P1 – Boa tarde, Juan.
R – Boa tarde.
P1 – Eu gostaria que você falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Juan Carlos Castilla-Rubio, Mar del Plata, Argentina, 7 de abril de 1963.
P1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Juan Castilla Mesa e Sola Rubio de Castilla.
P1 – Onde eles nasceram?
R – Ambos nasceram no Peru.
P1 – E quais as atividades dos seus pais?
R – Meu pai teve várias profissões, vários trabalhos, entre os quais, por exemplo, esteve na marinha peruana. Foi Ministro dos Transportes e Comunicações do Peru. Foi também Presidente da empresa de águas do Peru. Você (nomeia?) o setor, ele esteve lá. Teve muitas profissões. Estudou muitas coisas.
P1 – E sua mãe?
R – Minha mãe sempre foi dona de casa, a vida toda... uma grande gerenciadora de tudo.
P1 – Tem irmãos? Quantos?
R – Três irmãos: duas irmãs e um irmão. Somos quatro.
P1 – Juan, e a sua infância? Como foi sua infância? Como é que era o lugar onde você passou a infância? A casa, a cidade?
R – Minha infância foi quase toda em Lima, Peru, na cidade que é em frente do mar. Também minhas atividades estavam relacionadas com o mar, na praia e no mar. E alguma parte da minha infância passei, também, nos Estados Unidos, porque o meu pai ficou lá um tempo e a família toda foi junto. Fui muito feliz. Ia com... jogos relacionados muito ao mar, pela profissão do meu pai, marinheiro, e o primeiro filho.
P1 – Então você brincava no mar, na praia?
R – E velejava muito, competia muito. E estava até lembrando ontem de uma história muito engraçada. Aos nove anos, oito e meio, nove anos, meu pai e minha mãe me enviaram para uma viagem muito longa, de 35, 40 dias, sozinho num barco mercante a fazer uma grande viagem em Norte América. A essa idade, sozinho. Encomendado a um amigo dele. Ou seja, tive uma independência muito cedo na...
Continuar leituraP1 – Boa tarde, Juan.
R – Boa tarde.
P1 – Eu gostaria que você falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Juan Carlos Castilla-Rubio, Mar del Plata, Argentina, 7 de abril de 1963.
P1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Juan Castilla Mesa e Sola Rubio de Castilla.
P1 – Onde eles nasceram?
R – Ambos nasceram no Peru.
P1 – E quais as atividades dos seus pais?
R – Meu pai teve várias profissões, vários trabalhos, entre os quais, por exemplo, esteve na marinha peruana. Foi Ministro dos Transportes e Comunicações do Peru. Foi também Presidente da empresa de águas do Peru. Você (nomeia?) o setor, ele esteve lá. Teve muitas profissões. Estudou muitas coisas.
P1 – E sua mãe?
R – Minha mãe sempre foi dona de casa, a vida toda... uma grande gerenciadora de tudo.
P1 – Tem irmãos? Quantos?
R – Três irmãos: duas irmãs e um irmão. Somos quatro.
P1 – Juan, e a sua infância? Como foi sua infância? Como é que era o lugar onde você passou a infância? A casa, a cidade?
R – Minha infância foi quase toda em Lima, Peru, na cidade que é em frente do mar. Também minhas atividades estavam relacionadas com o mar, na praia e no mar. E alguma parte da minha infância passei, também, nos Estados Unidos, porque o meu pai ficou lá um tempo e a família toda foi junto. Fui muito feliz. Ia com... jogos relacionados muito ao mar, pela profissão do meu pai, marinheiro, e o primeiro filho.
P1 – Então você brincava no mar, na praia?
R – E velejava muito, competia muito. E estava até lembrando ontem de uma história muito engraçada. Aos nove anos, oito e meio, nove anos, meu pai e minha mãe me enviaram para uma viagem muito longa, de 35, 40 dias, sozinho num barco mercante a fazer uma grande viagem em Norte América. A essa idade, sozinho. Encomendado a um amigo dele. Ou seja, tive uma independência muito cedo na vida - para que os pais me mandassem sozinho num barco...
P2 – Com quantos anos?
R – Com oito e meio. Eu tenho uma filha de oito. Eu não faria isso com ela.
P1 – E como é que foi pra você? O seu sentimento? Como é que foi essa viagem?
R – Foi muito legal, porque a pessoa que cuidava de mim era o capitão do barco. Eu dormia nas habitações dele, mas mesmo assim me deram funções. Com essa idade, eu controlava todo o dia o sistema de medição do vento, as temperaturas, umidade. E eu me lembro muito bem de que tomava nota de tudo isso em um livrinho oficial deles. Então eu tinha uma função durante todo o dia. Não era só jogo. Tinha trabalho também, mas trabalho divertido. Uma viagem muito legal entre Estados Unidos e Canadá e por várias ilhas com muitas entradas e saídas de portos. Conheci muitas cidades também nessa viagem, onde eu fiz um diário muito divertido. Imagina, aos oito anos, a cada dia o que fazia e o que aprendia. Outra coisa engraçada dessa viagem é que também aprendi o que não devia aprender. Tipo: pôquer. Jogava todas as noites. Foi muito bom.
P1 – E em terra? Como que era a sua casa? Como que era o dia a dia? Descreve um pouco o lugar como era?
R – Lima era uma casa grande, com um jardim grande. E eu ficava muito lá fora, no parque que ficava em frente de casa, com muitos amigos do bairro brincando de bola. Era muito migueiro, muito jovem. Depois comecei a ser muito mais sério, a estudar muito. Não sei porquê. Foi uma mudança de estar muito na rua a estar menos na rua e mais dedicado a aprender e pegar o gosto pela aprendizagem. Tomara que meus filhos peguem também.
P1 – E além de velejar, do que mais vocês brincavam?
R – Tudo relacionado ao mar, então... Fui muito esportista. Agora não. Não tenho muito tempo, mas todos os esportes de raquetes. Todos. E todo tempo livre dedicava ou ao mar, ou a esportes de raquetes: tênis, pingue-pongue - vários esportes que têm no Peru e acho que não têm aqui, com uma parede só.
P1 – Squash?
