P/1 – Alex, obrigado pela participação, eu vou começar fazendo uma pergunta básica, seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Alex Leite de Moraes Senna, eu nasci em Orlândia, no dia primeiro de julho de 1982.
P/1 – Fala um pouquinho da sua família, dos seus pais, o nome deles, se você tem irmãos, um pouquinho da sua estrutura familiar.
R – Olha, os meus pais são separados, minha mãe chama Rita, meu pai chama Ricardo, tenho irmão, que chama André, e tenho outro que é meio torto, assim, Rafael, todos são meio artistas, um é fotógrafo, o outro é músico, minha mãe é artista plástica e meu pai é administrador de empresas.
P/1 – Você passou a infância na sua cidade natal?
R – Isso.
P/1 – O que você lembra da sua infância de mais marcante?
R – Eu nasci numa fazenda, então a minha lembrança é muito verde, nessa fazenda que eu nasci tinha uma... As pessoas que trabalhavam ali moravam lá, então tinha várias famílias, era uma minicidade, sabe? Então é muito viva essa memória de todas as pessoas que ali viviam, era uma pequena cidade, acordava cinco horas da manhã, a gente ia buscar leite, tinha umas figuras meio marcantes, o Nerso, o Zé do Guincho, essas coisas bem do interior. Lá era muito legal, porque tinha a mercearia, a igrejinha, enfim, tudo o que um sítio tem uma fazendinha tem, lá tem tudo isso em abundância, eu cresci nesse ambiente assim.
P/1 – A arte entra na sua vida já na infância ou não?
R – De certa forma sim, eu sempre tive o costume de desenhar, então eu e meu irmão, a gente desenhava muito quando era moleque. A minha mãe costumava dar papel chamequinho pra gente, isso era um presente pra gente, ficava desenhando, então eu acho que o começo é mesmo aí. Eu tive uns tios também que desenhavam, minha mãe, eu tenho mais dois tios que desenham muito bem, então já tinha essa referência, eu acho que começa daí...
Continuar leituraP/1 – Alex, obrigado pela participação, eu vou começar fazendo uma pergunta básica, seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Alex Leite de Moraes Senna, eu nasci em Orlândia, no dia primeiro de julho de 1982.
P/1 – Fala um pouquinho da sua família, dos seus pais, o nome deles, se você tem irmãos, um pouquinho da sua estrutura familiar.
R – Olha, os meus pais são separados, minha mãe chama Rita, meu pai chama Ricardo, tenho irmão, que chama André, e tenho outro que é meio torto, assim, Rafael, todos são meio artistas, um é fotógrafo, o outro é músico, minha mãe é artista plástica e meu pai é administrador de empresas.
P/1 – Você passou a infância na sua cidade natal?
R – Isso.
P/1 – O que você lembra da sua infância de mais marcante?
R – Eu nasci numa fazenda, então a minha lembrança é muito verde, nessa fazenda que eu nasci tinha uma... As pessoas que trabalhavam ali moravam lá, então tinha várias famílias, era uma minicidade, sabe? Então é muito viva essa memória de todas as pessoas que ali viviam, era uma pequena cidade, acordava cinco horas da manhã, a gente ia buscar leite, tinha umas figuras meio marcantes, o Nerso, o Zé do Guincho, essas coisas bem do interior. Lá era muito legal, porque tinha a mercearia, a igrejinha, enfim, tudo o que um sítio tem uma fazendinha tem, lá tem tudo isso em abundância, eu cresci nesse ambiente assim.
P/1 – A arte entra na sua vida já na infância ou não?
R – De certa forma sim, eu sempre tive o costume de desenhar, então eu e meu irmão, a gente desenhava muito quando era moleque. A minha mãe costumava dar papel chamequinho pra gente, isso era um presente pra gente, ficava desenhando, então eu acho que o começo é mesmo aí. Eu tive uns tios também que desenhavam, minha mãe, eu tenho mais dois tios que desenham muito bem, então já tinha essa referência, eu acho que começa daí essa coisa do desenho.
P/1 – Você fica no interior até que fase da sua vida?
R – Muito pequeno, muito pequeno, sei lá, bem criança. Eu venho pra cá... Comecei a escola aqui já.
P/1 – Mas tão pequeno a ponto de não se lembrar ou você se lembra dessa mudança?
R – Não, eu lembro, a mudança eu não lembro, é meio misturado, não tem essa, quando eu me lembro a gente já morava aqui, mas ao mesmo tempo eu ia pra lá, eu ficava aqui, então é meio misturado assim.
P/1 – Quando você veio, você morava aonde aqui?
R – Eu morei em vários lugares, eu morei na Rua Piauí, depois eu morei perto ali na Nove de Julho, ali onde fica a Carlos Sampaio, e depois eu vim pra Sumaré.
P/1 – Mas quais são algumas, ou uma, das suas primeiras lembranças aqui em São Paulo, da sua infância aqui em São Paulo?
R – Eu estudei no Mackenzie, então eu lembro mais disso, essa parte de infância pra mim, de São Paulo eu não lembro muito, porque a gente era meio menino de prédio, eu não era... A gente nunca foi muito da turminha, da galerinha, dessas coisas. Eu e meu irmão, a gente era mais solitário, era eu e ele e a gente não se dava muito, então infância mesmo eu lembro dos meus primos no interior, esse tipo de coisa, aqui em São Paulo a gente era mais fechado.
P/1 – Mas o que você costumava fazer com o seu irmão aqui?
R – Ah, a gente era, além dessas coisas de desenhar, a gente brincava muito, gostava de bonequinho, videogame, uma criança dos anos oitenta.
P/1 – Tem alguns dos primeiros desenhos seus que tenha sido mais marcante pra você, do tipo: “To ficando bom nisso, isso aqui tá ficando, tá ocupando um espaço importante realmente na minha vida”?
R – Na verdade o meu irmão sempre desenhou melhor que eu, então eu sempre tava correndo atrás dele, mas teve uma coisa, eu morei em Recife um ano e meio e nessa época a gente tava mais ligado em fazer gibi, então ali acho que rolou um lance meio criativo, porque eu fazia uns gibis bem pequenininhos, eu inventei um personagem, tal. Acho que essa época é uma época que desenvolveu um pouco mais, pelo fato de fazer sozinho uma história, ter um roteiro, mesmo que bobo, acho que ali eu comecei a dar um grau e, agora, o desenho mesmo só engata mesmo a partir dos anos dois mil, eu já tinha uns vinte anos, já.
P/1 – E os seus pais, você falou que a sua mãe é artista plástica, como era essa relação da família com o filho já enveredando pro caminho artístico?
R – Olha, minha mãe sempre incentivou essa coisa do desenho, e eu e meu irmão, a gente realmente era bem bom, a gente desenhava bem, era diferente do resto, mas ninguém da família, apesar da minha mãe ser artista plástica, ela não seguiu a profissão por muito tempo, então tinha essa coisa meio que, sabe: “Ah, isso não dá certo, será que vai, será que não vai”. Então eu acho que eu fiz, ela me incentivou a fazer uns cursos, a gente via ela pintando em casa, essas coisas, mas demorou, cara, demorou, tanto que eu só, que nem eu falo, eu só engatei mesmo, isso que eu digo, logo que eu comecei a trabalhar, eu devia ter uns, eu trabalhava na época da faculdade, devia ser anos dois mil, 2001, 2002.
