A gente na Copa – História da gente que faz o país do futebol
Depoimento de Rogério Gomes da Silva
Entrevistado por Tereza Ruiz
São Paulo, 19/12/2013
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV_442_Rogério Gomes da Silva
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então primeiro, Rogério, eu queria que você dissesse para gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Rogério Gomes da Silva, nascido dia 15 de junho de 1983, em São Paulo capital.
P/1 – E seus pais também, nome completo da mãe e do pai, se você souber data e local de nascimento também.
R – Meu pai, Severino Gomes da Silva, ele nasceu dia 18 de maio de 1947, nasceu na cidade de Queimadas, na Paraíba. Minha mãe nasceu no dia 26 de fevereiro de 1957, nasceu em Jussiape na Bahia.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Eu tenho uma irmã mais nova.
P/1 – Qual que é o nome dela?
R – Arlete Avani Gomes da Silva. Ela nasceu em São Paulo dia oito de julho de 1984.
P/1 – E o que seus pais faziam?
R – Meus pais faziam...
P/1 – O que eles faziam para ganhar a vida? Com o que eles trabalhavam? Ou fazem ainda, né?
R – Meu pai ele veio do Nordeste muito cedo para São Paulo, então ele começou como cobrador de ônibus para conhecer a cidade, não se perder, porque ele tinha medo da cidade grande. Só que a vocação dele era trabalhar com comida, então assim que ele trabalhou de ônibus, conheceu a cidade, não se perdia mais, ele começou como ajudante de cozinha num restaurante até famoso, o Dinho´s Place e trabalhou lá por anos até sair e abrir o dele. Minha mãe quando chegou em São Paulo, veio também jovem, trabalhou em casa de família, depois trabalhou numa distribuidora como auxiliar e quando conheceu o meu pai, viu o sonho do meu pai de ter um restaurante e ela cozinhava bem, gostava, e montaram, abriram um restaurante. E estão até hoje.
P/1 – Que restaurante eles abriram? Onde é? E qual que é o perfil do restaurante?
R – Então, hoje o bar é conhecido como Bar do Biu, já tem 33 anos de bar, fica na Rua Cardeal Arcoverde, número 776, esquina com a Rua João Moura. É um bar mais tradicional, tem comidas tradicionais e nordestinas também. Como os dois são nordestinos, criaram muitos pratos nordestinos, que é o sucesso da casa hoje. E eu trabalho com eles lá também então.
P/1 – Agora eu queria que você contasse um pouco, você passou a sua infância em São Paulo. Você lembra bem assim a região que você morava? Queria que você descrevesse um pouco como era a sua casa, como era o bairro, a rua.
R – Quando eu nasci, eu morei os primeiros meses na Cardeal mesmo, onde o primeiro local que foi o bar, que o bar era embaixo e a gente morava em cima, mas assim que eu nasci. Mas alguns meses depois, a gente morou em Itaquera, só que como eu era muito pequeno eu não tenho muitas lembranças de Itaquera, porque eu morei lá dos primeiros meses até os dois anos de idade e aí eu voltei para Cardeal onde moro até hoje.
P/1 – E você lembra como é que era na época assim a Cardeal, Pinheiros, essa região?
R – Não tinha a quantidade de prédios que tem hoje, ainda não tinha essa verticalização aí monstruosa, então eu me lembro de algumas áreas verdes, me lembro da Praça Benedito Calixto, que é perto, que eu frequento desde criança. Então, me lembro das mudanças da praça.
P/1 – Como é que era a praça na época assim? O que é que é diferente do que é hoje?
R – Era mais verde, apesar de que fizeram uma reforma agora e está bem verde, mas era mais ainda, tinha muito mais árvores. Já tinha feira tradicional de sábado de antiguidades, só que antes era frequentado por senhores de idade, hoje já é um povo mais hippie. Você vê uma diversidade de tribos grandes, mas há 25 anos eram só senhores de idade e tal. A rua era bem menos movimentada do que é hoje, tinha muito mais empresas grandes, empresas de 200, 300, 500 funcionários.
P/1 – Como o que? Você se lembra de alguma assim?
R – Tinha uma empresa de audiovisual, uma empresa de propaganda, aliás, que fazia, por exemplo, aquelas propagandas o outdoor de Fórmula 1. Então, nessa empresa tinha 100 funcionários. Tinha uma metalúrgica também do lado que trabalhavam umas 300 pessoas.
P/1 – Ali na Benedito isso?
R – Não. Na Cardeal, próximo ao bar. E tinha também uma gráfica de também outros 200 funcionários. E o bar, o nosso bar, vivia muito em função dessa turma, porque como eram empresas grandes, muitos funcionários, então tinha café da manhã, tinha aqueles que gostavam de tomar a cachacinha. Aí, tinha o almoço e depois a cervejada. E aí eu lembro que foi uma época assim, essas empresas começaram a falir, quebrar e tal. Aí, foi um período muito ruim para o bar assim, foram uns anos que a gente teve que se reinventar para continuar firme e hoje, graças a Deus, está onde a gente está assim.
P/1 – Mudou muito o público, a frequentação.
R – Mudou. Mudou muito, porque há 20 anos a gente era em função dessas empresas. E elas quebraram e não tinha mais esse público, a gente passou por uns perrengues até fazer uma nova cara, ter uma nova identidade e construir um novo público.
P/1 – E qual que é o perfil, assim, do bar hoje? Quem são as pessoas que frequentam?
R – Hoje, graças a Deus, a gente atingiu todos os públicos. A gente não tem uma cara assim, a nossa cara é família, porque como a gente trabalha em família, eu, o meu pai, a minha mãe, vem muita família, vem muita empresa, vem pessoal que está passando para balada e conhece o bar, aí vem comer, traz a família. As pessoas que moram, vem muita gente de longe também, que acabam conhecendo e acabam vindo de longe.
P/1 – De outras regiões de São Paulo você diz?
R – É.
P/1 – E voltando agora um pouco para sua infância assim, as brincadeiras, quais que eram? Do que você brincava? Onde você brincava?
R – Eu quando tinha liberdade de sair, depois dos dez anos, eu ficava na praça. A gente tinha um grupinho de futebol e jogava futebol o dia inteiro, todo dia, o dia inteiro, todo dia.
P/1 – Com quem você jogava?
R – Com os amigos vizinhos mesmo. Era, tipo, tinha a galerinha que todo dia dez da manhã estava na praça. Então, eu lembro de dias de eu chegar à praça dez da manhã e sair cinco da tarde com minha mãe vindo do bar: “O que você está fazendo aqui ainda, menino? Vamos para casa. Você não comeu”.
P/1 – E vocês jogavam futebol na praça? Na Benedito?
R – Jogava futebol. Até hoje tem uma quadrinha cercada lá, que antes nem era tão cercada, não tinha gol, a gente improvisava com blusa, com tênis, pedras. E era nossa diversão.
