P/1 – Senhor Eldo, em primeiro lugar, muito obrigada por ter vindo, por ter aceitado o nosso convite.
R – E foi um prazer imenso estar com vocês aqui.
P/1 – Obrigada. Eu queria começar a entrevista... Aliás, quero começar a entrevista com o senhor dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Eldo Souza da Costa Almeida, 6 de novembro de 1940, nascido em Recife.
P/1 – E o nome dos seus pais, senhor Eldo?
R – Artur da Costa Almeida e Celina Marques de Souza Almeida.
P/1 – O que faziam os seus pais, a atividade deles?
R – Meu pai trabalhava na Great Western of Brazil Railway ainda, Rede Ferroviária, o que hoje é Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), ou ex-RFFSA, porque foi extinta, era Great Western, na época, era dos ingleses a Rede. Ela iniciou aqui em Pernambuco com a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, depois inteiramente encampada pela Great Western, né? Foi quando o meu pai trabalhou. Eu nasci em 1940 e em 1943 já estava deslocando de Recife por causa da função de meu pai, que era condutor, para a cidade de Palmares, Pernambuco.
P/1 – Então o seu pai, a atividade dele, era condutor de trem?
R – Condutor de trem.
P/1 – E o senhor estava me contando lá fora que há uma diferença, não é senhor Eldo? Entre condutor...
R – Eu vou explicar.
P/1 – Por favor.
R – Vou explicar. No trem de carga, que era um trem que hoje ainda tem aquela locomotiva que está lá na Estação Central à exposição, né? Tem aquela azul, que é a linha mais nova, que é americana; tem a inglesa e a alemã; três tipos. Mas tem aquela preta ali que se chamava “A Garra” ou “Dois Rolos”, porque pode verificar que ela tem dois rolos. Aquela locomotiva puxava cem a 110 vagões de trem. Evidentemente não eram vagões como hoje, de 42, 48 toneladas, eram de 33 e 35 toneladas.
P/1 – Mesmo assim, eram...
Continuar leituraP/1 – Senhor Eldo, em primeiro lugar, muito obrigada por ter vindo, por ter aceitado o nosso convite.
R – E foi um prazer imenso estar com vocês aqui.
P/1 – Obrigada. Eu queria começar a entrevista... Aliás, quero começar a entrevista com o senhor dizendo o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Eldo Souza da Costa Almeida, 6 de novembro de 1940, nascido em Recife.
P/1 – E o nome dos seus pais, senhor Eldo?
R – Artur da Costa Almeida e Celina Marques de Souza Almeida.
P/1 – O que faziam os seus pais, a atividade deles?
R – Meu pai trabalhava na Great Western of Brazil Railway ainda, Rede Ferroviária, o que hoje é Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), ou ex-RFFSA, porque foi extinta, era Great Western, na época, era dos ingleses a Rede. Ela iniciou aqui em Pernambuco com a Estrada de Ferro Central de Pernambuco, depois inteiramente encampada pela Great Western, né? Foi quando o meu pai trabalhou. Eu nasci em 1940 e em 1943 já estava deslocando de Recife por causa da função de meu pai, que era condutor, para a cidade de Palmares, Pernambuco.
P/1 – Então o seu pai, a atividade dele, era condutor de trem?
R – Condutor de trem.
P/1 – E o senhor estava me contando lá fora que há uma diferença, não é senhor Eldo? Entre condutor...
R – Eu vou explicar.
P/1 – Por favor.
R – Vou explicar. No trem de carga, que era um trem que hoje ainda tem aquela locomotiva que está lá na Estação Central à exposição, né? Tem aquela azul, que é a linha mais nova, que é americana; tem a inglesa e a alemã; três tipos. Mas tem aquela preta ali que se chamava “A Garra” ou “Dois Rolos”, porque pode verificar que ela tem dois rolos. Aquela locomotiva puxava cem a 110 vagões de trem. Evidentemente não eram vagões como hoje, de 42, 48 toneladas, eram de 33 e 35 toneladas.
P/1 – Mesmo assim, eram bastantes vagões.
R – Eram cem vagões. Tanto é que era para sair daqui de Cinco Pontas... Porque o que ocorria: era tanto vagão... O peso que uma máquina escoteira empurrava, ela puxando e empurrava até se deslocar ali da saída dali onde chamam de... Como é o nome meu Deus? Agora fugiu.
P/1 – Daqui a pouco o senhor lembra. Bom, então...
R – Ela empurrava para se deslocar, e daí em diante ela comandava tudo. E nesse trem existia, na época, eu me lembro bem, dois condutores que trabalhavam nesse trem. Meu pai, Artur da Costa, e Hélio Paiva, que era condutor também e residia em Palmares. Não era todo maquinista que pegava uma máquina daquelas não. Eu ainda me lembro, senhor Antônio Gomes e José Gomes, ambos moravam em Palmares também. Porque não eram todos os maquinistas que podiam comandar aquela locomotiva, era uma locomotiva muito pesada, o trem era muito pesado, e só ia até Palmares, de Palmares em diante ela não podia prosseguir porque os trilhos não suportavam.
P/1 – Lá dividiam?
R – Exato, se precisasse ela não ia. Era Recife, Palmares; Palmares, Recife. Era função do meu pai, condutor. Quando ele retornou para Recife, em 1950, ele ficou de 1943 a 1950 como condutor de primeira classe, doutor Otávio Pernambucano que era o chefe dele, chefe do tráfego, dizia: “Artur Costa, você agora tem que comandar trem de passageiros.” Porque o condutor manda no trem do breque, no caso de trem de carga, do breque até a locomotiva quem manda é o condutor. No trem de passageiro é a mesma coisa, é o chefe do trem, porque no trem de passageiro tem outros condutores e guarda-freio. Na época também tinha o guarda-freio, mas o comando era dele, então o trem só partia se ele permitisse. Ele usava uma bandeirinha com um apito, apitava e tal. O chefe da estação, o telegrafista da estação, dava a licença a ele, podia o trem sair e ele era quem comandava. Isso até quando ele se aposentou, e eu até não queria que ele se aposentasse, porque ele poderia ter pegado a dupla aposentadoria aos 35 anos. Ele estava com 33 anos e seis meses, se aborreceu e queria, queria, aposentou-se. Aposentou-se em 1969.
P/1 – Ele foi de 1950...
R – Não. Ele entrou na Great Western eu não me lembro bem a data, mas...
P/1 – Eu sei, mas como condutor de trem de...
R – De trem desde 1940.
P/1 – Sim. De 1940, mas de passageiros ele ficou até...
R – De passageiros foi de 1950 para cá.
P/1 – De 1950 até a aposentadoria.
R – É. Ele era chefe do trem.
P/1 – O senhor estava dizendo que ele era um condutor de primeira classe, havia então outras classes de condutores?
R – Condutor de segunda.
P/1 – Ele tinha uma função diferente, senhor Eldo?
R – É quem cobrava os trens. É quem cobrava. Ele tinha um alicate e tinha o fiscal do trem também, mas quem comandava mesmo era o chefe do trem. O fiscal era para fiscalizar os condutores, para ver se havia jogadinha, cobra passagem e não extrai. Porque o que é que ocorria, as pessoas pegavam o trem com passagem, mas outros pegavam de caminho, sem passagem, aí era extraído o excesso. Até a pessoa pagava mais caro do que a passagem normal, porque pegou o trem sem a passagem, entendeu? Aí o fiscal pegava o talão, via se ele tinha mesmo extraído. Existia isso, mas não era função do chefe de trem, era função do fiscal, já era função do fiscal.
P/1 – Quer dizer que um trem, quando partia – para eu entender –, tinha um bocado de gente trabalhando...
R – Pronto. Maquinista e o auxiliar.
P/1 – O maquinista e o auxiliar.
R – Que era chamado foguista ou auxiliar. Tinha o chefe do trem, que era o condutor chefe. Condutor chefe, primeira classe.
P/1 – Certo.
R – Tinham dois, três condutores para fazer cobrança. Tinha o guarda-freio na época, depois essa função de guarda-freio foi extinta, mas ainda existia o guarda-freio no trem de passageiro. Depois, ficou só mesmo os condutores, o maquinista e o chefe do trem, que era também o condutor de primeira classe. Não existia, na realidade, aqui em Pernambuco, no quadro aqui não existia o quadro de chefe de trem, no Rio de Janeiro tinha.
P/1 – Ah, entendi.
R – No Rio de Janeiro tinha no quadro mesmo, chefe de trem. Então ganhava... Meu pai não. Meu pai, no caso, e os demais que eram chefes de trem, esses não recebiam nada porque eram os chefes.
P/1 – A gratificação pela função, não tinha...
R – Não tinha gratificação sobre a função.
P/1 – E tinha essa função de...
R – Só essa, de ser o chefe.
P/1 – Sim, entendi.
R – Entendeu? Talvez até a vaidade de ser o chefe, ou porque era o de primeira classe. Teria que dirigir, mas não tinha.
P/1 – Isso para o de passageiros?
R – Passageiros. Trem de carga não, trem de carga era só um condutor.
P/1 – Só?
R – Que ele fosse primeira ou segunda classe, era um condutor. Agora, o doutor Otávio, na época, queria mais que esse pessoal que era primeira classe chefiasse o trem de passageiros, porque naquele tempo tinha subúrbio e tinha o interior. Naquele tempo nós tínhamos aqueles trens, vários trens, isso alguém deve ter falado, como o Sebastião Marinho deve ter falado. A gente tinha trem de Recife a Salgueiro, Recife a Natal, Recife a Sousa, na Paraíba, outro pegava tripulação para o Ceará. Existiam muitos trens de passageiros. E tinha o subúrbio, né?
P/1 – Sim.
R – Tinha o subúrbio, que depois foi substituído pelo Metrô de Recife (METROREC), mas existia trem de subúrbio.
P/1 – Que também fazia parte dessa...
R – Dessa parte de guarnição de pessoal, condutores, fiscais e tal.
P/1 – Então o seu pai ficou com essa função até se aposentar?
R – Até se aposentar.
P/1 – E o senhor, quando era criança, ia aos trens, brincava? Como é que era isso?
R – Lembro-me. Ah, eu esperava ele chegar.
P/1 – É?
R – Meu pai, quando... Eu tinha um irmão mais velho do que eu, cinco anos. Eu era muito pequeno, três anos de idade, não posso me lembrar de muita coisa, mas já com os meus cinco, seis anos eu ia com meu irmão esperar quando o trem chegasse. Estava chegando, a gente ia para ajudar a trazer a maleta dele, as coisinhas dele que ele trazia e tal. Quando era tardezinha, à noite, ele já estava dizendo: “Vou à estação verificar a minha tabela, qual é a hora que eu vou sair, qual é o trem que vai partir, qual é o trem que eu estou escalado.” Aí eu ia com o meu irmão, meu irmão olhava, lia na tabela – tinha aquela tabela, qual era o trem e qual era o horário que ele ia partir – e tinha uma história muito interessante de meu pai.
P/1 – Então nos conte.
R – Muito interessante. Aí eu já lembro, isso em 1948, perto da gente voltar. Meu pai teve um princípio de congestão. Deve ter sido comida, eu não sei, um problema gastrológico. Naquela época só existia um médico, que era da Rede, que fazia o trabalho com a Rede, doutor Severino Vieira. Doutor Severino Vieira era o médico. A gente mandou chamar o doutor Severino: “O pai está morrendo e tal.” Ele chegou, passou um medicamento... Naquela época, se eu não me engano, ele mandou a gente comprar aguardente alemã para ele tomar. Aquilo era um remédio, aguardente alemã. Aí recuperou bem. Daqui a pouco, doutor Severino Vieira disse: “Artur Costa...” – ele era conhecido como ou Costa, condutor ou Artur Costa – “Vou dar uma licença para você de oito dias.” Ele olhou para o doutor Severino: “Doutor Severino, eu não sou homem de licença.” “Você está doido, Artur?” “Eu vou trabalhar. Seu Elinton...” – que era o meu irmão, porque às vezes ele o chamava de seu Elinton, às vezes chamava seu Tonzinho, com meu irmão – “Vá lá na minha escala.” “Você é doido, Artur Costa?” Ele disse: “Doido não, eu sou um homem...” Muito forte, meu pai era lapa de homem, mais forte do que eu.
