P/1 – Pode ir? Beth, eu vou pedir, começar assim: seu nome completo, o local e a data de nascimento. R – Maria Elizabeth Negrão Silva. Nasci em Taquarituba, Estado de São Paulo. E em 16 do dez de 1950. P/1 – Seus pais são dessa cidade? R – Não. Meu pai é de Presidente Prudente. Minha mãe de Laranjal Paulista. Eles estão mortos também. Minha mãe há 52 anos. E meu pai há 31 anos. P/1 – E por que é que eles foram pra essa região? Por que é que você nasceu lá? R – Meu pai trabalhava na antiga Sorocabana, depois passou pra ser Fepasa. Então ele não gostava do lugar, daquela época do café, e ele é conferente do café naquela época. Então ele não gostava do lugar e transferiu. Pediu transferência e ele ia. Então de Presidente Prudente meu pai foi pra Tietê. De Tietê nós fomos pra Taquarituba, onde eu nasci e mais uma irmã minha, a Neuza. E depois ele foi pra Fartura, onde nasceu mais cinco irmãos. P/1 – ...Fartura onde é que é? R – Estado de São Paulo também, quase divisa com o Paraná. Então dali é que foi a infância nossa e toda essa trajetória... P/1 – … Sempre viajando? R – Sempre. P/1 – E qual foi a cidade em que vocês permaneceram mais? R – Iguape. P/1 – Ah, depois vocês mudaram pra Iguape? Com quantos anos...? R – Cheguei aqui eu tinha 16 anos. P/1 – ...Ah, deixa eu voltar um pouquinho mais: durante a infância, Fartura foi o lugar em que vocês ficaram mais? R – Mais tempo ali. P/1 – Você lembra da sua casa de infância lá em Fartura, como era? R – Lembro, era uma casa, quase uma chácara, que era pra cá tinha flores. Principalmente o Manacá, que minha mãe adorava E do outro lado da casa era a plantação de milho e de café. E na parte debaixo aqueles fornos grandes, que minha mãe fazia pão. Ou tanques grandes, enormes na época. Criação de galinhas, de porcos e de cabritos. P/1...
Continuar leituraP/1 – Pode ir? Beth, eu vou pedir, começar assim: seu nome completo, o local e a data de nascimento. R – Maria Elizabeth Negrão Silva. Nasci em Taquarituba, Estado de São Paulo. E em 16 do dez de 1950. P/1 – Seus pais são dessa cidade? R – Não. Meu pai é de Presidente Prudente. Minha mãe de Laranjal Paulista. Eles estão mortos também. Minha mãe há 52 anos. E meu pai há 31 anos. P/1 – E por que é que eles foram pra essa região? Por que é que você nasceu lá? R – Meu pai trabalhava na antiga Sorocabana, depois passou pra ser Fepasa. Então ele não gostava do lugar, daquela época do café, e ele é conferente do café naquela época. Então ele não gostava do lugar e transferiu. Pediu transferência e ele ia. Então de Presidente Prudente meu pai foi pra Tietê. De Tietê nós fomos pra Taquarituba, onde eu nasci e mais uma irmã minha, a Neuza. E depois ele foi pra Fartura, onde nasceu mais cinco irmãos. P/1 – ...Fartura onde é que é? R – Estado de São Paulo também, quase divisa com o Paraná. Então dali é que foi a infância nossa e toda essa trajetória... P/1 – … Sempre viajando? R – Sempre. P/1 – E qual foi a cidade em que vocês permaneceram mais? R – Iguape. P/1 – Ah, depois vocês mudaram pra Iguape? Com quantos anos...? R – Cheguei aqui eu tinha 16 anos. P/1 – ...Ah, deixa eu voltar um pouquinho mais: durante a infância, Fartura foi o lugar em que vocês ficaram mais? R – Mais tempo ali. P/1 – Você lembra da sua casa de infância lá em Fartura, como era? R – Lembro, era uma casa, quase uma chácara, que era pra cá tinha flores. Principalmente o Manacá, que minha mãe adorava E do outro lado da casa era a plantação de milho e de café. E na parte debaixo aqueles fornos grandes, que minha mãe fazia pão. Ou tanques grandes, enormes na época. Criação de galinhas, de porcos e de cabritos. P/1 – E vocês eram em quantos irmãos? R – Todos os oito. P/1 – E como é que era: cada um tinha o seu quarto? Era dividido ou dormia junto...? R – Eram camas grandes naquela época, e quartos enormes. Então meu irmão que era o mais velho tinha o quarto dele separado. Meus pais ali no quarto separado. E nós as mulheres, meninas naquela época eram todas no mesmo lugar, no mesmo quarto. Cama de casal grandona. Então naquela época tinha que por duas em cada uma. Era assim que se fazia. E meu irmão que era o caçula – minha mãe faleceu ele tinha um ano e dois meses –, que é o mais novo de casa, então ele ficou com essa idade... Então nessa época ele já ficava no berço com o quarto. Como hoje em dia se faz o casal e o berço ali de vizinho... Assim que foi nossa infância da gente ali... P/1 – … E quais eram as brincadeiras, do que vocês brincavam...? R – Nossa, o que mais gostava era o balancó. Lá no pé de Gabiroba, fazia o balanço dali. Subia em árvore, amarelinha, bolinha... É... P/1 – Bolinha de gude? R – Bolinha de gude A gente gostava muito de jogar bola também. A gente fazia aquelas bonecas de pano, meio velhas... E também brincar de carrinhos... Meu pai sempre tinha carrinho pra carregar verdura, ou buscar alguma coisa, ele mesmo fazia com a caixa de madeira, fazia ali, então eu era campeã em querer. Porque eu sempre fui muito fortinha, então pra querer carregar todo mundo. Entrava todo mundo ali, corria com essa ladeira abaixo lá, terra vermelha, que em Fartura é terra vermelha. Então foi uma infância muito feliz Muito mesmo Que foi isso que me deu essa base sólida que a gente tem: de segurança... Mesmo com a perda muito cedo da minha mãe. Que eu tinha... Eu ia pra oito anos de idade... P/1 – ...