0:14 (P/1) Dr. Cristiano, eu gostaria de saber seu nome completo, local e data de nascimento?
R - Meu nome é Cristiano de Freitas Fernandes, eu nasci no Rio de Janeiro em 14 de fevereiro de 1973.
0:30 (P/1) Posso te chamar de Cristiano?
R - Claro!
(P/1) Cristiano, seu pais são do Rio de Janeiro?
R - A minha mãe é do Rio de Janeiro, nasceu lá, filho de militar da aeronáutica e o meu pai é do Ceará, da cidade de São Benedito, no interior do Ceará, na divisa com o Piauí.
0:55 (P/1) Como é que é o nome da sua mãe?
R - O nome dela é Isabel Cristina e do meu pai é Ubirajara.
1:03 (P/1) Vamos falar um pouquinho da família de cada um. A sua mãe nasceu no Rio de Janeiro e é filha de militares, você conheceu os seus avós?
R - Conheci os meus avós maternos e paternos, conheci os 4. Só que os pais do meu pai já faleceram a bastante tempo, em São Benedito, Ceará. E o meu avô por parte de mãe também já faleceu, coraçãozinho dele não aguentou. E hoje por parte de mãe eu só tenho a minha avó, a dona Jacira, que hoje mora no interior do Rio de Janeiro.
1:44 (P/1) Cristiano, você chegou a conviver com os seus avós maternos?
R - Convivi muito com eles, praticamente todos os finais de semana eu estava com eles, lá no sítio, porque eles tem um sítio no interior do Rio, que tem piscina, várias árvores frutíferas, é um lugar super gostoso, e é um lugar que eu mentalizo toda vez que eu preciso ter calma e paz.
2:10 (P/1) Quando você pensa na sua avó e no seu avô, que histórias você lembra deles? Eles nasceram no Rio também?
R - Nasceram no Rio, os dois. As histórias são histórias curiosas, porque o pai da minha avó era português e casou com uma carioca, e os avós do meu avô, um era negro e a outra era índia, então saiu mameluco, mameluco não, caboclo, né? E aí a árvore genealógica foi se dividindo. Mas eu me lembro muito dos meus avós em razão das festas que eles faziam, as festas juninas, da construção da chácara toda, de tudo que a gente convivia, os natais, os dias de páscoa, que a gente estava sempre com eles, são memórias muito gostosas.
3:18 (P/1) O que você lembra da construção dessa chácara?
R - Principalmente da piscina, que era o que mais as crianças queriam na época, então eu acompanhei desde o primeiro buraquinho lá até a colocação dos azulejos, foi muito bacana.
3:34 (P/1) - O que você sentia vendo essa construção?
R - Eu sentia uma felicidade profunda, porque eu via que a minha família estava se dedicando, de uma certa forma, a construir o sonho dos netos e dos filhos, que era ter uma piscina, que a gente nunca tinha tido até então. Então aquilo foi muito significativo para a gente.
4:00 (P/1) Como que era o seu avô, quais as características dele?
R - Era um homem bastante elegante, muito simpático, era engenheiro da força aérea e também gostava muito de comer mamão e manga (risos). E sempre me carregava junto com ele para essas aventuras aí, no meio da mata. Mas era uma pessoa extremamente amorosa e também bastante tenerum, deixou segurança econômica para minha vó, que não trabalhava, não podia, por conta de várias transferências, porque ele era militar, então ela tinha dificuldade de arrumar um trabalho, uma ocupação, mas ele tomou o cuidado de deixar ela bem confortável na falta dele.
4:54 (P/1) Qual era a patente do seu avô?
R - Era Major, Major da Aeronáutica
5:00 (P/1) E o que ele te contava da Aeronáutica, do que ele fazia?
R - Contava, porque ele servia na base aérea de Santa Cruz, foi onde eu nasci, porque o meu pai também é militar, meu pai também é da Aeronáutica. E ele serviu muito tempo na base aérea de Santa Cruz, que é uma base que tinha o hangar gigantesco para abrigar o Zepelim, que é aquele dirigível a gás, que existia no Brasil, porque eu acho que até depois pegou fogo. Então ele contava, e eu visitei esse hangar, que é super bacana, tem um pé direito gigante, é bem impressionante e lá ficava armazenado hoje em dia, os aviões. Os aviões de caça, principalmente o F5, que é daquele grupo de caça da aeronáutica, chamado Senta a Puá, esse esquadrão foi o que lutou na segunda guerra mundial na Itália, e tem o símbolo de uma avestruz em cima de uma bomba explodindo, é muito bacana.
6:17 (P/1) E a sua vó?
R - Ela é viva ainda, é uma comediante, ela vive fazendo piadas, todo mundo gosta das piadas dela, ela é muito dura com as empregadas, é uma chefe bem dura, mas com a gente ela é super amorosa e bondosa, minha vó é nota 10.
6:41 (P/1) Que lembranças você tem dela, da infância?
R - Eu tenho muita lembrança boa dela, dela cozinhando, fazendo os doces, ela tinha uma prática muito bacana, que no Rio de Janeiro a gente chama de sacolé, que o sorvete colocado num saquinho de plástico, que fica congelado, então ela fazia de nescau, de frutas, de abacate, de coco, era super gostosos. Então eu lembro dela muito na cozinha, fazendo as coisas para os netos.
7:19 (P/1) Você tem irmãos?
R - Eu tenho uma irmã mais nova, que é a Juliana, ela hoje trabalha numa multinacional da informática e mora em São Paulo e tem 2 filhas e é casada.
7:26 (P/1) E que memórias que você tem dos seus avós paternos?
R - Os meus avós paternos, o nome do meu avô era Manoel, chamava ele de vovô Manu e a minha vó era Antônia, chamava ele de Toinha.
(P/1) Os dois são do Ceará?
R - Os dois são do interior do Ceará e eu tenho poucas memórias, porque eu os visitei muito pouco, mas eu lembro do cheiro de pequi que eles gostavam muito de fazer, é um cheiro forte e eu gosto muito até dessa fruta, que mistura com arroz, com a comida é típica do centro-oeste também, mas no Ceará eles consomem muito essa fruta. E eu lembro muito dessa imagem deles na cozinha, cozinhando pequi, aquele cheiro forte.
8:34 (P/1) E o seu pai nasceu no Ceará?
R - Ele nasceu no Ceará, uma família bastante humilde, pobre mesmo, e ele desde criança, ele fazia a esquadrilha dele com restos de palito e gravetos, ele fazia os aviõezinhos dele com gravetos e palitos e com 14 anos, ele conseguiu passar na prova de Epicar e lá foi estudar em Resende, na escola da Aeronáutica, que é o 2º grau da aeronáutica. E lá ele iniciou a carreira dele de militar, depois ele passou para academia da força aérea, na AFA e daí ele segui a carreira de oficial piloto da aeronáutica, aviador.