P/1 – E sua família gostava de futebol?
R – Gosta. Tipo, meu pai santista, tradicionalzão. Minha mãe é corintiana por minha causa, mas de boa assim, nada demais também.
P/1 – E você se lembra quando que você decidiu ser corintiano e por quê?
R – Meu sonho de criança era ir no estádio. Eu até os meus dez anos de idade o meu sonho era ir para o estádio, porque meu pai santista, ele não era tão fanático, então não tive muita influência do meu pai. Eu tinha muitos amigos que frequentavam o bar, muitas pessoas que frequentavam o bar que queriam fazer a minha cabeça, torcer para um time, torcer para outro. Eu ficava assim: “Não, mas eu quero ir para o estádio. Eu preciso ir para um jogo de futebol”. E é uma coisa que eu amo fazer até hoje.
P/1 – Mas nesse momento, isso com uns dez anos você falou, mais ou menos.
R – É.
P/1 – Você já tinha um time escolhido ou ainda não? Você ainda não sabia?
R – Era aquela fase vira-casaca. Como o meu pai era santista, você fala santista, só que meu pai não era muito de futebol, fanático. Aí, tipo, São Paulo estava jogando bem naquela época e aí chegaram até a me dar a camisa do São Paulo e eu falar: “Putz, são paulino, será? Não sei o quê?”. Só que a minha vontade era ir no estádio.
P/1 – E como a primeira vez que você foi no estádio?
R – Um amigo nosso lá estava no bar tomando a cerveja, aí o Corinthians ia jogar no Pacaembu contra o Inter. Aí ele falou: “Rogério, eu estou indo ao jogo. Quer ir comigo?”. Eu: “Sério? Pô, pede para o meu pai, vê se ele deixa você me levar e tal”. Aí, ficou horas convencendo o meu pai de me deixar ir, até que ele deixou e aí eu voltei já fanático assim. Eu olhei aquilo e falei: “Nossa, esse é o meu lugar, gostei demais disso, é isso que eu quero”.
P/1 – Você tem uma lembrança bem viva assim de qual foi o seu impacto quando você entrou? O que você achou? Como foi o jogo?
R – Ah, tenho.
P/1 – Conta para gente então.
R – Tem mais de 20 anos isso. Ah! Tipo era meu sonho de criança e eu lembro assim de prestar muita atenção em tudo, de ficar um pouco assustado até a hora de entrar no estádio e tal. Aí você entra, vê aquela muvuca entrando e as pessoas cantando e você não sabe. E naquela época eu não conhecia muito a parte, como posso dizer? A parte técnica do futebol. Então, tinha pessoas bravas por causa de resultado. Eu me lembro de pessoas que estavam só pela festa mesmo, pela bagunça. Mas o que mais me emocionou foram as pessoas que iam para torcer mesmo. De, sabe, sentar no estádio, ver aquele pessoal cantando o jogo inteiro e a torcida, aí o time. Nossa! Só sei que eu fiquei louco assim, falei: “Meu, esse é o meu time. Esse é o meu lugar”.
P/1 – Teu amigo era corintiano? O que te levou?
R – É, corintiano doente. Eu lembro que nesse dia que a gente estava no jogo, ele lembrou que no jogo anterior ele tinha sentado do lado do Sérgio Reis. Ele falou que ele é do interior e ele gosta muito de música caipira e tal, e ele falou: “O último jogo que eu vim o Sérgio Reis estava aqui do meu lado”. Quando eu olho assim, ele tomou até um susto: “Olha o Sérgio Reis”. Conversaram de boa e tal.
P/1 – É corintiano também?
R – Pelo jeito é.
P/1 – E aí você começou, foi a partir daí que você começou a torcer para o Corinthians então?
R – É.
P/1 – E você lembra assim ainda da fase da infância ou adolescência de um ídolo assim? Quem foi os seus ídolos do futebol?
R – O maior de todos foi o Marcelinho Carioca.
P/1 – Por quê?
R – Porque ele jogava demais. O Marcelinho é um ídolo que, tipo, eu ainda quero conhecer assim, porque eu vibrei, chorei muito com coisas que ele fazia e tal. Foi um dos caras que mais me deixou emocionado assim vendo o futebol.
P/1 – Você lembra assim de um episódio em particular assim? De um jogo em particular?
R – Eu cheguei a ir até a despedida do Marcelinho, que foi bem emocionante. Ele já tinha saído do Corinthians, jogou em vários outros times, aí veio fazer um jogo de despedida que foi contra um time argentino num dia de semana à tarde, e eu falei: “Eu tenho que ir e tal”. Tem até um vídeo no Youtube, que eu coloquei da despedida do Marcelinho, ele veio assim na torcida e tal. Mas tiveram muitos momentos emocionantes, tipo, jogadas. Eu fui a um jogo que ele fez três gols, um jogo de Libertadores. Fui a um jogo que eu o vi dando um lançamento para o Edilson de bicicleta, sabe? Umas coisas assim que você fala: “Meu, é esse cara”. O Marcelinho, assim, o que eu vi jogar é um dos meus maiores ídolos no Corinthians. Aí, tem o Tévez, que o Corinthians está tentando, era para ter trazido de volta, porque para mim, que hoje sou corintiano bem fanático, eu acho que o Corinthians tinha que trazer jogadores que vestem a camisa, que são corintianos.
P/1 – Por quê? Você acha que faz diferença?
R – Faz a diferença. Porque, que nem, voltaram agora para o Brasil o Elias e o André Santos, os caras saíram do Corinthians corintianos, que é muito difícil você ver isso no jogador, que ele tem que ser imparcial, ele tem que torcer para o time que ele joga, mas eles saíram do Corinthians muito corintianos. A gente percebe isso dentro de campo, fora de campo, e a gente que é fanático gosta de ver isso. E aí, a diretoria não traz os caras de volta por questão de dinheiro e politicagem e tal, mas eu acho que assim, o Corinthians é um time que devia ter mais isso. Tem essa história de jogadores que jogaram muito tempo lá, se identificaram com a camisa, com o time. O Corinthians é muito isso.
P/1 – Paixão assim.
R – E está faltando um pouco isso assim.
P/1 – E você se lembra do primeiro título que você viu o Corinthians ganhar?
R – O primeiro título que eu vi o Corinthians ganhar...
P/1 – Ou talvez não o primeiro, mas assim, qual que foi o mais marcante?
R – Eu vi o Paulista e a Copa do Brasil de 95.
P/1 – E como é que foi?
R – Isso é maluco, foi muita emoção e tal. Mas nem foi tão marcante ainda, porque eu ainda não entendia muito de futebol. Eu jogava, mas ainda não era aquele fanático de entender os campeonatos ainda, de ver todos os jogos. Porque tinha escola, aí tinha o bar, eu ficava na rua jogando bola, então nem ligava para o futebol de TV. Mas era corintiano, não tinha muita influência, sempre partia de mim. Então, eu comecei a ficar mais assim fanático, de ver mais jogos, mais em 97. Corinthians foi campeão paulista em 97, esse jogo já foi bem marcante assim.