R – Não. Squash também. Tem um que se chama frontón. Acho que em Argentina também se joga, mas aqui não. Uma parede só, que você joga contra a parede. Mas uma raquete especial, não é uma raquete que se encontra aqui. Enfim, jogos desse tipo. E jogos também relacionados ao mar: construção de barquinhos e a marcenaria. Muita marcenaria. Coisas com as mãos. Houve _______, acho, pela grande cercania minha com meu pai, que gostava de fazer isso e ele me ensinava.
P1 – E lembrança marcante dessa época? Você tem alguma?
R – Da infância?
P1 – É.
R – Acho que tanto a despedida para essa viagem espetacular aos oito anos, tudo o que fiz lá – porque me lembro de tudo – e a volta, ao reencontrar meus pais, foi a cena, acho que mais me marcou. Porque independência muito cedo, a confiança dos meus pais em mim, e voltar outra vez - não estou sozinho no mundo, tenho uma família. Fiquei sem comunicação também por um mês e meio naquela época. Não tinha internet. Telefone era muito caro.
P1 – Como é que foi esse retorno?
R – Foi bom. Por fim, tinha comida.
P1 – E nessa época, você já estudava?
R – Já estudava na escola. Nos Estados Unidos. Deve ter sido ensino fundamental, oito anos.
P1 – Com oito anos você mudou do Peru para...
R – Não, com sete, acho. Estive dois anos e meio ou três anos nos Estados Unidos naquela idade. Depois voltei várias vezes. E morando dos sete aos dez mais ou menos. Logo depois do primeiro ano, eu fiz essa viagem.
P1 – E como que era a escola? Sua primeira escola?
R – Era uma escola pública americana. Eu comecei a escola no Peru. Minha primeira escola foi...
P2 – Essa, como era?
R – Não tão boa como a Fundação Bradesco, isso eu posso garantir. Mas boa. As minhas lembranças são boas. Uma escola balanceada entre estudo e esporte. Muitas facilidades para fazer esporte.
P1 – E você estudou até que série lá?
R – Bom, séries correspondentes é difícil, porque são sistemas muito diferentes: peruano, americano e brasileiro, mas até os sete anos de idade. Comecei a estudar da pré escola você fala? um ano e meio, acho. Meus pais falam que comecei com um ano e meio. Eles não aguentavam que eu ficava em casa todo dia: “Vai para a escola.”
P1 – E como foi essa mudança de escola no Peru, depois para os Estados Unidos? Você lembra como foi a adaptação?
R – Excelente. Não lembro de nenhum problema de adaptação. Mudei muitas vezes depois. Sozinho.
P1 – E o inglês?
R – Aprendi facilmente. Eu já tinha um pouquinho de inglês, mas criança aprende muito rápido. E tenho boas lembranças da adaptação. Fiz amigos rapidamente nessa escola pública -Peace 54th, se chamava.
P1 – Como que era essa escola? O dia a dia? As disciplinas, as atividades? Você lembra?
R – Acho que como qualquer escola. Das 8 às 13 tinha 2 breaks, intervalos. Um para almoçar no meio da manhã e em combinação, dependendo do dia, muitas matérias diferentes. E esporte. Sempre muito esporte nessa escola em particular. E teatro também. Me lembro. Isso foi uma única vez que teve classes de teatro. Devia ter continuado.
P1 – E você participou?
R – Participei.
P1 – Gostou?
R – Gostei. Tenho uma boa lembrança... Não me lembro dos detalhes, mas gostei.
P1 – E disciplina? Qual você mais gostava?
R – Sempre gostei de ciências. Matemática... Matemática naquele momento: 8 anos. E ciências em geral. Mas voltei ao Peru depois disso. Aos nove anos fui para uma escola inglesa, equivalente a uma das escolas inglesas aqui em São Paulo. Aí foi onde, em paralelo à escola, comecei a trabalhar. Lembra que eu comentei com você que comecei a trabalhar cedo? “Cedo” aos 13 anos, como assistente mecânico. Fim dessa escola, já no Peru, com 16 anos, mais ou menos, o Diretor Geral da escola me convidou a ser candidato para uma bolsa na Inglaterra. Estudar na Inglaterra com uma bolsa integral. A ser candidato. E fiquei um pouco surpreso. Era um bom aluno, até aquele momento. Mas fiquei surpreso pela oferta da escola me nomear como candidato para essa bolsa internacional. “Você concorda?” “Concordo, obviamente.” E tive a sorte de ganhar essa bolsa e fui. A partir dali deixei a casa dos meus pais, aos 16 anos e meio, e fui para a Inglaterra para começar os estudos equivalentes aos 2 primeiros anos da universidade brasileira e peruana. São feitos em escola na Inglaterra. Mas o que eu queria falar pra você é que quando eu fiz essa imigração, na escola britânica você tinha que escolher quais matérias se concentrar. Por isso minha divergência à Inglaterra. E as 3 matérias que escolhi, e sempre concentrei a maioria do tempo, na parte de escola e universidade depois, foi física, química, matemáticas e biologia. Ciências foi mais matemáticas.
P1 – E como foi sua adolescência?
R - Minha adolescência continuava com muito esporte e com muito estudo, ao mesmo tempo. Era algo assim característico. Fui muito feliz na adolescência. Ela foi marcada por eventos de autonomia e independência que começaram cedo. Meus pais, outra vez, acho que tomaram a decisão correta de, pensando no futuro do filho, deixar ele ir para um outro continente, onde ele não tem família. Nenhuma. E ir morar numa casa, sozinho, aos 16 anos. Então eu acho que, vendo para trás, era uma criança madura e um adolescente maduro. Não fui um adolescente típico. Era mais maduro que a média, digamos, em termos de independência, saber o que queria. Sempre quis fazer uma diferença. Acho que por essa cultura que até comentava anteriormente, ou algo que está na família, de poder fazer algo pelo país, acho que não fui uma criança normal, que tem adolescência, muita festa. Sempre fui mais séria. Isso é o que meus pais falam também de mim. Fui mais sério.
P1 – E como é que foi essa mudança? Você voltou para o Peru e depois foi para a Inglaterra aos 16 anos?
R – 16 anos.
P1 - Como é que foi essa adaptação? Adaptação escolar, novo lugar...