P/1 – Mas antes disso ainda, na sua escola.
R – Eu fiz uns cursos, não, eu fazia uns desenhos na escola, participava de umas mini, como é que fala? Uns concursos que tinha de desenho, e a gente sempre levava, não tinha jeito.
P/1 – No seu período de escola, antes da faculdade, tem alguma, independente da questão da arte ou sim, se for o caso, tem alguma passagem que tenha sido, que ocupe um lugar especial na sua memória, alguma coisa que aconteceu na escola, seja pro lado positivo, seja pro lado negativo, que quando você se lembra do seu período escolar, de aluno, de colégio?
R – Eu nunca fui uma criança muito, isso que eu falei, que tinha milhões de amigos ou que era super popular ou que tinha... Eu era mais sozinho, assim, isso eu carrego nos meus desenhos até hoje, então talvez isso, arrumei umas brigas, apanhei, normal, eu acho. Mas eu acho que essa época de escola é uma época difícil pra qualquer criança, eu tinha minhas dificuldades também, mas o desenho sempre me salvou a pele, então eu diria pra você que esse lance de ficar sozinho, de ficar pensando demais e de se frustrar com algumas coisas ou de querer, os problemas infantis pra mim eram bem recorrentes, haja terapia.
P/1 – Essas brigas eram brigas corriqueiras de criança ou tem alguma?
R – Bullying, bullying, normal, criança que zoa com a outra, que brinca com essa, é normal, acho que faz parte, mas querendo ou não, dependendo do tamanho da força, acaba, não vou falar traumatizando, mas marcando mais.
P/1 – E a passagem pra faculdade, como é que foi? Você já sabia o que queria fazer desde cedo? Onde você foi estudar?
R – Aí rolou um pouco de, eu acho que, por exemplo, o que acontece. Minha mãe tinha feito, eu fiz uma escolha meio que errada na minha concepção, porque eu teria que... Isso eu pensei depois, eu acabei fazendo Comunicação Social, fui pro lado do dinheiro, nada a ver, eu deveria ter ido pra onde era o meu talento, que era de desenho. Só que acaba vindo também um pouco dessa coisa, dos pais não, mas vou falar da sociedade, mas tipo: “Ah, mas isso não dá dinheiro, mas isso dá”, aí eu acabei seguindo esse caminho da Comunicação Social, eu até gostava na época e fiz pra Publicidade.
P/1 – Você estudou no Mackenzie?
R – Não, o Mackenzie foi escola.
P/1 – Só escola, e depois?
R – Eu fiz escola no Mackenzie, colegial no Objetivo e aí eu fiz Anhembi-Morumbi.
P/1 – Nessa época, você já tava mais velho, já fazia faculdade, qual que era a sua relação com a Cidade de São Paulo? Quais eram os lugares que você frequentava? O que você gostava mais de fazer?
R – Certo. Ah, essa época eu gostava muito, eu sempre andei muito de bicicleta, então eu fazia, eu morava ali perto da Paulista, eu fazia tudo, eu ia pra faculdade de bicicleta, então eu descia, fazia todo esse caminho, eu andava muito ali naquela região da Paulista, então eu fazia toda essa região da Paulista, Rebouças, ia até a Vila Olímpia, que era onde era a faculdade, essa época aí eu saía, eu frequentava mais aquela região Pinheiros, Vila Madalena, por ali.
P/1 – Tem alguma passagem na sua faculdade, como a pergunta que eu te fiz na escola, que tenha sido especialmente marcante, alguém que você conheceu, algo que você descobriu, um professor?
R – Vou tentar puxar aqui, então, eu dei sorte na faculdade, porque tive uns amigos muito legais, dentre esses amigos tinham vários que, tinha um ou dois que tinham esse caminho pro desenho ou que tinham alguma coisa, eu até falo que hoje em dia foi me mostrando que no final era isso que eu queria. Ele trabalhava com, chama Renato, ele desenhava em prato, fazia desenho em prato, e eu trabalhava numa agência de propaganda, eu falava: “Que merda, eu tenho que ficar aqui todo dia fazendo essa porcaria, propaganda de Minuano, de sabão em pó, eu poderia tá desenhando”. Eu tenho um problema forte com frustração, então ali eu comecei a me frustrar, eu diria que eu tive professor, eu tive um professor, eu não vou lembrar o nome dele, mas eu tinha, a aula de Semiótica era importante pra mim, onde mudou tudo, as aulas que eram legais, mas a faculdade, eu levo ela como um quarto colegial, não é uma coisa que, não sei, não senti muito essa...
P/1 – Como é que foi esse pulo? Assim, você trabalhava numa agência de publicidade...
R – Dez anos.
P/1 – Então pera aí, eu quero saber mais disso, você entrou como estagiário na época da faculdade?
R – Eu comecei a trabalhar com dezoito anos, só fui parar com 28 anos.
P/1 – Mas no mesmo lugar?
R – Não.
P/1 – Conta um pouco dessa sua trajetória profissional, dessa parte.
R – Eu comecei, bom, como eu fazia a Faculdade de Publicidade, o que eu queria era trabalhar numa agência de propaganda ou numa produtora de filme, uma coisa assim, então eu comecei fazendo estágio numa agência que chama Souza Aranha, era uma agência de marketing direto, bem antigo, essas cartinhas que você recebe, sabe? Eu trabalhava no telemarketing, olha que coisa horrorosa, e eu dei um jeito, porque eu descobri que lá tinha a área da criação, onde o pessoal trabalhava com outras coisas mais ligadas com criatividade, e eu dei um jeito de migrar pra lá, ali que eu comecei, um chefe que me deu oportunidade, a dona que me deu oportunidade, chama Luna, e o diretor de criação que era um cara que chama Jaime Cerva, me deu essa oportunidade de começar lá.
P/1 – Aí de lá você foi pra onde?
R – De lá, eu fiquei, eu trabalhei acho que, não lembro quanto tempo que eu fiquei lá, eu fiz um roteiro grande em agência. Eu saí de lá, fui pra uma outra agência pequena que chamava The Group, de lá eu fui pra uma agência pequena que chamava Milk, de lá eu fui pra uma outra que chamava G7, aí G7 virou GP7, aí eu saí de lá, fui pra uma outra que chamava, um estúdio de design que chamava Carambola, de lá eu fui pra uma agência que chamava Tritone.
P/1 – Mais nessa época você já desenhava na agência?
R – Eu já desenhava, na verdade, isso que eu falo, o desenho sempre salvou minha pele, quando eu trabalhava de telemarketing, eu fazia uns desenhos, eu deixava eles meio na baía onde eu tava, pra se alguém passava, falava assim: “Pô, bem louco”, eu dava um jeito. Meu primeiro trampo, quando eu entrei de estagiário, foi de ilustração, sempre usei isso como, sempre foi meu grande, o único diferencial que eu tinha. Aí eu fui, trabalhei, trabalhei muito, até esses, que nem eu falei, depois dessa Tritone eu ainda fui pra, voltei pra essa GP7, a GP7 virou Publicis, eu fui trabalhar numa outra que chamava Z Mais, eu fiz freela, de freelancer em quase todas as agências.
P/1 – Como que foi o, vamos dizer assim, o pulo, assim, de você...
R – Pra sair?
P/1 – De você falar assim: “Agora eu vou me dedicar ao que eu amo, ao que eu realmente quero”.