P/1 – Era?
R – Era. O braço desse tamanho, mais alto do que eu: “Eu não sou homem de licença não, eu vou trabalhar.” O doutor disse: “Sob sua responsabilidade.” Ele disse: “É. Eu não quero licença não, vou trabalhar.” Até esse detalhe teve.
P/1 – E foi?
R – Foi. Hoje em dia o pessoal tem uma dor de cabeça já quer licença. Meu pai não era assim.
P/1 – O senhor estava dizendo que o seu pai foi transferido para Palmares e vocês todos foram para lá?
R – Passamos sete anos em Palmares.
P/1 – Sete anos?
R – Sete anos. Em 1950 a gente voltou.
P/1 – Então parte da sua infância o senhor passou lá também?
R – Palmares.
P/1 – Lembra como é que era Palmares, quando o senhor era menino?
R – Era uma cidade até muito boa, progressiva, as estações da Rede eram grandes. Ao descer da estação a senhora encontrava – que ainda hoje tem – o chafariz. É onde as pessoas iam buscar água para beber, porque naquela época água encanada só existia nas cacimbas. Nós morávamos numa casa chamada Bangalô, era uma vila, Bangalô, eram casas divididas. A cacimba ficava no meio do quintal, dos dois quintais e a cacimba se dividia, era uma cacimba para duas casas.
P/1 – Sei.
R – Então, não era uma água muito boa, era mais para... E o chafariz é que as pessoas iam buscar água lá e vendiam nas portas. Vinha a carrocinha e a gente comprava, minha mãe botava lá na jarra – aquele tempo era jarra e tal –colocava na jarra, jarra grande, e cabiam três baldes daqueles para se fazer comida. A água da cacimba dava para fazer comida também, mas era mais para as plantas, porque o meu pai gostava muito de plantar, o quintal da gente era grande. Criar parreirais de uva, a gente tinha muita coisa. Meu pai plantava mamoeiro, horta, pimentão, alface, essas coisas ele gostava. E outra coisa que ele gostava, pescaria.
P/1 – Ai, que bom.
R – Lá, naquela época, o Rio Una, em Palmares, tinha peixe, e como tinha. Não é como hoje, que os rios são poluídos, não. Tinha tudo. Meu pai gostava muito, ia para lá pegar pitu nas pedras e trazia pitu e tal, ele gostava de pescaria. Meu pai era um homem que gostava de tudo. De princípio jogava, bebia, fumava e namorava. (risos)
P/1 – “De princípio”.
R – Mas ele era danado, era danado. Tanto é que eu tenho, de outra família, cinco irmãos.
P/1 – Olha só.
R – O velho era perigoso. Já o filho, não. O cara é tão direito...
P/1 – Certinho. Vocês moravam numa vila de operários da Rede?
R – Não, particular.
P/1 – Era particular?
R – Eram casas que foram construídas recentemente, na época, era chamado Bangalô. Com muro... Eram bem organizadas as casas. Se eu não me engano eram 12 casas, na rua que a gente morava, desse estilo Bangalô.
P/1 – Gostoso. Então bem aconchegantes.
R – É, exato. Defronte eram as casas maiores onde moravam, as casas antigas, morava inclusive o senhor Antônio Gomes, que era o maquinista que eu lhe falei. José Gomes também morava na mesma rua. Domingos Paiva, que era irmão do senhor Hélio Paiva, que era fiscal. Domingos Paiva era fiscal. Senhor Hélio era condutor, e por conta disso tinha uma história interessante da família de seu... O pai deles era senhor de engenho, e a esposa de Hélio era orgulhosa, ela não queria que o marido vestisse cáqui, condutor era cáqui. O fiscal não, podia ser qualquer roupa, roupa branca e tal, ficava mais elegante o fiscal de trem. Ela tinha uma inveja danada do marido ser condutor e o irmão ser fiscal. Fiscal era mais importante e tal, essas besteiradas. Outra coisa que eu me lembro muito bem, Palmares era uma cidade que tinha posto de gasolina, se não me engano só tinha um, tinha a igreja muito grande, o padre era padre Abílio, e tinha a festa tradicional de Palmares, que era em oito de dezembro, Nossa Senhora da Conceição.
P/1 – Fazia quermesse?
R – Naquela época era procissão.
P/1 – Era procissão?
R – As procissões... Meu pai, inclusive, acompanhou uma procissão daquelas dos passos, porque eu e meu irmão estivemos muito doentes. Muito, muito quando éramos pequenos. Eu não me lembro muito bem, mas minha mãe contou. Meu irmão se via praticamente pelas costas, uma coisa horrível, magreza, uma coisa... E meu pai o vestia com aquela roupa de Cristo, com coroa, colocava-o nas costas e acompanhava essa procissão. Fez essa promessa para ele ficar bom e ele ficou.
P/1 – Ah, que bom. Eles eram religiosos, os seus pais?
R – Minha mãe um pouco mais do que meu pai, mas meu pai acreditava em Deus, tanto é que fez essa promessa e alcançou a graça. Minha mãe ia para a missa, levava a gente para missa e tal, mas não podemos dizer assim, que eram tão religiosos. Como eu também hoje... Minha mulher é religiosa, minha mulher não perde uma missa. Ela vai no sábado de manhã para a missa e vai no domingo. Quando tem qualquer procissão, essas coisas, aqui no centro da cidade, ela vai lá, ela acompanha.
P/1 – E eram só o senhor e seu irmão?
R – Só eu e ele. Na época a família era só isso. Uns anos depois foi que ele teve esses outros casos.
P/1 – Deixa-me perguntar, senhor Eldo, quando ele mudou de Recife para Palmares o senhor sabe se ele teve alguma ajuda de custo? Porque é uma mudança de casa. Será que teve?
R – Olha, eu não me lembro bem desse detalhe. Eu sei que quando as pessoas – mas isso era na minha época, né? – iam, recebiam.
P/1 – Recebia?
R – Mas na época do meu pai eu não sei, porque foi há muitos anos, eu não posso dizer precisamente, então eu não vou chutar.
P/1 – Não. Era só se o senhor tivesse...
R – Eu era tão pequeno que não sabia. Até não me aprimorava nesses detalhes financeiros do meu pai, não me aprimorava.
P/1 – Não, é que às vezes podia ter ouvido falar.
R – É, exato.
P/1 – Mas o senhor acabou passando a sua infância lá, então?
R – Exato. De 1943...
P/1 – A escola...
R – Grupo Escolar José Bezerra.
P/1 – Ah é? Foi a sua primeira escola?
R – Grupo Escolar José Bezerra.
P/1 – Tinha alguma professora que marcou, que o senhor lembra o nome?
R – Não. Eu me lembro do padre, me lembro do dono da livraria, o senhor Manuel, me lembro do dono da farmácia, o senhor José Nobre. Eu me lembro dessas coisas.
P/1 – Lembra bastante coisa. Então o senhor ficou...
R – Lembro-me do chefe da oficina de Palmares, porque Palmares tinha uma grande oficina também.
P/1 – Ah é?
R – Era. O senhor Alímpio. Não era o superior, não, o senhor Alímpio era parte mais mecânica, essas coisas. Ele era o chefe, mas o chefe geral era o doutor Edson Lins. Por sinal, anos depois, ele veio a ter um acidente trabalhando aqui no escritório da Rede, demoliram aquele prédio. Ele escorregou e quebrou a perna dentro do próprio escritório. É a idade avançada, desequilibrou e tal. Doutor Edson Lins, um cidadão... Eu acho que ele já faleceu. É um cidadão, uma nobreza de pessoa.
P/1 – Ele que cuidava da oficina?
R – De Palmares. Naquele tempo ele era novo, chefe. Senhor Alímpio era segundo escalão.
P/1 – Era grande, a oficina?
R – Era.
P/1 – Fazia-se de tudo lá também?
R – Tudo: tinha o carnaval, o carnaval saía o clube; tinha a orquestra, os próprios funcionários da Rede tinham orquestra; tinha banda de música lá da Rede... Eu me lembro, ainda, de um senhor Búzio do tarol, tocava tarol. Do resto não me lembro muito, mas seu Búzio...
P/1 – Então essa oficina tinha bastante gente consertando...
R – Todas. Ela concertava locomotiva. Quando a coisa era mais... Era Jaboatão. A maior oficina da Rede foi Jaboatão, porque Werneck veio muito depois. A oficina de Edgard Werneck foi mais na época das diesel, aquelas locomotivas inglesas, mas a pesada mesmo ainda era a oficina de Jaboatão. A oficina de Jaboatão chegou a ter, se não me engano, uma base de mil e trezentos a mil e quatrocentos funcionários. As usinas da periferia de Jaboatão, quando quebrava uma peça, falavam com a Rede para fazer a peça lá. Na oficina da Rede eles faziam peças que eram peças importadas. Era funileiro, mecânico, fundidor – que fazia a fundição das peças milimetradas –. Os chefes eram uma maravilha. Jaboatão era uma cidade que era comandada por ferroviários, o ferroviário decidia a eleição. Era chamado “moscouzinho”, a cidade era comunista, dizia que era comunista, mas não era nada de comunista. Eram operários, e sabe como operário...
P/1 – Tinham uma força...
R – Força. Então o operário normalmente era aceito como comunista. Se o cara fizesse uma greve, na época, era comunista, aquelas besteiradas todas. Hoje faz as coisas e ninguém é comunista, mas naquela época a pressão era grande. Mas eles decidiam as eleições, eram respeitados, o ferroviário era respeitado. Vou dizer um detalhe de Palmares, aí eu me lembro, eu era... Desculpe eu passar para a frente e depois voltar.
P/1 – É assim mesmo.
R – Eu me lembro de um detalhe. O telegrafista lá era o chefe da estação, não me lembro, mas me lembro que o telegrafista disse: “Artur Costa, novo.” Costa “novo” porque o meu nome é Eldo Souza da Costa, mas me chamava de Costa “novo”: “Não quer aprender telegrafia, não?”. Eu nunca tive muito jeito para aquilo, batia naquele... Nunca aprendi nada, mas eu ia lá, conversava com ele, ficava lá, ele gostava muito de mim, Ademário. O chefe eu não me lembro, o chefe da estação, pode ser até que mais na frente...
P/1 – Daqui a pouco lembra.
R – É, mas não me lembro. Ademário eu me lembro bem, que depois foi o chefe, mas na época ele era o telegrafista, Ademário era o ajudante do chefe.
P/1 – Ele queria que o senhor aprendesse.
R – Ele queria que eu aprendesse. Pois bem. Então, a oficina de Palmares...
P/1 – Então ela tinha todas essas funções que o senhor citou? Quer dizer, tinha funileiro, tinha serralheiro, tudo tinha... Era uma quase que igual a Jaboatão, só que era...
R – Não, era muito melhor.
P/1 – Sim, mas tinha todas as funções?
R – Tinha muita coisa, consertava vagões, essas coisas todas. Porque imagina, um vagão desses, um defeito, ter que mandar de Palmares, cento e tantos quilômetros para Recife para ir para Jaboatão, aí depois voltar tudo de novo. Não dava certo.
P/1 – Então Palmares, nessa época, anos de 1940, comecinho de 1950, também tinha bastantes ferroviários né?
