IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Luís Antonio de Carvalho Vargas. Sou natural de Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, nasci em primeiro de junho de 1951.
FAMÍLIA / PAIS
Meu pai é Ricardo da Rocha Vargas, gaúcho de Passo Fundo, e minha mãe é Maria Lilá Nogueira de Carvalho Vargas, natural de São ...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Luís Antonio de Carvalho Vargas. Sou natural de Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul, nasci em primeiro de junho de 1951.
FAMÍLIA / PAIS
Meu pai é Ricardo da Rocha Vargas, gaúcho de Passo Fundo, e minha mãe é Maria Lilá Nogueira de Carvalho Vargas, natural de São Luís do Maranhão. Meu pai, além de cirurgião-dentista, era militar e foi transferido para São Luís do Maranhão. Lá conheceu minha mãe e se casaram. Foram para o Rio Grande do Sul, ele foi transferido para Bento Gonçalves em 1948. Em 1950, ele foi para Cachoeira do Sul. Em 1951, eu nasci e, em 1954, nasceu minha irmã. Em 1958, ele foi transferido de novo e a família Vargas veio para o Rio de Janeiro. Meu pai falava que o Getúlio Vargas era um parente afastado da família, a família do Getúlio é de São Borja, a do meu pai era de Passo Fundo. Mas, Vargas gaúcho, se você procurar na árvore genealógica vai encontrar alguma ligação.
INFÂNCIA
Eu nasci em Cachoeira do Sul, em 1951, e fiquei lá até 1958. Vim para o Rio com sete anos de idade. Tenho uma vaga lembrança da casa em que morava e de uma brincadeira na rua, o futebol que eu jogava com alguns amigos. Eu voltei lá depois, em 1982, fui à Rua Moron, onde nasci, o número da casa é 1140; cheguei lá em um sábado, olhei a rua, a casa, e bati na porta, ninguém atendeu. Tinha um barzinho na esquina, as pessoas já olhando: “Quem é esse cara que chegou num carro aqui?” Eu me identifiquei, disse “bom dia” ou “boa tarde”, “nasci aqui e queria saber se tem alguém em casa”. E um cara disse: “Tem um casal que mora aí, mas não está, foi passar o final de semana fora.” “Tudo bem, amigo, eu nasci aqui em 1951, morei até 1958, muito obrigado, até logo.” A casa estava lá ainda. Quando você sai de uma cidade com sete anos de idade... Por exemplo, tinha um prédio que eu fui visitar, chamava-se Clube Comercial de Cachoeira do Sul, que para mim era enorme, era um prédio de três andares, que tinha um elevador. Como um garoto pequeno, eu achava grande, quando cheguei em frente ao prédio, falei: “Pô, mas é só isso?” A perspectiva muda. Estudei lá, eu me lembro até da roupa: era como se fosse aquela roupa de tirolês, bermuda com o suspensório xadrezinho. Tenho uma vaga lembrança da escola.
A viagem de Porto Alegre para cá foi de trem, nós levamos três dias do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro, de Maria Fumaça. Chegamos aqui, desembarcamos na estação, deve ter sido na Central, e aí fomos para um hotel no Flamengo, Hotel Regina, que existe até hoje. Ficamos lá uns quatro ou cinco dias, porque o apartamento que o meu pai havia comprado estava em obras, mas quase acabando, por isso nós tivemos que ficar, mais ou menos, uma semana nesse Hotel Regina, até que nos mudamos para esse prédio, na Tijuca, que também existe até hoje. Minha mãe está com 85 anos e ainda mora lá, no mesmo apartamento, há 50 anos.
[A autoridade em casa] era muito compartilhada, porque o meu pai, apesar de ser militar, era um democrata, era cirurgião-dentista do Exército. Ele era tranqüilo, a minha mãe era mais mandona mesmo, a única surra que eu levei em casa foi da minha mãe, ela bateu de chinelo mesmo. O meu pai não batia, ele apaziguava, era um pacificador. As broncas ficavam por conta dela, uma boa maranhense.
INFÂNCIA / RIO DE JANEIRO
No início, eu estranhei o Rio de Janeiro. Uma experiência marcante, por exemplo – porque eu não me lembrava de telefone na minha cidade –, foi uma grande descoberta que fiz aqui no hotel: eu e minha irmã – eu tinha sete e ela quatro anos – e uma empregada que veio conosco do Sul, meu pai saiu com a minha mãe para ver o negócio da mudança, nós tínhamos tomado café no quarto, me deu vontade de tomar mais café e não tinha mais açúcar, como é que a gente pede açúcar? Eu já tinha visto meu pai e minha mãe com telefone – “tem esse negócio aqui” –, tirei o telefone do gancho, imagina aquele telefone preto, de 1958, atendeu a recepção: “pronto, aqui é da recepção”. Eu falei alguma coisa do tipo: “Moço, acabou o açúcar, a gente quer mais café.” “Vou mandar”. Qual foi nossa alegria quando, três ou cinco minutos depois, bateram na porta e era o cara com um açucareiro: ”Pô, esse troço funciona mesmo” Isso foi marcante, eu me lembro claramente até hoje, foi muito legal. A mudança de cultura também marcou, a gente estranhou muito. Outra coisa, por exemplo, no Rio Grande do Sul, os guris, os garotos usavam a cabeça raspada, como o Ronaldinho usou na Copa do Mundo de 2002, aquele era o modelo padrão que se usava no interior do Rio Grande do Sul. Eu cheguei aqui no Rio de Janeiro, o pessoal já usava o corte chamado “reco”, cortava a zero atrás, mas deixava um pouco em cima. Depois de mês aqui, fui cortar cabelo, meu pai mandou cortar como da outra vez, e os garotos estranhavam: “Pô, por que você corta o cabelo assim?” Aí eu tomei coragem e falei para o papai que não queria mais cortar meu cabelo assim, não, porque ninguém usava, queria cortar como os guris cortavam aqui. E ele disse: “Tudo bem, pode cortar, não tem problema.” “Agora eu já estou igual aos caras daqui”
EDUCAÇÃO
Eu fiz o primário no Colégio da Companhia de Santa Tereza de Jesus, na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca. Fiz o primeiro e o segundo ano lá, não preciso dizer que cheguei aqui no segundo ano primário, vindo do interior do Rio Grande do Sul, e tive que voltar para o primeiro ano. Depois, fui estudar em um curso, também na Tijuca, chamado Santa Tereza, que preparava os alunos para o exame de admissão do Colégio Militar – o Colégio Militar, o Pedro II e o Colégio de Aplicação da UERJ eram os quentes –, fiz o terceiro e o quarto ano da admissão lá. Naquele ano, não houve exame de admissão para o Colégio Militar, me inscrevi para o Colégio Estadual Orsina da Fonseca. Na época, estudar em escola pública era bom, mas não passei, levei “pau” em matemática. Estava inscrito para o Instituto Lafayette e para o Pedro II. Passei para o Lafayette, uma escola particular, na Rua Haddock Lobo, onde hoje é a Fundação Bradesco. Passei no colégio, no Lafayette, e não fiz Pedro II, e meu pai falou: ”Meu filho, se quiser ficar no Lafayette, pode ficar, porque é um bom colégio”. Então, lá eu fiz o Ginásio e o Clássico. Na época, as opções eram essas, Clássico e Científico. Fiquei até 1969, quando disse: “vou ser médico”. Eu estava no primeiro ano do Científico, já tinha ficado em segunda época no terceiro e quarto do Ginásio em matemática. Segunda época era assim: você estudava em janeiro, fazia a prova em fevereiro e passava de ano. Fui para o primeiro ano do Científico de Medicina, fiquei logo para segunda época em Física e Matemática. Disse: ”Meu negócio é outro, eu gosto de Português, Literatura, Idiomas, História, Geografia”. Esse negócio de número não faz parte da minha cultura. Então, disse: ”Eu não vou para o segundo ano do Clássico – eu podia mudar para o Clássico – vou perder um ano de Latim e me estrepar mais adiante, ao invés de ir para o segundo, preferi repetir o primeiro ano do Clássico, para pegar Latim, que eu não tinha a mínima noção. Fiz o primeiro e segundo do Clássico. No terceiro ano a gente fazia o chamado convênio com um curso pré-vestibular, fiz o curso Helio Alonso na cidade e fiz o vestibular para a UFRJ.
INFÂNCIA
O crescimento foi normal. Meu pai, como era militar, veio para um prédio onde só moravam militares, e todo mundo estava mesma faixa, os caras eram capitães, majores, o mais velho era o tenente-coronel. A faixa etária da turma era mais ou menos a mesma, todo mundo filho de militar, mais ou menos a mesma formação em casa. Havia uma homogeneização muito grande de comportamentos e aquela turma cresceu. Éramos um grupo grande, da minha faixa etária, havia uns oito ou dez que moravam no mesmo prédio, fora o pessoal da rua. A gente jogava futebol na rua, tinha o campo marcado na rua: um poste e um muro era um gol, a árvore e o muro do outro lado era o outro gol, era ali que a gente jogava. Para se ter uma idéia, a quantidade de carros era tão pequena que, ás vezes, alguém vinha estacionar no espaço do nosso campo, que devia ter uns 20 metros de comprimento, e a gente pedia: ”Moço, dá para estacionar depois da árvore, para não atrapalhar a pelada?”. E o cara estacionava numa boa, hoje em dia não teria a menor chance. Eu sempre estudei de manhã, chegava em casa, almoçava, dava uma descansada, e havia o estudo obrigatório das duas às quatro horas da tarde. A televisão só começava a funcionar às quatro horas da tarde, então não tinha essa de ligar a televisão de tarde. Estudava das duas às quatro, depois disso podia descer, brincar e jogar bola. Mas era obrigatório estudar duas horas por dia no mínimo.
