ENTREVISTA NA ÍNTEGRA Meu nome é Carlos Alberto de Souza. Data de nascimento 20 de abril de 71. Bairro Nilópolis. Rio de Janeiro. Meu apelido é Nat Drag e acho que fui eu mesmo que me dei porque eu fazia roupa, estampava e gostava muito de ouvir reggae. E tinha uma música com a qual eu me identificava muito. Aí eu fiz a marca e botei o nome Ai veio o nome Nat Drag. O apelido pegou por causa das camisas, das roupas. FORMAÇÃO E PROFISSÃO Estudei em colégio público sempre. Tenho apenas o primeiro grau e daí comecei a trabalhar com arte logo em seguida, depois do meu estudo. Sempre me identifiquei com artes plásticas. Depois comecei a andar de skate e daí a evolução toda porque o que eu faço agora foi graças ao skate. Se eu consegui hoje estar fazendo grafite foi tudo graças ao skate. Ser Grafiteiro Agora sou grafiteiro. Ser grafiteiro é acima de tudo você ter uma responsabilidade muito grande com o patrimônio. É você ter sentimento de fazer a pintura. Não é só chegar e desenhar não. Tem toda uma questão ideológica por trás disso. O bom grafiteiro, o cara que se diz grafiteiro mesmo, ele tem que ter esse conhecimento todo...O cara pra dizer: “Eu sou um grafiteiro” tem que ter conhecimentos básicos. Um dos conhecimentos básicos é você conhecer a origem do grafite. Onde surgiu? Onde ele está? Pra onde está indo e de que movimento ele faz parte? O que é a cultura Hip Hop? O grafite faz parte de um movimento chamado Hip Hop que foi um movimento que nasceu na década de 70 mais ou menos lá nos guetos jamaicanos. Aí veio para os Estados Unidos. As pessoas acham que é americano, mas não é. È um movimento de negros jamaicanos, mas com influencia altamente latina. Influencia nossa.A gente sempre tenta passar isso a limpo. A origem é altamente latina. Não só americana.. Brasileira até, digamos. Como é o meu grafite Basicamente me inspiro no dia a dia, no que eu vejo, no...
Continuar leituraENTREVISTA NA ÍNTEGRA Meu nome é Carlos Alberto de Souza. Data de nascimento 20 de abril de 71. Bairro Nilópolis. Rio de Janeiro. Meu apelido é Nat Drag e acho que fui eu mesmo que me dei porque eu fazia roupa, estampava e gostava muito de ouvir reggae. E tinha uma música com a qual eu me identificava muito. Aí eu fiz a marca e botei o nome Ai veio o nome Nat Drag. O apelido pegou por causa das camisas, das roupas. FORMAÇÃO E PROFISSÃO Estudei em colégio público sempre. Tenho apenas o primeiro grau e daí comecei a trabalhar com arte logo em seguida, depois do meu estudo. Sempre me identifiquei com artes plásticas. Depois comecei a andar de skate e daí a evolução toda porque o que eu faço agora foi graças ao skate. Se eu consegui hoje estar fazendo grafite foi tudo graças ao skate. Ser Grafiteiro Agora sou grafiteiro. Ser grafiteiro é acima de tudo você ter uma responsabilidade muito grande com o patrimônio. É você ter sentimento de fazer a pintura. Não é só chegar e desenhar não. Tem toda uma questão ideológica por trás disso. O bom grafiteiro, o cara que se diz grafiteiro mesmo, ele tem que ter esse conhecimento todo...O cara pra dizer: “Eu sou um grafiteiro” tem que ter conhecimentos básicos. Um dos conhecimentos básicos é você conhecer a origem do grafite. Onde surgiu? Onde ele está? Pra onde está indo e de que movimento ele faz parte? O que é a cultura Hip Hop? O grafite faz parte de um movimento chamado Hip Hop que foi um movimento que nasceu na década de 70 mais ou menos lá nos guetos jamaicanos. Aí veio para os Estados Unidos. As pessoas acham que é americano, mas não é. È um movimento de negros jamaicanos, mas com influencia altamente latina. Influencia nossa.A gente sempre tenta passar isso a limpo. A