R – Tinha. Uma coisa que eu ia lhe dizer sobre o chefe de estação, não me lembro do nome, mas vou lembrar o detalhe. Naquela época a comunicação era difícil, então se usava muito a Rede Ferroviária. A telegrafia era para passar telegrama no Código Morse, e aquele telefone meio... Não sei do que é aquela linha telegráfica. Então o juiz dependia do chefe da estação, o delegado dependia do chefe da estação, o padre dependia do chefe da estação e, sim, a comunidade dependia do chefe de estação. Quando existia uma grande festa em Palmares, no Clube Literário, que era o clube dos grã-finos lá, uma das primeiras pessoas a se convidar era o chefe da estação. Todo mundo dependia daquele homem, ele era uma pessoa importante entre padres, promotores, juízes, ele era um homem importante porque todos dependiam dele ali na estação. Basta dizer que, quando chegava um telegrama, o próprio funcionário da estação era quem ia levar na casa, entendeu? Era, para a senhora, passar um telegrama de Recife para Palmares, lá recebia, aí ele mesmo se encarregava de ir levar na casa da pessoa, porque era cobrado o telegrama na hora que a senhora fizesse aqui, a taxação era paga e estava incluído tudo, até a entrega da pessoa. Palmares era assim, eu me lembro bem. Era uma cidade agradável, Palmares.
P/1 – Então o senhor acabou estudando lá logo no comecinho...
R – Foi, o primário.
P/1 – E os seus avôs? O senhor conheceu os seus avôs? Os pais dos...
R – Não, nem por parte de minha mãe, nem por parte de meu pai. Meu avô era português, era conferente das docas, que não é nada de ferroviário. Meu avô era conferente...
P/1 – No porto de Recife?
R – No porto de Recife, conferente das docas. Eram cinco irmãos, meu pai e mais quatro. Tio Nelson era prático. Tio Eduardo também trabalhou, não sei a função do tio Eduardo, sei que ele, inclusive, se aposentou porque perdeu uma perna lá nas docas. O cabo do rebocador soltou, pegou a perna dele. Quando ele sentiu, a perna dele já estava no alto mar, estourou na hora: “Poouu”, foi bater na perna dele. Isso eu me lembro, porque quando ele foi a Palmares eu tinha um medo da perna dele, ele enricou por causa dessa perna. Meu tio... Naquela época os ingleses, contava meu pai, deram cem contos de réis, porque aquilo pertencia aos americanos, né? Os americanos, aí deram a ele uma perna de borracha que veio dos Estados Unidos e que eu tinha um medo dessa perna de borracha. E ele recebeu cem contos de réis.
P/1 – Um dinheirão.
R – Um dinheirão. Na época ele chegou a montar uma sorveteria no bairro do Espinheiro, um dos bairros nobres de Recife, Espinheiro. Depois ele vendeu e comprou uma mercearia, uma casa lá também perto do Náutico. Naquela época ele tinha seis empregados. Não existia esse negócio de supermercado, essas coisas não existiam, então o dono da mercearia era importante.
P/1 – Também era importante.
R – Tinha seis empregados, a mulher dele trabalhava mais meu primo e minha prima. Então, tinham umas dez pessoas trabalhando em função daquilo ali.
P/1 – Isso, três, faltam dois que o senhor estava falando.
R – Ah sim. É tio Nelson, o tio Eduardo, esse que perdeu a perna, tio João Bodião, que era do Lóide.
P/1 – Ah, da empresa Lóide, brasileira, que era uma empresa de aviação, a Lóide Aéreo Nacional?
R – É, Lóide, aquele empresário brasileiro que desapareceu, acabou-se.
P/1 – Isso, que também acabou.
R – Nelson, Eduardo, tio João...
P/1 – E o seu pai, falta um.
R – Espera aí.
P/1 – Provavelmente também ligado ao negócio do porto. Ou não?
R – Ah, tio Ademar, era o mais velho. Tio Ademar inclusive foi vice-presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O presidente era Eládio de Barros Carvalho, que foi presidente do Náutico. Esse Eládio de Barros era presidente do Partido Trabalhista Brasileiro. Em função disso, meu tio era mais ligado a motorista, ele foi presidente do Centro de Chofer. Por conta dessa politicagem, ele, na época de Getúlio Vargas, conseguiu a vaga de delegado do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETEC), aqui em Pernambuco, delegado do IAPETEC. Foi construir esse hospital... Tem o hospital do IAPETEC, o hospital do Cordeiro. Getúlio Vargas tem o nome de Getúlio Vargas, mas lá tem na placa: “Construído, na época, com o delegado Ademar da Costa Almeida”, que era o nome do meu tio. Ele morava no bairro de Campo Grande, então era um homem que estava em uma situação financeira muito boa.
P/1 – Só o seu pai quis ir para a ferrovia, então?
R – Meu pai.
P/1 – Só ele?
R – Agora, tem uma história, quer ouvir outra história?
P/1 – Por favor.
R – Tinha uma história que meu pai contava, na época, que meu tio Ademar inventou de entrar na polícia. Queria ser polícia, mas não disse nada a meu avô, os irmãos sabiam. Quando, um dia, meu tio chega fardado em casa, ainda era tudo solteiro, né? Disse que meu avô fez: “Oh, Tuta.” – Tuta era o meu pai, Artur – “Você sabia desse negócio de Ademar?” “Não pai, coisa...” “Nelson, venha cá.” Eu sei que todo mundo ficou enrolado. Ele chamou: “Vocês...” – aquela fala de português – “São um bocado de cobras safados. Vai entregar essa farda na polícia, pode entregar. Não quero você em polícia, você vai ficar trabalhando nas docas, comigo.” Aí no pé de cajá, eu lembro porque eu morei nessa casa em Beberibe, ele amarrou os cinco filhos e deu de reio de cavalo, reio de cavalo. Aquele reio que faz “tááá” no cavalo, sabe né? Meu pai disse que levou uma surra... Apanhou por conta de Ademar.
P/1 – Por causa do outro, né?
R – É, coisa da vida. São coisas que eu estou me lembrando.
P/1 – Mas de histórias que o seu pai contava, né? Seu pai era um contador de histórias?
R – É, ele gostava. Meu pai, inclusive, gostava de embolada. Já ouviu falar em embolada?
P/1 – Não. Conta para gente.
R – Eu não me lembro de todo com detalhes, mas era assim: “Palmares, Ribeirão, Escada, encontrei uma namorada na volta do...”. Não estou me lembrando do resto. Embolada, era embolada, era uma moda, né?
P/1 – Uma modinha.
R – “Palmares, Ribeirão e Escada, encontrei uma namorada na volta do...” Aí saía.
P/1 – Enfim, aí vai indo, é isso? Ah, que bonito.
R – Ele gostava muito disso. Outra coisa que ele gostava muito, quando ele chegava de viagem, era saber como é que estavam as histórias lá da escola.
P/1 – Ele era bastante exigente?
R – Exigente. Ele tinha uma palmatória, e colocava a gente no terraço, eu e meu irmão, e dizia: “Vamos ver a tabuada.” Ficava eu e meu irmão assim, aí ele dizia: “Uma vez um?” “Um.” “Uma vez dois?” “Dois.” “Três?” “Três.” “Assim é bom, né? Três vezes sete?” “Pá”, batia. “Vinte e um pai, 21.” Começava, enrolava a gente todinho, aí tinha já dado umas três bolachadas boas e dizia: “Vai estudar, daqui a uma meia hora eu quero tomar a lição.” E era assim. A gente ficou de um jeito que era melhor que máquina de computador. Hoje eu acho engraçado quando uma pessoa vai... Uma menina, essa menina que passa jogo de bicho e tal, uma continha besta, bota na máquina.
P/1 – É, na máquina.
R – O raciocínio, cadê?
P/1 – Senhor Eldo, por que o senhor tinha medo da perna do seu tio?
R – Eu era muito pequeno, e aquela perna era um negócio diferente. Ele chegou lá, foi passar umas férias lá na casa de meu pai, em Palmares, meu pai chamou: “Vai lá passar um dia comigo.” Aí ele foi. Quando ele chegou lá andando, mesmo com a perna de borracha ele puxava a perna. Eu pensativo e coisa. Daqui a pouco ele foi tratando daquelas coisas, pegou a perna e botou ali, mas eu dei uma carreira. Meu irmão: “Que besteira, Eldo, que besteira.” Mas eu era pequeno, e a perna... O cara vai tirar a perna?
P/1 – Senhor Eldo, o senhor falou da sua casa e tal. Depois vocês voltam para Recife, é isso?
R – É. Nós fomos morar no bairro de Beberibe.
P/1 – Em 1940 e...?
R – Já em 1950, 1950 para 1951.
P/1 – De 1943 a 1950 vocês ficaram lá, e em 1950 vocês voltam?
R – Exato. E já... De 1950 para cá a gente mora em Beberibe, aí começa outra história. Meu pai arranjou um negócio, uns quebra galhos, né? E para enrolar a mãe... Meu pai era sagaz que era danado, ele era de mal do meu tio há mais de 20 anos, do irmão de minha mãe, mas morava no mesmo bairro, Beberibe. Viajando para São Caetano, ele era condutor de trem, estava morando aqui, mas viajava até São Caetano. Dizia que lá era bom, que a água era boa, que lá ia ser melhor, muito leite bom e não sei o que. Sabe aqueles papos? E minha mãe sem querer ir, por causa da gente estudando aqui e tal: “Vai ser lindo. Vai ser muito bom!” Veja o que ele era danado, 20 anos de mal, foi falar com o meu tio para meu tio convencer a mãe a ir, e a gente foi morar em Palmares.
P/1 – Não, em São Caetano.
R – Em São Caetano. Chegou a São Caetano, a gente foi estudar num grupo escolar lá. A gente, para chegar ao colégio, tinha que andar mais para pegar a ponte, mas passando por dentro do rio, aquelas pedras, a gente passava tranquilo. Tirava a botina daqui do pé e passava para calçar a botina quando passasse de lá do rio. Com esse negócio de vai e vem, eu adoeci. O clima lá muito frio, e eu adoeci, cheguei a ter água na pleura, quase que eu fico tuberculoso, quase, na época garoto. Aí, minha mãe correu para Recife e tal. A gente foi para a casa da minha tia, irmã de minha mãe. Uma senhora lá que o marido também era condutor disse: “Ô dono Celina, a senhora agora está morando em Areias, né?” Em Werneck, subúrbio. Minha mãe disse: “Como é a história?” “A senhora não está morando...” Espera aí, minha mãe: “Eu quero a história certa.” O marido dela é seu Mariano, condutor de trem, colega de meu pai. Minha mãe disse: “Eu hoje vou para Jaboatão para ver essa história.” Aí a mulher deu detalhes, né? Que era uma barraca que tinha lá só depois da estação. Nesse tempo não era metrô, era estação, deu a dica. Ele levou um azar danado. Eu, meu irmão e minha mãe, a gente foi para Jaboatão, que era outra irmã dela que morava em Jaboatão e que era casada com ferroviário também, ele trabalhava na oficina de senhor Adalberto, a gente o chamava de tio. Naquela época, o marido da tia era tio. Ele era soldador elétrico, trabalhava na oficina de Jaboatão, na famosa oficina de Jaboatão. Quando o trem saiu de Areias, a gente pegou na Central, né? Vai para a estação de Ipiranga, depois para a estação de Areias. Quando o trem sai, a mulher deu a dica onde era barraca bem perto da linha, mas por azar de meu pai, ele estava abraçado, dentro do balcão, com a mulher. Aí mãe virou: “Você está vendo aí o seu pai?” Aí, mostrou a mim e ao meu irmão. Minha mãe falou com o chefe dele: “Eu me vou embora pra Recife trazer meu filho, mudança e tudo.” Naquela época, a mudança a Rede dava um passe para família viajar e dava um passe para carregar mudança nos vagões, gratuitamente. Foi assim que minha mãe fez, não teve jeito. Lá vem a gente voltar para cá, não mais para Beberibe, já fomos morar no bairro de Tejipió. Tejipió foi minha adolescência, comecei a estudar no Ginásio Pernambucano, fui para o ginásio em Jaboatão e tal. Terminei meus estudos em Jaboatão, depois me casei. Morei em Tejipió ainda casado, depois Jardim São Paulo, quando eu comprei um duplex. Morei só uns dez meses lá, depois comprei essa casa. Ainda hoje eu moro, já há 35 anos.