É mesmo. E do que é que ela morreu? R – De um segundo bebê na... Uma nona criança que morreu na barriga dela, naquela época era difícil, de dificuldade. Fartura era atendida em Piraju. Então o hospital mais próximo seria em Piraju, então nessa época no primeiro sintoma da perda do bebê, a criança já tava morta, e aquela religião de filhas de Maria, Coração de Jesus, meu pai, filho de Maria. Então eram religiões católicas, sempre foi essas restrições em várias coisas. Então dizia: “Eu não vou tirar”. O médico dizia: “Deve estar morta a criança”. “Não. Deus que quer saber”. Daí ela foi pra Botucatu e ela veio a falecer... P/1 – ...Por que daí ficou muito tempo com a criança? R – Ficou. E mesmo lá em Botucatu, época de política, naquela época ano eleitoral. Então meu pai... Os médicos não quiseram atender porque um médico naquela época ele era candidato a prefeito em Botucatu, então quando foi atender a minha mãe na Santa Casa de Misericórdia de Botucatu, chegou e minha mãe tava assim... Falecido. Então a partir daí nós ficamos assim... Meu pai, coitadinho, 36 anos, ela morreu com 36 anos Deixou oito filhos Então desorientado... Foi uma infância depois muito difícil: cada um distribuia a tarefa dentro de casa, desde lavar roupa até... Tudo fazia... Então foi uma infância nessa época... Eu sei torrar café, moer café... Naquela época o milho era torrado no moinho. O café era torrado também no moinho dentro de casa, aqueles de ferro... P/1 – ...Vocês tiveram que assumir as responsabilidades...? R – Tudo. P/1 – … Você com oito anos já... R – Oito anos. O mais velho tinha 12 anos. Eu sou a quarta de casa. Então 12 anos o mais velho, onze anos o... P/1 – ...E como é que era, o seu pai saía pra trabalhar e vocês ficavam com uma empregada...? R – Depois ele arrumou. Naquela época não se falava essas coisas. Então ele ficava, trabalhava, mas, coitado, vinha... Deixava lá o escritório da Fepasa lá em Fartura. Vinha pra fazer o almoço pra gente – depois nós aprendemos a cozinhar. Assim, muito nova Eu colocava até o banquinho do lado do fogão à lenha. Então rachar lenha... Tudo isso. Foi uma vida boa, você levava tudo na brincadeira. Uma base, assim, estrutura física, a gente tinha. Mais a parte alimentar que era muito rica Só a parte de roupa que ou comprava comida ou gastava-se em roupa. Então quando ele ia no armazém – naquela época era no armazém - “Olha, eu quero esse tecido aqui”. Então todo mundo tinha a mesma roupa igual. Então era tudo a mesma roupa: desde a camisa do meu pai até meu último irmão. Mas é uma infância com dificuldade, mas ao mesmo tempo a gente não levava muito, assim, pro lado de... De desespero, revolta: “Ai, eu queria uma roupa”, não tinha essas coisas. Natal você deixava o sapato do lado, os sapatinhos do lado, amanhecia vazio. Porque coitado do meu pai ou ele comprava uma ceia, pra oferecer uma ceia muito boa pra gente, ou gastava-se em brinquedo. Então você ganhava a boneca grudada, os braços tudo assim. Então foi... Depois ele resolveu casar com uma prima-irmã dele, uma madrasta, que veio a ser a madrasta após dois anos do falecimento da minha mãe no desespero. Um rapaz jovem, com oito filhos E daí que veio o sofrimento, fomos muito maltratados naquela época pela madrasta Então essa parte assim da infância foi uma trajetória muito difícil. E a gente, eu chorava muito, porque minha mãe sempre falava do arco-íris. “Quando o arco-íris sair eu vou estar lá olhando vocês”. Aí: “Mãe”. Sempre ela falava que ela ia morrer muito cedo, e a gente falava: “Não, a senhora não vai morrer”. P/1 – Ela falava? R – Ela falava. Ela previa a morte dela muito cedo. E realmente aconteceu. Eu não me esqueço um dia, de uma criança, um jovem, era um aluno, um colega da nossa classe e tava no primeiro ano. E ele faleceu, ele era vizinho da gente ali, da parte da vizinhança. Nunca me esqueço, eu tava sentada com meu irmão mais novo, que tinha um aninho, amamentando, do lado do fogão à lenha, e nós tínhamos ido no enterro do menininho, daí embalando meu irmãozinho, assim, ela