P/1 – E você se lembra desse jogo?
R – Esse jogo de 97, o Corinthians foi campeão em cima do São Paulo. Campeão em cima do São Paulo, um gol do lateral esquerdo André Luís.
P/1 – E da comemoração? Você lembra? Você comemorou? E como? Se comemorou, como comemorou?
R – No bar meu pai nunca me deixou ficar muito eufórico com futebol. Depois que eu fui conquistando meu espaço assim, fui trazendo amigos e aí o bar chegou até a virar uma época um point de corintianos para ver jogo e tal, mas demorou muito. Meu pai não gostava que eu ia trabalhar com a camisa do Corinthians, camisa da Gaviões. Ele não gostava que eu usasse assim.
P/1 – Quando você ganhou ou comprou a sua primeira camisa do time, você se lembra?
R – Olha que...
P/1 – Você ganhou ou comprou? Você lembra se ela foi comprada ou ganhada?
R – Minha primeira camisa do Corinthians eu ganhei, ganhei desse rapaz que me levou ao jogo a primeira vez. Eu ganhei...
P/1 – Você lembra a ocasião assim?
R – Foi entre 95 e 97. Não lembro a ocasião assim, eu me lembro de ter ganhado nessa época assim.
P/1 – E essa coisa que você falou do bar ir se tornando um ponto de encontro de corintianos e vocês exibem jogos ou exibiam do Corinthians, como é que foi que você foi transformando assim esse perfil?
R – No começo éramos cinco, assistia ao jogo, às vezes fechava o bar e ficava lá assistindo ao jogo. E aí foi chegando mais gente, chegando mais gente, chegando mais gente e aí começou a fidelizar assim. Todo mundo ia lá assistir aos jogos e eu falei: “Meu...”. Aí comecei a investir, colocava TVs maiores, anunciar por mensagem. Ainda não tinha rede social, então eu mandava mensagem no celular: “Aí, pessoal, vai passar o jogo do Corinthians hoje. Cerveja gelada, lanche de pernil, coxinha de carne de sol”. Aí a galera: “Pô, vamos lá”.
P/1 – Que delícia.
R – Aí começou a ir bastante gente mesmo, de passar televisão e fazer matéria e filmar a gente. O ápice foi agora a um ano atrás, na conquista do Mundial.
P/1 – Como é que foi? Conta assim, teve uma preparação? Quanto tinha de gente? Conta como é que foi.
R – No dia do Mundial eu fui abrir o bar, o jogo era oito e meia da manhã. Eu fui abrir o bar 15 para as oito. Uma quadra antes do bar eu vi uma galera, já desci filmando assim. Cheguei na frente do bar tinham 60 pessoas me esperando para abrir. Alguns virados, já bêbados, muito loucos: “Ah, abre o bar, estou com sede”. Então abri o bar, o pessoal já tomando cerveja oito horas da manhã, o jogo era oito e meia. Reunimos aquele dia umas 300 pessoas num bar que cabe 60 sentadas. Então, tipo, o UOL combinou comigo, gravou o jogo inteiro lá. Tem um vídeo muito emocionante mostrando nossa galera torcendo no jogo do Mundial. Bem legal a produção que eles fizeram e foi um dia bem marcante assim também.
P/1 – Estava enfeitado o bar? Vocês enfeitaram? Teve alguma preparação?
R – Eu tenho vários quadros, minhas geladeiras são todas com adesivos do Corinthians, da Gaviões. E eu coloco um monte de bandeiras e o pessoal que vai também leva um monte de bandeira. Então fica bem legal, mas aí a gente está, como todo cidadão que faz barulho tem problema com a prefeitura, e aí agora a gente está já há um tempo sem fazer essas bagunças.
P/1 – Mas nesse específico assim, que foram, quantas pessoas você falou? Trezentas pessoas?
R – Tinha aproximadamente 300 pessoas.
P/1 – Mais ou menos 300 pessoas. Você lembra assim como foi o jogo?
R – Foi tenso, porque a gente estava jogando com um gigante europeu, que era o Chelsea, e foi engraçado, porque o primeiro jogo o Corinthians não tinha jogado tão bem. E aí na final a gente estava todo mundo nervoso como seria a atitude do Corinthians dentro de campo. E foi o que a gente esperava assim, o Corinthians jogou muita bola, jogou bem demais e até hoje eu tenho no bar um canal interativo e fico colocando o jogo direto para assistir. Aí o pessoal às vezes vai lá almoçar e está passando o jogo do Mundial, o cara: “Pô, de novo?”. Eu falei: “Mano, isso aí tem que ver para sempre, cara”.
P/1 – Mas o Corinthians foi campeão?
R – Foi campeão.
P/1 – E como é que foi a comemoração?
R – O bar quase caiu.
P/1 – Deve ter sido uma loucura.
R – Imagina? Trezentas pessoas. O bar quase caiu, foi muito legal, foi emocionante. Eu vejo esse vídeo do Uol que eles fizeram, nossa! É muito emocionante. Assim, no dia que o Corinthians ganhou, domingo o Uol colocou na página. Nossa, eu vi tipo 50 vezes seguidas.
P/1 – Fanático mesmo.
R – Isso é louco. É, tipo eu, os meus amigos, no meu bar fazendo a festa. Tipo, eu já devo ter visto mais de mil vezes. E toda vez que eu vejo eu me emociono, e vai ser assim para sempre, foi bem legal.
P/1 – Muito forte.
R – É. Bem legal.
P/1 – E você acompanha a Copa, Rogério? Copa do Mundo.
R – Eu gosto. Acompanho desde a de 94 eu acompanhei primeiro. A de 90 eu era muito pequeno e eu me lembro de ter jogado Brasil e Argentina, que é uma rivalidade, uma das maiores do mundo, e meu pai na sala me gritando, me chamando para assistir ao jogo e eu brincando com a minha irmã no quintal, nem aí para futebol. Agora, de 94 para cá acompanho tudo.
P/1 – Essa que foi a primeira Copa que você acompanhou, de 94, você lembra assim como é que foi a preparação nas ruas? Se as ruas foram enfeitadas? Se tinha enfeite na sua casa? Se tinha uma preparação para assistir os jogos?
R – Não. Em casa não teve nada, porque a gente já, eu me lembro do bar, o bar tinha uma TV bem pequenininha, preta e branca ainda.
P/1 – E na rua? Você se lembra?
