P/1 – Ronaldo, Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigada por ter aceitado dar entrevista pra gente. Eu vou pedir pra você falar pra gente, aqui, o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ronaldo da Silva. Natural de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, do dia 24 de setembro de 1971.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Benedicto da Silva e Francisca Isabela da Silva.
P/1 – Você lembra dos seus avós?
R – Paterno ou materno?
P/1 – Os dois.
R – Paterno é Joaquim Teodoro e dona Ana Glória. E do materno, meu avô chama José e minha avó, (Bela?), apelido dela, né?
P/1 – Você lembra o que é que eles faziam? Eles eram de onde, seus avós?
R – Os meus avós, do interior de São Paulo. O paterno, meu avô, ele saiu do Rio de Janeiro, aí no período do café ele veio pra São Paulo. Aí no período do ciclo tal, do café também aqui em Mato Grosso, na época, também ele veio pra Mato Grosso. E minha avó também acompanhou ele, desde o Rio de Janeiro até... E por parte da minha mãe, meus avós são todos do Piauí, um de Jaicós e outro de Simões. Partiram pra São Paulo, onde encontraram... No caso os paternos. Nessa época, não me recordo bem a data, né? Se encontraram em Araçatuba e de Araçatuba eles partiram pra Mato Grosso, na época. Atualmente, Mato Grosso do Sul, onde nós moramos um bom tempo aqui, num vilarejo chamado Gravi, que era um povoado, né? Que era o ciclo do café, onde plantava muito café. Minha família começou nessa região. Após...
P/1 – Os seus avós, né?
R – Isso. Meus avós.
P/1 – Aí os seus pais, então, eles já eram dessa região, daí já começaram nesta região?
R – É. Já começaram aqui. Então, nós viemos...antes de chegar aqui realmente, passamos um período em Três Lagoas, né? Onde eu nasci. O retorno em Três Lagoas, pra retornar em Miranda.
P/1 – Ah, entendi.
P/2...
Continuar leituraP/1 – Ronaldo, Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigada por ter aceitado dar entrevista pra gente. Eu vou pedir pra você falar pra gente, aqui, o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ronaldo da Silva. Natural de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, do dia 24 de setembro de 1971.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Benedicto da Silva e Francisca Isabela da Silva.
P/1 – Você lembra dos seus avós?
R – Paterno ou materno?
P/1 – Os dois.
R – Paterno é Joaquim Teodoro e dona Ana Glória. E do materno, meu avô chama José e minha avó, (Bela?), apelido dela, né?
P/1 – Você lembra o que é que eles faziam? Eles eram de onde, seus avós?
R – Os meus avós, do interior de São Paulo. O paterno, meu avô, ele saiu do Rio de Janeiro, aí no período do café ele veio pra São Paulo. Aí no período do ciclo tal, do café também aqui em Mato Grosso, na época, também ele veio pra Mato Grosso. E minha avó também acompanhou ele, desde o Rio de Janeiro até... E por parte da minha mãe, meus avós são todos do Piauí, um de Jaicós e outro de Simões. Partiram pra São Paulo, onde encontraram... No caso os paternos. Nessa época, não me recordo bem a data, né? Se encontraram em Araçatuba e de Araçatuba eles partiram pra Mato Grosso, na época. Atualmente, Mato Grosso do Sul, onde nós moramos um bom tempo aqui, num vilarejo chamado Gravi, que era um povoado, né? Que era o ciclo do café, onde plantava muito café. Minha família começou nessa região. Após...
P/1 – Os seus avós, né?
R – Isso. Meus avós.
P/1 – Aí os seus pais, então, eles já eram dessa região, daí já começaram nesta região?
R – É. Já começaram aqui. Então, nós viemos...antes de chegar aqui realmente, passamos um período em Três Lagoas, né? Onde eu nasci. O retorno em Três Lagoas, pra retornar em Miranda.
P/1 – Ah, entendi.
P/2 – Que é que seus pais faziam?
R – O meu pai, atualmente ou no período que ele veio pra cá?
P/1 – Antes.
R – Então, era lavrador, né? Aí, quando chegou aqui, ele começou a trabalhar como segurança e hoje ele é funcionário público e aposentado. A minha mãe também trabalhou na lavoura, na época. Aí ficou 20 anos trabalhando em hospital. Trabalhou na parte de lavanderia, depois trabalhou na cozinha e atualmente ela tá aposentada.
P/1 – A lavoura era lavoura de café também?
R – Lavoura de café, feijão e arroz. É o principal.
P/1 – E os seus irmãos, você tem irmãos?
R – Tenho, quatro irmãos.
P/1 – Dá pra listar pra gente?
R – Meu irmão mais velho, né? Rildo da Silva. Atualmente ele trabalha com programas de computadores, trabalha na empresa particular. Aí tem a minha irmã Regina, que atualmente ela mora em Três Lagoas. Ela tem uma pequena empresa lá, de R$ 1,99. E minha irmã por último, a Regiane, ela trabalha em Campo Grande, numa empresa de pneus. ___________
P/1 – E você é o único homem? Não, tem o Rildo.
R – Tem o Rildo, que é o mais velho e depois, eu. São dois homens e duas mulheres.
P/1 – Então tá certo. Eu queria que você falasse um pouquinho, Ronaldo, da sua infância.
R – Bom, minha infância, ela foi uma infância dedicada ao trabalho, porque meus pais tinham que trabalhar e sustentar. E eu comecei trabalhando na lavoura, né? Pra ajudar meu avô a raliar feijão...
P/1 – Quantos anos?
R – Isso com três pra quatro anos. A gente já ficava na... Então, pra ter um dinheirinho pra gente poder vir na cidade, era uma vez por mês, ele falava pra gente pegar e raliar feijão e colher algodão. E aí a gente ganhava um troquinho pra poder vir pra cidade. E eu acostumei, né? Trabalhando. Aí vim pra Miranda. Da _____________ voltamos pra Miranda. Ah, desculpa, antes de chegar em Miranda, nós morávamos em Porto Carrero. Porto Carrero fomos pra (Gravi/Guavira?), do (Gravi/Guavira?) que nós retornamos pra Miranda. Porque...
P/1 – Tudo Pantanal?
R – Tudo Pantanal. Porque nós precisávamos estudar, né? Então, já tava na fase já de 5 pra 6 anos. E meus pais, nesse ponto, eles pensaram bem, deixaram o trabalho e a fazenda, pra poder dar estudo pra nós. Então, eu dedico muito, naquele período, quando eu tinha cinco anos nós íamos pra Miranda. Aí eu comecei a vender salgado na rua. Salgado e picolé. E estudar. De manhã vendia salgado, inclusive um fato legal da minha vida, que eu vendia salgado (pago?) no Banco do Brasil. Entendeu? Então, eu conheci, conheço os funcionários do Banco do Brasil, os mais antigos de Miranda, um dos pioneiros, posso até dizer, da agência de Miranda, pioneiro que eu falo, na minha época, né? Eu comecei a vender salgado lá.
P/1 – Você vendia dentro da agência?
R – Dentro, eu tinha a liberdade. Em princípio eu vendia na entrada, que era um portão, né? Mas, todos os funcionários vinham comprar. Aí, em um determinado período eu já tive o acesso. Eu vendia lá dentro. Após o expediente, eu entrava no Banco do Brasil e vendia os salgados lá, que era pra dona Alice, que era... Aí, vendia picolé também. Aí do serviço, já estudando...
P/1 – Peraí, só uma curiosidade. Isso que você vendia, como que era feito? Você comprava pronto pra vender ou alguém fazia?
R – Não, eu prestava serviço pra ela. Então, eu ganhava tantos por cento na venda. Então, eu tinha uma venda até boa. Eu consegui um troco pra me manter, manter a escola e ajudar em casa. Aí o dinheiro que eu ganhava era o suficiente, uma venda, né? Porque o salgado era um salgado de qualidade.
P/1 – Então, tinha uma vendinha, você ia lá e pegava os salgados?
R – Não, a senhora, ela produzia na casa dela e eu pegava na casa dela. Uma casa de uma senhora, uma japonesa.
P/1 – Como é o nome?
R – Dona Alice. Dona Alice e seu Eduardo. Então, os melhores salgados que tinham em Miranda eram de uns japoneses, dona Alice e seu Eduardo. E eles me chamaram pra trabalhar pra eles, né? Então, aí que eu fui trabalhar pra eles. Eles me confiaram, porque naquela época era difícil você pegar um guri pra ter confiança, pra conviver com o período que eu tive com eles, praticamente quatro, cinco anos, vendendo salgado pra eles. E pegando amizade com o pessoal do banco, né? Tranquilo. Aí eu comecei pegar amizade. Inclusive, meu tio também trabalhava de guarda no Banco do Brasil, meu tio Luís. Nessa época, ele trabalhava de guarda. Eu fui pegando amizade. Aí eu peguei, consegui um serviço um pouco melhor, que era no Sacolão. Já em 1986 pra 1987, consegui o serviço no Sacolão. No Sacolão continuei estudando também e aí do Sacolão eu peguei e fui pro quartel.
P/1 – Antes de você ir pro quartel, me diz uma coisa sobre a sua escola. Que é que você lembra da sua escola? Assim, se tinha uma professora legal, que você lembra com carinho.
R – Tem. Na escola eu tenho que relatar uns professores do primário. Que elas, na época, eram muito rígidas. Inclusive a professora Dulce e a professora Conceição. São duas professoras rígidas, mas foi muito importante que elas, nessa rigidez, souberam passar alguma coisa pra nós. Eu não esqueço até hoje que, quando eu estava na segunda série do primário, eu fiquei de recuperação. Que eu era um pouquinho danado, fiquei de recuperação. E meu pai falou assim: "Filho meu não fica de recuperação". Eu tava dentro da sala de aula, ele chegou lá e me tirou de dentro da sala de aula. E a professora falou: "Não, ele tem chance. Foi só um deslize dele, mas ele tem chance de passar". E nessa segunda série, ela marcou pra mim porque a professora era uma excelente professora. Professora Letícia Prado Bruno. Ela gostava muito de mim. Então, foi um deslize meu e eu acabei ficando jogando bola na quadra e entrava na sala só... Acabei ficando em recuperação e meu pai não concordou e acabei perdendo aquele segundo ano. E também, na quarta série, que a professora Adail me ajudou muito. Ajudou, assim, no conhecimento, né? Inclusive, hoje, essa área de Geografia, eu dedico muito a ela também, por... No saber que a área é isso, hoje, né? Mas, na época quando ela ensinava nós, falava muito sobre Geografia. Então, eu, voltando no passado, eu recordo isso dela. Uma excelente professora. E já partindo pro ensino fundamental, legal também é a questão da minha amizade que eu tive com o pessoal. Porque eu trabalhava das sete às seis. Chegava em casa, tomava banho e ia pra escola. Nem bem tomava banho e ia pra escola. E a minha amizade lá com meus colegas, ela foi bem calorosa, porque por mais que eu trabalhasse e não tivesse tempo de estudar, eu era um dos melhores alunos da sala. Principalmente de Matemática, que despontou na sala, fui o melhor em Matemática. Isso, eu consegui cativar muitos colegas. E pela minha simplicidade, né? Porque na minha sala a maioria tinha um poder aquisitivo, digo assim, de classe média. Então, a maioria trabalhava, mas os pais tinham condição de manter. E uma professora que me... Duas professoras, né? Da direção, que é a dona Leila Prado Bruno, que era a diretora da escola. E a professora Neiva, de História. E nesse ano, de formatura, já no Ensino Fundamental, foi interessante que nós não tínhamos quase que nada pra formatura. E aí eu mais um colega, o Émerson, nós corremos atrás em um período de um ano praticamente, assim, meio turbulento devido às crises, nós conseguimos arrecadar um dinheiro suficiente pra gente fazer uma festa, que jamais tinha acontecido na escola. Que marcou, porque jamais tinha acontecido na escola. Conseguimos fazer uma festa, conseguimos sair também da cidade, pra ir em Bodoquena, num balneário, fazer uma confraternização e pra todos os familiares dos colegas. E já partindo pro ensino médio, que eu terminei em 1989 o ensino médio, mas até fui pra Escola Estadual Caetano Pinto. No Ensino Fundamental foi na Escola Estadual Carmelita Canale Rebua. Aí como não tinha o Ensino Médio, eu fui pro Caetano. Mas, no Caetano eu fiquei só um período lá. Aí foi o período que eu tive que sair da escola pra mim poder ir pro quartel. Que era o período de alistamento, eu tive que abrir mão da escola, pra mim poder ir pro exército. Aí chegou no exército, eu servi lá um ano. Campo Grande, né? (Nasci?) de guarda. Aprendi muito também, lá, no exército. Foi um período também que eu fiz muita amizade. Que era laranjeira, o dito laranjeira. Laranjeira com laranjeira se entende. Então, fiz muita amizade. Aí retornei pra Miranda, em 1992. Voltei pro Sacolão, no qual eu trabalhei anteriormente, mas, só que outro dono, ficando ali por mais um período ali, até conseguir prestar um concurso pra polícia.
P/1 – Segura um pouco, tá? Deixa eu voltar para quando você era criança. Você trabalhava muito, que a gente sente isso pelo que você falou, você se dedicava aos estudos como podia. Mas e brincar? Tinha algum intervalinho que você brincava, que tipo de brincadeira que tinha, que você lembra?
R – A brincadeira nossa, o tempo que nós tínhamos, tanto é que todas as brincadeiras que nós tínhamos, a gente levava uma surra da mãe. Cansei de apanhar dos... Principalmente da minha mãe. Meu pai dava uma surra, mas aleatoriamente, não dava uma surra direto, mais a minha mãe. É que ela varria a rua na época, antes, desculpa aí, até esqueci que ela, nesse período de infância, ela varria a rua e meu pai trabalhava na CR3.
P/1 – Que é que é CR3?
R – CR3 é essa empresa que construiu a BR-262, que o asfalto da BR-262, de Miranda a Aquidauana. Que era uma empresa vinculada ao exército, na época. E ele trabalhava na parte de rolo. Ele ficava a semana inteira fora e a minha mãe ficava em casa. Mas, só que ela ficava varrendo rua. Aí tinha...
P/1 – Rolo de asfalto?
R – É, rolo de asfalto. Era varredora de rua, minha mãe. E ela, tinha época que ela trabalhava de manhã, tinha época que ela trabalhava à noite varrendo rua. E aí, quando ela trabalhava de manhã e a gente ficava em casa, a gente ficava bagunçando, né? Então, não fazia as coisas. Ou ficava... Vendia os salgados e voltava cedo, ficava bagunçando. Então, eu acabei... E nessa brincadeira, que a gente gostava muito... Minha paixão é o futebol, né? E a gente construía aquelas bolinhas de meia, eu não esqueço até hoje que eu tenho uma marca na perna de queimadura, que a gente jogando bola lá, a bola foi pro mato. Aí eu fiquei bravo porque a bola foi pro mato e não achava a bola. E aí nós tivemos a ideia, falei assim: "Vamos queimar esse mato aqui". Eu peguei um frasco de Qboa - água sanitária -, né e falei: "Vamos queimar". Aí começamos a fazer tipo aquele guti guti, né? Queimar o mato. Aí começou a queimar o mato, mas só que eu... Quando meu irmão gritou "Ah, mãe tá vindo", eu assustei. E aí que eu assustei eu puxei o guti guti, ele veio e caiu na minha perna.