R – Então, como eu disse, eu tinha esse problema com a frustração, porque é muito difícil você trabalhar num ambiente que é criativo, só pra deixar claro, assim, quando eu trabalhei, dentro desse mercado você tem muita gente boa, você tem os fotógrafos, vários artistas que trabalham pra esse mercado, então nesse meio tempo você vai refinando o seu olhar, você vai pegando umas manhas, vai melhorando. Só que eu era muito frustrado, porque o mercado é meio escravocrata, você trabalha muito, tá ligado, você ganha pouco, pelo menos eu nunca subia muito de cargo, eu fui estagiário e virei assistente e fiquei assistente por muito tempo, ia pulando, então não ia subindo. Eu trabalhava, trabalhava, trabalhava, trabalhava e não via o resultado chegando, lá por 2005, 2006, eu comecei a pintar na rua, então nessa, o que acontece? Eu, como eu já desenhava, o que acontece? Nessa época que eu falo, 2004 até 2007, eu já tinha um rolê de ilustração, eu já tinha um costume de desenhar bastante, eu tinha um blog que eu postava essas coisas, então dentro de uma agência de propaganda eu era um nada, mas fora eu já tinha uma certa relevância, as pessoas já me conheciam, já sabiam que era o meu trabalho, algumas pessoas já conheciam meu trabalho na rua. Então eu vivia com aquela frase que todo mundo falava, que era assim: “Meu, o que você tá fazendo aqui? Você tem que sair, você tem que, nossa, sai, cara, você é isso, você é aquilo”, então eu comecei. O que eu fazia? Eu vendia uns quadros pra uns caras das agências, aí uma hora eu enchi o saco e comecei a guardar dinheiro pra sair fora, e aí teve o fatídico dia que eu fiz o pior trabalho, o pior trabalho não, eu fiz um trampo que era, virei a noite fazendo uma ilustração lá, no final ninguém usou pra nada e me fizeram virar a noite só porque podiam, porque é isso que acontece, às vezes, nesses mercado, as pessoas, só porque podem, te fazem fazer isso. E aí eu pedi demissão e aí começou na verdade, porque aí eu tive que trabalhar, eu tive que dar um corre, eu tinha dinheiro pra meio ano só, mas daí o tempo que eu tinha, que era só de fim de semana ou menos ainda, porque eu trabalhava de fim de semana também, agora eu tinha todos os dias da semana pra fazer. Então essa foi a virada, eu pedi demissão e dei um corre, pintar na rua, fazer quadro, fazer ilustração, fazer mil contatos, pedir, sei lá, correr atrás de trampo e rolou, eu sempre fui de guardar dinheiro, então consegui administrar, até hoje tô aí, já faz seis anos, já.
P/1 – Eu fiquei curioso, uma coisa, eu consigo imaginar você, eu desenhava, eu já pintava, eu tinha o meu blog, agora você falou en passant: “Aí eu comecei a pintar na rua”.
R – É.
P/1 – Eu acho que deve ser um passo diferente, uma experiência do que você pintar na sua casa. Como é que foi essa primeira experiência? Por quê? Com quem, como?
R – Olha, então, tem dois caminhos na verdade, eu já tinha... O meu traço sempre foi já meio numa pegada quadrinhos, mais sujo, não sujo, mas traço grossão, que já tinha um pouco a ver com a cena de grafite, street art em São Paulo. Eu trabalhei com um cara que chama Danilo Roots e ele já fazia uns grafites, ele falava: “Mano, você tem que ir pra rua, você tem que ir pra rua”, e aí coincidentemente tem um amigo nosso que o irmão dele fazia uns grafites também, o Choras, o nome dele, era outro molequinho que falava, ele via meus desenhos, falava: “Nossa, mano, você tem que ir pra rua, você tem que vir comigo, vamos lá” e aí eu fui, foi assim. Aí um dia eu fui e foi, pra mim mudou completamente, uma explosão, tipo uma, mudou muito minha cabeça, uma sensação de liberdade, fazer um desenho gigante, colocar ele na rua, então eu comecei nessa época aí, 2008, 2009.
P/1 – Eu queria saber, se você puder contar, o dia específico, como é que foi? Onde vocês foram? O que você desenhou?
R – A primeira vez que eu saí, eu rodei com os polícias já na primeira vez, foi eu, o Choras, não foi a primeira vez, vai, é porque assim, a primeira vez é meio, a primeira vez você vai com sprayzinho e faz uma coisinha pequena, você não sabe direito como funciona, a primeira vez que eu saí com esse amigo meu, o Roots, eu fiz um mural, a gente ficou lá o dia inteiro, foi tranquilo. A primeira vez que eu fui fazer grafite eu saí com esse Choras, aí saiu o Choras, eu, o Choras, Locones, Ras, Fabá, era o antigo Estilo Livre Crew, chamava, um pessoal da Zona Norte, e a gente saiu e a primeira vez que a gente, pé, rodamos, rodamos com os polícias, ali na Zachi Narchi.
P/1 – Mas como é que foi essa cena? Vocês estavam desenhando o quê?
R – Ah, cada um tava fazendo o seu e a polícia chegou, clássico, chega já apavorando todo mundo: “Ah, para”, não sei o que, só que ao mesmo tempo que dá um terror, é uma coisa que você fala assim: “Meu, consigo fazer mais rápido, posso fazer sem ser pego”, dá uma adrenalina de você também tá fazendo ali na rua. Porque uma coisa que eu tenho que deixar claro é essa diferença entre grafite e street art, porque o grafite, você faz ele ilegalmente, você não tem autorização pra você fazer e você faz aquilo rápido, já a coisa do street art é um mural, você tem um trabalho mais de trabalhar o fundo, você tem um dia inteiro pra fazer, muitas vezes o mural é legalizado, o grafite não, o grafite é ilegal, tem que ser feito de forma ilegal, à noite, de dia, sei lá, que seja, mas é, não tem essa.
P/1 – Quais foram as consequências legais dessa primeira vez em que você foi pego?
R – Ah, cara, é adrenalina. Você sente isso correr no sangue, eu comecei mais velho, eu tinha acho que uns 24, eu não lembro direito, mas eu tinha uns vinte e poucos quando eu comecei e os moleques já pintavam desde que tinham quinze anos, o pessoal era mais novo que eu, então eu tinha que correr atrás desse tempo perdido. Mas foi massa, pra mim abriu todas as janelas do meu mundo, porque você começa a ver a cidade, na verdade, por espaços em branco,onde você consegue encaixar um trampo seu, e você começa. Eu, pelo menos, vivo assim, em qualquer lugar que eu vá, eu ando e eu já vou sacando os lugares que dão pra colocar, onde dá pra encaixar. Isso que eu tô falando, a energia que rolou tanto nesse dia como quando eu fui pintar com o Roots, que foi um trabalho de mural, já fiz grafite com ele também, cada vez é uma vez diferente, você não sabe o que vai acontecer, e isso, pra mim não tem coisa mais artística do que isso, você fazer uma coisa que porque você quer, que ninguém te ensina como fazer, você não tem aula de grafite. É ilegal, então você ainda pode ter um problema com polícia, mas ao mesmo tempo você tá fazendo uma coisa legal, bonita, que seja, que tem uma alusão estética, uma mensagem, então é uma sensação de liberdade, que você quebra um paradigma da sua cabeça do que você não pode, do que você pode fazer, é essencial pra arte, você quebrar essa barreira do que pode, do que não pode.