R – Era uma festa. Era a maior bagunça, porque o Brasil estava jogando bem e aí a cada fase que ia passando, todas as Copas sempre foi gente assistir no bar. Jogos de tarde, de manhã. E a Copa de 94, eu me lembro, só a final que foi no domingo, a gente não abria aos domingos ainda, então eu assisti em casa. Eu lembro quando o Brasil ganhou que teve muitos fogos, muitos fogos assim, eu nunca tinha visto tantos fogos nem em Réveillon, Natal. Assim, a maior quantidade de fogos que eu vi a primeira vez foi quando o Brasil ganhou em 94. Parece que o povo estava preparado para o Brasil ganhar e já estava muito tempo sem ganhar uma Copa. Vinte e quatro anos. E foi bem legal, eu me lembro da festa na rua.
P/1 – Você foi para rua? Você se lembra de ter ido para rua?
R – Não. Era muito pequeno e meu pai era assim, gostava, mas não era de fazer bagunça.
P/1 – Mas você se lembra de ter visto o que? Na TV assim?
R – É. Eu me lembro de ter visto na TV. Eu lembro que eu fui no quintal de casa ver os fogos. Fiquei bem emocionado, eu lembro muito bem daquilo.
P/1 – E você se lembra assim das ruas estarem enfeitadas? Ou na comemoração das pessoas saírem com bandeira?
R – Olha! Não tinha muito, não, viu? Era mais camisa da seleção, eu não me lembro de bandeiras. E como aqui onde eu moro, eu me lembro de ruas muito mais enfeitadas na periferia.
P/1 – Mas em que região assim? Você se lembra de alguma específica?
R – Eu tinha um tio que morava em Taboão da Serra. Não lembro onde no Taboão, mas eu lembro que era no Taboão e chegando à rua dele assim você via várias bandeirinhas, as ruas o chão pintado. Tem gente que faz isso hoje ainda. Se eu não me engano, tem até concurso de rua, a rua melhor decorada e tal. Mas eu lembro bem do meu tio nessa época.
P/1 – E teve alguma Copa que tenha sido mais marcante para você?
R – A Copa mais marcante? Do campeonato que a gente ganhou em 2002. A Copa Coréia Japão foi marcante porque foi a primeira Copa que a gente realmente organizou uma galera para assistir no bar.
P/1 – Aí como é que foi?
R – Então, tipo, teve dois jogos de madrugada que não rolou, mas teve um jogo seis da manhã que a gente preparou um café especial lá e foi, tipo, 40 pessoas assistirem. A final estava bem cheia o bar também, foi bem legal.
P/1 – Você lembra bem da final?
R – Lembro. Tinha bastante gente no bar e aquelas vuvuzelas fazendo um monte de barulho. O Brasil ganhou, acabou o jogo oito da manhã, o Brasil campeão, então, tipo, tinha o domingo inteiro para galera comemorar.
P/1 – Delícia assim.
R – Foi uma bebedeira, uma bagunça. Foi bem legal.
P/1 – E tem assim, bom, você acompanha bastante futebol, algum lance, pode ser ou dentro de um jogo de Corinthians, pode ser num jogo de seleção brasileira assim, algum lance que você acha inesquecível, que seja marcante para você?
R – Ah, são muitos.
P/1 – É? Você tem algum que você destacaria ou não?
R – São muitos, porque de 97 para cá eu vejo muito futebol. E assim, eu não perco um jogo do Corinthians assistindo, seleção brasileira eu vejo todos, gosto de ver muito futebol internacional, tem muitos lances marcantes. Que nem, o mais recente, o Corinthians conquistou a Libertadores o ano passado, então tem um gol na Vila Belmiro, o gol do Emerson Sheik na Vila Belmiro. Estávamos no bar com umas cento e poucas pessoas e era um título que a gente não tinha, era uma pressão muito grande, mas assim, nós corintianos, a gente estava confiante de que a gente ia ganhar aquele ano e tal. E aquele jogo na Vila Belmiro era um jogo muito importante, porque o Santos era o melhor time do Brasil naquela época e a gente tinha que bater o Santos se a gente quisesse ser campeão. E eu lembro que foi um golaço, um gol, tipo, lá na Vila Belmiro, Pelé estava assistindo, sabe?
P/1 – Quem que fez o gol, você lembra?
R – O Emerson Sheik.
P/1 – Ah, sim.
R – E foi um golaço assim, o Corinthians segurou o placar do jogo, jogaram bem e foi um passo determinante para o título aquele jogo, ganhar dos caras lá na Vila. O gol do Romarinho também, dois jogos depois na Bombonera, na Argentina, no estádio do Boca. O Boca ganhando de 1 a 0 e o Romarinho fez um gol importante que para mim, o bar também quase caiu nesses dois gols assim. Porque o jogo fora é o jogo que a gente assiste no bar, jogo em casa geralmente a gente vai para o estádio. Eu fecho o bar e vou para o estádio. Esses dois gols foram...
P/1 – Fortes.
R – Muito marcantes assim.
P/1 – E aí dentro do bar, você diz o bar quase veio quase abaixo, como é que as pessoas comemoram? Batem na mesa, sobem na cadeira, como é que é?
R – Então, antes eu tinha um balcão. Eu fiz uma reforma agora no começo desse ano, mas até o ano passado, que foi quando rolaram esses jogos, o balcão era de madeira, o acabamento de madeira. Então a gente fazia batucada, muita batucada no balcão, levava uns instrumentos, mas eu usava muito o balcão para batucar assim. Então, tipo, esses dois gols específicos voou cerveja, quebrou copo e garrafa de a galera abraçar, cair no chão e pular. Muito emocionante assim, foram lembranças boas.
P/1 – Você falou que tem o sonho de conhecer o Marcelinho Carioca. Você já conheceu algum jogador do Corinthians ou da seleção?
R – Eu fui gravar um, eu fui fazer figuração de um comercial para Netshoes, que um amigo meu que estava fazendo, ia ser no Corinthians a gravação, aí ele falou: “Pô, quer vir me ajudar a fazer figuração aqui?” Eu falei: “Pô, com certeza. Nunca fui ao CT, quero conhecer e tal”. Só que lá a gente não tinha liberdade de conhecer as dependências, de falar com os jogadores, nem o treinador e tal. Mas o jogador que ia fazer o comercial estava atrasado, então a gente teve que ficar numa sala esperando ele chegar. Enquanto isso, iam chegando todos os jogadores do Corinthians, iam chegando com os carrões, parando lá no estacionamento e indo para o vestiário. Então, assim, a gente viu todos os jogadores chegando, o treinador, mas a gente não podia falar com eles, tirar foto, nada.
P/1 – Mas como é que você se sentiu assim de ver eles de perto?
R – É legal assim. É legal porque, pô, os caras acabaram de ganhar um título, estão se preparando para o outro, foi antes do mundial que eu fui lá. Então, eram os jogadores da maior história do Corinthians, ganharam três títulos importantes no mesmo ano. Assim, depois de um tempo você já fica mais maduro, então você nem, você vê os jogadores, pô, legal e tal, nem é tanta euforia assim. E porque também não tinha um super ídolo naquela época, né?