falou: “Logo, logo é o meu”. Então... E não demorou E não demorou. E não demorou e ela veio a falecer. Então: “Quando sair o arco-íris, vocês vão ver quando sair o arco-íris, é porque eu tô visitando vocês”. Então a falta foi muito grande. Nessa época passava um avião eu falava: “Traz a minha mãe de volta”. Porque você querendo um colo... P/1 – A madrasta não tratava vocês bem? R – Não. Fomos muito mal tratados... P/1 – ...E seu pai não via isso? R – ...Não, e ela prometia: “Se ele chegar e vocês contarem que eu bati em vocês, que eu fiz vocês comerem comida azeda – que o que sobrava de comida, ela lavava e era obrigado a fazer – então vocês vão apanhar dobrado”. Eu tenho uma irmã, a Maria do Carmo, uma vez até fiquei... Ela, eu falei: “Olha, a Carmem tá reclamando que o bolinho tá azedo”. Ela deu uma surra na minha irmã Não é do seu tempo o cabo de ferro, o fio de ferro que ligava aquele... Aquele ferro elétrico, que ligava na tomada, você tirava, você não conheceu? P/1 – Acho que eu lembro. Tinha na casa da minha mãe. R – Então, aquilo depois de usado, fazia com o ferro a brasa, a gente passava a roupa com ferro à brasa. Sei que ela deu uma surra na minha irmã e marcou, ela tem marcado tudo isso aqui as pernas da minha irmã. E daí sim que meu pai... P/1 – E seu pai não viu isso? R – Meu pai... Ele tinha pedido... Ele tinha sido transferido perto de Botucatu, em Santa Bárbara do Oeste. Daí que meu pai viu. Minha irmã mais velha que morava na casa da mãe da madrasta, daí que conseguiu dele enxergar as coisas, ver o tanto que a gente era mal tratado por ela, aí que veio tudo à tona da coisa, aí então meu pai revoltou-se muito com ela. Na verdade eles eram primos-irmãos, então eles nunca se deram bem... P/1 – … Quanto tempo eles ficaram casados? R – Eles ficaram dois anos e meio... Separaram. Aí nós viemos embora pra Paranaguá, aqui no Paraná, foi um bom... P/1 – Aí já melhorou outra vez? Sem ela...? R – Melhorou. Melhorou. Aí meu pai teve confiança de saber que daqui pra frente ele tinha que confiar nos filhos e não na... O desespero do meu pai foi de dois anos e pouco da morte da minha mãe é que ele se viu com oito filhos pra criar então. Mas depois ele reconheceu, ele pediu perdão pra gente... Aí de Paranaguá que a lancha da Sorocabana, a Paulistana fazia esse percurso e existia esse comércio das lanchas aqui da Sorocabana até Paranaguá. Eram portos simples, de portinha assim, não eram portos de navios. E chegou lá, os próprios funcionários daqui da antiga Sorocabana: “Ô, seu Negrão, vamos lá pra Iguape A cidade é pequena, mas é boa pro senhor terminar de criar suas filhas, seus filhos...”. E aí nós viemos aqui e aqui foi a trajetória de vida nossa aqui... P/1 – ...Que é que foi, quando você chegou aqui, qual foi a sua primeira impressão...? O que é que você lembra que você olhou e falou assim: “Nossa”...? R – Não sei, assim, foi uma esperança de uma cidade menor, meu pai sairia muito mais com a gente, mais pertinho da gente... É... Se pensava assim mesmo em terminar os estudos. Então foi um pensamento assim de uma vida nova, um lugar que no fundo tinha esperança de que seria tudo diferente. E como foi. P/1 – E quando vocês chegaram vocês foram morar onde? R – Uma casa aqui na Rua Cândido Durval Trigo, que hoje já é um depósito de materiais de construção, foi demolida a casa na época ali. Mas antes, o primeiro, quando nós não tínhamos essa casa ainda, moramos na casa de uma senhora na beira do lago, é João Xavier e Dona Diva, que nos acolheram. Que ele era o mestre, o mestre dele, da Paulistana na barca, ele que era o mestre, ele era funcionário da Sorocabana. Eles é que nos acolheram. Ficamos acho que por mais ou menos... Quase um ano ali. Então eles dividiram os fundos da casa ali e a gente participava dali, ajudava a fazer todo o serviço da casa... P/1 – … Vocês oito? R – Nós oito. E daí então que meu pai alugou essa casa, aí começamos essa trajetória... Terminamos nossos estudos. Estudei no Veiga Junior. Depois fui pro Jeremias, onde me formei professora – naquela época professora primária. Que a gente fazia o Normal. Que é completamente diferente de hoje em dia... P/1 – ...Então, Beth, você passou a sua juventude por aqui. Você chegou com 16 anos... Como é que era a juventude por aqui, como é que vocês se divertiam...? R – Era assim: naquela juventude ou sua irmã mais velha te acompanhava ou seu pai dava aquele horário: “Dez horas é o máximo pra estar dentro de casa”. Então nós vínhamos aqui, passeávamos aqui na praça, aquela época do... Em volta da praça, tudo aquilo ali Tinha aqueles bailes em um clube que chamava Primavera, tinha o 55... A gente frequentava mais aqui o Clube do Primavera, que