R – Só pelo novo lugar, porque a língua já tinha. E por ser o sistema britânico de educação, não tinha muita diferença. Já estava preparado como se estivesse estudando lá. E simplesmente migrando de uma escola a outra. Então não teve um processo importante de mudança. Ao contrário, foram mudanças no sentido de... No primeiro lugar onde fiquei dois anos... porque completar em escola britânica e fazendo paralelo com o ensino brasileiro, educação brasileira, você aqui acaba a educação, 2º grau, e você decide ir a uma universidade por cinco anos, mais ou menos. Lá, no lugar de ter cinco anos a universidade, o sistema de educação é que alguns poucos decidem entrar em universidade, mas para fazer as provas para a universidade – que são muito restritas na Inglaterra, pouquíssimas – você tem que estudar mais dois anos na própria escola. Então estive nessa escola por dois anos, uma escola interna, internado. E nessa escola internado - era uma escola muito especial na Inglaterra, porque se juntavam pessoas de todo o mundo, incluindo ingleses, claramente, mas os ingleses eram minoria, ali conheci muitas culturas de jovens de 16 até os 18 anos, e pessoas realmente excepcionais que estão fazendo coisas muito interessantes no mundo todo. De mais ou menos 40 países. E conheci e vivia com eles. Por exemplo, uma história engraçada, muito engraçada, mas que me marcou também, foi de ver como, quando a relação é de um a um, como as pessoas logram falar sobre seus conflitos e resolver os conflitos. Esse era o caso de um palestino, da Organização para Libertação da Palestina, mas que se vestia com o turbante preto e branco, da OLP - e com filho de pessoas da política israelita no mesmo lugar. E claro, nessa época, 1980, por aí, início dos 80, nessa época, tinha como agora conflitos importantes, de fundo. E lembro muito de reuniões que aconteciam nesta escola, fora das atividades normais, de uma grande exposição aos problemas do mundo, problemas políticos, sociais, filosóficos a uma idade muito jovem. Normalmente as pessoas não são expostas a estes temas. Então acho que essa escola também para mim, essa experiência... e assim muitos outros temas. Desenvolvimento dos conflitos do mundo. E conhecendo pessoas muito interessantes. Não só jovens, mas pessoas convidadas pela escola para nos falar.
(Troca de fita)
P1 – Qual o nome desse lugar na Inglaterra?
R – Esse lugar se chamava The International Center in Seven Oak School, no sul da Inglaterra, em Kent. Ali fiz as provas. Dois anos, etc, e entrei na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. E fiz química e engenharia bioquímica. Quatro anos mais. Então, no total, estive seis anos na Inglaterra. E logo voltei para o Peru. Mas essa é outra história.
P1 – E o que o influenciou mais para a escolha da sua carreira durante seus estudos?
R – Meu gosto natural pelas ciências e pelas matemáticas. Não me lembro de nenhuma situação marcante que me fez decidir entre uma e outra. Acho que foi um processo natural de gostar, descobrir, “como funciona o mundo”, ao longo de ser criança e adolescente. Não foi “agora tenho que decidir o que fazer de...”. Foi super natural.
P1 – Aí você se formou em engenharia e depois fez mestrado?
R – Sim, em engenharia bioquímica...
P1 – Em engenharia bioquímica?
R - ... e biotecnologia.
P1 – E depois você fez mais algum curso?
R – Anos depois. Dez anos depois, fiz um mestrado em administração na França.
P1 – Mais algum curso durante esse tempo?
R – Vários outros. Vários curtos. Em Tecnologia da Informação, por exemplo. Negociação. Vários outros.
P1 – E a sua formatura? Como que foi?
R – Formatura do?
P1 – Da sua escola na Inglaterra que corresponde ao nosso colegial. Antes da graduação.
R – Isso é interessante. Eu não tive formatura do 2º grau, que é quando acaba a escola, porque saí seis meses antes para esta escola na Inglaterra. Eu saí em junho, julho, por aí, do Peru para a Inglaterra, tomando os exames de finalização seis meses antes de todos os meus companheiros para poder efetivamente não perder um ano completo na Inglaterra, porque lá começa-se em agosto o ano escolar. Então esse ano, eu não voltei para a minha festa. Eu não tive efetivamente festa de formatura.
P1 – E do curso de graduação, teve alguma festa?
R – Ah, sim. Esse foi um cerimonial na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é um vestido especial - não sei se você viu alguma vez – com uma capa especial, com um chapéu. É uma instituição onde toda a cidade pára para a formatura dos alunos. Uma cerimônia marcante onde meus pais foram, toda a família. Muito bom. E grandes festas depois. Saí com a namorada no momento...
P1 – Juan, depois dos estudos, como é que foi sua vida? Começou a trabalhar? Como é que foi?
R – Comecei a trabalhar. Me casei cedo com a primeira esposa - também brasileira. E trabalhando em temas de desenvolvimento econômico, de alguma maneira desde o setor privado. Quando penso porque tenho uma afinidade tão próxima com a Fundação, é porque minha vida é parecida. Desde o setor privado trabalhando em temas de desenvolvimento humano. Então, comentei pra você também que logo chegando ao Peru, quase chegando ao Peru de volta da Inglaterra, já formado no mestrado em Engenharia Bioquímica, convenci o Presidente do grupo, este que me financiou a bolsa para eu ir à Inglaterra fazer estudos universitários -que foi outra bolsa diferente da primeira, para montar uma empresa em biotecnologia que focasse no desenvolvimento alternativo da Amazônia peruana para eliminar os cultivos de coca. E este senhor, um visionário, um senhor peruano visionário, já de muita idade naquela época, hoje deve estar com uma idade muito alta, aceitou o conceito, gostou muito do conceito, e juntos formamos uma empresa. E trabalhamos muito em levantar, naquela época, fundos de bancos em desenvolvimento – BID, Banco Mundial, Nações Unidas, etc...
P1 – BIRD.