P/1 – Isso foi que ano?
R – Foi 2012, ano passado.
P/1 – E nem o jogador que ia fazer o comercial você não chegou a conversar assim?
R – Não. Não. Também ele veio, fez a parte dele e saiu assim, não teve nada. Eu conheci jogadores da história, jogadores que jogaram no Corinthians do título de 77, por exemplo.
P/1 – Quem que você conheceu?
R – Eu conheci o goleiro Tobias e o cara, o homem que fez o gol, o Basílio. Os dois foram lá no bar almoçar.
P/1 – E aí? Como é que foi?
R – Assim, pela história, pelos jogos que eu vi, por esse histórico de ser um título importante e você ver pessoas, tipo, amigos meus mais velhos que vivenciaram esse dia histórico, que foi um jogo marcante, o Corinthians estava há 23 anos sem ganhar um título.
P/1 – Foi com quem o jogo, você lembra?
R – Foi contra a Ponte Preta, final do Paulista de 77. E aí era um jogo assim, Corinthians precisava ganhar e estava aquela angústia, que era um título que não vinha há muito tempo. E aí foi um gol sofrido e tal, que a bola bate na trave, aí bate no jogador, aí volta, aí cai e escorrega, aí veio o Basílio e faz o gol e liberta, né? Tipo, campeões depois de tanto tempo. E foi muito emocionante assim, você ver vídeos, histórias e tal, eu não vivenciei, não era vivo ainda, mas para gente que é corintiano fanático assim, você se emociona. E aí ele foi almoçar no bar, o Basílio primeiro, conheci, muito gente boa, muito bacana. Ele é um cara muito querido pelos torcedores, pela diretoria do Corinthians, pela história. Está com o nome dele lá gravado.
P/1 – E você já sabia que ele ia? Você sabia com antecedência ou não, você o viu chegando e aí reconheceu?
R – Não. Foi um cliente amigo nosso, falou: “Olha, um dia eu vou trazer o Basílio para almoçar aqui”. Aí, no dia que ele trouxe, ele avisou antes, falou: “Olha, estou levando o Basílio para almoçar aí e tal”, então já estava a maior expectativa e tal. Aí o goleiro, o Tobias, eu descobri que ele era meu vizinho lá do bar, morava lá do lado, aí um amigo meu que é amigo dele vizinho falou: “Vou te levar no bar de um corintiano ali para você conhecer”. Aí eu conheci o Tobias, o goleiro. Simpático, gente boníssima também.
P/1 – Você chegou a sentar com eles, tomar uma cerveja?
R – Não. A gente só conversou ali no balcão. O Basílio foi almoçar, estava ali com um ator, mas não sou muito de ficar tietando também não e tal, para eles voltarem, né? É igual, tipo, vai muito artista lá no bar, então tem um em especial assim, que é uma banda que eu adoro...
P/1 – Não pode falar o nome?
R – Posso. É o Pupillo, o baterista do Nação Zumbi. E assim, eu sou muito fã da Nação Zumbi desde a época do Chico Science e tal, mas muito mesmo, muito fã mesmo, gosto muito. E hoje ele é meu amigão assim, a gente conversa para caramba, troca ideia, mas por dentro eu fico: “Nossa, velho”. O cara, tipo, é muito bom assim, eu sou muito fã dele há muito tempo. Só que hoje a gente é amigo e tal, beleza, mas mesmo assim ainda falo: “Caramba, velho”.
P/1 – Mas você segura um pouco.
R – É. Eu me seguro total. Eu não esboço nenhum tipo de tietagem, de fã, muito tal, para eles voltarem e ficarem amigos e tal.
P/1 – Claro. Ficar à vontade também, né?
R – É. E falar: “Poxa”. E foi o que aconteceu com ele, as primeiras vezes que ele vinha eu ficava assim e tal, hoje a gente já conversa de boa, já somos colegas e tal, mas é complicado assim. Você não pode misturar muito também, né? E aí geralmente a gente segura a onda, fala para os funcionários: “Calma, sem tietagem”.
P/1 – Sem muito assédio.
R – Porque às vezes eles não gostam. Às vezes vão uns atores globais lá de novela, aí a mulherada do salão, da cozinha...
P/1 – Fica doida.
R – Fica doida, quer ir tirar foto. Já tiveram artistas de irem lá, sofrer essa tietagem por parte dos funcionários e não voltarem mais. Então, por isso que eu cobro deles, falo: “Se vier gente famosa”. A não ser se é uma pessoa que dá uma liberdade. Porque tem pessoas que chegam e pelo fato de serem públicas, famosas, eles já chegam assim meio bravos para não dar brecha, tipo: “Oi. Tudo bem? Dá uma Coca”. Sabe?
P/1 – Mais seco assim.
R – É. Agora, tem pessoa que brinca, que conversa, que até fala: “Quer tirar uma foto? Vem cá”. Isso é bem legal.
P/1 – Vocês vão de acordo com o temperamento da pessoa.
R – É, por exemplo, eu tenho um amigo que ele era meu amigo antes de ser famoso e agora ele está muito famoso e continua indo lá no bar. Outro dia eu tirei uma foto com ele, só que eu só postei a foto, tipo, uma hora depois que ele foi embora, porque eu sabia que ia...
P/1 – Para as pessoas não irem atrás.
R – Que ia vir, que tem uma agência lá do lado, as meninas iam vir: “Ai, meu Deus, ele tá aqui” tirar foto e tal. Aí foi engraçado, que assim que eu postei a foto, um monte de gente já comentou: “Ele está aí? Ele está aí agora? Posso ir? Não sei o quê. Como assim ele foi aí e você não me falou?”.
P/1 – Fez o certo, né? Porque ia ser uma loucura.
R – É. Então.
P/1 – Já está acostumado, já sabe lidar com a situação. E você acompanha outros esportes, Rogério, além de futebol?
R – Olha! Eu gosto muito de basquete. Assim, eu desde pequeno sempre pratiquei muito esporte e eu sempre joguei futebol, basquete, vôlei, nadava também. Ainda nado de vez em quando, mas eu acompanho muito o futebol, basquete e vôlei, os três.
P/1 – Você acompanha Olimpíadas?
R – Olimpíadas eu acompanho também. Mas assim, mais os esportes coletivos, o futebol, o basquete e o vôlei. Os individuais eu acompanho, mas não muito.
P/1 – E Olimpíada assim você se lembra de alguma que tenha sido mais marcante para você por algum motivo?
R – Olimpíadas? O Brasil não tem um título expressivo de Olimpíada a não ser no vôlei. Então, o vôlei foi o mais emocionante assim, porque as meninas, por exemplo, são bicampeãs olímpicas e os homens foram campeões, depois duas vezes vice-campeões, ou seja, o vôlei fez um trabalho de base muito bom.