era um clube muito bom Só que meu pai ali, sempre acompanhando, ou meu irmão. P/1 – E como é que eram os bailes no... Como chama? R – Esporte Clube Primavera. Aqui pertinho. P/1 – E vocês iam nos bailes? E como era os bailes? R – Nós íamos. E era difícil, porque a gente quase não tinha roupa, então tinha que estar reformando a roupa da gente e virando do avesso Nossa, pintava sapato pra poder estar frequentando Que a gente queria frequentar. Mas era muito bom Não existia tanta maldade como tem hoje. Uns bailes diferentes... Era pra você se divertir mesmo, não tinha outra coisa além de divertimento mesmo. Mas você dançava um pouco... Tinha os rapazes que também admiravam a gente também... Mas nunca nada de... Sempre aquele baile de segurando pra lá... Nunca de agarra-agarra... Completamente diferente de hoje em dia. P/1 – Aí você foi fazer magistério...? Mas você não trabalhava ainda assim? Quer dizer, só na casa...? R – Só em casa que sempre trabalhou. P/1 – ...E aí, quando foi seu primeiro emprego? R – Mesmo? De após eu me formar comecei a trabalhar depois de uns três, quatro meses. E aí deixei de trbaalhar com o meu atual marido. Após o... P/1 – ...Você conheceu o seu marido aqui? R – ...Conheci... P/1 – Quando que você conheceu? Quantos anos você tinha? R – Não sei se eu volto ao passado ou se eu encerro essa parte aí ou não... Antes dele eu fui noiva e por uma infelicidade do meu destino, ou o destino já é traçado da gente aí... Ele era um professor e veio a falecer num acidente. Ele e mais um que era o noivo da minha irmã. E eu já conhecia esse meu marido, Jessé, através dele, naquela época, que eles eram amigos. Muito amigos mesmo Então essa trajetória vivida minha deu-se e eu comecei a entregar compra do armazém do meu marido, que ele não tinha como sair pra estar entregando e eu saia pra ajuda-lo. P/1 – ...Mas vocês já namoravam? R – Não, era só mesmo fazer... P/1 – ...Era um bico? R – ...Não, só mesmo pra ajuda-lo. Que eu comecei em zona rural, entregar compra, daí voltava... P/1 – Mas ele te pagava? R – Não, era mais uma amizade, eu fazia com gosto, porque eu não tinha nem carta, dirigia sem carta, e era um gosto pra dirigir no carro. Então foi... Daí com a convivência, após isso que... Eu tinha perdido o noivo já no acidente. Então começamos a... Daí em diante... Igual nós estamos hoje em dia... Só que trabalhamos muito até construir o que temos hoje em dia. Daí um dia eu falei: “Olha, agora você tá melhor de vida, já conseguiu reconstruir tudo o que você perdeu”. P/1 – Por quê? Ele tinha perdido? R – É, uma sociedade que ele fez aí com umas pessoas aí... P/1 – ...Como foi, vamos voltar atrás... Aí você começou a ajudar ele no comércio, comércio de que? R – … Secos e molhados. P/1 – Como que é o nome? R – Antes era Joaquim Português – que era o mais conhecido. P/1 – ...Aqui na cidade? Era o maior da cidade? R – É. Eram dois: o Nakamuro – que até hoje tá aí – e o Joaquim Português que era naquela época. Era centrado naquelas vendas antigas, onde você pode encontrar de tudo, você pode pedir o que você quisesse e tinha. Desde foice, machado, cabo de remo, de machado, de enxada... Tudo, tudo, tudo Sabonete, pentinho, escovinha, tudo Tudo o que você possa imaginar Mesmo arroz e feijão, milho... Então era... Que hoje parece que ainda tem uma bem antiga, viu? Acho que é no Porto do Ribeiro... Mas foi assim esse início... P/1 – ...Aí vocês casaram...? R – Depois de ter levantado, construir tudo o que nós temos hoje em dia ali... P/1 – Mas aí vocês... Ele teve esse golpe, esse problema que você tava falando, vocês já estavam casados? R – Não, solteiros. P/1 – Foi um sócio que roubou, foi o que? R – Ai, eu não gostaria nem de tocar nesse assunto, tá? P/1 – Tá... R – Eu só vou falar a compra de uma serra, que antigamente era caixeta. Que tava em elevação a coisa aqui no município, então a caixeta ia pra todos os lugares por aí, fora, aquela época do tamanco... Então vinha muito daqui de Iguape as caixetas. E nessa época tinha umas pessoas na sociedade que precisavam de uma serra, e eles não tinham esse dinheiro pra comprar essa serra naquela época, e ele emprestou e nunca mais devolveram e foi... E colocaram ele também como ócio, só que o sócio limpou o armazém dele inteirinho. Porque a fábrica, essa da caixeta, eles não pagavam mais funcionário nenhum, então saiu tudo do comércio dele. E mesmo essa época,e u era noiva ainda. Depois do falecimento desse meu noivo, daí eu vim, conciliei que saísse... Não tinha como sair, porque já tava quase falido. Aí comecei a ajuda-lo. Aí fazia mais de dois, ia pra quase três anos da morte do meu noivo, e comecei a ajuda-lo ali na entrega de compras... Aí foi indo, aí me formei depois de três meses de aula, aí voltei, larguei tudo e me enfiei de cabeça ali pra ajuda-lo ali. Aí trabalhamos seis anos, e nós levantamos ali o comércio embaixo e a casa em cima, como nós temos hoje em dia. Mesmo assim eu tinha consciência assim: “Pode até ser uma ajuda assim que...” – as pessoas aqui falavam: “É pelo interesse”. Mas que interesse? Se eu batalhei, a gente batalhou junto pra construir tudo aquilo ali Então falei, um dia cheguei e falei assim: “Agora, se tá bem assim, se quiser, não tem compromisso nenhum comigo, pode resolver a sua vida, se quiser...”