9:27 (P/1) Cristiano, você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R - Sei sim! É uma história bem curiosa, o meu pai pescava camarão com o meu avô, no Rio de Janeiro, eles se conheceram na força aérea, eles saíram juntos para pescar e lá meu avô queria que o meu pai conhecesse a minha tia Ivonete, que era a mais velha das duas, eles tinham duas filhas, a Ivonete e a Isabel, a Isabel minha mãe, e a tia Ivonete que ainda era solteira, meu avô queria que meu pai conhecesse ela. E aí armou um almoço na casa deles tudo, e o meu pai acabou se apaixonando por uma menina de 14 anos, que hoje é minha mãe, e que já era totalmente formada, já estudava a muito tempo tudo, minha mãe sempre foi uma mulher alta. Então ele se encantou, não sabia da idade, mas depois ficou sabendo, ficou meio constrangido, mas mesmo assim namorou e casou com ela. Sobre protestos dos pais. E aí os pais não queriam, meu avô não queria que minha mãe se casasse com 15 anos, muito nova, mas naquela época era mais comum do que hoje em dia. Mas aí foi possível, porque ela foi… houve autorização dos pais, porque meu pai entrou dentro de casa chorando, dizendo que se eles não autorizassem ele ia sequestrar ela de qualquer forma. Então a coisa foi fluindo, fluindo, eles tiveram que autorizar, aí ela foi emancipada e casou-se.
11:20 (P/1) Mas quando o seu avô levou o seu pai em casa, ele falou que ele queria que a irmã dela namorasse com ele, ou não?
R - Era uma intenção oculta ali, mas que depois foi colocada para todo mundo, para que a história ficasse mais adequado do que era mesmo, eles realmente queriam que meu pai conhecesse a filha mais velha, que depois veio a se casar também, depois de 6 anos, ela veio se casar com um militar também, que é o meu tio, meu padrinho, que é o Carlos Ernesto, que também é aviador da aeronáutica.
12:11 (P/1) Cristiano, com quantos anos eles começaram a namorar, quantos anos a sua mãe tinha?
R - Minha mãe tinha 14 anos.
(P/1) E ele?
R - Meu pai acho que há tinha 25, ou 26 anos, já era bem mais velho que ela.
12:27 (P/1) E aí eles se casaram ela tinha quantos?
R - Ela tinha 15 anos, namorou pouco tempo, se casou com 15, e eu nasci quando ela tinha 16 anos, então foi tudo muito rápido. Era uma criança, com um crianças no colo né?
12:49 (P/1) E aí eles casaram e foram morar onde? Ou ficaram na casa dos pais?
R - Não, eles foram inicialmente morar na base aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro e depois meu pai foi transferido para Natal, ele tinha uma esquadrilha de uma jato brasileiro, chamado Xavante, que é em homenagem inclusive a uma tribo indígena. E lá nessa base aérea de Xavante ele comandou o esquadrão e foi um tempo que nós ficamos 5 anos morando lá. E eu lembro bem de Natal, porque em Natal, quando eu completei 5 anos de idade, nós tivemos um acidente de avião, nós voltamos do Rio de Janeiro para Natal, num avião Bandeirantes, num avião da Embraer, com mais ou menos 15, 16 pessoas e houve uma falha do copiloto que trazia o avião de volta, ele acabou reduzindo o RPM do avião mais do que devia, o avião perdeu ostentação, a gente estava muito baixo, batemos na laje de uma fábrica, o avião perdeu as 2 asas, depois ele capotou, só não esmagou todo mundo, porque a cauda do avião foi amortecida em 2 coqueiros que nasceram em V. E eu lembro de tudo, eu lembro do impacto, eu lembro de como eu saí do avião, foi uma experiência bem amarga e que meu deixou um pouco traumatizado em relação avião durante muito tempo, mas hoje em dia eu não tenho mais nenhum preocupação, hoje eu sou bem tranquilo em relação a isso, principalmente porque ninguém cai 2 vezes de avião, então eu sou o maior seguro a aeronáutica que existe(risos).
14:46 (P/1) E o seu pai, sua mãe estavam nesse voo? Seu pai, sua mãe, sua irmã?
R - A minha irmã estava na barriga da minha mãe ainda, minha mãe estava com 4 meses de gravidez, minha vó estava no avião também, meu avô não, éramos meu pai, minha avó, a minha mãe e eu. E eu sai pela janela do avião, porque uma das sobreviventes pegou uma pedra e foi quebrando as janelas do avião e por ali eu saí, e foi muito engraçado, porque ninguém acredita que o avião não pegou fogo, porque na hora que ele bateu na laje da fábrica saiu muita faísca e abriu o combustível do avião para fora, então vazou muito combustível com as faíscas, mas mesmo assim, graças a Deus não pegou fogo.
15:39 (P/1) Mas as pessoas gritaram, como que foi na hora dentro do avião?
R - Primeiro foi o primeiro impacto, aí piscou a luz do avião, depois teve o segundo impacto, o avião… um barulho muito grandes, as coisas de um lado para o outro, cadeira voando e tudo, eu tenho essa lembrança, mas eu mesmo não me machuquei. E depois disso, depois de 2, 3 segundos que tudo acabou de acontecer, as pessoas começam a gritar, eu lembro muito bem dos detalhes, porque como é um evento relevante na minha vida, muito forte, então a gente lembra bastante. E o curioso, que a apesar do avião ter ficado bastante destruído, ninguém morreu no acidente, 16 pessoas saíram, algumas bastante feridas, mas ninguém morreu.
16:35 (P/1) Quais são esses detalhes que você lembra?
R - Eu lembro, por exemplo, de que quando acabou de acontecer o acidente, logo em seguida, que todo mundo começou a gritar, a minha vó que estava na cadeira de trás gritava, “meu neto, meu neto, meu neto.” Eu lembro que eu falei para ela, para ela saber que eu estava bem, “vó tira minha camisa que eu estou com calor.” Olha a frase que eu falei. Para ela saber, estou aqui e estou bem, e ela teve um corte na perna muito profundo coitada, sofreu bastante. E a cena mais forte, foi quando eu saí do avião e fui procurar minha mãe, porque eu não encontrava, e no meio dos destroços, estava a noite, a gente caiu era noite já, perto de uma rodovia. E aí no meio do mato, naquela confusão toda, eu encontrei a minha mão de cabeça para baixo com combustível pingando nela, olha só. Ela estava pendurada na cauda do avião, ela foi parar na cauda do avião, de cabeça para baixo, com combustível pingando, e aí ela falava, saí daqui que o avião vai pegar fogo, e gritava forte para eu sair de lá, e eu infante ainda, não, vou ficar aqui, aí ela começou a gritar, gritar, eu fiquei com medo fui chamar alguém para socorrê-la. Mas ela não se machucou, minha irmã também ainda estava na barriga dela, não teve nenhuma sequela, graças a Deus, mas eu lembro, lembro de tudo, impressionante.
18:22 (P/1) E você em algum momento ficou com medo de morrer?
R - Naquele dia não, naquele dia como aconteceu a confusão e eu não me machuquei, eu não fiquei com receio de morrer, mas eu tive esse receio muito forte, de uma forma muito significativa, toda vez que eu entrava no avião depois disso, como criança ainda, durante alguns 3, 4 anos, eu ainda sofria muito. E meu pai me falava, eu vou te fazer um tratamento de choque, um tratamento que na força aérea parece que eles fazem, que é o seguinte: quando caí uma aeronave, e os pilotos, outros pilotos ficam sabendo, eles são convocados para decolar os aviões na mesma hora e muitos não tem o ímpeto, a coragem, o estômago de decolar um avião, sabendo que uma amigo acabou de morrer num acidente aéreo, mas esse é chamado tratamento de choque para saber se realmente aqueles pilotos, eles serviriam para um evento mais complicado como uma guerra, que é vencer as fortes emoções de perder um amigo, um querido. E esse tratamento de choque foi aplicado a minha pessoa, veja só. E aí, durante alguns anos, eu fui mesmo forçado a voar com os meus pais, mesmo porque eles sempre se mudavam muito, não tinha como não entrar num avião. Eu ia muito desesperado, mas com o tempo eu fui me acostumando, vi que não tinha tanto problema assim, até quando alguém me falou que ninguém caí duas vezes de avião. Então fiquei mais tranquilo.