P/1 – E você assiste? Os jogos de vôlei você assiste?
R – Assisto. Vôlei eu assisto os jogos de vôlei da Liga Paulista, da Liga Nacional e a seleção, acompanho muito. Vôlei, basquete e futebol, acompanho bem os três.
P/1 – E você se lembra de algum jogo de Olimpíadas assim, do vôlei, por exemplo?
R – Ah, eu me lembro das meninas do vôlei, da Olimpíada de Pequim, que elas jogaram assim impecavelmente. Se eu não me engano, perderam só um set na final e jogaram muito. Nossa! Aquela Olimpíada das meninas do vôlei foi marcante. A final do masculino quando o masculino foi campeão olímpico também na de Athenas, nas Olimpíadas 2000 de Athenas. Eu lembro que eu tinha um amigo que já faleceu, que a gente assistia muito voleibol junto, então eu lembro, porque eu joguei e ele também jogou, mas ele foi semiprofissional, ele quase se profissionalizou e eu joguei pelo colégio, joguei pelo clube. Então, a gente gostava muito. Então, a gente marcava de assistir junto, eu: “Vem aqui ao bar”, ele gostava de beber e eu falava: “Vem aqui ao bar, a gente assiste junto”. E aí a gente assistiu muito jogo de voleibol junto, nessa final foi Brasil e Itália, e a Itália era soberana no vôlei, o Brasil ali começou a desbancar a Itália e o Brasil passou a virar o soberano no vôlei. E foi muito marcante assim, foi bem emocionante, porque foi o primeiro, né? Aliás, o segundo, o Brasil já tinha ganhado uma Olimpíada, mas fazia um tempão. Foi bem legal.
P/1 – E você se emociona assim mesmo de chorar?
R – Gosto, porque, tipo, no Brasil a gente não tem muito incentivo de esporte, e a maioria das pessoas chega ali na raça mesmo. São acho que menos de 10% que têm um poder aquisitivo e um pai que tem um tempo de cuidar, incentivar e dar oportunidade para o filho, então a maioria é na raça, tanto vôlei, quando basquete, quanto futebol. O cara tem que se dedicar, tem que ter um apoio da família, às vezes sem verba, mas a família: “É isso que você quer?”. Então o pai apoia, a pessoa chega. Não só nesses três esportes que eu gosto, mas o Brasil é muito deficiente nisso, em apoio esportivo. Então, quando você vê uma pessoa que ganha um título expressivo como esse, não só nesses esportes, que nem agora você vê ginástica artística, o menino das argolas, como é que é o nome dele? O Arthur Zanetti. Você vê onde o moleque treina no São Caetano, que dá uma ajuda para ele mínima, mas uma estrutura horrível para ele treinar. Então, tipo: “Ah, é o que está tendo, vamos fazer isso”, e ele sem muito apoio, sem materiais de qualidade, ele foi campeão mundial, primeiro medalhista olímpico brasileiro. Primeira medalha de ouro da ginástica artística do Brasil. Um cara que só tem apoio da família, tem um apoio mínimo de uma cidade e tem um péssimo local de treino. Então, tipo, é um cara merecedor.
P/1 – É na raça mesmo.
R – Foi na raça, foi atrás do sonho dele. Essa menina do judô também, também foi na raça, chegou lá pobre, ninguém acreditava e ela acreditando foi lá e ganhou. Medalhista olímpica, ganhou medalha de ouro.
P/1 – Então você se emociona assim, chora?
R – Me emociono, porque, poxa, o cara que lutou muito para estar ali. Tipo, eu acho bem legal assim. E nos esportes coletivos tem muito mais exemplo. Porque são muito mais pessoas e a maioria também tudo atrás de sonhos e conseguem, é emocionante. Eu me emociono bem assim, eu gosto, acho bem legal.
P/1 – E aí pensando assim nos esportes coletivos, pode ser o futebol também, mas pode ser o basquete ou o vôlei, tem algum atleta assim que seja inspirador ou que particularmente te emociona assim porque tem uma trajetória?
R – Hoje em dia eu não tenho um assim, um cara que eu, até tenho, é que eu posso não estar lembrando agora, mas se você for parar para pensar, a maioria. Eu não sei um específico, mas a maioria, que nem, você vê muito programa de TV que mostra o jogador falando da infância, de como ele chegou no futebol, os desafios que ele teve, os problemas de contusão e teve que superar e voltar a ser um jogador de nível alto. Então, isso já me emociona assim, tipo, mostrou a história outro dia do zagueiro da seleção, do Thiago Silva, que ele passou por vários problemas, e a maioria quase teve que largar o futebol, porque chega uma hora que você vira adulto, você precisa manter sua família, você precisa de dinheiro para você ter suas coisas e o futebol não está dando certo, a maioria larga. Eu mesmo tive aqui no bairro dois amigos que eram para ter sido profissionais e não conseguiram por falta de apoio, incentivo, de dinheiro mesmo.
P/1 – Eles jogavam por que time? Chegaram a jogar por algum time?
R – Não, jogavam várzea e quando tinham que fazer testes era muito longe, não tinham dinheiro de pegar ônibus para fazer os testes. Não tinha uma pessoa que falasse: “Meu, vamos lá, eu te levo, eu te dou uma chuteira. Vamos lá fazer o teste, você tem potencial”. Então, acabaram perdendo as oportunidades, muitos.
P/1 – Podiam ter sido profissionais.
R – Poderiam ter sido profissionais. Eu só tive um amigo no bairro que foi profissional e ele jogou pelo Santos. E assim, eu me lembro do jogo Corinthians e Santos que esse meu amigo estava em campo.
P/1 – Quem que é?
R – Foi o único dia que eu não torci para o Corinthians, torci pelo meu amigo. É o Marcelo Silva, ele era volante, jogou no Santos, jogou no Lokomotiv Moscou, ele teve empresário bom, que chegou a jogar na Rússia. Mas ele jogando pelo Santos, jogou contra o Corinthians e eu estava torcendo para ele, porque nessa hora você vai pensar no seu amigo, você vai pensar no seu time? Você não conhece ninguém. Apesar da paixão pelo time, estava torcendo pelo meu amigo.
P/1 – Ele é seu amigo assim de infância ou de adolescência?
R – Não, ele é um pouco mais velho que eu. A gente tinha amigos em comum e tal, mas era da turma mais velha. Então assim, eu cresci jogando bola, mas ele era da turma mais velha, então, ele estava jogando, a gente estava assistindo. Na hora que eles acabavam de jogar a gente ia jogar.
P/1 – Mas você o acompanhou ele se tornando profissional? Você o conheceu antes de ser jogador profissional?
R – Conheci, de jogar na rua, jogar na escola, conheci-o jogando na rua. E aí ele virou profissional e jogou nos clubes grandes e a gente é amigo até hoje. A gente se fala, a gente frequenta a mesma escola de samba, a gente tem muitos amigos em comum. Então, a gente ainda se vê de vez em quando.