. “Imagina, eu amo você...”, toda aquela história. E aí viemos a casar, mas depois de seis, sete anos, de estar tudo pronto lá. Aí tenho duas filhas: uma é a Tássia, a outra é a Thaís. A Thaís é casada e me deu uma netinha muito linda, que tá com quatro aninhos, que é a Alice, meu genro maravilhoso Então essa vida minha foi sempre assim: batalhando Depois de um certo tempo aí a gente viu que não tinha mais por onde correr, de uma forma assim de eu querer mudar... Mais de 30 anos no comércio trabalhando com ele, eu queria mudar algumas coisas, eu queria ver Iguape de uma forma de o povo estar sendo melhor ajudado, então aí comecei essa minha vida de política. P/1 – Como é que você começou a se interessar por política? R – Na verdade eu tinha até esse trauma, antes da minha mãe falecer que o médico não quis atende-la. Mas um cunhado aí convidou pra ser candidata a vereadora na época. P/1 – Aqui em Iguape? Mas por que, você já era uma pessoa conhecida? R – É, por causa do comércio. Tinha muita... Eu andava toda a zona rural, eu que fazia entrga. Então tinha muito conhecimento. Tanto é que ele me convidou, porque minhas irmãs nenhuma queria, eles queriam ir pra se candidatar a ser vereadora. Aí como a irmã dele, uma que faleceu, também foi, aí falei: “Bom, se você for, eu vou”. Aí foi um transtorno muito grande na minha casa, meu marido não queria, chegamos quase a nos separar mesmo... P/1 – ...Quando você se candidatou a primeira vez...? R – É, pela primeira vez. Daí, primeiro mandato, não fiz campanha com dinheiro, nada, nada Os dois mandatos de vereadora que eu tive. Não gastei um tostão na campanha. P/1 – Só no boca-a-boca? R – Só de conhecer... Tanto é que quando eu fui pra ser vice-prefeita eles iam no comércio: “Vamos lá, pra você ser vereadora, se não você vai pra prefeita”. Eu dizia: “Não, prefeita é demais, é um passo muito largo, eu não tô preparada ainda”. Aí foi, dois mandatos de vereadora ainda. Graças a Deus deu pra fazer muita coisa que eu queria fazer. O que me interessa mais é a parte social. Depois fui também Presidente da Câmara e depois vice-prefeita, agora prefeita do município. P/1 – …Vamos voltar um pouquinho atrás: você nunca foi de nenhuma associação, quando você entrou aqui você foi direto ser candidata à vereadora, ou você participou de alguma outra entidade, ou de alguma associação mais organizada que fosse um espaço político...? R – Não, nunca, nunca, nunca Nunca tinha havido nada de... P/1 – E aí você resolveu sair você foi procurar um partido, como é que foi...? R – Na época o próprio cunhado. Depois que eu entrei – meu Deus, nem me lembro o partido... Como era o partido lá...? Sei que tiveram várias mudanças de partido... P/1 – Você foi vereadora com quantos anos, no primeiro mandato? R – Foi... Nossa, agora você me pegou. Só vendo pra trás... Faz... Dois mandatos de vereadora, são oito anos; mais três anos e pouco de vice-prefeita; tô mais três anos também... P/1 – 15... R – 15 menos 60... P/1 – 45. R – Por aí... P/1 – Aí depois seu marido foi se acostumando? R – Acostumou. Foi acostumando... E, só que em casa eu sou muito cobrada. A população cobra demais em cima dele e ele vem pra mim. Mas ele acostumou agora também. Pelo contrário, agora ele acha que eu tenho que estar continuando, mas eu não sei, daqui pra frente só Deus sabe... P/1 – ...Mas aí depois de dois mandatos, como é que foi o convite, você resolveu sair candidata à prefeita...? R – ...Não, o meu cunhado na época, em 2005, ele não quis, só que eu falei: “Olha, eu não tenho mais... Eu tenho uma trajetória política aqui dentro do município, já tenho um nome aqui, deixa eu...”. Ele: “Não, não, eu quero ir... Eu quero ir pra mais um mandato...” - porque ele já tinha sido em 89 prefeito. “Não, porque eu que quero ser candidato...”. Só que depois em 2007 é que houve a cassação dele, e que eu assumi como vice-prefeita. P/1 – O seu cunhado foi cassado? R – Foi, em 2007, no final... P/1 – ...