P/2 – Que é que é um guti guti?
R – Guti guti é essas garrafas de plástico, de Qboa, né? Que você coloca uma uma vareta nela e coloca o fogo na ponta. Então, ela fica um espaço grande, você coloca, então ela vai queimando. Ela faz o guti guti, que é o que: quando bate nela, ela faz esse som. Então, nós apelidamos de guti guti. E acabou caindo na minha perna. Aí eu peguei, ao invés de procurar minha mãe, não, eu peguei, tentando esconder, coloquei uma meia pra tampar. Aí quando foi pra... Minha mãe preocupada, falou: "Cadê o Ronaldo? Não achei o Ronaldo". "Ah, o Ronaldo tá ali". Eu tava lá no canto, escondido, chorando. Aí ela chegou "O que você tava fazendo?". Ela pegou e puxou de uma vez, aí ficou uma cicatriz da minha perna, né? Porque arrancou a carne. Então, eu lembro, porque eu gostava muito de jogar bola e por essa atividade... Também gostava de ir pro campo, né? Só que pra ir para o campo, meu pai falava assim: "Vocês têm que estudar". Então, toda vez que a gente queria ir no domingo...que a atividade, assim... durante a semana a gente ficava lá na rua, mas a gente queria ir ao campo assistir o jogo. E meu pai falava: "Vocês têm que fazer a lição de casa e também a tabuada", que era o principal. Então, toda vez que a gente queria ir pro campo, chegava no sábado à tarde, a gente sentava e ele começava a tomar tabuada da gente. Aí você não podia errar nem um... De um a dez não podia errar nada. Se errasse, você já não ia. Então, a gente dedicava muito. Isso aí também eu aprendi muito. Então, acho que hoje eu tenho que agradecer muito, que na época parece que foi um sacrifício. Mas não, foi uma forma de a gente aprender, também a gente poder ir, né? "Ah, quero lazer". Eu quero, mas na minha vida, assim, de infância mesmo, eu era arteiro, né? Fui muito arteiro, apanhei muito. Briguei muito na rua, assim, briga de criança. Apanhei muito também, Cheguei em casa apanhando. E essa foi a minha... Mas, foi mais o futebol, que eu gostava muito, né?
P/2 – Você tinha um time de futebol?
R – Nós tínhamos um time lá do futebol, que até, na época, colocamos o nome de Corinthians, né? O Corinthinha. Porque o atual deputado federal hoje, que é o Valdir Neves, que é o que incentivou o esporte de Miranda na época da gurizada, ele era corinthiano. Aí ele colocou o time o nome de Corinthians. "Aí nós vamos pôr"... Porque você cria uma imagem na cabeça, porque o cara... "Então vamos colocar Corinthians". E colocamos o nome do time de Corinthians. Aí os colegas "Ah, não gostamos não. Corinthians não". Aí colocamos Fluminense, também na infância. Começamos a jogar bola, jogamos, disputamos de criança, na faixa dos 12 anos. Depois nós tivemos um time na faixa dos 13 anos. Sempre jogando bola nos times, né? Mas, só peladinha. E campeonato também a gente ia, mas, porque a gente trabalhava, não tinha tempo de treinar, era só participar mesmo. Mas, a gente gostava porque a gente participava e era gostoso.
P/1 – Ronaldo, e as brincadeiras, assim, que tinha mais contato com a natureza? Brincar no rio, ir pra mata, vocês brincavam?
R – Olha, no rio meu pai e minha mãe não deixava, porque o rio era muito perigoso naquela época, né? Ele era mais profundo e realmente não deixavam porque tinha acontecido muitos acidentes em Miranda, já, com problema... Só a gente ia numa lagoa, lagoa não... Aqui em Miranda, na época, tinha um... Hoje não tem mais, né? Só tem um vazão, que é o córrego Vilas Boas. Ele cruzava na cidade. E a gente saía, meio escondido também. A gente ia lá tomar banho. Pular, dar salto mortal.
P/2 – Como é o nome da lagoa?
R – Era o córrego Vilas Boas. Só que não existe mais, que ele não tá mais... Praticamente tá morto, né? É um rio que já tá poluído. Mas, na época era um rio com água transparente, água bem oxigenada, uma água limpa. E a gente ia lá e ficava nessa brincadeira de criança, né? De fazer salto mortal, aquela rampa, né? Você colocava a rampinha pra você pular. Aquelas brincadeiras de criança, no rio mesmo... Que na verdade era o córrego, não era o rio. O rio a gente não ia porque a mãe não deixava mesmo. Eu também tinha medo, meu irmão também tinha medo de ir no rio.
P/1 – Uma pergunta, você que sempre viveu praticamente, em Miranda, nessa região do Pantanal: você sabe se tem alguma lenda, histórias que o pessoal contava. Tem um tal... Como é que era? Mãozão? Você ouviu falar dele?
P/2 – É, o Mãozão, já ouviu falar dessa história do Mãozão?
R – Olha, Miranda tinha, assim... Porque a região aqui na época era uma região muito perigosa por causa do... Era perigosa, né? Uma época, assim, que tinha muitos bandidos na verdade, entendeu? Pessoas que por qualquer bobeira acabava... E contam, o pessoal, né? Que tinha um cara que era o matador, assim, até a gente... A lenda que... Tipo uma lenda, né? Que a gente fala. Eu não cheguei a ver. Um cara que matava as pessoas e colocava no trilho.
P/2 – No trilho?
R – É. Ele gostava de matar as pessoas e o trem... Chamava o... Tipo assim, o Criminoso da Madrugada. Que tinha um trem meia-noite, o corujão, aqui, né? Então, a gente sempre falava: "Ó, cuidado com o Corujão". E ele... Tinha festa, baile, assim, os bailes da periferia, né? Aqueles bailes que ia só o pessoal da fazenda e ele pegava uma vítima ali, matava e colocava no trilho. E sabia que ia passar o trem e várias pessoas morreram, né? Acabaram morrendo. Mas, eram pessoas que nem tinham parentes aqui. Então, o pessoal conta isso. Eu não sei dizer se é uma lenda, se realmente era verdade, mas até hoje ninguém sabe quem que é esse cara, essa pessoa que matava as pessoas. É uma das lendas que eu vejo aqui. E o pessoal fala, assim, criança, ele falava "Ó"... A gente ia brincar, assim, na mata, na mata não, aqui na minha casa, na época aqui era só mato, essa região aqui. Você tinha a vilinha, que ______________________ e pra baixo, pro fundo, assim, tem um trilho que cruza aqui, a gente vinha até no trilho aqui. Aí falava da lenda que esse tal de Saci-Pererê, aquela coisa. Que "Oh, cuidado com o Saci-Pererê". Então, não é Saci, "Cuidado com o homem do mato". Contava assim, porque a gente via o mato, a gente ficava com medo realmente. E outra também, ali no cemitério, quando saí dessa vila Bodoquena, fomos pro cemitério. E antes saía da escola já 11 horas da noite, 10 e meia, quase 11 horas. Já tinha que passar por um trilho, que cruzava a mata, uma matinha que hoje é até uma vila, próximo ao cemitério. E no cemitério os caras falaram que tinha um estuprador, né? Também eu não sei o que vivia no cemitério. Também a gente não ia, né? A gente passava numa carreira ali, com medo. E mas nunca vimos também. Mas, segundo dizem algumas pessoas que sempre ficava lá, né? Lençol jogado com sangue. Então, a gente não sabe se era um estuprador, se não era. Mas, era um... Contava. Eu nunca vi, mas o pessoal contava. Então, a gente não ____________. Era umas coisas que acontecia que a gente ficava também com medo, né? Criança...
P/1 – Ronaldo, e você, assim, já crescendo já, jovenzinho. Antes de você prestar o concurso, o que é que os jovens costumavam fazer aqui pra se divertir? Havia alguma festa regional aqui, local?
R – Olha, na minha época, não havia festa porque os pais realmente não deixavam os filhos, até a noite, _________ não deixavam. Por essa questão. Porque não tinha diversão. A diversão, como eu disse a você, a diversão nossa era ir no açude e no futebol e voltar pra casa. E à noite, você podia no máximo, você tentar ir numa sorveteria, quando podia, né? Tomar um sorvete, que era difícil você tomar um sorvete. E só. Que, ali na fase de sete a 12 anos, eu não tinha nada de diversão. Pra sair à noite. Eu lembro que o primeiro lanche meu, pra mim comer um lanche, como diversão, eu fui com 16 anos. Então, o primeiro lanche, até não esqueço hoje que foi...
P/2 – Onde foi?
R – Na lanchonete Rio Branco, do seu Amadeu. Esqueço até os nomes do senhor. Era uma lanchonete Rio Branco. E, primeiro lanche que eu comi na minha vida. Peguei meu salário, poxa, feliz, aí eu falei: "Pô, vou divertir agora". Saí, mas fui, fiquei um pouquinho... Tinha um clube em Noroeste que, depois, nessa fase, né? Que era o Noroeste, que era um clube já antigo, que não existe mais. Que era um clube das nossas condições de ir. Que o Clube Social já era mais a "socialite" que ia, né? Eu não tinha condições, então, a gente ia no Clube Social. Nessa fase de adolescência, de 15 até os 17. É que com 14 anos eu não saía mesmo. De 15 a 17 comecei a sair. A gente ia no Noroeste. No sábado, mas eu tinha que trabalhar no domingo. Também não saía muito, era uma vez só por mês, quando saía o pagamento que eu ia. Não saía porque também tinha que trabalhar no domingo cedo. Tinha que tá sete horas no serviço também, então, eu não tive... Realmente eu não tive, assim, uma infância... Até meu tio, que tá na foto ali, quando ele veio pra cá em 1983, ele quis levar nós porque, falou pro meu pai, chamou a atenção dos meus pais "Ou você dá estudo", entendeu? Ou você deixa só trabalhar. Tá, mas, criança só tem que estudar". Falou pro meu pai. Eu não esqueço até hoje isso, que ele brigou, discutiu muito com meu pai sobre essa questão, que ele jamais gostaria que nós trabalhássemos. Não queria realmente que a gente trabalhasse. Queria que a gente estudasse realmente, que a gente tinha potencial. Se a gente só estudasse, a gente talvez não estaria... Mas graças a deus a gente conseguiu hoje o que a gente tem. Ser o que a gente é hoje. Mas, ele falou isso nessa época e então ele queria até levar a gente pra São Paulo. Aí meus pais falaram: "Não. Pra São Paulo vocês não vão também". Aí ficamos aqui, então. Mas, sempre que ele podia, ele mandava pra gente algumas coisas, né? Roupa, presente, brinquedos, né? A gente não tinha brinquedo. Carrinho mesmo, a gente com 12 anos, a gente ficava brincando de carrinho ainda, em casa. Patrola, construía aquelas patrolinhas de materiais, de lata, de caixa de sabão em pó. A gente fazia uns brinquedinhos também, pra gente brincar. Pra também fazer desenhos. A gente cortava aquelas caixas, outras caixas, pasta colina, aqueles produtos de papelão na época, que a gente cortava e fazia uns desenhos pra gente ficar brincando. Quando chegava um presente no final de ano a gente ficava super faceiro né? Era uns presentes que vinha, que era novidade pra gente e a gente não ganhava quase.
P/2 – E as namoradas, Ronaldo?
R – A primeira namorada minha, primeira namorada não, a menina que eu me apaixonei, quando na adolescência, ela se chama Vânia. Eu tinha 15 anos, estudava lá no Carmelita. Até os professores me... Enchiam o saco, né? Que "Pô, quando é que você vai casar" _________________ aquela questão. E eu namorei... Era tão apaixonado por ela, que namorei ela seis meses, né? Porque os meus colegas começaram a encher o saco, ficaram com ciúme. Porque eu, eu trabalhava e meus colegas queriam que... Porque eu me destaquei na escola pela questão do estudo, eu conquistei algumas amizades. E nessas amizades, alguns colegas começaram a me dar apoio. Mas, só que os outros, que não gostavam de mim, acabaram... Aí, pra eu não brigar, não discutir com ela, eu acabei terminando o namoro. Porque os pais dela me chamaram a atenção. Quando eu pedi ela em namoro, aí ele pegou e disse pra mim que a filha dele não devia estar na boca de ninguém, assim, tantas horas da noite, né? Porque eu saía da escola, levava ela e vinha embora. Aí eu fiquei com vergonha, envergonhado. Peguei, acabei terminando o namoro. Aí a gente se encontrava de vez em quando, mas, assim, namoro, assim, só de ir na casa dela. Até hoje a família dela é muito amiga minha, se transformou em amizade eterna. Até hoje eu tenho, assim, não tenho contato, essa coisa, mas ficou, marcou pra mim a amizade, com a família. E aí tive também outra colega minha que eu paquerei também, depois, uns 16 pra 17 anos. 16 anos. Não tive namorada, né? Tive essa menina, que namorei seis meses. Depois tive uma paquera só e aí eu já tive no meu serviço, acabei me envolvendo com essa... Que ela foi minha esposa, né? Acabei me envolvendo com ela, no serviço, no convívio, ali do Sacolão. E vai, acabei namorando, namorando, aí ela acabou ficando grávida e aí foi quando eu saí da casa dos meus pais, já parti para morar...
P/2 – Você teve quantas filhas com ela?
R – Com ela eu tive uma filha só. De quando eu fiquei com ela...
P/2 – Qual é o nome dela?
R – É (Gessélia?), é a minha filha.
P/1 – E qual é o nome dela, da namorada?
R – É Maria Aparecida Carvalho de Souza. Que quando eu fiquei com ela, ela tinha uma filha de um ano. Quando eu tive um relacionamento com ela, ela tinha uma filha de um ano. E aí já saí aqui, praticamente tive que... Já me virar, né? Já constituir uma família. Que minha mãe mesmo, ela disse pra mim: "Filho meu não engravida mulher". Porque meus pais... Meu pai tem um pouquinho mais de estudo, né? Ele teve uma _____________ só que ele é um cara bem pacífico, um cara tranquilo. Mas, minha mãe não. Minha mãe, ela não tem estudo, ela sempre foi na lavoura. Hoje ela tem grandes problemas porque... Meus avós também foram muito ignorante com ela, deram muita surra nela, então... E ela, quando ela ficou sabendo que minha ex-mulher tinha ficado grávida, a primeira coisa que falou: "Sai de casa, que filho meu não engravida mulher, ninguém, pra deixar aí". Então, são as palavras que a gente, hoje, no cotidiano nosso, não existe mais, mas na época, pra ela... Saí fora de casa e eu, pra assumir o compromisso, saí, né? Até eu vejo, assim, eu saí até um pouco contra a vontade, porque era mais fácil se ela tivesse me chamado e vir conversado, né? Hoje eu fico assim, imaginando, se ela tivesse me chamado na época e me orientado. Eu fiquei praticamente 13 anos casado, com essa ex-mulher minha. Então, mas só que são coisas da vida, né? E aí eu... Posso continuar a questão da minha...?
P/1 – Claro.