origem é altamente latina. Não só americana.. Brasileira até, digamos. Como é o meu grafite Basicamente me inspiro no dia a dia, no que eu vejo, no que eu vivo, nas pessoas com quem eu convivo. Então a gente quando vai fazer um desenho na parede, a gente já tem mais ou menos a idéia, e se estiver rolando alguma coisa que esteja desagradando até a gente mesmo, a gente até muda de idéia, passa a pegar aquilo que está em nossa volta. É questão de sentimento mesmo. Às vezes não é nem no desenho, até na própria letra, nas cores. Eu gosto das coisas muito coloridas e de estar chamando a atenção das pessoas. Pra quem grafita hoje em dia, o grafite virou até – digamos assim – profissão. E tem gente que não leva muito o lado ideológico do grafite pras paredes. Leva mais – como eu diria – comercial. Pra mim vale mais o sentimento da coisa, da tradição, da coisa da questão mesmo até do resgate. E a questão de você estar divulgando o teu trabalho até nas causas sociais. Porque o grafite ele é muito disso. Ele veio por causa disso. Mas tem muita gente hoje que desvia, não faz mais isso. Não deixa de ser grafite, mas pra mim, o grafite é o ideológico. Até hoje continua sendo. Eu faço grafite há quatro anos, e sempre fiz na mesma linha. Eu me sinto bem fazendo esse tipo de coisa. Minha linha no Grafite A linha que eu sigo é exatamente retratar o que eu vejo e o que eu passo. É o que eu costumo fazer sempre e passo pros meus alunos isso. A questão da ideologia, a questão de você saber o que está acontecendo na tua volta. E todas as coisas que acontecem, não só à tua volta, mas fora também, retratando o nosso dia a dia. Sempre procuro passar isso para o pessoal, para que eles tenham essa noção de que não é só chegar, colocar o nome e: “Fiz um grafite ali.” Você tem que passar alguma coisa. Porque o grafite sempre foi um instrumento de mensagem, mensagem mesmo de protesto. Eu sempre procuro passar isso. Essa é a minha linha que eu sigo e que eu tento passar pra galera. Não obrigo. Eu falo pra eles: “Olha, isso aqui é interessante fazer. Se vocês quiserem fazer, tudo bem. Senão fica tranqüilo também. Mas o bom seria esse.” O que é um bom grafitiero Primeiro ele tem que se identificar com a história, com a cultura e querer aprender. O grafite não é difícil. As pessoas acham que: “Ah. eu não sei nem fazer uma linha reta.” Mas se você se dedicar, você aprende, como qualquer outra área. Se você se dedicar e tem vontade de aprender, você vai lá e faz. É basicamente isso: a força de vontade de aprender. Minha trajetória Eu lembro do meu primeiro grafite. Não foi nem grafite. Foi pichação. Eu fui pichador Pra chegar no que eu cheguei hoje, eu pichei muro, tomei muita corrida, tomei tapa na cara. Mas, acho que foi preciso fazer isso para eu estar fazendo isso aqui hoje, que é o grafite. Eu passei por esse processo todo, como a maioria dos jovens hoje passa. Hoje em dia está até mais fácil porque tem uns que nem passaram pela pichação. Porque tem vários cursos de grafite. Então o cara já se identifica e vem logo fazer o grafite. Eu não. Eu sou, como se diz, da old school, da velha escola. Eu comecei pichando mesmo, em parede. Pichei até meu colégio. Mas acho que foi preciso fazer isso aí para eu saber que eu tinha um potencial dentro de mim pra poder fazer coisas melhores. Eu transformei isso.Parei a pichação e vim fazer o grafite. Pichação? Grafite? Qual a diferença? Existe uma diferença, mas não podemos descrimina -la porque a grafite veio da pichação. Na pichação, você chega lá, pega um spray, tem um patrimônio e você suja. Risca o teu nome e vai embora. E continua riscando. Você já tem um nome na