P/1 – De lá pra cá, você tem ideia de quantos grafites você já fez?
R – Putz.
P/1 – Mais ou menos?
R - Eu não tenho a menor ideia, eu acho que, sei lá, uns seiscentos talvez.
P/1 – Quais são as regiões da cidade onde você costuma fazer grafite? Se você puder fazer uma linha do tempo de lá pra cá: “Geralmente antes eu grafitava ali, agora aqui, ali é melhor”, faz um pouco uma radiografia da cidade sob esse aspecto.
R -
Eu acho que eu geralmente acabo pintando perto de onde eu moro, então quando eu comecei a pintar eu morava na Vila Mariana, então eu fazia praqueles lados de lá, hoje em dia, que eu moro aqui na Pompéia, então eu acabo, a maioria dos meus trampos tão por aqui perto. Mas eu não tenho muito dessa, não, eu vou pra onde me chamar, aonde for, ocasionalmente tem muito mais aqui por ser perto da minha casa.
P/1 – Por falar nisso, a gente acabou de dar uma andada aqui no entorno, descreve um pouco o seu bairro, pra quem não conhece o seu bairro, como você apresentaria o seu bairro pra alguém que, sei lá, vem te visitar e fala: “Aonde você mora?”.
R – Certo, aqui é a Vila Anglo Brasileira, é um bairro que pra mim é um oásis, no meio de São Paulo, porque você tem uma atmosfera de interior, uma atmosfera de bairro mesmo. Então você pode ver que aqui onde eu moro, embaixo tem uma costureira, ali do lado tem uma lojinha de material de construção, o bar tá logo ali, o cara que trabalha com ferro é meu amigo, o meu vizinho trabalha na padaria logo ali em cima. Então você tem esse lance da comunidade, das pessoas que moram por perto é bem forte aqui, é um lugar muito arborizado, é cheio de praça, eu acho que pra mim, me lembra muito da onde eu vim, as coisas que eu gosto.
P/1 – Agora, o seguinte, confesso que eu não conheço como seria o dia-a-dia de um artista plástico de um modo geral, não vou nem falar especificamente do grafite, porque eu sei que você faz mais coisas além do grafite, né?
R – Certo.
P/1 – Eu queria que você contasse pra gente, porque daqui a pouco eu vou chegar na sua interação com a cidade no que diz respeito ao trabalho, mas antes, como que é geralmente o seu dia-a-dia? Rotina eu imagino que não tenha, mas mais ou menos o seu dia-a-dia de trabalho.
R – Olha, quando eu não tô trabalhando, porque grafite ou pintar mural na maioria das vezes não dá dinheiro, ninguém vai me pagar pra fazer um desenho na rua, às vezes até paga, mas é, tipo assim, quando eu não tô fazendo isso, que é a minha atividade na rua, eu fico aqui no meu estúdio pintando tela, fazendo, na minha cabeça eu preciso tá sempre produzindo, porque eu não posso, eu não ganho salário, então eu não posso me dar ao luxo de só produzir a partir do momento que eu for requisitado pra isso. Então eu faço muitos desenhos, pinto um monte de tela, respondo orçamento, respondo e-mail, eu tenho um estúdio agora na Casa Verde, onde faz umas telas lá também, então eu tô sempre trabalhando.
P/1 – Mas de um modo geral é um trabalho que te permite, por exemplo, ficar em casa?
R – Me permite ficar em casa, me permite ficar em casa sim.
P/1 – E, portanto, eu acho que você deve viver muito dentro do seu próprio bairro, que você gosta.
R – Correto, é verdade.
P/1 – Como se dá essa relação extra bairro, você sai daqui geralmente pra onde, pra se divertir, qual que é a sua interação com a cidade hoje, mas além do seu bairro?
R – Certo, bom, a minha namorada mora no Centro, bem no centrão de São Paulo, eu tenho vários amigos que moram no Centro, eu tenho amigos que têm bares no Centro, então a minha interação fora do meu bairro é mais nessa questão do lazer ou mesmo de, eu gosto muito de música, então eu compro vinil, compro essas coisas, eu vou pro Centro, então o meu caminho fica mais aqui e o Centro de São Paulo.
P/1 – Você veio do interior, apesar de que você veio do interior muito novo, mas você sempre teve essa relação com o interior, como você falou.
R – Correto.
P/1 – Eu acho que, talvez até por eu ser do interior também, mas tô aqui há muitos anos também, eu acho que o gigantismo da cidade acaba se tornando ainda mais gigante, porque quando você tem uma referência muito menor...
R – Sim.
P/1 – Como que você avalia, qual a impressão que você tem da Cidade de São Paulo? Você talvez diminua a cidade no seu cotidiano, como que você se relaciona com esse gigantismo da Cidade de São Paulo?
R – Eu lembro de uma lembrança que eu tenho de criança, que eu morria de medo do Centro de São Paulo, morria de medo, porque era um lugar que tinha muita gente na rua, era bem assustador, assim. Então o Centro de São Paulo, que hoje em dia, e que é muito bonito aquele lugar, as arquiteturas, pra mim sempre foi uma coisa meio assustadora, tudo cheio de mijo no chão, gente fumando crack, então são essa, mas aos mesmo tempo me lembra Gotham City, que tem os prédios gigantes e as gárgulas. Eu acho que é como eu disse, eu não gosto, nunca gostei muito desse tipo de, não vou falar gigantismo, mas eu não sei se eu, eu acho que era mais uma coisa de tentar compreender como me achar ali, mas nunca foi, nunca pertenci aquilo. Eu dei uma viajada agora nessa resposta, vocês me desculpem, porque eu fui longe.
P/1 – Eu gostei da sua lembrança da infância do Centro.
R – É porque isso é real, eu lembro muito que era muito impressionante pra mim, se eu não me engano, tinha mais gente na rua do que hoje em dia, pelo menos em alguma parte do Centro ali, agora eu não sei.
P/1 – Deixa eu voltar pra parte do seu trabalho, você contou que logo de cara você já teve essa experiência marcante, que a polícia chegou.
R – Sim.
P/1 – De lá pra cá, vamos pegar, vamos dizer assim, entre aspas, seu portfólio de grafites, eu vou te fazer algumas perguntas de marcos da sua trajetória. Por exemplo, qual foi o trabalho mais difícil que você já fez?
R – Em São Paulo?
P/1 – Daqui a pouco a gente parte pra fora, vamos continuar primeiro em São Paulo, aqui em São Paulo.
R – O mais difícil?
P/1 – Ou mais desafiador.