P/1 – Que gostoso. Eu queria perguntar para o senhor uma coisa: São Caetano ficava a quantos quilômetros, mais ou menos, de Recife? Só para a gente...
R – Bem, Caruaru é 126, com mais 18. É 140, 142 quilômetros.
P/1 – E é ali na serra, né?
R – Não, a serra é logo aqui. A serra é Gravatá.
P/1 – Não tem a serrinha ali?
R – Serra das Russas.
P/1 – Mas Caruaru também não é uma serrinha, ali?
R – Não, mas Caruaru é a cidade que tem... Mas a parte de ferrovia ali é plana. Agora, onde tem mesmo a serra, onde tinham os túneis, na época, hoje tem o túnel pela rodovia, é? Mas existiam vários túneis naquela época ali. Aí você viajava e antes de Gravatá já tinham os túneis. Mas Caruaru é 126 mais... 140 quilômetros, aproximadamente, para São Caetano.
P/1 – E bem friozinho.
R – É, porque Palmares, se não me engano, era 156, um negócio desses. Naquele tempo da Maria Fumaça, a fagulha do trem saindo assim, a gente vendo as fagulhas... Porque era à lenha, à lenha para dar pressão na locomotiva, era tão interessante aquilo. Demorava, não tenha dúvida, mas era agradável, restaurante... Quando eu estava de férias, ia para Gravatá, porque a minha esposa é da cidade de Gravatá. A gente ia para a casa das irmãs delas, de férias, tudo pequeno, e elas ainda hoje se lembram, elas dizem: “Ainda me lembro, papai, a gente ia e o senhor levava a gente no restaurante. A gente ficava no restaurante mesmo.” Eu, muito conhecido, ficava no restaurante mesmo. Lá eu pedia café, leite e pão. Café, leite, pão e ovo. Ela se lembra disso, ela conta aos filhos esse lance.
P/1 – Gostoso. Durava quanto tempo daqui até Gravatá?
R – Naquela época eu acho que dava umas três horas.
P/1 – Puxa vida. Bastante, né?
R – Eu acho que era mais ou menos umas três horas, era trem...
P/1 – Ia parando nas estações...
R – Agora, depois não. Aumentou a velocidade, porque depois vieram aquelas máquinas a diesel, né? A tipo 700, americana. Não, a 700 era inglesa, 800 americana.
P/1 – Eu queria só fazer um pouquinho da sua trajetória escolar. Quer dizer, o senhor começou estudando em Palmares, depois o senhor foi...
R – Estudei em São Caetano...
P/1 – Em São Caetano...
R – Tudo grupo escolar. Depois o ginásio estadual de Jaboatão. Aliás, estudei no Colégio Pan-Americano, particular, e depois no ginásio estadual de Jaboatão.
P/1 – Não tinha ginásio bom aqui em Recife? Por que o senhor foi para Jaboatão?
R – Porque eu morava em Tejipió.
P/1 – Ah, é mais perto. Entendi.
R – Naquela época não era fácil não, vaga no colégio particular. Naquela época o colégio particular era caro, mas a preferência mesmo de quem tinha condições era estudar no do governo, que era bom.
P/1 – Em colégio público, né?
R – Melhores professores, tudo era melhor. O colégio estadual, naquela época – eu ainda me lembro bem –, no primeiro ano eu era obrigado a ter francês, inglês, latim.
P/1 – Chegou a pegar aula de latim?
R – Latim, francês, inglês, trabalhos manuais, música, geografia, história, história geral, matemática.
P/1 – Era uma formação completa não é, senhor Eldo?
R – Era.
P/1 – O seu irmão também foi estudando nessas mesmas escolas?
R – Não, o meu irmão parou mais cedo do que eu, com 15 anos ele desapareceu e, depois, fugiu, foi para São Paulo. Ele andou o mundo todo. Ave Maria, fez um bocado de coisas.
P/1 – Como é que ele chama, seu irmão?
R – Era Elinton da Costa Almeida.
P/1 – Elton.
R – Elinton, com “E”. Da Costa Almeida. Morreu. Morreu moço, com 61 anos.
P/1 – Ah, que pena.
R – Meu pai morreu com 66.
P/1 – Moço também.
R – Moço. Meu pai era diabético, como os demais irmãos dele. Só que o meu pai era extravagante, meu pai amputou inclusive uma perna. Numa das viagens que eu fiz a serviço da Rede, quando eu voltei, ele estava com a perna amputada. E pior é que eu tive que assinar depois, porque meu irmão mais velho não quis, meus tios não quiseram assinar para o médico amputar. Aí o médico disse a mim: “Ou eu amputava ou seu pai morria.” Eu assinei.
P/1 – Claro.
R – Entendeu? Era vida ou morte.
P/1 – Então, o senhor foi estudando, e como é que surge a vontade de ir para a Rede também?
R – Aconteceu o seguinte, eu saí do ginásio e fui servir o exército. Aos 18 anos eu era muito alto e muito magro, então na primeira turma no exército eu não passei, fiquei para o segundo ano. Então eu servi o exército com 19 anos e saí com 20. Passei um ano parado, porque meu sonho... Inclusive, eu tive chance de ficar no exército. O capitão, na época o capitão Pires, disse: “434.” – que nós éramos chamados pelo número – “Você, 434, você poderia continuar...” Ele gostava muito de mim, queria me ajudar: “Você fazia um curso e saía sargento e tal.” “Capitão, eu quero ser ferroviário.” Ele disse: “Rapaz, por quê?” “Porque meu pai é ferroviário e eu quero ser.” Normalmente é assim, os filhos gostam de seguir a carreira do pai. Não digo que é regra geral, mas eu acho que a maioria gosta de seguir o pai.
P/1 – Você cresceu, de certa forma, com essa coisa de trem, né?
R – Exato. E nasci, como dizem, praticamente na beira da linha. Não foi na beira da linha porque foi em Casa Amarela, um bairro ali, mas eu morei... A minha vida toda foi ferroviária. Meu pai, depois eu. Então eu entrei na Rede...
P/1 – Só para recuperar, foi aqui mesmo em Recife que o senhor serviu?
R – É. No 14º Regimento de Infantaria, ali em Socorro, pertencente a Jaboatão, Socorro pertence a Jaboatão. E foi lá que eu servi, servi 11 meses e 17 dias. Aí eu me lembro bem, 11 meses e 17 dias.
P/1 – O senhor saiu e não conseguiu emprego?
R – Não tinha nada na Rede. Eu ainda trabalhei numa sapataria seis meses, sem carteira assinada, mas eu não queria, eu só queria ser ferroviário.
P/1 – A essa altura morava o senhor e a sua mãe?
R – Minha mãe. Eram separados, os pais separados e tal.
P/1 – Eles estavam separados, o seu irmão tinha saído de casa. Só o senhor e a sua mãe?
R – Minha mãe, lá em Tejipió, bairro de Tejipió. Eu passei um ano parado. Arranjei uns bicozinhos, besteira, mas parado, praticamente. Foi quando meu pai falou com o doutor Almir Braga, que era o superintendente daqui. Sei até o nome dele completo: Almir Campos de Almeida Braga. Foi até diretor, depois, da Rede, no Rio de Janeiro. Ele disse: “Está certo.” Mandou eu fazer um teste. Eu fui fazer um teste com Bento Alves Correia, que era o maior datilógrafo da Rede. Eu era datilógrafo, mas não chegava nem aos pés do cabra. Chegou lá, o cabra olhou para mim e não aprovou, logo na hora. Mas eu fiquei aperreado, falei com pai e voltei a falar com o doutor: “Doutor, mas o senhor me deixa ficar treinando na Rede, num expediente na inspetoria pessoal de trens.” O chefe era seu Nozinho de Barros, Silverino de Barros, mas todo mundo só chamava seu Nozinho. Ele me autorizou e eu fui falar com o senhor Nozinho: “Está certo.” Seu Nozinho me deu um passe – porque eu morava em Tejipió – para eu ir e voltar. Eu ainda me lembro do que ele disse: “Meu filho, você vai cedo lá...” Eram dois expedientes: “Você está treinando, não recebe dinheiro...” “Não, mas eu quero, senhor”. Quando a gente precisa, que quer a coisa, né? Aí eu ia dois expedientes, eu me aperfeiçoei mais na máquina e: “Tá, tá, tá, tá, tá, tá...” Batia folha, batia cheque naquele tempo. Dois meses e pouco sem sair a minha admissão foi que senhor Nozinho de Barros, que era o Silverino de Barros, fez uma carta para o Relações Públicas da Rede, Ivan Cidreira. Eu me lembro assim: “Caro amigo Ivan Cidreira, o moço Eldo Souza de Costa Almeida, filho do condutor Artur Costa, já está aqui há dois meses e ‘tá, tá, tal’, sem admissão, quando a gente sabe que está entrando filho de políticos e tal e ele é filho de um condutor da Rede...”. Aí essa carta foi lá para Ivan Cidreira. Quando chegou lá o Ivan olhou assim, mandou chamar Fábio Correa, que até é da família tradicional de político aqui, Fábio Correa, ele disse: “Fabinho, manda esse rapaz para a caixa de pessoas”. Caixa de pessoas, fazer exames médicos. Eu fiz, naquela época, 16 exames para entrar na Rede. Aí eu fui...
P/1 – De tudo? De tudo, senhor Eldo?
R – De tudo. Foi exame que nunca vi tanto. Teve até um médico, doutor José, esse médico parece que era doido, era um médico de nervo. Mandou-me ficar em pé, era uma fila de pessoas, não era só eu não, outras pessoas, até a polícia pertencia à caixa de pessoas. Aí mandou ficar em pé, fechar os olhos, todo mundo nu, aquele rolo danado. José Jorge! O médico era José Jorge. Tudo, tudo. Aí sei fiz os exames, eu sei que passei. Deram-me os resultados todos dos exames, eu corri, voltei para a Rede e não tinha prédio, era no prédio dos Correios. Cheguei lá, entreguei a documentação, minha carteira profissional, “tá, tá, tá, tá”. Isso era umas dez e meia para 11 horas do dia. Aí disse ele: “Se apresente a Luiz Carlos de Carvalho”. Ela, junto da tesouraria, era a Gerência de Pessoal Administrativo (GPA). A GPA era um órgão ligado ao departamento pessoal. “Seu Luiz Carlos de Carvalho.” Cheguei lá: “Quem é o senhor Luiz Carlos?” “Ah, você é o filho de Artur Costa?”. Eu digo: “Sou.” “Luiz Bento, venha cá.” Luiz Bento era o outro rapaz, grande companheiro que eu conheci, foi um homem que me ajudou muito. Disse: “Olha, esse rapaz é datilógrafo, ele é filho de Artur Costa e tal, vai começar a trabalhar com você.” Já no mesmo dia eu comecei logo a trabalhar. Eu lembro bem, uma e meia parava o expediente. As pessoas, o expediente da GPA era das sete a uma e meia. Mas tinha muito serviço, tinha umas pastas, aposentadoria do pessoal, aposentadoria dupla, aí ele me chamou: “Senhor Eldo, o senhor vá almoçar, volte para o extraordinário”. No primeiro dia que entrei na Rede já comecei fazendo extraordinário. Primeiro dia, não me esqueço nunca disso. Fui pra casa, almocei e voltei, três e meia da tarde pegar no extraordinário. Aí ia até oito, nove, de acordo com o que o chefe autorizasse. Comecei a minha história assim.