E - ... para co-financiarmos nossa idéia, porque era uma boa idéia naquela época de tentar substituir os cultivos, como eu falei, e criar um mercado alternativo para os camponeses da Amazônia peruana, onde 60% das folhas de coca são cultivadas, e tentar promover outros cultivos onde você possa extrair matéria-prima para produtos químicos de alto valor agregado na indústria química, farmacêutica ou outras. E era uma excelente idéia, de grande paixão naquele momento, mas era uma idéia fundamentalmente errada. Depois pensei que era a idéia errada, porque esse tema da coca e depois dos extratos da coca até a cocaína, e o próprio consumo da cocaína, é um tema de demanda e não de oferta. Ou seja, se tem consumo no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, etc, da cocaína, sempre terá oferta. E eu e meus colegas, de forma idealista, queríamos acabar com o tema da demanda manipulando pela oferta. Ou seja, na realidade, só estávamos contribuindo para o incremento do preço da cocaína em Nova York, de alguma maneira. Não é tão assim, mas é um exagero para _____ experiência.
P1 – Isso era aonde? Em Quito?
R – Isso foi em Lima, Peru.
P1 – Mas essa plantação, ali no início da divisa do Peru com a Amazônia, ali no... por Quito no Norte?
R – Não, este é um vale chamado Vale de Guayaga, onde 80% da folha de coca peruana é produzida. E hoje, com grande tumulto social – foi base de terrorismo na época, do terrorismo no Peru. Então tinha vários problemas sociais associados ao cultivo de coca - exploração do camponês pelos narcotraficantes. Montamos esta empresa de altíssima tecnologia, 15 pessoas, com grande educação nestes temas – engenharia genética, biologia, biologia molecular – e vários temas necessários para ter uma boa empresa, internacionalmente falando, para poder captar os fundos do BID, do Banco Mundial, etc, mas estava dentro de uma casa, de uma mansão em Lima. Uma casa grande onde, se você olhasse de fora, você não podia acreditar que dentro da casa poderia ter uma infraestrutura de alta tecnologia. E a razão era que, claro, tínhamos que trabalhar com muita confidencialidade, porque se os grupos de narcotraficantes internacionais e peruanos descobrissem que nós estávamos tentando eliminar o negócio deles, podíamos ser alvos de uma bomba ou duas. Mas nunca fomos descobertos. Aliás, nunca soubemos se ...
P1 – Isso durou quanto tempo?
R – quatro anos.
P1 – E depois da quebra do idealismo?
R – Não, na realidade foi a quebra dos fundos. A hiperinflação peruana do ano 2000 – como a brasileira, o Peru teve uma hiperinflação gigantesca. Um Presidente chamado Alan García roubou tudo o que conseguiu roubar, como o caso de todos os nossos países também. Mesma história se repete. E aí fui convidado a ser Vice-Presidente de Operações de um Grupo que produz cerveja, assim como a AmBev aqui. E aí trabalhei dois anos, uma coisa assim. Tinha as compras e a produção de cerveja, que estava relacionado à bioquímica, engenharia bioquímica - cerveja que é produto biológico. E era muito interessante experimentar cerveja todo dia. Era minha responsabilidade, a qualidade do produto. Foram divertidos esses dois anos que passei por ali.
P1 – E depois dessa experiência de trabalho?
R – Depois disso, fui fazer mestrado em administração na França. Depois fui contratado por uma empresa consultora internacional chamada McKinsey & Company. Uma empresa de consultoria em alta gestão, que me convidou para trabalhar em Londres primeiro e, depois recebi um convite para vir para o Brasil. Isso foi no ano de 1995. Acho que Fernando Henrique Cardoso- FHC estava aqui já. E trabalhei em vários setores de indústria. Trabalhei com a Natura, enfim, várias empresas brasileiras ajudando nos planos estratégicos dessas empresas, até que um peruano de um grande banco americano -chamava-se Wells Fargo, o banco americano. Este peruano era o segundo deste banco americano e decidiu aposentar-se e comprar um banco similar ao Banespa, equivalente do Peru - uma privatização, e me convidou para aprender de banco com ele. E como ele era muito conhecido e eu queria.... Eu sempre estou procurando novas ondas também. Aceitei e voltei para o Peru, onde aprendi de banco e estive lá até o pico da internet, que foi no ano 2000, quando estava aqui de férias e fui visitar uns amigos que me convenceram que deveria ficar aqui no Brasil. Fui contratado por uma empresa internacional, mas baseada aqui, que teve muito a ver com a onda de telecomunicações aqui no Brasil. Montou muitas empresas, como a Oi. Fui também, por um momento, Diretor de Marketing da Telesp Celular. Fui contratado como Diretor de Marketing da Telesp Celular na sombra. Não existia um, mas eu era o Conselheiro do Oi Amigo, na operação de lançamento... Não sei se você se lembra do Pré-pago Baby. Anos atrás.
P1 – Voltando um pouquinho, conta pra gente do MBA que você fez na França. Como é que foi? Você passou quanto tempo?
R – Um ano. MBA de um ano.
P1 – Com a família?
R – Não, sozinho. Esse ano marcava o fim de uma etapa de vida, do primeiro matrimônio, e começo de uma segunda etapa. E foi super intenso. Foi dedicado as amizades, as festas e os estudo neste ano. Muito bom.
P1 – E conta pra gente como foi esse seu lado social que você...
R – Como voltei a entrar a esse lado social, porque estive em muitas áreas, muitas indústrias, etc. Aí, três anos atrás, fui contratado pela Cisco para entrar no grupo de inovação e estratégia da Cisco, foi quando comecei, outra vez, a trabalhar com os amigos do banco Bradesco - Douglas Esteves, por exemplo (que é Diretor aqui da importante área de tecnologia) - a imaginar qual seria o banco do futuro. E nessas discussões do banco do futuro, alavancado por tecnologia, tive a oportunidade de o conhecer... Ele me apresentou o Nivaldo Marcos da Fundação. E a partir dali, vi que mais uma vez tinha a oportunidade de alavancar conhecimento privado e ativos privados, relacionamentos privados, para contribuir com um projeto muito interessante que é o projeto da Fundação. E, com o Nivaldo, começamos a ver quais eram as bases... Nivaldo, falando nisso, antes de falar das nossas conversas e o que fizemos juntos, é um cara muito estratégico que pensa não só na sua função em si. Ele é Diretor de Tecnologia, digamos, da Fundação, mas é também um articulador de primeiro nível. Ele enxerga oportunidade em vários temas e conecta os pontos. E faz alianças e parcerias com muitas instituições. Ele é um excelente articulador, trabalhando muito de perto com a Ana Luiza e com a Denise. E as nossas conversas eram de... primeiro banco do futuro e logo se converteram na educação do futuro trabalhando com o Nivaldo. E aí vimos que poderíamos montar um centro de pesquisa e desenvolvimento chamado Bradesco Instituto de Tecnologia, em Campinas, na Fazenda Quatro Quedas ou algo assim.