R – Cara, eu acho que todos os trabalhos que são ilegais têm uma adrenalina, do que você não sabe o que que vai acontecer, que isso acaba sendo um desafio muito maior do que esteticamente o que você tá fazendo. Se eu for falar de murais que eu fiz, olha, eu agora não consigo me lembrar de nada, mas por exemplo, eu já pintei um, eu pintei embaixo de uma ponte ali na Zona Norte, ali onde é o Museu de Arte Urbana lá, era muito alto, muito alto, e não tinha escada que chegasse lá, eu tive que fazer com um rolinho improvisado, um extensor no outro, pintando assim lá de baixo pra fazer lá em cima. É que esse negócio do difícil é um pouco relativo, porque se ele é difícil tecnicamente, isso vem com o tempo, você: “Ah, eu fiz um desenho difícil”, tal. Mas tem um difícil que é, por exemplo, eu fui pintar uma vez no bairro do Grupo Opni, que eles são de São Mateus, e a gente foi pra um bairro que era bem precário, então aí rola uma dificuldade que é diferente, porque você se depara com a realidade mesmo na sua frente e você tem as pessoas que moram lá, a dificuldade de entrar, a dificuldade de pintar nesse lugar, toda a questão social que ali envolve. Eu acho que pode ter uma dificuldade maior nisso do que tecnicamente... Você ir em uns lugares que você tem que se enfiar e pintar.
P/1 – Qual que foi o grafite que você mais gostou de ter feito aqui em São Paulo, tem algum ou alguns?
R – Putz, infelizmente eu tenho o mau hábito de não gostar de quase nenhum trabalho que eu faço, não é que eu não gosto, eu saio meio insatisfeito, mas, ah, vamos dizer assim, eu comecei na rua, eu pintava colorido, fazia coloridão, fazia umas santas super coloridas, então eu acho que tem um marco aí que é o primeiro que eu faço em preto e branco, esse pra mim é, eu vou dizer que é mais marcante, que faz mais uma diferença, porque a partir desse eu nunca mais voltei pro colorido.
P/1 – Foi onde?
R – Cambuci.
P/1 – Lista pra mim, se você puder, alguns locais onde, por exemplo, você falou que pintou embaixo do viaduto, alguns locais da cidade onde você já fez grafite.
R – Bairros?
P/1 – Não, não precisa ser bairro, pode ser embaixo de um viaduto ou, sei lá, perto da Avenida Paulista.
R – Vou tentar. Já pintei em banca, em praça, lateral de prédio, casa, portão, sofá, muro chapiscado, muro liso, estacionamento, loja, embaixo de viaduto, embaixo do metrô.
P/1 – E as ocasiões em que você é solicitado, seja contratado, pago ou não, conta um pouco dessa experiência, como acontece? Porque até agora você falou: “Olha, a gente tá fazendo uma coisa ilegal, às vezes a polícia pode aparecer”.
R – É
P/1 – E as experiências em que você foi solicitado a fazer aquilo, como que acontece isso?
R – Ah, eu acho que é válido também pra você expressar o que você quer, essa coisa, o artista, você não precisa seguir um rótulo, então tem muita gente que faz grafite e aí ele só faz grafite, ele só faz o trabalho ilegal ou ele só faz letra ou ele só faz, sabe, é um clube do qual tem mil regras, mil gírias e mil jeitos que você acaba tendo que, eu não vou falar seguir, mas que faz parte daquilo. Muros que, hoje em dia a gente vive uma época que realmente as pessoas estão muito mais abertas pra street art do que outros tempos, então os trabalhos comerciais, vamos dizer assim, que acabam sendo remunerados, hoje em dia acontece, faz parte da lista dos trabalhos, isso acontece. É um trabalho como outro qualquer, só que ele entra nessa coisa do trabalho, porque na hora que você tá fazendo um trampo sem um cliente, vamos dizer assim, você faz exatamente o que você quiser, o que você tá sentindo, já no caso de um trabalho comercial, você tem um cliente, uma pessoa que tá, no final das contas quer uma coisa ali, não que você vá mudar seu desenho, mas você não pode também fazer o que você acha que...
P/1 – Tem o briefing.
R – É, acaba tendo um briefing.
P/1 – Agora, dessas demandas, eu tô me referindo especificamente a grafite.
R – Diga lá.
P/1 – Teve alguma mais inusitada? Grafitar em tal lugar, você falou assim: “Nossa”.
R – Pera aí, eu vou precisar pensar um pouco. Olha, eu tô tentando pensar aqui.
P/2 – Um lugar diferente, que você falou: “Pô, nunca grafitei nada parecido com isso”.
R – Putz, cara, a gente vai ter que pular essa, porque eu não, agora eu não consigo me lembrar de nada.
P/1 – E a questão do perigo, eu digo, de polícia e tal? Se na primeira vez você já teve esse azar, eu acho que deve, ao longo dos anos, deve ter acontecido outras ocasiões.
R – Sim.
P/1 – Tem alguma história mais...?
R – Uma vez um pessoal queria fazer uma gravação comigo pra pintar, ah, pra me gravar pintando, aí a gente foi ali na ponte da Lapa, e eu tava pintando lá, chegou umas sete viaturas, um puta exagero, e chegou sete viaturas e tal e os caras me botaram, aquela coisa. Geralmente você acaba pegando uma manha, você tem que ter habilidade de negociação, de convencer de que o que você tá fazendo não é o que eles acham que você tá fazendo, porque eles acham que você tá pichando na maioria das vezes. Como o meu trabalho é preto e branco, na hora que eu tô fazendo ainda, não dá pra saber o que vai ser no final, então é nessa hora que o bicho pega. Mas nesse caso específico, a gente foi, aí todo mundo entrou, todo mundo não, eu e o câmera fomos de camburão até a Subprefeitura da Lapa, porque eu tinha jogado um migué nos caras que eu tinha uma autorização da Subprefeitura da Lapa, aí eles falaram: “É, é mesmo? Então vamos lá”. Aí a gente teve que ir lá, no meio tempo eu consegui entrar no Facebook, pedi pra alguém se alguém tinha um contato da Subprefeitura da Lapa e aí um artista das antigas, que mora aqui perto, eu nem sei se eu posso, se eu devo falar, mas, enfim, ou dar nomes.
P/1 – Não precisa dar nome.
R – Bom, é um artista das antigas aí ele me passou, foi até engraçado, que ele falou assim: “A minha ex-mulher, o atual secretário de educação tá casado com a minha ex-mulher”, então aí me deu o nome dele e aí no final me salvou mesmo, porque daí eu cheguei lá e falei do cara e eles falaram: “Não, mas ele não trabalha mais aqui”, daí eu falei: “Ah, é isso, por isso que não deu certo” e aí no final acabei me safando, porque deu tempo de fazer tudo isso. Mas no final, posso falar? Até os polícias gostam, eu mesmo, nesse mesmo dia que eu tava lá, na hora que eu entrei no camburão, o cara falou assim: “Pô, bem louco seu trampo, hein meu, da hora”, e mesmo assim me levou pro negócio.
P/1 – Agora, vem cá, a gente tava falando do reconhecimento internacional, dos convites que você já recebeu pra fazer trabalhos, podemos falar até fora de São Paulo, mesmo que seja no Brasil ou experiências internacionais, como essa que você contou da Coréia do Sul, como que começou isso?
R – Acho que uns três anos atrás eu, por conta própria, resolvi ir pra... Tinha um amigo meu que mora em Londres e eu tava aqui, morava aqui, na época era solteiro, não tinha, não trabalhava mais pra ninguém, juntei uma grana e fui pra lá. Ninguém me convidou, não foi nenhum evento especial, só que eu fui pra lá por conta própria e pintei, eu fiquei lá acho que uns quarenta dias, eu pintei uns trinta murais lá, e aí na Europa, principalmente nessas cidades, eles são mais ligados nisso e lá a gotinha, a pedrinha no lago, ela reverbera muito mais. Esses trinta murais que eu fiz lá deram um grande impacto pra eles, então a partir dali as coisas começaram a acontecer, então eu tive que ir lá fazer o corre e aí depois disso foi aparecendo. Aí me chamaram pra participar, pra pintar em Miami, depois fui pro Canadá, França, Alemanha, Holanda.