Minha irmã mais nova estudou no Lafayette feminino, em frente ao nosso prédio. Ela tinha a turminha dela. Na época, menino era menino, menina era menina. Não tinha muita mistura, no bom sentido. Você pega um menino de 14 anos, uma menina de 11. A garotada podia jogar bola, brincadeira de jogo de mão na rua, de carniça. Não tinha bandido, era algo muito distante da realidade, embora fosse na Tijuca, não havia esses perigos que existem hoje numa cidade como o Rio de Janeiro.
FORMAÇÃO ESCOLAR
Tinha um professor de português, que eu gostava muito, o João Batista. Ele era negro, o cara era um gentleman, nunca o vi perder a paciência com a turma, ele foi meu professor durante quatro anos, dois em Português e dois em Literatura. Ele andava sempre de paletó e gravata, impecavelmente vestido, eu gostava da matéria dele, o professor percebe quando o aluno gosta ou não, se interessa ou não, ele dava a matéria e eu percebia que ele tinha um interesse no meu retorno para ele, eu participava. Sempre me dei muito bem com ele, esse cara me marcou muito. Tinha uma professora de Francês, chamada Mitzi, que me fez também gostar muito de Francês, estudei durante cinco anos, dois de ginásio, dois de clássico e um de vestibular, e essa mulher era impressionante, ela era magrinha, mas tinha uma autoridade sobre a turma, você imagina uma turma de garotos de 16, 17 anos, e ela mantinha a turma firme só na palavra, botava os caras para fora da sala, sempre me chamou a atenção, ela sabia exercer a liderança e a autoridade. Tinha um professor de Matemática no ginásio, o professor Morais, um velhinho tricolor, mas era gente boa, gostava da rapaziada, e dava uma aliviada na turma. Basicamente, são esses três professores que eu me lembro. A minha preferência e minha facilidade era para a área de Humanas: Português, Literatura, Idiomas, História, Geografia, Conhecimentos Gerais. Sempre tive facilidade para escrever, isso me encaminhou para a decisão da minha escolha profissional.
JUVENTUDE
Tem que levar em conta o que havia no mundo. Em 1968, eu tinha sete anos de idade, o mundo estava passando por aquela convulsão, aquela revolução da juventude na França, o advento dos Beatles, Rolling Stones, “faça amor, não faça a guerra”, “sexo, drogas e rock’n roll”. Havia toda aquela mudança. No Brasil, essas mudanças estavam aliadas à conjuntura política de fechamento por causa do Governo Militar. Havia uma separação muito grande dos homens e das mulheres, a história do amor livre não era tão romântica como se conta, havia uma diferença muito grande.
Todo mundo teve seu o Woodstock. Um dos grandes programas que eu tinha com 17, 18, 19, 20 anos, eram os bailes de formatura. No Rio de Janeiro, havia os bailes no Colégio Militar, no Clube Sírio-Libanês, no Monte Líbano, eram lugares onde havia as festas de formatura badaladas, para aquela faixa de idade da juventude da Tijuca, onde eu morava. O bairro do Méier tinha as meninas mais bonitas do Rio de Janeiro. Cismamos que todo mundo tinha que ter seu smoking. O grande barato era tentar conseguir convite para ir ao baile, quem não conseguia convite, tentava pular o muro, aí trocava ingresso. Houve uma época em que se estabeleceu um rigor muito grande no uso do smoking, passaram a exigir a faixa preta no smoking, o sapato tinha que ser com cadarço, mas nem todo mundo tinha. Então, o cara que tinha sapato com cadarço, entrava e depois jogava pelo muro, lá dentro trocavam-se as coisas, isso me marcou muito. Íamos para a festa de ônibus, carro nem pensar, por exemplo, o 416, o Usina–Forte, vinha por Botafogo. A gente ia para o Sírio-Libanês em Botafogo, iam de 15 a 20 caras de smoking, dentro do ônibus. Você imagina essa rapaziada, a bagunça que se fazia? Foi um período muito legal. A gente namorava, no baile alguém tinha que se dar bem. Hoje em dia eles dizem: “Passei liso, fulano ficou liso”, porque não beijou nem uma menina, nós dizíamos “se dar bem”. A gente brincava que conforme subia o nível de bebida – a bebida era Cuba Livre e Hi-Fi, drogas não tinha muito, depois
começaram a chegar as Anfetaminas – e ia passando o tempo, baixava o controle de qualidade, e havia àquelas vezes em que o cara dizia: “Pô, arranjei uma namorada na festa, mas já estava no final, e quando eu olhei a mulher, no dia seguinte quase que sai correndo”. Essas histórias eram recorrentes.
No caso da minha turma não houve muito envolvimento político, não pela formação ou pelo fato de os pais serem militares, mas porque a turma mesmo era um pouquinho alienada. A minha participação política marcante foi no enterro do Édson Luis, um estudante que morreu no Calabouço. No dia do enterro o Governo decretou ponto facultativo, para a turma não ir para as escolas, mas nós fomos. Viemos para o Centro da cidade e no enterro do Édson houve tiros, confusão, pancadaria, gás lacrimogêneo. A gente tacava pedra na PM, aquelas histórias das bolinhas de gude, rolha de cortiça – era verdade – para os cavalos caírem. A confusão foi grande, graças a Deus não me aconteceu nada, meu pai que era militar, dizia: “Meu filho, não te mete em confusão porque se tu fores preso – tem filho de general que está preso –, eu sou só major, abre teu olho, depois de 18 anos, tchau”. É bem a cara dele, disse: ”Não adianta, se você for em cana, eu não vou conseguir tira-lo de lá.” Ele monitorava numa boa. Ele sabia com quem eu andava: “Quem são esses caras que estão aí?”. Nos anos 1960, a droga ficava restrita à marginalidade, depois começou a descer o morro e foi para o asfalto, primeiro foi maconha, depois começaram a vir anfetaminas e a heroína. Na minha turma da esquina, eu contava nos dedos da mão quem ficou careta, a gente usava de tudo na época. Soube que teve gente nossa que virou juiz, tem outro que virou coronel da Aeronáutica. Nós levávamos a vida meio sem maldade, mas a gente percebeu como que a coisa foi chegando, primeiro um, depois o outro fumou maconha. Meu pai falava: “Meu filho cuidado com esse negócio de maconha”.
Ouvíamos mais Rock’n Roll e Beatles. Naquela época, lembre-se, havia conflito no Vietnã, havia uma preponderância da juventude para a esquerda, havia uma critica muito grande ao produto nacional que era estimulado pelo Governo, Roberto Carlos era apoiado pelo Governo, Tom e Ravel, o Pra Frente Brasil. Em resposta a juventude aceitava e estimulava a musica estrangeira, o Rock’n Roll. Tudo, de certa forma, fazia apologia ao amor livre, à gritaria, à rebeldia. Havia esse conflito e todo mundo torcia pelos Vietcongs, cada americano morto era festa. Usava-se jaquetas que vinham do Vietnã, o pessoal vendia. Meu pai dizia: “Não vem com essas roupas para cá não”, “Pai, eu queria comprar”, “Não, isso era dos tiras que morrem no Vietnã, não quero mais nada disso aqui em casa.”.
OPÇÃO PROFISSIONAL
Percebi claramente minha facilidade para lidar com Humanas, com as Línguas, pelo que conversava com as pessoas e percebia no mercado. O forte era a Escola de Jornalismo da UFRJ, que em 1967 virou Escola de Comunicação da UFRJ, e incorporou Publicidade, Relações Públicas, Comunicação e, Editoração. Para se ter uma idéia, no final dos anos 60 e inicio dos anos 70, a proporção candidato por vaga de Comunicação era praticamente a mesma de Medicina, a carreira mais tradicional. Isso está ocorrendo de novo, 30 e poucos anos depois. Se você pegar as relações de Comunicação, ela voltou, agora talvez sob um enfoque mais empresarial a ter um peso muito grande na decisão de escolha. Eu escolhi o Jornalismo, escolhi fazer Comunicação. Fiz vestibular e passei para a UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, para a Escola de Comunicação.
Meu pai em nenhum momento disse: “Eu quero que você siga minha carreira”, ele sempre falou uma coisa para mim, que eu falo para meus filhos também: “Seja o que você quiser, agora faça um curso superior”, e aí completava, porque no mínimo: “se você for em cana, fica numa cela especial porque tem curso superior”. Era cruel, mas eu digo: “Tem que ter seu valor”. Eu falo isso para meus filhos, tem que fazer uma faculdade, não sei qual vai ser a escolha, mas façam, eu até incorporo mais coisas: “a vida de universitário foi o período mais feliz que passei, a convivência universitária era muito boa”, e eu estive na universidade em um momento complicado, de julho de 1971 a julho de 1975, peguei os “Anos de Chumbo”. O inicio de extensão do Governo do Geisel foi um momento muito importante, os colegas de turma que sumiram, voltaram depois, professor que sumiu e voltou. Os caras que tinham sido presos e voltaram, relatavam as experiências. A universidade dava uma convivência legal, havia uma discussão muito boa, um ambiente acadêmico. Se eu pudesse voltar a uma fase de minha vida, escolheria voltar à universidade.
Primeiro eu acho que eu tenho competência para me sobressair, para me dar bem nessa área de atividade, a área de Comunicação, seja Jornalismo, ou outra de Comunicação. A minha competência vai ser importante e vai me ajudar a me sobressair, a conquistar um lugar ao sol no mercado. E o momento político também trazia um pouco dessa vontade de contestar, o médico não tem muito como contestar, o cara que tinha caneta, ou a palavra, ele tinha uma forma de se expor e contestar as idéias que vinham do outro lado. Na faculdade se tinha um ambiente que permitia isso, apesar de toda a repressão, às vezes explícita, às vezes implícita. A vigilância que havia até estimulava aos debates, não em ambientes formais, mas nos informais. Eu acho que isso foi o que me levou a desenvolver e deslanchar nessa profissão. Eu nunca pensei em mudar: “não quero mais fazer Comunicação, quero fazer outra coisa”. Eu entrei e disse: “É aqui, estou me sentindo muito bem aqui”.