P2 – Sete Quedas.
R – Sete Quedas em Campinas. E conceitualizamos o projeto juntos, escrevemos o projeto juntos, desenhamos quem seria, quem seriam os parceiros, montamos os contratos, convidamos várias empresas a participar. E hoje é realidade esse centro que já alavancava uma característica muito importante da Fundação, que é de ser muito inovadora. Porque, no meu conhecimento, é a única instituição financeira do mundo. E tenho pesquisado sobre eles, pesquisado para poder falar o que falei para as outras instituições para, digamos, entrar em consórcio para formar parte - seja do Bradesco Instituto de Tecnologia ou seja para outras iniciativas. Tem uma outra iniciativa que estamos acabando juntos, espetacular. Que agora eu conto pra vocês que é com o Fórum Econômico Mundial. Mas é a única instituição financeira do mundo que tem uma Fundação educacional com fins realmente de desenvolvimento, e não de marketing, de um ensino de altíssima qualidade e que não só pensa nas comunidades que estão perto de onde o banco opera, pensa também: “E depois da educação? Qual vai ser o desenvolvimento dessas comunidades, das pessoas? Como vai ser o emprego dessas pessoas? Como posso eu contribuir, como privado, em um país onde o Estado não cumpre seu papel.” Porque efetivamente o Estado não cumpre seu papel. E não é este governo, são todos os governos dos últimos X anos no Brasil. E assim como no Brasil, no Peru, exceto no Chile. E, ao entender que tinha muita sinergia entre o enfoque privado de educação, desenvolvimento social, emprego, desenvolvimento das comunidades, começamos a pensar em outros projetos conjuntos da Cisco com a Fundação Bradesco. E engajamos - depois de construirmos o BID, o Bradesco Instituto de Tecnologia, e montarmos a célula, desenhamos o projeto conjunto, etc - faz um ano que estamos trabalhando com muito sucesso num outro projeto chamado, em inglês, de IT Access for Everyone. Uma iniciativa chamada ITAFE, que é uma iniciativa de inclusão digital lançada pelos presidentes mundiais de grandes corporações no mundo em Davos de 2004, no Fórum Econômico Mundial. Onde, depois de desenvolver uma estratégia de inclusão digital bastante inovadora, decidimos prototipar, pilotar essa estratégia numa comunidade aqui em Osasco, bem perto da escola nova.
P1 – Conceição?
R – É, Conceição. Tem uma favela do lado e com uma comunidade social. Nossa Sra. das Graças, acho que é. Comunidade Exegese Nossa Sra. das Graças com uma líder social impressionante, com preparo, uma liderança tremenda para fazer um piloto de inclusão social, um projeto de educação para um emprego - como conseguir empregos mais facilmente. E montamos um piloto que foi muito bem sucedido que correu nos últimos seis meses e criamos emprego nessa comunidade juntos – comunidade e Fundação Bradesco, este consórcio. Não era só a Cisco, eram outras empresas participando, mas a Cisco teve um papel importante junto com a Fundação Bradesco pela amizade de muitos anos. Trabalhamos juntos: montamos, estruturamos este piloto e foi muito bem sucedido. E agora esse piloto continua com as mãos da Fundação Bradesco. Estou viajando, até por isso a pressa toda, estou viajando amanhã para o Fórum Econômico Mundial para reportar sobre o resultado deste piloto que foi muito bem sucedido e pode ser escalado aqui no Brasil e em outras partes do mundo.
P1 – O piloto aqui em Conceição foi durante quanto tempo?
R – Seis meses.
P1 – Seis meses e aí vocês mediram os resultados?
R – Isso. E vai continuar agora.
P1 – Juan, a sra. Ana Luiza, quando indicou o seu nome para entrevista, ela comentou que você fez uma avaliação do terceiro setor de vários países, instituições. Eu gostaria que você falasse um pouco disso. Como foi todo esse trabalho de pesquisa para, hoje, inclusive, você afirmar que a Fundação Bradesco não é só marketing, é um modelo único. Gostaria que você falasse um pouco como foi sua trajetória de pesquisa.
R – Sendo responsável pelo grupo da inovação e da estratégia da Cisco para os mercados emergentes, tenho acesso a muita informação e a muitos projetos que acontecem nos diferentes países – Índia, China, todo o mundo, na realidade. E com as pesquisas que nós mesmos fazemos e as que encomendamos, cheguei à conclusão - três anos atrás, que realmente não tem um modelo igual que a Fundação Bradesco, junto com o banco, e particularmente com o foco da Fundação, com a liderança de Denise. Igual no sentido que tem um programa de ensino que está voltado para tentar maximizar a probabilidade que as pessoas que saem obtenham um bom emprego. A qualidade é muitas vezes maior que o sistema público e muitas vezes maior, acho, que a média do sistema privado. E não só pesquisas de papel, de internet ou de estudos ou de programas, senão pessoas que visitaram trazidos aqui para... eles olham com seus próprios olhos e fazem suas perguntas. Pessoas de alta graduação, de várias empresas falaram para mim, visitando a escola do Jardim Conceição: “Olha, a escola dos meus filhos em Palo Alto, Califórnia - que é um lugar de alto padrão no meio do Vale do Silício - não tem o nível do ensino e a qualidade da escola que esta escola fornece para seus...”. E a qualidade das pessoas é tremenda. Mas não é só o tema educacional. Eu acho que o avô da Denise, quando pensou na Fundação, ele – nem sei se escreveu ou não o que vou falar agora – acho que pensou muito estrategicamente 40 anos atrás. Pensando que não vai ter também... se o Brasil não cresce e não se desenvolve, este projeto bancário, este projeto de banco voltado às camadas mais baixas da população, em termos de renda, não vai progredir no futuro a longo prazo, 56 anos - ou seja, planejamento de longo prazo - se, por outro lado, em paralelo, não ajudo na educação do país, que cria o futuro das oportunidades, o futuro dos brasileiros. Então eu acho que esse tipo de visão no setor privado é única também. Quem planeja por mais de três, quatro anos? Ninguém no mundo privado brasileiro e internacional. Para que este senhor, Amador Aguiar, avô da Denise, tenha essa visão e este sentido estratégico, ele próprio, acho, ter tido benefícios de uma educação sofisticada, senão uma educação mais pelo trabalho mesmo – acredito, não estou 100% seguro do que estou falando – é espetacular o que ele fez. E, claro, fez sua neta ir a uma excelente escola para estudar educação - na Universidade Columbia, acho, nos Estados Unidos. Então este tipo de projeto e a forma como foi implementado, e mais importante agora, talvez um projeto que trabalhemos no futuro... qual é o futuro de tudo isto? Porque já se construíram 40 escolas. Então é um orçamento gigante nisto, dos acionistas do banco. E qual é o futuro deste modelo? Nisto temos pensado muito com Denise e com Nivaldo. Vamos trabalhar juntos em definir quais são esses modelos.
