O mundo faz charme no meu aniversário
Por Angelo Brás Fernandes Callou
Eu tenho febre
Eu sei
é um fogo leve
Que eu peguei
Do mar, ou de amar, não sei
Mas deve ser da idade.
Acordei com a canção Charme do Mundo de Marina Lima e Antonio Cícero na cabeça. Vai tocar o dia inteiro no Spotify. Eu sei. Ela veio preu comemorar meus 69 anos, hoje. Dia de São Brás (século III). O santo médico, bispo e mártir, protetor da garganta.
Claro que São Brás me protegeu durante meus 39 anos de docência. Não à toa, minha goela foi benzida, infância inteira. A cada 3 de fevereiro, lá estou na Catedral de Pesqueira, com duas velas acesas cruzadas sobre meu o pomo de Adão.
Não consigo acreditar que todos esses anos se passaram. Ninguém me avisou dessa compressão temporal. O mundo, de fato, faz charme. Se é assim, que me venha essa idade, novinha em folha, de novo, e todos os anos.
Há 15 dias aposentado, peguei a mania de cultivar plantas. Deve ser coisa da idade avançada.
Ao molhar os vasos com folhas todas as manhãs, com a calma e a paciência budista, pergunto pra mim mesmo, ironicamente: como pode uma pessoa, em sã consciência, acordar todos os dias pra ir trabalhar? Acho que o mundo faz charme / E que ele sabe como encantar.
Já não olho os relógios existentes em cada cômodo do meu apartamento, inclusive no banheiro. Esse tempo passou. Agora, é um mundo tão novo / Que mundo mais louco.
Como aposentei minha voz da docência, e não sou bobo nem nada, acordei cedo para comemorar meu aniversário na Basílica da Penha. Quero benzer minha garganta neste dia de São Brás. Para me proteger a novas investidas, imprevisíveis, na vida.
Viva São Brás! E viva eu, que nem santo sou.
Praia do Pina, Recife 3 de fevereiro de 2023.