cabeça e vai lá, risca e vai embora. Só isso. O grafite sim. Você para, você elabora o desenho, você discute, você sabe o que vai fazer. O grafite é mais elaborado. O pichador é um artista em potencial. Ele é um artista sim, só que ele não chegou a reconhecer que ele pode fazer coisa melhor. Ele é um artista sim. Claro que é. Porque você escalar uma parede de 10, 5 metros sem escada. O cara tem que ser artista. Tem que ter coragem. Pra fazer só o nome? Acho que é um artista sim. Claro. Agora, a partir do momento que ele tem contato com o grafite, ele conhece, aí sim. E 99% dos pichadores que eu conheci, a maioria hoje está fazendo grafite porque se identificaram. Eles ficavam muito presos e não tinham informação. Hoje em dia eles tem informação. Porque tudo é questão de informação. E graças a Deus, hoje a gente tem vários alunos, pessoas que começaram com a gente e estão fazendo trabalhos maravilhosos. Estão até – não digo vivendo – mas sobrevivendo de grafite. E eram todos pichadores. Você pergunta se eles querem pichar ou fazer grafite e eles: “Não. A gente quer fazer grafite, porque é muito melhor. Perdi até muito tempo riscando parede. Podia estar até morto.” O grafite tem essa coisa boa de ser mais aberto, mais “liberal”.Você pode fazer um grafite qualquer hora do dia ou da noite.As pessoas passam e não te importunam. Agora, se você está fazendo uma pichação, a mão sacode. O Grafite como trabalho Digamos que eu não vivo do grafite. Sobrevivo. Porque eu trabalho numa loja em Copacabana, mas o tempo que eu não estou na loja, eu estou fazendo grafite. Praticamente grafite direto. Eu tenho curso de grafite, faço palestras em faculdades, universidades, não só no Rio de Janeiro como em outros Estados. Então, quer dizer, é a minha segunda renda. Mas é a que me sustenta melhor. É o grafite, a arte em si. Duração do Grafite Eu estava conversando com um amigo meu que trabalha com arte aqui no Rio de Janeiro, e ele falou: “Pó. A gente nunca trabalhou a conservação do grafite.” Eu falei: “Eu já pensei em várias formas, mas graças a Deus o grafite não é eterno.” E não pode ser. Eternas são só o das cavernas, aquelas pinturas rupestres que a gente sabe. Porque o grafiteiro mesmo, ele não para, ele é um cara muito irrequieto. Então, ele faz um desenho hoje, e é maravilhoso pras pessoas, mas pra ele, chega um dia que aquilo vai cansar.É igual fazer uma tatuagem. A gente enjoa da tatu e vai fazer outra. O grafite a mesma coisa. Você faz obras maravilhosas, você fotografa, as pessoas filmam, você tem aquele registro. Mas vai chegar um dia que você mesmo vai ficar enjoado daquilo. Então você vai lá e cobre. Mas o bom é que seja registrado logo porque hoje em dia está acontecendo uma coisa aqui no Rio. Você faz um grafite bom, aí vem uma galera e pichação por cima. Apesar da conscientização que houve, existe uma guerra paralela: a pichação e o grafite. Um veio do outro, mas tem os caras que nunca vão fazer grafite. Já falaram: “A gente picha.” E eles picham. Se você faz um grafite em cima, eles vão lá no dia seguinte e picham seu grafite. Que nem uma guerra. Preservar não tem como. Você perde. Então o cara faz um grafite bonito hoje, e amanhã o cara acha que tem que pichar em cima vai lá e picha. E aí o cara do grafite ficou incomodado, vai lá e faz outro grafite em cima de novo. Não tem como preservar um grafite a cinco ou seis anos. A menos que a pessoa chegue e tombe o muro, e fale: “Aqui está tombado. A gente quer esses grafites pra ficar eternamente.” Aí talvez fique, até porque o material que a gente faz, não agüenta cinco, seis anos. Com o tempo começa a descascar, por mais tratado que