R – Me separei. Depois de 13 anos de casado, me separei. E arrumei uma namorada depois, com um ano e pouco. Ela acabou tendo uma filha minha, que hoje tem três anos, a Bárbara. Essa ex-namorada minha chama Deninha, ela é professora.
P/2 – Qual é o nome da namorada?
R – Deninha. Ela é professora. Ela trabalhou na Fundação, da Fundação ela veio pra Miranda. E ela trabalha na Escola Ipê. Aí, um colega meu que apresentou, né? Aqui do quartel. Me apresentou pra ela.
P/1 – Que Fundação?
R – Fundação Bradesco. Ela trabalhou lá, ficou muito tempo. Ela cansou de trabalhar na Fundação. Formou lá e ficou trabalhando. E ela cansou, ela veio pra cidade porque ela queria... O sonho dela era ter uma filha, né? E eu não sabia [risos]. E acabou tendo um relacionamento, ela teve uma filha, que chama Bárbara, como eu disse. E agora, atualmente, eu to namorando a Josiane. É uma namorada minha, já tô há quatro anos. Essa eu acho que eu, realmente, eu pretendo casar. Estabilizar mesmo a minha vida, porque... Já concluindo minha faculdade também eu pretendo já...
P/1 – Agora eu quero que você entre lá, então, na... Quando você prestou concurso, por quê que resolveu prestar concurso? Como foi isso?
R – O concurso, pra mim, foi um pouco, assim, difícil porque eu tava no Sacolão, aí o Sacolão tava em crise.
P/1 – E você tava com quantos anos mesmo?
R – Eu tava com... No Sacolão eu já tava com, já tinha 20 anos. Eu trabalhei no Sacolão, quando eu fui pro quartel, eu voltei. Quando eu voltei, entrei no Sacolão. O Sacolão entrou em crise, tava pra fechar. Eu falei: "Tenho que procurar alguma coisa", né? Mas, antes disso eu trabalhei numa serraria também. Que, quando eu ia pro quartel, antes de eu entrar no quartel, o meu patrão me dispensou porque, naquela época o pessoal não contratava. Se você ia pro quartel, dois meses antes já mandava você ir embora. E aí eu fui pra Campo Grande em janeiro, aí eu não servi naquela época. Fui servir só em maio. Eu fiquei esse período... E a minha ex-mulher tava grávida, eu fiquei esse período à toa. Aí procurei serviço em tudo quanto é lugar, né? Fui até na cerâmica desse colega meu, do Émerson. Fui lá procurar "Não, rapaz. Não vou dar serviço pra você não. Você é um cara, pô... Um colega meu, não quero não". Aí eu peguei, fui trabalhar na serraria. Fiquei quatro meses trabalhando na serraria.
P/1 – Fazendo o que lá?
R – A serraria, eu tinha várias funções. Quando você entrava lá, você era prancheiro. Mas, como eu estudava, já tinha...tava no ensino médio e a filha do meu patrão também estudava junto comigo. Aí na parte da manhã ele falou "Não, você não vai trabalhar na prancha não. Você vai trabalhar na paradeira".
P/2 – O que faz um prancheiro?
R – Um prancheiro é quando você está serrando as toras e aquela prancha que sobra. É a sobra, o excedente, o resíduo. Então, é o primeiro serviço do cara. É o mais pesado que tem. Então, você fica ali, você tira aquela prancha e joga fora, entendeu? Pra separar, é o prancheiro. Eu fui trabalhar na paradeira. A paradeira já é onde você apara as madeiras. Você serra ela, então você coloca na bitola certa, no tamanho certo, você só apara. Então, eu fui trabalhar. Nesse mais tranqüilo, mais light. E eu fui trabalhar nessa área. Eu trabalhava na parte da manhã, na paradeira. E à tarde ia fazer cobrança, no escritório. Interessante que antes de eu ir pro quartel, ele me aceitou e... No período do Sacolão eu nunca fui registrado. E quando eu entrei lá ele me registrou. Foi o primeiro registro de carteira que eu tive na minha vida, fiquei tão contente, porque foi o meu primeiro registro de carteira.
P/2 – Com quantos anos?
R – Com 20 anos já. 19 pra 20, né? Desculpa, 18 pra 19. Que eu fui pro quartel com 18. E ele me pagou todos os meus direitos. Eu trabalhei até maio, trabalhei de fevereiro a maio nele. E interessante que ele me pagou todos os meus direitos. Eu nunca tinha recebido. Porque eu saí do Sacolão não recebi nada. Eu ia entrar com uma ação __________, mas eu não entrei porque eu já tava... Eu, falei: “Não vou entrar com ações". Acabei largando mão. Falei "Deus sabe o que faz". E o cara me ajudou, esse seu... O nome dele agora, esqueci... Seu Pompilho. Uma madeireira muito famosa aqui em Miranda. Muito tempo ela trabalhou aqui. Ele me pagou os direitos certinho, até admirei porque... E daí eu fui pro quartel, do quartel quando eu voltei pro Sacolão, trabalhei um período, como ele entrou em decadência. Aí o Ramos, que a esposa do Ramos é irmã da minha ex-esposa. Então, nós somos co-cunhados.
P/1 – Cabo Ramos, né?
R – Cabo Ramos. E interessante que ele, ele vendo o problema da minha crise lá, eu falei, puta, eu não tinha dinheiro nem pra pagar a inscrição lá da PM. Saiu o concurso, aí ele falou: "Não cara, você vai fazer esse concurso aí. Você estuda aí. Se vira pra estudar. A sua inscrição e a sua ida, você pode deixar que eu vou pagar pra você". E até eu me emociono um pouco, porque...
P/1 – Pode ir.
R – Aí o Cabo Ramos pagou pra mim, né? Toda a inscrição. Fui lá, prestei o concurso. Seis mil inscritos, quando eu cheguei lá na prova, seis mil inscritos. Eu assustei, falei "Porra, disputar com todo mundo", né?
P/2 – Quantas vagas tinham?
R – Eram 450 vagas pra seis mil inscritos. Aí eu, quando saiu a prova, o resultado, eu fiquei em 163. Aí eu me surpreendi, né? Eu falei: "Fui bem". Aí ele ficou super legal, feliz também, por eu ter passado. Aí houve um problema, que a prova teve uma fraude, né? Porque junto com a prova de soldado tem a prova de cabo e sargento. Aí foi cancelada a prova. Ah, desculpa. Teve a prova e teve o psicotécnico. No psicotécnico, eu reprovei. Acho que pela tensão, pela vontade e de tá desempregado e tal, eu acabei me esquivando e reprovei. Aí demorou quinze dias, saiu o ato lá que tinha vazado o gabarito da prova ________ e cancelou todas as provas. Aí eu falei: "É minha chance de novo", né? Só que eu não estudei mais. Falei: "Agora eu não vou estudar mais", porque o que tinha que estudar... Uma semana depois fizemos a prova, fiquei melhor colocado, fiquei em 147. Baixei minha... E passei bem no psicotécnico e entrei na... Aí passei em todas as fases. E tudo ele me ajudando, me bancando. Porque tinha que ir e voltar, aí no último dia, lá, do finalmente, do psicotécnico, do exame médico, entreguei tudo. Eu tive que andar, de ir à pé, porque o ônibus custava tanto. E quando eu cheguei lá, a passagem tinha aumentado. E aí eu tive que sair lá da escola, lá da onde eu apresentei meus exames, tudo, do centro da cidade eu tive que ir de Indubrasil à pé.
P/2 – Quantos quilômetros?
R – Praticamente 16 quilômetros de distância, de quilômetros que eu tive que andar porque eu não tinha o que comer. Eu não esqueço isso, porque isso marcou pra mim também. Aí eu falei: "Quanto custa a passagem (além?) do Brasil?" Aí Terenos, desculpa, do Brasil Terenos, que é do Brasil, desculpa. "Custa tanto". Então eu falei: "Então eu vou...". Aí desci da rodoviária e fui pra lá. Fui caminhando. Cheguei, tranquilo. Com muita fome, né? Cansado. Aí eu peguei, comi um salgado, tomei um refrigerante, um salgado único, um refrigerantinho. E limpo, (foi mal?). E também sem nada. Que te acontecer aí... Isso eu me recordo muito também, porque algumas coisas que a gente tem que valorizar o que aconteceu. Aí eu, tranquilo, passei. Aí entrei na academia. Na academia também, passei algumas dificuldades, porque não tinha dinheiro ainda, né? O primeiro pagamento não saía. E pelo "ralo" que a gente sofreu, né? Na academia. Um "ralo", assim, que tem que ter um "ralo" na academia, é normal.
P/1 – Assim, um preparo mesmo, físico?
R – É, preparo físico.
P/2 – Explica o que é o... As maiores dificuldades, assim, do começo, aí na academia?
R – Na academia, porque não tinha recursos financeiros. Tá? Se eu tivesse recursos financeiros mesmo, me bancar de início, tava tranquilo. Eu tive que ficar no quartel e dependendo também do alojamento do quartel, das condições do quartel. E nisso, como eu fiquei como laranjeira, no quartel, quando você tá no quartel, você quer trabalho. Então, na academia é assim, você tá no quartel, você pode ser usado pra qualquer coisa ali dentro, na unidade. Então, acabei me "ralando" muito e desgastando. Você ia dormir tarde e... Porque você tinha o alojamento, mas tinha o pessoal que ficava ali também, trabalhando, né? Mas o pessoal sempre ficava ralando ali. E o pessoal soltando aquelas, um treinamento lá da noite também, acontecia isso. Plano. Dentro da escolinha da academia tem os planos lá que eles fazem à noite. Então, acaba você não dormindo, você fica cansado.
P/1 – Você pode falar, assim, o tipo de trabalho que vocês faziam?
R – Nós, não, nós era a educação física, durante o dia. A na manhã a gente tinha Educação Física. Da educação física a gente ia pra sala de aula, no período matutino. Almoçava e do período vespertino a gente ia também pra sala de aula e também tinha algumas aulas extras, de educação física também, à tarde, terça e quinta. E tinha também as aulas de técnica policial. Você tinha que fazer também, paralelamente à escola, né? Durante... É o curso, que faz parte do curso.
P/2 – E quanto tempo era o curso?
R – Meu curso foi cinco meses e meio. Cinco meses e vinte e cinco dias. E quando nós formamos, surpresa nossa também. Nós formamos e não tinha pra onde ir. Eu não morava, nem a maioria da minha turma, a maioria, laranjeira que tava, não tinha onde ir. Formamos, teve uma formatura simbólica na parte da manhã. Dia 19 de fevereiro de 2003. Não esqueço até hoje que era uma sexta-feira de carnaval. Aí nós formamos, já fomos pra trabalhar no policiamento. Aí, nós não almoçamos, nem jantamos. Fomos pra trabalhar. Isso eu falo, porque são coisas da história da gente, né? Não criticando a polícia, assim, mas falando o que aconteceu comigo. E nós fomos trabalhar. Aí lá, trabalhando, quando foi quatro e meia pra cinco horas, ele liberou todo mundo pra voltar, aí nossa cara de volta era _______ pelo menos formamos. Aí, saí já puto, que eu não pude levar a família, não pude levar ninguém pra formatura minha. Puto por ter trabalhado, com fome. Aí voltando, quatro e meia, cinco horas, mais ou menos, tem um trecho que você vem de à pé, desce do ônibus e vem de à pé, até onde nós... Aí eu perto de uma igreja, a Igreja de São Benedito, essa senhora, ela pegou e olhou pra mim, falou assim: "Bom dia policial". Aquele bom dia, foi um bom dia que me encheu de esperança, né? Porque eu tava tão puto que não deu vontade de falar nada pra ela, eu falei "Bom dia, senhora". E aquele bom dia, daquele dia pra frente, os problemas que por ventura poderiam vir, eu já não tinha mais, porque a fala dela parece... Sabe aquela, uma coisa extraordinária? Você não sabe de onde vem aquilo, que te enche de esperança. E aquilo lá me motivou muito. E aí lá, eu peguei, falei "Não...". Então, chegamos lá, encontramos um colega, porque nós saímos em trinta e poucos colegas que estavam lá sem onde ir. Aí um senhor lá, um Tenente Carlos, muito, assim, eu digo, humano, porque... A gente tem que falar humano porque ele viu nossa situação. Ele emprestou um dinheiro pra nós e eu fiquei responsável, porque eu era o mais antigo dos laranjeiras. Eu fiquei como responsável do dinheiro. No primeiro pagamento eu devolvi o dinheiro pra ele. Aí nós pegamos o dinheiro emprestado, fomos no mercado e compramos lá, pra gente ficar trinta dias. Fizemos uma compra lá, no mercado. A gente ficava cozinhando lá. Mas, comida simples, né? Não tinha luxo não, era só (lanchar?) e o pão. E interessante que nós tínhamos comprado tudo de uma vez só. Aí compramos pão, o pão foi ficando velho, né? Aí fomos fazendo torrada, até... Aí tinha dia que a gente não tinha o que comer de manhã, né? Porque chegou um dia que acabou o pão, a gente... Mas, conseguimos passar essa fase. Aí dali, eu fui, já tava já na Tora [Tropa Ostensiva de Repressão Armada], né? E na Tora me aconteceu um fato, já no policiamento...
P/1 – Como é que foi a passagem pra Tora?
R – Da Tora foi, nós fomos pra a unidade. Eles criaram o policiamento. Aí tinha um pessoal, no caso, a turma da ambiental e da polícia rodoviária estadual. Elas foram e quando a gente tava na escolinha, foram trabalhar no nosso lugar. Aí quando formamos, nós fomos designados pra tais pelotões em Campo Grande. As áreas de trabalho. E nessas áreas de trabalho, você tinha a unidade que você queria ir, né? Necessidade. Aí eu fui pro sexto pelotão. Aí eu fui lá pra quinta companhia. E lá nós já começamos já associar ao grêmio, então, a gente começamos já pegar, tinha acesso a um recurso pra gente poder se manter. Aí eu já tive que levar minha esposa pra _____________ pra Campo Grande. Levei ela pra Campo Grande, que eu não ia vir mesmo pra Miranda. Aí em maio, no dia 2 de maio de 2003, mesmo, já no ___________________ aconteceu um fato...
P/2 – Que é que significa Tora mesmo?
R – É Tropa Extensiva de Repressão Armada. Na época, né? E um fato isolado lá, que só vou relatar, assim, o que aconteceu comigo, né? Esqueço os colegas. Houve um problema lá de extorsão, eu tava nessa guarnição, né? Eu com, praticamente... Foi em fevereiro. Março, abril, maio, três meses de rua, ele, houve um problema lá de extorsão eu acabei, como era da guarnição, eu acabei ficando envolvido. Só que eu não tinha nada a ver, tanto é que ficou provado, graças a Deus, mas, só que, aqui pra Miranda, pra os meus pais foi um choque. Pra cidade, também. Que eu era muito conhecido aqui. Aí meus pais, até que mandou eu sair da polícia, né? Falou: "Eu falei pra você não entrar nessa porcaria dessa polícia, né?". Também... Desse jeito, as palavras dele. Eu falei: "Não pai, era o meu emprego". Eu não tava preocupado com a polícia, eu tava preocupado com o meu emprego. Que eu não tinha emprego. Que Miranda não tinha condições. Também emprego. Aí, até nos transcorrer lá dos fatos, os próprios, pessoal lá da corporação, viram que eu não tinha nada a ver, né? Da minha formação, da minha postura. E consegui sair ileso, né? Mas, eu sofri muita ameaça. Na época os colegas lá iam me matar, né? Nesse período, queriam me matar. Realmente eu dormia... Eu tive um problema, porque não conseguia _________ meu... Eu entrei no Cefap [Centro de Formação e Aproveitamento de Praças] e eu não conseguia estudar. Que eu parei meu ensino médio. E nesse período que aconteceu esse fato aí, eu queria estudar. Quando eu fui estudar, aconteceu esse problema. Aí os caras me ameaçavam, eu ficava com medo de sair de noite.