P/1 – Aí nesses casos é um job que você vai fazer, específico, como funciona?
R – Eles chamam, existem festivais no mundo de arte de rua, da qual eles liberam uma empena pra você ir lá pintar ou, por exemplo, esse foi um caso específico, no Canadá ou na Holanda, lá eu fui pra pintar um muro, na Coréia também eu fui pra pintar um prédio, já tem outros casos que eu fui pra fazer, pra pintar um quadro ou pra pintar uma loja, mais ou menos assim.
P/1 – Me conta, faz uma análise, por favor, do que você acha, não precisa ser uma análise teórica, acadêmica, da sua experiência da cena da arte de rua, do grafite em São Paulo, até colocando em perspectiva com o mundo. Como é aqui? O que representa pra Cidade de São Paulo isso hoje? O que tem de único aqui ou não?
R – Olha, eu acho que São Paulo tem uma vantagem muito grande, a gente tem essa liberdade dentro da cabeça, então aqui as pessoas falam assim: “Eu vou pintar aquele lugar” e elas vão lá e pintam. Fora do Brasil não é bem assim, até rola, mas as leis são um pouco mais duras lá, aqui você consegue negociar, você consegue, é o tal do jeitinho brasileiro horrível, que eu odeio, mas aqui ele é muito mais, no sentido prático da coisa. Então aqui você tem muita pichação, eu diria que São Paulo é a cidade da pichação, na sequência você tem o grafite, e é muita gente que faz isso, tem muita gente boa também fazendo isso. A diferença daqui do Brasil pra fora é que aqui, antigamente, o pessoal fazia muito com látex, porque os sprays custavam caro ou não tinha spray, então fazia muito no rolinho, acabou virando meio que uma identidade brasileira, o Brasil tem uma identidade de grafite, as pessoas até chegam, até reconhecem. Muita gente com estilos diferentes, mas ao mesmo tempo, muito únicos e você vai pesquisar, muita gente veio do nada, muita gente, o mundo, tem muito a referência do hip-hop americano, o grafite de Nova Iorque, tal, aqui em São Paulo tem também, mas junto com isso tem uma galera que fez uma coisa muito autêntica e brasileira, que era o caso dos caras que realmente, Os Gêmeos tinham, Espeto, Honesto, tem uma galera aí que veio com essa coisa do grafite do Brasil, o grafite com identidade brasileira, com cara de Brasil, e isso reverberou no mundo. Então você vai pra fora, lá fora eles têm um, eles pagam o maior pau aqui pro Brasil, acham incrível, acham lindo, é legal ver, mas a diferença maior tá no jeito de pensar, lá eles são mais, que nem eu falei, essa coisa do grafite, street art, ser diferente, exatamente porque, por exemplo, lá fora o grafite tem muito mais essa carga do vandalismo do que aqui. Aqui já mistura esse pessoal que faz mural com o pessoal do grafite, lá é assim, grafite é quem faz isso, ponto.
P/1 – Como que vocês enxergam o pichador no meio desse contexto?
R – Então, muito grafiteiro veio da pichação, você pode até não gostar, mas você tem que aprender a conviver, porque, querendo ou não, acaba sendo meio que um primo, um irmão porque ele usa spray, tá na rua igual você, na ilegalidade muito pior do que a sua. Eu acho que existem algumas regras de convivência que fazem tudo fluir numa boa, mas faz parte, eu, no caso, eu gosto, eu gosto de ver acho, eu gosto de ver os caras que são mais audaciosos, que sobem nos prédios, é uma referência pra mim, mas só por aí também.
P/1 – Mas quais são essas regras de convivência que você falou que tem?
R – Ah, são meio básicas, você não passa, eu não vou fazer um trabalho meu em cima de uma pichação, entendeu, assim como ele não vai fazer uma pichação em cima do meu trabalho e aí, se você for continuando, se você for nessa toada, cada um respeitando o outro, tudo vai numa boa.
P/1 – Mas você já teve algum problema?
R – Ah, sempre tem, sempre tem, é porque tem sempre, como eu já fui o mais novo e que não sabia desses bagulhos e fiz merda, eu fiz, também tem os moleques que são mais novos e que atropelam o seu, você atropela o dele. Existe um ditado que fala assim: “A rua sabe e a rua cobra”, entendeu, então uma hora você é cobrado por isso que você faz, na rua mesmo, então não tem como passar despercebido, você acha que ninguém tá vendo, você acha que ninguém vai ver o que você fez.
P/1 – Mas já teve episódio de chegar às vias de fato?
R – Já, já, já, claro, de colar assim, opa, várias vezes.
P/1 – E aí?
R – Aí tem que resolver na ideia, não saí na mão, você tem que resolver na ideia, tem que falar, explicar, às vezes o cara vai entender que você não manja nada ou ele vai, você explica o que aconteceu, porque tem muito dessas de não saber a procedência das coisas, mas é uma briga constante no meio, né?
P/1 – E essa galera do grafite é uma tribo, tem uma convivência, são muitos grupos? O que se faz, qual é a convivência?
R – O grafite é mais do que simplesmente uma coisa que você faz, é um estilo de vida, então desde a roupa que você usa, o som que você escuta, a maioria dos amigos acaba sendo também do grafite, as conversas acabam, é uma galera, todo mundo se conhece. São raras as exceções de gente que tem um caminho muito fora dessa curva e que faz isso também, no final todo mundo se conhece, é um grupo, não vou falar fechado, mas é um, tem muita gente fazendo, mas todo mundo sabe quem é todo mundo.
P/1 – Essa galera, o que essa galera faz em São Paulo quando não tá grafitando? Por exemplo, você gosta de música?
R – Não sei.
P/1 – Não, mas, tipo, a sua turma, digamos assim, entendeu?
R – Ah, tá, ah, cara, a gente tem, a gente gosta de várias coisas, é que nem eu falei, depende da sua amizade. Eu tenho muito amigo do ABC, por exemplo, então eles vêm pra cá, a gente sai pra pintar, a gente viaja junto, vai pra praia, eu ando muito de bicicleta. Então eu tenho meus, tenho vários vizinhos que são grafiteiros, o Paulo Ito, que é excepcional, que trabalha, é meu vizinho aqui, excepcional no sentido de ser muito bom, tá, não de ser, ele, a gente sai pra andar de bicicleta, toma uma, acho que o comum, não chega a ser tão diferente assim, não é que é tão especial, diferente, assim.
P/1 – E o grafite, e também as pichações, pra paisagem de São Paulo, o que você acha que ele representa?
R – Ah, eu acho que faz, São Paulo, eu acho que faz parte já, cara, tá engrenhado no meio, principalmente a pichação, que é o que tem mais, então pra mim, um retrato de São Paulo é um muro lindo e pichado, porque sempre foi assim, nunca vai conseguir segurar essa galera, e o grafite é isso, se você vai pra... São Paulo é considerada a Meca do grafite, o lugar onde tem muito grafite, sabe?
P/1 – Você acha que em termos de visual urbano, da paisagem urbana, se destaca em relação à média, por exemplo, das outras grandes cidades do mundo?