P/1 – Isso nós estamos falando de 1962, é isso?
R – Em 1962, já entrando na Rede Ferroviária. 1962.
P/1 – E ficou feliz, não ficou?
R – Muito feliz.
P/1 – Como o senhor se sentiu, senhor Eldo?
R – Uma felicidade enorme. Para mim, foi a maior festa do mundo entrar na Rede Ferroviária.
P/1 – Sua mãe ficou contente também?
R – Todos, né.
P/1 – Queria só, antes de o senhor continuar, uma coisa que me fugiu... Porque quando eles se separaram, vocês continuaram com o contato do pai de vocês...
R – Ah, sim. Ele ia lá em casa.
P/1 – Ah, ele ia?
R – Ia, levava o dinheiro. Às vezes eu ia buscar, às vezes ele levava o dinheiro dela para pagar a casa, as compras da casa e tal.
P/1 – A dona Celina permitia?
R – Exato. Ele chegava lá, sentava na cadeira de balanço, conversava e “tá, tá, tá”.
P/1 – Então está bom.
R – Não era inimigo, não.
P/1 – Que bom. Então, continuando, por favor, senhor.
R – Então o resultado...
P/1 – Primeiro dia já teve o extraordinário...
R – Nem entrei fiz logo extraordinário. Pouco tempo depois a gente ficou agregado diretamente ao Departamento Pessoal, aí eu já fui para o Departamento Pessoal, no outro prédio da Caixa Econômica. Na mesma rua, certo? Na avenida Marques de Olinda, só que a gente entrava por trás, pela outra rua, porque embaixo era a Caixa Econômica, na sobreloja até o segundo andar era Rede Ferroviária. Naquele tempo a gente tinha vários prédios, mas tudo alugado.
P/1 – Tudo alugado.
R – Porque só em 1973, se não me engano, foi inaugurado aquele prédio feito pelo doutor − na época superintendente −, Emerson Loureiro Jatobá, falecido. Ele fez, construiu aquele prédio no peito e na raça, aí já é outro detalhe. Bem, eu, com sete anos de serviço, passei a ser chefe de seção. Em 1967, fui chefe de seção, 1967, não, 1968 para 1969 que eu passei a ser chefe de seção, mas me colocaram em uma seção, porque antes eu trabalhava com Ciro Marinho, um dos homens mais competentes que eu conheci na Rede Ferroviária, foi quem me ensinou tudo. Eu agradeço tudo na minha vida a esse cidadão, Ciro Marinho, já falecido, um homem de uma competência... Não era formado, mas era de uma competência que eu nunca vi, estudioso. Na casa dele tinha uma verdadeira biblioteca, eu cheguei a frequentar a casa dele. A irmã dele trabalhava comigo também, Letícia Marinho. Tinha o Paulo Marinho também, tudo funcionário da Rede. Eu fui designado para a seção de Protocolo e Arquivo. O chefe do escritório era Jairo Muniz Poroca, foi advogado, depois foi chefe de jurídico. Aí eu cheguei para ele: “Poroca, eu não quero mais continuar não, eu quero voltar pra trabalhar com Ciro, não quero mais ser chefe.” Tinha uma gratificação, eu disse: “Não quero a gratificação não, eu não quero, porque eu estou desaprendendo o que eu aprendi.” Porque era entregador de papel. Recebia papel, passava para o chefe, recebia papel... Eu vou aprender o quê? Entregar papel é? Eu não aceito isso, não é o dinheiro que vai me servir só, não. Eu quero conhecimento, eu quero progredir. Progredir entregando papel? Era um despachezinho, é, não sei o quê. Eu, com o Ciro Marinho, aprendia de tudo, fazia certidão de tempo de serviço, escrevia. Eu até o substituí uma vez. Ele disse: “Você tem condições.” Tinha a irmã dele, tinha outras pessoas até competentes, e ele me mandou assumir.
P/1 – Datilografava todo tipo de documentos, senhor? Que tipos? Assim, para a gente entender.
R – Todo tipo de documento. Até empréstimo da Caixa Econômica, os empréstimos que as pessoas faziam... Era feito o formulário lá, a gente preenchia aquilo tudinho, batia e tal. Certidão de tempo de serviço. Certidões, porque era um pessoal... Toda certidão de tempo de serviço era feita lá.
P/1 – Havia os formulários próprios, é isso?
R – Exato. O formulário com o nome da Rede, o resto a gente tinha que datilografar.
P/1 – Não tinha aquela coisa de linha para preencher?
R – Não, era na máquina. E outra coisa, a certidão de tempo de serviço para o Ministério dos Transportes, na época, a senhora não podia usar borracha não. E quando era para o exército, era carbono duplo.
P/1 – Conta isso para gente, senhor Eldo. Tinha muita coisa que era com carbono?
R – É.
P/1 – Que máquina era? Aquelas máquinas...
R – Máquinas normais e tal. Depois é que vieram aquelas de esfera, a elétrica, mas antes era pé duro, como dizia, era o pé duro.
P/1 – Na década de 1960, eram máquinas muito grandes, não é, senhor Eldo?
R – É, de carro grande, carro médio e carro pequeno.
P/1 – E tinha que trocar fita?
R – Trocar fita, exatamente. E a gente não podia usar borracha.
P/1 – Mas a borracha era aquela redondinha, não era, senhor Eldo?
R – É, ele tinha aquelas também retangulares. Retangular vermelha e branca, a gente usava aquilo ali. Agora, eu era muito técnico para fazer esse negócio.
P/1 – O pessoal mais jovem nem sabe o que é isso.
R – Sabe não. Eu era muito técnico. O inspetor, senhor Odorico Vieira, era um homem que não tinha formação, era uma pessoa meio rude e tal, mas por questão de amizade era inspetor. Um inspetor que só sabia dizer: “Peço ouvir. Peço dizer.” Só o que ele sabia, mas era o chefe. Quando eu dava minhas jogadazinhas com ele, ele tinha uns óculos que pareciam garrafas, ele olhava assim e dizia: “Venha cá.” “Pois não, senhor Odorico?” “Refaça. Olha aqui ó, você apagou aqui”.
P/1 – Ele sabia.
R – Sabia. E eu ia fazer tudo de novo. Ia com cuidado, era uma coisa impressionante, aí então podia errar, ia para o Ministério dos Transportes. E outra coisa, teve um período lá que tudo era por extenso: ponto e vírgula, ponto e vírgula, tudo por extenso. E aquele pessoal que tinha muita licença médica, a gente tinha que separar todo aquele... A gente recebia o rascunho, né? Tinha uma turma que fazia os rascunhos.
P/1 – Ah, vinha um rascunho?
R – Rascunhos para a gente datilografar. Então o indivíduo tinha licença médica, durante um período ele teve 20 dias, no mês, de licença, mas teve três períodos, teve cinco, depois mais quatro, depois mais três. Aí vinha dizendo tudo aquilo ali, tudo por extenso. Olha, era um absurdo. Uma certidão por tempo de serviço: o cara com 35 anos, era umas quatro ou cinco folhas datilografadas, uma linhazinha assim... Não era brincadeira não, era muita coisa.
P/1 – Tinha bastante gente trabalhando, senhor Eldo?
R – Tinha.
P/1 – É? Quantos, assim, uns 30, 20 datilógrafos?
R – No Departamento Pessoal... Datilógrafo? Datilógrafo, na minha parte, eram seis.
P/1 – Mas pouco então, para esse volume de trabalho, não é?
R – Mas tinham outros trabalhos que não eram feitos pela gente, já era outro. Da seção da gente tinham esses, da outra seção tinham outros. Eu digo dessa seção específica, né? O melhor deles todinhos era o Bento Alves Correa, falecido. O irmão dele também era ferroviário, Berval. Morreram ambos de câncer na garganta, fumavam demais e bebiam muito. Luiz Bento, eu, Enock... Na realidade só eram quatro, na minha seção eram quatro. Bento Alves Correa, eu, Luiz Bento e Enock
P/1 – Luiz Bento e Enock?
R – Luiz Bento e Enock.
P/1 – E a sua seção, só pra gente reiterar, o nome dela era?
R – Terceira seção.
P/1 – Terceira seção.
R – Do Departamento Pessoal, que era comandado pelo chefe da seção, era senhor Ciro Marinho, uma competência...
P/1 – E aí cada... E tinha primeira, segunda...
R – Tinham outros funcionários também, que faziam outros serviços. Tinha a irmã dele, Letícia, tinha Maria das Dores – que era irmã do doutor Brito Alves, que era o chefe jurídico –, tinha Oliveira, que a gente chamava Dão, Geraldo...
P/1 – E o Departamento Pessoal todo também tinha esse tanto de gente?
R – Tinha. Esse Departamento Pessoal era composto pelo pessoal da folha de pagamento, que já era num andar mais abaixo, porque devia ter uns 30 funcionários ou mais, apontadores, né? Porque a folha de toda a Rede era feita lá, entendeu? Toda a folha, apontamento, tudo era feito lá. Vinham os apontamentos das outras áreas para a central que era nossa, o segundo andar. E lá a folha de pagamento... É que cada funcionário tinha uma ficha. Ali vinha o apontamento, eles anotavam tantas horas extraordinárias, isso, aquilo, nome da família, salário família, todo aquele dossiê. Então era preparado ali no Departamento Pessoal, porque tempos depois foi que veio a ter mecanização, e depois computadores, mas já foram outras épocas.
P/1 – Mas era muito trabalho. E havia mulheres trabalhando?
R – Trabalhava. Na minha seção tinha Dodora, que a gente a chamava de Dodora, era Maria Auxiliadora, que era irmã do chefe de jurídico da Rede, doutor Brito Alves. Tinha Letícia Marinho, tinha a Laura, que era prima de doutor Almir, Laura Maria de Moraes Campos. Mulher eram três.
P/1 – Pouco, né?
R – Só na minha seção, mas o departamento era muito grande. Só a minha seção, porque a minha seção... No mesmo andar tinham várias seções.
P/1 – Como é que era essa distribuição, eram aquelas baiazinhas? Como é que era? Porque não eram salas fechadas, eram?
R – Não, só quem tinha o gabinete fechado era o chefe do departamento. O chefe do escritório ficava fora, o chefe de seção também não tinha, não.
P/1 – O chefe de seção também não tinha escritório?
R – Não, tinha não, tudo fora. O bureau dele ficava nesse sentido, o da gente ficava assim, só para diferenciar. Então colocava nesse sentido aqui e o da gente estava nesse sentido, certo? E lá perto da porta do gabinete do chefe do departamento é que tinha o escritório, o chefe do escritório, mas também era fora, era área livre. E tinham os datilógrafos que trabalhavam com ele ali. Era outra área, entendeu? Tinha mais datilógrafo, não tinha só três, tinha mais, porque cada seção tinha o seu.
P/1 – Tinha os seus. Quer dizer que era um salão grande com essas...
R – Grande, enorme.
P/1 – Aí dividia...
R – Tinha o Setor de Promoção, que era lá em cima também.
P/1 – Mas dividia fisicamente ou eram só as mesas que eram...
R – Só as mesas que dividiam. Não tinha negócio dessa apartação de coisa, mas era bem dividido.
P/1 – Eu só queria deixar registrado que a colocação das mesas ou eram horizontais, ou eram verticais, a partir do escritório do chefe de departamento.
R – Exatamente.
P/1 – Certo?
R – O chefe de departamento era lá no final. Quando você entrava, pegava elevador, entrava. Tinha um balcão. Quando você entra tem um balcão, porque as pessoas que vinham resolver alguma coisa ficavam no balcão, não entravam direto, só quando havia permissão para ir lá dentro falar com o chefe de departamento, isso era outra coisa. Mas a área era livre, então a posição do chefe de departamento...