P/2 – Mas, por que é que eles te ameaçavam?
R – Porque falaram que eu que entreguei eles, né? Que eu fui "caguete", fui "caguetando". Só que eu não fiz isso. Foi um acontecimento lá e... Eles que fizeram, então, eles que assumam com responsabilidade. Então... E aí eu fiquei preocupado, falei: "então, eu não vou estudar, porque é melhor"... Aí, começou uma pressão muito grande, né? Ligações demais. Nesse mês eu fiquei com medo realmente. Eu fui lá e pedi pra um colega lá, falei: "Ó, comandante, ___________ minha baixa. É melhor eu ir embora. Tá vivo, né?". Ele falou assim: "Não, você não vai dar baixa não". Ele falou "Assim, você sabe...", pegou e conversou com o comando. Aí foi quando eu saí. Eu saí da Tora, fui pro Cefap, onde eu me formei. Voltei pra trabalhar lá. Aí fiquei um período.
P/2 – Que ano foi?
P/1 – Cefap é Centro de formação?
R – Centro de Formação de Aperfeiçoamento de Praça. Cefap. É onde eu me formei.
(troca de fita)
P/1 – Então você voltou pro centro de formação?
R – É, voltei pra lá. Aí por lá eu fiquei mais um período, conversei com o comandante se eu pudesse ficar lá, trabalhando, pra passar um pouquinho a tempestade. Aí foi quando eu consegui fazer um curso, né? Pra entrar na ambiental tinha que fazer um curso. Aí eu fiz esse curso em setembro, até eu tava de férias, fui fazer o curso. Consegui ser aprovado na... Que tinha que ter uma média.
P/1 – Que ano mesmo?
R – Em 1993, tá? Desculpe, 1994 já. Que foi 1993 pra 1994. Então, em 1994 eu fiz esse curso. Passei em setembro de 1994. Quando foi em novembro, eu consegui a transferência pra a ambiental. Aí eu tava em Campo Grande, de Campo Grande, você tinha que escolher, é... Quando chegava na ambiental você não tinha que escolher, né? Eu pretendia a de Miranda, mas não consegui. Aí eu tinha duas opções, ou Sonora, que é divisa com o Mato Grosso, ou Mundo Novo, divisa com o Paraná. Aí eu optei por Mundo Novo. Fui trabalhar em Mundo Novo. Aí eu fiquei de dezembro, janeiro, até fevereiro em Mundo Novo. Aí eu consegui, um colega que assumiu o subcomando, na época lá, o Major Cavaliere. Ele conseguiu me transferir de Mundo Novo pra Miranda, onde de 1994, que eu entrei, 1995 eu vim pra cá. Fiquei aqui. Aí só fui em Bonito trabalhar dois anos e retornei, onde eu tô trabalhando...
P/1 – Você está aqui desde então?
R – Desde de...
P/2 – E a diferença de trabalhar nesses três lugares?
R – Miranda, hoje, é um dos melhores lugares pra você trabalhar, pra você aprender trabalhar. Devido à diversidade de sua função de trabalho. Aqui você mexe com pescador profissional, pescador amador. Você mexe com desmatamento, você mexe com extração de... Desenvolvimento, no caso serraria, né? Você mexe com carvoaria, você mexe com mineração, frigorífico. Enfim, tenho diversas atividades aqui na nossa região. E tem alguns postos nossos que não tem essa diversidade de trabalho. Então, quando você vem aqui, você aprende realmente trabalhar. Eu, graças a Deus, aprendi em 95, quando eu entrei mesmo. Eu estudei, né? Graças a Deus me dediquei e hoje, assim, é a minha menina dos olhos, como diz, a polícia ambiental. Porque aí eu comecei a dedicar a carreira à educação ambiental. Mesmo eu trabalhando na parte operacional, quando tive qualquer atividade direcionada à educação ambiental nas escolas, eu comecei... Não tinha medo, não tinha prática, não tinha nem metodologia, nem pra trabalhar, nem sabia o quê que era aula de... Que se fala educação ambiental, hoje, né? Porque na época eu não sabia o que é que é isso. E eu comecei a trabalhar, aprendendo, aprendendo. Tem os erros, mas aí, foi também o que me ensinou muito a lidar com o público, a gostar muito mais ainda da minha profissão, né? Valorizar o que eu faço, desde quando... E por tá no Pantanal, né? Eu acho que isso aí, se não fosse o Pantanal... Porque meus pais são de São Paulo, meus avôs, do Piauí. Eu nasci em Três Lagoas, divisa com São Paulo. Tá aqui desde a infância, eu acho que eu já criei um vínculo aqui, de pantaneiro mesmo. Que a gente fala assim, a gente tem, cria amor por essa terra aqui. E a gente gosta, assim, de trabalhar. Eu trabalho, assim, não pensando na questão... Porque a polícia ambiental, só pra relatar pra vocês, ela foi criada por... Ela é repressiva, na época dos coureiros.
P/2 – Que época ela foi criada aqui?
R – Ela foi criada em 1987, né? E o Ramos, o Cabo Ramos, foi da primeira turma, formado na polícia florestal. Até, ele formou. Ele formou lá em Corumbá e veio primeiro, a estar aqui trabalhando, inaugurar esse quartel, é o Cabo Ramos e o Cabo Lírio, um dos pioneiros, que até hoje estão aqui. Então, agora em outubro nós comemoramos 20 anos de... Fizemos uma homenagem. Homenagem, assim, uma festinha pra eles, né? Porque são 20 anos de polícia ambiental. Florestal e hoje, ambiental. Então, é dedicando a essa causa, né? E eu aprendi muito com ele também. Se não fosse a experiência deles, eu não estaria e não sou o que sou hoje, né? Porque eles têm um respeito na minha parte, mais administrativa, como eu dediquei mais um pouco. E eles mais no operacional. Então, a gente tem que ter... A gente, cada um tem a sua função. Então, ele me ensinou. Eu aprendi com eles, eles aprenderam comigo. Então, a gente tem hoje esse vínculo, já pela amizade, a gente conseguiu... E a Florestal, também relatando essa questão da época da repreensão, ela é mais...
P/2 – Então, antes você falou que antes ela era de repreensão...
R – De repreensão. Hoje ela é mais de educação. Então, ela, quando ela transformou de 1998, que até 1998 era Polícia Militar Florestal. Aí de 1999 pra cá ela transformou em Polícia Militar Ambiental. Então, ela já entrou já pra área já mais de educação ambiental. Então, ela começou a trabalhar mais até em... Nós temos o Projeto Florestinha, nova unidade do estado aí. Mas, aí eu comecei, então, já comecei também já querer trabalhar com as escolas. Então, já começou a me incentivar, me instigar. Falo: "Oh, tem um projeto, eu acho que eu vou..."
P/1 – Então, tem uma relação com a comunidade, a polícia?
R – Tem. Temos e muito nessa questão das atividades.
P/1 – Vocês vão às escolas ou as escolas vêm?
R – Não, nós vamos às escolas. Que não temos estrutura aqui. Então, eu e mais os colegas que, quando tem a semana de educação ambiental tem alguma atividade. Nós temos aqui a limpeza de Miranda, que a gente faz em parceria. Temos algumas campanhas educativas, de coleta seletiva de material, pet, enfim. Algumas _______________ a gente faz também, em parceria. Mas, a que a gente hoje, que até o que mais deu ibope foi em 2000, que foi a maior limpeza que nós fizemos em Miranda, em parceria. Com a comunidade, no total, com as escolas, pesqueiros, (trade?) turístico. E foi uma das melhores. Até enfocou até a questão de estado. Que tinha conflito. Porque sempre ficava aquele conflito da polícia florestal com pescador. Então, a gente tirou esse... Aqui, nós conseguimos trabalhar por igual, né? Não ter aquela coisa, questão "Ah, polícia florestal, ela só vem pra...". Aqui não, ela também vem pra fazer a parte educativa também, entendeu? Mostrar pro pescador como é que ele deve se comportar. Não só lá no rio, mas na sua casa também. A questão do lixo. Enfim, isso são algumas coisas que a gente também, a gente deixou aquela questão ali ser já...
P/1 – Mas, eu tenho uma curiosidade. Que a gente sabe que o Pantanal, queira ou não, ele tá sendo agredido, né?
R – É.
P/1 – Vem gente, né? Agri... Como é que vocês agem com isso? Por exemplo, sei lá, vem alguém que vai desmatar, como é que é a ação disso?
R – Não, nosso trabalho, a gente tá, ele já tá bem mais educativo hoje, né? Então, a própria sociedade hoje, ela tá mais consciente. Olhe, mais sensível com a causa. Pra você ter uma diferença aí, a gente, de 98 pra cá, a gente tem poucos incidentes de alguns tipos de... Não existe aquela criminalidade como existia, né? Tanto é que, antigamente, o pessoal não tinha também conhecimento. A gente tem que levar em conta isso. Eu falo isso pela história de Miranda, né? A gente vê a história de Miranda, os primeiros habitantes daqui, os primeiros pecuaristas. A gente vê a história deles, então, a gente vê que realmente eles não tinham um pouco de... Então, não podemos culpar, hoje, ninguém. Podemos culpar, assim, a própria forma que foi desbravada a região. Então, o pessoal acostumou, aquela pessoa que... Tem pessoas aí que a chácara passou de geração pra geração e continua daquela mesma forma, entendeu? Aquele mesmo cotidiano ali. Então, essas coisas a gente tem que saber também. Até que tem a questão da cultura do povo local. É uma coisa interessante que eu descobri, isso também no nosso trabalho. Eu descobri isso por que? Porque a gente trabalha no rio, a gente tá lá no dia-a-dia, entendeu? Então, você vai conversando com o pescador, você vai falando com ele, ele vai falando com você. A gente deixou um pouco aquele lado, então, isso aí eu aprendi muito com eles também. Não só eu como os demais colegas, né? Que você senta lá, conversa com o pescador, ele fala alguma coisa, uma história. De repente você tá no patrulhamento à noite aí, sentar na lancha dele, de madrugada, toma um café com ele. Então, são algumas coisas que poucas pessoas tem esse privilégio, no policiamento a gente ter essa amizade com...
P/1 – E você tem algumas histórias dessas que foram surpresas pra você? Coisas que você descobriu junto a esses pescadores, comunidade?
R – Olha, a comunidade aqui do pessoal do... Tinha um senhor aqui, até eu conheci ele há pouco tempo, quando eu cheguei aqui pra trabalhar na ambiental, ele já tava já deixando a atividade. Que é o senhor conhecido por Zé Barbudo. É um dos caras pioneiro aqui em termos de pesca. É o cara que revolucionou a pesca não só em Miranda, mas no estado. Hoje nós temos aqui algumas atividades que é a nível de estado, que saiu aqui de Miranda. Algumas idéias. Por ser uma pessoa leiga, né? Mas, só que ele tinha um conhecimento enorme, porque ele lia muito. Então, um leitor. Então, ele não tinha estudo, mas tinha leitura. E essa leitura fez com que ele podia chegar em qualquer local e discutir o que ele queria.
P/2 – O que é que ele inventou?
R – Ele conseguiu mostrar pro pescador a importância dele. Mostrar pro pescador que ele tem que ter uma visão diferenciada na sua exploração do peixe. Entendeu? Um fato interessante também na questão da pesca, que eu sempre discutia, que você não pode às vezes pensar em só bater o pescar, você também tem que pensar em dar um tempo pro peixe. Ele já pensava naquela época, em 1980 e... Ele, na época, como na história, o pessoal contando, né? Naquela época, em 1981, 1982, entendeu? Na época que Miranda tinha poucos pesqueiro, aí, né? Na verdade, tinha um nome nacional. Vinha muito turista, mas só que não tinha aquela preocupação. Então, com o decorrer do tempo, aí a gente volta pra história dele, pelo que ele falava. Basicamente, algumas coisas que ele falava lá, hoje a gente fazendo um policiamento nosso, aí, no dia-a-dia, a gente lembra dele. Lembra da fala dele. E fala: "Pô, um cara naquela época, sem estudo, falava isso", né? Um senhor leigo, vamos dizer, leigo. Mas, só que leigo pra nós, mas, pra ele, assim, no foco dele tinha muita coisa que podia... Se ele tivesse vivo hoje, ele talvez estaria aí mudando algumas coisas ainda, né? Até por questão de legislação também do estado, ele opinou em muitas coisas. Pessoal ouvia ele, porque era um cara respeitado no estado. Quando tinha conferência, tinha alguma coisa com relação à pesca, ele era o primeiro que tava lá discutindo. Ele ia na plenária, falava, tinha uma oratória convicta. Então, ele foi uma pessoa que... Ele montou aqui a primeira peixaria, foi ele que montou, ali na estruturinha dele ali, pra mexer com peixe. E tem um senhor também, o senhor Joaquim Bandeira, a família Bandeira, os filhos que mora aqui. A gente tá até tentando ali, resgatar também a cultura deles, agora. Porque são pioneiros, eles, na época das zingas, né? Ia pescar de zinga.
P/1 – Pescar o que?
R – De zinga.
P/1 – Quê que é?
R – É uma canoa com a varona. Então, se é zinga, não tinha barco, não tinha nada. Você ia zingando. E eles ia naquela do pessoal de que charqueava o peixe. Você conversar com uma pessoa dessa hoje aí, fala "Pô, como é que era aqui?" Falou "Não, a gente charqueava o peixe". E são as histórias importantes que estão aí, né?
P/2 – Eu até sei, de repente, mas explica pra gente que é que é charquear o peixe, porque se fazia.
R – Por que charquear? Porque não tinha condições, não tinha gelo, não tinha nada. Eles iam, subiam pra pescar e demoravam dias e dias. Porque iam zingando, até chegar no local apropriado. E já iam pescando e.. Entendeu? E aí eles iam abrindo os peixes e iam salgando. É o charquear, que é abrir e salgar, pra não estragar o peixe. E eles, alguns que aqui eles estão ainda, são alguns que vieram lá da região de Cuiabá. E a família ensinou eles lá, que Cuiabá é tradicional essa questão de charquear o peixe. E até pra história de Miranda, que Miranda, o pessoal costumava, além do gado, né? Charquear a carne de boi, na época, o peixe também era charqueado.
P/2 – Mas, hoje, não pode mais vender carne...?
R – Não, ele pode fazer, mas só que hoje perdeu esse valor cultural. Por causa do gelo, por causa de ________. Só que o peixe, hoje, charqueado, os melhores que a gente tem aqui na região é o que vem dos índios Guató.
P/1 – Dos índios?