20:17 (P/1) E como é que esta história foi sendo passada> Foi recontada, foi muito rememorada?
R - Ela foi muito rememorada, porque esse acidente acabou criando uma interação no próprio avião, eles, depois disso a Embraer criou uma trava de comando, para não reduzir o RPM do avião quando ele tiver perto de pouso, então isso acabou entrando na história dos acidentes da força aérea, por conta dessas alterações todas que foram feitas. E na minha família a gente sempre comenta, porque é um evento dramático e digno de história de barzinho.
20:59 (P/1) E aí depois do acidente, estavam indo para?
R - A gente estava chegando em Natal, à noite.
(P/1) Mas foi quando vocês estavam mudando?
R - Não, a gente estava mudando do Rio para Natal.
(P/1) Foi no trajeto da mudança?
R - No trajeto da mudança, exatamente.
(P/1) Como é que foi chegar em Natal depois disso?
R - Foi terrível, né? Porque todo mundo no hospital, eu nervoso de ver meu pai machucado, porque o meu pai se machucou muito, para você ter uma ideia, ele foi cuspido do avião, ele quebrou os controles do avião, junto com as 2 pernas do sargento de voo, que é o mecânico de voo, foi cuspido do avião, quebrou uma parede de tijolos que tinha no chão e mesmo assim sobreviveu, foi uma coisa incrível. Mas eu fiquei bastante preocupado na época de ver o meu pai machucado daquela forma, isso me marcou muito.
22:13 (P/1) Mas aí vocês chegaram lá você foram morar numa casa dentro da base militar?
R - Exatamente, dentro da base militar, vendo os aviões passando ali perto todos os dias, não tinha jeito.
(P/1) Mas aí vocês chegaram depois que saíram desse acidente e foram direto para casa? Ficaram em algum lugar ou já foram para a casa?
R - Não, daí direto para o hospital e do hospital para casa. A sorte que eu e minha mãe, nós não nos machucamos, só minha vó que teve um corte profundo na perna e o meu pai que se machucou muito. Então a gente ficava entre casa e hospital, até que os dois saíram do hospital e ficaram na nossa casa.
22:58 (P/1) E como que era essa casa lá, você lembra?
R - Lembro, era uma casa grande, com uma garagem grande, um jardim bacana. Eu lembro, não muito da casa, porque… é curioso, porque a gente acaba tendo poucas lembranças, porque logo em seguida minha irmã nasceu, e aí o ciúmes de filho único toma conta, então eu lembro das brigas que eu tinha de ciúmes de minha irmã. Mas da casa mesmo eu não me lembro muito.
23:39 (P/1) Quanto tempo você morou lá, nessa casa?
R - Nós moramos 5 anos lá.
(P/1) Até você ter 10 anos?
R - Até eu ter cerca de 10 anos, a gente foi morar no Rio de Janeiro, logo depois, não, logo depois a gente foi morar em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em Santa Maria nós moramos 2 anos e depois de lá fomos para o Rio de Janeiro, onde nós ficamos até 1988, oportunidade que o meu pai foi transferido para a base aérea de Anápolis, aqui perto de Brasília, e lá nós ficamos 2 anos e depois disso Brasília, nós viemos todos para Brasília e depois disso eles voltaram para o Rio e eu fiquei.
24:29 (P/1) Em Natal foi a primeira vez que você entrou na escola?
R - Foi! Natal foi a primeira vez que eu entrei na escola, eu fiz o maternal e o jardim I e II lá. E lembro bem do desespero que eu tinha no primeiro dia de aula, isso também me marcou muito, lembro até a cor e a forma do portão que separava o corredor da escola da sala de aula.
24:57 (P/1) Conta como é que foi esse dia?
R - Terrível, né! Porque eu chorei o dia inteiro, minha mãe não conseguia sair, porque quando ela virava as costas eu chorava mais ainda, foi um momento difícil, acho que para toda criança é, não sei, é como cortasse ali o cordão umbilical e você tivesse olhando que estão cortando. Então para mim foi bastante assustador, mas depois a gente se acostuma.
25:29 (P/1) E na escola, como que você era na escola, você gostava de estudar, o que você mais gostava na escola?
R - Eu sempre gostei de estudar, prestava sempre atenção, eu sempre fui um aluno comportado, mas com o tempo eu fui me aproximando mais da área de humanas, português, inglês, a questão da geografia da história e depois fui me aproximando dessa questão, queria ser primeiro diplomata, depois perdi o encanto pela diplomacia e fui fazer direito, e no direito eu me encontrei, porque eu sempre fui muito contestador. E aí eu encontrei a arma certa para aplacar as minhas contestações. E aí virei advogado desde então, desde 1996, que eu advogo.
26:33 (P/1) Dr. Cristiano, você lembra de alguma professora que tenha te marcado nesse período?
R - No período de infância ainda,você fala?
P/1 - É, no período que você estava em Natal.
R - Não, em Natal eu não lembro, curiosamente eu não lembro de nenhuma professora.
P/1 - E amigos, você tinha amigos na escola, onde você morava, na base militar?
R - Tinha, tinha amigos, tinha o Thiago, o Diego, o Cláudio, a Vanessa, lembro dos 4. Cláudio e Vanessa nunca mais os vi, mas o Thiago e o Diego, volta e meia eu encontro ele, porque o Thiago mora aqui em Brasília, então volta e meia a gente se encontra. E o Diego, irmão dele mora em São Paulo, mas está sempre em Brasília também, então oportunidade de encontrar com eles.
27:26 (P/1) Quais eram as suas brincadeiras, do que vocês brincavam?
R - Brincava de luta, de esconde-esconde, pique pega, de avião, de tudo. E tinha uma brincadeira que era bem curiosa, que era a seguinte: a gente sentava no parquinho de areia e pegava pedras e gravetos e fazíamos vários tipos de controle, como se fosse o controle de uma avião, e lá nós fazíamos as nossas brincadeiras, como se nós estivéssemos pilotando avião. Isso eu lembro bem.
28:03 (P/1) Como que era a relação com o seu pai, sua mãe, quem que exercia autoridade dentro de casa?
R - Meu pai sempre foi quem exerceu muita autoridade, mas minha mãe sempre se impôs muito e ele respeitava essa imposição dela, que eu acho isso bacana, mas como ele era do interior do Ceará, naquela época o machismo ainda era muito forte, ele ainda se impunha muito, até hoje ele gosta de ter a última palavra.
28:37 (P/1) A sua mãe trabalhava fora?
R - Ela não trabalhava fora, ela começou a trabalhar quando nós fomos morar em Anápolis, que aí ela já era formada em Educação Física, e aí ela dava aula de Educação Física. Hoje em dia, a alguns anos atrás ela se formou também em psicologia e hoje ela é psicóloga, ela clínica.
29:04 (P/1) E como o seu pai era com vocês, era uma pessoa mais carinhosa, mais reservada, como é que ele era?