EDUCAÇÃO / FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
O primeiro ano foi na Praça da República, o prédio existe até hoje, depois a Escola de Comunicação foi transferida para a Praia Vermelha, onde está até hoje, estudei três anos lá. Eu fui aluno do Homero Icaza Sánchez, o famoso El Brujo, era o seu apelido. Foi esse cara que criou toda metodologia de pesquisa da Rede Globo de Televisão, todo sucesso da programação da emissora, até hoje, é baseado na pesquisa dele. A TV Globo trabalha com o que o expectador está entendendo, está querendo ver na telinha, ele que montou toda essa base, o apelido dele era El Brujo, exatamente por causa disso. Então o Homero Icaza Sánchez foi meu professor na Faculdade em quatro ou seis matérias. Também fui aluno do Carlos Henrique Escobar, marido da Ruth Escobar – o Escobar é dela –, ele era professor de Epistemologia da Comunicação, foi um cara que sumiu, era boa pinta, forte, olho azul, cabelo louro. Voltou três meses depois, magro, cabelo curtinho, falando baixinho, sofreu muito na mão dos órgãos de repressão, mas depois se recuperou. Em nenhum momento ele comentou, mas a gente sabia que ele tinha sofrido.
Fui aluno de Heloísa Buarque, um período só. Mas o Homero foi o cara que mais me marcou, até porque o primeiro trabalho que eu fiz, que ganhei dinheiro, foi com o Homero. Ele estava fazendo uma pesquisa para a TV Globo, sobre o programa A Grande Família, e disse: “Vou contratar alunos meus da Escola de Comunicação”. Chamou uma turma que ele conhecia, e disse: ”Eu preciso que vocês façam entrevistas, vou dar o questionário, vou dividir vocês por áreas”. A mim coube o subúrbio de Madureira. A orientação era a seguinte: “Vocês vão andando pela rua, vão olhar, onde tiver antena de televisão vocês batem, e façam a entrevista: apresenta a carta que estamos dando para vocês, perguntem se a pessoa quer ser entrevistada”. E acrescentou: “Não adianta sentar no bar, tomar cerveja e preencher, porque a gente precisa de um telefone para confirmar se vocês fizeram a entrevista”. Passei um sábado andando por Madureira e fiz o meu trabalho, ele me pagou uns 300 dinheiros da época, nem lembro quanto era, mas foi um dinheiro fantástico, isso foi no início dos anos 1970. A pesquisa foi para tomada de direção, como estava o programa A Grande Família, como eles deveriam conduzir, eu guardei o nome do programa, foi o primeiro dinheiro que eu ganhei, era uma boa grana para um estudante.
FORMAÇÃO / ESTÁGIO
Estagiei no Diário de Notícias, meu primeiro estágio como Jornalista. Nesse estágio, eu decidi que não seria Jornalista. Teve um aspecto muito bom, que eu gosto e que me estimulou, e outro que me fez desistir da carreira. Primeiro o fato bom: eu trabalhava na parte de Esportes do Diário de Notícias, gostava muito. Trabalhava com um jornalista muito conhecido, chamado Aquiles Chirol, um papa do jornalismo esportivo. Eu era o editor de Esportes, claro que estagiário, o Aquiles dirigia e eu fazia umas matérias. E teve uma que me marcou muito: o Aquiles me mandou fazer uma entrevista com um jogador do Vasco da Gama, chamado René, um zagueiro que jogou no Bom-Sucesso, depois foi jogar no Vasco. Ele tinha passado por uma fase muito ruim, fazendo gol contra, estava horroroso, depois entrou numa fase boa – é o ciclo do jogador, fase ruim versus fase boa. Ele estava em uma fase muito boa, e teve um jogo do Vasco que eu estava assistindo como torcedor, sou Flamenguista, mas estava no Maracanã, eu vivia no Maracanã, e uma faixa da torcida do Vasco me chamou a atenção, dizia assim: “Parabéns, René, você já é nosso ídolo”. Eu falei: “Pô, o cara está bem na foto, a pouco estavam o xingado agora já está bem”. Isso foi num domingo, na segunda-feira eu cheguei para o Chirol e falei: “Ontem tinha uma faixa na torcida do Vasco, assim, assim, o René deve estar feliz da vida”. O Chirol: “Faz o seguinte, amanhã vai no Januário, faz uma entrevista com o René.” Na terça-feira, fui eu para São Januário, entrei no campo e disse: “Sou estagiário do Diário de Notícias”, “Entra”. Aí fala daqui, fala dalí, tinha os jornalistas que já eram conhecidos, e eu falei: “Cara, sou estagiário do Diário de Notícias, trabalho com Aquiles, tenho que fazer uma matéria com o René”. Aí um jornalista falou: “Deixa que eu falo com ele”. Acabou o treino: “René, o garotão aqui, vai fazer uma entrevista contigo, do Diário de Notícias, com Aquiles Chirol, dá uma entrevista?”; “Dou sim”; ”René, ontem tinha uma faixa no Maracanã, dizendo que você já é ídolo”; “Pois é, fiquei contente, e pá, pá, pá”; “Legal, obrigado”. Voltei para a redação no Diário de Notícias, na Rua do Riachuelo, peguei minha máquina de escrever, bati minha matéria e levei para o Aquiles Chirol, e falei: “Aquiles, fiz a entrevista com o René” “Tá legal, deixa aqui que eu vou dar uma olhadinha.” “Bom, está na hora de eu ir, tchau, um abraço”. Qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte peguei o Diário de Notícias e vi que ele publicou minha matéria na integra, não mexeu em uma letra, em uma vírgula. Eu fiquei tão contente, me arrependo até hoje de não ter guardado. Cheguei de tarde e falei: “Aquiles, você publicou?” “Garoto, a matéria estava boa, não precisei mexer, tu levas jeito”. Aí acabou o estágio no Diário de Notícias e, logo depois, arranjei outro na famosa TV Rio, que não existe mais, TV Rio canal 13, cujo estúdio ficava na Rua Alberto de Campos, em Ipanema, em um prédio onde tinha a boate chamada Berro d’Agua; a TV Rio ficava em cima. Fui ser repórter de televisão, os locutores eram o Hilton Gomes, que já morreu, e Ronaldo Rosas – que volta e meia grava comercial para gente –, era a dupla de apresentadores do jornal. Eu era assistente do Hilton Abi-Rihan, um jornalista. Já havia uma estrutura, uma equipe de reportagem: o Abi-Rihan, o Filé de Borboleta, que era o cara do som, o Feição, que era o cinegrafista, e eu era o estagiário. E disseram: “Vai andando com os caras, para ver como que funciona isso aqui”. A gente saía para fazer matérias, depois começaram a me dar uma ou outra para fazer, coisas mais simples. Eu fiz uma matéria com o Marco Antônio, que era o lateral do Fluminense, entrevistei o Marco Antônio e o Lula, era véspera de um jogo, quando ia sair a matéria, eu disse: “Vou sair na televisão”, avisei a família toda, esse foi o fato bom.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
O fato ruim é que a Escola Superior de Guerra ainda tinha aquelas palestras, o curso de Estado Maior, aqueles cursos mais importantes, levavam ministros para fazerem palestras, a imprensa começava a cobrir. Mas imagina fazer uma cobertura de uma palestra de um ministro, em 1973, na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro? Eu e o Hilton Abi-Rihan
chegamos na Kombi da TV Rio na Escola Superior de Guerra, na Urca. Eu estava de calça jeans e camiseta, eu usava uma bota. E o soldado: “Quem é você, o cabeludo é o quê?” ; “Estagiário”; “Ah, entra, vamos lá.”; “Onde está o ministro?” ; “O Ministro está dando uma palestra, a imprensa espera aqui”. Só faltava meter a baioneta na gente. E um capitão perguntou: “Você aí, cabeludo?”; “Capitão, eu sou estagiário”; “Ele está com a gente, ele está na faculdade”; “É faculdade, não sei o quê, o cara vem perturbar”, mal sabia ele que um dos estagiários da Escola Superior de Guerra era um general amicíssimo do meu pai, que morava no nosso prédio, esse cara depois foi presidente do Conselho Nacional de Petróleo durante dez anos, de 1975 a 1985; o General Oziel de Almeida Costa era um homenzarrão de dois metros de altura, grande para caramba, ele era general de Brigada, estava fazendo o Curso Superior de Guerra, onde teve a palestra do tal ministro. Acabou a palestra, e o capitão ali, enchendo o saco da gente, eu me lembro que o cara falou uns cinco minutinhos ali, não podia falar muito mesmo, nisso o General Oziel me vê e vem andando em minha direção, “Luizinho, como você vai, meu filho? Me dá um abraço aqui” e bateu nas minhas costas. “Oi, General, tudo bem?”; “Fazendo o quê?”; “Eu estou fazendo estágio na TV-Rio, estamos fazendo uma matéria sobre a palestra do ministro”; “Então está bom, tudo bem com você? Qualquer coisa eu estou aqui”. Nisso, vem o Capitão, bate no meu ombro: “Está tudo bem com o senhor, está precisando de alguma coisa?” “Capitão, que palhaçada a sua, o senhor estava quase me xingando, batendo no meu ombro, só porque o General Oziel falou comigo, você muda? Não precisa fazer isso não”. Aquilo me deixou tão atravessado, não tenho estômago para isso. Continuei no meu estágio na TV-Rio, mas perdi completamente o estímulo.
