P1 – Seu Manoel, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome completo é Manoel Raimundo Campos Martins, data de nascimento: 02 de março de 50.
P1 – Em que lugar o senhor nasceu?
R – São Bento.
P1 – São Bento é aqui, Maranhã...Continuar leitura
P1 – Seu Manoel, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome completo é Manoel Raimundo Campos Martins, data de nascimento: 02 de março de 50.
P1 – Em que lugar o senhor nasceu?
R – São Bento.
P1 – São Bento é aqui, Maranhão?
R – Maranhão.
P1 – Seus pais são de onde?
R – São Bento.
P1 – Seus avós?
R – São Bento.
P1 – Seus bisavós?
R – De São Bento.
P1 – Seus tataravós? (risos)
R – (risos)
P1 – O senhor morou nessa cidade até que idade?
R – Idade de 14 anos.
P1 – Como que era essa cidade na época da sua infância?
R – Cidade boa, calma. Na época tinha, por exemplo, pra se chegar até São Bento nós deveríamos, o transporte mais fácil que tinha era só através de navegações, a não ser de avião, mas a parte de pobre era só mesmo de barco, barco, lancha. E, com um certo... pra cá veio melhorando, hoje em dia nós temos já o ferry boat, que é uma viagem mais rápida, e temos também a viagem da rodovia, e a rodovia se torna, ela é mais longa, porque dá muita volta pra chegar até São Bento, e por aqui pela baía é mais rápido, coloca o carro no ferry, atravessa até o porto de Cujupe, e lá pega o carro e chega a São Bento, Pinheiro, outros lugares.
P1 – Você lembra das tuas brincadeiras de infância lá?
R – Olha, as brincadeiras de infância lá era brincar de boi, que tem daqueles boizinhos, e brincava assim pra...
P1- Como é que fazia?
R – Fazia um boi, assim, de um cofo, e botava um, assim, um pedacinho de madeira, e fazia aquela, cobria o cofo com um pano e ficava debaixo brincando de boi (risos).
P1 – Você assistia já as festas do boi naquela época?
R – Assistia, assistia sim.
P1 – Como é que eram essas festas?
R – Nossas festas lá eram bonitas, até eu acho que naquela época passada, a festa era mais bonita do que este ano, assim. Porque não se falava em boi de orquestra, eram só pandeirões e matracas, e agora não me lembro o tempo, a época em que o homem que começou... que começaram a ver o boi de orquestra, era mais era só matraca antigamente, pandeirões.
P1 – E aí você estudou, com quantos anos você entrou na escola?
R – Eu entrei na escola na idade de dez anos. Pra mim chegar à escola eu andava, andava... Pra mim chegar à escola...
P1 – Desculpa, com quantos anos o senhor entrou na escola?
R – Nove anos. E pra a gente chegar até a escola nós teríamos que andar à pé uns três quilômetros, pra chegar à escola. Na volta o sol quente, a gente vinha pela sombra, entendeu, e chegava em casa a gente não tinha nada pra comer, tinha mandioca cozida, a gente comia, e tal, às vezes era o almoço. Porque lá...
P1 – Quantos irmãos você tem, tinha?
R – Ãhn?
P1 – Quantos irmãos você tem?
R – Irmãos, quatro, quatro homens.
P1 – E aí você começou a trabalhar com quantos anos?
R – Olha, com doze anos eu assumi minha vida. Eu com doze anos, eu quebrava dez a doze, a treze, quinze cocos.
P1 – O que é que você fazia?
R – Quebrava coco. Com a idade de doze anos, eu quebrava dez a doze, quinze cocos. Conforme o coco, porque tem coco que ele é graúdo, a gente põe no machado, quebra ele, a amêndoa deles é graúda, e então ajuda no peso, está entendendo? E quando ele é fino, a amêndoa do coco, aí ele custa a dar, assim, o peso, assim, dez quilos custa a quebrar. Aí, quando, então, nessa época eu comecei a comprar minha roupa, nessa época não se falava em calça comprida, era só calção (risos). Então, é isso. Aí, depois eu vim pra cá, aqui pra São Luís, aí eu vim numa lancha chamada Santa Maria, essa lancha, ela afundou uns anos aqui atrás, e vim pra cá, pra casa de meus tios, aí eu comecei o trabalho ajudando de pedreiro, enchendo caminhão de pedra, tijolo, barro, para a construção civil, né? Depois fui trabalhar carregando caixa, na Brahma, a companhia chamava-se HS de Paiva Diniz, que representava a Brahma aqui no Maranhão. Depois eu fui trabalhar na Companhia Nordeste de Automóveis, Cinorte, auxiliar de mecânico, da Cinorte eu vim trabalhar, saindo da Cinorte eu montei uma oficina pra mim na Rua Castelo. Aí foi que o pessoal da Amsa botava o carro pra trabalhar, pra gente trabalhar, e a gente tomava conta dos carros da companhia da Amsa, Amazônia e Mineração S.A.. E depois a oficina foi à falência, aí eu fui para o São Francisco, para o Ferraz, esses carros me acompanharam lá no Ferraz, que era a oficina.