R - Ele era de extremos, extremamente carinhoso, extremamente bravo. Então, eu me lembro de uma vez que ele trouxe dos Estados Unidos um João Bobo, não sei se você já ouviu falar, João Bobo é um boneco grande que você bate nele, ele vai e volta. E ai como eu via nos filmes que quando você bate em alguém a pessoa cai e fica no chão, aquilo me irritava muito, de bater no João Bobo e ele voltar, então o que eu acabei fazendo, eu peguei uma tesoura, “bom, esse João Bobo vai dar uma bela de uma máscara.” E aí cortei o João Bobo, dos Estados Unidos, Miami, caríssimo, e fiz uma máscara. Quando meu pai chegou imagine o que aconteceu, só faltou forçar a costurar o raio da cabeça do João Bobo de volta, sofri muito nessa época. Mas são coisas da vida.
30:15 (P/1) E na sua casa quem que cozinhava, como que era o cotidiano?
R - Nós sempre tivemos empregada, cozinheira que fazia a alimentação e minha mãe também sempre se aventurou também na cozinha.
30:33 - P/1 - Quais são os cheiros, as comidas que você lembra dessa época?
R - Muito camarão, a gente saia para Nísia Floresta, ali perto de Natal, uma cidadezinha, Nísia Floresta, e eu me lembro muito bem de um parto famoso que nós comíamos, que era arroz de corda, com manteiga da terra e camarão frito, nossa, era tão gostoso, marcou muito a minha infância, esse prato.
31:07 (P/1) E com a sua irmã, você brincava, como que era a sua relação com ela?
R - Eu sempre me dei muito bem com a minha irmã, depois dos primeiros anos de ciúmes, de perder a posição de filho único, mas depois a gente se dava muito bem. Ela gosta muito de mim, é uma pessoa extremamente carinhosa e sempre foi muito dinâmica também, então a gente sempre brincava juntos, até de luta, imagina? Menina e menino lutando.
31:44 (P/1) Aí depois de 10 anos vocês mudaram, foi para o Rio Grande so Sul?
R - É, a gente foi para o Rio Grande do Sul e lá ficamos 2 anos.
P/1 - Como é que foi para você mudar, sair de Natal para o Rio Grande do Sul, você queria, não queria mudar?
R - Realmente foi muito impactante, porque imagina uma criança falando “pia”, chega lá falando, “barbaridade tchê", então para mim foi terrível, sofri muito bullying, porque o pessoal do sul eles são meio xenofóbicos, então no início, eu tive que aprender rápido a falar com o sotaque do Rio Grande, porque se não, não seria muito bem aceito não, imagina? Sai do Rio de Janeiro falando tia, ia para Natal falando tia, e chegando no Rio Grande do Sul falando pia, era difícil.
33:00 (P/1) Cristiano, você lembra de alguma cena de bullying que você sofreu, por conta do sotaque, desse processo migratório?
R - Eu lembro que quando eu falava, principalmente quando eu chamava a professora de tia, que eu falava “tia”, com o sotaque de Natal, eu me lembro que as outras crianças riam muito, então eu tenho isso muito marcado, porque as crianças riam muito e eu ficava constrangido, porque eu não sabia falar diferente, pra mim aquilo é normal, então foi principalmente essa palavra, tia, foi que me pegou.
33:47 (P/1) E o que você sentiu, você contava para a sua mãe, você chegava chorando, como é que se manifestava isso em você?
R - Não, eu comentava com a professora e ela acabou comentando com a minha mãe, e eu acho que a solução foi justamente me adaptar ao lugar que eu estava, adquirir o sotaque de lá, acho que foi a forma mais fácil e natural também.
34:15 (P/1) E que lembranças que você tem período no Sul, fora o bullying?
R - Além dessa questão, eu lembro muito do frio, do frio, do vento chamado lá de minuano, que é um vento fortíssimo, muito frio, que traz tempestades, raios, granizo e basicamente bastante frio. E lembro também das feiras de agronegócios, agroindústria que tinha lá, sempre foi muito marcante. E lá eles comemoram também a farroupilha, que é uma revolta do Rio Grande do Sul, que aí tem o arroz carreteiro, churrasco típico gaúcho e as cavalhadas dos gaúchos lá, é bem interessante.
35:12 (P/1) Você sentia falta do Rio Grande do Norte, dos amigos de lá, da vida que você tinha lá?
R - Toda vez que eu me mudava de uma cidade para outra, eu tinha bastante dificuldade de esquecer os amigos que eu convivia e criar novos laços de amizade, isso é um dano muito significativo, eu sonhava com os meus amigos antigos, isso sempre aconteceu muito, isso aí realmente é um fator que para criança é muito danoso. Você cria laços, depois tem que desfazer esses laços, criar novos laços, com outro sotaque, com outra cultura, mas acho que o ser humano é super adaptável, isso faz parte da nossa natureza.
36:06 (P/1) Dr. Cristiano, você teve alguma formação religiosa?
R - Tive, tive, eu fui batizado na igreja católica, eu fiz a primeira comunhão na igreja católica, mas depois por influência do meu pai, eu me aproximei muito do espiritismo. E hoje eu gosto muito de estudar as questões da espiritualidade, mas eu não me considero rotulado com nenhuma religião, hoje em dia. Hoje em dia eu me considero espiritualizado.
36:43 (P/1) Mas na sua infância já tinha isso na sua vida, enquanto morava com os seus pais, sua mãe ser católica e seu pai espírita, tinha alguma…
R - Sempre, sempre foi, porque o meu pai era da ordem Rosa Cruz, na ordem Rosa Cruz ele sempre estudou muito essas questões da espiritualidade e também dessa questão de que não há nenhuma religião superior à verdade. Então ele sempre foi muito curioso, foi muito estudioso nesses assuntos espirituais e me levou para esse caminho que eu gosto muito hoje em dia, e faz parte essencial da minha formação como ser humano, que é essa educação espiritual.
37:25 (P/1) O que ele passava para vocês da espiritualidade, o que ele ensinava para vocês, como é que isso se manifestava em você, naquele momento, o que ele te passava?
R - Ele sempre me pedia muito retidão, verdade, honestidade e caridade, isso eram questões bastante significativas para ele e ele incutiu muito isso em mim, que é principalmente essa questão da honestidade e da retidão, do caráter e da formação moral. E de sempre procurar fazer o bem, talvez o grande sucesso que eu possa ter na minha vida, vai ser ter feito bem, e eu procuro fazer isso com os meus clientes, de buscar justiça para eles, então de certa forma eu me considero uma pessoa que tenta ao menos fazer o bem.
38:38 (P/1) Dr. Cristiano, e se falava de política na sua casa?
R - Sim, sempre foi falado de política, sempre houve, mas como o meu pai dominava a situação, ninguém se aventurar a falar nada contra ele, então era uma política meio ditatorial(risos).
39:00 (P/1) O que ele falava de política? Sua mãe falava também?
R - Não, minha mãe nunca teve uma questão de discutir com ele política, ela nunca se incomodou muito com isso não.Mas ele, toda vez que ele era contrariado, ele era bastante incisivo, muito bravo nas posições dele, muito impositivo. Mas ele entende todo o processo, ele fez parte de todo o processo na época do golpe militar, na questão da ditadura militar. E ele viveu muito essa situação, então ficou muito arraigado nele, essas concepções contra o comunismo, contra o que ele achava que poderia acontecer com a país, que era sucatear a força de trabalho, as forças industriais, então isso ficou muito incutido nele, essa questão contra o que ele chamava de comunismo.
40:14 (P/1) E isso te formou, a sua opinião política, como que era isso? Você era contra ele, mas não falava ou concordava com ele?