É mesmo? Por quê? R – É... Por problemas bem antigos: é que um jornal na época eles acharam que foi... Parece que colocaram a foto dele, o nome dele, auto-promoção. Mas não teve nada, outra coisa que tivesse onerado ao município, foi mais esse jornal que prejudicou ele... P/1 – E aí você ele era o prefeito e você era a vice dele, você já queria sair, mas ele que saiu e foi cassado... R – Foi uma briga, porque eu não queria ser vice-prefeita. P/1 – ...Daí você acabou assumindo... R – Daí eu assumi, porque eu falei: “Já que eu não vou como prefeita, então quero mais um mandato de vereadora”. Aí ele: “Não, eu quero que você seja a minha vice”. Não sei se ele tinha essa sisma que se ele tivesse esse problema eu assumiria. Porque eu também não sabia desse processo, porque ele falou: “Não, eu não tenho processo nenhum mais”. Então... E hoje eu trouxe um transtorno muito grande, a família hoje em dia acha que eu que quis que saísse, que esse processo eu que tinha... P/1 – … A família dele acha isso? R – A minha P/1 – A sua própria? Do seu marido...? R – … Não, meu marido não, hoje em dia eu chamo de parentes. Minhas irmandades. Agora eu tenho duas irmãs e uns cunhados que me apóiam e entenderam que eu não tenho nada a ver, agora a esposa do ex-prefeito, que é minha irmã e outras irmãs aí se revoltaram, acham que eu que tirei o lugar dele... Não tenho nada a ver, quem sou eu pra mover um processo...? O processo dele é de 1997, não tem nada a ver P/1 – E aí você assumiu e foi ganhando expressão, espaço...? R – Eu assumi no final, no dia 19 de dezembro de 2007. Seria só de encerramento de final de ano, de contas, então... Foi terrível E mesmo assim ficou nesse impasse que ele recorreu e ficou, olha: amanhã volta, quarta-feira ele volta, pra ser o prefeito... Porque ele recorreu da liminar e tudo, mas não tinha mais como recorrer, mas já era decisivo com os desembargadores, porque foi quatro votos a zero, então não tinha mais. Mesmo assim ele persistiu e ficou nesse impasse. Mesmo assim ficava: semana que vem... Porque todas as quarta-feiras é que tem os julgamentos dos desembargadores que julgam. Todas as quarta-feiras até o mês de maio foi: “Não, que eu vou voltar...”. E ficou isso, um clima horroroso, só que 2008... P/1 – ...Você conversava com ele nesse período? R – Não Eles deixaram de falar comigo P/1 – Mas ele foi cassado e deixou de... Cassado não, ele ainda tava afastado... R – Já tinha sido cassado Mas ele persistiu em querer fazer... P/1 – ...E quando ele foi cassado ele foi conversar com você? R – Não, até hoje eles não falam comigo P/1 – ...Mas vem cá: você era a vice dele, ele parou de falar com você? R – Já tinha parado já, porque eu fui uma vice... Eu não consegui, colocava de lado assim e dizia: “Eu não preciso de você, eu só precisei pra ganhar a eleição e acabou”. Desde o início de 2005 que eu percebi já o “chega pra lá”, então, e mesmo assim, continuei a respeita-lo, mas eu fui a vice completamente afastada. Tanto é que quando fui chamada pra assumir na Câmara Municipal, eu tava trabalhando no comércio, porque eu nunca deixei de trabalhar, a vida inteira Eu tava trabalhando no comércio lá e: “Olha, a senhora tem que vir pra assumir”. Mas falei: “Assumir o que?”. “Não, não, o seu cunhado foi cassado e a senhora...”. Falei: “Eu não vou, não vou assumir não, de repente ele...”. “Não, a senhora tem que... Se não a cidade vai ficar à deriva, a senhora pode até ser intimada por outro órgão aí... E você tem que ir pra Câmara e assumir”. Dia 17 foi a cassação e dia 19 eu tive que assumir... P/1 – ...E você o que você falou: “Nossa, agora tenho que tomar conta da cidade”. O que é que você...? R – Nossa, pra mim foi um susto. Porque eu nunca pensava de ter que assumir. Então pra mim foi um susto, apesar de que em 2006 ele também foi afastado com esse mesmo processo. Mas como ele tinha sido, tinha feito uma cirurgia lá e tinha complicado, então ele também afastou pra cirurgia. E em 2006 eu fiquei dois meses. Esses dois meses eu já tinha dado certo na prefeitura. E eu com os diretores, nós formamos uma equipe ali Porque trabalhar no comércio: “Olha, você vai assumir”. Eu fiquei dois meses, ele retornou no mês de maio, que foi até 2007 e depois foi cassado pelo mesmo problema, esse mesmo processo. Mas eu assumi esses dois meses, e esses dois meses já tinham dado certo. Então eu senti que daí já começou a achar alguma coisa, algum ciúme no meio, porque ele esperava: “Não, ela vai ficar e não vai ter competência e eu vou voltar e vai estar uma baderna a prefeitura”. Pelo contrário: foi bem as coisas muito bem feitas ali, organizadas. Agora quando eu fui pra assumir em 2008 e 2007 aí então que... A família eu nunca mais tive contato... P/1 – ...Porque daí passou o período, você ficou como vice, aí vieram as eleições e você se candidatou? R – 2008 eu me candidatei, 