FORMAÇÃO
No curso de Comunicação, fazia-se os dois anos do básico e no quinto período se fazia a opção: Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas, ou Comunicação e editoração. Eu já tinha assistido a algumas aulas, gostava muito do Homero, que trabalhava também com Publicidade. O Cid Pacheco, que era um dos professores, era dono de uma agência também. Eu pesei: “Esse negócio de publicidade é legal, tenho umas aulas que eu gosto, vou fazer publicidade”. Escolhi a Publicidade, e deu no que deu.
Depois desse estágio da TV-Rio, em 1974 eu fiz uma prova da Fundação Mudes, Movimento Universal de Desenvolvimento Social, que existe até hoje, era do Ministério da Educação, não sei se ainda é. Eu fiz a prova, passei, comecei o estágio lá, também era na área de Jornalismo, mas era mais de Comunicação Interna, era para escrever os informativos. Em 1974, a Escola Superior de Propaganda e Marketing, que já existia em São Paulo, era a famosa escola que preparava os publicitários, porque tinha uma visão mais voltada para o saber fazer, para o mercado, abriu uma filial no Rio de Janeiro, ESPM Rio de Janeiro. Eu pensei: “Eu faço a Nacional de manhã, o estagio à tarde, e vou fazer ESPM à noite.” Fiz a prova e passei no vestibular, era um curso de dois anos. Eu ia me formar em julho de 1975 na Nacional e, em dezembro, eu me formaria na Escola Superior de Propaganda. Era de manhã na Nacional, de tarde na Fundação Mudes e de noite a Escola Superior de Propaganda e Marketing. Só tinham professores publicitários conhecidos, o Roberto da Matta também deu aula para a gente de Antropologia, tinha gente muito boa, profissionais que trabalhavam com Publicidade, que resolveram fazer um curso de Publicidade para ter uma formação mais acadêmica, passamos a conviver com gente no mercado.
Era o período daquele negócio de “Brasil Grande”, a influência do Estado era muito forte. Havia as grandes agências, mas o mercado era muito fechado, você só ia conhecer a publicidade quando entrava nela, quem não estava no ramo não tinha idéia de como que aquela banda tocava. Em 1974, eu e mais um grupo da Nacional participamos de um concurso universitário de campanha publicitária feito pela PUC, e nós ganhamos o segmento que havíamos escolhido: doenças venéreas. Fizemos uma campanha sobre prevenção de doenças venéreas e ganhamos, o prêmio era em estágio em Agência de Propaganda, escolhi o da área de mídia na JMM Publicidade, que era na Rua Almirante Barroso. Essa agência tinha a conta do Banco Nacional, um dos maiores anunciantes do Brasil, que deu origem ao nome do Jornal Nacional. O Jornal Nacional, não é por que ele fosse nacional, mas porque o patrocinador dele era o famoso Banco Nacional. Estagiei lá durante três meses. Quando acabou o período do estágio, fiquei só na Escola Nacional de manhã e na Escola Superior de Propaganda à noite. Em abril, o Mauro Monteiro, que estudava comigo na Escola Superior de Propaganda – hoje ele é diretor de Marketing do McDonald’s, é um publicitário conhecido –, era peladeiro, fazia Arquitetura e eu fazia Comunicação, ele estava trabalhando em uma agência e falou: ”Luis, quer trabalhar numa agência?”; ”Claro, eu estou fazendo Publicidade” “Estou trabalhando numa agência, eles estão precisando de contato” “Tô fora, eu não tenho o perfil de bater em porta, para pedir conta, para oferecer serviço e tal, não faz parte do meu perfil” “Não, essa agência é diferente, são quatro diretores, que são os donos da agência, e cada um deles tem um assistente, que é um cara mais novo, eles querem um cara recém-formado, ou que esteja para se formar, que não tenha vício de mercado, acho que você pode se dar bem lá. Me arranja o teu currículo, eu vou levar para o cara”. Ele levou o meu currículo, entregou para o Lindoval de Oliveira, que era o L da agência que se chamava L&M Propaganda. Três dias depois, ele disse: “Luis, o cara gostou do teu currículo, pediu pra você ligar para marcar entrevista, o telefone é esse, fala com a secretária”. Liguei e marquei a entrevista. O Lindoval me entrevistou e disse: “Você vai ser meu assistente, quer trabalhar?”; “Claro”, era tudo o que eu queria. Isso foi em maio de 1975, ia me formar em julho, disse: “Só para me ajeitar na vida, posso começar no dia dois de maio?”; “Pode”. Fui à faculdade e falei com todos professores: “Mestre, consegui um emprego, carteira assinada, vou trabalhar numa agência de propaganda, quebra o meu galho com a presença em sala, os trabalhos e as provas, eu venho fazer”, “Fica tranqüilo, você é um cara que sempre foi assíduo”. Em maio, eu comecei como assistente de contato do Lindoval de Oliveira, com carteira assinada, ganhando mil dinheiros da época, não me lembro se era Cruzeiro, Cruzado, Real. Esse cara tinha sido presidente da McCann Erickson Brasileira, está vivo até hoje. O filho dele é diretor de uma agência, o Gustavo, que eu vi moleque com 15 ou 16 anos, é um homem feito. Era uma agência média que estava contratando gente porque tinha ganho a conta da Embratel, uma conta grande. Começamos a lançar o DDD, não tinha DDD, para fazer uma ligação Rio - São Paulo, você pedia para a telefonista, ela ficava tentando até passar a ligação. O DDD foi um avanço tecnológico fantástico. Era preciso divulgar, ensinar as pessoas a usar DDD, cada praça que lançava tinha que fazer um anúncio. A agência ganhou dinheiro fazendo Publicidade, e eu aprendi muito na minha vida profissional sendo assistente desse cara, porque ele foi presidente McCann Erickson Brasileira tinha um status grande, tinha feito Escola Superior de Guerra, o cara era muito bem relacionado, me ensinava muito: “Meu prezado, isso aqui está horroroso, não é assim que se faz, tem que fazer direito”. Uma vez, ele me chamou na sala dele, e disse: “Queria que você fizesse isso”. E eu olhando para ele, e ele falou: “Guardou tudo que eu falei?”; “Guardei”; “Repete para mim”. E eu repeti tudo, tenho uma cabeça boa. “Faz o seguinte, na próxima vez que eu te chamar,
traz um lápis e um papel e guarda a tua cabeça para coisas importantes, se ao invés desse esforço para guardar, tivesse escrito num papel tu não precisava gastar teus neurônios com isso, guarda tua cabeça para coisas importantes.” Guardei isso até hoje, de vez em quando escrevo num papelzinho e guardo para não gastar minha cabeça, aprendi muito com ele, e passei na prova Petrobras graças a um ano e dez meses em que trabalhei com ele.
INGRESSO NA PETROBRAS
O anuncio foi uma coincidência, minha mãe até hoje se lembra disso. Eu tinha ido jogar futebol no sábado, quando cheguei em casa, no meu quarto, tinha umas bandeirinhas do Vasco, do Flamengo e do Fluminense, e tinha um recorte de jornal embaixo. Eu olhei o recorte, o anúncio dizia mais ou menos assim: “Empresa de grande porte procura profissionais de Comunicação, formados em cursos de quatro anos, reconhecido pelo MEC, para a contratação através de concurso público. Currículo para a portaria do Jornal do Brasil, até tanto do tanto.” Esse troço deve ser sério, porque eles estão pedindo profissional de Comunicação com curso de quatro anos, reconhecido pelo MEC. Na época, se chamava de Relações Publicas qualquer vendedor de livro, o cara ia vender biblioteca, enciclopédia a domicílio. Começavam a contratar como Relações Públicas, começou a dar um nó danado. Essa empresa sabe o que quer, falei com meu pai: “Vou mandar” “Filho, não manda não, me dá teu currículo que eu vou levar pessoalmente ao Jornal do Brasil, porque você sabe como que é esse negocio de correio, perde e tal”. O Jornal do Brasil era na Avenida Rio Branco. Ele levou o meu currículo em um envelope, endereçado direitinho, entregou na portaria, e disse: “Isso aqui é do meu filho, vocês não vão perder”; “O Doutor, pode deixar que eu entrego”. Uns 15 ou 20 dias depois, eu recebi um telegrama, dizendo que o meu currículo havia sido entregue, que a Petrobras ia fazer um concurso, para eu levar os documentos A, B e C. Fiz a prova em junho de 1976 e passei. “Vão chamar primeiro 12 ou 13 para o Rio de Janeiro”, aí vieram fazer as entrevistas, disseram: “Se você não ficar no Rio de Janeiro, quais são os lugares que você quer, por ordem de preferência, tem São Paulo, Brasília e Curitiba”. Escolhi Brasília, em segundo São Paulo e terceiro Curitiba. Chamaram o pessoal do Rio, não fui chamado, eu falei: “Bom, eu vou ficar em uma das três”. Em novembro eu fui a Petrobras e falei até com um cara que trabalha com a gente até hoje, o César, e disse: “Escuta, vocês vão chamar mesmo, porque eu trabalho, preciso de um tempo. Eu estou há quase dois anos sem férias, então preciso de um tempo para me organizar”. “Pode ficar tranqüilo que nós vamos chamar vocês no início de janeiro”; ”Então eu vou pedir demissão e vou ficar dezembro de férias e esperar me chamarem em janeiro”; “Pode pedir, que está certo”. No dia cinco de janeiro, recebi um telegrama para me apresentar na Petrobras, vim aqui e disseram: “Você pediu Brasília, São Paulo e Curitiba. Brasília você não vai poder ir porque a gente precisa de um cara com experiência para assumir a chefia do setor de Relações Públicas, e foi dada a preferência a uma pessoa que já trabalha na Petrobras há dez anos. Tem em São Paulo e em Curitiba, sua segunda opção foi São Paulo?”. Em Curitiba, era na Refinaria. Em São Paulo, eu pegaria um ônibus e, em oito horas, estaria de volta no Rio na sexta-feira. Curitiba não dava para vir. “Você vai pra São Paulo, tem que pegar tua passagem” “Quantos anos eu tenho que ficar lá no mínimo?” “Dois anos” “Eu posso ser transferido pro Rio?” “Se você conseguir”. Fiquei com São Paulo, assinei o meu contrato em 11 de janeiro de 1977, para trabalhar no Setor de Relações Públicas, se chamava assim. O corporativo aqui era o Serviço de Relações Públicas (Serpub), fiquei lá no Seresp, Setor de Relações Públicas do Estado de São Paulo, fiz o meu feijão com arroz, me dediquei, mas sempre pensando: “Vou voltar para o Rio porque a sede da companhia está lá”.