R - Eu sempre…eu concordava em parte com ele, eu sempre fui um pouco rebelde em relação a algumas posições do meu pai, o que fatalmente complicou muito a adolescência, a relação minha com ele na adolescência. Por ser também muito crítico e contestador, eu tenho esse meu âmago, é crítico e contestador, então eu sempre gostei de pensar por mim mesmo também, e não só por influência alheia, mesmo sendo dos meus pais. Então, isso foi uma grande dificultador da minha relação com o meu pai, nessa época, nessa época da pré adolescência e da adolescência.
41:15 (P/1) E como que era esses embates? Você lembra de alguma cena, algum caso específico de vocês debatendo isso, divergindo?
R - Teve uma época, teve um evento que ele foi muito incisivo, e eu falava para ele, “pai, você não tá lembrando de tal posição, de tal situação.” Ele simplesmente deu um grito, falou um palavrão, levantou e foi embora(risos). Bem típico do ditador.
41:55 (P/1) Você ficou quanto tempo no Rio Grande do Sul?
R - 2 anos só, em Santa Maria.
P/1 - E como é que eram as casas, elas eram parecidas, por serem na base militar?
R - Não, lá a gente morava em apartamento.
P/1 - E era na base militar também?
R - Não era dentro da base não, era na cidade, no centro da cidade.
42:22 (P/1) Como que era o cotidiano do seu pai de trabalho?
R - Não, eu não acompanhava, mas ele todos os dias levantava cedo e ia para a base aérea.
P/1 - E você tinha assim, algum desejo de ser igual ao seu pai, seguir a carreira militar?
R - Durante muito tempo, até perto da adolescência eu queria realmente ser piloto, ir para a aeronáutica, seguir os passos dele, mas depois eu fui vendo que a minha arma era outra, acho que a minha arma era a discussão, a crítica, e depois eu fui ver que a minha arma era o código, a lei, a constituição, o código civil, o código do consumidor, os códigos todos. E aí eu percebi que realmente não era a minha praia ser uma pessoa que não pudesse contestar ordens absurdas, ou ordens incontestáveis, que é muito carregado isso no militarismo, você tem que cumprir a ordem sem contestar.
43:33 (P/1) Dr. Cristiano, e depois você ficou dois anos lá, você falou?
R - Isso, nós ficamos 2 anos e Santa Maria e fomos depois morar no Rio de Janeiro, onde nós ficamos mais ou menos 8 a 10 anos lá. No Rio de Janeiro nos moravamos no Jardim Botânico, no mesmo quarteirão da Rede Globo e lá eu conheci muitos artistas, conheci a Xuxa, conheci repórteres, produtores de cinema, foi uma época bem interessantes, mas também bastante delicada, porque o Rio de Janeiro já vivia, como hoje vive muito mais, uma violência urbana absurda, absurda. Então isso foi delicado, eu tinha basicamente 5 amigos no Rio de Janeiro, que convivia sempre com eles e 2 os pais foram assassinados, um na frente do prédio e outro dentro do apartamento, um no Leblon e outro no Jardim Botânico, então convivi muito de perto com essa questão da violência, que é muito disseminada no Rio de Janeiro.
44:57 (P/1) Como que você se sentiu saindo do sul e indo para o Rio de Janeiro. Você sentiu falta igual de Natal, como que foi essa mudança para você, como é que você vivenciou isso?
R - Eu senti um pouco de falta, porque no Rio Grande do Sul eu tinha muito mais liberdade, no Rio de Janeiro, por conta da violência, meus pais eram muito mais preocupados em me manter dentro ali do condomínio e nos finais de semana ir para o sítio na casa da minha vó. Então isso marcou, a falta de liberdade, o ir e vir era bem mais restrito no Rio de Janeiro. Tanto é que até hoje em dia eu guardo lembranças não muito boas do Rio de Janeiro, por conta disso, por conta das pessoas mesmo que moram lá, que faziam lá, do que aconteceu com os meus amigos, o que aconteceu comigo. Um determinado dia nós voltavamos da casa da minha vó e tinha ali o túnel 2 irmãos, que separa o São Conrado, da Gávea, e o pessola da favela, da Rocinha, os traficantes, eles fecharam o túnel, e no exato momento que nós íamos entrar no túnel começou o tiroteio, a gente teve que voltar com o carro pela contramão, foi aquela confusão toda. Então, essas cenas, elas eram muito comuns naquela época já, o que é lamentável.
46:40 (P/1) Você ia à praia, sua família tinha esse costume? Qual era sua relação com a praia?
R - Não, a gente tinha, a gente ia muito à praia, principalmente ali no Leblon, onde eu estudava, eu estudava no Santo Agostinho, que é um colégio de Padres, que era bem perto, 1 quadra da praia. Então sempre que podia eu tava lá, principalmente no Leblon e Ipanema também, eram as praias que a gente mais frequentava.
47:15 (P/1) E você não saia do condomínio, você ficava basicamente no condomínio?
R - Ficava basicamente no condomínio. Até porque, criança e adolescente depois, principalmente criança, a gente não tinha muito o que fazer. Então era muito restrito ali, a questão… Mas mesmo assim, depois de uns 10 anos de idade, eu já pegava ônibus sozinho e ia para a escola e lá uma vez eu fiquei sobre a mira de um revólver de um assaltante, dentro do ônibus, enquanto o outro assaltante limpava as carteiras de todo mundo, sorte que ele me viu crianças, com a mochila, achou que não tinha nada de mais ali dentro, como realmente não tinha. Mas eu fiquei ali, sobre a mira do revólver, foi bem assustador.
48:15 (P/1) E como é que foi na adolescência, essa passagem de você ser criança para a adolescência, você ficava ainda no condomínio ou você já passeava pela cidade?
R - Não, no Rio de Janeiro isso não acontecia, porque nós tínhamos realmente muito receio de toda violência que existe lá. E eu fui com 15, 16 anos, quando a gente foi morar em Anápolis, quando a gente saiu do Rio e fomos morar em Anápolis, foi quando eu tive mais liberdade, porque aí eu saia a noite sozinho. Tinha mais segurança na cidade, então eu vive uma adolescência bem mais tranquila em Anápolis.
49:06 (P/1) Como que foi para você essa outra mudança, está sempre mudando de lugar?
R - Tem o lado bom e o lado ruim, né? O lado bom é que você está sempre conhecendo culturas novas, gente nova, lugares novos, comidas novas, cheiros e sabores diferentes, então isso é bem interessante, agora fica para trás os relacionamentos que você faz, eles ficam para trás e é difícil reaver, porque as pessoas… como eu era filho de militar, então os meus amigos eram filhos de militar também, então eles também estavam sempre em lugares diferentes, então a gente acabava perdendo contato.
49:59 (P/1) Você teve namorada, qual foi o seu primeiro amor, sua primeira paixão?
R - A sim, a minha primeira namorada foi em Anápolis, era a miss centro de gemologia de Anápolis, olha só, uma miss ainda. E lá eu namorei, durante os 2 anos que eu fiquei lá e depois a minha vida de namorador continuou em Brasília, mas primeiro foi lá em Anápolis.
50:40 (P/1) Como que era Anápolis?
R - Anápolis é uma cidade pequena, mas assim, hoje é uma das grandes cidades do centro-oeste, é uma cidade extremamente comercial e se tornou também industrial, do ponto de vista de laboratórios, da rede farmacológica e uma cidade que está crescendo bastante hoje em dia. Mas na época era basicamente, viva da agricultura, pouco de comércio, mas principalmente da agricultura, era uma cidade pequena, onde todo mundo se conhecia e quando você ia para uma festa tinha um grupo de pessoas, aí na mesma noite você ia para outra festa, estava o mesmo grupo de pessoas (risos). Era curioso.