P1 – Mas aí como é que, você estudou, fez curso de mecânica, o que é que você...?
R – Olha, eu fiz um pequeno curso pelo Senac, entendeu?
P1 – De mecânica?
R – É, de mecânica. Agora só que eu aprendi, porque, por exemplo, já estava já grande e a gente tinha aquela vontade de aprender, não ficar assim, todo o tempo trabalhando braçal, está entendendo? Eu tinha medo de ficar assim, ficar velho carregando saco na cabeça, então esse que era o problema. Aí quando chegou em 76, o chefe de transporte da Amazônia e Mineração S.A., que é a Amsa, chama-se Hernandez, ele é carioca, convidou: “Manoel, você quer ir trabalhar na Amsa”, eu digo: “Hernandez, eu quero”, “Então você vai fazer...”, que era pra trabalho de mecânico, eu disse: “Tudo bem”, “Vamos fazer o teste lá com o Vassias”, o mecânico, eu digo: “Vamos.” Mas o dia que eu vinha fazer o teste o Vassias faltou ao serviço, aí eu não pude fazer o teste, eu digo: “Hernandez, vamos fazer pra motorista logo?”, ele me disse: “Não tem problema, vamos fazer”, aí fiz pra motorista e passei. Aí de 76 pra cá eu comecei a trabalhar na companhia e, graças a deus, me senti bem, eu não tinha nada, entendeu? Eu digo graças a deus até hoje, digo graças a deus à Companhia Vale do Rio Doce, à Amsa e à Companhia Vale do Rio Doce, entendeu, que a pouca coisa que eu tenho, foi através daqui, tá me entendendo, trabalhei de 76 a 81, a Amsa foi extinta, passei por (inaudível) como a Vale do Rio Doce. Aí tirei licença...
P1 – Você, mas antes de entrar para a Vale, assim, você gostaria de trabalhar nessa empresa, você tinha desejo?
R – Não, não, porque a Vale era só no Rio, e aqui era a Amsa, pra tocar aqui o projeto.
P1 – Em que ano que foi isso?
R – Que a Amsa... bom, eu entrei em 76, agora foi em 81, a Amsa foi extinta, aí eu estava com cinco anos já, não é isso?
P1 – Isso.
R – Cinco anos de companhia. Passei para a Companhia Vale do Rio Doce com todos os direitos, com cinco anos o Dr. José Elias, falecido, ele disse: “Manoel, tu quer gozar a tua licença prêmio ou tu queres em dinheiro?”, eu digo: “Dr. José Elias, eu quero em dinheiro.” Aí foram ver, multa pela rodoviária: não. Falta: cinco dias de falta durante cinco anos. Licença médica: não. Suspenso: não. Bem embaixo: nota dez; aí a Vale me deu uma carta. E, quando chega em 82, aí eu saio da Vale, fui pra outra companhia, chama-se Hidroservice, aí trabalhei mais de seis anos na Hidroservice, mas continuei com a mesma chefia e no mesmo cargo da Vale, entendeu? Só mudou de... Isso aí eu 87, aí fui tocar minha vida própria, com taxi. Aí eu me via aperreado, o negócio não foi muito bem, aí eu falei com meu chefe, com o Luís, digo: “Luís, como é que está aí a companhia?”, ele disse: “Manoel, tudo bem, tu queres vir pra cá?”, eu digo: “Eu venho.” Graças a deus, aqui estou novamente com...
P1 – E fazendo que função?
R – Motorista.
P1 – E tem algum caso, alguma história que tenha acontecido com você nesse período, que tenha te marcado, que foi um acontecimento, alguma história, que você trabalha aqui na Vale com...?
R – É, do que?
P1 – Alguma história, assim, algum caso que tenha acontecido enquanto você estava dirigindo?
R – Não, não, não, não, não. Agora, história que eu tenho é o seguinte, eu estava no N 1...
P1 – Lá em Carajás.
R – Lá no Carajás. Estava eu e o Leonel, agora eu não estou lembrado do nome do outro rapaz, nós fomos medir lá uns poços, e uma onça quase pega a gente, né?
P1 – Você viu a onça?