R – Guató. Lá da Bolívia. O peixe que eles charqueiam é a mesma coisa que você comer um bacalhau no mercado, no grande centro. Um dia que você for, se for lá e conhecer os índios Guató, fala "Não, eu quero saber do peixe que vocês charqueiam aqui". Entendeu? Uma coisa que a gente começa a ligar uma coisa com a outra.
P/1 - Então, vem ali da fronteira, então?
R – Da fronteira. E eu conversando com ele aqui, aí tinha uma história, assim, que ele falou e a gente conversando e perguntando. No caso, a gente ________ esse bate-papo aqui. A gente tava com ele lá e seu Joaquim falou ______ lá. Hoje, agora ele já aposentou. Ele já tá, a família, os filhos também, tá tentando levar pra escola, porque na época também não tinha. E ele pegou, falou pra nós: "Hoje não. Eu já tô mexendo com mel já pra largar mão de ser..." Então, pessoa que eu gostei de, dentro do meu serviço, né?
P/1 – Uma coisa do seu próprio serviço. Das fotos que eu tava vendo, vocês têm às vezes várias missões que vocês saem aí pelos rios, essas coisas todas. E tem alguma, assim, que tenha sido marcante pra você? Que foi uma coisa muito legal, assim, que você gosta de lembrar?
R – Olha, eu tenho algumas e uma que eu mais gostei foi até, aconteceu agora há pouco tempo, em 2005. Foi a região do Nyutaca-Nabileque. Que eu tinha, já tava com quase dez anos de ambiental, não conhecia aquela região. Que aquela região foi uma grande região de conflito da região, na época dos coureiros. A região do Nyutaca-Nabileque.
P/1 – Que é que foi esse conflito? Só pra gente saber.
R – Foi o combate à caça do Jacaré, né? Que a época do couro do jacaré, que era muito comercializado na época. E a polícia florestal na época foi criada mais pra isso. Tinha a Inamb, da Inamb aí vem a polícia Florestal pra coibir os caçadores de jacaré. E lá nessa região, começamos em 2005 agora, é interessante que além de ir na própria, nessa região, nós fomos pra uma região que é reserva indígena Kadiwéu. Uma linda região de quase quinhentos e poucos quilômetros de área, de reserva. E por ser área indígena, que eu também não conhecia. Cruzamos por dentro da área, das aldeias. Fomos até o Rio Nyutaca, descemos, né? O interessante, nós saímos daqui, estragou o carro, nós tivemos que ir pra Bonito. Aí de Bonito, saímos seis horas da manhã de Bonito, chegamos seis horas da tarde no local. Nós se perdemos no caminho, porque era a primeira vez que nós fomos. Tinha __________________ nós se perdemos e aí ficamos preocupados que tava escurecendo e não conhecia nada. Aí nós pegamos um trilho, nós conseguimos sair lá no local. Fomos pegar essa batida aqui, fomos na casa lá que era uma área do seu Zé Aranda, lá onde, que era já cruzava o Rio Nabileque. Aí no dia cedo nós saímos pra... Preparamos, dormimos, tranqüilo. No dia cedo preparamos pra sair na missão e com aquela tensão, né? Porque nós chegamos lá, houve fatos, assim, relatos do pessoal lá que o pessoal também tava caçando lá, mas é porque o Paraguai, ele tem um problema de caça lá, que é liberado. Eles estavam indo a caçar na região brasileira. Então, eu já fiquei tenso, né? Já preocupado com isso. E já me... Assim, o Ramos que é mais experiente, na época que ele trabalhou na (Colírio?), ele falou: "Ó, então nós vamos preparar" Então eu já fiquei meio tenso, que não... Pelo relato, a gente fica com medo, né? E aí, eu passei pelo local onde o major, na época que, hoje é o Coronel Rabelo, que ontem levou um tiro, que essa área onde passamos lá é uma área de conflito. Aí, me arrepiou quando nós chegamos no local e aí o Ramos relatando: “Essa aqui que foi a região?”, mostrou o local, mostrou, praticamente, onde era que os caras tava.
P/1 – E teve morte nessa...?
R – Teve morte, né? De colega nosso e o Major Rabelo, até hoje ele é deficiente, de um lado dos braços dele, que ele levou um tiro. E graças a deus, né? A gente lembra da história, assim, a gente sabe que houve morte, mas não sabe, assim, relatar realmente. A gente ouve a história dos colegas. Eu passei lá, foi uma coisa, assim. E adentramos o Rio Paraguai, né? Que eu já tinha ido, mas não dessa forma. Sair de um... Na época a gente fala de corixo, que eles falam corixo, que é o Nabileque, né? Falam corixo, mas o corixo é um rio praticamente. Você olha, fala "É um corixo". Porque a área Pantanal, vocês têm muito corixo porque ela... E tava bem cheio nessa época.
P/1 – O que é que é corixo? Só pra gente...
R – Corixo são pequenas vazantes, assim, né? Que você tem. Você entra, você tem saída, então eles falam de corixo. Porque tem o leito principal, aí tem o braço, fala "o corixo aqui", mas só que ele só entra e não sai. E muitos, na época, esses corixos, era tipo uma emboscada pro pessoal, né? Que eles entravam pra... Eu passar lá foi um... Fiquei muito assim... Me assustou muito. E também, na PM, eu voltando um pouco atrás, na PM, era um dos primeiros serviços meu. Recebemos... Assim, que me deixou, assim, assustado também, mesmo tendo também... Depois nós ficamos dando risada. Fomos atender uma ocorrência, chegando lá, "Ah, o cara tá armado. Quase matou uma pessoa". Em Campo Grande isso. E chegando lá na ocorrência, o cara falou: "Ó, tem que tomar cuidado que ele deu um tiro e tá com a arma". E eu, primeiro serviço meu. Fui tremendo de medo, assim. E vai daqui, vai dali. Toda aquelas precauções, cuidados ali, fomos. Chegando lá, tá o cara atrás de um vaso de planta, tremendo de medo. Porque ele falou que era a Tora que tava vindo. Que é a Tropa Extensiva de Repressão Armada. Porque, quando criou ela deu aquele impacto em Campo Grande, policiamento. O cara tremendo de medo, com a arma jogada dentro do vaso de... E eu, quase que morrendo, mais com medo que o cara, tentando lá. E aquilo me... Sabe? Aí eu falei: "Pô", né? Mas, só que a gente leva isso como experiência da vida pra gente poder tá preocupado. Mas, só que a gente vê do outro lado, né? Pô, coitado do cara. É assim, como se fosse um cara que tivesse um problema ali de repente, o cara tinha até infartado ou morrido ali. Aí nós trouxemos o cara. E outra história inusitada também, voltando pra a Ambiental, eu lembrando também agora. Nós descemos lá do Porto Novo, um patrulhamento. A gente gostava de fazer patrulhamento à noite. Sempre é bom a gente fazer, a gente gosta de fazer à noite. De dia não é tanto assim. À noite que é gostoso, né? Você vai... É o serviço nosso E nesse dia, nós...
P/1 – Por que é que à noite é mais gostoso?
R – Porque você... É fácil. Você tem... O clima é favorável. E pra você pegar alguém, à noite, você pega muito mais à noite. Então nós saímos daqui, fomos pra Porto Novo. Descendo Porto Novo até aqui, a gente gasta praticamente um dia patrulhando. Aí nesse dia, nós conseguimos tirar 67 espinhéis. Os arames que ficam esticados no rio. Um arame que eles colocam pra pescar. Tiramos. E nós já estávamos cansados já, entendeu? Aí no Chapena chegamos já era quase seis horas, no Chapena. Seis e meia, sete horas. O pessoal tava tudo, as pessoas já estavam lá desde... "Vamos sair pra...". Nisso, os caras viram. Uns viram nós indo, aí pegou e falou: "A polícia tá vindo aí. A polícia tá vindo aí". A Polícia Florestal. E numa barraca tinha um turista de São Paulo. E esse cara, ele tinha medo da polícia. Porque ele ouviu falar que na época lá, a polícia pegava e batia com peixe nos caras, sabe? Uma história e na cabeça do cara. Um empresário. São Paulo. Um cara, pô, instruído. Aí chegamos lá, ele tá lá. O cara falou: "Ó, bicho. Vocês (falou?)..." Antes de o cara falar. "Rapaz, vocês vão lá e fala pra esse cara. Porque o cara tá lá dentro tremendo". Eu não acreditei. O cara falou: ______"Tá tremendo. Tá lá o cara. Vai lá e conversa com ele". Eu falei: "Verdade?" "É verdade". Chegamos lá, tá o cara lá, um negão, assim, grandão. Quase do tamanho do Cabo Ramos. Tava olhando, assim, eu falei: "Oi senhor. Tudo bem?" "Tudo bem" "Como vai o senhor?" "Ah.." "Tem como o senhor vir aqui fora?_________________ Tem problema?" "Não, não" "Faz favor aqui. Tá tranqüilo. Gostaríamos de falar com o senhor" "Tá bom. Daqui a pouco eu tô indo". Aí ele se acalmou e veio. Falei assim: "Olha, conta só, o que o senhor tem pra dizer de nós, da polícia aí?" E tal, tal. "Não" Aí começou a contar, a relatar que ouviu muito e tinha até medo de vir pra Mato Grosso por causa disso aí, porque o pessoal disse que batia mesmo, não sei o que, sabe? Ele tinha isso na cabeça. Aí eu falei: "Não senhor, não tem nada a ver com isso não. Isso aí é tudo história. Isso aí não... É fato que isso aí é... Contam, né? Isso aí eles aumentam, inventam, uma coisa assim. Que não existe isso aí, não. Em pleno século vinte e um o senhor falar um negócio desse aí, que a polícia vai bater com o próprio peixe, que pega você no rio". Aí os caras aumentaram. Ele falando pra nós, falou assim ó: "Inclusive senhor, imagina só, o senhor pegar nós com peixe aí que tem ferrão. O senhor batendo com o ferrão em nós aqui. Imagina só isso". E ele contando isso, ele levando a sério mesmo. Ele falando assim. E ele, os filhos dele, por isso ele não quis trazer os filhos, nunca trouxe os filhos. Falei: "Não, senhor. O senhor pode ficar tranqüilo. O senhor pode vir, trazer os filhos do senhor". Aí um belo dia ele ligou pra nós aqui, falando "Pô, obrigado pela conversa. Obrigado pela..." Então, é gratificante isso, porque vai os filhos do cara, de repente nem vem pra cá porque tem isso na cabeça, que... Então, é uma história que a gente... No rio eu fiquei, assim, a gente vai indo, vai... E o mais, assim, dos dois últimos que aconteceu comigo. Um foi a onça. Que eu fui tentar tirar uma foto da onça [risos]. Até foi motivo de chacota do pessoal aí. Tava assim, nós tava descendo, de dia, mais ou menos 10 e meia, 11 horas. Aí aquele barulho lá no mato. Tudo sujo. Falei: "Pô, mas onça parda aqui não é". E a onça tentando matar o jacaré, levar o jacaré pra cima. Que a onça era forte, mas só que o jacaré é muito pesado. E ela tentando arrastar. Aí eu falei: "Pô, vou lá no quartel pegar...". Tinha uma máquina minha, que eu gosto de... Sempre fui apaixonado por máquina. Não sou fotógrafo, mas eu... tinha uma máquina minha velha, kodak. Falei: "Vou lá". E aí nisso, fui, peguei o colega "Vamos lá, colega", um colega que tava com a lancha, bem perto do quartel, "Vamos lá". Fomos lá, eu falei: "Eu vou no bico, você vai aí". Aí ele, falei "Encosta mais, pra me aproximar, pra bater". Porque aquelas de, tem que aproximar, né? E ela não tinha zoom, não tinha nada. Super simples. Falei "Vai mais". Quando chegamos mais perto, ela esturrou. O esturro dela, eu corri do barco até aqui, assim. Lá na ponta do barco pra onde que eu ia? Não ia pra lugar nenhum. E o cara lá no barranco, meu colega, ele pegou, ele correu também [risos]. Aí no _________ esturrido, falei assim "Não, eu não vou não". "Vai, essa onça..." Que os turistas nem quis vir mais. Mas, foi um susto que eu, se eu tivesse na hora, né? Tinha feito um estrago ali, porque...
P/1 – E ela fugiu?
