No ano de mil novecentos e quarenta e oito (1948), não sei precisar qual o mês, meus pais deixaram a casa situada à Rua dos Cavalos, na cidade de Itabaiana, para fixar residência na capital, João Pessoa. Lembro-me do pessoal empilhando os móveis no caminhão e com apenas 07 anos de idade, corria de um lado para o outro, ora de alegria, ora de tristeza. Mirava o muro dos Correios que situava na frente da nossa casa e lia a propaganda do PSD escrita e desenhada com letras enormes. Olhava a esquerda e via lá distante a frondosa gameleira onde os feirantes deixavam seus cavalos. Corria para casa da visinha e da janela ouvia o radio transmitindo as músicas de Luiz Gonzaga e nos intervalos a propaganda das “Pílulas de Vida Dr. Ross”. O amiguinho com quem brincava, sem camisa e as calças sustentadas pelo suspensório, com os braços para trás, e o nariz escorrendo, parecia triste com aquele acontecimento. Ouvi quando minha mãe, disse: Vamos embora Foi quando tive a lembrança de despedir-me do rio que passava por trás da nossa residência. Caminhei até o portão que ficava no fundo do quintal, a uma altura de 5 metros do leito, peguei uns pedaços de telha e joguei-os na direção daquelas águas barrentas, para ver quantos círculos (Pão Doce) conseguia fazer, pela última vez. No meu último arremesso, deparei-me com uma galinha acompanhada de vários pintinhos que transitava pela margem indiferente a tudo. O patacho assassino pegou de cheio num dos filhotes lançando-o dentro dágua. A galinha desesperada cacarejava aflita. Deu-me vontade de descer para socorrê-lo, mas fui interrompido pelo chamamento de minha mãe: Vamos embora o chofer já ligou o caminhão. Essa cena até hoje não saiu do meu pensamento.

Parque Arruda Camara
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