R – É, eu vi. Dei um grito, aí ela correu. Pois bem, mas eu morei um ano na Serra também, no Carajás. Eu morava no Hotel Norte Sul, em Marabá, e fazia o percurso, Marabá, Serra, Serra, Marabá, chegava no Paraopébas o nosso almoço que estava perto era só veado.
P1 – Era o que?
R – Veado, carne de veado. Não tinha outra comida em Paraopébas, mais era veado. Naquele ano, em 77, entendeu? E chegava no Paraopébas, é certo que não tinha rádio em carro, só tinha rádio lá em Marabá, no escritório. No Paraopébas, que era a segurança, em cima da Serra, se eu subia aquela, se eu saía de Marabá, o rádio: “O Manoel vai carregado pra serra, deixa almoço para o Manoel.” Chegava em Paraopébas, almoçava, e passava pra cima da serra, porque se o carro pregasse, pra eles me socorrerem por causa de onça. Na época não existia... Aí subia a serra e ia embora, aí quando, eles ficavam atentos, se eu não chegasse na hora certa eles vinham me encontrar, mas nunca aconteceu do carro pregar, entendeu?
P1 – Mas e a hora que você viu a onça?
R – Ah, não, onça, ainda a gente olhava muita onça, porque de vez em quando a gente estava dirigindo, ela cruzava a, esse, a estrada de um lado para o outro, onça, anta, demais. E quando, nós tínhamos, na Amsa, em cima dos Carajás nós tínhamos um helicóptero chamado Sapão, ele pegava 16 passageiros, ele caiu na serra. Aí, quando um dia de madrugada, não, pois é, foi logo assim na boca da noite, disse: “Manoel, você tem que ir na Fazenda Vale do Jesus, porque...”, tem dois helicópteros, um (inaudível) e a manutenção, aí “...o Sapão caiu aí, está destroçado aí, caiu. Tem um pessoal depois da Fazenda Vale do Jesus, então, vamos sair, olha, já saíram, estão acampados lá num barraco e tem sete peões com malária, você tem que ir buscar.” Eu saí duas da manhã de Marabá, eu só... aí vim lá pela 150, aí vim me embora e vinha vindo no caminhão, aí cheguei na entrada da Fazenda Vale do Jesus, tinham já cinco da manhã, ou seis, por assim, o vigia falou: “ó, cuidado na de onça”, porque eu tinha que abrir muita porteira e fechar porteira, eu andava um quilômetro, saltava do carro e ia abrir a porteira, passava o caminhão, aí fechava a porteira por causa do gado; ele disse: “olha, a onça já comeu 12 rezes aqui, ainda não conseguimos matar a onça”, porque os caras pobres que matam onça não conseguiram matar as onças. Ela entrava, quebrava o arame, tirava o boi de dentro da solda e vai comer e...
dez quilômetros dentro da mata, essa que... Aí fui, eu fui com medo como o quê, eu fui, aí quando eu cheguei, mais ou menos doze e meia do dia, eu comecei a encontrar umas casas, um arruado de casas dos trabalhadores, aí eu fui, aproximei, aproximei, aproximei, quando eu chego na fazenda mesmo, né? Bonita lá a fazenda, a Fazenda Vale do Jesus. Aí, eu cheguei lá: “tem um pessoal que saiu aqui da Amsa, eles estão aqui acampados...”, “eles estão mais na frente aí”, aí eu: “Tudo bem”, segui viagem, cheguei e encontrei o pessoal lá e: “Vamos embora”, eles se arrumaram, tinham sete peões que não urinavam mais, malária, é... Aí eu botei dentro do carros os peões, e retornei. Eu vim chegar em Marabá, nós paramos em Jesus, mas já quase de manhã, no outro dia. Deixei todos no hospital, e, assim, dormia, aquele negócio todo. Porque é uma história um pouquinho longa (risos). Pois é, isso.
P1 – E aqui na Vale, assim, quem você transporta?
R – Olha, eu transporto é água, transporto água, irrigação de, relação de grama, né?
P1 – Você viu a implantação aqui do porto, você viu o porto crescer?
R – Vi, vi a implantação.
P1 – Algum fato que tenha te marcado nessa construção, até hoje, do porto?
R – Não, não. Não tive, assim, coisas graves aqui. Até hoje não tive assim, coisas graves assim, graças a deus.
P1 – Tem alguma história, alguma coisa que você queira deixar registrado?
R – É, a história que eu tenho, que é com relação às estradas é que é o seguinte, como eu já agradeci a Companhia Vale do Rio Doce, agradeço, porque ainda estou até hoje por aqui, aqui dentro da área, né, e nós estamos aí pra trabalhar, né, até o dia que deus quiser.
P1- Obrigada.
R – Está bom? Vai desculpando aí.Recolher