P2 – Quando se pensa nesse futuro e agora as 40 escolas estão aí, as 40 unidades, fala-se, projeta-se muito em termos de parceria, de desenvolvimento, projetos e parcerias. Qual é a sua opinião deste trabalho que foi montado, que foi planejado pelo seu Amador até aqui e as parcerias para esse futuro?
R – Este é justamente o trabalho que vimos conversando faz tempo, mas que vimos, acho que, pronto a consolidar em uma visão a longo prazo. Vamos tentar replicar algo muito difícil que é uma visão a longo prazo. Assim como o avô teve essa visão (como deveria ser essa visão para daqui aos próximos 50 anos?) e que tem a ver muito com parcerias privadas e públicas. Porque não tem jeito. Não pode ser só privado. O Estado tem que cumprir o seu papel de alguma maneira. Então estamos pensando em como maximizar o impacto deste piloto, por exemplo, e estendê-lo a todo o Brasil: Educação para o Emprego. É muito focado. Como conseguir um emprego em um curto período de tempo alavancando muito o poder estratégico da tecnologia? Tem um projeto da Escola do Futuro que é muito baseado em tecnologia, mas não só tecnologia. É uma combinação de tecnologia com estruturas físicas e criar uma rede de parceiros a um nível nacional. Eu gostaria que eles expandissem sua atuação em áreas internacionais. Vou cutucá-los em algum momento para... Esse é um modelo único, mas exporta o modelo e, digamos, caracteriza o modelo, porque esse modelo pode ser implementado em outras partes do mundo quanto à ajuda, quanto à assessoria. Então, em essência, esse futuro vai depender de costurar muitas parcerias e utilização agressiva e estratégica de tecnologia. Muitas tecnologias. Não sei se isso ajuda.
P2 – Ajuda e surge com uma outra questão que é: em que momento se deu esse encontro de todo o seu trabalho e conhecimento, que vinha sendo estruturado ao longo da sua vida de estudo nos países, com a Fundação Bradesco? Onde houve esse momento em que...
R – Eu conheço o Banco Bradesco, a área de tecnologia e o banco em si desde 2000, do lado bancário, ou banqueiro do banco. Mas a parte das idéias que eu escuto falar da Fundação que vão de encontro com a oportunidade que tive entrando na Cisco - este grupo de estratégia e inovação que me permite pensar não só em um tema, mas em múltiplos temas e como juntar os temas para criar visões de longuíssimo prazo também - isso foi no ano 2002, três anos atrás. Quando eu entrei na Cisco, um Diretor de Tecnologia, Douglas Esteves, do Banco, me apresentou o Nivaldo.
P2 – Ele comentou isso.
R – É. Ele me apresentou: “Você deveria conhecer este cara que é muito inovador em educação e no grupo. E a partir dali começamos a pensar em todos esses modelos. E aí com Denise, com Ana Luiza, viajamos juntos várias vezes fora para investigar modelos. Vários modelos. Não contrastamos diferentes modelos.
P2 – E qual a impressão quando você conheceu o Nivaldo Marcusso e toda...
R – Quando conheci ele e a história...
P2 – A impressão que você teve da Fundação Bradesco. Qual foi a impressão?
R – Porque visitei as escolas, visitei a infraestrutura, visitei as pessoas. Foi: “Cara, este é um projeto muito sério.” Os detalhes embaixo desse profissionalismo não sei ainda, porque é a primeira impressão. Mas a primeira impressão foi de grande profissionalismo e grande infraestrutura de pessoas, primeiro, e de infraestrutura mesmo. Tem um grande investimento aqui. O projeto é sério. Ou seja, tem um grande compromisso, em outras palavras. Foi a primeira impressão.
P1 – Juan, você falou que sempre buscou esse seu lado social de fazer trabalhos. Você acha que com a Fundação Bradesco você está realizando esse seu lado de trabalho social?
R – Sim, absolutamente. Tanto assim que já estou pensando com Denise que vou lhe emprestar meu principal recurso, minha principal aliada, que é minha esposa - é um grande talento - para trabalhar com ela.
P1 – Você que visitou várias escolas, você teve a oportunidade de conhecer alguma transformação de vida de alunos?
R – Mais que de alunos, minha experiência é mais com a Fundação. Em termos práticos, com pessoas mesmo, foi este piloto do Fórum Econômico Mundial onde Nivaldo, eu e outras pessoas envolvidas da Fundação, da minha empresa e desta comunidade, N. Sra. das Graças, vimos a transformação da vida das pessoas e como o emprego é a fonte de toda a dignidade, como realmente sem emprego é impossível ter dignidade. Já vivi em Paz. E as impressões e os comentários da pessoa depois de seis semanas de intenso treinamento com várias ferramentas que construímos para facilitar isto e poder conseguir um emprego, depois de estar seis meses desempregado, sem chance nenhuma de obter emprego... As caras das pessoas foram... só as caras. Os comentários, tudo bem, mas as caras... De passado de depressão... Depressão obviamente. É comunidade muito carente lá. Muito carente e com grande história de violência. Acho que em um mês ou dois meses foram assassinadas 250 pessoas, uma coisa assim. Foi muito violento. Então a líder que estou falando, Gilma, a líder social dessa comunidade, perdeu dois filhos, de seis, nessa violência e decidiu que ia fazer algo para mudar. E é muito profissional. É assim... não tem educação nenhuma formal, mas tem uma inteligência impressionante. Eu posso levar ela em qualquer lugar do mundo e ela vai fazer um grande discurso, muito bem feito, e sabe exatamente o que quer fazer. Não só da idéia, também de como fazer.