2008 pra 2009. P/1 – ...Fala uma coisa: Iguape já tinha tido prefeita mulher?? R – Não. P/1 – Você foi a primeira prefeita? P/1 – Não, eu fui a primeira presidente de câmara mulher e a primeira prefeita mulher. Por isso que eu acho que eu vim marcar mesmo, uma trajetória muito diferente do município. Então pra mim tá sendo muito satisfatória, muito feliz... Se você vê a minha infância lá embaixo e pra ver que eu cheguei aqui prefeita do município. Quase que eu nunca esperava. Então por isso que eu digo: “As coisas não acontecem por acaso”. E eu sempre fui uma pessoa com a base muito firma na religião. Então eu tenho uma fé muito grande Hoje em dia eu tô aqui, ando, graças a Deus, mas passei... Fui operada da coluna, na época ninguém... Médico algum, equipe médica nenhuma, nem Hospital das Clínicas, outros hospitais... Nunca me deram a chance de dizer: “Você vai andar”. A coisa era muito séria na coluna... P/1 – Você teve esse problema...? R – Tive. P/1 – ...De você ter sido a primeira mulher a ocupar esses cargos aqui... Quer dizer: o que é que representava na política aqui, uma política conservadora...? Como é que você foi marcando seu espaço...? R – Acho que mais pela vivência com as pessoas aqui. Eu sempre fui uma pessoa muito dada com as pessoas. Eu não vejo o lado político. As pessoas podem até me ver com um lado político, mas eu não vejo as pessoas assim. Eu sou uma pessoa muito aberta, muito alegre... Então acho que por isso... Existe o ciúme dos homens, dessa tradição que acha que tudo tem que ser homem no município. Mas eu... Tudo isso aí a gente tem que enfrentar Essa divergência das pessoas e da maneira de pensar... Mas eu tive muito apoio... P/1 – ...Você teve, assim: você lembra de alguma cena, algum destrato que você teve pelo fato de você ser mulher? De algum político, de alguém do governo, da câmara...? Algum incidente que tenha te marcado...? R – Eu acho que o pior foi no palanque político em 2008, tem o candidato a prefeito, um homem muito culto – diz que é culto, mas só que pra mim a cultura foi por água abaixo... Subiu no palanque e mandou eu varrer minha casa, pegar a vassoura e varrer minha casa: “Vai pra atrás do fogão cozinhar, vai cuidar do seu comércio”. P/1 – ...Ele falou isso no palanque? Você tava junto no palanque? R – Não, no palanque de oposição. No outro palanque. Então são coisas... Num outro comício: “Olha, vai cuidar das suas varizes, fazer tratamento das varizes. Coitadinha, ela tem medo de viajar de avião. Quando ela viaja de carro a perna dela já fica inchada”. Então foi o que afastou a população... Porque desde... Tenho até... A maioria era até homens que ficaram mais revoltados ainda. Porque quantos homens também tem varizes? Então foi um palanque assim que conseguiu com que... O meu palanque, em todos os meus comícios, enchessem, esvaziou o palanque desse daí e encheu meu palanque por conta de mandar “varrer a casa, pegar a vassoura e varrer a casa, fazer comida, cuidar da sua venda”... Então acho que foi o que mais marcou... Acho que era pra extravasar, ou era o medo de saber que a mulher tava forte nesse momento, tinha a possibilidade muito grande pra ir como prefeita. Porque falava: “Não, você estava no poder como vice, agora quero ver você conseguir chegar prefeita”. Então até nisso, foi dois mil, quase... Foi 1980 votos, aliás, 1800 votos à frente do segundo adversário. Coisa que nunca aconteceu em Iguape Sempre é 600, 500 a diferença. Então foi uma coisa que marcou muito Onde se viu, deu pra notar mesmo...A diferença de dizer: “Não queremos mulher”. Mas foi o contrário, foi o contrário do que pensaram. E eu tô vivendo as dificuldades que eu tô enfrentando também por conta de ex-prefeitos, eu tô tocando... E eu digo: se tivesse esses prefeitos que passaram aí, a situação que nós estamos enfrentando aqui, eles teriam abandonado a prefeitura, não teriam dado conta, nem estariam com a porta aberta da prefeitura, tentando administrar. Então você vê a força do povo, o povo ajuda muito O povo é que dá essa força de vontade de você continuar as coisas P/1 – ...A prefeitura daqui tem dinheiro? Recebe... Quais são as verbas que tem na prefeitura? R – Eu tenho o repasse do FPM, do ICMS... E o que vale é o repasse, que sobrevive o município, porque IPTU 70% não paga, mesmo se incentivando com desconto de final de ano, com sorteios que eu faço... Mesmo assim E quando vai pra dívida ativa (?) aí o povo começa a gritar. Mas esses são os dois repasses que são a sobrevivência do município. Aliás, que de quase todos os municípios menores. Que é o FPM. Que são de recurso estadual e recurso federal, ICMS. P/1 – E quais são assim os atores... Que você deve lidar com várias... Você