R – Aí ela foi embora. Porque o que o que ___________________ mesmo ela pegar o jacaré. Salvamos o jacaré, na verdade, né? Mas, a forma como que ela esturrou, foi mesmo um tremendo de um susto. E outro, último relato também que aconteceu, que até, se não fosse o colega meu tivesse o remédio, eu tinha até... De toda experiência na área de rio, (nós não?). Foi um ataque de abelha, que nunca tinha acontecido isso comigo. Nós fomos lá pra fazer a limpeza no quartel, no nosso posto da barra, que fica no Rio Miranda, ________________. E aí nós íamos construir um porto lá. Nós íamos procurar algum local que tinha um material seco pra gente poder cortar pra fazer tipo um tablado, pra gente poder subir. Aí de manhã cedo, nós acordamos, falei "Vamos lá". Eu mais um colega. Pegamos a serra e fomos lá pra ver se... Nós estávamos em três. Aí fomos lá. Cortamos um jacarandá seco, lá. Tiramos ele, cortamos. Aí fomos cortar no meio. E nisso, aí vi uma abelha. Pá! (aquela foi?) "Ah, é uma abelha só". (Aquela foi?), pá! "É uma abelha só". E nisso foi beleza, tranqüilo. Aí ele ligou a motosserra de novo, porque eu parei a motosserra (instiga?) ela. Entendeu? E quando bateu uma galha assim, bateu próximo onde tava a cachapa, né? Não vimos que ela tava dentro do tronco. Numa árvore lá. Aí falei pra esse cara, "É abelha". Aí veio mais duas. Aí ele falou: "Ó, ela tá vindo". Aí na que tá vindo, nós abandonamos o motosserra, já abandonamos o machete. E saímos correndo. E eu fui na frente, porque eu tava pilotando, ia só bater no barco, ligar e sair. Quando eu chego lá, tá cravado de abelha o barco. E eu tava com esse cinto, que esse cinto sem revólver, tava nesse cinto, que eu tava a paisana, mas tava... Quando eu cheguei lá, ela me atacou. Ela veio de... Eu não sei nadar. Minha história é só... Eu não sei nadar. Quando ela me atacou eu joguei na água assim, mas quando eu lembrei que eu não sabia nadar eu voltei. E no que eu bati o meu revólver escapou do cinto. Aí os caras falou: "Ronaldo, sai daí, sai daí, que ela vai matar você". Aí o revólver ficou lá. Aí eu não lembrei mais do revólver. Porque foi tanto ataque. O cara falando, o outro cara porque ela só veio mais em mim. E aí eu já tava meio, das ferradas, eu já não conseguia mais dominar. Só coloquei a mão na cabeça aqui e saí meio grogue andando. Olhei pra ele e falei assim "Ô nêgo, nêgo, joga gasolina em mim". Só falava isso. "Joga gasolina em mim, joga gasolina em mim". Que eu já não tava falando, eu já tava já, não falava por si. "Joga gasolina, joga gasolina em mim, que eu não..." Aí eu parei. Falou: "Sai daí cara, sai daí cara. Ela vai atacar mais você". Comecei a andar, andar. E elas vindo. Aí foi indo. Aí ele mesmo, ele mesmo, né? Eu não vi, que eu já tava o... Ele chegou, parece que passou a mão nas minhas costas, tirou a... Nas minhas costas, cravado, assim, de... Que aí já é uma em cima da outra, né? Ele mesmo falando, né? Eu (com certeza?) que eu não vi. Ele falando pra mim. Aí eu peguei, saímos pro mato. Mas, só que no sair do mato, nós não sabíamos onde nós estava mais. Nós olhava longe, assim. Tínhamos que ir, eu já cansado. Ele tava preocupado comigo, eu já tava, porque... Aí ele começou olhar no meu corpo, meu corpo já começou a empelotar. Porque ela... Houve casos de já ter matado já pessoas, né? A sorte minha que eu não era alérgico _____________ não sou alérgico. E aí _____________ ficamos. E aí os caras estavam no quartel, fazendo almoço, né? Esperando nós. E eles pensando que nós estava demorando. E não vinha, não vinha. Conseguimos sair num local. Aí eu já falei: "Ó, cara, eu não aguento mais. eu fico aqui. Se for pra morrer eu morro aqui". Falei pra ele. Aí quando nós paramos lá, nós olhamos tudo amassado. Aí ele começou a andar assim, no barranco, que tava cheio o rio. Aí ele queria descer no rio, que tá (rolando camalote?). Falei: "Não, vai lá no quartel. Chama os caras" "Não, não vou, cara. Porque vai se a piranha me ataca" Que ele também tava cansado. Ele, "Perigoso", falou "Não vou". Aí ficamos lá. Aí nós tava mexendo lá e comecei a mexer umas tripas, assim. Olhando as tripas, assim, frescas e tudo amassado. E nós falamos "Ah isso aí foi um jacaré que atacou alguma coisa aqui". Aí tranqüilo, ficamos ali. Aí quando o pessoal, demoramos, ____________ demorou. E duro que a arma que nós tínhamos lá no mato e a arma ficou lá e eu não vi a arma. Nós andamos todo o mato sem a arma. E ali é um lugar onde mora onça. Nesse trecho do nosso posto lá. Aí eu falei: "Vamos embora. Tô sem a arma mesmo. Não tem o que fazer" Aí chegamos lá, a gente demorou mais ou menos umas quatro pra cinco horas, nós chegamos oito, nove, dez, 11, 12, 13. Uma hora da tarde os caras viram que nós não chegamos, vieram atrás de nós. Nós estávamos no barranco lá. Aí só deu a que eu vi, pá, foi um barco, assim. Aí os caras falou: "O que é que vocês tão fazendo aí?" Eu levantei, falei assim "Ah, nós estava aqui" "Rapaz, aí que a onça atacou o jacaré, que nós estava nesse dia, cara". A onça atacou o jacaré, nós vimos aqui a foto que eu bati. Olha! Aí que eu falei: "Puta, __________________" Então, foi um... A sorte que quando chegou a noite, de tardezinha pra de noite já, começou a inchar mais. Aí minha língua começou, né? Foi muito ataque e aí a sorte que o cara lá no Touro Morto, fica a quatro minutos do nosso posto tinha um Específico, que é um soro. Você tem o soro. Custa oito reais o soro. Ele, pra animais peçonhentos, quem tiver no mato tem que levar aquele soro ali, que ele é fatal.
P/1 – Como é que é o nome do soro?
R – Especifico, o nome dele. É um soro verde. Você toma uma colher, né? Pra você chegar no socorro, aí já começou a trancar, porque acaba morrendo sufocado, né? Aí ele falou: "Olha, eu tenho lá esse soro". Tinha um cara muito experiente na Ambiental, um dos pioneiros da Ambiental, esse também tava lá, que foi quando criou a Ambiental, ele que... Ele falou: "Você tem esse soro?". Falou: "Rapaz, eu tava na minha casa e eu não trouxe esse soro aí" "Você tem em casa?" Foi lá e botou. Trouxe o soro. Eu tomei. Quando foi meia hora, já começou a melhorar. Aí começou a passar, começou reduzir já o inchaço. Aí, graças a Deus, se não fosse o soro, eu não sei o que ia acontecer comigo, né? Assim, de repente eu podia até... Até chegar no socorro aqui, de lá até aqui, você gasta em média três horas de barco e viatura.
P/2 – E Ronaldo, você tá falando aí nesse soro, né? Eu até fiquei curiosa de saber, quais são os procedimentos de segurança pra vocês entrarem na mata, que tipo de equipamento?
R – Olha aqui, nossa mata aqui, a preocupação maior nossa é animal peçonhento tipo cobra, né? E o próprio... A onça mesmo, que hoje tá, recentemente a gente tá vendo cada coisa aí que, né?
P/1 – Que coisa?
R – É muita onça próximo, né? Que não tinha. Então, você vê que no próprio quartel mesmo, aqui, você vê onça aqui. Cruzando a rodovia ali. Um dia um turista passou aqui, parado aqui, o cara tremendo de medo, porque a onça pintada passou bem em frente do carro. Que era mais ou menos umas onze, meia-noite, ______ três horas. Cara tremendo parou aqui "Moço, ô moço, ó lá na, na..." Mas, é, tá... Parece que já começou ficar normal isso aqui na região. Não tinha, né? Na época, muito difícil, nem falava (cá?) onça pintada. Podia falar onça parda, né?
P/2 – Isso é mau sinal? A onça tá sendo expulsa? Isso é mau sinal?
R – É. Sinal que tá acontecendo algum problema em algum lugar, né? Não podemos dizer, mas, alguma coisa tá acontecendo algum lugar, que pra ela tá... Tanto é que a partir de agora nós estamos relatando isso, transcrevendo isso aí pra gente mandar pra São Paulo, que é um centro nacional de fatos, né? Sobre os animais. Esses animais que são ferozes mesmo, que pode atacar o ser humano. A gente tá relatando, onde tá chegando próximo do convívio da população.
P/1 – Bom, mas ser policial, então, aqui é difícil, Polícia Ambiental.
R – É, a gente tem que gostar um pouco da profissão, né? Porque além, de a gente, na questão do trabalho do rio, a questão do acidente, que tem que ter, né? Barco salva-vida. No caso, eu não sei nadar mesmo. Então, tem que tá direto com salva-vida. Noções básicas de pilotar no rio, você também tem a questão de segurança, você tem que saber pilotar, se não conhecer o rio você não... E no cotidiano mesmo é a questão da proteção mesmo, né? A gente usa bota no mato, se a gente for andar, porque, pra evitar picada de cobra. Alguns cuidados a gente tem. A gente tem essa precaução, realmente a gente é diferenciado das outras unidades da...
P/1 – Ronaldo, uma curiosidade. Quando você veio pra cá, na verdade você reencontrou uma pessoa que te ajudou a entrar, que foi o Cabo Ramos, né?
R – Cabo Ramos.
P/1 – Como é que foi isso?
R – Ele estava torcendo muito pra mim vir. Desde o início. Só que pra você vir pra Ambiental, que é a unidade, era a mais cobiçada por todos no estado. Quem entrava na polícia queria ser Florestal. Sabe aquele ego de ser Florestal? Eu não, pra mim não era isso, ego de ser Florestal, mas, era a unidade que talvez eu estaria me aproximando dos meus colegas realmente. E tendo em vista o problema que ocorreu comigo. Então... E aí chegando aqui foi, pô, uma recepção, além daquilo que eu imaginava. Porque eu tive, assim, um tratamento, que parecia que era o comandante que tava chegando, né? O Cabo Ramos e mais os outros colegas. Que nós era, quando eu cheguei aqui nós era em dez. Era em dez o pessoal. Aí chegou eu, 11. E recentemente chegou um outro colega, que era o cabo (Santo Roque?), que tá aposentado hoje. Que juntou. Então, nós... Porque a escala aqui era 24, 24. Muito puxada. Trabalha um dia, folgava um dia. Devido o fluxo de turista. E aí eu falei: "Pô, toda essa recepção, eu nunca tive esse tratamento". Isso fez eu gostar mais ainda da pessoa, né? Aí eu comecei a conhecer realmente. Que eu tinha essa amizade, mas, conhecer no trabalho é outra coisa. E o conhecimento do trabalho me cativou mais ainda. E foi, assim, uma coisa maravilhosa ter vindo. E aí eu acabei, assim, em contrapartida dei o favor, né? Comecei a fazer alguma coisa, que ficou, assim, tava vago no nosso quartel. Que é trabalhar com a comunidade. Eu percebi isso. Porque eles não tinham tempo pra trabalhar, porque era... Você ficar lá criando peixe, aqui o dia inteiro, chegava 10, 11 horas da noite, você tava morto. Você lacrava aqui 1.500, 2 mil quilos de peixe, rapidão. Aqui, nessa época.
P/1 – Fazia o que com o peixe?
R – Lacrar o peixe. Vistoriar e lacrar.
P/1 – Como que é isso?
R – Que os turistas vinham pescar e pra você sair do estado tem que estar, o pescado tem que estar vistoriado e lacrado. Vistoriado e lacrado. E aqui tinha o serviço de vistoria e lacre, nosso. E, muito peixe, né? Estatisticamente, a gente tem ali muita coisa que você... Pra hoje, a gente vê, você trabalhava muito e aí ficou, assim, a questão da parte de educação ambiental nas escolas, palestras, essas coisas, ficava meio que de lado.
P/1 – E você lembra do primeiro contato com a comunidade, como foi?
R – O primeiro contato meu, eu fui, assim, com medo. Né? Preparei uma, preparei não, peguei umas fotos e algumas legislações que eu tinha. Assim, eu não tinha noção de nada. Aí eu fui na escola, o que eu comecei a falar? Comecei a falar do meu serviço. Entende? Pra comunidade. Comecei a falar do meu serviço. Isso foi lá em Bodoquena. Pro ginásio de esporte. Aliás, desculpe, na escola, depois que teve a atividade no ginásio de esporte. Mas, na escola, o contato com os alunos mesmo, eu comecei a falar nas atividades, como... Pô, surpreendeu a comunidade, assim, num todo, porque eu falei: "Pô, não tenho condições de preparar, de fazer isso. Eu não tô preparado pra isso". Isso foi em 95. Hoje nós estamos com 13 anos já. Falei, pô, na época, aí mandaram ofício elogiando o comandante, pedindo mais palestras, porque todo mundo gostou da palestra. Sabe? Só que eu fui, assim, natural. Aí, eu fiquei tão com medo, mas comecei a falar natural. Hoje eu falo que eu comecei a falar natural, porque hoje eu vejo que se você não se sente natural com o que você tem que falar, você tem que pensar em... Eu também pensava em aquelas coisas, acima do normal "Ah, eu quero fazer coisa que..." Não. Era o cotidiano ali, o que eu tinha que passar pra ele era aquilo e aí, naquela palestra lá, quando eu recebi aqueles ofícios ou quando depois que eu dei as outras palestras (até leio?), mas, aquela palestra me marcou, porque eu fui muito elogiado. Particularmente eu, pela minha fala, _____ ter o contato com a comunidade ali e falar, assim, coisas nossas, daqui. Porque aqui em Miranda tem pessoas que não conhecem o Passo do Lontra. Tem pessoas de Miranda que não conhecem aqui o Salobrinho, aqui. Essa beleza natural aqui. Tem pessoas de Miranda que não conhecem. Então, essas coisas aí que às vezes a gente tá tentando passar pra comunidade.
P/1 – E pra gente que não conhece, como é que você falaria? Porque a gente não conhece nem o Passo do Lontra, nem.... Como é que?
(fim do CD 01)
(início do CD 02)
P/1 – E pra gente que não conhece, como é que você falaria? Porque a gente não conhece nem o Passo do Lontra, nem... Como é que?
R – Porque o que nos (estreita?) aqui é um ponto de informação. Que seria essencial, que se Deus quiser, depois de formado eu vou tentar, que é o sonho, né? É essa questão de passar pro turista, porque o turista às vezes vem aqui você não sabe quem é ele, o que ele tem de conhecimento. Que às vezes você vem passear, você não vem como uma empresa, você vem passear naturalmente. E aí, você tem que tá preparado pra tá passando essas informações. O básico, né? Falar "Não, Passo do Lontra fica a tantos quilômetros, fica ali e tal e tal" Você tem o que lá? Você tem pesca, você tem turismo (eco-turismo?) uma atividade. Bodoquena, o que nós temos em Bodoquena? Nós temos a Boca da Onça, temos lá o balneário municipal, os particulares. Nós temos aqui, nós temos essa fazenda ecoturística aqui, nós temos aldeia aqui próximo, se você quer conhecer uma aldeia, né? Você tem aqui o Salobrinho, que é um rio cínico hoje. Você quer passear, fazer um passeio. Então, são algumas coisas que você tem que tá conhecendo, né? Você tem que tá. Mas, isso também você tem que ter muita dedicação, tem que ter... Você fala o básico, fala o essencial, o que é o empreendimento. Você fala pra pessoa se direcionar, pra não ficar perdida. Porque a gente vê muito, que a gente fica preocupado, eu particularmente fico preocupado, porque essa profissão aí já me saiu, assim, na questão, só ser polícia, já parti mais pra uma questão mais já de um todo ali, de tá interagindo com a comunidade mesmo e com os próprios visitantes, né? Que é uma preocupação hoje, porque a região nossa perdeu muito turista.
P/1 – Perdeu?
R – Perdeu muito turista devido a... Até eu coloco um pouco também na falta de dedicação por parte da comunidade local, né? De tá se organizando mais. Tá certo que Miranda já despontou muito, tá despontando em termos de localidade, em termos de tá passando essa questão turística. Melhorou muito. Mas, ainda tá faltando essa questão da informação. Acho que a informação é muito importante. E aqui no nosso posto, pela questão da história, 20 anos aqui de posto, né? Então, eu acho que ele já merecia, nem que seja uma ONG, uma empresa, uma fundação, colocar uma base informativa ali. Mesmo que não fique nós, mas que fique alguém passando informação. "Ó, lá na Polícia Ambiental de Miranda", que é praticamente uma entrada do Pantanal, aqui da região, do Pantanal mesmo, da região turística é aqui. Não tem outra região, infelizmente. O pessoal fala "Ah,_________". Aqui que é a entrada, aqui que você vai. Aqui você pode sair daqui, você vai pra Bonito tranquilo, você anda mais 120 quilômetros, você vai pegar a estrada _________ tranquilo, no passeio também. Você vai pra Corumbá, que é outro passeio também. Você vai pro Passo do Lontra. Enfim, você pode ir pra Bolívia. E aqui você vai entrando em Bonito, por ali, você vai pra Ponta Porã. Então, Miranda, ela fica centralizada. Se olhar, ela é central. Então, eu vejo isso nela já, entendeu? Então, eu tô trabalhando, né? Pra isso mesmo, pra... A minha... penso minha unidade, mas, penso também aqui na minha região, num todo.
P/1 – E a faculdade, como é que apareceu na sua vida?