R – Ah, com certeza, com certeza, é isso que eu disse, porque, por exemplo, você pega Nova Iorque, onde tem uma lei anti-grafite muito pesada, você pega outras cidades que têm muita câmera na rua, e aqui você não tem tudo isso. E mesmo a prefeitura pintando de cinza os grafites, que eles fazem isso, a gente vai lá e pinta de novo, e a cidade acaba absorvendo isso também, então acaba meio que passando um pano também. Vamos dizer assim que a população, de uma certa forma, não todos, mas tá do nosso lado, então tirando que São Paulo, com todo o respeito, é uma cidade horrível, é cinza, mal organizada, suja, nojenta, cheia de gente na rua, trânsito mil, eu posso te dar milhões de ideias aqui que são, que falam que São Paulo, rio poluído. Eu acho que o grafite e a pichação são o reflexo da Cidade de São Paulo, essa sujeira que a gente faz. Eu acho que o grafite e a pichação são o reflexo da Cidade de São Paulo, é um espelho do que acontece, então você tem uma cidade que é poluída, suja, cheia de corrupção, tudo errado, educação, saúde, rouba na merenda, rouba não sei aonde, e aí você tem esse reflexo na rua, a galera vai lá e manda à merda, picha tudo ou pinta tudo, porque você tem também esse viés. A gente vai lá e ocupa a cidade, o grafite mostra que a cidade é viva, que tem gente vivendo ali, que a gente não é só um bando de boi dentro de um, não é um bando de gado, simplesmente segue aí o que faz, a gente pensa, tem vontade e toma atitude de tomar a rédea, mais ou menos isso eu acho.
P/1 – Deixa eu fazer um parêntese na história do grafite, só porque você falou duas ou três vezes na entrevista que você gosta de andar de bicicleta.
R – Certo.
P/1 – E a gente tá, tipo, na época da bicicleta em São Paulo, digamos assim. Onde você costuma andar aqui? Como você vê esse momento da cidade com essa valorização da ciclovia? Se você já se envolveu com algum problema, porque até isso tem acontecido, tem embates.
R – Ah, cara, eu sempre andei de bicicleta em São Paulo, desde que eu tenho uns doze anos eu já ando de bicicleta em São Paulo, que nem as pessoas, que nem nego anda de skate, eu andava, ando de bicicleta, então eu vou na contramão, ando pra lá, ando pra cá, subo não sei aonde, isso na época que São Paulo era mais desorganizado, então eu desorganizava também e aprendi a andar de bicicleta, sempre andei. Com o tempo que foi passando e os movimentos de bicicleta começaram a aparecer, os night bikers, bicicletada, existiam vários que foram dando essa, é importante acostumar as pessoas com o ciclista, e agora que tem as ciclovias, eu acho incrível. Eu, pra mim, por exemplo, daqui até o Centro, na casa da minha namorada, tem ciclovia daqui até lá, então eu acho incrível, eu acho que é assim, eu espero que só aumente. É ridículo achar que, porque a cidade só tem carro e só tem rua pra carro, que é uma cidade que não tem ou que não pode compartilhar das ruas com o ciclista, o ridículo é o motorista ou quem quer que seja se sentir dono do lugar e querer descontar a frustração dele num cara de bicicleta.
P/1 – Não só nesse momento de agora, porque eu acho que a bicicleta, acho não, com certeza a bicicleta é um artifício pra você interagir com sociedade, ao contrário do carro, se você desde os doze anos anda de bicicleta, você teve muitas experiências de interação com aquele espaço urbano, com aquele espaço público. Nesses momentos teve algum episódio, enquanto você na bicicleta, que sei lá, ou alguma descoberta ou alguma distância que você tenha percorrido?
R – A maioria dos lugares mais legais que eu conheço em São Paulo eu descobri andando de bicicleta, becos, uns mini atalhos, vilinhas que você encontra, isso é só andando de bicicleta ou a pé, de carro você não entra nesses lugares. No caso que eu, de pintura, mais ainda, que você tá andando e você já vê aonde que é, o que é, bicicleta é um meio de transporte dos mais legais possíveis, néprincipalmente por isso, lógico que, é isso que eu tô falando, não tô querendo, é porque o pessoal lutando tanto aí pro ciclista ser respeitado, aí eu vou e cago tudo, mas eu, quando, já era, como eu aprendi a andar de bicicleta em São Paulo, eu era mais rebelde, então eu andava na contramão, não, atravessa o sinal a hora que quer, meio sem regras, e isso dá uma sensação de liberdade. Hoje em dia eu já respeito mais, porque pra ser respeitado, mas esses lugares, São Paulo oferece isso pra você, existem várias São Paulos dentro de São Paulo. São Paulo não é só aquela visão do helicóptero de cima, com aquele mar de prédio, você tem o centro, que é um monte de prédio, mas no meio desses lugares tem uma vilinha super antiga que tem várias casinhas, eu acho que descobrir os bairros só desse, ou a pé ou de bicicleta, ou moto, sei lá.
P/1 – Pra acabar, começar a acabar, eu vou fazer umas perguntas mais objetivas, tendo como pano de fundo a cidade. O que você mais gosta de São Paulo?
R – O que eu mais gosto de São Paulo? Eu gosto do dinamismo, muita coisa acontecendo, eu gosto de cidade grande, eu gosto da dinâmica de São Paulo.
P/1 – O que você menos gosta em São Paulo?
R – Eu não gosto da, eu ia falar das pessoas, mas não, eu tô sendo, eu tô exagerando, eu não gosto do trânsito, eu não gosto do excesso de gente, eu não gosto da parte burocrática, eu odeio a Vila Olímpia, eu não gosto, eu não gosto de ver o descaso, por exemplo, com a cidade, eu odeio o Rio Tietê, por exemplo. Não é que eu odeio o Rio Tietê, claro, desde que eu me conheço por gente tão falando que vão limpar o negócio, então eu odeio, ah, não sei, acho que, sei lá, acabei sendo meio clichê. Mas eu acho que São Paulo tem dessas de você ser multi, mil coisas, mil nacionalidades, milhões de pessoas, e isso eu gosto, vida noturna é muito boa, shows, um lugar mais agitado, eu gosto disso, agora, em consequência você tem essas coisas, trânsito, burocracia, é uma cidade cara.
P/1 – O que você acha que São Paulo tem de único?
R – São Paulo tem um caos, um belo caos, a desorganização de São Paulo, milhões de arquiteturas misturadas, falta de urbanismo, ao mesmo tempo dos bairros, que são misturados, acho que isso faz da cidade, esse caos dela faz ela ser um lugar único.
P/1 – Uma palavra pra descrever São Paulo.
R – Sujeira, não sei. São Paulo? Eu acho que São Paulo é a cidade da, me fugiu a palavra, eu acho que uma palavra, se for uma palavra com sentido negativo, eu diria desigualdade, no sentido positivo eu diria diversidade.
P/1 – Se você pudesse morar em qualquer outro lugar do mundo, você continuaria morando aqui ou moraria em outro lugar? Por quê?
