Nessa época de angústia, muitos medos me tomam ao imaginar qualquer futuro. Medos pessoais, de não ir a lugar algum profissionalmente; medo de desapaixonar do casamento; medo de meu filho virar uma criança chata; medo de me tornar uma mulher amarga, de perder pessoas queridas, de continuar cheia de saudades e de tristezas mesmo após a vacina chegar...mas medos pessoais não têm nem espaço na atual conjuntura de horror. O medo coletivo os engole. O maior medo, o que me apavora, é que o presente perdure no tempo. Medo que o ódio, a violência, a intolerância, o fanatismo, a ignorância, meu deus, quanta ignorância, permaneçam. Medo que permaneçam no poder os defensores de tudo de mais podre da nossa sociedade. Medo dessa elite estúpida e grotesca, que condena uma menina estuprada por interromper a gravidez ao mesmo tempo que grita, espumando de ódio, que bandido bom é bandido morto. Medo das armas de fogo. Medo dos cidadão de bem. Medo dos vizinhos brancos e ricos do condomínio de luxo. Medo da polícia genocida e racista. Medo que o conhecimento humano, nossa impressionante e potente capacidade criativa e inventiva, continue a serviço da guerra e da publicidade, formando idiotas submissos para sempre. Medo que eles consigam destruir de vez a amazônia, os indígenas, os sem terra, as mulheres e tudo. Medo que eles sigam vencendo e espalhando a morte. Medo de nunca mais conseguir olhar para o Brasil com encantamento, como sempre olhei. Até então. O medo maior, já está dado, já é real, já está acontecendo diariamente, massacrando qualquer esperança. Elegeram o Bolsonaro, é isso. Ele homenageou um torturador em frente a uma mulher que foi por ele torturada. E tudo bem para as pessoas. Jamais vou superar essa dor, jamais.