tem a comunidade dos caiçaras, tem as... São vários os interesses aqui também que você precisa se relacionar e fazer as pessoas conviverem... Quais são? Quem são essas pessoas, quais são as questões principais daqui de Iguape...? R – Assim, em geral: a zona rural reclama... A comunidade da agropecuária, da agricultura: estradas... P/1 – ...Agricultura e pesca? R – Então é tudo diversificado. Mas a gente... A colônia de pesca eu tenho entendimento, assim eu não tenho desentendimento com nenhuma delas. Nós estamos assim cada vez mais aprimorando mais, trazendo todas as comunidades pra conversar, pra gente chegar a um denominador comum: qual é a necessidade maior? Então esse trabalho que eu estou fazendo agora, esse foco maior aí pra que as coisas caminhem diferentemente, porque se eu não tiver a população junto, a gente não vai conseguir fazer nada. Então tem que ter essas diversidades de pensamentos, de atitudes, pessoas... “Você mandou (?) convite porque era do contra...”. Não, pessoa do contra, que critica, eu quero que esteja junto conosco, porque eu acho que fortalece. Que através dali, das opiniões contrárias, a gente pode mudar as coisas Então dessa forma que a gente tem as associações todas com a gente... E a gente traz sempre, faz reuniões... Agora nós estamos encaminhando muito mais ainda uma conversação maior ainda, chegando mais, convidando mais... Pra essa conversa, pra que haja um trabalho eficaz. P/1 – Beth, deixa eu te fazer uma pergunta: qual que é o seu maior sonho hoje? R – São tantos sonhos. Mas o melhor sonho ainda que eu sempre, desde o início, que eu sempre via uma política muito violenta Que eram duas facções naquela época. P/1 – ...Que época que é essa? R – Logo que eu cheguei aqui, logo que eu cheguei aqui e vi a casa de um prefeito sendo apedrejada, tamanco voando na janela... Na Praça São Benedito aqui... Foi quando eu falei: “Meu Deus, em que mundo...” P/1 – ...E quais eram essas facções... Quem que era quem, mais ou menos, conta pra mim? R – Ah, isso aí eu acho que precisava de umas pessoas mais antigas, esse depoimento devia pegar... P/1 – ...Mas eles ficavam brigando, eram duas famílias que brigavam...? R – Meu Deus, eles eram... Se eles pudessem até mudar a rua eles iam... Assim seria feito. Então era mesmo o ódio... E até hoje ainda tem esse ódio no município, aqui nessa pracinha. Então, por isso que eu digo, do que eu vi quando nós chegamos aqui em Iguape, pra ver hoje em dia essa mudança dentro da política... Porque acho que Iguape deu um passo muito grande, mas só que ainda é o meu sonho ainda é que tivesse mais amor nessa cidade, que é uma cidade tão rica, é uma cidade tão maravilhosa, é uma cidade tão importante, você vê: onde que foi trazido e achado, do Bom Jesus... Que tantas cidades que não poderia ter ido pra outra cidade... Mas se ele está aqui presente aqui no município, era pra ser uma cidade com mais amor Uma cidade tão rica Então o povo é o meu maior sonho. Seria esse povo muito mais unido, muito mais com a consciência de que nós temos tudo pra viver bem aqui, é só querer, é só arrancar do peito o amor que tá lá no fundo, e tirar pra ver, as raízes do mal não podem acontecer dentro de Iguape não Nós temos muito amor pra dar aqui. União, pra as pessoas enxergarem, que, meu Deus, acho que podemos viver em paz Isso é que é o meu maior sonho daqui de Iguape... São pessoas todas conhecidas, a maioria um é parente do outro aqui... Então isso que eu acho mais, assim... Um absurdo Mais absurdo ainda as pessoas não entenderem que nós temos tudo pra ser felizes aqui, e o povo não é tão feliz assim... P/1 – Beth, o que é que você achou de dar o depoimento pra um projeto como esse, que quer contar as histórias das cidades a partir da história de vida das pessoas? R – A partir do momento em que você fala: “Depoimento das pessoas”, você já vê a relevância desse projeto. É um marco pra todos nós Falarmos aquilo que a gente sente, do que nós vivemos aqui... Então é um trabalho excepcional, só tenho que parabeniza-los Porque vir aqui pra uma cidade... Agora parece que Iguape está se acendendo em todos os pontos, então... Mas esse projeto aqui dentro ainda, pegando as pessoas mais antigas daqui do nosso município, pra contar a sua vida, contar alguma coisa sobre o município, é muito... É um valor imensurável Vocês estão de parabéns mesmo com esse projeto Vai ser de muita, muita valia para o município aqui. Pra as pessoas conhecerem o que é Iguape e o que é o povo de Iguape. Vocês estão de parabéns, eu tô muito feliz P/1 – Muito obrigada R – Eu que agradeço... P/1 – Nossa, esse depoimento dá pra gente ficar horas aqui...
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