R – Ah, não, eu tô louco pra sair daqui, eu acho que qualquer pessoa não deve morar muito tempo num lugar só, na verdade, eu acho que qualquer lugar que você ficar um tempo não vai ser saudável pra você. Eu acho que São Paulo, é isso que eu falo, São Paulo, o que tem de bom ao mesmo tempo tem de ruim, te consome, não é um lugar fácil, porque ao mesmo tempo que eu tô aqui num bairro gostoso, amanhã tem um prédio subindo aqui na minha frente, não tem como frear o tal do progresso. E a gente mora no Brasil, onde você nunca sabe o que vai acontecer no dia de amanhã, então eu acho que se eu pudesse morar em qualquer outro lugar, eu não continuaria morando aqui, eu voltaria pra cá ocasionalmente.
P/1 – Última pergunta, depois eu vou perguntar pra turma aqui se eles têm alguma pergunta, mas a minha é a última pergunta. Qual é o seu sonho no momento?
R – O meu sonho é ser nômade, eu quero viajar o mundo inteiro, continuar viajando, mas eu quero numa continuidade, eu não quero voltar pra cá, eu quero seguir, ir embora.
P/1 – A turma que ouviu tem alguma pergunta, alguma história?
R – Uma cor?
P/1 – Tem alguma coisa, alguma história, alguma passagem que a gente não abordou aqui que você gostaria de falar ou você acha que seria pertinente?
P/3 – Eu tenho uma pergunta, de falar da relação dele com o bairro, essa coisa de fazer um mutirão de limpeza.
P/1 – Muito boa, muito boa lembrança, a gente tava falando mais cedo disso, daquela sua preocupação. Como que você vê essa relação do cidadão com a cidade dele?
P/2 – E qual é a sua?
R – Eu acho que as pessoas têm uma ideia de que São Paulo devia ser empregada dele, elas não têm muita preocupação com a parte, com o beco que fica ao lado da casa delas ou com, sabe, se alguém derrubar um lixo ali, esse lixo fica lá, ninguém faz nada. Então as pessoas precisam entender que essa cidade é delas, mas que elas precisam fazer alguma coisa, não dá pra você ficar esperando o poder público fazer, porque ele não vai fazer, ele só vai fazer se você colar nele e falar que ele tem que fazer, mas pra isso precisa que você levante e faça. Eu acho que eu passo, aonde eu moro eu tento fazer isso, não sou nenhum líder comunitário nem nada, mas, se eu não faço por mim... Entendeu?
P/1 – Isso me fez lembrar justamente do beco onde a gente tava agora e daquilo que você tava falando, falou meio por cima dessa sua relação, do que você faz ali, até das frustrações que você falou.
R – Certo, o beco, esse beco tá atrás da minha casa e o que acontece, é um beco que quando eu mudei pra cá, não tinha luz, era cheio de lixo, mal asfaltado, iluminação precária e, desde que eu vim pra cá, não que eu tenha feito isso, mas as coisas vêm acontecendo de vários pequenos grupos, eu me incluo nessa, de entender que isso faz parte da minha rotina e tentar melhorar isso. Então o que acontece? É um beco onde junta rato, por causa de sujeira, e aí esse rato vem pra onde? Vem pra minha casa, então o que que eu tive que fazer? Comecei, aqui já rolou vários mutirões pra limpar o beco, pra colocar lata de lixo, pra pintar uns murais pra deixar um lugar mais agradável, já que muitas pessoas transitam por ali, mas mesmo quando você limpa, no dia seguinte alguém vai lá e suja. Exatamente, é uma coisa assim, chega a ser até engraçado, porque o sujeito anda na rua, eu lembro quando eu tinha dez anos, há vinte anos atrás, ninguém catava cocô de cachorro na rua, o cachorro cagava e ficava ali, aí algumas pessoas começaram a pegar, não sei o que, e hoje em dia, graças a Deus, se você deixa o cachorro, é vergonhoso, é constrangedor. Só que quando entra no beco pode, é porque é o quintal, é o banheirão do bairro, só que é uma falta de respeito com as pessoas que têm a casa colada ali, no meu caso também, então, por exemplo, depósito de entulho, você tem pra quem recorrer pra tirar esse entulho, mas liga onde? Mas põe onde? No beco, aí o que acontece? Chove, alaga, aonde vai parar esse entulho? Entope aí, sai andando por aí, vai, machuca todo mundo. As pessoas têm que parar de achar que alguém vai fazer alguma coisa por elas e começar a fazer, é o único jeito da gente entender e tomar conta, a gente mesmo.
P/1 – A Tati tava contando mais cedo daquela história de ter uma enchente, o sofá, como é que foi?
R – Aqui, essa região tem um, rola, tem um problema de enchente, não tão grande, mas já foi muito pior, na região da Pompéia, lá mais pra baixo, tem rios que passam aqui embaixo. Então o que acontece? Quando alaga, alaga geral, teve uma chuva forte que caiu, fez um, alagou forte, o beco virou um mar e o meu carro que tava ali próximo, que ficou, tava sendo agarrado por pouco ali pelo chão e aí o que tirou ele pro mar de esgoto foi um sofá que veio, veio do beco, veio lá de longe, veio nadando por aí até chegar aqui. E agora você imagina se é uma pessoa. E os dejetos que vão passando ali por baixo, tudo isso é responsabilidade nossa, só que as pessoas teimam em falar que isso é culpa de poder público, me irrita um pouco isso.
P/1 – Me fez lembrar agora de uma última pergunta, agora é a última mesmo. Nos trinta e poucos anos seus de São Paulo, o que você vê de transformação, de uma modo geral, na cidade?
R – Olha, transformação mesmo, eu acho que eu vejo essa transformação um pouco mais recente, na verdade, porque São Paulo sempre foi uma cidade que não aproximava as pessoas, as pessoas acabaram se distanciando, tem gente que chega aqui em casa e liga, me liga no celular, eu falo: “Você poderia tocar a campainha, cara, funciona”. As pessoas vão acabando se distanciando, elas moram em prédio, não falam uma com a outra, então eu acho que essas culturas de aproximar as pessoas, seja ela em parque, ciclovia, shows. A gente teve aí uma, de uns tempos pra cá teve essa coisa, eu não vou falar uma moda, mas um lance de ocupação, então as pessoas ocupando praças, ocupando lugares públicos, fazendo festa, que seja, ocupando prédios abandonados e fazendo atelier. Nisso eu vejo uma mudança muito mais importante, que é na cabeça das pessoas, porque a gente tem uma mania de seguir a lei de uma forma que ela inibe a gente de tentar coisas novas. “Nossa, ficaria lindo um mural aqui, mas eu não posso fazer, porque eu não sei, ai, de quem que é o dono, ai, mas o prefeito, ai, não sei o que”, faz, caralho, sabe, assim, eu não sei. Eu tenho um pouco desse pensamento: “Nossa, mas seria legal se tivesse um lago aqui nessa praça”, não tem um rio que passa embaixo, pronto, acha um cara aí e cava. Eu acho que são essas pequenas coisas que tão, que eu acho que uma geração nova vai pegar isso já mais amaciado e isso vai melhorar pra frente, eu acho que a gente precisa dessas relações humanas, de mais gente, a gente tá tudo no mesmo barco aqui, precisa de um pouco mais de amor, as pessoas são muito da casa pro trabalho: “É a minha vida, eu tenho que chegar nesse momento, essa hora”. Acho que aproveitar a cidade na nossa vida mesmo, no sentido de qualidade de vida, porque eu acho que melhorou, não muito, mas melhorou.
P/1 – Cara, muito obrigado, foi muito, muito legal.
R – O prazer foi meu.
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