R – Ela apareceu num momento em que eu tava... Engraçado que quando eu me separei, você fica meio vagando na vida, né? Eu só vivia, assim, à toa, sem fazer nada. Aí um belo dia meu pai me chamou atenção, né? Falou assim: "Ó, você tem que parar com isso e tem que estudar". Aí surgiu um cursinho, surgiu uma inscrição de cursinho, né? Aí o professor me chamou "Ô, Ronaldo, você não quer ir no cursinho? Eu vou deixar uma vaga pra você". Porque é do estado, né? Eu tenho aquele vínculo, eu trabalho nas palestras, nas escolas. Falou "Vou deixar uma vaga pra você". Deixou uma vaga pra mim. Aí lá no cursinho, nós conseguimos fazer. Porque nós não tínhamos material. O governo mandou algum recurso, mas não mandou tudo. Aí nós tivemos que correr atrás, pra fazer promoção pra gente poder arrecadar um dinheiro pra gente pagar nosso material didático. Aí fizemos uma promoção lá, fizemos uma camiseta, conseguimos recursos, fizemos. Era dois semestres, o primeiro e o segundo. Mas, só que quem fazia o primeiro não fazia o segundo. E no primeiro semestre eu consegui aprender um pouco, mas eu precisava do segundo semestre. Aí falou: "Você quer Ronaldo? Eu vou deixar uma vaga pra você novamente". Falei "Pô, maravilhoso se puder". Mas, não podia, então, eu queimei uma vaga. Roubei a vaga de alguém, né? É que não poderia, mas, pela amizade, pelo trabalho que tinha na escola, deixou uma. E foi o que me ajudou. Porque nesse cursinho, teve uma professora de São Paulo, literatura, que é um pouquinho a minha parte fraca, né? Ela pegou e na aula dela ela fazia um teatro na sala, entendeu? E aquela aula dela, no vestibular, tudo que ela disse ali, não precisava escrever, você ouvindo, era o vestibular. E o vestibular, naquele momento, quando eu prestei o vestibular pra geografia, aí literatura fez a diferença. Fez diferença e eu, graças a deus passei tranqüilo. Tô aí. Não fiquei até hoje em nenhuma disciplina, né? Porque realmente você fica pendente. Graças a Deus, até hoje eu não fiquei. Mas, tô passando apertado agora, mas, eu aprendi muito.
P/2 – Você tá cursando ainda.
R – Tô cursando. Tô concluindo esse ano. Só tá dependendo da monografia, mas não...
P/2 – E você pretende dar aula?
R – Olha, eu pretendo entrar na área ambiental. Então, eu preciso fazer gestão ambiental ou uma especialização, mestrado na área ambiental. Aí pra mim poder... Mas, só que eu vou querer tá trabalhando já nas escolas, na direção à educação ambiental. Então, meu foco é educação... Vou dar aula sim, mas eu quero enfocar mais a educação ambiental, né? Porque falta isso nas escolas, realmente, um profissional da área que tem na área, pra poder também tá. Falta isso, né? (troca a fita)
P/1 – Ronaldo, eu gostaria que você dissesse, assim, olhando a sua trajetória, que é uma trajetória de luta mesmo, né? Que você teve e tá tendo.O que é que você diria que são, assim, as principais lições na sua vida?
R – Pra mim, foi a minha honestidade, em termos de, assim, desde quando comecei a trabalhar, a me entender por gente, que meu pai ensinou a gente, né? Falou: "Ó, o que é seu é seu, o que é dos outros é dos outros". E isso, ele até dizia "O dia que você crescer, você não deixa atrasar uma conta de água, uma conta de luz sua. Que você vai mostrar o homem que você é". E aquilo ficou marcado, pô, eu era criança, né? Ele sabia que um dia a gente ia ser dono de casa. Então, a questão da valorização. Eu valorizo muito meus pais nesse ponto. Por mais que eu falei pra vocês, que eles são leigos, foram criados de uma forma diferenciada, mas ele me ensinou, hoje eu vendo, assim, ele me ensinou, me deu uma educação que foi além da educação de ensino. Aquela educação de casa ali. Aquela educação de casa ali, hoje eu tenho, assim, como um... Marcante pela minha profissão hoje, pelo o que eu sou. Porque independente, por mais que eles me ensinaram, eu dediquei também. Mas, foi, assim, fruto partindo deles, né? E eu tive uma caminhada também religiosa, entendeu? Que me sustentou, me deu base. Porque eu sou um pouco emotivo também. Porque eu me emociono fácil com algumas coisas. Então, eu às vezes deixo, assim, é melhor ter prejuízo do que eu dar prejuízo pra alguém. Entendeu? E eu às vezes na minha vida, eu... A gente coloca assim, eu perdi, eu ganhei, eu perdi, eu ganhei, não. Eu coloco em mim, né? O que eu tenho, o que eu sou. Dentro de mim mesmo. Então, hoje eu me conheço muito mais. Eu consegui me conhecer. Porque eu era um cara, assim, pouco... Eu digo pra você, eu já era um pouco estourado, um cara, assim, meio, né? Não gostava de levar desaforo pra casa. E no decorrer da minha vida eu enxerguei isso em mim. Mas, só que leva tempo. Então, eu tive, assim, quando eu me conheci, eu falei: "Poxa vida, eu fazia tanta coisa naquela época que hoje eu não faço mais". Aí eu olhando pra trás, falei: "Pô, mas, partiu também dos meus pais, né?" Porque, meu pai mesmo, sempre ele é essa pessoa assim. Um cara calmo, pacífico. Mas, só que eu não era, mas aí, eu vendo, assim, e analisando a minha vida, poxa, eu mudei muito. Assim, eu falando que eu mudei muito. Mas, tem pessoas que acham que eu não mudei, que eu sou um pouco chato. Não é que eu sou chato, eu gosto das coisas, né? Ó, se você fez tal coisa, é tal coisa. Se tal coisa é tua, aquilo é teu, não é meu. Então, eu sou muito sistemático nessa parte. Eu acho que o que é meu, é meu. Então, se eu lutei, se eu conquistei, é mérito meu. Eu, porra, você tem uma, você tem uma história, né? Você tem... Acho que é isso que tem que respeitar nas pessoas. E eu, particularmente, eu gosto de respeitar isso. Eu falo isso porque na minha trajetória, as pessoas levam pra um outro lado. Até levam pro lado político. Mas, eu consegui algumas coisas em Miranda, assim, eu fazendo, assim, do nada, você... O que você faz, parece que aparece as coisas. Então, eu tive muito influenciado em agremiações, em movimento estudantil. Tanto é que hoje na faculdade, conseguimos criar a Associação dos Acadêmicos de Miranda. Depois de 30 anos (na história?). Conseguimos criar a Associação dos Acadêmicos. Tá aí hoje, constituída. Eu consegui criar uma associação do nosso bairro ali. Montar ele, estrutura na época de 1997, como primeira ass... Tanto é que hoje tá com problema ainda porque eu criei... Não, criei assim, que eu ajudei a parte administrativa, montar, que não tinha. Assim, dedicação minha mesmo, entendeu? Eu fiz o meu lado social. Às vezes, eu fazia o meu lado social, não tava sabendo que eu tava fazendo. Aí agora que eu falei: "Pô, eu fazia o social". Eu não sabia. Eu já tava fazendo o social naquela época lá. Que eu deixava de fazer alguma coisa. Minha vida sempre ficou ocupada. Eu não tenho, assim, muito tempo hoje. Porque, também na minha infância eu não tive muito tempo. Então, eu acostumei. Se eu não estiver ocupado com alguma coisa, eu fico, assim, meio... Aí os caras falam: "Pô, mas você...". Não, acostumei a ficar... Agora veio a faculdade. Eu não sei daqui pra frente o que vai vir. De repente vem alguma coisa. Então, isso em mim que me motiva, que me faz hoje, eu particularmente, ser o que eu sou e... Assim, de repente alguém acha que eu não... Tem algum conflito com alguém, mas é aquela coisa que a gente tá tentando melhorar, né? Eu aceito, a gente aceita as críticas, a gente aceita as opiniões. Mas, você tem o seu pensamento próprio, né? Então, eu me orgulho muito da minha formação. Do meu caráter, eu me orgulho muito. Hoje eu me orgulho muito. Eu vejo que... Na faculdade eu consegui enxergar isso também. O meu caráter dentro da faculdade, né? A minha relação, da forma que, eu não gosto, assim, de falar que eu estou fazendo, eu gosto que nós estamos fazendo. Eu sempre gostei de usar essa terminologia, porque você vai falar o eu e... Tava tudo pronto, simplesmente você tomou uma iniciativa e conseguiu, né? Mas, aí são coisas da vida. Então, cada um tem uma facilidade. E as pessoas, os mais sábios da vida fala que quando tem que acontecer, acontece. Então, eu fiquei depois de 15 anos, hoje graças a Deus consegui sair cabo. Consegui reconstituir minha vida novamente. Então, são algumas coisas que a gente tem que tirar o chapéu, né? Porque, eu não atropelei as coisas. Como diz, eu fiquei lá embaixo, a gente, __________ nessa vida minha eu passei fome já, então, são algumas coisas que acontecem. Então, hoje eu tô na faculdade lá e vejo que aprendi muito também lá com o próprio convívio com os colegas, porque tem pessoas lá que estão batalhando pra caramba. Eu vejo uma colega minha, que ela tem duas filhas e tá uma dificuldade do caramba lá e tá lá na faculdade. Tá lá. E vai ser uma excelente professora. Eu tô aprendendo com ela. Tô lá e tô aprendendo com ela. Um colega meu, que já tá com 50 e poucos anos, tá lá na faculdade. Porque que eu vou parar com 30 e pouco? Né? Tá com 50... Tem uma senhora lá com 53, ele com 50. São exemplos. Então, eu aprendi mais ainda, porque eu fui lá e tô aprendendo. E, assim, a vida é uma aprendizagem no dia-a-dia.
P/2 – E os seus sonhos, Ronaldo?
P/1 – Peraí só um pouquinho, antes dos sonhos. Só uma curiosidade. Você falou que você é cabo, né?
R – É, saí cabo hoje.
P/1 – Só me diz, assim, qual que foi... Como é que chama isso? Que você entrou como o que?
R – A promoção?
P/1 – É. Como é que é isso?
R – É assim. Pra mim, já era pra ser promovido há praticamente quatro anos atrás. E o pessoal, "ah você tem que correr atrás".
P/1 – Mas, você tinha entrado como o que? Qual que era?
R – Como soldado. Então, eu entrei como soldado, então, depois de oito anos eu já tava apto a sair cabo. Mas, como os problemas administrativos, vai aqui, vai ali, tem muita... Então, algumas coisas acabaram emperrando a promoção. E tem alguns colegas que falou "Não, você tem que correr atrás, fazer isso, fazer..." Falei: "Não, eu vou esperar". E aí, antes de eu conseguir essa promoção, que apareceu a faculdade na minha vida. Então, hoje, eu com curso superior e com mais agora a minha promoção, eu não atropelei nada. Esperei. Então, não adianta você chegar e...
P/2 – Com o curso superior você é promovido a que?
R – Não, eu não sou. Mas, pelo menos eu já tenho um respeito, assim, em termos de eu ir num encontro num evento, eu tenho um curso superior. Porque, infelizmente, algumas vezes aconteceu, até eu fiquei um pouco chateado, que eu ia e tinha pessoas que, nas palestras que eu ia, tinha pessoas que eram doutores, né? Você vê, alguns eventos que eu fui tinha pessoas que são doutores. Tinha cara defendendo tese de pós-doutorado, tem pessoas que já eram formadas. E eu era, pô, soldado da Polícia Ambiental. O menor da hierarquia. E eu, pra mim, eu falei: "Não, eu vou (comer?) a...____ diz com a minha carcaça lá, com o que tem na minha mente aqui e pronto. E eu, um dia fiquei surpreso numa palestra em Bodoquena também, que eu gosto muito de Bodoquena, que Bodoquena, ela traz um pouquinho a nossa realidade, o povo ali, muito hospitaleiro e devido aos assentamentos que tem ali próximo, o povo também. E eu gosto de trabalhar um pouco, não desmerecendo Miranda, mas eu tenho, assim, mais uma afinidade em termos desse contato, porque eles ouvem mais e dá mais valor ao que você tá falando. Que Miranda é uma cidade orientada já mais pro social. Ela já é um pouco mais capitalista. A sociedade já não liga muito pro que você vai falar, às vezes, o que você tá tentando passar. E em Bodoquena não. Quem tá lá, já ouve. E numa fala, numa palestra minha lá, numa escola lá. E tinha uma menina lá que tava com um projeto lá da Serra da Bodoquena, falou isso, falou um monte de coisa e tal. Preparou, né? Aí chegou na minha fala, eu peguei, pá. Levei um vídeo que nós temos aqui do Delta do Salobra, um excelente vídeo produzido aqui no estado mesmo. Passei ele e comecei a falar do nosso, dos problemas que tem ali no município. Porque, às vezes, a comunidade não fala, mas você falando ali. E aí, o pessoal, puta, me aplaudiu que eu fiquei até com vergonha. Porque não aplaudiram a mulher. Aí eu fiquei com vergonha, pô. A mulher, doutora, tal, Serra da Bodoquena, um parque nacional e tal, uma instituição. E aí eu fiquei, sabe? Eu fiquei com vergonha depois. Mas, isso aí é o que o povo... Às vezes, é o que a pessoa queria ouvir, o que aquela turma queria ouvir, né? Aquele público queria ouvir naquele momento. E provocando, que eu toquei nos problemas do local, que isso aí acho que tem que... Pouquinho em pouquinho. Não se provocar o poder público, mas falar "Ó, vem aqui, faz isso aqui". Aí foi uma...
P/1 – Agora sim, os sonhos.
P/2 – Isso, fala pra mim os sonhos, tudo, perspectivas de futuro.
R – Olha, na minha carreira profissional aqui, na Polícia Militar Ambiental, eu não almejo, assim ser, dentro da hierarquia aqui, ser algo não. Eu já me coloquei, assim, a minha formação profissional agora, ela, a faculdade, tento fazer gestão ambiental. Se eu não conseguir, eu quero fazer geologia ou senão, direito ambiental. Se eu conseguir fazer direito ambiental, eu vou partir pra fazer um concurso pra delegado na área ambiental. E se eu não conseguir isso aí, eu vou botar o que? Se eu não conseguir? Porque eu sei que (restando?) (estudando?) geologia, permaneço aqui em Miranda ainda, né? Dependendo da política também aqui de dar atenção nas suas atividades. E construir aqui um... Não digo pra você um centro específico pra atender na área de educação ambiental, mas sim, um local apropriado que você vai ter, você tem condições de chegar lá, ter como dar uma aula pra uma criança carente. Entendeu? Porque o sonho meu é trabalhar com as crianças carentes. Coisa que eu não consegui colocar aqui, o projeto Florestinha em Miranda. Não consegui, por causa das políticas públicas, não consegui. Mas, se não der certo eu vou tentar fazer isso, (juntar?) _________ a faculdade, que tem a Associação dos Acadêmicos, um espaço e pegar os filhos dos ribeirinhos aqui, entendeu? Pouquinho em pouquinho. E juntamente com os acadêmicos, trabalhar a educação ambiental e também um reforço escolar, tá? Com essas crianças, nesse _____. Esse é meu sonho, entendeu? A gente fala: "Pô,vai pra..." Não, mas esse é o meu sonho que eu... Isso eu falei até com minha namorada. Tá, de repente a gente, casa, não caso, mas, falei: "Esse é o meu sonho". Eu não quero deixar, eu não quero passar por cima das coisas, mas esse é o meu sonho. Você tem que sonhar. E eu tô sonhando isso, né? Trabalhar, que é quando eu chegar com que... Falar "Não, consegui trabalhar com, pelo menos com uma turma de crianças", né? E ali sai um, dois, ali, que espalhou essa semente aí, pra mim eu vou falar "No dia que eu morrer, eu morro tranqüilo". Aí já... Essa é minha...