P/1 – E ele na época em que ele foi se profissionalizando, você se lembra de ele contar um pouco dessa trajetória, como é que se chega lá? Como é que você chega num clube?
R – Não. Não.
P/1 – Não? Você não se lembra de nenhuma...
R – Não. A gente não conversou disso, não.
P/1 – E você joga até hoje futebol assim por prazer?
R – Olha! Eu gostaria muito assim, mas um dos problemas meus ali no bar é a falta de tempo e a comida boa. Então, tipo, eu engordei muito. Eu engordei muito nos últimos seis anos, porque eu sempre joguei futebol, basquete, vôlei, nadava, sempre fui muito atleta. E aí teve uma época que eu comecei a ir para o lado das lutas, eu treinava jiu-jitsu, boxe e muay thai. E aí eu tive uma lesão na lombar, eu treinava dez vezes por semana.
P/1 – Onde você treinava?
R – Eu treinava na academia do Guigo jiu-jitsu, treinava boxe, jiu-jitsu e muay thai lá, fazia musculação e ainda nadava, jogava futebol, jogava basquete. Então, eu treinava dez vezes por semana, e por excesso de treino e tal, falta de alongamento, eu tive uma lesão muscular na lombar e como eu treinava muito, eu comia muito. Assim que eu me machuquei, eu não fiz mais nada por causa da dor e aí eu engordei 60 quilos em seis anos.
P/1 – Nossa! Foi muito.
R – Então, e aí me prejudicou. Hoje, por exemplo, eu fui voltar para fazer caminhada e aí já estava com dores no joelho e o médico falou: “Meu, você tem que fazer dieta e natação até você perder um peso para voltar a praticar”. Então eu já estou uns cinco anos sem jogar futebol, e eu adoro, sabe?
P/1 – Deve sentir muita falta, porque você fazia tudo de esporte.
R – Muito mesmo. Muito mesmo. Aí assim, como eu estou muito pesado e não estou fazendo atividade...
P/1 – Regular.
R – Regular, então eu me sinto cansado. Aí, eu não tenho muita disposição assim às vezes para acordar cedo e fazer uma caminhada e nadar. Vou às vezes eu pego um ritmo assim e vou bastante, mas aí o bar, aí você trabalha até mais tarde, não consegue acordar cedo, aí às vezes acaba consumindo. Mas eu sinto muita falta, porque eu praticava muito esporte mesmo.
P/1 – Então, hoje em dia é mais natação e caminhada assim até...
R – É. Mas eu ano que vem estou com uma meta de voltar a treinar, de perder esse peso que eu preciso para voltar a treinar as lutas, para voltar a jogar futebol.
P/1 – É. Porque é uma coisa que você gosta, e a hora que o corpo voltar, enfim.
R – Eu sinto falta.
P/1 – Não desaprende, você vai voltar.
R – Eu sinto falta de jogar o meu futebol, o meu basquete, treinar jiu-jitsu. E eu vejo os meus amigos da academia lá no bar, aí direto os mestres: “Pô, e aí meu? Vamos voltar”. Aí eu passo na academia, vejo treino, dá uma vontade de entrar, mas eu sei que se eu entrar ali naquele momento...
P/1 – Você vai se machucar.
R – Eu vou me machucar e vai ser ruim de novo passar por um monte de coisa de novo. Então...
P/1 – Vai esperar esse...
R – Mas eu vou voltar, eu tenho certeza disso.
P/1 – Agora um pouco assim para gente fechar, eu queria saber qual que é a sua expectativa para Copa no Brasil.
R – Então, depois de um tempo acompanhando o futebol e, assim, eu sou da torcida organizada do Corinthians, então eu conheço muito o futebol, comecei a conhecer o futebol pelos bastidores e você começa a ver coisas que acabam às vezes te deixando triste, porque, pô, o futebol é a paixão nacional, mundial, paixão mundial, Copa do Mundo o mundo para. Não é a toa que não tem jogo, no mundo inteiro não tem jogo, nenhum evento, para todo mundo assistir a Copa do Mundo, porque é uma coisa mundial, é uma paixão mundial. E você acaba descobrindo as marmeladas. O dinheiro envolve muita coisa. E aí você descobre que jogos são comprados, são manipulados e aí você fica triste. E outro dia, nessa semana mesmo, teve essa não queda do Fluminense para série B e, poxa, o Corinthians, o Palmeiras caíram e subiram com dignidade. Viram o momento ruim, que uma queda para segunda divisão é um momento ruim do time, do clube e tal, e superaram isso. E o Corinthians em cinco anos foi campeão mundial, do ano que foi rebaixado, ou seja, foi um passo para trás para dar dois, três passos para frente, então foi um aprendizado, subiu com dignidade, com personalidade. Aí um time vem, cai para segunda divisão e já caiu dentro de campo, todo mundo viu, é um time ruim, mal organizado, é o que acontece. Aí do nada o time arruma um advogado que vai buscar defeitos nos outros times para que outros times percam pontos para o benefício próprio. Cara, isso me deixou muito chateado, sabe? Fanático do jeito que eu sou com futebol, eu fiquei muito triste com essa decisão e essa marmelada que o futebol tem. E eu até cogitei dar uma abandonada. Porque, pô, você se entrega para uma coisa com você sendo verdadeiro e essa coisa não é verdadeira para você. É tipo um relacionamento, sabe? Aí você fala: “Poxa, não está certo isso”.
P/1 – Então, com a Copa você está um pouco descrente assim.
R – Então, com a Copa não tanto, porque a Copa é um evento esperado, são de quatro em quatro anos e o Brasil depois, a última Copa não foi tão legal, porque a gente perdeu por alguns vacilos. E está com um time muito bom de novo, e a gente está esperançoso para ganhar o título no Brasil. A de 50 já foi trágica, perder mais uma Copa aqui não ia ser legal. Então eu suspeito que a Copa esteja meio que arrumada para o Brasil ganhar.
P/1 – Você vai assistir a algum jogo? Você comprou algum jogo?
