No terceiro ano da faculdade, me apaixonei pelo coração. Foi uma paixão precoce! Como ainda não tínhamos um convívio com paciente, me apaixonei pelo conhecimento de uma professora e me inclinei para a cardiologia. Achava maravilhoso o que ela sabia. Mas, nesse período, você fica muito vacilante diante de tanta coisa que te é apresentada durante o curso, né? Mas eu tive a sorte de ter excelentes professores de cardiologia. Ao fim da vida acadêmica, fiz um ano de residência em Clínica Médica, mas já tinha certeza que eu queria ser cardiologista.
Me preparei muito para a prova de residência em Cardiologia. Comprei os livros necessários e eu estudei tanto, mas tanto, que eu até sonhava com as patologias! Fui muito bem na prova, naquela época a prova era escrita e prática, tinha que fazer uma prova à beira do leito também. Só não tive a coragem de ver a lista dos aprovados! Pedi para uma amiga ver pra mim. “Se eu não fui aprovada, não vou conseguir ficar em pé”, eu pensava. Nós fomos até a instituição, eu fiquei no carro e ela foi ver a lista pra mim. Olha o que a gente faz com as amigas, né? Ela chegou no carro vibrando! Foi de chorar! Isso foi em 1979. Fui para o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e estou lá até hoje.
Cardiologia é uma especialidade muito forte e importante. Por exemplo, hoje, do que as pessoas mais morrem? Ainda é de doença cardiovascular. Hoje a mortalidade diminuiu, mas ainda assim a maior parte da população no mundo morre de doença cardiovascular, exceto no continente africano, que ainda lá é doença infecciosa. Então isso teve um impacto muito grande em mim: eu fazia a especialidade da qual a maioria das pessoas morriam! Então as doenças do coração eram muito importantes. Foi uma realização ser cardiologista.
Em meados dos anos 90, já no Dante Pazzanese, comecei a olhar pro coração da mulher. Na mesma época, estava no auge a terapia hormonal da menopausa. E parecia que...
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No terceiro ano da faculdade, me apaixonei pelo coração. Foi uma paixão precoce! Como ainda não tínhamos um convívio com paciente, me apaixonei pelo conhecimento de uma professora e me inclinei para a cardiologia. Achava maravilhoso o que ela sabia. Mas, nesse período, você fica muito vacilante diante de tanta coisa que te é apresentada durante o curso, né? Mas eu tive a sorte de ter excelentes professores de cardiologia. Ao fim da vida acadêmica, fiz um ano de residência em Clínica Médica, mas já tinha certeza que eu queria ser cardiologista.
Me preparei muito para a prova de residência em Cardiologia. Comprei os livros necessários e eu estudei tanto, mas tanto, que eu até sonhava com as patologias! Fui muito bem na prova, naquela época a prova era escrita e prática, tinha que fazer uma prova à beira do leito também. Só não tive a coragem de ver a lista dos aprovados! Pedi para uma amiga ver pra mim. “Se eu não fui aprovada, não vou conseguir ficar em pé”, eu pensava. Nós fomos até a instituição, eu fiquei no carro e ela foi ver a lista pra mim. Olha o que a gente faz com as amigas, né? Ela chegou no carro vibrando! Foi de chorar! Isso foi em 1979. Fui para o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e estou lá até hoje.
Cardiologia é uma especialidade muito forte e importante. Por exemplo, hoje, do que as pessoas mais morrem? Ainda é de doença cardiovascular. Hoje a mortalidade diminuiu, mas ainda assim a maior parte da população no mundo morre de doença cardiovascular, exceto no continente africano, que ainda lá é doença infecciosa. Então isso teve um impacto muito grande em mim: eu fazia a especialidade da qual a maioria das pessoas morriam! Então as doenças do coração eram muito importantes. Foi uma realização ser cardiologista.
Em meados dos anos 90, já no Dante Pazzanese, comecei a olhar pro coração da mulher. Na mesma época, estava no auge a terapia hormonal da menopausa. E parecia que essa terapia protegeria muito o coração. Aquilo me chamou muito a atenção porque era algo que ligava coisas que eu gostava: a mulher, a parte hormonal e a doença coronária. De repente a gente estaria vendo uma luz no fim do túnel praqueles corações, aquelas mulheres que eu perdia - me frustrava muito a perda daquelas mulheres. Isso me impactou quando eu fiz o terceiro ano de residência em Cardiologia que a gente tinha que acompanhar um grupo de mulheres jovens que haviam enfartado porque tomavam pílula anticoncepcional e fumava. Mulheres que tinham a mesma idade que eu com um dano no coração terrível, irreversível que, a rigor, deveria ir para um transplante, que ainda não estava desenvolvido naquela época. Então durante um ano eu acompanhei essas mulheres. Aquilo me impactou fortemente. De repente eu vi que eu podia unir o útil ao agradável: a parte hormonal da mulher e o coração. E eu comecei a estudar. Depois eu fui pra Faculdade de Saúde Pública, eu fiz um curso de Saúde da Mulher no Climatério e aí eu alavanquei mesmo essa história da Cardiologia da mulher.
Eu dou muita aula e há mais de dez anos fiz um slide que uso até hoje com os residentes: “Desafio: diagnóstico”. Nunca ninguém discordou de mim porque o coração da mulher continua sendo um desafio. Por quê? Porque nós sempre estudamos o modelo masculino em detrimento de: “Homens e mulheres são diferentes, nós temos que estudar cada um”. E tem até uma coisa engraçada, os cardiologistas falam assim: “Mulher é complicada” “Por quê? Mulher não é complicada, mulher não foi estudada”.
O que faz a diferença na vida é você ter prazer de ter como profissão aquilo que você mais gosta. Tomara que todos possam ter essa oportunidade na vida! Ainda pretendo conhecer mais o mundo! Tomara que a gente tenha saúde ainda pra que nessa altura da vida - que eu chamo de crepúsculo da minha vida profissional - eu consiga pra realizar meus desejos.
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