P/1 – É a que determinava...
R – É, a do chefe de seção é a que determinava. Então se o chefe da seção ficava assim nesse sentido, os funcionários, datilógrafos, ficavam assim. Exato.
P/1 – Então, era um período que o senhor estava dizendo...
R – Nós ficamos, aí, quando eu saí de lá, ainda estava desse jeito, em 1969. Em 1969 eu fui para o Patrimônio, fui convidado... Porque quando eu entreguei o lugar de chefe de seção, antes mesmo de me tirarem do cargo, no Departamento de Patrimônio, em Cinco Pontas, o chefe se aposentou, o chefe do escritório. Aí doutor Otávio Pernambucano pediu indicação ao doutor Inaldo Mello, ao Lucindo de Souza Neves para uma pessoa do Departamento Pessoal ser o chefe lá. Aí foi que o Poroca, que era o chefe do escritório na época, depois foi chefe de jurídico e tal... Por sinal muito meu amigo, ainda hoje tem um escritório bom, muito bem montado aqui, ele se aposentou, me indicou, mas não me disse nada. Quando é um dia de sexta-feira, houve uns problemas lá e, de vez em quando, estavam sendo transferidos uns funcionários por isso, e teve uma lá que foi transferida por agiotagem, entendeu? Quando, um dia, sexta-feira, ele disse: “Lucindo está te chamando, Eldo.” Ele sabia, mas não... Me indicou e não disse nada nisso, numa sexta-feira. Eu até amarelei na hora, amarelei, ainda depois eu me lembro disso. Aí entrei no gabinete que o chefe do departamento era Lucindo de Souza Neves, por sinal morreu agora há pouco tempo, era sócio lá na nossa entidade, a Associação dos Ferroviários Aposentados do Nordeste (AFAN). Ele disse: “Eldo.” Entrei com Poroca dentro do gabinete e tal, ele disse: “Eldo, você se apresente segunda-feira no Departamento de Patrimônio ao doutor Inaldo Ozório de Oliveira Mello”. Eu adorava o Departamento Pessoal, foi um choque para mim. Eu amarelei e perguntei: “O que foi que eu fiz?” Ele olhou para mim: “Não, você não fez nada.” Poroca riu. O Lucindo: “Ô Poroca, você não disse nada a ele não, foi? O homem está amarelo.” Poroca disse: “Não, fiz surpresa!”
P/1 – Foi surpresa?
R – Foi surpresa. “Não Eldo, é o seguinte, Fulano de tal vai se aposentar...” Ele disse até o nome, Manoel, que era chefe: “Manoel não sei de quê vai se aposentar e vai tirar um mês de férias, e você já vai substituí-lo agora e depois fica definitivo. Se apresente lá ao doutor Inaldo, você vai ser o chefe do escritório.” Aí a posição de chefe de seção para chefe do escritório era um pulo.
P/1 – Era um pulo, é?
R – Igualzinho ao que me ligou, só que a função lá, na época, não tinha praticamente nada para fazer, era muito... Era chefe do escritório, mas não tinha muita coisa para fazer.
P/1 – Era mais tranquilo do que no Departamento Pessoal?
R – Muito tranquilo. Entendeu? Aí eu fui. Na segunda-feira me apresentei, coloquei paletó, gravata, estava todo bonitinho. Interessante é quando eu me apresentei. Quando eu cheguei lá em Cinco Pontas tinha uma senhora, aí eu: “Bom dia.” “Bom dia.” Tinha um balcãozinho assim e tal: “Eu gostaria de falar com o doutor Inaldo Mello Ozório de Oliveira Mello.” Eu até não conhecia o doutor Inaldo, aí ela olhou pra mim... É, Leneci faleceu também, era uma moça muito bonita, alta, galega; Leneci, foi até manequim aqui de Recife. A Leneci olhou para mim assim e disse: “Olha, se for para vender livro, ele não compra não.” Ela não sabia que eu ia ser o chefe dela. Eu disse: “Moça, não é nada disso. Eu estou me apresentando porque eu vou ser o novo chefe do escritório.” Ela caiu do cavalo. “Não, me desculpe.” “Não tem problema.” “Entra aqui, senta aqui. Quer ficar no gabinete dele?” “Não, eu fico aqui fora conversando com vocês e tal”. Daqui a pouco chega o doutor Inaldo Ozório de Oliviera Mello, entrou: “Bom dia.” “Bom dia.” Ela entrou e o avisou que eu estava ali aí mandou eu entrar. Eu: “Prazer. Como vai?” “Poroca me falou muito de você e ‘pá, pá, pá’.” E batemos aquele papo, aí me apresentou os outros chefes de seções: “Senhor Eldo, aqui é que vai ser o chefe agora.” Aí ele me disse: “Eu tenho um problema aqui meio sério, e eu quero que você resolva isso.” Antes tinha ido o Arruda para lá para fazer isso aí, não aguentou o pessoal lá e correu. Eu disse: “Qual é o problema?” Porque lá tinha a mecanizada. Na mecanizada... A gente já estava fazendo folha de pagamento, já era mecanizada, não era ainda computador, mas mecanizada. Trabalhavam várias senhoras, chegavam lá e queriam café, era copo de café. Era uma despesa enorme, açúcar, café. Ao invés de tomar café em casa tomava o café lá, e mandava comprar. Aí o doutor Inaldo: “Primeira coisa eu quero é que você acabe com esse problema, tem muitos contínuos aqui. Então você vai mandar servir o café logo cedo, o cafezinho na xicarazinha para cada um, lá pras dez horas de novo, e só. Tem uma despesa muito grande aqui.” Aí mostrou e tal: “Está certo.” Aí eu digo: “Deixa-me assentar para a gente conversar sobre essa história.” Ele disse: “Não, está certo.” Ele mandou buscar, naquela época... Tem até uma xicarazinha lá, se a senhora tivesse um jeito, lhe mostrava lá, está lá. Uma xicarazinha que naquela época a Rede comprou com impresso RFFSA, muito bonitinha, tem até uma lá. Aí ele disse: “Vai servir o café na bandeja.” Tudo bem. Aí, eu deixei passar uns dois, três dias enquanto eu... O chefe da mecanizada era muito meu amigo também, Edivaldo Pinheiro, falecido também. Aí eu comecei a história. A apontadora era uma senhora muito rígida, ela fazia apontamento pessoal, datilógrafa também, tinha outra que era datilógrafa e tinha muitos contínuos. Contínuo tinha à vontade, porque todo aquele pessoal de capacidade física reduzida, que não podiam mais estar nas funções, iam lá para o Departamento de Patrimônio ficar encostados, ficavam como contínuo. Então tinha mais contínuo do que funcionários normais, porque ele vinha chegando e a gente tinha que...
P/1 – Qualquer função? Fosse fiscal ou condutor, se tinha algum problema ia para lá?
R – Não. Uns iam até para o escritório trabalhar porque tinham mais conhecimento. Era mais o pessoal mais rude que não tinha, entendeu?
P/1 – Ah, o pessoal da oficina, por exemplo?
R – Não. Da oficina não ia, não. Ia mais o pessoal de estação, que trabalhava como manobreiro. O pessoal da via permanente que trabalhava com enxada, na via, aquele pessoal...
P/1 – Virava contínuo do patrimônio?
R – Virava contínuo. Aí eu comecei a história. Quando chegou um dia, eu chamei os contínuos e disse: “Olha, a partir de hoje o café vai ser servido nessa...” Eu peguei as xícaras todinhas, tirei das caixas: “Lavei esterilizado direitinho com água quente e tal, e vai ser assim.” “Mas senhor Eldo, isso vai dar um problema.” “Eu não quero saber se vai dar problema, estou dizendo que vai ser feito assim”. E mandei. Só faltou apanhar, foi. Lá veio aquela turma de mulher braba: “Senhor Eldo, o senhor mal chegou e já está mudando tudo?” Eu digo: “Eu recebi uma determinação do chefe de Departamento e vou fazer cumprir. Agora, se as senhoras quiserem tomar o café, toma, se não quiser, não toma. Agora, copo não. A partir de agora é desse jeito.” Foi uma revolução: “Ninguém quer mais café.” “Tudo bem, não tem problema, não faz”. Depois do segundo dia começaram: “Cadê o café?”. Aí sabe como é, né? Toda modificação tem uma reação natural, imediata. Eu só sei que depois ficaram minhas amigas e tal. Na realidade, não tinha sentido, não é verdade? Não tinha sentido isso. Toma café na sua casa, ali é um cafezinho para fumar um cigarro e tal.
P/1 – Senhor Eldo, o senhor trabalhava de paletó e gravata já na primeira seção?
R – Não. Logo que eu entrei na Rede, admitido mesmo, o chefe obrigava a gente a ir de paletó e gravata, mas foi pouco tempo. Depois foi relaxando e relaxando, depois exigiram também. Chegou um ponto que terminou o engenheiro usando calça jeans para ir trabalhar. Aí foi mudando, mudando, mudando. E melhor, porque olha, imagina você trabalhar de gravata e paletó datilografando: fica enforcado.
P/1 – É difícil mesmo.
R – Naquele tempo era ventilador, não tinha ar condicionado na repartição, era ventilador, ficava aquele ventilador desse tamanho para três, quatro, e um puxava pra cá, outro pra lá, entendeu?
P/1 – Senhor Eldo, diga-me, podia fumar nos escritórios? E todo mundo...
R – Podia. O que era errado também, mas naquela época não existia lei nesse sentido, fumava. Quem não fumava não gostava, mas quem fumava gostava. Os datilógrafos todinhos fumavam, então cada cinzeirão desse tamanho. Eu fumava muito na época, eu fumava.
P/1 – O senhor fumava também?
R – Fumava duas carteiras de cigarros por dia.
P/1 – É mesmo? Mas também quem está trabalhando acaba...
R – É, eu fumo um cigarrinho, às vezes eu acendia um cigarro o outro, ainda estava no...
P/1 – É, esquecia.
R – Esquecia, exato. Acontecia muito isso.
P/1 – Então, aí o senhor estava lá no Patrimônio, ficou lá até quando, senhor Eldo?
R – Ah, lá só trabalhei um ano.
P/1 – Só? Um pouquinho só.