SERVIÇO DE RELAÇÕES PÚBLICAS / SÃO PAULO
O modelo é mais ou menos o que existe hoje. Havia o Serviço Relações Públicas na sede e alguns órgãos regionais, como o escritório de São Paulo, cuja atividade mais importante era Compras e Processamento de Dados, tinha uma área de Relações Públicas, a minha gerente era uma mulher, Estela Maris Rangel, e mais três pessoas. Fomos dois profissionais para lá, eu e a Meire, tinha sido admitido nesse concurso. As orientações vinham todas do Rio de Janeiro, tanto que nós fomos para lá e uma semana depois viemos passar uma semana aqui na sede para conhecer o órgão de Comunicação de Relações Públicas da Petrobras. A gente não tinha autonomia para fazer publicidade, informações para a imprensa, era tudo com a assessoria de imprensa aqui no Rio. Estávamos no Governo Geisel em processo de distensão, mas havia uma rigidez muito grande na Comunicação.
Literalmente, organizávamos os eventos internos, a Petrobras sempre teve preocupação com seu público interno. A gente tinha contato com acionistas da Petrobras. A cada ano havia eleição para um conselheiro da Petrobras, tínhamos que trabalhar para regimentar os votos necessários para preencher essa vaga, porque se deixasse o comparecimento nas assembléias nunca daria quorum. Fazíamos todo um trabalho de relacionamento com esses conselheiros, buscando fazer com que eles dessem uma procuração para que a Petrobras pudesse fazer esse trabalho, normalmente os conselheiros eram os ex-presidentes da Petrobras. Fazíamos algumas publicações internas, atendíamos a imprensa, fazíamos um filtro para mandar para o Rio de Janeiro. Era um trabalho dentro da Petrobras, uma empresa estatal, monopólio do Governo, em um regime militar fechado, então a sede da companhia já não fazia muita publicidade, e não podia botar anúncios no Estado de São Pauloe no Jornal do Brasil, sabíamos disso. Era a época em que o Estadão colocava as famosas receitas culinárias ou versos dos Lusíadas, no lugar de matérias censuradas. E não havia publicidade. “O pessoal do Estadão está aqui, querendo publicidade”, o cara dizia: “Não tem a menor chance, mande os
pararem de bater no Governo e na Petrobras, só assim eles conseguem publicar alguma coisa”. Isso nunca foi escrito, se você procurar, nem no Index prohibitorum deve ter, mas não podíamos botar anúncio nos jornais tais e revistas tais, isso era JB, Estadão, a Folha, que eram os maiores opositores ao Governo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Passei dois anos em São Paulo. Em dois de janeiro de 1979, eu estava me apresentando, transferido aqui pro Rio de Janeiro. Mas, nesse período, de 1977 a 1979, eu também dava muito suporte ao pessoal do Rio de Janeiro quando iam fazer eventos em São Paulo. A Petrobras tinha um trabalho grande de participar de exposições, fazer palestras em escolas, universidades, depois eu comecei a fazer algumas palestras também, não gostava muito, mas o pessoal dizia: “Você tem jeito, a gente manda a palestra pronta, você faz uma ou outra”, eu era muito escolhido também porque o pessoal ficava preocupado com as perguntas que faziam, eles escolhiam as pessoas que iriam falar em nome da Petrobras, eu dava muito apoio ao pessoal, gostavam de mim no Rio. “Esse cara trabalha direitinho”. Um dia, um cara me falou: “Luis, conversamos com o General Barros Nunes – chefe do Serviço de Relações Públicas – que queremos trazer você para o Rio, para trabalhar aqui na sede, mas alguém tem que sair daqui, a primeira vaga que tiver, você vem”. Em julho de 1978, me ligou o Murilo, meu primeiro chefe aqui, e disse: “Luis, um cara vai ser demitido da Área Internacional, fez uma besteira aí, nego já não gosta dele, nós vamos trazer você, se prepara”. Isso foi em julho, agosto nada. Em setembro: “Murilo, vocês não demitiram o cara?” “Aconteceu o seguinte Luis, o cara foi demitido, falamos com o teu chefe” – que era o Coronel Quirino, o chefe do escritório de São Paulo –, “Ele falou que só te liberaria no final do ano” “Só em dezembro?” “É, ele disse que você tem um plano à cumprir, quer te manter aí” “Vem cá, vocês não vão preencher minha vaga, aí não?” “Não, pode deixar que a tua vaga está guardada” “Eu posso confiar?” “Pode ficar tranqüilo”, saí do telefonema e fui lá no Quirino: “Coronel, queria falar com o Senhor” ; “Pois não” “Disse isso, isso, isso” “É verdade, eles me pediram, vou te liberar, mas só no final do ano, pra você cumprir o plano de trabalho aqui” “Então o senhor garante minha vaga lá, porque os caras me garantiram, mas nunca se sabe” “Pode deixar que eu já falei com o Barros Nunes, tua vaga está garantida” “Perfeitamente, promessa é promessa, palavra é palavra.” No final de dezembro já fui me despedindo, deixa eu passar uns dias lá no Rio, para ver apartamento. No dia dois de janeiro, eu estava me apresentando na sede da Companhia. Faltavam nove dias para completar dois anos, em São Paulo, onde fiquei de 11 de janeiro de 1977 à dois de janeiro de 1979.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
No Rio, eu vim para um lugar chamado Setor de Relações Nacionais, de uma divisão chamada Divisão de Relações no País (DIRELP), que tinha dois setores, esse de Relações Nacionais e o SEREMP, Setor de Relações com os Empregados. Nesse setor fazia um trabalho de relações públicas mesmo, em nível nacional, eles tinham um programa enorme de palestras em universidades, associações, escolas. Eles faziam todo recebimento e comunicação, por exemplo: o cara escrevia uma carta dizendo que tinha petróleo no sítio dele, tínhamos que fazer uma resposta explicando, só que já era tanto cara que dizia ter petróleo no sítio que o nosso departamento, o Departamento de Exploração e Produção, já tinha umas respostas padrão, só que não tinha computador, mas tinha secretária, a gente fazia um rascunho à mão, dizia: “Aqui, você põe isso, para o endereçado”, era muita coisa, atendimento a publico externo, as pessoas iam na Petrobras e paravam no nosso setor, umas 12 ou 13 pessoas, era uma coisa muito rudimentar. A IBM era o maior avanço que tinha, projetor de slides, filme de 16 milímetros, o projetor para fazer palestras.
PETROBRAS / MUDANÇAS NA ESTRUTURA
Em março de 1979, o [General João Batista] Figueiredo assumiu o Governo, e houve uma mudança grande, o General Araquém de Oliveira saiu e veio o Shigeaki Ueki para a presidência da Petrobras, ele tinha sido ministro das Minas e Energia do Governo Geisel. Aí tem uma grande virada na Companhia.
O Shigeaki Ueki mudou todo o chamado “Grupo Um” da Petrobras, que eram todos os superintendentes de Serviços e Departamentos, hoje se chama gerente-executivo. Ele foi mudando, mudou o Jurídico, mudou o Financeiro, havia gente que já estava mais de dez anos no mesmo cargo. A grande missão do Ueki foi, no final do Governo Figueiredo, aumentar produção da Petrobras de 150 mil barris de petróleo por dia para 500 mil barris. A Petrobras ia se dedicar a um esforço exploratório muito grande, o Ueki veio com essa missão, e para isso ele precisava mudar algumas coisas, senão ia ficar nessa toada. Ele foi mudando o “grupo um” todo, o último que ele mudou foi o General Barros Nunes, que era um cara muito forte. Ele tirou o Barros Nunes da Superintendência, porque ele já estava doente também, foi uma solução bem negociada, não houve nenhum impacto. Para o seu lugar trouxe o Carlos Alberto Rabaça para ser nosso gerente-executivo em outubro de 1979.
COMUNICAÇÃO / REESTRUTURAÇÃO
O Rabaça por sua vez veio com a ordem de mudar a Comunicação da Petrobras para adequá-la ao novo momento que o país passou a viver e que a empresa ia passar a viver. Ele promoveu uma reestruturação organizacional na Comunicação. a área de comunicação interna ganhou um status de divisão; saiu de setor para divisão. O Ueki tinha uma rejeição muito grande por parte do público interno porque tinha sido ministro, não foi aceito como residente da Petrobras, por exemplo, quando ele assumiu, o pessoal da Replan usou tarja preta no ombro. Nessa reestruturação, o Rabaça preparou uma divisão para cuidar de comunicação interna com a força de trabalho, essa divisão tinha dois setores, um de veículos internos que passou a editar o Jornal da Petrobras e comunicados internos, só para os empregados. E tinha um outro setor de promoções internas, encarregado de fazer eventos promocionais para os empregados no Rio de Janeiro e emitir diretrizes de orientações para que isso fosse replicado nas refinarias, nas áreas de produção.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Neste setor [de promoções internas] tive minha primeira função gerencial na Petrobras, em maio de 1980 quando foi implantado, me chamaram e disseram assim: “Você vai cuidar de público interno”, eu detestava empregado da Petrobras, mas disse: “A função gerencial é importante, eu preciso disso na minha carreira, vamos em frente”. Assumi a gerência, eu e mais três caras chefiavam e a secretária, quatro, pouca gente, mas fomos desenvolvendo um trabalho bom, conseguimos dar um bom desenvolvimento para a parte de esportes que já tinha uma estrutura. Os corais também; a Petrobras tinha vários corais espalhados, montamos uma sistemática boa, trouxemos o Armando Prazeres, maestro do coral da Interbrás, para ser o coordenador nacional dos nossos corais. A Interbrás era uma das subsidiárias, o vice-presidente era o Carlos Sant’Anna (irmão do Afonso Romano), ele gostava muito de música clássica, criou um coral próprio, embora o Edise [Edifício Sede] também tivesse um. O Prazeres já era o maestro, nós o contratamos para reger o coral daqui e ser o coordenador nacional. Além disso, tínhamos um programa de fazer visitas. E esses corais, o Prazeres ia, conversava com o regente local, a idéia era ter um repertório básico, para que todos os corais um dia pudessem cantar juntos, vimos algumas músicas que todos os corais da Petrobras cantavam, foram anos bons.