51:34 (P/1) Como é que era essas festas, que música que tocava, de que ano a gente está falando?
R - A gente está falando de 1989/90, que antecederam Brasília. Mas as festas eram muito bacanas, era basicamente música de boate e música sertaneja, e o curioso, que em determinadas épocas do ano, existia a festa da porca e do parafuso, os rapazes recebiam parafusos, na entrada da festa e as meninas recebiam porcas. E aí a gente ficava a noite toda procurando a porca que coubesse o parafuso um do outro (risos). E aí era motivo para iniciar uma conversa.
52:35 (P/1) Como é que era, elas recebiam uma máscara de porca?
R - Não, não, aquela porca que você coloca no parafuso.
P/1 - Ah!
R - Aquela coisa redondinha que você coloca no parafuso. E os meninos recebiam parafuso, então só tinha um casal que dava certo, então as pessoas ficavam a noite toda procurando a porca que coubesse no parafuso. Então aquilo era motivo para conversar, para chegar, aproximar, era muito bacana.
53:16 - (P/1) E você como era como adolescente, você aprontava, saia com amigos, além dessas festas?
R - Eu sempre fui muito comportado, mas aprontar a gente sempre apronta um pouquinho, se não, não tem graça na adolescência, mas eu sempre fui muito comportado, os nosso exageros eles não eram exageros na verdade, mas eu gostava muito de chegar tarde em casa e sair cedo.
53:50 (P/1) Seu pai era muito rígido com vocês?
R - Sempre foi, muito! Muito, muito mesmo, essa uma característica dele, ele é até hoje, bastante rígido, aquela coisa do militar e tal.
P/1 - E você tinha primos, vocês se visitavam?
R - Tinhamos, eu tenho uma casal de primos, o Edson e a Fabíola que a gente convivia muito com eles, eles moravam também no Rio de Janeiro, uma época, então a gente estava sempre juntos nas festas juninas, nos natais. Agora os meus primos por parte de pai, eles moravam no Ceará, então a gente não tinha muito contato, então a gente acabou se afastando um pouco desses primos, hoje o meu contato maior é com o Edson e com a Fabíola, que dizer, principalmente com a Fabíola, que o Edson foi morar na Austrália.
55:02 (P/1) Como é que era esses natais da família?
R - Era bacana, porque primeiro, tinha todo aquele clima de papai Noel, de botar o presente na árvore e meu avô sempre se vestia de papai Noel para impressionar os netos, então era um evento bacana, todo mundo gostava muito, até quando eu fui ficando mais velho e me falaram que eu tinha que colocar o sapato na janela para o papai Noel colocar o presente, e no dia seguinte eu vi algodão no sapato, “ué, que algodão é esse aqui?” "Não é a barba do papai Noel.” “Não, isso daqui é algodão.” Aí foi perdendo o encanto.
55:58 (P/1) Aí de Anápolis vocês foram para Brasília? Essas transferências significavam que o seu pai estava mudando de grau dentro da hierarquia? Por que tinha tanta mudança?
R - É porque o militar, por natureza ele precisa ter missões específicas, essas missões sempre são em lugares diferentes. Então a gente tinha que sair de um lugar para o outro, para poder seguir o meu pai, então era por isso.
56:39 (P/1) O que são essas missões?
R - São missões que eu não conseguiria te descrever como, sei que a última missão que o meu pai teve aqui em Brasília, foi o departamento espacial, alguma coisa nesse sentido, que estudava os projetos de foguetes, projetos assim, aeronáuticos, de avião, tudo era bem interessante. Mas as outras missões dele eu não lembro muito bem não, mas eram sempre missões que eram adstritas aquela localidade, então ele tinha que se mudar sempre.
57:21 (P/1) Seu pai contava coisas do trabalho, do cotidiano dele para vocês?
R - Contava, mas não tudo. Ele contava as peripécias que ele passava, os apuros que ele passava com o avião. Ele também pilotou helicóptero muito tempo, ele depois que saiu da força aérea em Brasília, ele foi voar na Haeroli, que é uma empresa de aeronáutica, que tem helicópteros que atendem as plataformas de petróleo em Campos, Macaé, no Rio de Janeiro. Então ele ficava 15 dia lá e 15 dias em casa, então ele contava, teve uma bem interessante, que ele foi o primeiro a resgatar o pessoal da P36, aquela plataforma da Petrobras que afundou, ele fez o resgate do primeiro grupo de pessoas que saiu de lá. Ele sempre contava essas peripécias.
58:28 (P/1) O que ele contava especificamente desse episódio da P36?
R - Que teve que entrar rápido da aeronave, porque era um chamado de emergência e eles são preparados para isso, e aí ele chegou e teve que pousar no navio, que a plataforma já estava com inclinação muito grande, não podia mais pousar na plataforma, então ele pousou no navio que já tinha resgatado o primeiro grupo de pessoas que saiu da P36. E aí ele conta que nesse dia específico, o mar estava muito revolto, e para você pousar o helicóptero num navio, com o mar revolto e extremamente delicado, porque você tem que acompanhar o sobe e desce do navio, enquanto pousa o helicóptero nele e ainda ventando muito o helicóptero vai para um lado e outro. Então ele contava que era um voo bem técnico, bem interessante e perigoso.
59:29 (P/1) Como é que você via esse episódio, como é que você via o seu pai?
R - Eu sempre enxerguei nele um guerreiro, como o próprio nome dele diz, o nome indígena que ele tem, que Ubirajara é guerreiro na língua indígena, tupi-guarani. E eu sempre enxerguei nele um homem de muito afinco, muita dedicação, de muita inteligência e muito forte, então eu sempre tive essa imagem dele, do paizão mesmo.
1:00:10 (P/1) E da sua mãe?
R - A minha mãe já era quem passava mais a mão na cabeça, que quebrava mais o galho, escondia algumas coisas, assim: fez besteira, não conta para o seu pai, vem aqui, vamos resolver. Ela era o tempero da braveza do outro.
1:00:30 (P/1) Você tinha algum drama, alguma questão existencial que te acompanhou, que veio na adolescência?
R - Talvez essa relação com o meu pai tenha sido um pouco difícil, isso contaminou um pouco a minha relação com ele no futuro, porque eu era e sabia que era filho dele, mas talvez eu tivesse uma relação como fosse o soldado e o oficial, então eu reclamava muito isso dele, mas era maneira, depois eu fui percebendo que era a maneira que ele tinha de educar, a maneira que ele tinha de amar. Então, por isso eu acabei perdoando, e acho também que ele perdoou das minhas loucuras de adolescente.
1:01:31 (P/1) Aí vocês saíram de Anápolis e foram para Brasília, aí vc já estava com quantos anos?
R - Aí eu já tinha 17 anos. Aí fiz o meu 3º ano aqui em Brasília, o 3º ano do segundo grau, no colégio objetivo e depois eu passei na faculdade de Direito do CUB e aqui eu fiquei, só tinha 2 universidades que prestavam direito, na verdade 3, a UNB e outras 2, que era a Católica e o CUB. E depois eu me formei, foram 5 anos de faculdade, depois aqui em Brasília mesmo eu fiz uma pós-graduação em processo cívil e depois uma outra pós-graduação em Direito Tributário. E aí a gente vem atuando nessa área aí de Direito Empresarial e Tributário ao longo desses anos.
