O GAÚCHO VAI AO BANCO!
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Em Torres amanheceu uma belíssima manhã de segunda-feira, eu estava sentado no pátio
da vivenda tomando o chimarrão e de repente me veio ao pensamento que no bolso eu não tinha nenhuma tostão furado e para passar o dia estou precisando colocar...Continuar leitura
O GAÚCHO VAI AO BANCO!
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Em Torres amanheceu uma belíssima manhã de segunda-feira, eu estava sentado no pátio
da vivenda tomando o chimarrão e de repente
me veio ao pensamento que no bolso eu não tinha nenhuma tostão furado e para passar o dia estou precisando colocar um dinheirinho no bolso, visto que isto anima o vivente e alimenta a auto-estima e já foi por outros comprovado um gaúcho de bolso liso não sabe nem caminhar direito, eu não queria perder a manhã, mas vou ter que ir ao banco.
E assim foi depois do café me emperiquitei todo e me dirigi ao Banrisul, Banco do Estado do Rio Grande do Sul que em sua nascença tinha um único objetivo, ser estruturado para servir aos interesses do povo rio-grandense, “não é mais” e hoje serve para atender interesses do governo ou para patrocinar times de futebol. Mas eu tenho por lá uma pequena continha com uns 10 reais que foi depositado mais ou menos há um ano e sete meses, como a minha intenção era de colocar no bolso apenas cinco, achava que poderia sacá-lo tranquilamente, achava e por achar sai de casa justo no horário certo que abre-se as portas para
atendimento ao público. Eu sempre encontrei algumas dificuldades para lidar com aqueles botões dos caixas eletrônicos e para não ser tachado de boca aberta, sempre que vou
ao banco me dirijo diretamente aos caixas.
Mas que coisa, quando chequei já havia umas duzentas pessoas todos ansiosamente na espera todos sentados em confortáveis cadeiras, existe uma lei exigindo dos bancos que a espera não deve ser de mais do que 15 minutos, mas os banqueiros nunca para ela deram bola e sentados em fofas cadeiras, de esperar uma hora quem se importa?
Recebi uma senha de um atendente, que estava sentado ao lado daquele tirador dos papeizinhos com os números e segui garboso para dentro do banco tentando entrar pela porta giratória, que era vigiada por dois robusto guardas fortemente armados. Aqui faço uma observação, eu não sei na realidade para que servem estes tais guardas armados em bancos, pois qualquer um, homem ou mulher que o queira assaltar entram por estas portas sem esforço e levam todo o dinheiro dos caixas, e aqui para nós, como gostam de assaltar
o Banrisul! Mas se tentar entrar uma velhinha com noventa anos, que mal pode caminhar, com uma bolsa pendurada no braço e que tenha alguma fivela metálica, bem amostra e os guardas sabem que todas as bolsas são assim, a porta tranca e os tais guardas fazem um escarcéu, arma carregada atravessada no peito não a deixam entrar exigem que a senhora tire tudo de dentro da inofensiva bolsa, isto quando não pedem para que tirem também a roupa toda, agora ao acontecer que alguém queira praticar um assalto nem pensam
em reagir, isto que estão ali para justo evitarem, roubos, em vez de ao menos tentarem se borram todos, de imediato levantam os braços entregam as armas e o banco com facilidade é assaltado.
Mas com as pessoas de bem é diferente, eles até sabem ao olhar que a pessoa se distingue
do malfeitor, mas talvez para mostrar serviço ou para aparecerem, dificultam o máximo, isto
acontece com outros e com as senhoras idosas ora se não ia acontecer comigo, e olhem que eu sou mais do que conhecido, empurro a porta e pimba, trancou que chequei a bater com o pobre do narigão naquele vidro grosso, o guarda a olhar sério, até acho que por isto já estava esperando, me olhou como se eu fosse o pior dos malfeitores e ameaçou por aquela janelinha ao lado da porta, tire tudo o que tem nos bolsos se quiser entrar.
Como eu disse, eu tinha me emperiquitado todo, afinal não era todo dia que ia ao banco sacar gloriosos cinco pilas e por isto mesmo coloquei o traje de gala do gaúcho, sendo assim que estava com a minha melhor bombacha e o cinturão de fivela larga, bem amarelinho para imitar o ouro, e quando ouvi a ordem para tudo tirar, tentei argumentar: - eu sou de paz e a porta sempre trava por causa da fivela do cinturão, mas nunca houve maiores problemas que me evitasse entrar.
Estes guardas se revezam e quase sempre não são
os mesmos e estes, penso eu, tentando justificar seus salários, não quiseram saber de me ouvir nem das minhas argumentações, - é a norma, tem que tirar, tire o cinturão e passe por aqui, após passar pela porta o senhor o coloca de novo na cintura. Tirar o cinturão!... Há não, o gaúcho se alvorota, faz cara de macho e olha tão feio para o guarda que ele chega mesmo a segurar sua arma e dar
um passo para atrás. - Olha aqui vivente, estás me dizendo que eu tenho que tirar meu cinturão e ficar com as bombachas soltas, arriscando a cair e eu passar uma vergonha na frente destes que estão esperando acabar logo com este destrancamento
e o pior, além da friagem que sentirei nas pernas ainda vou ficar com os pertences do lado de fora,
com as partes delicadas balançando a “deus” dará, nada disso, como eu já te falei eu sou conhecido portanto me chame aqui o gerente que eu quero falar com ele. Esta foi uma luz enviada pelos anjos, pois o gerente era de fato meu amigo particular, visitávamo-nos frequentemente para churrascos ou para saborear um robalo, \\\"PEIXE\\\" assado na brasa.