Antes havia dois setores dentro de uma gerência maior, era o setor de Relações Nacionais que eu participava e esse setor de relação com os empregados, basicamente fazia esporte.
OLIMPÍADA DE PERFURAÇÃO
Quando assumi a gerência, com a visão que o Rabaça trouxe, uma das ações que desenvolvemos foi uma determinação do Ueki: “Eu acho esporte importante, acho os corais importantes como integração, mas vocês precisam ter promoções substantivas, que estejam ligadas aos negócios da companhia”. Aí pensa daqui, pensa dali: “O que é que eu vou fazer?”. Alguém sugeriu uma olimpíada de perfuração, que seria uma disputa entre as plataformas da Petrobras que faziam o trabalho de perfuração, em um momento em que o esforço exploratório da companhia era grande, para atingir aquela meta. E para produzir tem que explorar, para explorar tem que perfurar. A Petrobras investia por ano três e meio bilhões de dólares, era dinheiro “pra burro”. Nós tínhamos um Grupo Executivo de Perfurações Marítimas o Gepem, que coordenava esse esforço exploratório, junto com ele desenvolvemos esse projeto, cuidamos da comunicação e eles cuidavam da parte técnica para poder avaliar qual a plataforma perfurou mais e a que perfurou menos.
Estabeleceu-se que a cada quatro meses seria divulgado o resultado cuja avaliação e pontuação seria definida por esse órgão, pelos especialistas de perfuração, e a nós caberia fazer o evento de premiação na plataforma, a divulgação na Companhia e o reconhecimento das equipes. Tinha um troféu que circulava em cada plataforma. Eu e o superintendente de operações, Kalil Sahyoun, íamos para a plataforma fazer a entrega do troféu, entrevistávamos os caras da equipe, tirávamos foto para o jornal da Petrobras. Cada participante ganhava uma medalhinha, se ganhasse uma vez era um símbolo da Petrobras, duas vezes eram dois e quem ganhasse a terceira ficava de posse definitiva do troféu, como a taça Jules Rimet. A idéia foi essa, uma promoção que o Shiegeki Ueki chamava de substantiva, fizemos isso durante uns quatro anos.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu fiquei lá até 30 de setembro de 1986, quando houve outra reestruturação na Comunicação, já com outro superintendente. Eu era o único formado em Publicidade na Comunicação, tinha poucos profissionais, a Petrobras fazia pouquíssima publicidade. O Rabaça ficou de outubro de 1979 a julho de 1981, quando ele saiu, veio um cara que era da Interbrás o Atam Barbosa. Veio para ser superintendente, manteve praticamente a mesma estrutura, só trouxe um cara para ser assessor de Imprensa, o Gilberto Nahum. O Celso Mansur, que ocupava esse cargo, foi promovido à superintendente-adjunto. A estrutura foi mantida, manteve-se o gerente, manteve-se tudo.
O Atam Barbosa ficou até março de 1985, aí mudou tudo, Nova República, Tancredo Neves, José Sarney. O Hélio Beltrão veio ser presidente da Petrobras e uma semana depois ele trocou o Atam pelo Guilherme Duque Estrada, que também mudou a Comunicação da Petrobras. O Beltrão cunhou uma frase logo que assumiu dizendo o seguinte: “Os grandes inimigos da Petrobras são a desinformação e o preconceito”. A gente discutia que [para combater a] desinformação poderíamos trabalhar com contra-informação, agora pré-conceito tem que mudar uma série de coisas. O Guilherme ao mesmo tempo de um trabalho de procurar saber o que tinha havido durante aquele período foi trabalhando uma reestruturação na Comunicação. Ele tinha uma experiência gerencial muito boa e preparou essa reestruturação que foi implantada em primeiro de outubro de 1986, ele já tinha me dito quando eu estava trabalhando em uma missão em Manaus: “Eu vou fazer uma reestruturação e você vai ser o meu homem de publicidade. Até porque o único cara que tem formação em Publicidade aqui é você.” “Mas eu tenho formação em trabalhar em agência antes de vir para cá, são duas coisas diferentes.” “Tudo bem. Você vai ser o cara de publicidade.” Eu até brinquei assim: “Primeiro de outubro vou estar saindo de férias.” “Não tem problema. Chega no meio de outubro e você começa efetivamente.” Eu assumi o setor de publicidade em 1986,
com cinco agências de propaganda trabalhando: SGB, MPM,
Artplan, tinham mais duas, eram cinco agências.
Os setores tinham quatro pessoas, mas era tão pouca publicidade que se fazia que não sei qual critério foi usado para as cinco agências. Foi feita uma concorrência, escolheram cinco agências, dividiram a conta: a SGB fazia fertilizante, a MPM fazia publicidade internacional, a Artplan trabalhava com distribuição. O Guilherme Duque Estrada, o cara que preparou um plano de comunicação em 1986, botou todos os gerentes para discutir um plano de comunicação e se preparar para onde iríamos.
Quem mudou para Sercom [Serviço de Comunicação Social] foi o Rabaça, o Guilherme manteve, mas depois tivemos que mudar para Serinst [Serviço de Relações Institucionais] em 1992. Ele manteve Sercom, porque Relações Públicas ficou desgastado. O Guilherme mudou a estrutura, um plano de comunicação mesmo. Discutindo com todos os gerentes quais são os objetivos, como nós iríamos chegar lá, não que antes não se trabalhasse com planos, se trabalhava, mas este foi um primeiro momento em que se tinham objetivos para apoiar o negócio da Companhia, para a Comunicação trabalhar mais aliada com a Companhia. Antes, a Comunicação era um órgão afastado.
CAMPANHA PUBLICITÁRIA / BR
O chefe de setor não tinha competência para autorizar um realzinho da época, a gente só podia dizer não, para dizer sim tinha que ter a benção de um gerente, de um superintendente. Procuramos trabalhar com outros pontos, por exemplo, a gente já tinha pesquisas que mostravam a imagem da Petrobras muito associada ao posto de gasolina, que era da BR. Discutindo com o Guilherme pensamos: ”Nós temos que nos aproximar da BR, fazer um trabalho conjunto”. A partir dali, em 1987, fizemos a primeira campanha de posto da Petrobras. A BR só trabalhava com lubrificantes, com a linha Lubrax. Nós assumimos o encargo, financeiro e de planejamento, de trabalhar a imagem dos postos da Petrobras, claro que trabalhávamos associados à BR, mas para a BR era tudo que o filho queria de um pai: “Vou fazer campanha publicitária usando o teu posto, você não vai pagar nada, então ótimo”. Foi um casamento muito bom. Em 1988, era o Ozires Silva, o presidente da Companhia. Começamos a desenvolver ações promocionais com a Petrobras Distribuidora, usando o posto, tinha um grupo de trabalho de imagem e atendimento aos postos Petrobras, que era Petrobras e BR, eu era o representante da Petrobras. Discutíamos semanalmente. Não adiantava fazer publicidade dizendo que o teu posto era bom, se o frentista não estava treinado e não estava imbuído dessa vontade de atender bem o cliente, havia todo um trabalho de Comunicação, mas tinha que estar respaldado por um treinamento e uma motivação desses caras que trabalhavam nos postos. Desenvolvemos disputas entre os postos, através daquela técnica do cliente fantasma que visitava os postos sem se identificar e fazia uma avaliação. Fizemos promoções chamadas Desafio BR, eram desafios entre as praças, fizemos primeiro no Rio de Janeiro, depois em São Paulo, Recife, Salvador, Brasília. A gente preparava os postos: “Vai ser uma campanha publicitária, estimulando os caras a usarem os postos Petrobras, ao mesmo tempo vocês vão ser avaliados por consumidores fantasmas, quem se destacar em vendas, em alguns outros indicadores, vai receber prêmios”. Quando se tinha uma inflação de 20% mês, você dava ao cara 30 dias para ele pagar o produto que recebia da Petrobras, ele estava recebendo desconto financeiro muito bom, o prêmio do dono do posto era exatamente do bolso dele, os caras vestiam literalmente a camisa da promoção, a gente tinha resultados excelentes, mediamos antes, durante e depois da promoção o aumento de vendas. As promoções se pagavam e, ao mesmo tempo, a gente tinha a imagem divulgada na campanha, era um trabalho muito bom, a cada ano fazíamos um evento em uma praça. Quando eram praças menores, fazíamos uma no primeiro semestre e outra no segundo, foi muito bom, mas terminou no Governo Collor, porque eles acabaram com a publicidade das empresas de governo. Eles mandaram rescindir os contratos, e a gente deu uma parada nessa parte de publicidade.