P/1 – Ronaldo, bom, esse trabalho que nós estamos fazendo faz parte desse projeto, então, de comemoração dos 200 anos do Banco do Brasil. Eu sei que sua relação com o Banco do Brasil é que você é cliente, né?
R – Isso.
P/1 – É isso, né?
R – Isso.
P/1 – E, assim, pra você, assim, digamos, o que é que é o Banco do Brasil aqui na região? Como é que você vê a importância aqui na região?
R – Olha, eu vou falar até por período. Porque, na época dos meus avós, meu avô Joaquim veio pra cá, nós tínhamos um vínculo direto com o Banco do Brasil. Que o Banco do Brasil naquela época foi o que financiava as lavouras. E a lavoura de café na época, meu vô, ele era vinculado, porque ele é produtor. O Banco do Brasil na época dava valor nos produtores, tá? Eu falo naquela época, porque naquela época realmente, se você, produtor, você não precisava chegar com a caminhonete, você chegando com a carroça lá, você saía com seu dinheiro pra você poder plantar a sua... Então, era aquele negócio, o banco confiava em você, naquela época. E meu avô, infelizmente, ele plantou, naquela época, e na (próxima?) queria dobrar a venda, ele ia dobrar a produção. Mas, veio aquela famosa geada preta que deu aqui na região, não sei se deu nos _______, mas deu aqui, que matou toda produção de café dele. Aí foi pra estaca zero. Aí, o banco ainda ajudou ele, mas, só que não conseguiu mais levantar, ficou sempre naquela... Aí começou a plantar algodão, pra ajudar e deixou o café de lado. Aí já foi pro feijão. Mas, só que o Banco do Brasil deu suporte a ele naquela época. Então, eu vejo o Banco do Brasil naquela época lá como um, em termos de... Em 1976, eu era criança aí, em 1970, 1980... Então, ajudou muito. Então, eu vejo, naquela época foi o pioneiro. E naquela época ele... Hoje, alguns que tiveram sorte estão bem hoje. Viraram pecuarista... Hoje são... Um latifúndio, na verdade. Graças ao Banco do Brasil na época. Você tinha esse... E aí naquela época, a minha relação, eu não tinha nada, mas aí quando... A relação que eu tive depois com ele ali foi a questão da... E o meu vínculo com ele... Eu tinha, assim, até, quando eu vendia salgado lá, vendo as pessoas trabalhando lá, né? "Pô, queria ser um dia um office-boy aqui, do Banco do Brasil". Que um colega meu que estudava comigo, ele trabalhava no Banco do Brasil. Na parte, no período, né? Que um período ele tinha que estudar e trabalhava lá. E via, pô, todo... Essa é uma profissão de futuro, porque na época, o Banco do Brasil era um dos melhores salários que tinha, na região nossa. Que era, "Pô, o senhor trabalha no Banco do Brasil?". Era mesma coisa que professor, na época, aqui. "Pô, sou um professor", falava. Então, era uma... E sempre teve. E aí, agora, depois que eu entrei pro estado, que meu vínculo ficou assim, mais vínculo de... Prestação de serviço mesmo. Eu não tive mais vínculo, assim, mas, pra mim, é uma agência que me atendeu sempre nas minhas necessidades, né? Eu não posso... Eu tô falando assim não porque vocês estão aqui, mas tem que falar o que realmente a agência foi pra você, né? E até uma época eu tive um problema, mas eu cheguei a conversar com o rapaz, um problema de notas lá no banco. Até achei que ia ter um conflito com o Banco do Brasil. Aí eu não tive conflito, o próprio rapaz que trabalhava lá que... Pelo meu conhecimento na época que eu vendia salgado lá, ele confiou em mim. Então, eu voltei e eu falei: "Pô, não é fácil você chegar lá na..." Você sacar o dinheiro e depois você depositar lá e o cara falar que a nota é falsa e acreditar em você. É difícil um caixa do banco... Então, ele confiou em mim. Eu falei: "Não, seu Geraldo, é assim, assim, assado, tá? Eu não quis..." Falou: "Tá bom". Pegou que tinha voltado um cheque meu, eu fiquei até puto que voltou um cheque. Aí eu fiquei preocupado e aí, ele fez tudo pra mim. Eu não tive nenhum desespero, nenhuma dor de cabeça, já tava pensando em entrar com... Falou: "Não, Ronaldo. Isso aqui, tal, tal". Em 24 horas eu consegui. Então, eu vejo, assim, pô, eu acho que essa questão de você querer levar conflito, às vezes, pra _____. Então, principalmente na agência mesmo, que a gente sabe hoje que a gente tem vários conflitos, né? E agora recentemente (botou?) também, aí eu volto àquela época do passado lá, do passado que eu falo, do período do ciclo do café, um gerente que chegou recentemente, mas, ele não tá mais, já foi, né? Ele voltou com aquela mesma política da época de ajudar realmente, os produtores. Aquela pessoa que vai pegar e produzir. Então, o que eu achei interessante no banco agora, nesse período de agora é que realmente ele tá querendo valorizar realmente o produtor novamente. Trazer o produtor como um melhor cliente dele. E não trazer aquelas pessoas que, às vezes, nem vai produzir, né? Então... Que a gente tem um vínculo de produção, a gente tá, meu pai... Mesmo lá na minha casa lá ele tem, ele produz praticamente quase que todos os hortifrútis, ele produz. Meu pai produz o esterco natural. Coisa que nem eu sabia, aprendi com ele. Eu aqui na Ambiental não sei, aprendi com ele lá. Tomate, berinjela, tudo ele produz numa área de 25 por 30. Fora a casa, né? A área total é 25 por 30, tem a casa. Ele produz lá. Coisa que a gente tá ali e são coisas que a gente valoriza também, né? A produção, ali, local, né?
P/1 – Ronaldo, que é que você acha dessa iniciativa, assim, de comemorar os 200 anos a partir da história de vida das pessoas, de cada região, de cada bioma, no caso, né? Que a gente tá trabalhando.
R – Eu vejo que a iniciativa foi até dizer assim, excepcional. Não falo boa, falo excepcional porque, eu não sei o que vai acontecer no futuro. Tô falando hoje. Porque você vê várias ações aí que morrem. E o banco, com essa ação, ele veio, assim, no local, entendeu? Ele veio no local. Ele não foi lá na ___ "Vamos na capital". Ele não. Ele veio no local. Então, nunca alguém, pô, chegou a entrevistar o Ronaldo lá, que... Ou vou entrevistar seu Geraldo da vida lá, vou entrevistar dona Maria da vida lá, _______. Que importa, às vezes, "Não, eu quero é o dinheiro dele. Eu quero a conta dele, o movimento dele", né? Mas, essa ação aí, eu vejo assim. Eu acredito muito, porque, eu sempre acreditei nas coisas, né? Por mais que a gente leve um tombo lá na frente, mas sempre tem que tá acreditando nas coisas. E nessa iniciativa eu acreditei muito, por que? Porque mexeu com o local. Entendeu? Mexeu com o local. Então, na faculdade a gente aprende muito essa questão hoje do local, né? Quando eu falei pra você que eu tava querendo tentar, a gente tá tentando aqui trazer juntamente os ribeirinhos, porque a gente quer ver ali o local. Não precisa tirar ele dali pra mandar ele pra outro lugar. Não. Local. Vê se pode melhorar o local. E aí você, de repente, pô, com a história aqui, vai lá na Amazônia. Porque nunca tinha ido pra região Norte. Em 2005, quando eu entrei na faculdade eu tive a oportunidade de ir e eu vi coisas que eu jamais, né? Uma viagem minha que ficou na história. Então, conheci outra região que também me apaixonei lá. Porque você vê coisa ali que não é normal aqui. Se é uma mata daquela lá, você vê alguns tipos de peixe que não é acostumado a ver aqui também, de outra bacia. Enfim, essa troca de informações aí. Eu acho que partindo disso aí, de repente, pode ser que seja uma cadeia de informações, né? Porque aqui a gente tem como exemplo, que eu participei de vários cursos também aqui, que eu falo pra você porque a gente, às vezes, a gente fica assim, vendo iniciativa e, às vezes, as iniciativas de algumas ONGs [Organização Não-governamental] aí da vida, tem que falar isso pra você porque a gente tá, né? Veio, mas só fez o auê e não fez nada. Então, acho assim, da forma que vocês começaram, eu acho, assim, começaram a ver lá e ver se isso é interessante, se lá na (frente?) _______. Eu acho sim, que vai ser interessante, porque você jamais vai chegar lá na beira de uma BR e pegar uma senhora aquela, né? E ouvir um pouco da história dela, né? Então, eu acho, assim... A ligação, quando eu atendi também, eu tenho que botar que estão em ligação. Pô, por que eu que atendi o telefone? Né? Porque fui eu, porque... Por que eu que atendi o telefone? Porque eu fico preocupado, hoje eu tenho a pre... Assim, sempre fiquei preocupado. Essa preocupação de quem tá do outro lado também. Então, acaba, assim, você tendo aquela, pô, fala, mas, você pode ajudar, mas de que forma eu posso fazer isso. Tanto é que o que eu pude fazer eu fiz. Às vezes a gente tem uns afazeres, mas você pode falar "Não, eu posso. Eu vou lá, não custa nada". Você não sabe o que lá atrás tá precisando, de repente é uma coisa urgente, é uma coisa que é de fundamental Importância pra pessoa lá. Às vezes, você não dá valor aqui. Mas, às vezes, o cara fala: "Ah, mas você não sabe o que é que vai acontecer, Ronaldo". Não é isso que você não sabe, você tem que, às vezes, né? Que muitas coisas já aconteceu aqui, eu sei que a gente, nessa conversa aqui a gente sabe que às vezes as pessoas não dão atenção pra gente. Se ________ que no dia que eu ligar pra lá, de repente, pra algum local, de repente, pelo que eu, assim, a gente gostaria de ser bem atendido, né? Pelo menos dar atenção. "Ah, eu tô assim, com a situação tal e tal. Será que tem?" Eu acho que isso que eu tô fazendo, eu acho eu deveria sim, se eu não receber também, eu não vou ficar preocupado, mas eu fiz a minha parte, né? Então, essa... E o banco, eu acho que... Na verdade, esse projeto, o projeto em si, né? Eu tô, assim, super... Me motivou mais ainda. Entendeu? Motivou mais ainda porque, por fazer parte também. De vocês virem e ouvir um pouco do que eu tenho que falar aqui, um pouco da minha história e também do local, de onde estou aqui, E de repente a gente se encontra nas andanças da vida, de repente. Daqui a três, quatro, cinco anos. Tenho projeto pra tá aqui, mas de repente não sabe se a gente tá.
P/1 – Como é que você se sentiu dando depoimento? Compartilhando um pouco da sua história com a gente aqui?
R – Até digo, assim, que eu nunca tive isso. Primeira vez que eu sou ouvido, do meu trabalho, minha dedicação. De tudo que eu fiz por fazer mesmo. Que eu vejo que o mundo, ele tem sentido e as outras pessoas não acredita, né? Na mudança, né? E eu acredito muito na mudança. Eu, porra, posso fazer? Posso. Eu não quero ficar de braços cruzados ouvindo os problemas e ficar lamentando. Enquanto eu estiver vivo, se eu tiver força e vontade, eu ___ sempre estarei. É então, a primeira vez na minha vida que acontece isso. Né que porque aparece no Banco do Brasil, porque senão acho que se uma conversa aberta da história da gente, eu falo a gente porque tem pessoas por trás de mim, como eu relatei. E que no futuro, quem sabe, tá registrado lá, conforme meu colega, quando nós criamos a associação, "Você vai ficar na história, cara. Tá seu nome lá" "Você não sabe..." "Sabe. O que vai acontecer na associação daqui a dez, 20 anos, nós demos o pontapé inicial" Aí os caras falou: "Pô, você quer criar a associação pra roubar, cara?" Pô, isso corta o coração porque ele pensa só nisso, pensa no capital, pensa naquelas coisas. Não pensa na produção. O quê que aquilo vai valorizar o município, o que vai valorizar o ensino no município, o que vai instigar aquelas crianças que não tem condições de estudar. Né? Alguma coisa vai mudar. Então, algumas vezes você leva uns tapas na cara que dá vontade você chutar o balde, mas... Eu tive esse problema recentemente, aí. Quase eu chutei o balde, largar tudo, mas... Por causa de uma pessoa que veio falar uma coisa pra mim que, pô. "Eu tenho 15 anos de Ambiental", falei pra ela, "Não tenho um dia, nem dois dias. Eu amo o que eu faço", falei pra ela. "Não vem você querer falar as coisas pra mim sendo que... Pô, respeita pelo menos o que eu tô fazendo." Aí, então, a gente às vezes tem que falar, eu falei. Eu falo o que eu sinto. Entendeu? Eu falo porque você tem que falar, porque é o que você tá sentindo, pô. Eu não posso porque de repente você tá na minha frente, o problema foi com você, eu não vou falar? Se eu errei eu peço desculpa. Eu errei, pronto, desculpa. Foi um momento ali, então, essas coisas assim, a gente vai... Aqui a gente vai aprendendo, né? Igual ______________, vivendo e aprendendo. Já conhece as pessoas. Porque aqui também a gente... Porque eu tô num local que questão a militar, ela é muito focada. Então, você... Até essa fala minha, que foi (eu?) (capitão?), não é mais o particular meu (captando?). Independe que eu tô fardado, mas é o particular meu, entendeu? Que o militarismo, ele fecha você muito. Ele já tem uma visão diferenciada. Eu não sou, eu não gosto de ficar muito fechado nessa questão. Eu sou, pô, só o (cotidiano?). Não, você tem que, né? Claro, tem que mudar. Você tem que bater, tem que mudar, não pode ficar só naquilo, naquilo, naquilo. Pô, você tá ali, você tem que fazer algo, você tem que produzir algo. Você tem que produzir algo. Pô, você tá aqui, vai passar, tudo bem você é passageiro, mas você tem que fazer algo. E eu, graças a Deus, se eu fiz. A gente fala assim, a gente faz. Se no futuro parecer alguma coisa, Deus te abençoou, Deus te deu oportunidade, também te deu saúde pra você poder também tá. A gente tá seguindo o caminho. Por mais que tenha, assim, os problemas do transcorrer da vida da gente, né? Eu falo que eu tive muitos problemas na minha vida, desde a infância, problemas conjugais, mas a gente tá ali. A gente tem que levar tudo numa conjuntura, né?
P/1 – Ronaldo, é isso. Nossa equipe aqui, do Museu da Pessoa, como eu te falei, que nós somos, né? E do projeto mesmo do Banco do Brasil, a gente agradece muito seu depoimento. Sua contribuição.
R – Um desabafo, né?
P/1 – Que é isso, você contribuiu muito.
P/2 – Obrigada, Ronaldo.
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