P1 – Juan, eu gostaria que você falasse um pouco, explicasse como funciona o Centro de Inclusão Digital.
R – Eu vou falar como é e como será. O Centro de Inclusão Digital é uma forma como a Fundação Bradesco entende os braços dela na comunidade. É um centro, seja uma igreja, um centro comunitário, ou um telecentro que existe da prefeitura. Um lugar carente onde a Fundação tem presença e fornece o conhecimento, a tecnologia, o conteúdo para se tornar um telecentro muito mais preparado para atender as necessidades mais educacionais - ferramentas de tecnologia- da comunidade onde opera. Esse é o Centro de Inclusão Digital [CID] atual. Ou seja, é um telecentro de inclusão digital da comunidade carente onde opera a Fundação Bradesco no Brasil como um todo e dando conexão de internet banda larga, alavancando muito a infraestrutura das escolas. Que são reutilizadas, reusadas de alguma maneira utilizando tecnologias sem fio, para trasladar essa conectividade, por exemplo. Esse é o modelo atual. O modelo futuro é o modelo onde essa mesma infraestrutura, esse mesmo modelo não só seja de ferramentas de conteúdo, mas que brinde serviços que melhorem a vida das pessoas dessas comunidades carentes. Então, o piloto que falei para vocês é um primeiro serviço de vários. Um primeiro serviço que é um serviço de “educação para um emprego” que fornece a aprendizagem e as ferramentas para que uma pessoa, que quer encontrar trabalho, tenha as características, as atitudes e minimize o grande tempo perdido em procurar vagas pela via dos centros de vagas do Ministério do Trabalho e as prefeituras. Têm, por um sistema pelo qual ela pode eliminar estes custos e obter realmente o perfil – estar com o perfil certo para encontrar a vaga certa para esta pessoa. O que estou falando para você é brindar já serviços públicos pela via privada - que são de grande necessidade das comunidades carentes. Então serviço de emprego é um primeiro. Serviços de saúde, estamos pensando em como fazer. Serviços de saúde e logo serviços mais aprofundados em educação pela via de brindar, através destes CIDs versão 2, serviços públicos que melhorem o desenvolvimento econômico e social das comunidades carentes do Brasil. Esse mesmo modelo é exatamente aplicável à Índia, à África do Sul, à China, etc. E esse também é nosso interesse de poder pilotar aqui e poder transportar esse conhecimento, como grupo de inovação que nós somos, de poder levar esses modelos, essa aprendizagem, como contribuição brasileira para os outros países em desenvolvimento. Então o CID, se os planos acontecerem como estamos pensando, vai mudar muito de cara para ser um ponto de entrega de serviços públicos para comunidades carentes focando muito num primeiro emprego. Quer dizer, não é só educação: é educação para a saúde, é educação para emprego, educação para o desenvolvimento das pessoas e da comunidade, de pequenos negócios também.
P2 – Ele passa a ser, não só um Centro de Inclusão Digital, mas de prestação de serviços para a comunidade.
R – Isso.
P1 – Com relação à carência de formação, vocês pensam em prover algum tipo de formação, de treinamento?
R – Formação básica? Você está falando de analfabetismo, esse tipo de coisa?
P1 – Por exemplo, uma comunidade que tem um Centro de Inclusão Digital, mas tem uma carência de algum treinamento que ela possa precisar para atender àquele perfil. Vocês pensam em estar trabalhando com essa comunidade de alguma forma além da inclusão digital?
R – Sim, justamente o que estamos falando. Para nós, não tem sentido nenhum falar de inclusão digital. É um termo errado. O que é, é inclusão social alavancando tecnologia.
P1 – Fica melhor.
R – Não, mas é isso. Porque inclusão digital não tem sentido nenhum. Para que dar tecnologia a alguém que tem outras necessidades básicas como obter emprego, ser educado, ter boa saúde, ter segurança pública, por exemplo? Funções do Estado, mas um Estado que não... em todas as partes do país. Em muitas áreas urbanas também não cumpre. Então o que eu estou falando para você é exatamente o que você está falando. É nosso pensamento. É serviços de inclusão social alavancando o poder estratégico da tecnologia. Esse é o modelo. E se não tem esses serviços, para que ter um telecentro? É nossa pergunta. Não adianta para nós.
P1 – Juan, qual o seu estado civil?
R – Casado. Muito bem casado.
P1 – Quantos filhos?
R – Quatro.
P1 – Juan, você é uma pessoa de negócios, tantos trabalhos... E o seu lazer? O que você gosta de fazer no seu lazer?
R – Brincar com os filhos: os gêmeos e as meninas. Mas é pouco tempo que eu tenho. Viajo muito. Bom, essa é a responsabilidade de quase todo mundo. Mas é fazer esportes, piscina, brincar com os filhos no pouco tempo de lazer por agora.
P1 – E você conhece outros projetos da Fundação?
R – Conheço outros projetos da Fundação, tipo: qual é a forma estratégica que eles estão pensando em se medir a eles mesmos – sistemas métricos, sistemas de performance, sistema de informação que nunca escutei falar em escola pública alguma. A escola, o sistema escolar, em nenhuma parte do mundo, vai poder controlar o aluno e poder seguir o aluno Pedro Peres, desde o início, até o final, durante toda sua vida escolar. É um tratamento personalizado que é impressionante o que eles têm pensado em implementar. Além de vários outros projetos relacionados à Escola do Futuro que, como comentei com vocês, tem várias vertentes e que estamos trabalhando em conjunto para desenvolver. Como seguem esses modelos de educação à distância, por exemplo? Funciona educação à distância? Em que áreas funciona? E como tem que ser complementados os modelos? E qual é a alta sustentabilidade econômica disso também? Porque uma coisa são os aportes filantrópicos da Fundação Bradesco. No caso das escolas, é 100%. Eles mantém toda essa infraestrutura. Mas para expandir, uma idéia que estou colocando a semente – eu sou colocador de sementes, sou cutucador: “Mas porque você não faz isso?” -, para estender a capilaridade das escolas e os serviços da Fundação Bradesco, eu não só acho que tenha um tema relacionado à utilização inteligente da tecnologia, mas também tem um grande tema de como estruturar parcerias público-privadas para estender e poder ter outros sócios que entrem no mesmo modelo da Fundação. Claro que com o controle da Fundação, porque os parâmetros de qualidade são únicos. Qual foi tua última pergunta?