REESTRUTURAÇÃO DA PETROBRAS
Eu fiquei como gerente do Setor de Publicidade até março de 1996, quando houve outra reestruturação, o gerente já era o Mario Divo, que assumiu em julho de 1995. Em março de 1996, houve uma reestruturação, eu saí de Publicidade, fui para Relações Públicas, foi criada uma coordenadoria de Relações Públicas mudou o nome, fiquei lá. Na época, o modelo de gestão, o modelo de organização da Petrobras, suprimiu os setores abaixo da divisão, era uma divisão com dois ou três setores. Com esse novo modelo que a Petrobras adotou em várias áreas acabaram as gerências abaixo e se manteve só um coordenador em cima, foi péssimo. No modelo atual, você tem um gerente com dois ou três gerentes abaixo, então você conversa com três ou quatro pessoas. Quando isso acabou, se passou a ter o coordenador e uma equipe que podia ter sete pessoas, ou vinte e duas, e coitado do chefe para atender 22 pessoas, cada um com suas tarefas. Partimos para algumas soluções heterodoxas, criávamos núcleos dentro da coordenadoria, e elegia-se um cara: “Você vai ser supervisor desse grupo, mas não vou te dar função remunerada, porque eu não posso”. A gente tinha que fazer, porque não tinha como conversar com 22 pessoas todos os dias, com assuntos diferentes.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fiquei na Coordenadoria de Relações Públicas, de março a dezembro de 1996. Em janeiro de 1997, voltei para a Coordenadoria de Publicidade e Patrocínio. Houve uma mudança, o nosso cara da Área Internacional foi para o Equador e o Milton que era o Coordenador de Publicidade e Patrocínios foi para a Área Internacional, e eu voltei para a Publicidade e Patrocínios. Quem foi para o meu lugar foi o Luis Eduardo Bastos. Fiquei efetivamente nove meses na área de Relações Públicas e voltei para Publicidade, seis meses depois eu virei superintendente. O Mario Divo saiu, foi ser superintendente do Sercom [Serviço de Comunicação Social], em junho de 1997 aí eu assumi a superintendência da Comunicação toda. Trouxe o Luis Fernando Nery, que era da Petrobras Distribuidora, para ser o cara de Publicidade, ele já cuidava disso, eu já o conhecia, então disse: “Vou ter que botar um cara que entre com o carro andando, ele só entra, pula dentro da janela, e continua a tocar, não dá para parar o carro, abrir a porta, e explicar como funciona”. O Luis ficou comigo enquanto eu fui superintendente. Fiquei lá até junho de 1999 quando saí da Superintendência e resolvi sair da Comunicação, disse: “Está na hora de mudar de ares”. Fui para a Petroquisa, fiquei seis meses, mas não era o que eu queria.
Fiquei trabalhando para o vice-presidente, mas não tinha atribuições específicas, aproveitei para dar uma descansada, e disse: “Tenho que me mexer aqui, vou buscar alguma coisa que me interesse”. Estava sendo implantado SAP-R3 na Petrobras, alguém falou com o Jorge Matos, que era o gerente desse projeto, e o Jorge: ”Eu estou precisando de gente aqui que seja referência na Petrobras para dar visibilidade ao projeto”. Aí me convidou e disse: “Luis, vou ter uma Coordenadoria de Comunicação, aqui no projeto Sinergia, já convidei o Calmon” – que eu conhecia, e era um cara da Bahia – “Mas quero que você trabalhe junto com ele, vocês dois vão ser Coordenadores”; “Vai ser legal, um desafio novo”. Voltei para ser coordenador de Comunicação, no Projeto Sinergia, junto com esse colega, aqui no Rio de Janeiro. A gente ficava no Edihb [Edifício Horta Barbosa] no Maracanã, trabalhei lá porque era interessante o que se tinha, era uma mudança, era uma gerência chamada Gestão da Mudança. Tínhamos que preparar as pessoas para a entrada de um sistema que trazia embutido o medo da perda do trabalho. Não era cultura, nem interesse, nem intenção da Petrobras demitir gente cujas atividades iam ser absorvidas por esse novo sistema, mas as pessoas sempre acham que: “Se o que eu fazia vai ser feito por outro o que eu vou fazer? Eu vou ficar sobrando? Vão me mandar embora”. Teve todo um trabalho de comunicação para que as pessoas entendessem que, se suas funções deixassem de ser desempenhadas por conta da implantação de um sistema, ela seria treinada para desempenhar outra atividade. Imagina a comunicação trabalhar isso no Brasil, montamos um sistema itinerante, com exposições nas unidades mostrando o que era o sistema. Você digitava uma coisa aqui e na mesma hora todos os sistemas similares iam ser alimentados. A Petrobras tinha 900 e tantos sistemas trabalhando independentemente, você recebia a mesma coisa dita de oito formas diferentes. Foi um trabalho muito legal, trabalhei lá de maio de 2000 até fevereiro de 2002, quando saiu o então presidente e levou com ele a pessoa com quem eu havia me desentendido quando era gerente que era consultor do presidente. Eu vim de um modelo onde se discutia os assuntos diretamente com o presidente da Petrobras: “Isso não vai dar certo, porque eu só vou ficar com o ônus de assinar os papéis, vou tomar decisões que não vão ser minhas, uma coisa é o presidente da companhia dizer vamos fazer assim e eu digo tudo bem, tem como registrar, e outra é um consultor dele dizer vamos fazer assim” eu não concordar. Eu não ia durar muito tempo. Esse consultor, era um homem de confiança, chama-se Alexandre Machado, mas era o modelo, na minha visão, que não funcionava. Acharam que funcionaria na Petrobras, mas eu sei que não funcionou. Eu disse: “Vou sair. É só uma questão de tempo, vou esperar que ‘me saiam’, eu não vou pedir para sair.” E aconteceu em junho, saí numa boa, eu tenho na minha ficha um elogio da diretoria-executiva que me destituiu, pela forma como eu me desincumbi das minhas funções como gerente-executivo. Saí em janeiro de 2002, porque o Philippe [Henri Philippe Reischtul] pediu as contas. Saiu o Alexandre com ele. O meu plano, independente do Philippe estar ou não, era voltar para Comunicação em 2002, porque em 2003 mudaria o Governo. Qualquer que fosse o governo, eu queria voltar para Comunicação em 2002 porque o que passou, passou e o que vem pela frente sempre temos condição de enfrentar de uma maneira melhor. Em fevereiro de 2002, eu falei com o Ricardo Vieira que tinha sido gerente-executivo: “Ricardo, quero voltar.” “Eu estava pensando em te chamar mesmo, ótimo”. Voltei em fevereiro e 15 dias depois o tiraram da Superintendência. Veio o Antônio Sergio Fragomeni que assumiu de março a dezembro de 2002. Em julho, eu fui nomeado gerente de Atendimento da Comunicação. Em 2003, na atual gestão, o Santarosa veio e continuei como gerente de Atendimento. Em novembro de 2004, eu voltei para a Publicidade. Eu era gerente de Atendimento e fui ser gerente de Publicidade no lugar do Eraldo Carneiro, que foi ser gerente de Planejamento.
COMUNICAÇÃO / CRESCIMENTO DA ÁREA
Primeiro é importante ressaltar a dimensão que a função de comunicação tomou nos últimos oito anos, na grande virada que a companhia deu a partir de 2000. Hoje ela é considerada uma função estratégica, sempre esteve ligada ao presidente da Petrobras, mas percebemos que nos últimos oito ou dez anos ela se tornou imprescindível para a Companhia. Isso é muito importante porque o cara de comunicação dizer que ele é importante é uma coisa, agora ele ser percebido como importante pelo resto da organização é outra. Percebemos, claramente, a necessidade dos órgãos pela função de comunicação. Ela é tão grande que gera até algumas distorções, como por exemplo, a grande quantidade de órgãos de comunicação que temos espalhados pela Companhia, se você fizer uma análise fria em relação a isso, verá que está mal dimensionado. Você pode ter alguma relação corporativa com alguns braços, mas a Comunicação Coorporativa não pode ser fragmentada e, hoje, ela está fragmentada. Por conta disso, fugiu do nosso controle. Como a Petrobras vai passar por um processo de reorganização muito grande provavelmente até o final deste ano [2008], acreditamos que esse ponto vai ser levado em conta porque já existe o entendimento da alta administração que do jeito que está não vai poder continuar. Houve um crescimento desordenado da atividade na companhia e, certamente, ele vai ser trazido à dimensão que ele deve ter em termos organizacionais. O foco da Comunicação está muito voltado, na minha visão, para o negócio da Companhia, isso é importante. A percepção que temos da comunicação trabalhar como facilitador de negócio da companhia, passa por marca, por uma série de coisas, pelo envolvimento que temos que ter com o marketing da Companhia. Nós não somos detentores do marketing. Eu costumo brincar que dos quatro Ps do marketing só temos a promoção, preço, produto e mercado não são variáveis sobre as quais temos o controle. Promoção e publicidade, nós temos o controle, são instrumentos da comunicação, isso é mantido e vai ser mantido sempre. A atividade da Comunicação é um mundo hoje na Petrobras. Na minha opinião, é a maior estrutura de comunicação que existe no Brasil, inclusive se confrontada com a iniciativa privada; não ficamos nada a dever para Unilever ou para outras grandes. Mas nós temos um foco muito grande na nossa imagem e na nossa marca, não que elas não tenham, elas têm o foco no produto até porque o produto que elas disputam é muito mais acirrado. Fazer uma garrafa de água mineral é bem mais fácil do que fabricar um litro de gasolina, há uma série de fatores que tem que ser levados em conta. A atividade de comunicação da Petrobras, e não sou eu quem diz isso, o reconhecimento que a Petrobras recebe do mercado do meio de comunicação através das premiações falam por si.
PUBLICIDADE PETROBRAS
Toda a publicidade da Petrobras fica centralizada no órgão coorporativo, é o órgão de Publicidade da Comunicação, isso aí é uma diretriz mundial das grandes empresas que a Petrobras consegue manter na sua estrutura. A Coca-Cola, por exemplo, define as suas diretrizes de publicidade em Atlanta e manda para o mundo, o máximo que o cara pode fazer é um filme local, mas com aquilo tudo é mais fácil ele até nacionalizar o filme estrangeiro, isso a Petrobras conseguiu manter muito.