1:02:47 (P/1) Você disse que uma época você quis ir para Aeronáutica e depois você não quis, como que seu deu a escolha, por que você escolheu fazer Direito?
R - Porque eu acabei me conhecendo mais e percebendo que ao invés de ser uma pessoa que devesse seguir ordens incontestáveis no militarismo, eu devesse contestar toda ordem que não fosse razoável, então isso me levou, estudos e a convivência com outras pessoas, me levou a fazer o Direito. Mesmo porque nessa época eu pensava em ser Diplomata e eu tinha que ter o curso de direito para depois fazer o Itamaraty, que é o curso de diplomacia, então entrei no direito com essa intenção, mas depois eu fiz um estágio com um escritório de tributaristas aqui em Brasília e me encantei muito com a advocacia, com aquele espírito de fazer o bem, de resolver as coisas, de fazer justiça, então isso acabou me levando a desistir da carreira diplomática, que eu já tinha inclusive inglês e estava fazendo francês. E aí resolvi só seguir a carreira do direito mesmo. Mas foi principalmente isso.
1:04:23 (P/1) Aí seus pais voltaram para o Rio de Janeiro e você ficou?
R - É! Depois de um tempo de formado eles voltaram para o Rio e eu fiquei em Brasília, porque aqui eu já tinha iniciado o meu escritório, onde eu já trabalhava também, eu era advogado do grupo OK, de uma construtora. E lá eu fiquei um bom tempo como estagiário e depois como advogado e depois eu saí e montei o meu escritório. Então não justifica mais, porque eu tinha feito todo o meu relacionamento profissional e pessoal já era de Brasília, então eu resolvi ficar e não ir para o Rio de Janeiro com eles.
1:05:16 (P/1) Por que você escolheu essa área tributária empresarial?
R - Porque primeiro eu sempre gostei muito dessa questão da produtividade, eu sempre gostei dessa questão de auxiliar quem produz, de resolver problemas de quem efetivamente presta serviço, vende mercadoria, essa relação, essa cadeia produtiva ele muito bacana, ele é muito encantadora, você tem a aposta que o empresário faz, você tem as dificuldades que ele passa e você reconhece quando há o sucesso e a riqueza que existe meio é muito bacana, riqueza em todos os aspectos. Então isso me encantou muito, então eu sempre procurei advogar, principalmente para o empresário.
1:06:26 (P/1) E a sua ação se concentra em Brasília ou você atua no Brasil todo?
R - A gente atua no Brasil todo, mas principalmente em Brasília, nós temos causas fora de Brasília, mas o escritório se ocupa em qualquer lugar do país, com causas, principalmente da área tributária empresarial e também na parte de família e sucessões. E tem um grupo aqui do escritório que toca a parte de direito previdenciário e direito do trabalho, mas eu não me ocupo com essas áreas.
1:07:01 (P/1) Dr. Cristiano, qual foi sua primeira experiência com trabalho, seu primeiro trabalho?
R - Meu primeiro trabalho foi dando aula particular de inglês, aqui em Brasília. Eu tinha 2 aluninhos que estudavam inglês e que eu ia na casa deles dar aula. E depois eu entrei num curso chamado Wizard, aqui de Brasília e nesse curso eu tinha minha turminha tudo, aquilo foi muito precioso pra mim, saber que mesmo jovem ainda eu podia me dedicar a ensinar uma coisa para alguém e ainda receber um dinheiro por aquilo, isso é muito gostoso, eu sentia esse prazer de produzir e receber por isso, essa relação é muito prazerosa pra mim. Como deve ser para todo mundo que gosta do que faz. Eu dei aula durante 10 anos, na universidade, aula de direito, na faculdade de direito da UNIP, aqui em Brasília. E eu sempre falava isso para os meus alunos, “vocês precisam fazer o que vocês amam.” Tem um ditado famoso, que quando você ama o que faz você não trabalha mais um dia na vida. Então é interessante essa relação que você deve procurar ter.
1:08:32 (P/1) DR. Cristiano, em que momento o senhor teve contato com encontro das Rosas?
R - Com a Lisandra, coma Lisandra e com a Lua, elas vieram a Brasília, me presentearam com rosas e depois me explicaram como funciona tudo, que tem a parte do Rei, que tem a parte das orações, tem a parte da ajuda, de uma palavra, de uma mentalização positiva, então achei muito bacana isso.
1:09:08 (P/1) Como é que foi o seu encontro com a Lisandra?
R - O meu encontro com a Lisandra foi aqui em Brasília, ela conheceu uma ex sócia minha, num casamento, salvo engano, e ela precisava indicar, ela precisava ajudar um colega de fora de Brasília, com uma questão aqui no Supremo Tribunal Federal. Então ela acabou batendo aqui na porta do escritório e eu a conheci nessa oportunidade.
1:09:46 (P/1) Quanto tempo faz isso?
R - Isso deve ter uns 4 anos já.
P/1 - E você participou do encontro das Rosas, de alguma edição do encontro das Rosas?
R - Eu tentei participar, não consegui, eu acabei falando nesse aspecto, no Rio de Janeiro, mas eu não consegui participar.
1:10:12 (P/1) E como você vê esse encontro nessa perspectiva da justiça e da harmonização?
R - Eu acho de suma importância, porque o meio judicial, o meio judiciário principalmente, da própria advocacia, da promotoria, das procuradorias é um meio essencialmente frio e calculista, matemático, racionalista. E esse encontro, a harmonização que esse encontro faz e que a Lisandra gosta de propagar, ele traz um pouco de boas vibrações, aquece os corações e isso certamente inspira a criatividade do bem, de quem está fazendo a justiça, se for o juiz, a justiça se for o advogado, a justiça se for o promotor, procurador. Então acho muito importante que haja essa aproximação da boa sintonia, da boa vibração com o direito.
1:11:27 (P/1) A associação Senhora de Lourdes promove esse encontro das Rosas, aí também teve o tributo ao Marco Aurélio, a Teori Zavascki, como você vê essas iniciativas? Você está participando delas?
R - Eu participei do Teori Zavascki, porque ele era pai de um sócio nosso do escritório, que é o Francisco Zavascki que hoje mora em Porto Alegre e aí a gente acabou fazendo essa homenagem a ele, participando da cartilha que vai ser feita em homenagem ao ministro Teori. Que eu acho importante, porque ressalta a imagem e feitos de homens que são homens do bem, que são essencialmente homens que fazem o bem, então eu me senti muito satisfeito de poder dar uma pequena contribuição nessa cartilha em homenagem ao ministro Teori.
1:12:51 (P/1) E essa homenagem ao TV Justiça em nome do Sr. Marco Aurélio, ministro?
R - Essa eu não participei
P/1 - Você não participou dessa iniciativa?
R - Não, dessa não. Mas reputo o ministro Marco Aurélio uma pessoa também que não se deixa levar pela onda da maioria, ele sempre tem a sua posição e sempre defende sua posição com muita inteligência. Ele foi meu professor inclusive, na pós-graduação de direito pessoal cível e lá ele sempre atuou com muita humildade, paciência com a gente, então eu acho que foi merecida essa homenagem.
1:13:39 (P/1) Dr. Cristiano, você casou, teve filhos?