R – É, porque o doutor Inaldo Ozório de Oliveira Mello foi transferido para o Departamento de Material e me fez um convite. Antes de ele sair, eu disse: “Olha doutor Inaldo, o senhor vai ter... O melhor chefe do escritório que a Rede tem, o senhor vai ter lá.” Eu o conheço, porque fazia parte também do clube ferroviário, e ele era o secretário lá. Muito bom. Muito bom inclusive, Alheiros – a gente chamava Alheiros, eu não me lembro bem o nome dele como era, mas era Alheiros – realmente era muito bom mesmo. Depois vim conhecer um filho dele, anos depois, como datilógrafo da Rede. Eu fiz um elogio a Alheiros e quem foi para lá chefiar o Departamento foi o doutor Romildo Halliday. Eram dois irmãos, Romildo e Rômulo. Eram, inclusive, de mesma placenta, diziam que um sentia o negócio que o outro sentia, o pessoal falava muito isso. E depois me confirmou, o doutor Romildo me confirmou que quando o irmão teve um problema, ele sentiu também. Foi o doutor Romildo para lá, aí houve um problema. Eu estava até de férias, teve um problema com Alheiros e com doutor Inaldo. Por quê? Com doutor Inaldo nesse tempo era um expediente só, mas o chefe de seção, o doutor Inaldo, exigia que viesse segundo expediente, porque ele ia e todos os chefes de seções... Os chefes de seções criaram um problema para Alheiros, porque eles disseram: “Alheiros, você é o chefe do escritório?” Aí, o doutor Inaldo: “Está muito bem, está certo. Você não vem, eu boto outro no lugar.” Aí mandaram me chamar. Doutor Romildo mandou um carro lá em casa me chamar, eu estava na metade das minhas férias, eram 30 dias, eu estava a uns 15 dias de férias. Eu disse: “Pois não, doutor?” Ele disse: “Eu queria lhe ver.” Ele era muito brincalhão, o doutor Romildo: “Queria lhe ver.” “Que história é essa, doutor Romildo?” Ele riu e tal, disse: “Não, Eldo, aconteceu o seguinte...” Aí contou a história todinha que o doutor Inaldo tinha falado para ele desse negócio e tal, e ele quer falar com você. Eu disse: “Mas doutor Romildo, eu estou tão satisfeito aqui, eu não quero sair daqui não.” “Não Eldo, vá lá falar com ele. Eu não posso negar nada a Inaldo meu amigo, ele está aperreado também. Vá lá falar com ele.” Está certo. O motorista esperando aí eu fui. O Departamento de Material era lá nos prédios dos Correios, ainda não tinha prédio. Eu fui. Ele lá: “Ô Eldo cafezinho, chegou o contíguo do café”. “Eldo, você está de férias, né?” “Estou, doutor.” “Rapaz, eu estou com um problema assim, Romildo já lhe contou?” “Contou, doutor.” “Você fez tanto elogio a ele aqui, mas ele criou um problema para mim, eu queria que você viesse pra cá.” “Mas doutor, eu estou satisfeito.” Eu querendo voltar a estudar, e lá era moleza, porque tinha pouca coisa para fazer, eu ia ter tempo para estudar, no Material era fogo. Ele disse: “Olha Eldo, façamos o seguinte, você não quer vir, eu não posso obrigar, você está lá com o Romildo. Agora, ele, o Allheiros, vai perder o cargo, você diz que ele tem 11 filhos...” – acho que eram 11 filhos, eram sete ou eram 11 filhos – “...Ele vai perder o cargo.” Quer dizer, fizeram uma chantagem comigo, né? Chantagem. Eu que não ia? Aí eu aceitei. Justamente, agora eu digo: “É o seguinte, agora eu quero completar as minhas férias, porque eu estou muito cansado.” Aí, ele disse: “Não, está certo. Eu vou deixar Abel no seu lugar. Abel que é o chefe de seção, o substitui uns 15 dias enquanto você chega.” E assim foi feito. Eu só fui para ele não perder o cargo, porque em primeiro lugar, eu não perdia nada.
P/1 – Não perdia. Lá no Patrimônio cuidava das locomotivas...
R – Não.
P/1 – O que cuidava?
R – Patrimônio não cuida de locomotiva. O Patrimônio, quando as locomotivas foram cortadas... Aí está certo, não é cuidar da locomotiva, é cuidar dos restos mortais das locomotivas.
P/1 – Sim.
R – Dos restos mortais porque aí elas foram vendidas, né? Elas foram cortadas e vendidas para a Gerdau Açonorte, a maioria para a Aço Norte.
P/1 – Sim, cuida dessa vida dela, dessa transferência, dessa transição de...
R – Exato. Elas foram cortadas, tanto é que doutor Inaldo não permitia que os bronzes fossem vendidos. Toda a parte de bronze era remetida para a oficina de Jaboatão.
P/1 – Para poder ser reaproveitado.
R – É, aproveitado. Era só o ferro que era vendido para a Açonorte.
P/1 – E vocês faziam os...
R – Não, esse trabalho não era comigo. Essa parte já tinha outra seção específica para verificar e tal, controlar essas coisas, entendeu? Minha parte é escritório, era apontamento, era fazer redação das cartas e tal.
P/1 – Sei. Aí, lá no Materiais, do que cuidava?
R – Material era tudo. No Departamento de Material tinha vários setores, Setor de Compras, Setor de Suprimento, né? Tudo você tinha lá a divisão, era doutor Inaldo Mello, doutor Edinaldo e doutor Miranda. Depois o Miranda foi substituído por Fernando Flores. Cada um tinha sua área de atuação, e eu era o chefe do escritório. No escritório eu tinha o quê? Quatro datilógrafos, um apontador... Eram de sete a oito pessoas que trabalhavam diretamente comigo. Agora, tinha exceções do Setor de Compras, exceções do Setor de Suprimento, aí já era diferente. O setor de suprimento tinha o chefe de seção, era o Marcelo, que é vivo, Marcelo Figueroa. Tinha o Ingrácio, falecido, tinha outro também que veio de Mossoró que era chefe de seção, eu estou esquecido... Do lado de cá tinha Gilvan, que era do Setor de Compras, era Gilvan, eu acho que ainda é vivo, o Gilvan. Tinha Vitório, tinha Nilton Silveira, que o mataram depois de velho, assalto, na cara dele mesmo, ele saindo do banco e o pegaram, ia até muito bem de vida, ele. Nilton Silveira era o chefe de seções.
P/1 – E o chefe do escritório está acima do chefe de seção?
R – Exato.
P/1 – Então o senhor tinha que saber de tudo que estava acontecendo com essa turma toda?
R – É, mas eles comandavam o pessoal deles.
P/1 – Sim. Comandavam, mas se reportavam ao senhor?
R – Exato. Muitas vezes até aconteceu deles trazerem o problema para mim, aí eu dizia: “Você deve atuar lá, você é o chefe da seção, você tem que promover o cara, ajudar o cara, tudo bem. Se você tem que punir, você o pune. Você pune, não eu.” Eles queriam passar certos assuntos que não eram... A triagem era minha. Vamos supor, todo assunto do chefe de setor, problemas de toda natureza passavam pela minha triagem. Então passava para mim para eu levar para o doutor Inaldo. Inaldo que era o chefe do departamento, é o que centralizava tudo, mas tinham dois engenheiros chefes de setores e eu, chefe do escritório.
P/1- Entendi. E o senhor ficou como chefe até...
R – Fiquei lá até 1974. De 1970 a 1974, aí o doutor Inaldo foi transferido para o Departamento Financeiro, e me convidou para ir para lá, não mais como chefe de escritório. Aí eu fui para a Tesouraria. Eu fui ser chefe de serviço, peguei um grau maior, chefe de serviço de tesouraria. Existia o chefe de setor, o chefe de setor de tesouraria era Marcelo Figueroa. Eu cheguei primeiro do que ele, lá era Fernando _______ de Queiroz, já falecido, era o chefe quando eu fui para lá. E depois foi convidado, Marcelo foi convidado para ir para a Tesouraria, e o Fernando foi para outro local. Lá eu fiquei até me aposentar, trabalhei 17 anos na Tesouraria.
P/1 – O senhor fazia o que na Tesouraria?
R – Bem, quando eu entrei na Tesouraria, a Rede comandava o Nordeste todo, inclusive a Bahia, tudo era subordinado a Recife. Era SR 1, Superintendência Regional Recife, SR 1. Então a Bahia era subordinada, Ceará era subordinado, Maranhão era subordinado, e o que veio da Rede Ferroviária do Nordeste (RFN), que eram mais quatro estados, que sempre foram nossos, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte, Recife. Posteriormente foi que houve uma separação. Questão política, criaram uma regional na Bahia, foi a primeira, depois uma regional no Ceará, e por último outra regional em São Luís do Maranhão. Aí separaram, ficou a gente, só Recife, e os quatro estados que sempre foram ligados. Bem, especificamente, o que eu fazia na Tesouraria... Como inicialmente era tudo comandado por Recife, então todas as contas eram movimentadas lá, mas sob o comando daqui. Eles eram obrigados a mandar todo mês o extrato das contas, o que foi gasto. Isso era a parte financeira. Então eu fazia a conciliação bancária, a conciliação bancária era feita por mim. Era conta que eu nunca vi tantas! Fora as daqui que eram muitas também, então era um trabalho horrível. Quando chegava o final do mês, só faltava endoidar. Essa era uma das minhas tarefas, outra era o controle de folha de pagamento. Então, já mudando a mente, mudando e tal, era feita pela folha de pagamento do Departamento Pessoal. As folhas, depois de prontas, vinham todas para a gente, certo? Vinham todas para a Tesouraria, e vinha o valor total para a distribuição em todas as cidades.
P/1 – Era o senhor que autorizava o valor que seria pago, o salário?
R – Não.
P/1 – Era cada um fazia o seu?
R – Não, porque já vinha dizendo o valor total, eu apenas pegava por regional e cidades e separava por cidades. Então vou dar um exemplo: tinha bancos que a gente transferia diretamente pelo próprio banco, mas tinha banco que a gente compra o cheque administrativo e levava. Eu nunca trabalhei com levar dinheiro em espécie. A minha responsabilidade, o que eu fazia era a distribuição, e tinham outros colegas que viajavam para outros setores, e do Ceará a gente mandava direto para Fortaleza, mandava direto... Porque aí, nessa época, o Departamento Pessoal já mandava direto para eles, porque lá também tinha Tesouraria.
P/1 – Sei. E essa que cuidava do dinheiro em espécie para distribuição?
R – De distribuir lá, é. Aí mandava para os bancos. É credito direto ao banco, o banco redistribuía. Vamos supor, tinham bancos aqui, no caso Banco do Nordeste, que nós tínhamos umas quatro ou cinco agências no interior. A gente comprava o cheque – Banco do Brasil –, dava o cheque administrativo e a gente viajava. Chegava lá, entrava com o cheque administrativo mais folhas e o aviso de crédito.
P/1 – Sei. O senhor que levava?
R – Levava. Eu levava um trecho, um trecho era meu. Eu pegava aqui, começava São Lourenço, Carpina, Nazaré, Aliança, Timbaúba, em Pernambuco. Aí entrava na Paraíba, Itabaiana, Ingá, Campina Grande, Soledade, Juazeirinho, Patos, Pombal, Sousa. Lá eu viajava muito com meu carro, aí deixava o meu carro no hotel. Pegava um trem três e 15 da manhã, madrugada, aí fazia primeira cidade, Alexandria. Eu deixava já com o chefe da estação, ele lá fazia o depósito, levava o cheque também. Alexandria, Caraúbas, Governador Dix-Sept, Rosado, Mossoró, Rio Grande do Norte. Isso era meu trabalho, eu voltava de noite no trem, ficava em Sousa às vezes, coincidia domingo, sábado, aí eu ficava o final de semana e na segunda-feira eu partia.
P/1 – Aí pegava o carro e voltava?
R – Voltava.
P/1 – Todo mês?
R – Todo mês. Isso foi um determinado período, depois ficou melhor. A transferência era feita por fita magnética, nós entregávamos a fita. Aquela fita magnética a gente levava para o Banco do Brasil, o Banco do Brasil redistribuía aqueles créditos já para cada... Porque nessas alturas, eu já tinha feito um trabalho de tirar dos bancos particulares para pôr no Banco do Brasil.
P/1 – Sei, porque é muito mais prático.
R – Aí ficou fita magnética e facilitou para tudo. Muito embora, houve muita gente que não gostou, porque todo mundo tinha medo do Banco do Brasil: “Rapaz, vai facilitar a vida de vocês.” Toda modificação tinha uma resistência, às vezes era para melhor, mas a pessoa fica achando que não vai prestar porque tinha medo do funcionário do Banco do Brasil. O funcionário do Banco do Brasil, na época, fazia medo, eles se achavam muito autoritários, se achavam o Deus do mundo. Realmente era assim, não digo generalizando, mas a maioria no Banco do Brasil era assim. Eles se julgavam muito importantes, então aquelas pessoas mais humildes... Porque no interior eram as pessoas mais humildes, pessoal de oficina, pessoal da via permanente, pessoal da estação; sentiam-se constrangidos porque... No meio sempre tem pessoas boas, mas tinham aqueles que, aquele rei da barriga.
P/1 – Claro.
