhã, duas e meia, não tinha hora. Meu pai nunca teve hora pra ir embora, sempre gostou da noite.
E aí veio a história do sanduíche bauru. Meu pai era amigo do Casimiro Pinto Neto, que foi estudante de Direito lá no Largo São Francisco em São Paulo, o inventor do sanduíche bauru. Então, houve um boato de que o Ponto Chic iria fechar, onde se fazia o bauru. Aí o meu pai falou: "Quer saber de uma coisa? Vou fazer esse bauru aqui. Não, não vou deixar morrer a tradição". Então, pra não deixar morrer, ele assumiu a paternidade do lanche. Mas aqui, o pessoal não conhecia o que era rosbife: "O que é isso?" Aí ele pegava: "Ô fulano, conhece o bauru?" "Não" “Come aí” “Ah” "Fulano, conhece o bauru?" Distribuiu tantos baurus grátis pro pessoal experimentar, que foi pegando. A partir daí, falavam: “Ah, onde é o Skinão que faz bauru?” “É lá com o Zé". Mas aí o Ponto Chic voltou, só que a fama já estava feita aqui em Bauru. E pra deixar registrado, a receita verdadeira do sanduíche bauru: pão francês, rosbife - que é o lagarto -, tomate, picles, orégano e o queijo derretido em banho-maria, que é o segredo do sanduíche.
Depois de todo esse tempo na Avenida Rodrigues Alves, quando meu pai faleceu em 2002, a gente subiu para o ponto da Praça Portugal. Mas acabou ficando muito caro ali, porque você abre uma porta de um estabelecimento pra vender lanche, pagando 8,5 mil só o aluguel, quantos lanches tem que vender? Então, ficou inviável. Aí fechou. Infelizmente, ele fechou. Mesmo assim, foram 15 anos lá.
Depois disso, já faz cinco anos que eu estou com o trailer lá na Praça da Paz, fazendo o bauru. Era apertado antes, mas eu reformei e agora cabem cinco, seis lá dentro. Ficou bonito, hein? Modéstia à parte. E tem o outro Skinão, o restaurante perto do aeroporto, que meu irmão cedeu até aquela foto clássica do meu pai fazendo o sanduíche pra outro rapaz, que está à frente lá. Mas aquele não tem nada a ver com a família. Meu irmão cedeu o nome pra ele.
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