seja o local. Então, graças a Deus que não é eterno, porque a gente sempre vai poder estar renovando. A gente não quer que seja eterno mesmo. Sempre quer renovar. Meus trabalhos em Grafite Dos grafites que eu fiz, não tem nada para dizer que “esse foi o meu grande grafite”, porque cada coisa que você faz, você quer fazer sempre um grande grafite. E talvez o que eu faça hoje seja o maior do que eu fiz ontem, ou o mês passado, e o que eu vou fazer amanhã seja maior do que eu fiz hoje. Quer dizer, não dá pra dizer. Mas tem uns que marcam a gente. O que me marcou muito foi em Juiz de Fora. A primeira oficina de grafite que teve lá fui eu que fiz, num colégio. E eu vi assim todo o pessoal reunido pra ver um grafite,que eles nunca tinham visto. E foi no muro de um colégio. E daquele dia, depois daquele dia, mudou a história do grafite, da arte e do Hip Hop em Juiz de Fora. E foi um desenho tão simplezinho. Foi um rosto expressivo, olhado para o lado e o nome muito grande, escrito com várias frases de efeito até mesmo para o próprio colégio. Eu fiz. E a diretora do colégio, depois quando veio ver, ela chorou, se emocionou e todo mundo do colégio queria fazer grafite. E aí veio o Prefeito, veio o Diretor de outros colégios. E ali pra mim foi, digamos, um grande grafite, porque a gente trabalhou a sensibilidade das pessoas. Ver as pessoas chorando com um desenho daqueles. E teve artistas plásticos lá, que já não estavam pintando há mais de três anos, eu convidei, e eles pintaram também o muro.Do jeito que eles queriam pintar. Aquele então foi um grande trabalho. Foi um trabalho coletivo na verdade, porque eu comecei e a galera terminou. Então, aquele foi um bom grafite. Agora, os que eu faço também são grandes. Às vezes eu faço um homenzinho só, mas pra mim é grande, porque as pessoas olham, perguntam, querem saber...Pra mim é sempre um grande. Até um homenzinho desse tamanho é grande. Meu estilo no grafite Meu estilo é o que eu assino. Quer dizer “rei” na linguagem afro, mas ao mesmo tempo é resposta ao sistema. E o meu estilo é estar sempre falando alguma coisa contra esse sistema aí. Esse é o meu estilo. E sempre usando as cores – é sempre possível dizer - amarelo e vermelho que são as cores da entidade africana. MORRO DOS PRAZERES Eu conheci aqui a comunidade dos Prazeres, tem mais ou menos uns dois anos e meio. Eu morava no Lar dos Guimarães, aqui em Santa Teresa e nunca tive a curiosidade de subir aqui, apesar de ter feito trabalho em outras comunidades como no Morro Santa Marta, na Rocinha e em várias outras comunidades do Rio de Janeiro. Mas nos Prazeres, nunca. Aí eu conheci o Denílson por acaso, que é um dos moradores daqui, e foi num evento de Hip Hop que ele me conheceu e falou da comunidade e me trouxe aqui. Eu fiquei louco com essa comunidade e deu vontade de fazer vários trabalhos aqui. Aí eu falei pra ele que trabalhava com skate, com grafite, com Hip Hop. E aí nós montamos aqui um evento de Hip Hop muito tempo atrás. Deu super certo, eu trouxe minha galera que dança e a galera do grafite. Foi o primeiro contato do morro com o grafite. E aí me apaixonei por essa comunidade e estou aqui há dois anos e meio. Estou aqui direto, não saio daqui. Faço trabalhos fora, mas sempre estou aqui, Ainda que não tenha as oficinas, eu sempre venho pra cá, porque eu amo essa comunidade. E o pessoal daqui me recebe muito bem. É amor mesmo. Eu acho que amor é amor. Uma das coisas é a receptividade da galera aqui. Foi muito boa. O pessoal é atencioso comigo, não me cobra nada. Também não cobro nada a eles. Me receberam muito bem. Muitas coisas aconteceram aqui depois que o grafite veio. Pra