R - Eu fiquei em união estável com a minha ex mulher, durante 8 anos, oportunidade que nasceu minha filha, Luiza, que hoje tem 8 anos já, é uma menina linda, ainda mais o pai falando, tem que encher a boca de coisa boa, tem os seus cachinhos dourados, usa óculos igual o pai e é bem determinada também, gosto muito dela.
1:14:22 (P/1) Dr. Cristiano, o que mudou na sua vida com a paternidade?
R - A gente muda as prioridades, hoje eu tenho muito mais receio de pular de parapente, de voar de asa delta, de pegar ondas no mar revolto, como eu sempre fiz, dirigir com velocidade mais alta, eu tenho medo, porque eu não quero que a minha filha sofra a falta do pai, isso é muito forte em mim. Então essa sensação de ser pai da Luiza, é uma sensação muito boa e eu não quero perder ela tão cedo, então eu procuro hoje me cuidar mais, ser mais cuidadoso com tudo que eu faço, em prol dela.
1:15:10 (P/1) Quais são as suas atividades fora do escritório?
R - Bom, antes da pandemia e depois, né?
P/1 - É verdade, ia chegar lá!
R - Antes da pandemia eu já tinha voltado a minha malhação semanal, eu me matriculei numa academia, então eu ia com regularidade, não muitas vezes, mas com regularidade, eu fazia os meus exercícios físicos. E a noite, nos finais de semana, gosto de muito de sair para jantar, ir ao teatro, ouvir uma música, eu gosto de curtir, não prático a vivência, a intenção de ter prazeres muito grandes, não, eu me contento com pequenos prazeres, então isso é bom, porque aí você consegue ser feliz em qualquer lugar do mundo.
1:16:20 (P/1) Dr. Cristiano, e na pandemia, como está o seu cotidiano? O que está te trazendo a vivência nesse período?
R - Esse isolamento é um pouco deprimente, porque o ser humano é muito social, então a falta de convivência com os amigos, com os parentes, a falta de viajar, de voar, que eu gosto muito, isso é agoniante, você ter que ficar em casa, eu não posso sair com a minha filha para os lugares, porque ele pode pegar COVID, então ela está sempre em casa, eu vejo que ela sofre com isso também. Então, é uma época que está sendo bastante difícil para todos nós, para todo mundo, para o mundo inteiro, é um pouco deprimente, bastante deprimente, um filme de terror.
1:17:27 (P/1) Se você tivesse que contar daqui 10 anos para alguém, como é que foi o período da pandemia, o que você contaria?
R - Eu contaria que nós efetivamente vivemos um filme de terror, eu acho que o que mais vem na minha mente é filme de terror, esse isolamento, esse medo, essa quantidade de gente morta, de gente doente, de gente com receio, esse afastamento, esse isolamento, é terrível, é uma coisa horrível, você não poder nem velar o corpo do seu ente querido, não participar do enterro, ter caixão fechado, isso é terrível, isso é assustador.
1:18:23 (P/1) Olhando o seu passado, se você pudesse mudar alguma coisa, você mudaria alguma coisa na sua vida?
R - Não! Não mudaria nada, porque eu acredito muito, tudo acontece com a gente com um bom motivo, ainda traga dor e sofrimento, é por um bom motivo, só que muitas vezes a gente não sabe que bom motivo é esse, mas que tem um bom motivo por trás tem, porque Deus não é injusto, então eu com certeza não mudaria nada, eu me sinto muito feliz com tudo que aconteceu comigo, até das coisas duras que ajudaram a lapidar o meu caráter.
1:19:10 (P/1) Dr. Cristiano, quais são os seus maiores sonhos ou qual é o seu grande sonho?
R - Eu não tenho uma grande sonho, eu vivo ele, eu não deixo para o futuro, eu acho que como o John Lennon falava, a vida é aquela coisa que passa enquanto a gente pensa nela, eu acho que a gente tem que saber aproveitar o dia, a gente tem que saber aproveitar o momento, viver o presente. Então o meu grande sonho eu vivo todos os dias, que é trabalhar em prol de uma coisa boa, de fazer algo de forma honesta, de buscar justiça, de conviver bem com a minha filha, de ensina-lá os valores que me ensinaram, os bons valores, isso é o meu grande sonho, é o sonho que eu vivo todos os dias, então não aspiro nada além do que eu já faço. Mas eu tenho intenções, que talvez não sejam sonhos, mas sejam intenções, intenções de fazer mais pelo próximo, porque isso tá muito arraigado na minha personalidade, meu caráter, por conta do meu pai, dessa educação que ele teve, da necessidade da gente ser caridoso, da gente agir para o bem. E eu tenho esse sonho, porque apesar de achar que eu faço bem, eu poderia estar fazendo muito mais, então essa inspiração eu tenho .
1:20:57 (P/1) Dr. Cristiano, tem alguma coisa que você acha importante a gente retomar, alguma história que você quer deixar registrado?
R - Não, eu acho que a gente tocou em todos os assuntos mais importantes, da infância, adolescência, a vida adulta, eu acho que a gente tocou em todos os aspectos. Eu hoje gosto de falar que essa nossa vida que passa rápido, ela deixa alguns calos, algumas dores, mas ela é uma vida boa de viver, eu acho que a gente tem que saber ser otimista, né Rosana? Porque de pessimista o mundo já está cheio, não é? Tem uma sabedoria oriental, um ditado oriental, que fala que só tem 2 regras para se viver bem, que a primeira regra é não se incomodar com problemas irrelevantes e a segunda regra, todos os problemas são irrelevantes. Eu acho interessante, que não é cruzar o braço para o problema, mas é fazer sua parte até o momento que não lhe compete mais fazer nada e ter resignação pelos resultados que advirão, então eu acho que esse ditado é uma sabedoria incrível, e que propicia a gente ser resignado com as dores e não cultivar o sofrimento, porque a dor é inevitável, agora o sofrimento é uma opção, então é isso.
1:22:48 (P/1) Dr. Cristiano o que você achou da experiência de contar a sua história de vida, deixar registrado no Museu da Pessoa?
R - Não entendi Rosana, desculpa!
P/1 - Como foi para você essa experiência de contar a sua história de vida e deixar registrada no Museu da Pessoa?
R - Eu achei emocionante, porque a gente revive histórias do passado, a gente se conhece um pouco mais quando a gente verbaliza o que a gente passou, que é o velho ditado latino de Norte TY , conhece-te a ti mesmo, então eu acho bacana falar da gente, eu falo muito pouco de mim mesmo, então eu achei muito interessante e muito enriquecedor, espero que de alguma forma, que alguém acesse um dia essa entrevista, e possa colher algum bom resultado disso.
1:23:50 (P/1) E ter essa história guardada e disseminada no Museu da Pessoa?
R - Eu acho muito interessante, apesar de não ser uma pessoa muito interessante, eu acho que é muito bacana você ter a sua imagem, a sua vida contada, a sua vida registrada e isso pode inclusive, ser um dia utilizada até para um estudo histórico de alguma coisa, acho extremamente importante, muito bacana a iniciativa. Agradeço muito e foi uma honra muito grande ter participado com você aqui, Rosana, dessa entrevista.
1:24:37 (P/1) Dr. Cristiano, em nome do Museu quero agradecer a sua generosidade de compartilhar sua história conosco, realmente é uma história muito bonita e acho que muita gente vai ter oportunidade de conhecer e aprender com a sua história. Muito obrigada!
R - Tomara que sim! Muito obrigado! Foi uma honra Rosana, tudo de bom!
Recolher