R – Existia isso, eu cheguei a alcançar também, só que comigo era diferente, porque eu tinha outra posição, a gente ia topar mesmo a parada, olho no olho, né? Comigo era diferente, mas tinha o pessoal mais humilde, pessoas boas, mas se sentiam constrangidas diante daquele pessoal do banco que se achava o dono do rei. E a senhora, você, Cláudia, né?
P/1 – Isso.
R – Não é, Cláudia? Você sabe que acontecia mesmo isso.
P/1 – Ah, sim.
R – Anda hoje tem. Você chega numa fila do Banco do Brasil, os caras não dão a mínima importância, vai conversar com outro, atender ali, deixa você numa fila, não respeita.
P/1 – Então, quando você fez essa coisa você já não viajava mais, Eldo? É isso?
R – Não. Eu ainda fiscalizava, porque mandava os créditos, mas fiscalizava. O chefe do departamento fazia... Aí eu fiscalizava todos os trechos. Eu viajava daqui para Fortaleza, pegava todo o interior de Fortaleza com o tesoureiro de lá, eu fazia uma auditoria. Ia para São Luís do Maranhão, o superintendente me dava um caro, o tesoureiro viajava comigo e a gente fiscalizava tudo.
P/1 – E alguns trechos você fazia de trem, não é, Eldo?
R – Não.
P/1 – Não? Continua fazendo com seu carro?
R – Eu fiz uma vez de Sonho Azul, que chamaram o trem Sonho Azul, fiz umas duas vezes. Mas eu ia mais porque... Eu fiquei com tanta amizade, o pessoal adorava que eu fosse, porque no dia que Recife estava fazendo o pagamento, ele já estava pago, porque ia no meu carro. Saía daqui: “pou, pou, pou.” Às vezes eu pernoitava em Campina Grande, e às vezes eu ia direto.
P/1 – É, porque o carro era mais rápido, e por causa dos horários e tudo.
R – É. Eu gostava de viajar no carro, o carro era meu, até a gasolina na época era barata, eu tinha minha diária, a diária era bem razoável. Agora, a Rede não me pagava nem a gasolina nem passagem de... Porque a passagem eu teria que apresentar, não tinha passagem porque não tinha. Gasolina ela não pagava porque não era meu carro, certo? Então eu ia porque queria.
P/1 – Mas você facilitava a vida de todo mundo.
R – Exato. Quando eu comecei, eu ia de ônibus, saltava na cidade, pegava outro. O pessoal, para receber dinheiro, eram três, quatro dias diferentes na cidade. Às vezes, porque outros iam me esperar na parada do ônibus, o chefe da estação, aí eu entregava a ele e pegava aquele mesmo ônibus. A gente vai aprendendo com o tempo, vai dando aquelas jogadas e facilitando a coisa.
P/1 – Você ficou fazendo isso até se aposentar?
R – Não, aí eu já não viajava mais, só quando queriam fazer uma fiscalização me mandavam viajar e tal. Isso também foi pouco tempo, eu estava perto de aposentar. Ainda hoje o sistema... Hoje não mais, porque a Rede não existe mais, né? Infelizmente não existe. Eu posso fazer aqui uma crítica também, não posso? Na minha entrevista?
P/1 – Pode.
R – E vou fazer uma crítica ao presidente da República logo, porque eu fiz isso na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Quando... Da emissão da Medida Provisória número 246, de seis de abril de 2005. Nós fizemos um movimento muito grande para conseguir derrubá-la, a gente não conseguiu derrubar da primeira vez, ainda passou um ano e derrubamos. Com políticos, isso e aquilo, fizemos caminhada em João Pessoa e tal. Eu aqui falando na Assembleia Legislativa e o Paulo Rubem Santiago, que comandou o negócio, deputado federal... Aí me convidaram, eu já estava na Associação (AFAN) como presidente, fui para a mesa principal e fui um dos primeiros a serem entrevistados. Paulo Rubem me jogou logo na... Aí eu botei para quebrar: “O presidente da República, senhor Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano, queria botar a última pá de terra na Rede Ferroviária Federal S/A.” Aí disse, inclusive: “Ele jogou uma pá de terra no cemitério de Santo Amaro, em cima dos ferroviários.” Que é um grande cemitério que nós temos em Santo Amaro. Ainda hoje eu tenho mágoa dele, mas eles conseguiram. Com político é o seguinte, ele não consegue aqui, passa um ano aí dá outra jogada por trás e terminou. Falam em Fernando Henrique, que foi quem começou a história. Foi verdade, Fernando Henrique foi quem começou, mas seu Lula prometeu, na Associação dos Aposentados e Pensionistas Ferroviários da Central do Brasil (AAPFCB-RJ), quando ele era candidato, que ia revitalizar a Rede Ferroviária S/A. Ele prometeu na associação no Rio de Janeiro, tomando um café pequeno, e ele não fez nada disso, colocou a última pá de terra. Está certo, Fernando Henrique... Mas ele disse que ia revitalizar, ele não é o presidente da República? Por que não revitalizou? Entregou tudo a particular? Acabaram com a vida da gente, porque daí em diante nós passamos quatro anos sem ter aumento de salário. Havia o dissídio coletivo, o juiz dizia que ele não tinha meios e por isso a gente não... E a gente hoje está muito defasado ainda. Melhorou um pouco, mas ainda estamos muito defasados.
P/1 – Já que o senhor citou a questão da Associação, a gente está encaminhando já para o finalzinho da entrevista, o senhor hoje é o presidente, não é?
R – Não. Eu fui duas vezes, agora está sendo a terceira. Quer dizer, hoje ainda não sou...
P/1 – Ah, o senhor é candidato.
R – Sou candidato, porque, inclusive...
P/1 – A eleição é daqui a dois dias?
R – Exato. Nós marcamos a eleição, deu um prazo para as inscrições, não teve nenhuma outra chapa, como sempre, nunca tem. A gente publica em jornal, gasta esse dinheiro com isso, mas ninguém quer. Ninguém quer porque não tem fins lucrativos. Ninguém recebe nada, é ruim, aí ninguém quer.
P/1 – O que a Associação faz, senhor Eldo?
R – Ela tem uma função sindical. Nós viajamos, brigamos com a coisa. Claro, os dissídios coletivos eram feitos pela Federação Nacional de Sindicatos, porque não é função das associações brigarem por isso, isso aí tem que ser os sindicatos. Mas a gente dá o suporte, suporte de maioria, vamos às autoridades constituídas do país. Nós já fomos recebidos pelo vice-presidente da República duas vezes, que na época estava como presidente porque o seu Lula nunca recebeu um ferroviário. A nossa federação nacional, que é ligada à confederação nacional, fez duas vezes cartas pedindo audiência, e sempre negaram dizendo que ele não tinha tempo para atender. Fez isso o senhor Lula, Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano. Nunca. Agora, ele recebeu índio, não é que eu tenha nada contra os índios, não. Recebe motoristas, recebe pessoal da área dele, porque ele sempre foi metalúrgico, aí o ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano)... Por quê? Porque é uma potência. Metalúrgicos, ABC, não sei o que e São Paulo. Mas ferroviário... Ele nunca deu uma oportunidade de receber os ferroviários para ver a situação que aconteceu. Porque ele foi um dos precursores, Fernando Henrique que errou, mas ele errou também. Ele colocou a última pá de terra em cima dos ferroviários.
P/1 – Mas a associação tem sido bem atuante, então?
R – Ah, nossa associação é. Não é só porque são 17 entidades em todo Brasil comandadas pela federação, a federação tem o suporte da confederação, que é da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas, né? COBAP.
P/1 – Isso. Quer dizer que, na verdade, vocês apoiam o sindicato porque vocês não têm assento na federação, não é isso? É só o sindicato?
R – Não, espera aí. Existe a federação dos aposentados, que é a Federação Nacional das Associações dos Ferroviários Aposentados e Pensionistas, e existe a federação dos sindicatos.
P/1 – Ah, entendi. Existe uma federação... Aí vocês têm...
R – De associação. É como a confederação, não é de sindicato, a confederação nacional, a COBAP é de aposentados.
P/1 – Ah, que interessante, porque aí ganha mais força.
R – Exatamente, a COBAP, aí vem a nossa federação e depois vêm as associações. São 17 associações em todo Brasil, São Paulo mesmo tem. A Paraíba tem, Alagoas tem, Ceará tem, a Bahia tem, Minas tem, Rio Grande do Sul tem.
P/1 – E vocês estão aí lutando...
R – Paraná tem. Paraná tem logo duas, porque tem aquela de Curitiba mesmo e tem aquela em outra cidade. São duas lá, então ao total são 17 entidades ligadas à Federação Nacional. Aí escolhe o encontro, Brasília, a gente vai para Brasília, lá somos muito bem recebidos por Paulo Paim. O Paulo Paim que é do Rio Grande do Sul dá um apoio muito grande às associações e à Federação. Se eu morasse lá eu votaria em Paulo, ão gosto do Partido dos Trabalhadores (PT), sou logo sincero, não sou petista. Eu faço minhas coisas e assumo o que digo. E tem uma coisa, eu sou uma pessoa que assume o que diz. Eu não gosto mesmo, não voto nos candidatos deles, na minha casa ninguém vota.
P/1 – Eu queria fazer algumas perguntinhas finais.
R – Perfeitamente.
P/1 – Primeiro eu queria a sua visão sobre essa ideia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de contar a história por meio de vocês, que foram os trabalhadores da Rede.
R – A ideia foi magnífica. Eu acho que foi... Contar uma história em que as pessoas devem... Eu que estou sendo entrevistado e tenho... Porque vocês permitem que a gente tenha... Inclusive meu final, criticando os governos pelo que fez com a Rede Ferroviária, uma coisa tão importante. Aqui nós tivemos um colega que é lá da associação, ele fez uma entrevista aqui e no final ele chorou. O tesoureiro nosso, o José de Oliveira Borba? Ele foi telegrafista, e aquele homem era de uma importância tão grande na estação dele que um grandão da Rede, doutor Milton Torres, encontrou na estação dele, a estação pequena, mas parecia que era uma casa. Tudo limpo, a esplanada, as pedras, tudo organizado, que doutor parou o auto de linha e disse... Estava com Sebastião e disse: “Sebastião, que coisa impressionante. Eu quero transferir esse rapaz.” “Por quê?” “Quero. Coloca-o em Cinco Pontas, mas um negócio grande. Um homem desse é muito importante para a empresa.” Ele chora. Por quê? É amor que isso tem. Eu sou ferroviário desde que nasci e vê-la ser destruída, entregue a particulares... A Transnordestina que a gente não vê um palmo de trilho. Acabaram com todo o trecho ferroviário, é uma coisa que dói, ver os trilhos cobertos de mato. Roubam os trilhos, coisa horrível. Acabaram com tudo.
P/1 – Quer dizer que é mais uma razão para ter a visão de vocês, não é Eldo? Essa história de vocês?
R – A revolta. Exatamente, a revolta. Então eu acho a ideia brilhante, e que as pessoas tomem posições. O que precisa nesse país são posições, coragem de falar independente de quem seja. Eu não estou aqui prestando grande coisa, não, eu estou é agradecido de ter vindo para cá. Estou agradecido porque estou contando a história da minha vida.
P/1 – Você gostou, então, de dar a entrevista?
R – Maravilhosa.
P/1 – Que bom.
R – Estou satisfeitíssimo, e vocês estão de parabéns.
P/1 – Muito obrigada.
R – E nós é que agradecemos ao Iphan pela ideia, através de vocês, de fazer esse livro, e que eu quero ter um prazer em receber esse livro para entregar aos meus netos.
P/1 – Muito bom. Eldo, muito obrigada pelo seu tempo, por compartilhar suas histórias. Foi muito bacana.
R – Se tivesse mais tempo, eu estaria aqui à disposição de vocês.
P/1 – Muito obrigada.
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