melhorar muito. Então, em todas as comunidades que eu trabalhei fui muito bem recebido, mas essa aqui é especial. Adoro essa comunidade. Adoro. Gosto tanto que quero vir morar aqui agora. Estou decidido a morar aqui O Morro dos Prazeres significa pra mim, trabalho, luta, dedicação, esforço, amor, enfim, uma série de sentimentos que não dá pra explicar agora, falando. Eu particularmente, se eu for falar do Morro dos Prazeres, vou passar dias aqui falando. Porque muita gente falou mal do Morro dos Prazeres, Eu estou aqui há dois anos e meio e nunca vi nenhuma atrocidade. Não estou puxando o saco de ninguém. E eu estou aqui quase todo dia. Participo, conheço de x a y aqui. E não sou da comunidade. Eles me tratam como se eu fosse da comunidade. Nunca vi nenhuma atrocidade. Já vi em outros lugares onde eu trabalhei, já vi mesmo. Então, eu sempre quero voltar pra cá. Eu estou longe, eu estou viajando, mas eu tenho saudades daqui, das pessoas daqui. As pessoas que trabalham realmente. As pessoas que às vezes não tem, mas tem ali pra te dar. Por isso que eu amo essa comunidade. Eu já passei aqui semanas no grafite. Tinha pessoas que não tinham ali nas suas casas comida pra eles, mas tinha pra mim. É gostoso demais. Eu já fui em muitas comunidades tipo Rocinha, Santa Marta, Vidigal, Canta Galo, Maré, mas Morro dos Prazeres, é diferente, eu gosto muito desse nome, é até sonoro. “Morro dos Prazeres.” Morro dos Prazeres e o projeto Grafite A principio, desde que nós começamos o curso, foi mais com a comunidade. Eu cheguei, conversei com o Denílson, conversei com o Flavio, com a Cris e nós articulamos aqui o curso de grafite. Acho que uma semana depois começamos o curso só com a comunidade. Tinha muitos pichadores aqui, e aí eu trouxe meu material, que eu tinha sem patrocínio nenhum, dinheiro do meu bolso mesmo. E a coisa foi tomando uma proporção muito grande. Veio gente de outras comunidades, veio gente que nem era de comunidade. Gente da zona Sul veio pra cá conhecer o trabalho. Já me conhecia e foi chegando, foi chegando, foi chegando e fizemos o primeiro evento de grafite. Depois participamos do Portas Abertas no ano passado, que foi um dos melhores eventos que teve de grafite ao vivo, no Rio de Janeiro, Pintamos o muro todo da entrada ali. Então, vem gente de todas as comunidades querendo participar, porque soube do curso aqui. A gente conseguiu também material pra dar continuidade na oficina. Porque a gente não tem patrocínio. A gente cata aqui, pede a um outro ali e graças a Deus, a gente sempre consegue. Pretendemos ficar até sei lá quando. Até quando a pessoa enjoar e disser que não quer mais grafite aqui. Agora, a gente está com esse projeto, com apoio da Shell, fazendo o grafite e dando continuidade, porque nós paramos no ano passado.Mas mesmo parado, eu sempre estava aqui na comunidade, me encontrando com a galera pra não perder ninguém. E hoje, a gente está mais ou menos com 20 alunos por turma e continuamos porque teve o lance bacana que não é só gente dessa comunidade. É gente de outras comunidades que vem e participa com a gente. Volta e meia somos convidados pra fazer grafite em outras comunidades, porque os alunos vêm e nos convidam. Nós vamos e visitamos. A gente vai a outra comunidade, vai implantando as coisas, porque o interesse nosso do grafite, não é transformar o cara num artista. É transformar ele em responsável pela sua comunidade, que ele pode melhorar. É o intuito do nosso trabalho. O projeto que eu desenvolvo é exatamente isso, que o cara melhore o seu ambiente e ele mesmo venham a fazer isso e estar convidando pessoas de outra comunidade. E ele depois disso, estar