Aqui não se chama gerente, é obrigação de todos seguir as normas do banco. -
Há é, pois eu vou te dizer quais são as minhas normas, ala puxa foi eu dizer isto e todos
se afastaram arrastando os pés e fazendo um barulhão, os guarda prepararam as armas decerto pensando que eu tivesse algum revolver escondido no bolso da larga bombacha.
Com o barulho da agitação, murmúrio do pessoal que pediam meio assustados, sai da frente, chega para lá, eu não tenho nada com isto, quero sair daqui, depois eu volto, neste meio tempo alguém de dentro do banco já tinha avisado o gerente do que estava se passando, ele veio meio esbaforido e quando me viu, sorriu e disse: eu calculei quando o pessoal me disse que não queriam deixar entrar um gaúcho todo aprumado, passou o braço pelo meus ombros dizendo para os guardas, quando este aqui chegar, podem deixar entrar sem susto,
este é dos bons! Entramos e ficamos um pouco a conversar até que ele se lembrou, olha, eu tenho que trabalhar, vamos ao que interessa, te levo ao caixa e já te libero rapidinho.
- Nada disso, tenho aqui comigo uma numero de senha e em teu local de trabalho não quero nenhuma regalia, ele sabia de minha seriedade sobre isto, apenas falou, está bem, então sente ali e fique tranquilo, até mais ver.
Puxei para cima o pano da bombacha e com gosto me larguei em uma cadeira de cor preta e ali de perna cruzada, olhando para todos os lados fiquei a esperar, logo me arrependi de não ter aceitado sua ajuda, o banco estava cheio e com os guardas naquela embromação já passava das onze horas, me lembrei que tinha comigo uma senha e conferi o numero, droga me deram o numero 467, não era possível vou me embora, mas pensei melhor depois desta estropelia toda não teria cabimento eu me mandar, além do mais eu preciso um dinheirinho
no bolso colocar, corre o relógio e aquela demora começou a me afetar os nervos, ríspido eu olhava os caixas, só tinha dois atendendo e a cada cliente que despachavam saiam a conversar um pouco ou paravam para tomar um cafezinho, eu ali sentado a esperar, e lá se foi a manhã toda, o estomago já roncava quando finalmente chegou a minha vez, eu já havia deixado de olhar as horas, me levantei depressa, papelzinho enrolado na mão,
como diz um ditado campeiro, mais amassado do que camisa de peão quando sai do buxo da vaca!
Nem cumprimente dei o numero de minha conta e disse o que queria, mexendo em um computador o caixa pegou a me olhar sacudindo a cabeça, não vai dar para sacar o senhor só tem 10 reais em sua conta e isto é o mínimo dos mínimos que nela pode ficar, se sacar agora estes cincos reais vamos ter que encerrar, depois será preciso deixar passar um bom tempo para outra conta abrir. - Mas o dinheiro é meu, eu posso pegá-lo quando e quanto quiser. Não neste caso, pois este mínimo é só para que a conta não seja encerrada é como se nada tivesse nela, por que a deixou zerar, ninguém deixa chegar a este ponto crítico, olha aqui eu planto e colho e ainda crio uns boizinhos e umas vaquinhas de leite, trabalho de sol a sol, pareço um burrote de carga, e quer saber de uma coisa, eu sou forte que nem boi de ganga e não é minha pretensão me fazer de bezerro desmamado para andar com choramingos, mas tudo está muito caro, o dinheiro custa a entrar e as instituição governamentais não auxiliam quem levanta cedo para trabalhar, fazem bem o contrário sempre especulam para de nós alguns cobres tirar, nada adiantou, o caixa não se apiedou, ainda tentei debater sobre mais umas coisinhas, como juros exorbitantes e a falta de objetivos para aqueles que na verdade são a mola mestre da nação, sem planos para
uma agricultura mais saudável, para os sofríveis pecuaristas que perdem um terço de seu gado no campo e para os produtores de leite que vivem em miseráveis arrojos, pois o pouco
preço pago não os sustentam e quem ganha com o suor de seu trabalho
são as ricas firmas multinacionais.
Desperdício de tempo e de falação, pois não houve jeito e os cinco pilas não pude sacar, como estava broqueado de fome resolvi voltar para casa, olhei o relógio, uma e meia da tarde, sai tropicando pelas calçadas, enfiando o bico da bota em tudo quanto era saliência que encontrava a minha frente, pois como é sabido por todos um gaúcho quando anda de bolso liso se encolhe dentro das bombachas, murcha as orelhas e não sabe direito caminhar.
Mas pensando bem, não vou dar bola para isto e como aconselham aqueles políticos corruptos, em dobro vou trabalhar, quem sabe assim, “claro se eles deixarem” possa dobrar estes cinco pilas, e se conseguir em meu bolso colocá-los, então sim vou poder estufar
o peito erguer a cabeça e sair pelas ruas garbosamente a passear.
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Elio Bittencourt Moreira - Rio Pardo \\\\ Torres RS
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