Fazemos toda a publicidade da Petrobras, para o Abastecimento, para Recursos Humanos, quem precisa de um anúncio, de uma publicidade busca isso na Comunicação. Só nós temos contrato com as agências de publicidade, porque isso demanda relações inter-órgãos, a Petrobras tem uma supervisão da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, nós somos auditados por entidades internas e externas à Petrobras. Em função daquele escândalo, em 2005, envolvendo Governo, teve um momento em que se questionou muito a honestidade da atividade de publicidade, porque se usou a agência para fazer negócios escusos da mesma forma que nos anos 70 e 80 usaram-se as empreiteiras, escolheu-se agências de publicidade como poderiam ter escolhido agências de turismo ou algo similar, mas o mercado mesmo corrigiu isso através de ações de instituições, de entidades de classe, Associação Brasileira de Propaganda, Associação Brasileira de Agência de Propaganda, a Associação Brasileira de Anunciantes, e mostrou ao consumidor que publicidade não era um negócio sujo que foi maculado por conta de dois ou três elementos que usaram isso para negociar.
A Publicidade na Petrobras é una, só ela que controla a publicidade, isso é fundamental para a nossa marca e a tendência é expandir junto com a atividade da Companhia. O orçamento é significativo em termos de Brasil, de anunciantes, talvez nós estejamos entre os dez maiores anunciantes do Brasil. Cerca de 25%, entre 20 e 25%, do orçamento é da Publicidade. É razoável, mas é compatível com a dimensão da Petrobras, com a dimensão da atividade de comunicação e com a dimensão de publicidade que temos que ter. Se nos anos 70 o orçamento de publicidade era insignificante dentro da Companhia, que não tinha a dimensão que tem hoje, ao longo de 30 anos, eu pude acompanhar as mudanças na conjuntura da política econômica do país, a mudança no conceito de comunicação. A Petrobras teve uma capacidade de acompanhar isso sem nunca extrapolar para mais, isso é muito importante. Ela não saiu fazendo publicidade de uma hora para outra, isso acompanhou um posicionamento da Companhia dentro desse contexto, ela cresceu quando teve que crescer, deu uma segurada quando teve que dar uma segurada, foi fazer publicidade no interior quando tinha que fazer, isso foi muito coerente.
CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS
Tem uma coisa que eu acho que foi marcante: a primeira campanha de postos que fizemos em 1987. Foram três filmes: Maitre, Médico e Analista, os títulos eram esses. Essa campanha foi criada pelo Fábio Fernandes, diretor de criação da Artplan (hoje é presidente da F/Nazca Saatchi & Saatchi uma das maiores empresas de publicidade do Brasil, faz parte de um dos maiores nomes de comunicação do mundo). Eu estive com ele tempos atrás e lembramos da aprovação dessa campanha, que marcou muito, porque os filmes eram muito bem humorados. Eles remetiam ao ambiente de um posto de serviço, eram situações não corriqueiras naquele ambiente: o cara parava o carro no posto e o Maitre oferecia uma lata de Lubrax para ele, perguntava se ele não queria comprar a gasolina; com o médico, o carro chegava quicando no posto, passando mal, o médico entrava e ressuscitava o carro, seria mote inclusive para duas empresas que fizeram alguma coisa nesse sentido, não necessariamente em peso de petróleo; e o terceiro era um analista, o cara entrava no posto e começava a falar o carro estava com problema e o doutor Freud recomendava a ele um tratamento no posto Petrobras. Essa campanha me marcou muito.
Sem dúvida nenhuma, a campanha dos 50 anos da Petrobras, mexeu com todos nós, foi uma campanha maravilhosa. Foi feita por três agências, a Quê Comunicação, com a participação também da Contemporânea Propaganda e da DPZ Propaganda, as três atendiam a conta naquela época. Mas a Quê Comunicação foi a condutora porque o Ercílio Tranjan é um grande publicitário, a concepção da campanha foi toda dele.
Atualmente, eu não posso listar essa Nova Era porque ela está associada efetivamente a uma mudança de patamar da Petrobras como empresa no mundo, ela deixou de ser uma grande empresa no Brasil e passou a ser uma grande empresa em termos mundiais. Subiu ainda mais com essa descoberta do pré-sal. Essa campanha foi muito feliz quando usou esse conceito de uma “nova era”. Foi no início desse ano que as coisas começaram a repercutir, houve a descoberta do pré-sal, a gente estava engatinhando e apostamos nesse conceito, Nova Era, a Petrobras está em uma nova era e isso está se confirmando. Nós estamos em setembro de 2008 e as descobertas estão ratificando o peso que isso vai ter no crescimento da companhia. Talvez tenha algumas outras.
Foram muitas campanhas que fizemos, mas basicamente essas três me deixaram bastante marcado. Aquelas promoções que fizemos com os postos Petrobras nos anos 80, aquele desafio BR que eu falei também foi importante pelo envolvimento, teve muita gente envolvida nessas campanhas e os resultados que elas apresentaram foram muito legais. Fizemos algumas promoções fortes na época de Copa do Mundo, campanhas com Luis Fernando Guimarães. As campanhas de postos da Petrobras sempre tiveram uma receptividade muito boa, porque sempre souberam usar o humor. O nosso concorrente, a Ipiranga, também tem um viés muito bom nessa linha de humor, porque ninguém fica feliz ao entrar no posto de gasolina. A luz, você usa e só reclama da conta uma vez no final do mês. Quando se entra num posto, se reclama a na hora que se bota a mão no bolso e se paga. É uma diferença de processo, de procedimento. Então essas campanhas são marcantes.
CASAMENTO
Eu me casei duas vezes. O primeiro casamento teve muito a ver com Petrobras. Em janeiro de 1977, quando entrei, eu já namorava uma mulher há cinco anos, e a minha ida para São Paulo sozinho fez acelerar o processo de casamento. A minha idéia era casar no final de 1977, mas quando fui para São Paulo, e vinha toda sexta-feira, falei: “Ah está na hora de casar.” Casei em junho de 1977, e fomos para São Paulo, eu já tinha o meu apartamento lá, mas foi um processo, acelerou. Não sei se eu tivesse entrado para a Petrobras no Rio de Janeiro, teria casado em dezembro de 1977 ou mesmo se teria casado com ela, mas a ida para a Petrobras acelerou meu casamento. Eu fiquei casado com ela sete anos, voltamos para o Rio, e me separei em 1984. Depois conheci outra mulher e estou casado com ela até hoje, há 25 anos.
FILHOS
Com a minha primeira mulher, eu não tive filhos. Tive dois com a minha segunda mulher. Ela tem dois filhos do primeiro casamento. São quatro homens: o Daniel, com 28 anos, e o Gabriel com 26, são os dela. O Alexandre com 18 e o Leonardo com 16 anos, os mais novos são os meus. É uma turma. O Daniel e o Gabriel, quando eu a conheci, um tinha dois anos e o outro quatro, eles cresceram comigo. Se contar comigo no gol, já temos um futebol de salão.
LAZER
Nas minhas horas de lazer, eu gosto de ficar na minha casa, curto muito minha casa. Estou voltando a jogar futebol, mas por uma contusão no joelho estou insistindo até aprender. Gosto muito de praia, sou rato de praia mesmo. Gosto de ver televisão, sou o rei do controle remoto. A televisão da sala é minha, vejo dois, três programas ao mesmo tempo. Gosto também de conversar com os amigos, tomar um chope. Não sou de pegar carro para viajar, detesto Dirijo o mínimo possível, venho para o trabalho de metrô e de ônibus, volto de ônibus, tem um carro lá em casa e eu deixo para os meus filhos que já dirigem. Eu gosto de ficar no meu mundo, não sou de grandes aventuras. Gosto de cinema e de teatro. Saio com minha mulher, Liliane, toda sexta-feira, é o dia que saímos para namorar, porque quando os garotos eram pequenos não tinha tempo para conversar, para fazer nada, então a gente adquiriu o hábito de que sexta-feira o papai e a mamãe iam namorar. Então, na sexta-feira, saímos para tomar um chope em um barzinho perto de casa; mantemos esse hábito até hoje.
IMAGEM PETROBRAS
Hoje, eu estava dando os parabéns a um rapaz que trabalha comigo, ele fez aniversário ontem e, na minha gerência, eu instituí que no dia do aniversário do cara, se ele efetivamente não tiver a necessidade de vir trabalhar, ele pode ficar em casa. Eu acho que aniversário é para você celebrar com sua família, com seu namorado. Se não houver necessidade de vir, não venha trabalhar, fique em casa, mas se tiver que vir, vem e não tem compensação, da mesma forma se teu aniversário cair em sábado, domingo e feriado. Eu fui dar os parabéns para ele e falei: “Hugo, parabéns, quantos anos? 22?”. Ele falou: “Não chefe, 30.” Eu falei “Quer trocar comigo? Eu te dou os meus 57 e você me dá os seus 30?” O que a gente faz aqui na Petrobras marca para sempre, ás vezes, a minha mulher ri quando eu digo: “Eu vou lá em casa.” Às vezes, “lá em casa” é a Petrobras; você acaba fazendo da Petrobras a tua casa, o que é verdade porque você passa mais tempo aqui do que em casa. Eu tenho 31 anos de Petrobras, tenho mais dois fora, 33, mas eu já botei na cabeça que só vou me aposentar em 2017 quando tiver 40 anos de Petrobras, aí eu vou pensar em me aposentar. Não tenho a mínima vontade de largar até porque eu estou vendo que a Companhia vai crescer ainda mais e eu quero estar junto. Isso aqui é uma verdadeira cachaça no bom sentido. Vou para a nova era.Recolher