R – Não. Nossa! Não comprei jogo, porque é outra coisa que eu não gosto, agora dessa modernidade, como eu te falei, o meu sonho de criança era ir a um jogo de futebol. Realizei esse sonho vendo o estádio como era, a forma que era a torcida, e você vê essa modernidade, você vê as coisas mudando e a Copa vindo para o Brasil, estádios novos, fizeram uma Copa muito, estão fazendo uma Copa europeia no Brasil, sabe? Tiraram as tradições. Poxa, Brasil, país do futebol, povão no estádio, bateria, batucada, bandeiras, bandeirões e não vai ter isso, sabe? A torcida organizada levava muito sinalizador para o estádio, é aquela fumaça, aquele cheiro, mas é a coisa mais linda, está no meio ou para quem está do outro lado, porque eu sou do meio da torcida organizada, então eu gosto de fazer a festa e incentivar o time, e tem pessoas que vão para ver o espetáculo do time e da torcida organizada, aí proibiram sinalizadores. Eu até lembro que teve um jogo agora do campeonato, Corinthians e Criciúma, o jogo foi lá em Santa Catarina e a torcida do Criciúma fez uma festa que foi a coisa mais linda, nós estávamos no bar numas 20 pessoas assistindo ao jogo no bar, todos corintianos, todos da organizada, quando vimos a torcida do Criciúma fazendo aquela festa, todo mundo pulando, bandeira, sinalizador, meu, olha que coisa linda, torcida oposta a nossa. E a gente sabe que aquilo é festa, o time deles estava perdendo e eles estavam fazendo aquela festa, ou seja, a gente lembrou da gente, porque a gente sempre apoiou o time, ganhando ou perdendo, seja lá de quanto, e sempre fez a nossa festa, porque independente do jogo, o estádio é a nossa festa e a gente fazia a nossa festa, está com os amigos e está curtindo ali uma coisa que a gente ama em comum, que é o jogo do nosso time. Então, ver aqueles sinalizadores, aquela torcida, a gente falou: “Meu, olha que coisa linda, cara”, já na hora o juiz parou o jogo para eles pararam de fazer aquilo para voltar com o jogo, aí a gente: “Ali que coisa horrível”. E já aconteceu isso com a gente, de estar no jogo, sinalizador e parar o jogo, parar os sinalizadores. Estão acabando com as festas nos estádios e aí a Copa do Mundo vai deixar a desejar por isso, vai ser uma Copa do Mundo no Brasil, porém com cara europeia, porque não vai ter as festas das torcidas. Então, eu não quis comprar nenhum jogo, vou assistir no bar, reunir os meus amigos no bar.
P/1 – Vocês vão fazer alguma coisa especial assim no bar?
R – No bar eu já tenho lá quatro TVs enormes, bem espalhadas para o pessoal assistir bem, porque geralmente eu reservo todo o bar. O pessoal: “Ah, eu quero assistir o jogo aí”, então vou reservando as mesas e junto uma galera para assistir. A gente faz uma batucada lá, já que a gente não faz nos estádios, faz na minha casa, a gente faz uma bagunça. O estádio ficou apenas por isso, primeiro, que é caríssimo, tinha que se inscrever para ser sorteado para comprar um ingresso. Só que aí você vai lá, se inscreve para ver 20 jogos: “Ah, algum eu vou ser sorteado”, aí você não é sorteado para nenhum, isso contando casos de amigos meus, não foi sorteado para nenhum. Aí, do nada uma empresa grande, tipo, sei lá, nem sei qual que foi que fez a promoção agora, mas uma companhia de posto de gasolina, por exemplo, Shell vai, não sei qual agora, mas: “Abasteça tantos litros e concorra a dez ingressos para Copa do Mundo”. Tipo, poxa, se todo mundo se inscreveu como que ele tem um monte de ingresso? Sabe? É meio chato isso. Aí eu já não me inscrevi sabendo que ia ter isso.
P/1 – Vai assistir no bar com os amigos.
R – Vou assistir no bar e tal. Vou curtir, vou torcer, mas também já sabendo que pode estar meio arrumado para o Brasil ganhar, mas a gente tenta esquecer um pouco isso, né, e tenta...
P/1 – Curtir um pouco.
R – Tenta curtir um pouco, tenta achar que é o natural, que é o esperado.
P/1 – A gente está encerrando, Rogério, tem alguma coisa a mais que você queira falar assim? Enfim, alguma história, alguma coisa que você queira dizer e eu não tenha perguntado?
R – Acho que você acabou de descobrir as minhas maiores emoções do futebol.
P/1 – Nada assim que você acha que ficou de fora que você gostaria de dizer?
R – Não. No caso, só um adendo assim, ao “não” ao futebol moderno, esse futebol moderno aí não é nossa tradição brasileira de jogo, principalmente, em estádio. Estão trazendo aí essa modernidade de não fazer festa, estão meio que fazendo uma, estão selecionando, fazendo uma seletiva das pessoas que vão para o estádio.
P/1 – Elitizando muito também, né? O preço dos ingressos superalto.
R – Não vai demorar muito para acabar as torcidas organizadas, tenho certeza disso, porque no jogo que teve em Brasília, o Vasco mandou o jogo em Brasília e Corinthians e Vasco têm duas torcidas organizadas que não se dão. A maioria das torcidas organizadas sempre tem a meia dúzia lá que quer arrumar confusão, teve esse jogo Corinthians e Vasco em Brasília que não teve divisão de torcida, meu, eu acho que isso foi feito de propósito para ter a briga, para ir somando, para um dia acabar, sabe? Tipo, vamos fazer isso, vamos coloca eles juntos, vai dar a briga, puniram os dois times, um acabou sendo rebaixado e tal, ou seja, fizeram isso para prejudicar o time e as torcidas. Aí, a gente foi suspenso, vários jogos tiveram que ser no interior, jogo com portão fechado, sem torcida. Aí, estão fazendo isso para acabar com as organizadas, que vão conseguir um dia que vai acabar e vão elitizar o público do estádio, vai ser todo mundo sentado, batendo palma, não vai ter a festa que a gente faz e gosta de fazer. Então, tipo, da primeira vez que eu fui a estádio, até 2011, eu fiz muita festa no estádio, vi muita coisa bonita, vai ficar na minha memória os bandeirões, bandeiras, fogos, sinalizadores, porque não vai ter mais, futebol moderno aí.
P/1 – Você acha que a tendência é acabar?
R – A tendência é acabar. Primeiro que os ingressos estão muito caros, eu me lembro de pagar dez reais para ver um jogo. Hoje tem banco de 300 reais.
P/1 – É muito caro, né?
R – É. E você sendo sócio tem que comprar vários jogos para você ter uma prioridade, e aí, tem um desconto simbólico, o ingresso custa 300, você vai pagar 250 para entrar. A gente que é da arquibancada, o ingresso era 50 reais, a gente tinha um desconto, 35 reais para ver um jogo de duas horas, agora multiplica por 30 mil que vão ao estádio, é muito dinheiro, cara. Então, também vai afastar muita gente dos jogos por ser longe, por ser caro. Aí, agora tem o estádio novo, vai ser longe, vai ser mais caro, não vai poder fazer as bagunças, então, bagunça. As festas. Então, vai tirar esse nosso povo, esse nosso jeito de torcer vai acabar, infelizmente, vão ficar as lembranças, né?
P/1 – É. É outra experiência. Vai ser outra experiência com o futebol.
R – Um tempo bom que não volta mais, né?
P/1 – Está certo, Rogério.
R – É isso aí, Tereza.
P/1 – Obrigada, viu? Superobrigada, a gente encerra aqui então.
Recolher