P1 – Eu estava perguntando sobre outros projetos da Fundação.
R – Sim, de estender. Ou seja, uma estatística que, não me lembro exatamente, mas me lembro a ordem de grandeza. Aqui na escola, no Jardim Conceição, tinha algo assim como 100 candidatos para uma vaga. O que significa 100 candidatos a... – não sei se é 100 ou 50, mas é um número gigante – versus os alunos, candidatos que cumpriam todas as exigências da Fundação, que são muitas. O que significa isso? Significa que, a nível nacional, tem uma grandíssima demanda, obviamente por uma educação de alta qualidade que seja de graça. Porque na educação pública brasileira temos números horríveis de qualidade da educação pública. Mas mundialmente horríveis. Ou seja, são líderes mundiais em educação pública pelo ruim da qualidade. Não é deste governo, mas de todos, das últimas gerações do Brasil. E estamos pensando que não é possível que isso aconteça sempre. Você precisa de outros parceiros para estender teu próprio modelo para eliminar o problema da educação pública brasileira no tempo. Não é um projeto de cinco, dez anos. É um projeto de várias gerações provavelmente. Com a tua liderança. Então estamos em temas de futuro desse tipo também.
P1 – A Fundação Bradesco tem hoje 40 escolas. Então inicia a inauguração das escolas e tem todo um controle de qualidade que você conhece. Hoje em dia já existe uma medição de resultado...
R – Em todas as áreas.
P1 – Então, digamos que agora está no marco de educação à distância.
R – Sim, uma das áreas.
P1- Eu queria, um pouco, entender a sua visão. Como é que você vê 40 escolas com toda essa qualidade, com esse controle de qualidade, escolas reais, como é que seria uma educação à distância para continuar esse nível de qualidade só que com a educação virtual?
R – É que nunca seria uma educação virtual pura, porque esse modelo é ruim. Nossa visão é de um modelo misto, de uma combinação de presença física com presença virtual, dependendo de que situação, e para quê, e com que objetivo. O modelo vai mudar. Educação virtual pura não tem sentido nenhum.
P1 – Não?
R – Não.
P1 – Como é que seria esse...?
R – Bom, tem 40 escolas. Não operam 24 horas por dia, sete dias por semana. Tem horários. Tem capacidade ociosa lá em tempos. Janelas de oportunidade. Se você adiciona isto... Estou pensando um pouco no que viemos conversando, porque não temos detalhado ainda, mas vamos detalhar. Tem capacidade ociosa ativa nas 40 escolas para poder reutilizar essa infraestrutura em outros horários, por um lado. Por outro lado, se você adiciona os CIDs e os CIDs equivalentes, e capilariza através de parcerias público-privadas, pontos onde não só tenha acesso a, por exemplo, e-learning, em caso de educação, mas que tenha um ponto físico onde possa ter presença física e poder de controlar esse ciclo de aprendizagem. Com a presença física e com professor em site, vendo o aluno, ou aluna, acho que poderia se compensar em grande parte, a falta de poder crescer que é a disjuntiva estratégica. “Não consigo crescer mais 40 escolas porque é um investimento gigantesco”, realmente. “Como pensar o futuro para, mantendo a qualidade, expandir a capilaridade e o acesso com a mesma qualidade?” E acho que ninguém tem a resposta. Vamos ter que experimentar: este é um tema de piloto: “Ah, funcionou? Excelente. Vamos expandir.” “Ah, não funcionou? Tchau. Na próxima.” E assim, pensando como os inovadores que eles são, nós também somos. Então, digamos, vamos juntar... é muita junção de cultura. Como nós sabemos que não sabemos realmente nada, sabemos que não sabemos nada, então precisamos experimentar. Se funciona, excelente; se não funciona, não vamos investir muito nos experimentos. Se não, seria um grande desperdício também. Eles têm a mesma cultura. Então acho que o futuro será construído à base de experimento. E os que funcionam bem serão escalados, serão massificados.
P1 – Juan, e desafios? Qual foi seu maior desafio desde quando você está trabalhando junto com a Fundação Bradesco?
R – Nenhum.
P1 – Nenhum desafio?
R – Foram ótimos.
P1 – E esse projeto de futuro é um desafio?
R – Esse, talvez sim, porque vai ser novo para todos. Mas é um belo desafio pensar nos próximos 50 anos. É um belo desafio.
P1 – Juan, qual a importância para você do projeto Memória 50 anos da Fundação Bradesco?
R – Acho que é importante deixar a história bem clara: este é um projeto único no mundo. Acho que o que vocês estão fazendo é fazer um... Pensam em traduzir o documento?
P1 – Será na versão em inglês e português.
R – Isso é muito bom.
P1 – E provavelmente, depois da entrevista com o Ivo, também para deficientes visuais.
R – Excelente. E vai estar em vários formatos? Físico e eletrônico?
P1 – Físico e eletrônico.
R – Isso é muito bom para poder difundir os 50 anos e poder integrar. Isso é bom que esteja. Em chinês não pensa em traduzir?
P1 – Ainda não. Podemos levar essa sugestão.
P2 – Seria uma idéia.
R – Sim, sim. E em indiano também não?
P1 – Pode ser também.
R – Não, inglês está bom para a Índia. Eu acho que é muito importante documentar a história, porque da história virão muitas idéias para o futuro, para os próximos 50 anos. Acho que é um bom momento para fazer uma quebra: “Que fiz de bom e de errado nos últimos 50 anos?” Muito bom ter um projeto assim. E depois são 50 anos. Não é cinco ou dez. É toda uma história. Documentar a história é muito bom.
P1 – E o que você achou de participar desta entrevista?
R – Foi muito bom. Aprendi muito também. Então agora eu tenho uma história para contar. O roteiro foi bom.
P1 – Juan, em nome da Fundação Bradesco e do Museu da Pessoa, nós agradecemos sua colaboração, sua entrevista.
R – Nada, muito prazer.
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