fazendo em outras. É isso. Eu estou muito satisfeito porque está acontecendo isso. Já está acontecendo. Já tem uns dois daqui que me auxiliam que são o Duí e tem o Suk que começaram o curso com a gente. Eles não levaram fé, mas foram os dois únicos que ficaram mesmo e já estão com nível de instrutores e volta e meia estão saindo já do morro pra fazer trabalho fora. Então, leva o Morro dos Prazeres pra fora. E eu fico mais satisfeito por isso. Pelos caras terem essa responsabilidade, de fazer a coisa e estarem levando o nome do morro. Porque eles são daqui. Até então não tinha nada disso aqui. Hoje tem e eles se orgulham disso. E eu fico mais orgulhos ainda por saber que nem sempre eu estou aqui, mas sei que eles estão fazendo as coisas. Estão levando o nome da comunidade pra outras comunidades. Eu fico muito satisfeito com isso e quero que muitos outros venham depois deles. A gente do Rio está ficando ligada à coisa do grafite. Está criando uma certa identidade, e o morro é uma referência. Das várias outras comunidades em que eu trabalhei com grafite o que mais repercutiu, foi aqui em Santa Teresa, talvez pelo bairro, pelas pessoas. Mas as coisas estão acontecendo e a gente sabe que é um trabalho árduo. Está sendo até hoje. Mas está acontecendo. É pelo trabalho que a gente tem feito. E eu acredito que muitas outras coisas vão acontecer, não só para o grafite, como para outras coisas que acontecem aqui. Mas, falando de arte, o grafite está em primeiro lugar. E a gente quer espalhar isso até pra outros Estados, saindo daqui, como a gente já tem projeto. Do Morro dos Prazeres. Esse aqui é o orçamento do nosso projeto, um dos primeiro trabalho que a gente faz com camiseta aqui na comunidade, porque alem do grafite eu estou fazendo um trabalho com a galera de silk e aerografia e esse é um dos trabalhos nosso. A gente tem uma marca aqui chamada Fuga, que é criada aqui, eu junto com os meus alunos, “Formação Urbana de Guerrilha Artística” que é a nossa logo marca aqui dos Prazeres. E a gente está fazendo essas camisetas aqui, está fazendo outros produtos que tem arte, grafite, air brache, silk screen. Aqui, a gente até podia formar uma empresa com a galera, auto sustentável SANTA TERESA Santa Teresa é um bairro histórico, tombado, com patrimônio preservado.Mas também Santa Teresa é um bairro muito pichado. Então, é como eu falava. Faltava informação. Vinha muita gente pra cá porque sabia que podia pintar o morro, mas não sabia que Santa Teresa era tombada como muitos outros patrimônios são tombados e as pessoas não sabem. Então, a galera mesmo do grafite está fazendo aqueles grafites mal feitos, aquele que o cara faz rapidinho e acabou.Porque a gente não estava com apoio mais pros cursos. Então foi preciso essa galera pintar mesmo, pichar, sujar, pras pessoas despertarem , e falar: “Olha. A galera do grafite está pichando, está sujando” Mas não era involuntário isso. De repente foi o mal necessário acontecer isso. Hoje a galera está mais consciente de que não pode grafitar, nem pichar, nem nada. A gente tem que manter em ordem o patrimônio e a gente está ganhando algumas coisas com isso, mas vamos ganhar muito mais. A gente está fazendo uma palestra com o Secretário de Cultura para explicar a ele a respeito disso e que isso sirva de referências pra outros lugares. Então que dizer, foi um mal necessário. Precisa acontecer isso para as pessoas acordarem. Até os grafiteiros mesmo que não sabiam. E a gente está assim. Todo mundo que vem aqui a gente fala: “Galera, tem patrimônio que não pode.Tem lugar que não pode. É tombado. A gente pode fazer noutro lugar. Procure com a Prefeitura, ou qualquer outro órgão, para que a gente consiga espaço pra gente grafitar, sem grafitar os espaços que são tombados pelo Patrimônio Histórico.” Então, isso está surtindo um efeito muito grande, porque antigamente vinha grafiteiros de outros lugares, para vir pichar aqui.. E a gente fica falando pra galera: “Galera, a gente tem que grafitar sim, mas nesses lugares não pode. A gente tem que conscientizar um ao outro”. E houve essa conscientização CASARÃO DOS PRAZERES Quando eu cheguei aqui estava o Casarão em ruínas. Era horrível isso aqui. Dava até medo. Parecia um castelo de bruxa, dava medo mesmo, estava caindo tudo. E o mais impressionante é o tamanho da obra abandonada ao lado de uma comunidade. Eu vi que o tempo foi passando, eu vi a galera fazer obras aqui eu não acreditei hoje, quando isso aqui ficou pronto. Eu até então não conhecia ele por dentro, porque além de fechado tinha os troços arrombado, era muito sujo, um cheiro horrível, não dava nem pra entrar. Agora com a reforma a gente vê a grandiosidade que é isso aqui do lado da comunidade. O que me deixa um pouco chateado as vezes é saber que a comunidade não participa das coisas que acontecem aqui dentro, e que está tão próximo. Mas não é culpa do Casarão é culpa deles lá mesmo, não se interessam. Então a gente sempre que pode a gente diz pra galera “olha, vai lá no Casarão pra participar, porque aquilo lá é teu também, está dentro da comunidade.” Tem muita coisa aqui interessante que às vezes eles não sabem e estão aqui do lado, do lado mesmo. Eu sei de tudo que acontece aqui porque é de lei eu passar aqui, eu subo às vezes o morro, venho aqui no Casarão ver o que está acontecendo. Já aconteceram exposições aqui que eu trouxe alguns grafistas pra ver, pra conhecer um pouco a história da arte e esse maravilhoso espaço aqui. Eu mesmo já fiz coisas aqui: já dancei brake, trouxe uma galera aqui, trouxe os by boys, trouxe uma galera que é maravilhosa pra dançar nesse Casarão, abri uma roda de brake ali, e disse: “um dia isso vai ser aberto pra Hip Hop e pra grafite também. Eu acredito”, Fazer uma exposição de grafite é o meu sonho. Fazer uma exposição de grafite aqui com a galera do morro e de outras comunidades também, trazer todo mundo pra cá, porque espaço tem, só falta gente fazer a nossa parte de conseguir, e eu acredito que a gente vai conseguir. Aí vai ser a minha grande realização: como grafiteiro fazer uma exposição de arte com todas as comunidades do Rio de Janeiro. AVALIAÇÃO DO PROJETO Eu achei interessante demais esse resgate da memória, porque as pessoas esquecem muito rápido as coisas e se não tiver um registro disso como é que você vai poder contar pro seu filho que você participou de um evento x, que você teve numa casa assim... Então eu acho isso importante demais e esse trabalho eu acho que é o primeiro - pelo menos que eu tenho informação - é o primeiro do Brasil. Eu acho que deveria continuar não só aqui com em varias outras comunidades também pra poder incentivar, porque as pessoas precisam saber o que acontece. Com um material desse eu acho que as pessoas têm a oportunidade de conhecer o trabalho de outras pessoas, conhecer até a vida mesmo. Então eu acho que é importante demais conhecer esse trabalho Eu desde já agradeço por estar participando desse documentário, porque pra mim é importante também porque é o meu trabalho que está sendo registrado, é o esforço das pessoas que está sendo registrado. São os vários depoimentos que vão está catando, vão estar passando e as pessoas vão estar se informando com isso. Na verdade isso forma opinião também.
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